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FEMINICÍDIO COMO
VIOLÊNCIA POLÍTICA
Véronique Durand
AO NIVEL MUNDIAL:
Numa aldeia à escala mundial, há
1.000 habitantes:
• 500 mulheres – deveriam ser 510, mas 10 morreram
por “feticidio” ou por falta de cuidado, enquanto crianças.
• 167 sofrerão violências
• 100 serão vítimas de estupro
Amnesty Internacional
FEMINICIDIO
• O feminícidio é o assassinato de mulheres por
elas serem mulheres.
• O Brasil adotou o 09 de março de 2015 a lei
13104 dita do feminicídio como homicídio
qualificado, classificando-o como hediondo.
• Brasil ocupa o 5° lugar no ranking das
violências, no Mundo entre 84 países que têm
dados sobre esses crimes, depois de El
Salvador, Columbia, Guatemala e a Federação
Russa.
Feminícidio no Brasil
• Em 2003: 3937 assassinatos de mulheres
• Em 2013: 4762 assassinatos de mulheres
• O número de homicídios de mulheres
brancas cai de 1747 vítimas em 2003 para
1576 em 2013
• O número de homicidios de mulheres
negras aumenta de 1864 para 2875
vítimas (ou seja 54,2%)
Júlio Jacobo MAPA DA VIOLÊNCIA 2015
QUEM MORRE?
As populações mais vulneráveis, mais desprotegidas.
• O machismo mata mulheres mas também mata
homens que não pertencem ao grupo dominante. A
população negra e pobre é vitima prioritária no país,
as populações indígenas também. A noção de
territorio é fundamental para entender onde há mais
violência.
• O conceito feminícidio tem um significado político
por denunciar a falta de compromisso por parte das
Convenções Internacionais, dos Estados e a
ausência de uma luta eficiente, séria e intransigente
contra esses crimes cruéis e os seus autores.
A responsabilidade do Estado
É dever e obrigação do Estado garantir a
segurança das cidadãs e dos cidadãos
assim como o direito de ir e vir no território
nacional.
Esse direito não está sendo garantido. As
mulheres não estão em segurança no
espaço público. Vivem com medo – de
serem agredidas fisicamente, sexualmente,
roubadas, até mortas.
CONSEQUENCIAS DA INSEGURANÇA
• A violência seja ela efetiva ou ameaça cria um
ambiente pesado onde o mêdo é omnipresente
• Incidência imediata e intergeneracional, a curto
e longo prazo: doenças, transmissão do medo
• Consequências devastadoras sobre a saúde e o
bem estar: depressão, ansiedade, insonia,
apreensão negativa da vida
• Consequências sociais, economicas, efeito
negativo no desenvolvimento, perda de
produtividade
PRIVADO/PÚBLICO
• Várias pesquisas em outros países trouxeram
uma reflexão sobre o lugar da mulher nos
espaços público e privado. No público, as
mulheres estão escapando das hierarquias
tradicionais e da autoridade dos homens. Elas
ganharam espaço, são juízas, empresárias,
diretoras de fábricas, professoras,
engenheiras...
• Mas no espaço privado, cada um fica no seu
lugar; é o espaço da reprodução da dominação
masculina.
HIPÓTESE
• A nossa hipótese é que as violências aumentam quando as
relações de gênero e os papeis de cada um estão sendo
questionados. A perda ou o risco da perda do poder faz com
que o homem faz de tudo para silenciar a mulher, usando a
força, o medo, tentando manda-la de volta para o espaço
privado, até a morte.
Quando as mulheres ganham espaço e visibilidade, a
violência aumenta porque estamos numa relação de
poder.
• É esse momento que estamos vivenciando em vários países,
no século XXI.
• A estruturação social dessas sociedades, se apoia sobre uma
base machista. Não tolera o direito da mulher dizer NÃO. Os
modelos de masculino e feminino tradicionais são totalmente
integrados pelos homens e pelas mulheres.
IGUALDADE?
• Ao nível mundial, o que é identificado como
perseguição ligada ao gênero não resulta de
comportamentos individuais isolados e/ou
atípicos mas reflete estruturas e normas sociais
profundamente desiguais. A nossa memória
coletiva ainda carrega essa mentalidade arcaica
de desigualdade entre mulheres e homens.
• É o problema da sociedade como um todo Por
isso também é política.
RESPOSTAS DO ESTADO
• Elas são insuficientes. A aplicação efetivadas
leis e dos programas é necessária.
• Educar e punir?
• “O percentual de reincidência nas
violências contra as mulheres é de 51%,
principalmente a partir dos 30 anos ou seja
uma violência previsível”, que poderia ter
sido evitada, tratando-se na maioria dos
casos de assassinatos.. Mapa da violência
2012
Para Responder à violência
1. Uma resposta multidimensional é requerida, implicando
agencias governamentais, ONGs e entidades de vários
setores:
• Saúde, Segurança Pública, Justiça,Transportes,
• Direitos da Mulher;
• Escolas, Sindicatos, Empresas, Mídia
Para garantir a segurança física e o acesso aos serviços
2. Educação para meninas e meninos
3. Acompanhamento de homens autores de violência para
lutar contra a reincidência
PARA NÃO CONCLUIR
• Cada sociedade vai tolerar -ou não- tal tipo de
violência em função da sua historia, da sua
religião, das suas tradições.
• Violência é crime. Existe reprodução,
banalização e naturalização da violência.
• O que existe é impunidade, falta de Políticas
Públicas, de recursos humanos, técnicos,
materiais, financeiros.
• Precisamos mudar essa realidade, mudando as
mentalidades.
OBRIGADA
Veronique.marie.durand@gmail.com

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  • 2. AO NIVEL MUNDIAL: Numa aldeia à escala mundial, há 1.000 habitantes: • 500 mulheres – deveriam ser 510, mas 10 morreram por “feticidio” ou por falta de cuidado, enquanto crianças. • 167 sofrerão violências • 100 serão vítimas de estupro Amnesty Internacional
  • 3. FEMINICIDIO • O feminícidio é o assassinato de mulheres por elas serem mulheres. • O Brasil adotou o 09 de março de 2015 a lei 13104 dita do feminicídio como homicídio qualificado, classificando-o como hediondo. • Brasil ocupa o 5° lugar no ranking das violências, no Mundo entre 84 países que têm dados sobre esses crimes, depois de El Salvador, Columbia, Guatemala e a Federação Russa.
  • 4. Feminícidio no Brasil • Em 2003: 3937 assassinatos de mulheres • Em 2013: 4762 assassinatos de mulheres • O número de homicídios de mulheres brancas cai de 1747 vítimas em 2003 para 1576 em 2013 • O número de homicidios de mulheres negras aumenta de 1864 para 2875 vítimas (ou seja 54,2%) Júlio Jacobo MAPA DA VIOLÊNCIA 2015
  • 5. QUEM MORRE? As populações mais vulneráveis, mais desprotegidas. • O machismo mata mulheres mas também mata homens que não pertencem ao grupo dominante. A população negra e pobre é vitima prioritária no país, as populações indígenas também. A noção de territorio é fundamental para entender onde há mais violência. • O conceito feminícidio tem um significado político por denunciar a falta de compromisso por parte das Convenções Internacionais, dos Estados e a ausência de uma luta eficiente, séria e intransigente contra esses crimes cruéis e os seus autores.
  • 6. A responsabilidade do Estado É dever e obrigação do Estado garantir a segurança das cidadãs e dos cidadãos assim como o direito de ir e vir no território nacional. Esse direito não está sendo garantido. As mulheres não estão em segurança no espaço público. Vivem com medo – de serem agredidas fisicamente, sexualmente, roubadas, até mortas.
  • 7. CONSEQUENCIAS DA INSEGURANÇA • A violência seja ela efetiva ou ameaça cria um ambiente pesado onde o mêdo é omnipresente • Incidência imediata e intergeneracional, a curto e longo prazo: doenças, transmissão do medo • Consequências devastadoras sobre a saúde e o bem estar: depressão, ansiedade, insonia, apreensão negativa da vida • Consequências sociais, economicas, efeito negativo no desenvolvimento, perda de produtividade
  • 8. PRIVADO/PÚBLICO • Várias pesquisas em outros países trouxeram uma reflexão sobre o lugar da mulher nos espaços público e privado. No público, as mulheres estão escapando das hierarquias tradicionais e da autoridade dos homens. Elas ganharam espaço, são juízas, empresárias, diretoras de fábricas, professoras, engenheiras... • Mas no espaço privado, cada um fica no seu lugar; é o espaço da reprodução da dominação masculina.
  • 9. HIPÓTESE • A nossa hipótese é que as violências aumentam quando as relações de gênero e os papeis de cada um estão sendo questionados. A perda ou o risco da perda do poder faz com que o homem faz de tudo para silenciar a mulher, usando a força, o medo, tentando manda-la de volta para o espaço privado, até a morte. Quando as mulheres ganham espaço e visibilidade, a violência aumenta porque estamos numa relação de poder. • É esse momento que estamos vivenciando em vários países, no século XXI. • A estruturação social dessas sociedades, se apoia sobre uma base machista. Não tolera o direito da mulher dizer NÃO. Os modelos de masculino e feminino tradicionais são totalmente integrados pelos homens e pelas mulheres.
  • 10. IGUALDADE? • Ao nível mundial, o que é identificado como perseguição ligada ao gênero não resulta de comportamentos individuais isolados e/ou atípicos mas reflete estruturas e normas sociais profundamente desiguais. A nossa memória coletiva ainda carrega essa mentalidade arcaica de desigualdade entre mulheres e homens. • É o problema da sociedade como um todo Por isso também é política.
  • 11. RESPOSTAS DO ESTADO • Elas são insuficientes. A aplicação efetivadas leis e dos programas é necessária. • Educar e punir? • “O percentual de reincidência nas violências contra as mulheres é de 51%, principalmente a partir dos 30 anos ou seja uma violência previsível”, que poderia ter sido evitada, tratando-se na maioria dos casos de assassinatos.. Mapa da violência 2012
  • 12. Para Responder à violência 1. Uma resposta multidimensional é requerida, implicando agencias governamentais, ONGs e entidades de vários setores: • Saúde, Segurança Pública, Justiça,Transportes, • Direitos da Mulher; • Escolas, Sindicatos, Empresas, Mídia Para garantir a segurança física e o acesso aos serviços 2. Educação para meninas e meninos 3. Acompanhamento de homens autores de violência para lutar contra a reincidência
  • 13. PARA NÃO CONCLUIR • Cada sociedade vai tolerar -ou não- tal tipo de violência em função da sua historia, da sua religião, das suas tradições. • Violência é crime. Existe reprodução, banalização e naturalização da violência. • O que existe é impunidade, falta de Políticas Públicas, de recursos humanos, técnicos, materiais, financeiros. • Precisamos mudar essa realidade, mudando as mentalidades.