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Créditos
Órgãos de fomento
Colaboradores
Marcas, Siglas de Apoios
Patrocinadores
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Faculdade Pitágoras – Unidade Venda Nova
A IMPORTÂNCIA DO TREINAMENTO DE PAIS NO PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO
DE CRIANÇAS COM TRANSTORNOS EXTERNALIZANTES
Naiany Rhafaelly da Silva
INTRODUÇÃO
Os problemas externalizantes representam um importante foco de
estudos em psicopatologia infantil. Comumente, são considerados
indicadores iniciais do comportamento antissocial infantil, podendo
evoluir a nível psicopatológico, como o Transtorno de Personalidade
Antissocial e Transtorno Desafiador Opositivo, Transtorno de Conduta
(APA, 2002). De forma geral, os problemas de comportamento e
emocionais são caracterizados por padrões sintomáticos que podem
ser divididos em dois tipos, denominados internalizantes e
externalizantes.
Qual é o impacto do treinamento de pais em casos de tratamento
de transtornos externalizantes?
O treinamento de pais pode contribuir de forma consistente uma vez
que esta intervenção aborda a família de forma mais geral invés de
apenas a criança que apresenta estas demandas, possibilitando intervir
de forma mais consistente no ambiente em que os problemas
comportamentais se apresentam (HAASE et al., 2000).
Para tal, também objetivou-se compreender como se dá o impacto dos
transtornos externalizantes em diferentes aspectos da vida de uma
criança, assim como estudar o papel de outras formas de intervenção e
psicoterapia no tratamento dos transtornos associados a problemas
externalizantes.
A FAMÍLIA E OS IMPACTOS DO
COMPORTAMENTO EXTERNALIZANTE
“A família proporciona o primeiro e mais importante contexto
interpessoal para o desenvolvimento humano e, como resultado, as
relações familiares têm uma profunda influência na saúde mental das
crianças” (COELHO; MURTA, 2007, p.333).
Entretanto, alguns dos comportamentos considerados como de birra,
ou por vezes apontados pelo senso comum como inaceitáveis, podem
representar o “gesto expressivo” encontrado pelo indivíduo, naquele
momento e contexto, para atender à sua demanda (ZANELLA;
ANTONY p.116. 2020)
Em decorrência das reações de incompreensão e intolerância
recorrentes dos pais, a criança apreende que tanto estes "gestos
expressivos", quanto sua forma geral de resolução dos problemas não
são adequadas (ZANELLA; ANTONY, 2020, p.116).
Com base nos autores supracitados, observa-se a importância da
compreensão e da adoção de novas condutas por parte dos pais e
responsável diante dos comportamentos problemáticos dos filhos,
considerando que diversas consequências podem surgir devido as
práticas parentais ineficazes.
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Órgãos de fomento
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Marcas, Siglas de Apoios
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O PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO E O
TRANSTORNO EXTERNALIZANTE
Os transtornos internalizantes, por sua vez, caracterizam problemas
direcionados à experiência interior, como a ansiedade, isolamento e
depressão” (LOBO et. al., 2011 p.126). Já os “transtornos de
externalização são caracterizados por comportamento problemático
relacionado a controle de impulso deficiente, incluindo quebra de
regras, agressão, impulsividade e desatenção” (SAMEK, HICKS, 2014,
p.1).
De maneira frequente, o processo psicoterapêutico com crianças
acaba por ser definido como uma forma de intervenção que objetiva
atender um leque amplo de problemas, que contribuem para o estresse
emocional, interferem no cotidiano da criança, comprometem o
desenvolvimento de habilidades adaptativas e ameaçam a qualidade
de vida da criança e daqueles que com ela convivem (WEISZ; DOSS;
HAWLEY, 2005).
Estudos como os de Lamber e Ogles (2013) sugerem que
aproximadamente 75% dos indivíduos que realizam tratamento
apresentam algum benefício.
Na sua maioria, as intervenções psicológicas suplantam os efeitos da
medicação para transtornos psicológicos e devem ser oferecidas antes
das medicações (exceto para grande parte dos pacientes com
transtornos graves), uma vez que elas são menos perigosas e menos
intrusivas, ou em adição à medicação, por reduzirem a probabilidade
de recidiva, uma vez que as medicações são retiradas (THASE, 1999;
ELKIN et al., 1994).
CONTRIBUIÇÕES DO TREINAMENTO DE PAIS EM
CASOS DE TRANSTORNOS EXTERNALIZANTES
O processo psicoterapêutico de pacientes desta faixa etária, sob a
perspectiva da Terapia Cognitivo Comportamental, visa modificar sua
estrutura cognitiva, para que suas emoções, pensamentos e
comportamentos sejam distintos no futuro (PETERSEN, WAINER,
2011). No entanto, modificações nos elementos negativos do âmbito
familiar destes pacientes são de suma importância, pois, por vezes, é
da relação entre pais e filhos que surge o sofrimento psíquico. Neste
sentido, as intervenções psicoterapêuticas do tratamento de crianças e
adolescentes devem abranger também o treinamento de pais dos
pacientes (PORTO, 2005).
Entre as diferentes possibilidades de acompanhamento
psicoterapêutico para a família, os modelos de treinamento de pais têm
sido citados de forma consistente na literatura especializada
(BARKLEY, 1997). Tais modelos de intervenção são definidos como um
conjunto de procedimentos no qual pais ou cuidadores são capacitados
a modificarem suas práticas disciplinares e educativas e, por
conseguinte, a atuarem sobre o padrão comportamental indesejado de
seus filhos resultante da modificação de contingências relevantes ao
ambiente familiar (PINHEIRO et al., 2002).
Estudos encontrados na literatura indicaram ainda que o Treinamento
de Pais tem sido considerado um dos recursos mais presentes na
prática clínica, principalmente no atendimento infantil, promovendo
assim espaços de diálogos sobre como os pais se percebem neste
lugar e como percebem os filhos. A literatura também aponta que há
registros de maximização dos benefícios do processo psicoterápico, no
que diz respeito à modificação de comportamentos, quando este
procedimento é empregado.
Créditos
Órgãos de fomento
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Marcas, Siglas de Apoios
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Parceiros
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente estudo foram revisados os principais achados da literatura
nacional e internacional, presentes em diferentes bases de pesquisa,
sobre as contribuições do treinamento de pais para o tratamento de
demandas diversas, mas sobretudo para casos de crianças com algum
dos quadros que fazem parte dos transtornos externalizantes.
Transtornos como TDAH, TOD e Transtorno de conduta representam
fatores de impacto negativo no desenvolvimento saudável de uma
criança, assim como nas relações com seus pares, familiares e demais
grupos sociais com os quais interage.
Os transtornos externalizantes se configuram um grande desafio para a
família, que por vezes não sabe como lidar com os comportamentos e
as dificuldades de crianças com tais transtornos.
Os principais achados encontrados nesta revisão sugerem que a
utilização da estratégia comportamental do treinamento de pais
contribui de forma significativa para o tratamento de crianças com
transtornos externalizantes auxiliando na diminuição de sintomas como
comportamentos desafiadores e opositivos, hiperatividade,
agressividade, violação de regras e desobediência.
Estes achados se fazem importantes, uma vez que para além de
apontarem a relevância deste tipo de tratamento para crianças com
transtornos externalizantes, corroboraram a efetividade do treinamento
de pais como uma estratégia capaz contribuir para a promoção de
relações parentais mais saudáveis para criança e família, podendo
refletir de forma positiva nas demais interações sociais do paciente.
REFERÊNCIAS
(APA), American. Psychiatric. A. DSM-5. Porto Alegre – RS: Grupo A, 2016. 9788582711835. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582711835/. Acesso em: 23 out. 2021.
ANTONY, ZANELLA, R. Infância na Gestalt-Terapia: Caminhos terapêuticos. São Paulo SP: Summus Editorial, 2020.
Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/185607/epub/0 Acesso em: 15 out. 2021.
BARKLEY, R. A. Defiant children: A clinician’s manual for assessment and. parent training.(1997). New york,
Guilford, 161 p
COELHO, M. V., MURTA, S. G. Treinamento de pais em grupo: um relato de experiência. Estudos de Psicologia
(Campinas), v. 24, p. 333-341, 2007.
FORTESKI, R. Três Abordagens em Psicoterapia Infantil. Revista Cesumar–Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, v.
19, n. 2, 2014.
PINHEIRO, M. I. S., DEL PRETTE, A., HAASE, V.G. 2002. Pais como coterapeutas: Treinamento em habilidades
sociais como recurso adicional (Relatório Técnico). Belo Horizonte, Editora UFMG, 42 p.
PETERSEN, C. S., WAINER, R. (2011). Princípios básicos da terapia cognitivocomportamental de crianças e
adolescentes. In PETERSEN, C. S., & WAINER, R. (org.), Terapias Cognitivo Comportamentais para crianças e
adolescentes (pp.16-31). Porto Alegre: Artmed.
LAMBERT, M. J. (Ed.), Bergin and Garfield’s Handbook of psychotherapy and behavior change By Lambert, M.J.
(2013).
PORTO, P. (2005). Orientação de pais de crianças com fobia social. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 1(1),
101-110.
SAMEK, D. R, & HICKS, B. M (2014). Distúrbios Externalizantes e Risco Ambiental: Mecanismos de Interação
Gene-Ambiente e Estratégias de Intervenção. Prática clínica (Londres, Inglaterra), 11 (5), 537–547.
https://doi.org/10.2217/CPR.14.47. Acesso em: 23 out. 2021.
SOURANDER, A., JENSEN, P., DAVIES, M., NIEMELA, S., ELONHEIMO, H.,RISTKARI, T., et al. Who is at greatest
risk of adverse long-term outcomes? The Finnish from the boy to a man study. J Am Acad Child Adolesc
Psychiatry. 2007;46(9):1148-61.
THASE, M. E. (1999). When are psychotherapy and pharmacotherapy combinations the treatment of choice for major
depressive disorders? Psychiatric Quarterly, 70, (4) 333-346.
WEISZ, J. R., DOSS, A. J., HAWLEY, K. M. Youth psychotherapy outcome research: a review and critique 36 of
the evidence base. Annu Rev Psychol. 2005;56:337-63.

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  • 2. Créditos Órgãos de fomento Colaboradores Marcas, Siglas de Apoios Patrocinadores Parceiros O PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO E O TRANSTORNO EXTERNALIZANTE Os transtornos internalizantes, por sua vez, caracterizam problemas direcionados à experiência interior, como a ansiedade, isolamento e depressão” (LOBO et. al., 2011 p.126). Já os “transtornos de externalização são caracterizados por comportamento problemático relacionado a controle de impulso deficiente, incluindo quebra de regras, agressão, impulsividade e desatenção” (SAMEK, HICKS, 2014, p.1). De maneira frequente, o processo psicoterapêutico com crianças acaba por ser definido como uma forma de intervenção que objetiva atender um leque amplo de problemas, que contribuem para o estresse emocional, interferem no cotidiano da criança, comprometem o desenvolvimento de habilidades adaptativas e ameaçam a qualidade de vida da criança e daqueles que com ela convivem (WEISZ; DOSS; HAWLEY, 2005). Estudos como os de Lamber e Ogles (2013) sugerem que aproximadamente 75% dos indivíduos que realizam tratamento apresentam algum benefício. Na sua maioria, as intervenções psicológicas suplantam os efeitos da medicação para transtornos psicológicos e devem ser oferecidas antes das medicações (exceto para grande parte dos pacientes com transtornos graves), uma vez que elas são menos perigosas e menos intrusivas, ou em adição à medicação, por reduzirem a probabilidade de recidiva, uma vez que as medicações são retiradas (THASE, 1999; ELKIN et al., 1994). CONTRIBUIÇÕES DO TREINAMENTO DE PAIS EM CASOS DE TRANSTORNOS EXTERNALIZANTES O processo psicoterapêutico de pacientes desta faixa etária, sob a perspectiva da Terapia Cognitivo Comportamental, visa modificar sua estrutura cognitiva, para que suas emoções, pensamentos e comportamentos sejam distintos no futuro (PETERSEN, WAINER, 2011). No entanto, modificações nos elementos negativos do âmbito familiar destes pacientes são de suma importância, pois, por vezes, é da relação entre pais e filhos que surge o sofrimento psíquico. Neste sentido, as intervenções psicoterapêuticas do tratamento de crianças e adolescentes devem abranger também o treinamento de pais dos pacientes (PORTO, 2005). Entre as diferentes possibilidades de acompanhamento psicoterapêutico para a família, os modelos de treinamento de pais têm sido citados de forma consistente na literatura especializada (BARKLEY, 1997). Tais modelos de intervenção são definidos como um conjunto de procedimentos no qual pais ou cuidadores são capacitados a modificarem suas práticas disciplinares e educativas e, por conseguinte, a atuarem sobre o padrão comportamental indesejado de seus filhos resultante da modificação de contingências relevantes ao ambiente familiar (PINHEIRO et al., 2002). Estudos encontrados na literatura indicaram ainda que o Treinamento de Pais tem sido considerado um dos recursos mais presentes na prática clínica, principalmente no atendimento infantil, promovendo assim espaços de diálogos sobre como os pais se percebem neste lugar e como percebem os filhos. A literatura também aponta que há registros de maximização dos benefícios do processo psicoterápico, no que diz respeito à modificação de comportamentos, quando este procedimento é empregado.
  • 3. Créditos Órgãos de fomento Colaboradores Marcas, Siglas de Apoios Patrocinadores Parceiros CONSIDERAÇÕES FINAIS No presente estudo foram revisados os principais achados da literatura nacional e internacional, presentes em diferentes bases de pesquisa, sobre as contribuições do treinamento de pais para o tratamento de demandas diversas, mas sobretudo para casos de crianças com algum dos quadros que fazem parte dos transtornos externalizantes. Transtornos como TDAH, TOD e Transtorno de conduta representam fatores de impacto negativo no desenvolvimento saudável de uma criança, assim como nas relações com seus pares, familiares e demais grupos sociais com os quais interage. Os transtornos externalizantes se configuram um grande desafio para a família, que por vezes não sabe como lidar com os comportamentos e as dificuldades de crianças com tais transtornos. Os principais achados encontrados nesta revisão sugerem que a utilização da estratégia comportamental do treinamento de pais contribui de forma significativa para o tratamento de crianças com transtornos externalizantes auxiliando na diminuição de sintomas como comportamentos desafiadores e opositivos, hiperatividade, agressividade, violação de regras e desobediência. Estes achados se fazem importantes, uma vez que para além de apontarem a relevância deste tipo de tratamento para crianças com transtornos externalizantes, corroboraram a efetividade do treinamento de pais como uma estratégia capaz contribuir para a promoção de relações parentais mais saudáveis para criança e família, podendo refletir de forma positiva nas demais interações sociais do paciente. REFERÊNCIAS (APA), American. Psychiatric. A. DSM-5. Porto Alegre – RS: Grupo A, 2016. 9788582711835. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582711835/. Acesso em: 23 out. 2021. ANTONY, ZANELLA, R. Infância na Gestalt-Terapia: Caminhos terapêuticos. São Paulo SP: Summus Editorial, 2020. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/185607/epub/0 Acesso em: 15 out. 2021. BARKLEY, R. A. Defiant children: A clinician’s manual for assessment and. parent training.(1997). New york, Guilford, 161 p COELHO, M. V., MURTA, S. G. Treinamento de pais em grupo: um relato de experiência. Estudos de Psicologia (Campinas), v. 24, p. 333-341, 2007. FORTESKI, R. Três Abordagens em Psicoterapia Infantil. Revista Cesumar–Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, v. 19, n. 2, 2014. PINHEIRO, M. I. S., DEL PRETTE, A., HAASE, V.G. 2002. Pais como coterapeutas: Treinamento em habilidades sociais como recurso adicional (Relatório Técnico). Belo Horizonte, Editora UFMG, 42 p. PETERSEN, C. S., WAINER, R. (2011). Princípios básicos da terapia cognitivocomportamental de crianças e adolescentes. In PETERSEN, C. S., & WAINER, R. (org.), Terapias Cognitivo Comportamentais para crianças e adolescentes (pp.16-31). Porto Alegre: Artmed. LAMBERT, M. J. (Ed.), Bergin and Garfield’s Handbook of psychotherapy and behavior change By Lambert, M.J. (2013). PORTO, P. (2005). Orientação de pais de crianças com fobia social. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 1(1), 101-110. SAMEK, D. R, & HICKS, B. M (2014). Distúrbios Externalizantes e Risco Ambiental: Mecanismos de Interação Gene-Ambiente e Estratégias de Intervenção. Prática clínica (Londres, Inglaterra), 11 (5), 537–547. https://doi.org/10.2217/CPR.14.47. Acesso em: 23 out. 2021. SOURANDER, A., JENSEN, P., DAVIES, M., NIEMELA, S., ELONHEIMO, H.,RISTKARI, T., et al. Who is at greatest risk of adverse long-term outcomes? The Finnish from the boy to a man study. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2007;46(9):1148-61. THASE, M. E. (1999). When are psychotherapy and pharmacotherapy combinations the treatment of choice for major depressive disorders? Psychiatric Quarterly, 70, (4) 333-346. WEISZ, J. R., DOSS, A. J., HAWLEY, K. M. Youth psychotherapy outcome research: a review and critique 36 of the evidence base. Annu Rev Psychol. 2005;56:337-63.