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O CARNAVAL DA ALMA Artur Da Távola  É ter por dentro ecos formidáveis, batucadas existenciais, passistas encantadas realizando a coreografia da saudade.  Ao lado delas, segue um jovem emocionado por viver e  saber-se carioca em profundidade, identificado  com tudo  aquilo.  Aquele jovem saiu no bloco da vida e foi para aonde?
É não se agradar do Carnaval concreto, que tem tudo "demais":  preços,  "seguranças", angústia,  crachás,  barraquinhas,  nudez grosseira  e violência,  vale dizer o oposto do espírito da festa..
É agradar-se como desejo de ser leve e solto, vagabundo e  belo, e sem tantos deveres ou consciência.  É preferir a alma da festa, ao seu corpo,  embora estupefato diante da beleza de mulheres impossíveis.  É a criação de um território próprio onde se é rei pelo cansaço de ser plebeu no território concreto dos homens.
É ainda a ânsia de sair por aí, sem intenções ou objetivos, cansado de conhecer, analisar.  Querendo apenas ser e viver.  Sem cogitar. É não se aproveitar da fantasia para dizer verdades recalcadas e provocar ofensores.
É sair por aí numa boa e com uma só disposição - a de nada ter a fazer, ninguém a quem convencer ou dar satisfações, a alegria liberta de dispor do próprio tempo e da própria vontade segundo o que vai acontecendo e não segundo os planos tensos e contraídos do "ter que fazer",  "dizer", "compreender" ou "realizar". É ânsia de vôos e alegria. Necessidade de não  cogitar e mergulhar na vida.  Um instante de inconseqüência no meio da trajetória idiotamente lúcida, tão obscura.
É mandar às favas a ânsia de metafísica, mera expressão dos medos que moram na mente, vizinhos dos pensamentos  (não se dão bem, esses vizinhos!).  É acordar tranqüilo e emocionado, certeza de  festa.  Só  esperança, só juventude. Do lado de lá, tanto coração! Do lado de cá, tanta vontade!
Apenas ser vítima da alma diabólica das festas, jamais autor ou relator, organizador ou  apreciador. Vontade de ser passista ou tocador de surdo, de mergulhar no delírio, ser mais um, chutar seriedades e convicções, deveres e testemunhos. Vontade de tudo que só farei interiormente.  Dá no mesmo... Música : Marchinha - Jardineira Montagem : maricarusocunha www.mensagensvirtuais.com.br

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  • 1. O CARNAVAL DA ALMA Artur Da Távola É ter por dentro ecos formidáveis, batucadas existenciais, passistas encantadas realizando a coreografia da saudade. Ao lado delas, segue um jovem emocionado por viver e  saber-se carioca em profundidade, identificado  com tudo  aquilo. Aquele jovem saiu no bloco da vida e foi para aonde?
  • 2. É não se agradar do Carnaval concreto, que tem tudo "demais": preços, "seguranças", angústia, crachás, barraquinhas, nudez grosseira e violência, vale dizer o oposto do espírito da festa..
  • 3. É agradar-se como desejo de ser leve e solto, vagabundo e  belo, e sem tantos deveres ou consciência. É preferir a alma da festa, ao seu corpo, embora estupefato diante da beleza de mulheres impossíveis. É a criação de um território próprio onde se é rei pelo cansaço de ser plebeu no território concreto dos homens.
  • 4. É ainda a ânsia de sair por aí, sem intenções ou objetivos, cansado de conhecer, analisar. Querendo apenas ser e viver. Sem cogitar. É não se aproveitar da fantasia para dizer verdades recalcadas e provocar ofensores.
  • 5. É sair por aí numa boa e com uma só disposição - a de nada ter a fazer, ninguém a quem convencer ou dar satisfações, a alegria liberta de dispor do próprio tempo e da própria vontade segundo o que vai acontecendo e não segundo os planos tensos e contraídos do "ter que fazer",  "dizer", "compreender" ou "realizar". É ânsia de vôos e alegria. Necessidade de não  cogitar e mergulhar na vida. Um instante de inconseqüência no meio da trajetória idiotamente lúcida, tão obscura.
  • 6. É mandar às favas a ânsia de metafísica, mera expressão dos medos que moram na mente, vizinhos dos pensamentos (não se dão bem, esses vizinhos!). É acordar tranqüilo e emocionado, certeza de  festa. Só  esperança, só juventude. Do lado de lá, tanto coração! Do lado de cá, tanta vontade!
  • 7. Apenas ser vítima da alma diabólica das festas, jamais autor ou relator, organizador ou  apreciador. Vontade de ser passista ou tocador de surdo, de mergulhar no delírio, ser mais um, chutar seriedades e convicções, deveres e testemunhos. Vontade de tudo que só farei interiormente. Dá no mesmo... Música : Marchinha - Jardineira Montagem : maricarusocunha www.mensagensvirtuais.com.br