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GEOGRAFIA E MEIO
AMBIENTE
Carlos Eduardo de Oliveira
Dionne Barreto
Fábio Nunes
Gisele das Chagas Costa
COLEÇÃO FORMANDO EDUCADORES
EDITORA NUPRE
2010
GEOGRAFIA E MEIO
AMBIENTE
REDE DE ENSINO FTC
William Oliveira
PRESIDENTE
Reinaldo Borba
VICE-PRESIDENTE DE INOVAÇÃO E EXPANSÃO
Fernando Castro
VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO
João Jacomel
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO
Cristiane de Magalhães Porto
EDITORA CHEFE
Francisco França Souza Júnior
CAPA
Mariucha Silveira Ponte
PROJETO GRÁFICO
Carlos Eduardo de Oliveira
Dionne Barreto
Fábio Nunes
Gisele das Chagas Costa
AUTORIA
Israel Dantas da Silva
DIAGRAMAÇÃO
Israel Dantas da Silva
ILUSTRAÇÕES
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IMAGENS
Hugo Mansur
Márcio Melo
Paula Rios
REVISÃO
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SUMÁRIO
1 CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E CONTEMPORANEIDADE............................................................... 9
1.1 TEMA 1. O SER HUMANO E O MEIO AMBIENTE ...................................................................... 11
1.1.1 CONTEÚDO 1. A URGÊNCIA DA TEMÁTICA AMBIENTAL ............................................... 11
1.1.2 CONTEÚDO 2. O AMBIENTALISMO GEOGRÁFICO DE CUNHO NATURALISTA .............. 21
1.1.3 CONTEÚDO 3. O AMBIENTALISMO GEOGRÁFICO ENGAJADO NA TRANSFORMAÇÃO DA
REALIDADE..................................................................................................................... 23
1.1.4 CONTEÚDO 4. EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE........................................................ 24
MAPA CONCEITUAL.......................................................................................................................... 29
ESTUDO DE CASO ............................................................................................................................. 30
EXERCÍCIOS PROPOSTOS.................................................................................................................. 31
1.2 TEMA 2. CONSCIÊNCIA AMBIENTAL......................................................................................... 37
1.2.1 CONTEÚDO 1. CONSCIÊNCIA AMBIENTAL: CONCEITUAÇÃO E DESPERTAMENTO........ 37
1.2.2 CONTEÚDO 2. ÉTICA E RESPONSABILIDADE AMBIENTAL.............................................. 48
MAPA CONCEITUAL.......................................................................................................................... 63
ESTUDO DE CASO ............................................................................................................................. 64
EXERCÍCIOS PROPOSTOS.................................................................................................................. 65
2 EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE...............................................................................................71
2.1 TEMA 3. MEIO AMBIENTE E SOCIEDADE ................................................................................. 73
2.1.1 CONTEÚDO 1. CONSERVACIONISMO E DESENVOLVIMENTO........................................ 73
2.1.2 CONTEÚDO 2. IMPACTOS AMBIENTAIS E MEIO AMBIENTE.......................................... 93
2.1.3 CONTEÚDO 3. NOVAS TECNOLOGIAS E MEIO AMBIENTE............................................. 97
MAPA CONCEITUAL........................................................................................................................ 105
ESTUDO DE CASO ........................................................................................................................... 106
EXERCÍCIOS PROPOSTOS................................................................................................................ 107
2.2 TEMA 4. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DA GEOGRAFIA.......................................... 113
2.2.1 CONTEÚDO 1. A CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.......... 113
2.2.2 CONTEÚDO 2. EDUCAÇÃO E SAÚDE AMBIENTAL........................................................ 116
MAPA CONCEITUAL........................................................................................................................ 139
ESTUDO DE CASO ........................................................................................................................... 140
EXERCÍCIOS PROPOSTOS................................................................................................................ 141
GLOSSÁRIO ...............................................................................................................................145
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................149
APRESENTAÇÃO
Quem O atual paradigma de crescimento econômico no mundo pauta-se no acúmulo de
bens, induzido através do consumo acelerado de recursos naturais e energéticos, em um ritmo
superior à capacidade de reciclagem e reposição cíclica do meio ambiente, criando, conse-
quentemente, um descompasso entre a possibilidade da utilização racional do ambiente e a
crescente demanda industrial.
O desconhecimento dos processos ambientais é um fato que tem gerado esgotamento
dos recursos disponibilizados aos seres humanos pelo planeta, além de um acúmulo de resí-
duos que se espalham degradando a atmosfera, a hidrosfera e a litosfera e inviabilizando, em
determinado grau, a presença da vida em toda a sua diversidade.
Diante das atuais demandas ecológicas e sociais, faz-se urgente a reflexão sobre a possi-
bilidade de ações sociais que introduzam um novo modelo de desenvolvimento e que possam
beneficiar toda a população mundial.
É dentro dessa perspectiva que apresentamos para você o que existe de mais importante
sobre Geografia e meio ambiente. Assim, num primeiro momento, trataremos dos conheci-
mentos a respeito da consciência ambiental e contemporaneidade, analisando os elementos
fundamentais para compreender o ser humano e o meio ambiente e sua consciência ambien-
tal.
No segundo momento, discutem-se a educação e o meio ambiente, localizando a educa-
ção ambiental no ensino da Geografia e objetivando oferecer, ao futuro licenciado, subsídios
aos debates sobre os usos, planejamentos e gestão da Geografia e meio ambiente.
Parece bastante perceptível que tal crise conjuntural que permeia toda sociedade plane-
tária e, em seu ângulo, uma crise de consciência. Porém, os momentos de crise tornam possí-
veis as transformações necessárias no sentir, pensar e agir coletivo em prol da reconstrução de
um mundo em que valores como ética ambiental estejam presentes em toda relação humana e
para com o ambiente possibilitando a manutenção da vida em toda sua extensão.
Na certeza de que os conhecimentos apresentados nessa disciplina serão capazes de ca-
pacitá-lo para uma prática pedagógica consciente acerca dos movimentos ambientais e uma
prática ecológica correta no que diz respeito ao ambiente em vive o nosso educando.
“[...] Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coisas mais belas do mundo,
mas os hitleristas e seus cães danados destruíram os trigais e os povos morrem de fome. Como
falar, então, da beleza, dessa beleza simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do
céu azul, do teu rosto na tarde? Não posso falar dessas coisas de todos os dias, dessas alegrias
de todos os instantes. Porque elas estão “perigando”, todas elas, os trigais e o pão, a farinha e a
água, o céu, o mar e teu rosto [...]” (Nem a rosa, nem o cravo..., Jorge Amado).
Bons estudos!
Professores
Carlos Eduardo de Oliveira
Dionne Barreto
Fábio Nunes
Gisele das Chagas Costa
1
CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E
CONTEMPORANEIDADE
BLOCO
TEMÁTICO
11
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E
CONTEMPORANEIDADE
1.1
TEMA 1.
O SER HUMANO E O MEIO AMBIENTE
1.1.1
CONTEÚDO 1.
A URGÊNCIA DA TEMÁTICA AMBIENTAL
A questão ambiental está entre as temáticas mais discutidas da atualidade e isto se deve à
realidade das condições ambientais e da qualidade de vida dos seres humanos, nos diferentes
continentes. Segundo Mendonça (2002), devido à sua importância, a temática ambiental tem
recebido um profícuo tratamento de alguns segmentos sociais, contudo, outros se apossaram
dela apenas para sua autopromoção. Tal fato levou Milton Santos, em 1992, em aula inaugural
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, a decla-
rar:
FONTE: WWW.SEPLAN.BA.GOV.BR
12
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
A mediação interessada, tantas vezes interesseira, da mídia, conduz, não raro, à dou-
trinação da linguagem, necessária para ampliar seu crédito, e à falsidade do discurso, des-
tinado a ensombrear o entendimento. O discurso do meio ambiente é carregado dessas
tintas, exagerando certos aspectos em detrimento de outros, mas, sobretudo, mutilando o
conjunto. (...)
Se antes a natureza podia criar o medo, hoje é o medo que cria uma natureza mediáti-
ca e falsa, uma parte da natureza sendo apresentada como se fosse o todo. (...).
O que, em nosso tempo, seja o mais dramático, é o papel que passaram a obter, na vida
cotidiana, o medo e a fantasia. Sempre houve épocas de medo. Mas esta é uma época de
medo permanente e generalizado. A fantasia sempre povoou o espírito dos homens. Mas
agora, industrializada, ela invade todos os momentos e todos os recantos da existência a
serviço do mercado e do poder e constitui, juntamente com o medo, um dado essencial de
nosso modelo de vida. (...)
Considerando os diferentes pontos de vista, seja dos setores mais tradicionais da socie-
dade capitalista, seja dos mais radicais, que criticam e que enfatizam a necessidade da imediata
diminuição das atividades produtivas em todo o mundo, enfatizando especialmente o corte da
produção industrial, a temática ambiental está em nosso cotidiano, na televisão, nos jornais,
no imaginário coletivo. A discussão da temática na contemporaneidade se deve a vários fato-
res, dentre eles, segundo Mendonça (2002, p.10), pode-se citar:
a) Diminuição da qualidade de vida da população
Segundo Nunes (2007), a revolução industrial trouxe grandes transformações das rela-
ções do homem com a natureza e daquele para consigo. A partir deste momento, visto os an-
seios de aumentar geometricamente a produção, os grandes impactos ambientais decorrentes
da utilização do meio se alastram, tanto pela retirada de matérias-primas quanto pelos dejetos
e efluentes liberados no ambiente. Os economistas dessa época, baseados na ideia de cresci-
mento infinito e num mundo de recursos limitados, defendiam um modelo de desenvolvi-
mento de produção ilimitada, sem barreiras.
Esse modelo foi responsável pela acelerada degradação do meio ambiente, o que acabou
comprometendo a qualidade de vida da população, conforme denota Mendonça (2002, p.10):
Essa degradação tem comprometido a qualidade de vida da população de várias ma-
neiras, mais perceptível na alteração da qualidade da água e do ar, nos “acidentes” ecológi-
cos ligados ao desmatamento, queimadas, poluição marinha, lacustre, fluvial e morte de
inúmeras espécies animais que hoje se encontram em extinção. A degradação do ambiente
13
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
e, consequentemente, a queda da qualidade de vida se acentua onde o homem se aglomera:
nos centros urbano-industriais. Aqui, os rios, fundos de vales e bairros residenciais perifé-
ricos dividem o espaço com lixo e a miséria.
No mundo contemporâneo, a competitividade, o consumo e a confusão dos espíritos
são baluartes do estado de coisas que acometem à sociedade. A competitividade e o consumo
comandam as nossas ações e a confusão dos espíritos impede o nosso entendimento do mun-
do e de cada um de nós (SANTOS, 2000, p.46). Vivemos num mundo fabricado pelo homem,
em que a cidade é a expressão espacial nas quais as coisas mais se realizam, por conseguinte,
onde mais aparecem os problemas gerados pela estrutura socioeconômica e, nela, devemos
reaprender a viver, conforme nos ensina Santos (1993, p.9):
O tempo concreto dos homens é a temporalização prática, movimento do mundo den-
tro de cada qual e, por isso, interpretação particular do Tempo por cada grupo, cada classe
social, cada indivíduo. A cidade é o lugar em que o Mundo se move mais; e os homens tam-
bém. A co-presença ensina aos homens a diferença. Por isso, a cidade é o lugar da educação e
da re-educação.
FONTE: WWW.CEPA.IF.USP.BR
Santos (1996, p.5) enfatiza a questão da seguinte maneira:
O homem se tornou fator geológico, geomorfológico, climático e a grande mudança
vem do fato de que os cataclismos naturais são um incidente, um momento, enquanto hoje
a ação antrópica tem efeitos continuados, cumulativos, graças ao modelo de vida que a
Humanidade adotou. Daí advém os graves problemas de relacionamento entre a atual civi-
lização material e a natureza.
Quando se enfatiza o caos da qualidade de vida da população, normalmente se denota a
questão da explosão demográfica, a qual certamente agrava os problemas ambientais. O cres-
14
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
cimento populacional certamente gerou/gera uma maior pressão sobre os recursos naturais,
contudo, isto não pode ser entendido sem uma contextualização social, política e econômica,
conforme denota Mendonça (2002, p.12):
Ao lado do grande contingente populacional, o desenvolvimento da ideolo-
gia do consumismo pós-anos 50 tem exacerbado as diferenças entre condi-
ções de vida, o que tem gerado extremos na qualidade da miséria humana e
ao mesmo tempo a concentração de riquezas (...) (Grifo nosso).
FONTE: WWW.BRASILESCOLA.COM
O ilustre Josué de Castro1
(1908-1973) explorou a questão “denunciando” o flagelo da
fome. Para ele, a explosão demográfica, ao retardar a elevação dos níveis de vida de certos
grupos, pode agravar, sem dúvida, a sua situação de fome, mas nunca determinar este estado
de coisas. A fome é, regra geral, o produto das estruturas econômicas defeituosas e não de
condições naturais insuperáveis.
FONTE: HTTP://WWW.JOSUEDECASTRO.COM.BR
1
Saiba mais sobre Josué de Castro acessando o site: http://www.josuedecastro.com.br
15
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
"Denunciei a fome como flagelo fabricado pelos homens, contra outros homens".
No início da teoria econômica, os economistas clássicos chegaram até a demonstrar
preocupação com o esgotamento dos recursos naturais, contudo o que se viu, especial-
mente depois da II Guerra Mundial, foi uma utilização desenfreada dos recursos natu-
rais, isto com o discurso de vencer a escassez e aumentar a oferta de bens e serviços,
com consequente degradação do meio ambiente e da qualidade de vida da população, es-
pecialmente nos países mais pobres (NUNES, 2007, p.13).
Segundo Mendonça (2002), a qualidade de vida do homem apresenta, na atualidade,
uma queda sem limites, apesar do grande avanço científico e tecnológico alcançados pela hu-
manidade. Santos (2000) enfatiza que, quando tudo permitia imaginar que se tornara possível
à criação de um mundo mais justo e solidário, verás o que é imposto aos espíritos é um mun-
do de fabulações, ao invés de produzir grandes relatos. A grande ameaça que paira sobre o
planeta atualmente não é climática ou qualquer outra catástrofe imaginada pelos ambientalis-
tas, mas o aprofundamento das injustiças e das desigualdades sociais (LINO et al., 2007).
b) O alarmismo da mídia
Não raro, praticamente todos os dias, os diferentes meios de informação e comunicação
trazem à tona, de forma bastante alarmente, temas que versam sobre os problemas ambientais,
especialmente aqueles de ordem mais catastrófica. Como os temas do horror são propícios à
venda, mesmo os processos naturais – como erupções vulcânicas, chuvas torrenciais e, até
mesmo, que versam sobre a variabilidade natural do sistema climático – passam a ser aborda-
dos de forma apocalíptica.
O professor Francisco Mendonça adverte-nos que, neste momento, em que certos fe-
nômenos naturais adquirem caráter sobrenatural, urge resgatar a verdade que se encontra
camuflada pelo sensacionalismo da mídia nacional e internacional; esclarecer que a noção de
catástrofe é de caráter humano-social e que fenômenos como maremotos, terremotos, ilhas de
calor, efeito estufa, somente adquirem importância para as sociedades quando estas atingem
áreas habitadas ou de importância econômica (MENDONÇA, 2002, p.13).
Pode-se observar que as reportagens normalmente carecem de análise crítica das cau-
sas e efeitos dos problemas em questão e, muitas vezes, encobrem realidades que poderiam
contribuir para um melhor entendimento dos temas abordados. É verdade que essa postu-
ra da mídia acaba divulgando a necessidade de se lutar por um ambiente mais sadio, con-
tudo, pelo seu tom, podem desviar muitos militantes em potencial (MENDONÇA, 2002,
p.14).
16
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
O referido professor ainda enfatiza que o desenvolvimento técnico–científico alcançado
pela humanidade já a livrou da simples condição de vítima da natureza. O homem já não está
preso na andadeira, como nos diz Karl Marx quando se refere aos primórdios da humanidade.
O homem transcendeu os horizontes para melhorar a sua situação enquanto ser vivente e não
é um parasita, como dizem alguns ambientalistas. Embora tenha causado e continua a causar
importantes impactos negativos, o homem pode construir novas realidades e continuar a pro-
gredir, de forma consciente, em sua jornada através do universo.
Prezado aluno, embora os temas do horror estejam cada vez mais presentes em nosso
cotidiano, potencializados através das “telas” da mídia, a humanidade apresenta fenômenos
socioespaciais de “enorme conteúdo teleológico, apontando para um mundo diferente e me-
lhor” (SANTOS, 1993, p.12) e são nos espaços de exclusão, nos espaços mais degradados, on-
de imperam os tempos lentos, que têm surgido novas possibilidades para a construção de um
mundo mais saudável, mais sustentável. A leitura da beleza é possível e está presente na vida,
querendo contribuir para um Ensaio sobre a lucidez2
(NUNES, 2009, p.10).
c) O papel das ciências, artes e das atividades políticas.
No âmbito da ciência, o meio ambiente tem sido tratado de diferentes maneiras. A de-
pender do contexto histórico, certamente é tratado de maneira diferenciada na atualidade.
Inicialmente, o enfoque científico era naturalista, considerando como meio ambiente o arca-
bouço físico e biológico, como clima, relevo, solos, águas, flora e fauna. Contudo, especial-
mente depois da II Guerra Mundial, o quadro se alterou e as sociedades humanas começaram
a ser inseridas na discussão da temática ambiental.
Entretanto, até em nossos dias, existem confusões e incoerências a respeito do entendi-
mento do homem como sendo, ele mesmo, natureza. Élisée Reclus, importante geógrafo fran-
cês, já esclarecia no século XIX: “O homem é a natureza tomando consciência de si mesma”,
contudo, esta percepção ainda não alcançou substancialmente a humanidade. No tocante a
esta questão, as reflexões de Roberta Crema (2002, p.4) são realmente esclarecedoras:
Quando eu falo em espiritualidade, não estou me referindo a nenhuma igreja, a nenhu-
ma religião particular, embora respeite todas. Refiro-me à espiritualidade como o fazia Einste-
in, apontando para uma vivência cósmica; ou, ainda, outro físico contemporâneo, Fritijof Ca-
pra, que denominou seu penúltimo livro de “Pertencendo ao Universo”. Espiritualidade é uma
consciência não dual, uma consciência de participação, da parte no todo, que na essência é o
amor, e na prática é solidariedade. Uma pessoa que despertou para essa dimensão espiritual é
2
Referência ao livro Ensaio sobre a lucidez, do Nobel de literatura José Saramago.
17
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
uma pessoa que não se vê separada do outro, da comunidade e do Universo. Eu pergunto: em
sã consciência, você colocaria fogo no seu corpo? Se você sente-se não separado do outro, você
jogaria fogo em alguém que está dormindo num banco? E se você se sente não separado da
natureza, você iria empestá-la, destruir ecossistemas por uma neurose de progresso compulsi-
vo, que foi decantada no século passado por Comte e que, agora, testemunhamos o lado som-
brio dessa religião do progresso a qualquer custo, progresso a custa da hecatombe? Você em-
pestaria a natureza se você se sentisse não separado dela?
Sem sombra de dúvida. Nestes últimos séculos, temos investido, de forma unilateral, no
mundo da matéria, e os frutos são notáveis, sintetizados na tecnociência maravilhosa de que
dispomos. A grande tragédia, entretanto, é que não houve praticamente nenhum investimento
significativo no mundo da subjetividade, da alma, da ética, da consciência, da essência. O re-
sultado encontra-se nos noticiários tristes e apocalípticos de cada dia: escalada de violência e
guerras infindáveis; a exclusão desumana de uma maioria que morre de fome, por uma mino-
ria que morre de medo; extinção em massa de espécies; rota da colisão do ser humano com a
natureza e todo tipo de aplicações tecnológicas irresponsáveis. O investimento maciço na al-
ma é a única estratégia que poderá viabilizar a perpetuação, com qualidade e dignidade de
nossa espécie. Antigas e esquecidas lições: para que serve ganhar o mundo inteiro se você per-
deu a sua alma, se você se perdeu de si mesmo, se você se esqueceu do ser que lhe faz ser? Fe-
lizmente, crise é também a oportunidade de aprender e de evoluir. Gosto de confiar que o ser
humano será a maior descoberta do terceiro milênio!
FONTE: HTTP://BLIG.IG.COM.BR
As diferentes formas de representação artística têm divulgado a temática ambiental de
forma bastante interessante. A natureza é sempre um tema explorado pelos pintores, esculto-
res, poetas, inicialmente sob enfoque mais naturalista, contudo na contemporaneidade, os
artistas têm se debruçado, especialmente, a denunciar a degradação ambiental, inserindo no
contexto a destruição da qualidade de vida do homem.
18
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
FONTE: HTTP://COLUNISTAS.IG.COM.BR/STREET/FILES/2009/09/GUERNICA-784569.JPG
A obra Guernica de Pablo Picasso denuncia o terror da guerra espanhola e seu impacto
negativo na vida.
No âmbito político, pode-se classificar de desprezível a atitude demagógica de certos in-
divíduos que, sob atenção do eleitorado, tem utilizado do discurso ambiental para se promo-
verem. Deve-se, contudo, reconhecer a atitude de alguns políticos em defesa ao meio ambien-
te, mesmo com grandes dificuldades diante das conjunturas políticas, em escala global e
nacional, os mesmos têm conseguido alguns avanços na esfera ambiental (MENDONÇA,
2002), no momento em que têm elaborado, bem como aprovado, diretrizes em prol da quali-
dade de vida das populações mais pobres e da melhoria da qualidade dos ecossistemas.
A humanidade avançou em muitos aspectos, contudo, ainda existe muito a fazer. A nos-
sa relação com os demais irmãos naturais não é sustentável, e começamos a perceber isto, o
que fez emergir a questão ambiental da contemporaneidade, a qual. expõe a insatisfação com a
forma que nos relacionamos com a natureza. Trata-se de uma crise civilizacional que pode
nos conduzir a um novo patamar de consciência. Como diria Nietzsche, “só o caos pode ge-
rar uma estrela dançarina”.
O Surgimento de estrelas está associado a grandes explosões.
FONTE: NASA, 2009
19
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
A época em que vivemos hoje não é a da luz nascente da aurora, que é a luz do primeiro
olhar3, nem a luz sem sombras que afoga mais do que revela4, nem a luz do crepúsculo, na
qual o pássaro de Minerva alça voo. Esta é a época da luz que também brilha na noite, a luz da
fogueira, a luz amarela da lua que circula para lembrar aos homens a presença da luz na pró-
pria escuridão (UNGER, 2000, p.25). Começamos, cada vez mais, a perceber o que estamos
fazendo com Gaia (a nossa mãe) e, por conseguinte, a nós mesmos. Começamos também a
agir diferente, o que tem nos conduzido à procura de uma nova ética, ou seja, novas maneiras
de nos relacionar com o mundo.
Uma das grandes riquezas pela busca de uma nova ética é a de tornar manifesto que a
crise ambiental é o sintoma, a expressão de uma crise que é cultural, civilizacional e espiritual.
Uma crise que nos obriga a pensar esta questão que ficou “esquecida”, por tanto tempo, a nos-
sa compreensão do ser (UNGER, 2000, p.53).
Emerge da crise planetária um momento oportuno para nos (re)organizamos, em todos
os níveis da existência, e essa (re)organização deve emergir de nosso interior.
Sem sombra de dúvida. Nestes últimos séculos, temos investido, de forma unilateral, no
mundo da matéria e os frutos são notáveis, sintetizados na tecnociência maravilhosa que dis-
pomos. A grande tragédia, entretanto, é que não houve praticamente nenhum investimento
significativo no mundo da subjetividade, da alma, da ética, da consciência, da essência. O re-
sultado encontra-se nos noticiários tristes e apocalípticos de cada dia: escalada de violência e
guerras infindáveis; a exclusão desumana de uma maioria que morre de fome, por uma mino-
ria que morre de medo; extinção em massa de espécies; rota da colisão do ser humano com a
natureza e todo tipo de aplicações tecnológicas irresponsáveis. O investimento maciço na al-
ma é a única estratégia que poderá viabilizar a perpetuação, com qualidade e dignidade de
nossa espécie. Antigas e esquecidas lições: para que serve ganhar o mundo inteiro se você per-
deu a sua alma, se você se perdeu de si mesmo, se você se esqueceu do ser que lhe faz ser? Fe-
lizmente, crise é também oportunidade de aprender e de evoluir. Gosto de confiar que o ser
humano será a maior descoberta do terceiro milênio! (CREMA, 2002, p.4).
3
Que a é luz dos pré-socráticos, as primeiras luzes da racionalidade (UNGER, 2000, p.25).
4
A luz sem sombras da Razão (que iria tudo iluminar), da ciência que iria tudo desvendar e da tecnologia que
iria tudo programar e o ideal de uma sociedade transparente a si mesma (sem fissuras) comungam de uma
mesma ruptura, de uma mesma hybris. A ruptura com o contraditório, o paradoxo, as zonas de sombras. Filhos
tardios dessa euforia, nossa herança é a perplexidade. É ela o nosso grande dom. A mitologia grega é revelado-
ra, ela nos diz que Íris (a mensageira dos deuses) aquela que faz a ponte entre o homem e sua transcendência,
é filha de Thaumas, o espanto. Tanto Platão quanto Aristóteles se reportam a este mito para dizer que o espan-
to é arché da filosofia. Como o espanto, a perplexidade permite a irupção do sagrado, pode ser fonte de cria-
ção, porque é uma força desorganizadora, subversiva, titânica (UNGER, 2000, p.25,26).
20
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
Segundo Milton Santos (2000, p.174), uma grande transformação está em marcha, con-
tudo é preciso que se completem duas grandes mutações: uma filosófica e outra técnica, capa-
zes de atribuir um novo sentido à existência de cada pessoa e também do planeta. Essas gran-
des transformações devem oportunizar a diluição dos espaços de exclusão (ambientalmente
falando, o que engloba o social) e construir novos espaços de solidariedade.
Segundo Milton Santos (2000, p.174), apesar da farsa que encobre ou tenta maquiar o
sistema ruído, existem possibilidades e até indícios de mudança, no sentido não só de revelar a
mentira utilizando os mesmo recursos técnicos dos mandatários, como amenizar a verdade.
Um mundo diferente, melhor, supõe uma mudança radical das condições atuais, segundo
Milton Santos, de modo que a centralidade de todas as ações seja localizada no homem e não
mais no dinheiro. Empiricamente, tanto a proliferação de grandes populações em áreas restri-
tas, fato causador da genuína e edificante sociodiversidade, como o livre acesso de classes an-
teriormente excluídas a aparatos tecnológicos e informacionais apontam e propiciam progres-
sos. No campo teórico, para o referido autor, o que possibilita mudanças é o crescente
surgimento de um novo discurso, com abordagem empírica e concreta.
A despeito das aparências, é nos espaços de exclusão que se nota o surgimento dos neo-
espaços solidários e são exatamente os homens comuns, os pobres, os flagelados, segundo Mil-
ton Santos, os atores que estão descobrindo uma nova solidariedade. Onde impera o absurdo,
os limites do imponderável, pode emergir e tem emergido soluções para a desordem; realmen-
te no caos habita a ordem, ou seria, quem sabe, a (re) invenção da ordem? (NUNES, 2009,
p.10).
Segundo a Antropologia Comportamentalista, o que o homem é não está decidido de
uma vez para sempre, o homem está essencialmente aberto, seu comportamento não está sim-
plesmente predeterminado e pré-decidido pelo sistema instintivo, o que significa que ele pode
e deve conquistar-se (OLIVEIRA, 1993). O ser pode, apesar da cegueira que comanda a socie-
dade globalitária, transformar-se e construir um novo mundo (NUNES, 2009, p.10).
A Geografia escolar pode ajudar a construir novas realidades, novas meta-narrativas,
um novo mundo, contudo o seu ensino ainda é, muitas vezes, mecânico, decorativo e frequen-
temente não relacionado às necessidades e anseios dos estudantes. Não é pautada na aprendi-
zagem. O processo de ensino-aprendizagem da Geografia pode ser diferente, melhor, deve
conter experiências concretas que conduzam na construção competências que oportunizem
análise das redes de relações que (re)configuram o espaço geográfico.
Segundo Nunes (2007), os desafios estão postos, mas as possibilidades são enormes.
Temos muito a caminhar, os desafios precisam ser superados e você, prezado aluno, pode fa-
zer a diferença em sua escola, em sua comunidade, em seu mundo.
21
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
Se é verdade que nos libertamos no encontro, como o homem poderá libertar-se num
encontro com a natureza?
Roberto Crema: Gosto de afirmar que ninguém transforma ninguém e ninguém se
transforma no encontro. O encontro é o espaço alquímico de cura e de evolução. O encon-
tro consigo mesmo, através do autoconhecimento; o encontro com o outro e sua alteridade
que nos fecunda; o encontro com a grande natureza e com o próprio mistério que, convo-
cado ou não, reconhecido ou não, sempre está presente; eis a arena vasta e maravilhosa do
encontro, este mestre da existência plena.
Fonte: Tempo da Terra/ Jornal O Tempo - 05/07/2002, p.4 – Entrevista.
1.1.2
CONTEÚDO 2.
O AMBIENTALISMO GEOGRÁFICO DE CUNHO NATURALISTA
Segundo Mendonça (2002, p.21), esta fase compreende desde a origem da Geografia Ci-
entífica até meados das décadas de 50/60 do século XX. Nessa fase, o meio ambiente é com-
preendido apenas como a descrição do quadro natural, tais como clima, relevo, solo, águas,
flora e fauna. O homem estava dissociado da abordagem ambiental dessa época.
A fase descrita é marcada por um forte empirismo e enciclopedismo, na qual os estudio-
sos desbravavam fronteiras e descreviam exaustivamente as características físicas dos mesmos,
refletindo os princípios básicos do positivismo5
, elaborado por Augusto Comte.
AUGUSTO COMTE.
FONTE: HTTP://WWW.BIOGRAFIASYVIDAS.COM/BIOGRAFIA/C/FOTOS/COMTE.JPG
5
PARA SABER MAIS ACESSE: HTTP://WWW.MUNDODOSFILOSOFOS.COM.BR/COMTE.HTM
22
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
Pode-se dizer que, desde a sistematização da ciência geográfica, pelos alemães Alexander
von Humboldt e Carl Ritter, que a mesma defendia a necessidade de estudos mais integrados
da paisagem, ou seja, dos elementos que constituem as realidades socioambientais. A Geogra-
fia é, sem dúvida, a única ciência que desde a sua formação se propôs ao estudo da relação
entre os homens e o meio natural do planeta (MENDONÇA, 2002, p.23).
Humboldt era um naturalista que fez viagens para vários continentes, descrevendo os
aspectos naturais desses ambientes, enquanto que Ritter, filósofo e historiador, descrevia as
várias organizações espaciais dos homens sobre os lugares. Juntando os dois conhecimentos,
ambos fundaram a Geografia Científica.
Nasce uma ciência que, desde a sua origem, estava preocupada diretamente como o que
hoje se entende por meio ambiente (MENDONÇA, 2002, p.24).
HUMBOLDT (À ESQUERDA) E RITTER (À DIREITA)
FONTE: HTTP://PRESSBLOG.UCHICAGO.EDU/2009/09/14/HUMBOLDTS_ENDURDING_LEGACY.HTML E
WWW.BIOGRAFIASYVIDAS.COM/.../R/RITTER_CARL.HTM)
“Para se ter uma ideia, duas das ciências mais ligadas ao estudo da natureza, desde sua
origem e em função de suas especificidades, desenvolveram seus estudos de maneira bas-
tante diferenciada do que se entende por meio ambiente: a biologia, por exemplo, embora
produza inúmeros e valiosos conhecimentos para a compreensão do meio natural, jamais
envolveu o homem enquanto ser social em sua análise, e a ecologia, proposta enquanto ci-
ência somente nos anos 30 de nosso século, está muito mais próxima do estudo da nature-
za dissociada do homem, até porque seu pressuposto metodológico básico – o ecossistema
– é de cunho eminentemente naturalista” (MENDONÇA, 2002, p.23).
23
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
1.1.3
CONTEÚDO 3.
O AMBIENTALISMO GEOGRÁFICO ENGAJADO NA TRANSFORMAÇÃO DA
REALIDADE
A partir das décadas de 60, 70 e 80, especialmente a partir do desenvolvimento da “Geo-
grafia Radical”, de cunho marxista, a Geografia ficou extremamente voltada para a crítica das
relações capitalistas de produção, contudo, contribuiu muito pouco para a discussão da temá-
tica ambiental, mostrando-se quando o fez muito pobre e limitada (MENDONÇA, 2002,
p.56,57).
O professor Antônio Carlos Robert de Morais explica que as perspectivas marxistas, es-
truturalistas e fenomenológicas limitam o seu alcance explicativo ao domínio dos fenômenos
sociais, desconhecendo projeções das ciências naturais. “Alfred Schmidt mostrou, em um
interessante estudo, a inexistência de uma perspectiva ontológica a respeito da Natureza
no interior da obra de Marx.”
Mendonça (2002) nos ensina que se o marxismo relevou-se limitado quanto ao trata-
mento da temática ambiental, o método positivista, por seu lado, também não satisfez en-
quanto paradigma segundo o qual tal análise se desenvolveria. Por isso, outras possibilidades
foram postas ou ainda estão sendo pensadas. O que dizer da Teoria Geossistêmica? Ou da
Teoria da Complexidade, da Teoria do Caos? Será que a utilização dos fractais poderá ser efi-
cientes no tratamento da questão ambiental? Ou o melhor horizonte no tratamento do meio
ambiente é o diálogo interdisciplinar ou transdisciplinar, como se propõe na atualidade?
São muitas indagações ainda não respondidas, contudo podemos ter algumas certezas a
respeito da Geografia:
- Segundo Conti (1998, p.1), é o ramo da ciência que se ocupa em estudar os arranjos
espaciais resultantes da relação sociedade/natureza, sendo, por isso, um importante ins-
trumento da formação humanística latu sensu, a qual pressupõe a educação ambiental e,
portanto, a proteção da natureza e de seus valores, reconhecidos como essenciais para a
sobrevivência e o bem-estar do homem.
- Segundo Conti (1998, p.1), a Geografia não dissocia os aspectos culturais dos natu-
rais e nisso reside sua singularidade. Analisa a ecosfera em seus cinco componentes: at-
mosfera, litosfera, hidrosfera, biosfera e antroposfera, os quais se encontram em perma-
nente processo interativo.
24
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
FONTE: HTTP://1.BP.BLOGSPOT.COM/_QYCWOP6MBNW/SGKPQTHSW2I/AAAAAAAAACI/ASOSUAIOPX4/S400/ARVORE.JPG
1.1.4
CONTEÚDO 4.
EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE
Em meados da década de 60, os problemas socioambientais passaram a ecoar mundial-
mente, mobilizando diversos grupos sociais. Em decorrência disto, surge o primeiro alerta
político, um relatório intitulado ”Os limites do crescimento do Clube de Roma” (1968), deno-
tando a necessidade da diminuição significativa das atividades produtivas em todo o mundo.
Contudo, só a partir da I Conferência Mundial do Meio Ambiente, realizada em Estocolmo
em 1972, que as nuances ambientais ganharam realmente dimensões políticas mundiais
(NUNES, 2007, p.13).
FONTE: HTTP://SUSTENTABILIZANDO.FILES.WORDPRESS.COM
Segundo Buarque (1996), surgem, entre as décadas de setenta e oitenta, os primeiros
conceitos de ecodesenvolvimento, que denotam, em síntese, a necessidade de se utilizar meios
25
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
de desenvolvimento mais adaptados ao meio ambiente, causando uma menor quantidade de
resíduos.
FONTE: CAPRA (2002)
Em 1986, a Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Comissão
Brundtland) publicou o relatório ‘Nosso Futuro Comum’, o qual passou a constituir a refe-
rência principal para o novo tipo de desenvolvimento, o sustentável, explicando que ele deve
satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
satisfazerem suas próprias necessidades (NUNES, 2007, p.14).
A busca pelo desenvolvimento sustentável transformou-se na grande bandeira inovado-
ra do modo de produção vigente e, apesar de várias outras denominações defendidas por au-
tores e/ou instituições, a partir da II Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente
e Desenvolvimento (ECO-92), realizada no Rio de Janeiro, ganhou espaço na mídia, nos mei-
os acadêmicos e técnicos, bem como nos discursos políticos (BUARQUE, 1996, p.9).
Segundo Nunes (2007, p.14), a ECO-92 resultou num documento denominado de A-
genda 21, trata-se de um conjunto de 2.500 recomendações que, de fato, nunca foram re-
almente aplicadas. A tarefa parece árdua e os desafios crescentes, já que, nos últimos
doze anos, muitos países continuaram desenvolvendo uma economia tradicionalista,
devastadora e excludente.
Acredita-se que, se a humanidade procura um futuro mais promissor, o novo modelo
de desenvolvimento deve procurar:
a) Adequar o ritmo da economia com o ritmo da natureza;
26
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
b) Ter cautela com os produtos artificiais;
c) E desenvolver tecnologias limpas que garantam a sustentabilidade das teias da vida
em nosso planeta;
d) Ser socialmente menos excludente e mais solidária.
A Geografia, como ciência que se preocupa com as (re)configurações das realidades es-
paciais, tem um papel importante a desempenhar na construção de um novo mundo; não só
denunciar as agressões, mas também propor soluções criativas que venham a ajudar a huma-
nidade a melhor se relacionar como o mundo e com seus semelhantes. Entretanto, como de-
nota Roberto Crema (2002, p.4), nós não podemos cuidar do próximo e da natureza se nos
descuidarmos de nós mesmos, naturalmente.
Todos somos filhos e filhas de uma promessa que fizemos e estamos aqui para trazer
uma contribuição singular, uma palavra original, uma ação própria. Investir nos talentos que
nos foram confiados é o primeiro passo para nos tornarmos agente de saúde e de transforma-
ção. A injustiça social e a degradação ambiental têm início na degeneração de nossos pensa-
mentos, sentimentos, palavras e ações. Quando colocamos ordem, equilíbrio e harmonia em
nosso interior, naturalmente, iremos transpirar esta conquista e inspiraremos outros a trilha-
rem ruma a esta tarefa higiênica prioritária (CREMA, 2002, p.4).
O QUE É AGENDA 21?
A Agenda 21 traduz em ações o conceito de desenvolvimento sustentável
A comunidade internacional, durante a Rio-92, acordou a aprovação de um documen-
to contendo compromissos para mudança do padrão de desenvolvimento no próximo sé-
culo, denominando-o Agenda 21. Resgatava, assim, o termo 'Agenda' no seu sentido de in-
tenções, desígnio, desejo de mudanças para um modelo de civilização em que
predominasse o equilíbrio ambiental e a justiça social entre as nações.
Mais do que um documento, a Agenda 21 é um processo de planejamento participati-
vo que analisa a situação atual de um país, Estado, município e/ou região, e planeja o futu-
ro de forma sustentável. Esse processo de planejamento deve envolver todos os atores soci-
ais na discussão dos principais problemas e na formação de parcerias e compromissos para
a sua solução a curto, médio e longo prazos. A análise e o encaminhamento das propostas
para o futuro devem ser feitas dentro de uma abordagem integrada e sistêmica das dimen-
sões econômica, social, ambiental e político-institucional. Em outras palavras, o esforço de
planejar o futuro, com base nos princípios de Agenda 21, gera produtos concretos, exequí-
veis e mensuráveis derivados de compromissos pactuados entre todos os atores, fator esse,
que garante a sustentabilidade dos resultados.
27
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
É importante destacar, que a Conferência do Rio, em contraste com a Conferência de
Estocolmo de 1972, orientou-se para o desenvolvimento, e que a Agenda 21 não é uma
Agenda Ambiental e sim uma Agenda de Desenvolvimento Sustentável, em que, eviden-
temente, o meio ambiente é uma consideração de primeira ordem. O enfoque desse pro-
cesso de planejamento apresentado com o nome de agenda 21 não é restrito às questões li-
gadas à preservação e conservação da natureza, mas sim a uma proposta que rompe com o
planejamento dominante nas últimas décadas com predominância do enfoque econômico.
A Agenda considera, dentre outras, questões estratégicas ligadas à geração de emprego e
de renda; à diminuição das disparidades regionais e interpessoais de renda; às mudanças
nos padrões de produção e consumo; à construção de cidades sustentáveis; à adoção de
novos modelos e instrumentos de gestão.
Em termos das iniciativas, a Agenda não deixa dúvida. Os governos têm a prerrogativa
e a responsabilidade de deslanchar e facilitar o processo de implementação em todas as es-
calas. Além dos governos, a convocação da Agenda visa mobilizar todos os segmentos da
sociedade, chamando-os de "atores relevantes" e "parceiros do desenvolvimento sustentá-
vel".
Essa concepção processual e gradativa da validação do conceito implica assumir que os
princípios e as premissas que devem orientar a implementação da Agenda 21 não consti-
tuem um rol completo e acabado: torná-la realidade é, antes de tudo, um processo social
no qual os atores vão pactuando paulatinamente com novos consensos e montando uma
agenda possível rumo ao futuro que se deseja sustentável.
FONTE:
HTTP://WWW.MMA.GOV.BR/INDEX.PHP?IDO=CONTEUDO.MONTA&IDESTRUT
URA=18
29
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
MAPA CONCEITUAL
O diagrama denota as questões gerais mais importantes discutidas no tema.
Crise Ambiental
Relações insustentáveis
Degradação da natureza e da sociedade
Necessitamos de instaurar novas relações
Para criar um mundo mais sustentável
Que respeite os ciclos naturais e o próprio ser humano
Um novo mundo é possível através da resolução ética
Oriunda da transformação profunda dos seres humanos
30
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
ESTUDO DE CASO
Leia e analise a situação descrita abaixo. Posteriormente, responda as indagações pro-
postas.
O MEIO AMBIENTE NA SALA DE AULA
Um professor de Geografia do Ensino Médio tinha o objetivo de contribuir para a for-
mação de cidadãos críticos e transformadores e, em sua prática ao longo do ano, trabalhou
conteúdos relacionados à Geografia Física e Humana. Quando trabalhou com conteúdos rela-
cionados à Climatologia, procedeu da seguinte forma:
- Apresentou o conteúdo através de aulas expositivas, apresentando estatísticas e, sem-
pre que possível, denunciando com veracidade as práticas humanas que agridem a natureza.
- No final de cada conteúdo, para avaliar a aprendizagem, aplicava uma prova que se ba-
seava em questões de vestibulares de universidades públicas e privadas.
a) Analisando a situação descrita, o professor se aproximou de uma prática crítica e
transformadora? Justifique a sua resposta.
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b) Para os fins propostos, você considera a avaliação do professor adequada?
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31
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
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c) Contribua para a melhoria da práxis do professor, propondo uma adequação das ati-
vidades educacionais empreendidas pelo mesmo.
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EXERCÍCIOS PROPOSTOS
Questões do ENADE, adaptadas do ENADE ou similares
QUESTÃO 01
A Geografia não é (e nunca foi…) uma disciplina neutra; ela transmite valores, quer ex-
plícita quer implicitamente; a diferença reside nos valores que se têm tentado transmitir, ao
longo dos tempos, uma vez que têm mudado muito. Fonte: Contributo da Educação Geográfi-
ca na Educação Ambiental. O Caso da Geografia no Ensino Secundário Alzira Filipe Alberto.
32
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
Com base no quadro e no texto, analise as proposições:
I - A Geografia apresenta um arcabouço teórico-metodológico ríquissimo, podendo dia-
logar de forma efetiva com os diferentes saberes, portanto, é uma ciência que pode ajudar sig-
nificativamente no desenvolvimento de comunidades e na promoção de projetos que visem
conservar ou presenvar o ambiente.
II - As questões ambientais podem e devem ser abordadas por todas as disciplinas e sob
diversos ângulos e pontos de vista. Trata-se de uma temática transdisciplinar, na qual a Geo-
grafia tem o contributo específico de a territorializar e analisar de uma forma multidimensio-
nal.
III - Um dos objetivos fundamentais da Geografia é o conhecimento das distintas pro-
blemáticas socioambientais e, por isso, tem um importante papel a desempenhar na constru-
ção de novas realidades locais, regionais e globais.
Das proposições estão corretas
(a) I e II, apenas.
(b) II e III, apenas.
(c) I e III, apenas.
(d) I, II e III.
QUESTÃO 02
Analise as proposições abaixo:
I - Alguns autores enfatizam que a grande ameaça que paira sobre o planeta não é de or-
dem climática, mas o aprofundamento das injustiças e desigualdades sociais.
II - Josué de Castro, ao longo de sua obra, desenvolveu temas de relevância para a socie-
dade, contudo, a temática da fome no Nordeste foi a que acabou por torná-lo nacional e in-
ternacionalmente conhecido.
III - Josué de Castro, Milton Santos, Manuel Correia de Andrade, dentre outros geógra-
fos, ocuparam-se criticar o atual modelo de desenvolvimento da humanidade e da globaliza-
ção perversa.
Das proposições estão corretas:
(a) I e III apenas.
(b) II e III apenas.
(c) I, II e III.
(d) I e II apenas.
33
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
QUESTÃO 03
Baseando-se nos conhecimentos sobre a Sustentabilidade e Agenda 21, é possível afir-
mar:
I – Um modelo de desenvolvimento sustentável deve procurar, dentre outros aspectos,
adequar o ritmo da economia com o ritmo da natureza, desenvolver tecnologias limpas, ser
socialmente menos excludente e solidária.
II - A sustentabilidade deve ser capaz de apresentar autonomia de manutenção, perten-
cer simbioticamente a uma rede de coadjuvantes também sustentáveis e produzir a harmonia
entre a sociedade e a natureza.
III - A Agenda 21 é um conjunto de 2.500 recomendações que, a partir da década de 90,
começaram a ser implantados efetivamente pelas nações, a fim de diminuir a emissão de gases
estufa.
Das proposições estão corretas:
(a) I e III apenas.
(b) II e III apenas.
(c) I, II e III.
(d) I e II apenas.
QUESTÃO 04
“A educação ambiental se constitui numa forma abrangente de educação, que se propõe
atingir todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo permanente que
procura incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental (...).”
Baseando em seus conhecimentos sobre a Educação Ambiental, afirma-se:
I – A partir da Conferência Intergovernamental realizada em Tsibilisi, em 1977, inicia-se
um amplo processo para criar, em escala global, as condições que formem uma nova consci-
ência sobre o valor da natureza e para reorientar a produção de conhecimento, baseada nos
princípios da interdisciplinaridade e da complexidade.
II - Educação Ambiental pode ser subdividida em formal e informal, a primeira refere-se
a um processo institucionalizado, que ocorre nas unidades de ensino e a segunda se caracteri-
za por sua realização fora da escola, envolvendo flexibilidade de métodos/conteúdos e um
público alvo muito variável.
34
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
III - Um programa de educação ambiental deve promover, concomitantemente, o de-
senvolvimento de conhecimentos, valores, habilidades e atitudes necessárias à preservação e
melhoria da qualidade ambiental.
Das proposições estão corretas:
(a) I e III apenas.
(b) II e III apenas.
(c) I, II e III.
(d) I e II apenas.
QUESTÃO 05
Faça um mapa conceitual que expresse como você trabalharia com seus alunos o seguin-
te tema: Mudanças globais: o que podemos fazer?
CONSTRUINDO CONHECIMENTO
GEOGRAFIA EM QUESTÃO
Prezado (a) estudante, com o intuito de contribuir ainda mais para a sua futura prática
docente, compartilhamos abaixo algumas atividades pedagógicas, as quais poderão ser aplica-
das ou adequadas para contextos do Ensino Fundamental ou Médio. Por favor, nos acompa-
nhe!
Para você, professor!
A força da natureza
Plano de aula do Ensino Médio de Geografia. Convide a turma para saber mais sobre
como os seres humanos podem se preparar para as catástrofes naturais
http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/forca-natureza-531205.shtml
Crise financeira e meio ambiente
Plano de aula do Ensino Médio de Geografia. Convoque a turma para discutir esta re-
lação: em que medida a desaceleração econômica contribui para atenuar problemas socio-
ambientais?
35
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/crise-financeira-meio-ambiente-
530368.shtml
O futuro da humanidade em questão
Estimule o debate entre os alunos sobre a má utilização dos recursos naturais nas soci-
edades contemporâneas
http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/futuro-humanidade-questao-
498002.shtml
Para trabalhar com os pequeninos...
As crianças também falam através de desenhos, por isso uma atividade boa para avali-
ar a aprendizagem dos pequeninos é a produção de quadrinhos. Veja no endereço:
http://www.cbpf.br/~eduhq/html/tirinhas/tirinhas.php
Cartilha interativa para crianças:
http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/abc/index.html
Cartilha em PDF para crianças: para imprimir, colorir e aprender
http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/~rmclima/pdfs/Planetinha_e_sua_turma.pdf
Para ver, ouvir e refletir...
Você pode acesso gratuito a vídeos educativos sobre mudanças climáticas, acessando:
http://videoseducacionais.cptec.inpe.br/
36
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
37
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
1.2
TEMA 2.
CONSCIÊNCIA AMBIENTAL
1.2.1
CONTEÚDO 1.
CONSCIÊNCIA AMBIENTAL: CONCEITUAÇÃO E DESPERTAMENTO
CONCEITO DE CONSCIÊNCIA
A palavra Consciência deriva do latim Conscientia. O significado que esse termo tem na
filosofia moderna e contemporânea é o de uma relação intrínseca do homem, “interior” ou
“espiritual”, pela qual ele pode conhecer-se de modo imediato e privilegiado e por isso julgar-
se de forma segura e infalível. Trata-se, portanto, de uma noção em que o aspecto moral – a
possibilidade de autojulgar-se – tem conexões estreitas com o aspecto teórico, gerando a pos-
sibilidade de conhecer-se de modo direto e infalível (ABBAGNANO,1999).
A Consciência é indiscutivelmente o fator mais importante que deve nortear as ações e o
desenvolvimento humano, pois considerando o atual estado de caos instalado nas pessoas e,
consequentemente, no planeta, verifica-se o quanto é necessário estarmos atentos aos nossos
sentimentos, pensamentos e ações que devem ser cada vez mais integrados, unificando a cons-
ciência individual e coletiva, afinal, quanto mais consciência, menos conflito, logo menos
caos.
FONTE: HTTP://WWW.HM9.COM.BR/BLOG/V2/WP-CONTENT/UPLOADS/2008/09/MUDAR_O_MUNDO_BLOGHUGOMARTINS.JPG
38
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
A temática Consciência pode ser caracterizada como um novo paradigma na contempo-
raneidade, pois emerge da busca do real significado das relações humanas. Nesse sentido, veri-
fica-se, também, que na área de desenvolvimento humano tem crescido substancialmente a
quantidade de publicações com o tema em questão, investindo num outro padrão de ação do
ser humano, partindo dele próprio e expandindo para o todo do qual é parte integrante.
FONTE: HTTP3. BP. BLOGSPOT.COM_KO6VXFSKE_IR64KW8WZO6IAAAAAAAABLOY0S2UKN4IA8S400KEY_ID304145_SIZE480.JPG
Por se tratar de um novo paradigma, é necessário entendermos as definições de alguns
autores, cientistas atentos e preocupados em despertar, construir e desenvolver a sua própria
consciência, proporcionando o mesmo na sociedade.
De acordo com La Sala Batà (1989, p.20), compreendemos que:
1) Consciência é um estado interior de conhecimento, que se desenvolve
pouco a pouco e tem, portanto, vários níveis e graus. Ela nos permite entrar
em contato e experimentar diretamente a realidade das coisas e a realidade
de nós próprios, em qualquer dos níveis a que eles pertençam.
2) Quando se experimenta a verdadeira consciência há uma sensação de des-
pertar, como se tivéssemos feito uma “descoberta”, não apenas com a mente,
mas com todo nosso ser.
3) Cada abertura mínima de consciência traz consigo um resultado, uma
transformação, um amadurecimento, uma ampliação da visão que não mais
se perde. Por isso, o desenvolvimento da consciência está estreitamente liga-
do com cada experiência direta, com cada compreensão interior efetiva. Não
pode haver consciência sem transformação.
A consciência pode ser entendida como a totalidade de nossa experiência. Luckesi
(1998, p15) afirma que “consciência não é abstração, algo intocável, mas sim aquilo que somos
39
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
na totalidade do nosso ser, o que inclui, simultaneamente, as dimensões do corpo, da persona-
lidade (emoção) e da espiritualidade”. Expressando que a consciência é um dom e para que se
manifeste necessita da nossa capacidade para manifestá-la e esta, por sua vez, depende do nos-
so desenvolvimento. Luckesi (1998) destaca ainda que “o ser humano é um ser que, na sua
essência, é consciência, é luz”.
FONTE:
HTTP:/4.BP.BLOGSPOT.COM/_ZARQGCQJOUA/SNMUFJD6UPI/AAAAAAAAAZW/Z4CQO9AXRHO/S400/BRA%C3%A7OS+ABERTOS.JPG
Verificamos que Barreto (2005) corrobora com essa ideia ao afirmar que ter noção de
Consciência é se permitir conceber quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Defi-
nindo Consciência como uma das propriedades intrínsecas ao ser humano, capaz de reflexos,
compreendendo-a como absoluta e ilimitada.
FONTE: HTTP://WWW.IMOTION.COM.BR/IMAGENS/DATA/MEDIA/75/2101MAOS_MUNDO.JPG
A Física Quântica, por sua vez defende que a consciência deve ser a base do ser no qual a
matéria existe como possibilidade, assumindo, assim, um aspecto unitiva.
A tomada de consciência reside no fato de que quando o ser humano colocar-se num es-
tado de constante renovação, aprendizado e movimento estará indo sempre além de si mes-
mo, no entanto, cada vez mais para dentro de si, visto que, quanto mais o ser humano se afasta
dele mesmo, mais mergulha na falta de sentido e no caos, tanto individual, como socio-
40
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
ambiental. Caos este, que vem sendo caracterizado pelo alto índice de violência, corrupção,
volúpia e degradação ambiental em nível local e global, revelando assim, uma existência sem
sentido onde a autoilusão e o autoengano, são vividos de maneira intensa. Isso ocorre, pois se
cria uma vida fora de si, afastando-se de sua própria natureza interna pela falta de consciência
da realidade.
FONTE: HTTP://1.BP.BLOGSPOT.COM/_7JLNPAYPKPA/SXUKKAM9YVI/AAAAAAAAANE/BCE3_CZZ7PG/S1600/CONFLITO+1.JPG
Com o choque produzido pelo lançamento da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki
(Japão), no final da Segunda Guerra Mundial, a humanidade se deu conta de que havia alcan-
çado, de fato, um nível de conhecimento técnico capaz de destruir toda a vida em nosso plane-
ta.
Este evento marcou a trajetória humana na “espaçonave Terra” (SACHS, 2002) e, a par-
tir de então, alguns eventos contribuíram para o início de uma reflexão sistemática sobre a
questão ambiental e a sobrevivência coletiva no planeta. Um marco nesta construção da cons-
ciência ambiental foi a viagem do homem à Lua em 1969, quando se verificou que a Terra é o
lar da humanidade.
A divulgação das fotografias de “corpo inteiro da Terra” tiradas pelos astronautas (foi a
primeira vez que o homem teve a visão do planeta visto do espaço), favoreceu a formação da
opinião pública quanto às limitações do “capital da natureza” (SACHS, op. cit).
O depoimento de Edgar Mitchell, sexto astronauta a pisar na Lua, mostra claramente a
mudança de paradigma – de uma visão cartesiana limitada à percepção de um país, uma cul-
tura, de uma porção estanque do planeta – para uma visão sistêmica, integradora e global.
41
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
Cada homem retorna [da Lua] com o sentimento de que não é mais um cidadão americano,
mas um cidadão planetário, com a consciência global instantânea.
FONTE: HTTP://WWW.ASTRONOMIAAMADORA.NET/IMAGES/WALLPAPERS/SOLAR_SYSTEM/PLANETAS_INTERIORES/TERRA_VISTA-DA-
LUA_1024X768.JPG
No entanto, não apenas os que vivenciaram esta experiência ampliaram a sua consciên-
cia em relação ao ambiente planetário, mas toda a sociedade, que através dos meios de comu-
nicação de massa (principalmente a televisão) puderam ver as fotografias do planeta Terra
tiradas do espaço.
Não foi mera coincidência que o encanto dessa fotografia tenha se difundido
justamente em que tantas pessoas começavam a se preocupar com o relacio-
namento entre a humanidade e o planeta, e com a necessidade de vivermos
em harmonia uns com os outros e com o nosso meio ambiente. A fotografia
tornou-se um símbolo espiritual de nosso tempo, representando a consciên-
cia, cada vez mais forte, de que nós e o planeta somos parte de um único sis-
tema e de que não podemos mais nos divorciar do todo (RUSSELL, 1993, p.
25).
E você, já parou para refletir sobre o planeta Terra como o seu, o nosso lar?
A partir da leitura da música Terra, de Caetano Veloso, reflita acerca da importância da
consciência ambiental.
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CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
FONTE: HTTP://WWW.CULTURABRASIL.ORG/IMAGENS/GAIA.JPG
Terra
Autor: Caetano Veloso
Quando eu me encontrava preso na cela de uma cadeia
Foi que vi pela primeira vez as tais fotografias
Em que apareces inteira, porém lá não estava nua
E sim coberta de nuvens
Terra, Terra
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Ninguém supõe a morena dentro da estrela azulada
Na vertigem do cinema mando um abraço pra ti
Pequenina como se eu fosse o saudoso poeta
E fosses a Paraíba
Terra, Terra,
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Eu estou apaixonado por uma menina terra
Signo de elemento terra, do mar se diz terra à vista
43
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
Terra para o pé firmeza, terra para a mão carícia
Outros astros lhe são guia
Terra, Terra,
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Eu sou um leão de fogo, sem ti me consumiria
A mim mesmo eternamente, e de nada valeria
Acontecer de eu ser gente, e gente é outra alegria
Diferente das estrelas
Terra, terra,
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
De onde nem tempo e nem espaço, que a força mãe dê coragem
Pra gente te dar carinho, durante toda a viagem
Que realizas do nada, através do qual carregas
O nome da tua carne
Terra, terra,
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Nas sacadas dos sobrados, da velha São Salvador
Há lembranças de donzelas do tempo do Imperador
Tudo, tudo na Bahia faz a gente querer bem
A Bahia tem um jeito
Terra, Terra,
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Terra.
Leia com atenção a citação abaixo:
Para que serve a mente? Para pensar, é claro, mas para que serve pensar?
Pensar dá sentido ao mundo a nossa volta. O cérebro é semelhante ao hard-
44
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
ware de um computador, ele processa símbolos. A mente dá sentido a esses
símbolos. O mapa da mente no cérebro que a consciência faz ao gerar o co-
lapso da mente e do cérebro simultaneamente, pode ser compreendido como
um software do computador. A consciência, claro, é o programador
(GOSWAMI, 2007, p.104).
Vimos que a definição de consciência relaciona-se com a autopercepção, autojulgamen-
to, com a ação ética e moral. Vimos, também, que a partir de meados da década de 60 se ini-
ciou um movimento social em prol da manutenção de um ambiente equilibrado.
O questionamento que fazemos agora para você é:
É possível um ambiente equilibrado com seres humanos que agem e interagem de ma-
neira desequilibrada no mesmo? E esse desequilíbrio não seria fruto de um ambiente in-
terno desequilibrado, sem a participação da autopercepção, do autojulgamento e de ações
éticas e morais, ou seja, carecendo de consciência?
Segundo Capra (2000, p.66), na qualidade de seres humanos, pensamos e refletimos,
“formulamos juízo de valor, elaboramos crenças e agimos intencionalmente; somos dotados
de autoconsciência e temos a experiência de nossa liberdade pessoal”. Em síntese, podemos
afirmar que o nível de consciência do ser humano é diretamente proporcional à qualidade de
suas ações equilibradamente praticadas tanto em nível pessoal como social.
Ao observarmos, através das informações que nos chegam diariamente pelos meios de
comunicação, o atual estado do meio ambiente, em nível global, verificamos que o ser huma-
no e a sociedade tem pautado suas ações por um baixo nível de consciência, inclusive ambien-
tal.
A retomada da consciência crítica e da ação autointegrada é premissa básica para o ser
humano buscar reconciliar-se, consigo e com o meio do qual faz parte integrante, sob pena de
intensificar os problemas socioambientais verificados em todos os níveis e escalas de análise.
Assim, tais reflexões emergem de uma noção integrada em que a consciência, como as-
pecto inato de todo e qualquer indivíduo, requer daqueles que já a possuem uma compreensão
responsável de sua atuação como agente transformador da sociedade. E a possibilidade de
intervir no que concernem à pesquisa, análise e compreensão no que tange as suas práticas
pessoais e profissionais/sociais, baseadas numa ética e moral elevadas.
45
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
FONTE: HTTP://WWW.95FM.COM.BR/PORTAL/_UPIMGS/BLOG/ARQ4B39EB219FC0D.JPG
Sabemos que a contemporaneidade tem-se caracterizado como um momento de refle-
xões e indagações acerca do modelo de pensamento baseado na racionalidade ocidental, o
qual difundiu ao longo dos anos, uma visão fragmentada de homem. Visão essa, sustentada
desde o século XVII, quando Descartes lançou a sua tão conhecida e reconhecida máxima:
“Penso, logo existo.”
O valor do insight de Descartes é inegável e de grande valia. No entanto, isso foi rele-
gando a plano secundário as questões da natureza interna e subjetiva do ser humano, dando
origem ao pensamento cartesiano que, até os vigentes dias é sustentado, em certa medida, co-
mo um paradigma trabalhado nos sistemas sociais.
Nesse novo século, inúmeros são os desafios lançados no plano do conhecimento, no
que se refere a pensar um projeto na preservação ambiental.
Desta maneira, todo e qualquer ser humano deve atentar para a emergencial necessidade
de assumir seu compromisso social, construindo constantemente suas condutas e atitudes e
assim, a responsabilidade enquanto cidadãos que agem e interagem no meio circundante.
Um dos objetivos da consciência ambiental é demonstrar factualmente aos indivíduos,
dentro e fora das Instituições de Ensino, das Organizações socialmente responsáveis (ou não),
a importância de estar em plena conexão com os aspectos que envolvem o nosso ambiente
como um todo e, não apenas, parte dele.
Preservar, cuidar desse ambiente deve ser compreendido mais como um princípio ético
a ser trabalhado desde a educação básica, onde as crianças e jovens trabalharão, desde a sua
tenra idade, com a consciência ético-ambiental para tornarem-se adultos socialmente respon-
sáveis. Responsabilidade esta que permeará todos os aspectos da sua vida e do seu viver.
46
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
FONTE: HTTP://WWW2.UOL.COM.BR/SCIAM/REPORTAGENS/IMG/ABRE_MUNDO.JPG
Segundo Passos (2004) o verdadeiro comportamento ético não reside na repetição de
enunciados gerais e abstratos - “ame o próximo, não seja violento, respeite os mais velhos,
proteja a natureza” - e sim na capacidade de enfrentar os dilemas diários que se colocam no
relacionamento entre pessoas e destas com o mundo em que vivem, em condições de recursos
precários, necessidades prementes e pouca informação.
O desenvolvimento da consciência ambiental perpassa por ações individuais e coletivas.
A educação escolar tem aí um papel vital, como veremos no Tema 3 de nosso módulo. Buscar
compreender em sua profundidade as questões ambientais é premissa para qualquer ser hu-
mano que deseje empreender ações ambientalmente sustentáveis e responsáveis. Para tanto,
faz-se necessário conhecer os mecanismos de autoregulação ambiental e como as diferentes
ações humanas interferem nestes mecanismos.
FONTE: HTTP4. BP. BLOGSPOT.COM_L_IZHKO8RN4SEPOOX8SPUIAAAAAAAAD6UEBMIGJ7MLTYS400AEARTHLOVE.JPG
Existem, atualmente, várias correntes ambientalistas que buscam responder aos desafios
postos pela ação depredatória da espécie humana sobre o planeta.
47
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
A seguir, apresentamos a transcrição de um texto de Schwartzman (1999), sobre as cor-
rentes ambientalistas e sugerimos que você realize a leitura crítica e reflita sobre possíveis
formas de desenvolvimento da consciência ambiental tanto individual, como coletivamente.
Os especialistas que têm se dedicado ao estudo dos temas ambientais distinguem-se
das diferentes correntes, como orientações e ideologias ambientalistas, que, muitas vezes,
se confundem. Uma maneira de entender essas diferentes correntes ou ideologias é pensar
em uma linha que vai de um extremo, que poderíamos chamar de "geocêntrico", a outro
que pode ser chamado de "antropocêntrico".
Corrente geocêntrica: parte da ideia de que o homem deve se adaptar e integrar à na-
tureza, e não a natureza ao homem. Nesta perspectiva, os sistemas ecológicos, formados
por florestas, rios, mares e campos, assim como as espécies vegetais e animais, são frágeis e
insubstituíveis, e estão ameaçados pelo crescimento da indústria, da tecnologia e da ocupa-
ção dos espaços pelos homens. Os interesses das pessoas devem se subordinar à necessida-
de de preservação das espécies e dos ambientes naturais. Para isto, a sociedade deveria ser
organizada para atender no máximo às necessidades das pessoas, e não a seus desejos.
Corrente antropocêntrica: a natureza existe para servir ao homem, e não haveriam
limites éticos ao uso de recursos naturais e à intervenção e transformação dos ambientes
naturais para servir aos interesses humanos. Esta noção faz parte do pensamento moderno
que surgiu com a revolução industrial no século XVIII, que supõe que os recursos da natu-
reza seriam infinitos, e que a capacidade humana de encontrar soluções para seus proble-
mas, necessidades e ambições, através da ciência, da tecnologia e pela organização de
grandes sistemas administrativos e produtivos, seriam também ilimitados.
Entre essas duas correntes surge o que se denomina hoje, de desenvolvimento susten-
tável. Este termo foi consagrado, e passou a ser adotado por instituições internacionais,
governos e organizações comunitárias em todo o mundo, a partir do já famoso relatório de
1987 da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento denominado
"Our Common Future", Nosso Futuro Comum, que ficou conhecido como o "Relatório
Brundtland", o nome de sua presidente.
O desenvolvimento sustentável supõe que a natureza tem limites, que o progresso
humano não pode continuar de forma ilimitada e incontrolável, e que deve haver uma res-
ponsabilidade coletiva pelo uso dos recursos naturais. O valor fundamental expresso pelo
Relatório Brundtland não é o primado da natureza, nem o primado da liberdade individu-
al, mas a responsabilidade inter-generacional: a idéia de que é necessário atender às neces-
sidades do presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras de atender a suas
próprias necessidades.
48
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
As diferentes perspectivas sobre a questão ambiental e o desenvolvimento sustentável
estão permeadas por uma outra questão, que é a do papel dos governos e das organizações
da sociedade para levar à frente políticas ambientalmente corretas e adequadas. Existem os
que defendem a necessidade de grandes sistemas de poder e estruturas complexas de pla-
nejamento dentro dos países; outros acreditam muito mais na força das organizações co-
munitárias e do poder local; outros, finalmente, colocam suas esperanças na criatividade e
eficiência da iniciativa privada.
Todas estas perspectivas são, em maior ou menor grau, combinações de conhecimen-
tos, avaliações e valores que as pessoas possuem a respeito da natureza, da vida humana e
da sociedade. Quanto mais conheçamos a respeito do que vem ocorrendo na natureza e na
sociedade, mais teremos condições de levar à frente e fortalecer nossos valores.
Existe hoje um grande esforço de conhecer melhor o sentido ambiental da atividade
humana, inclusive por parte de agências governamentais internacionais e nacionais, como
o IBGE. O nosso papel, na educação ambiental, não deve e nem pode se limitar à difusão
retórica de nossos valores. Além de dar o exemplo, temos que mostrar aos estudantes as
diferentes alternativas e visões sobre o tema ambiental, e, sobretudo transmitir conheci-
mentos que possam aumentar sua capacidade de entender e avaliar os possíveis sentidos e
alcances das diferentes opções.
Adaptado de SCHWARTZMAN, Simon. Consciência Ambiental e Desenvolvimento
Sustentável. Palestra preparada para abertura do Curso de Educação Ambiental, na Sema-
na do Meio Ambiente, em 07 de junho de 1999.
Disponível em: <http://www.schwartzman.org.br/simon/ambiente.htm>.
1.2.2
CONTEÚDO 2.
ÉTICA E RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
É salutar, necessária e urgente despertar e/ou desenvolver uma ética ambiental, pois,
uma vez convivendo em sociedade e, em contato pleno com a Natureza, tal convivência re-
quer uma maior responsabilidade e comprometimento nas próprias ações que, reverberam
diretamente no todo.
A partir da concepção dos psicólogos transpessoais, para se preservar a vida, é necessá-
rio despertar a consciência ecológica, pois esta é um aspecto que se processa, por assim dizer,
no interior do ser humano.
49
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
FONTE: HTTP://API.NING.COM/FILES/Q0NGFEIOS7WROEQZ6FX1UTZ73FYXL8ZA4GKOB3XCMHDDZGFPMXKPXPUERTZHBBZUDTPGL-
3E6CML2FYDF5VDZIGZTTUPZBWM/100_4713.JPG
A sustentabilidade ambiental externa é obviamente necessária; porém, sem crescimento
e desenvolvimento nas dimensões internas até em níveis globocêntricos de valores e consciên-
cia, o ambiente continua correndo graves riscos. Aqueles que se preocupam apenas com solu-
ções externas estão contribuindo para o problema. Ou o self, a cultura e a natureza são libera-
dos em conjunto ou não o são de modo algum. O modo de fazê-lo é o enfoque da ecologia
integral.
Wilber (2006) ressalta que a Natureza é o modelo perfeito de beleza, pois tudo nela fun-
ciona perfeitamente: as estações, os fenômenos naturais, as cores e formas. Se forem observa-
dos os planetas, as estrelas, enfim, os corpos celestes na imensidão do Universo, percebe-se
que tudo é absolutamente interligado por uma sincronia, uma simetria esteticamente perfeita.
Sendo o homem, de acordo com o artista Leonardo Da Vinci, o micro do macrocosmo,
por que, então, não se basear nessa estética que a conduta desses mesmos corpos celestes nos
demonstram a cada momento?
E será que os aspectos da natureza interna não refletem na natureza externa?
Para responder a pergunta, recorremos ao pensamento de Morin (2001) que ressalta que
a vida nascida da Terra, é solidária da Terra. A vida é solidária da vida. Toda vida animal tem
necessidade de bactérias, plantas, outros animais. A descoberta da solidariedade ecológica é
uma grande e recente descoberta. Nenhum ser vivo, mesmo humano, pode libertar-se da bios-
fera.
Na contemporaneidade, exige-se uma reflexão e uma postura ética em todos os setores
da vida humana, especialmente no exercício das diversas profissões. Segundo Passos (2004),
etimologicamente o termo “ética” é derivado do grego “ethos”, que significa costume, índole,
50
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
maneira de agir. O mesmo sentido é atribuído a palavra “moral” (do latim mos, mores), que
também significa costume, modo de agir.
Comumente a palavra moral é atribuído um sentido religioso e, muitas vezes punitivo.
No entanto, é necessário tratar de ética e moral como ciência prática de caráter filosófico.
”Poder-se-ia dizer que a moral normatiza e direciona a prática das pessoas e a ética teoriza
sobre as condutas, estudando as concepções que dão suporte à moral [...]. Donde deduzimos
que a Ética é a ciência da Moral.” (PASSOS, 2004, p.23).
FONTE: HTTP://FABIANAPAULA.FILES.WORDPRESS.COM/2009/07/FOTO-DE-PESSOAS-FELIZES.JPG
A ética existe, por assim dizer, em si mesma, mas os indivíduos, através do livre-arbítrio,
escolhem ser ou não ser ético seja nos seus sentimentos, pensamentos, atos e obras. Portanto,
o cumprimento da ética é questão de fundo moral.
A prática de valores éticos nas ações humanas surtirá efeito satisfatório se, concomitan-
te, estiverem relacionados a uma postura não apenas ética, mas estética e moral dos individu-
as.
Portanto, se o indivíduo quiser tomar para si a tarefa de ajudar a formação de um siste-
ma de valores, precisa refletir profundamente sobre seus próprios e verdadeiros valores. Vale
ressaltar que “valores” podem ser considerados como princípios éticos que permeiam as ações
humanas. Não aqueles que estão nos livros, nas bibliotecas, mas os que ele irá, efetivamente,
praticar, com intuito de beneficiar, não apenas a si próprio, mas, sobretudo, o todo do qual se
é parte integrante. Quando os valores éticos são praticados na sociedade deve ser com o obje-
tivo expresso de auxiliá-lo na formação de um indivíduo consciente de seus deveres e direitos
dentro dela.
A Ética pode ser considerada como um conjunto de princípios ou padrões de conduta.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, ética pode referir-se a um conjunto de princí-
pios e normas que um grupo estabelece para seu exercício profissional (por exemplo, os códi-
51
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
gos de ética dos médicos, dos advogados, dos psicólogos, etc.) (Disponível em:
<http://mecsrv04.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pdf/livro082.pdf> acessado em 25.03.07).
A Ética é tão importante para a prática educativa que constitui num dos temas transver-
sais propostos nos mesmos Parâmetros acima citados e explícita uma preocupação para que
educadores, em parceria com a escola, realizem um trabalho de incentivo a autonomia do e-
ducando no que diz respeito à constituição de valores de cada um. Desta maneira, se os valo-
res, enquanto princípios éticos relacionados à educação, não saírem das quatro paredes do
ambiente escolar e se expandirem para toda a sociedade para fazerem parte da própria vida, da
própria prática, não fará sentido algum.
FONTE: HTTP://WWW.OVELHO.COM/FILES/BLOGS/USER23807/APERTO-DE-MAOS.JPG
Em relação à Ética, os PCN pontuam quatro blocos de conteúdos, como sendo premis-
sas básicas para a prática de valores éticos, a saber:
FONTE: WWW.CORBIS.COM.BR
52
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
É possível professores e instituições de ensino fazerem uso de atividades que contem-
plem o desenvolvimento e prática de uma ética ambiental, promovendo a realização de uma
leitura do cotidiano e do convívio grupal para que os estudantes, independentes da faixa etá-
ria, integrem-se e resgatem, através dessas atividade, valores que possam promover a aprendi-
zagem significativa que eleve a sua percepção para a emergencial necessidade de preservação
ambiental, perder de vista a preparação para futuros cidadãos e profissionais que, certamente,
estarão mais integrados, totalmente inseridos na sociedade. E assim, encontrarão um fértil
solo de possibilidades que viabilizará a realização de projetos e atividades que contribuirão
com o crescimento de si e do outro.
Na sociedade da informação e do conhecimento, onde o nível de exigências em todos os
setores profissionais e organizacionais são cada vez maiores, é salutar perceber que o desen-
volvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as o-
portunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de cidadão (SEN, 2000).
No entanto, o que observamos é um mundo imerso em desigualdades, em guerras (95% delas
por questões éticas e religiosas), no terrorismo, que expõe a sua nefasta face e consequências
absurdamente destruidoras.
Observa-se também que os seus sistemas padronizados de ensino dedicam - se mais ao
desenvolvimento dos aspectos cognitivos dos seres humanos (pensamento cartesiano), mas
tem feito muito pouco para desenvolver e despertar as suas boas qualidades inerentes ao
mesmo. Essa defasagem tem despertado a preocupação de alguns educadores que, comprome-
tidos com a educação, buscam caminhos para a tão almejada transformação.
A fim de que as ações educativas pautadas em desenvolvimento e valores humanos a-
barquem uma ética elevada e, mais que isso, possa viabilizar a prática desses mesmos valores
tão necessários para o bem-estar coletivo, respeito à diversidade e à solidariedade, é necessário
criar espaços favoráveis para formação e profissionais-multiplicadores, valorizando os seus
aspectos positivos (qualidades, faculdades latentes, virtudes etc.) através de estudos, reflexões
e vivências a partir dos mesmos valores, pois poderão estimular e inspirar seus semelhantes a
se tornarem seres humanos íntegros, inclusive através de seu próprio exemplo.
A transformação social almejada pela humanidade em direção a uma sociedade de paz e
harmonia, ou seja, equilíbrio passa necessariamente por uma mudança no processo educacio-
nal que deve formar o ser humano capaz de construir esse novo mundo. Isso exige uma revi-
são na proposta educativa no sentido de uma expansão da compreensão da realidade e do de-
senvolvimento do ser humano nos seus níveis intelectual, afetivo, emocional e espiritual. Seu
compromisso com a ética, a responsabilidade social e planetária, numa visão de educação in-
tegradora e formadora de caráter.
53
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
A convivência harmoniosa dos seres humanos é proveniente da conduta praticada pelos
mesmos para com a Natureza, bem como de valores éticos nas ações do dia-a-dia é um dos
fatores essenciais para a concretização de uma educação consciente e eficiente.
FONTE: HTTP://WWW.EVANGELIZABRASIL.COM/WP-CONTENT/UPLOADS/2009/01/MUNDO_VERDE.JPG
No entanto, esse é um momento impar de reflexões e indagações acerca dos paradigmas
vigentes que, até então, vem sendo a base para o pensamento estruturado na racionalidade tão
comumente observada no mundo ocidental, o qual difundiu no decorrer dos séculos, uma
visão fragmentada de homem.
De fato, a estrutura de pensamento que dominou durante muito tempo e que, de certa
forma permanece até hoje, é o paradigma de disjunção e redução que, segundo Morin (2001),
três ideias norteavam a práxis científica: ordem, separação e razão.
A ideia de ordem baseava-se no determinismo universal com predominância da ordem
mecânica; já a ideia de separação sustentava que, para conhecer o todo, deveria decompô-Io
em partes, estudando cada parte separadamente, de forma minuciosa. E a razão pautava-se em
uma coerência dada pela obediência aos princípios clássicos.
54
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
• MÉTODO EMPÍRICO: baseia-se na doutrina de que a explicação do conhecimento
e de qualquer fenômeno pode ser obtida exclusivamente pela observação e experi-
mentação, donde resulta a teoria científica. A experiência objetiva verificar concei-
tos, confirmá-Ios e produzi-Ios. Utiliza o método indutivo, ou seja, parte da apre-
sentação de suposições sobre o objeto para se chegar à definição dos fatos (Andrade,
2000).
• MÉTODO RACIONAL CARTESIANO: doutrina que atribui à razão humana a
capacidade exclusiva de conhecer e estabelecer a verdade, independentemente da
experiência dos sentidos, rejeitando toda e qualquer intervenção dos sentimentos e
das emoções. Assim, o conhecimento científico verdadeiro, capaz de ser universal-
mente aceito, só pode ser fornecido pela razão humana, independentemente da ex-
periência sensorial.
Para Descartes, a ciência é um conhecimento racional dedutivo e demonstrativo como
a matemática. A dedução, ou o argumento dedutivo refere-se a uma demonstração, que vai
55
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
do geral ao particular, e que é capaz de chegar a uma conclusão certa a partir de um con-
junto de proposições que se encadeiam uma às outras obedecendo a uma ordem.
Newton introduziu a combinação apropriada de ambos os métodos, ressaltando que
"tanto os experimentos sem interpretação sistemática quanto a dedução a partir de princípios
básicos não conduziriam a uma teoria confiável [...]. Newton unificou as duas tendências e
desenvolveu metodologia em que a ciência natural passou a basear-se desde então" (CAPRA,
2000, p. 59). O cientista cria um universo material composto por partículas que movimentam-
se pela atração gravitacional, cuja criação é divina. Tal universo, movimentando-se tal como
uma máquina, é governado por leis imutáveis. "A concepção mecanicista da natureza está
pois, intimamente relacionada com um rigoroso determinismo, em que a gigante máquina
cósmica é completamente causal e determinista" (CAPRA, op. cit., p. 61).
A visão de um universo mecânico perfeitamente compreensível pela ciência criou a divi-
são cartesiana entre espírito e matéria (CAPRA, op. cit.).
Com o firme estabelecimento da visão mecanicista do mundo no século
XVIII, a física tomou-se naturalmente a base de todas as ciências. Se o mun-
do é realmente uma máquina, a melhor maneira de descobrir como ela fun-
ciona é recorrer à mecânica newtoniana. Assim, foi uma conseqüência inevi-
tável da visão de mundo dos séculos XVIII e XIX tomassem como seu
modelo a física newtoniana (CAPRA, op. cit, p. 63).
As consequências da utilização do paradigma mecanicista-reducionista em quase todos
os campos de atividade humana tornaram-se catastróficas, uma vez que a organicidade das
relações sociais e das relações entre sociedade e meio ambiente foram amoldadas dentro desta
visão de mundo fragmentária, onde o indivíduo, coisificado, passou a conformar-se às exigên-
cias da sociedade; exigências estas que se submetem aos interesses de grupos econômicos que.
lançando mão de armas ideológicas, fragmentam a cada instante ideais de solidariedade e co-
operação.
Tal paradigma também introduziu uma concepção puramente mecanicista da natureza,
onde ela não tem nenhuma finalidade, além da exploração humana. Esta concepção de alguma
forma ainda persiste e se caracteriza pelos seguintes fundamentos:
• Racionalidade cartesiana-instrumental-econômica;
• Visão reducionista das ciências, do mundo e da natureza, através da fragmentação;
• Concepção mecanicista da natureza, confiança ilimitada na ciência e na tecnologia;
Filosofia do progresso, entendido só como acúmulo de bens materiais e de avanço
científico e tecnológico;
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CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
• Super valorização dos fatos e da experiência, sem levar em conta os fenômenos
transcendentes;
• Ética antropocêntrica, que considera o homem como o centro de todas as coisas e
que o leva a adotar uma posição de domínio sobre a natureza, com total ausência
dos seus limites de uso, ausência de solidariedade.
Tal modelo implica na adoção de pensamentos e atitudes antiecológicas e sociais, que
podem, inclusive, levar o meio ambiente a uma condição de inviabilidade. Uma outra questão
que diz respeito às conseqüências do modelo cartesiano-racionalista pode ser entendida como
a crescente especialização na cultura científica. Com um sistema de valores pautado no redu-
cionismo e fragmentação, a ciência compartimentou-se em disciplinas acadêmicas com seus
respectivos objetos de estudos distintos, como se a realidade fosse realmente constituída de
peças separadas.
FONTE: WWW.GETTYIMAGES.COM.BR
Donde se originam as posturas que contribuem sobremaneira para a disseminação do
caos social e planetário:
[...] médicos tratando pessoas como se fossem órgãos e sistemas separados que nada
tem a ver entre si; entidades governamentais fragmentadas, empresas compartimentadas
[...] como decorrência dessa visão; surgiu a crença de progresso material ilimitado a ser al-
cançado com o crescimento econômico e tecnológico. Acredita-se que os recursos do pla-
neta são inexauríveis (PEREIRA, HANNAS, 2000, p. 50).
Esse paradigma, ainda que justifique padrões de ações agressivos, antiecológicos e anti-
naturais; tem um grande vigor, pois mostrou-se útil e eficiente, visto que a ciência e a tecnolo-
57
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
gia trouxeram conforto e melhores condições de vida. Porém, a tecnologia e a ciência "separa-
ram-se da filosofia, da ética, da arte e da espiritualidade, acentuando-se a visão dualista da
realidade e do homem" (op. cit., p. 52-53); tendo, como efeito, uma "ciência e tecnologia que
passaram a ser controladas por fatores econômicos e interesses pessoais ou grupais sem ne-
nhuma referência à ética" (op. cit., p. 52-53) e a cultura "tornou-se progressivamente fragmen-
tada e desenvolveu uma tecnologia, instituições e estilos de vida profundamente doentios"
(CAPRA, 2000, p. 226).
No campo da educação, tal paradigma deixou marcas profundas que são reconhecíveis
na pedagogia tradicional a qual caracteriza-se, entre outros aspectos, pela supervalorização da
formação técnica onde o indivíduo deve amoldar-se às metas ditadas pela sociedade através de
um padrão de ensino que incentiva a competição e o individualismo para se 'vencer na vida',
devendo-se obter, com anos de instrução, um bom emprego, uma boa colocação social, ou
seja, um status quo advindo do ter em detrimento do ser.
Para Luckesi (1990, p. 56) “a sociedade industrial e tecnológica estabelece [...]
as metas econômicas, sociais e políticas, a educação treina [...] nos alunos os
comportamentos de ajustamento a essas metas [...] a tecnologia é o meio efi-
caz de se obter a maximização da produção e garantir um ótimo funciona-
mento da sociedade; a educação é um recurso tecnológico por excelência”.
PAUSA PARA A REFLEXÃO!
É fato que a educação pouco tem se preocupado com o homem, voltando-se para ade-
quá-lo a um padrão de reprodução social estereotipado, desconectado do real, que aprisiona,
despersonaliza, aliena, oprime, adequando-o a um sistema social, não raro, desumano, fazen-
do-o abdicar de algo ímpar e inerente ao homem, que é sua capacidade de compreensão para
saber escolher com base no real. Isto não é algo particular deste século, nem deste milênio,
mas é um traço marcante do que o sistema educacional e os educadores têm gerado no ho-
mem, face a ignorância, esquecimento e/ou inobservação do seu papel supremo que é o de
libertar e não convencer ou converter, tão pouco, escravizar os seres humanos.
FONTE:
HTTP://4.BP.BLOGSPOT.COM/_EK7C5SYUJ4K/SSV7AAB7MOI/AAAAAAAAA_K/PYPEBUW36AY/S400/EDUCA%C3%A7%C3%A3O+IND%C3%
ADGENA.BMP
58
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
Morin (2000) salienta que os conhecimentos fragmentados só servem para usos técni-
cos. Não conseguem conjugar-se para alimentar um pensamento capaz de considerar a situa-
ção humana no âmago da vida, na terra, no mundo, e de enfrentar os grandes desafios da nos-
sa época. Não conseguimos integrar nossos conhecimentos para a condução de nossas vidas. E
complementa:
O retalhamento das disciplinas torna impossível apreender o que é tecido
junto, isto é, o complexo [...]. Os desenvolvimentos disciplinares das ciências
[...] trouxeram [...] os inconvenientes da superespecialização, do confina-
mento e do despedaçamento do saber. Não só produziram o conhecimento e
a elucidação, mas também a ignorância e a cegueira. [...] Na escola [...] nos
ensinam a isolar os objetos [...], a separar as disciplinas [...], a dissociar os
problemas, em vez de reunir e integrar. Obrigam-nos a reduzir o complexo
ao simples, isto é, a separar o que está ligado; a decompor, e não a recompor;
e a eliminar tudo que causa desordens ou contradições em nosso entendi-
mento. (MORIN, 2000,p. 14-15).
Com os novos desafios da contemporaneidade que, segundo Morin (2000, p.114) carac-
teriza-se por uma crescente complexidade e por questões multidimensionais e problemas es-
senciais, "o reino do paradigma de ordem por exclusão de desordem (que exprimiria a con-
cepção determinista-mecanicista do Universo) sofreu fissuras em inúmeros pontos”.
A EMERGÊNCIA DE UM NOVO PARADIGMA
Em linhas gerais, podemos traçar alguns eventos que favoreceram a ruptura do para-
digma cartesiano redutor e a emergência do paradigma sistêmico:
• Descoberta da segunda lei da Termodinâmica (século XIX);
• Idéias evolucionistas na Biologia;
• Surgimento das ciências sistêmicas na década de 30, principalmente na ecologia.
SUGESTÃO: realize uma pesquisa para se aprofundar nos tópicos expostos.
Sugestão de leitura:
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
59
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
FONTE: HTTP://I.S8.COM.BR/IMAGES/BOOKS/COVER/IMG8/135438.JPG
Essa nova abordagem científica, pautada na não-separabilidade na análise dos fenôme-
nos, ganha importância global na atualidade, onde as questões ambientais que no início do
século XX circunscreviam-se muito mais em contextos sociais locais, levando a um estudo
restrito de ecossistemas; tornaram-se questões mundiais, com a crise ambiental verificada no
planeta em seu conjunto, levando consequentemente ao estudo, principalmente a partir da
década de 80, do ecossistema planetário, a biosfera, na qual o ser humano está inserido de
modo indissociável.
Diante do quadro traçado, percebe-se uma mudança epistemológica que redundou em
novas abordagens metodológicas na práxis científica. As ciências, que durante séculos não
dialogaram entre si, encerradas que estavam em seu conhecimento hermético e especializado,
atualmente permitem-se a uma maior interatividade que descamba em uma interdisciplinari-
dade inicial que se desdobra, não raro, na multidisciplinaridade, que percebe o conhecimento
não como um saber pronto e acabado encerrado nos altos degraus do saber superior (como o
engendrado nas universidades e centros tecnológicos) e sim como algo vivo e dinâmico, cons-
truído e reconstruído pela soma sinergética dos vários saberes que compõem o todo social,
conforme salienta Pascal em seu ELO:
Todas as coisas são causadas e causadoras, ajudadas e ajudantes, mediatas e
imediatas, e todas são sustentadas por um elo natural e imperceptível, que li-
ga as mais distantes e as mais diferentes, considero impossível conhecer as
partes sem conhecer o todo, tanto quanto conhecer o todo sem conhecer,
particularmente, as partes (MORIN, 2000, p. 88).
Só poderá se falar em unidade de pensamento quando as ciências fornecerem a precisão
e o método na ordem dos fatos. Assim como as filosofias e a exatidão de suas deduções lógi-
cas, o autoconhecimento e busca espiritual forem capazes de reunir as qualidades dos senti-
mentos e a noção real de ética e estética elevada. E cabe a Educação, em todos os seus graus -
60
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
desde as séries iniciais até a Universidade, engendrar essa reforma do pensamento, tratar o
conhecimento sem disjunções e dicotomias entre razão e intuição, matéria e essência, ciência e
fé.
Se a educação direcionar a sua atuação na reconquista de um conhecimento que leve o
homem, a descobrir todo o seu potencial criativo, sem distanciamento de uma moral elevada
que dê o sustentáculo para ações comprometidas com a ética ambiental, com a paz e a solida-
riedade mundiais, de fato a humanidade estará muito próxima de uma transformação sem
precedentes. Essa nova educação irá retomar uma visão unitiva de mundo.
A educação não pode se divorciar de seu destino, de seu objetivo: o homem e
o mundo. A visão sistêmica, não fragmentada do homem, corpo-mente-
espírito, não pode ser seccionada. A educação não pode se contentar com os
objetivos limitados a partes dessa unidade, não pode endereçar seus objetivos
apenas para situar o homem no mundo material. Somos uma totalidade: en-
tão, a educação deve voltar-se para a totalidade, para a ordem universal, para
os laços que nos unem ao mundo natural e cósmico, para a unicidade da vi-
da, e não para a separação entre os mundos mineral, vegetal, animal, huma-
no, que são interdependentes e cuja sobrevivência comum depende do res-
peito à sua harmonia (Pereira, Hannas, 2000, p. 167-168).
O paradigma emergente, multifacetado, holístico, transdisciplinar; referência a constru-
ção de uma nova ética ambiental do novo milênio, totalizante ao observar o ser humano como
individualidade dotada, além do corpo físico e da mente, de essência, estando apto, portanto, a
conceber, perceber e receber da vida a sua real beleza e significação uma vez que o sistema
educacional, como um dos principais vetores da construção da consciência ambiental preocu-
par-se-á em auxiliar que o ser conecte-se à sua essência para conceber fatos da vida sem o in-
termédio de condicionamentos que o distancia do real sentido da existência.
FONTE: HTTP://STATIC.BLOGSTORAGE.HI-PI.COM/PHOTOS/CIDOKA. SPACEBLOG.COM. BR/IMAGES/GD/1223950844/EDUCACAO-E-
AFETIVIDADE.JPG
61
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
A nova ética ambiental favorece o reordenamento da estrutura social, transformando o
dual em uno, compreendendo que o homem não é só matéria, não é apenas razão. Ao cogito,
ergo sum de Descartes acrescenta-se o siento, percibo, sueño, amo [...] ergo sum (GADOTTI,
2007). É o ser humano retomando ao ponto mais distante e, paradoxalmente, o mais próximo
de si: sua essencialidade.
62
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
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GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
MAPA CONCEITUAL
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  • 3.
  • 4. Carlos Eduardo de Oliveira Dionne Barreto Fábio Nunes Gisele das Chagas Costa COLEÇÃO FORMANDO EDUCADORES EDITORA NUPRE 2010 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
  • 5. REDE DE ENSINO FTC William Oliveira PRESIDENTE Reinaldo Borba VICE-PRESIDENTE DE INOVAÇÃO E EXPANSÃO Fernando Castro VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO João Jacomel COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Cristiane de Magalhães Porto EDITORA CHEFE Francisco França Souza Júnior CAPA Mariucha Silveira Ponte PROJETO GRÁFICO Carlos Eduardo de Oliveira Dionne Barreto Fábio Nunes Gisele das Chagas Costa AUTORIA Israel Dantas da Silva DIAGRAMAÇÃO Israel Dantas da Silva ILUSTRAÇÕES Corbis/Image100/Imagemsource/Stock.Xchng IMAGENS Hugo Mansur Márcio Melo Paula Rios REVISÃO COPYRIGHT © REDE FTC Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98. É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito, da REDE FTC - Faculdade de Tecnologia e Ciências. www.ftc.br
  • 6. SUMÁRIO 1 CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E CONTEMPORANEIDADE............................................................... 9 1.1 TEMA 1. O SER HUMANO E O MEIO AMBIENTE ...................................................................... 11 1.1.1 CONTEÚDO 1. A URGÊNCIA DA TEMÁTICA AMBIENTAL ............................................... 11 1.1.2 CONTEÚDO 2. O AMBIENTALISMO GEOGRÁFICO DE CUNHO NATURALISTA .............. 21 1.1.3 CONTEÚDO 3. O AMBIENTALISMO GEOGRÁFICO ENGAJADO NA TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE..................................................................................................................... 23 1.1.4 CONTEÚDO 4. EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE........................................................ 24 MAPA CONCEITUAL.......................................................................................................................... 29 ESTUDO DE CASO ............................................................................................................................. 30 EXERCÍCIOS PROPOSTOS.................................................................................................................. 31 1.2 TEMA 2. CONSCIÊNCIA AMBIENTAL......................................................................................... 37 1.2.1 CONTEÚDO 1. CONSCIÊNCIA AMBIENTAL: CONCEITUAÇÃO E DESPERTAMENTO........ 37 1.2.2 CONTEÚDO 2. ÉTICA E RESPONSABILIDADE AMBIENTAL.............................................. 48 MAPA CONCEITUAL.......................................................................................................................... 63 ESTUDO DE CASO ............................................................................................................................. 64 EXERCÍCIOS PROPOSTOS.................................................................................................................. 65 2 EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE...............................................................................................71 2.1 TEMA 3. MEIO AMBIENTE E SOCIEDADE ................................................................................. 73 2.1.1 CONTEÚDO 1. CONSERVACIONISMO E DESENVOLVIMENTO........................................ 73 2.1.2 CONTEÚDO 2. IMPACTOS AMBIENTAIS E MEIO AMBIENTE.......................................... 93 2.1.3 CONTEÚDO 3. NOVAS TECNOLOGIAS E MEIO AMBIENTE............................................. 97 MAPA CONCEITUAL........................................................................................................................ 105 ESTUDO DE CASO ........................................................................................................................... 106 EXERCÍCIOS PROPOSTOS................................................................................................................ 107 2.2 TEMA 4. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DA GEOGRAFIA.......................................... 113 2.2.1 CONTEÚDO 1. A CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.......... 113 2.2.2 CONTEÚDO 2. EDUCAÇÃO E SAÚDE AMBIENTAL........................................................ 116 MAPA CONCEITUAL........................................................................................................................ 139 ESTUDO DE CASO ........................................................................................................................... 140 EXERCÍCIOS PROPOSTOS................................................................................................................ 141 GLOSSÁRIO ...............................................................................................................................145 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................149
  • 7. APRESENTAÇÃO Quem O atual paradigma de crescimento econômico no mundo pauta-se no acúmulo de bens, induzido através do consumo acelerado de recursos naturais e energéticos, em um ritmo superior à capacidade de reciclagem e reposição cíclica do meio ambiente, criando, conse- quentemente, um descompasso entre a possibilidade da utilização racional do ambiente e a crescente demanda industrial. O desconhecimento dos processos ambientais é um fato que tem gerado esgotamento dos recursos disponibilizados aos seres humanos pelo planeta, além de um acúmulo de resí- duos que se espalham degradando a atmosfera, a hidrosfera e a litosfera e inviabilizando, em determinado grau, a presença da vida em toda a sua diversidade. Diante das atuais demandas ecológicas e sociais, faz-se urgente a reflexão sobre a possi- bilidade de ações sociais que introduzam um novo modelo de desenvolvimento e que possam beneficiar toda a população mundial. É dentro dessa perspectiva que apresentamos para você o que existe de mais importante sobre Geografia e meio ambiente. Assim, num primeiro momento, trataremos dos conheci- mentos a respeito da consciência ambiental e contemporaneidade, analisando os elementos fundamentais para compreender o ser humano e o meio ambiente e sua consciência ambien- tal. No segundo momento, discutem-se a educação e o meio ambiente, localizando a educa- ção ambiental no ensino da Geografia e objetivando oferecer, ao futuro licenciado, subsídios aos debates sobre os usos, planejamentos e gestão da Geografia e meio ambiente. Parece bastante perceptível que tal crise conjuntural que permeia toda sociedade plane- tária e, em seu ângulo, uma crise de consciência. Porém, os momentos de crise tornam possí- veis as transformações necessárias no sentir, pensar e agir coletivo em prol da reconstrução de um mundo em que valores como ética ambiental estejam presentes em toda relação humana e para com o ambiente possibilitando a manutenção da vida em toda sua extensão. Na certeza de que os conhecimentos apresentados nessa disciplina serão capazes de ca- pacitá-lo para uma prática pedagógica consciente acerca dos movimentos ambientais e uma prática ecológica correta no que diz respeito ao ambiente em vive o nosso educando. “[...] Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coisas mais belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães danados destruíram os trigais e os povos morrem de fome. Como falar, então, da beleza, dessa beleza simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do teu rosto na tarde? Não posso falar dessas coisas de todos os dias, dessas alegrias
  • 8. de todos os instantes. Porque elas estão “perigando”, todas elas, os trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto [...]” (Nem a rosa, nem o cravo..., Jorge Amado). Bons estudos! Professores Carlos Eduardo de Oliveira Dionne Barreto Fábio Nunes Gisele das Chagas Costa
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  • 12. 11 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E CONTEMPORANEIDADE 1.1 TEMA 1. O SER HUMANO E O MEIO AMBIENTE 1.1.1 CONTEÚDO 1. A URGÊNCIA DA TEMÁTICA AMBIENTAL A questão ambiental está entre as temáticas mais discutidas da atualidade e isto se deve à realidade das condições ambientais e da qualidade de vida dos seres humanos, nos diferentes continentes. Segundo Mendonça (2002), devido à sua importância, a temática ambiental tem recebido um profícuo tratamento de alguns segmentos sociais, contudo, outros se apossaram dela apenas para sua autopromoção. Tal fato levou Milton Santos, em 1992, em aula inaugural da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, a decla- rar: FONTE: WWW.SEPLAN.BA.GOV.BR
  • 13. 12 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA A mediação interessada, tantas vezes interesseira, da mídia, conduz, não raro, à dou- trinação da linguagem, necessária para ampliar seu crédito, e à falsidade do discurso, des- tinado a ensombrear o entendimento. O discurso do meio ambiente é carregado dessas tintas, exagerando certos aspectos em detrimento de outros, mas, sobretudo, mutilando o conjunto. (...) Se antes a natureza podia criar o medo, hoje é o medo que cria uma natureza mediáti- ca e falsa, uma parte da natureza sendo apresentada como se fosse o todo. (...). O que, em nosso tempo, seja o mais dramático, é o papel que passaram a obter, na vida cotidiana, o medo e a fantasia. Sempre houve épocas de medo. Mas esta é uma época de medo permanente e generalizado. A fantasia sempre povoou o espírito dos homens. Mas agora, industrializada, ela invade todos os momentos e todos os recantos da existência a serviço do mercado e do poder e constitui, juntamente com o medo, um dado essencial de nosso modelo de vida. (...) Considerando os diferentes pontos de vista, seja dos setores mais tradicionais da socie- dade capitalista, seja dos mais radicais, que criticam e que enfatizam a necessidade da imediata diminuição das atividades produtivas em todo o mundo, enfatizando especialmente o corte da produção industrial, a temática ambiental está em nosso cotidiano, na televisão, nos jornais, no imaginário coletivo. A discussão da temática na contemporaneidade se deve a vários fato- res, dentre eles, segundo Mendonça (2002, p.10), pode-se citar: a) Diminuição da qualidade de vida da população Segundo Nunes (2007), a revolução industrial trouxe grandes transformações das rela- ções do homem com a natureza e daquele para consigo. A partir deste momento, visto os an- seios de aumentar geometricamente a produção, os grandes impactos ambientais decorrentes da utilização do meio se alastram, tanto pela retirada de matérias-primas quanto pelos dejetos e efluentes liberados no ambiente. Os economistas dessa época, baseados na ideia de cresci- mento infinito e num mundo de recursos limitados, defendiam um modelo de desenvolvi- mento de produção ilimitada, sem barreiras. Esse modelo foi responsável pela acelerada degradação do meio ambiente, o que acabou comprometendo a qualidade de vida da população, conforme denota Mendonça (2002, p.10): Essa degradação tem comprometido a qualidade de vida da população de várias ma- neiras, mais perceptível na alteração da qualidade da água e do ar, nos “acidentes” ecológi- cos ligados ao desmatamento, queimadas, poluição marinha, lacustre, fluvial e morte de inúmeras espécies animais que hoje se encontram em extinção. A degradação do ambiente
  • 14. 13 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE e, consequentemente, a queda da qualidade de vida se acentua onde o homem se aglomera: nos centros urbano-industriais. Aqui, os rios, fundos de vales e bairros residenciais perifé- ricos dividem o espaço com lixo e a miséria. No mundo contemporâneo, a competitividade, o consumo e a confusão dos espíritos são baluartes do estado de coisas que acometem à sociedade. A competitividade e o consumo comandam as nossas ações e a confusão dos espíritos impede o nosso entendimento do mun- do e de cada um de nós (SANTOS, 2000, p.46). Vivemos num mundo fabricado pelo homem, em que a cidade é a expressão espacial nas quais as coisas mais se realizam, por conseguinte, onde mais aparecem os problemas gerados pela estrutura socioeconômica e, nela, devemos reaprender a viver, conforme nos ensina Santos (1993, p.9): O tempo concreto dos homens é a temporalização prática, movimento do mundo den- tro de cada qual e, por isso, interpretação particular do Tempo por cada grupo, cada classe social, cada indivíduo. A cidade é o lugar em que o Mundo se move mais; e os homens tam- bém. A co-presença ensina aos homens a diferença. Por isso, a cidade é o lugar da educação e da re-educação. FONTE: WWW.CEPA.IF.USP.BR Santos (1996, p.5) enfatiza a questão da seguinte maneira: O homem se tornou fator geológico, geomorfológico, climático e a grande mudança vem do fato de que os cataclismos naturais são um incidente, um momento, enquanto hoje a ação antrópica tem efeitos continuados, cumulativos, graças ao modelo de vida que a Humanidade adotou. Daí advém os graves problemas de relacionamento entre a atual civi- lização material e a natureza. Quando se enfatiza o caos da qualidade de vida da população, normalmente se denota a questão da explosão demográfica, a qual certamente agrava os problemas ambientais. O cres-
  • 15. 14 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA cimento populacional certamente gerou/gera uma maior pressão sobre os recursos naturais, contudo, isto não pode ser entendido sem uma contextualização social, política e econômica, conforme denota Mendonça (2002, p.12): Ao lado do grande contingente populacional, o desenvolvimento da ideolo- gia do consumismo pós-anos 50 tem exacerbado as diferenças entre condi- ções de vida, o que tem gerado extremos na qualidade da miséria humana e ao mesmo tempo a concentração de riquezas (...) (Grifo nosso). FONTE: WWW.BRASILESCOLA.COM O ilustre Josué de Castro1 (1908-1973) explorou a questão “denunciando” o flagelo da fome. Para ele, a explosão demográfica, ao retardar a elevação dos níveis de vida de certos grupos, pode agravar, sem dúvida, a sua situação de fome, mas nunca determinar este estado de coisas. A fome é, regra geral, o produto das estruturas econômicas defeituosas e não de condições naturais insuperáveis. FONTE: HTTP://WWW.JOSUEDECASTRO.COM.BR 1 Saiba mais sobre Josué de Castro acessando o site: http://www.josuedecastro.com.br
  • 16. 15 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE "Denunciei a fome como flagelo fabricado pelos homens, contra outros homens". No início da teoria econômica, os economistas clássicos chegaram até a demonstrar preocupação com o esgotamento dos recursos naturais, contudo o que se viu, especial- mente depois da II Guerra Mundial, foi uma utilização desenfreada dos recursos natu- rais, isto com o discurso de vencer a escassez e aumentar a oferta de bens e serviços, com consequente degradação do meio ambiente e da qualidade de vida da população, es- pecialmente nos países mais pobres (NUNES, 2007, p.13). Segundo Mendonça (2002), a qualidade de vida do homem apresenta, na atualidade, uma queda sem limites, apesar do grande avanço científico e tecnológico alcançados pela hu- manidade. Santos (2000) enfatiza que, quando tudo permitia imaginar que se tornara possível à criação de um mundo mais justo e solidário, verás o que é imposto aos espíritos é um mun- do de fabulações, ao invés de produzir grandes relatos. A grande ameaça que paira sobre o planeta atualmente não é climática ou qualquer outra catástrofe imaginada pelos ambientalis- tas, mas o aprofundamento das injustiças e das desigualdades sociais (LINO et al., 2007). b) O alarmismo da mídia Não raro, praticamente todos os dias, os diferentes meios de informação e comunicação trazem à tona, de forma bastante alarmente, temas que versam sobre os problemas ambientais, especialmente aqueles de ordem mais catastrófica. Como os temas do horror são propícios à venda, mesmo os processos naturais – como erupções vulcânicas, chuvas torrenciais e, até mesmo, que versam sobre a variabilidade natural do sistema climático – passam a ser aborda- dos de forma apocalíptica. O professor Francisco Mendonça adverte-nos que, neste momento, em que certos fe- nômenos naturais adquirem caráter sobrenatural, urge resgatar a verdade que se encontra camuflada pelo sensacionalismo da mídia nacional e internacional; esclarecer que a noção de catástrofe é de caráter humano-social e que fenômenos como maremotos, terremotos, ilhas de calor, efeito estufa, somente adquirem importância para as sociedades quando estas atingem áreas habitadas ou de importância econômica (MENDONÇA, 2002, p.13). Pode-se observar que as reportagens normalmente carecem de análise crítica das cau- sas e efeitos dos problemas em questão e, muitas vezes, encobrem realidades que poderiam contribuir para um melhor entendimento dos temas abordados. É verdade que essa postu- ra da mídia acaba divulgando a necessidade de se lutar por um ambiente mais sadio, con- tudo, pelo seu tom, podem desviar muitos militantes em potencial (MENDONÇA, 2002, p.14).
  • 17. 16 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA O referido professor ainda enfatiza que o desenvolvimento técnico–científico alcançado pela humanidade já a livrou da simples condição de vítima da natureza. O homem já não está preso na andadeira, como nos diz Karl Marx quando se refere aos primórdios da humanidade. O homem transcendeu os horizontes para melhorar a sua situação enquanto ser vivente e não é um parasita, como dizem alguns ambientalistas. Embora tenha causado e continua a causar importantes impactos negativos, o homem pode construir novas realidades e continuar a pro- gredir, de forma consciente, em sua jornada através do universo. Prezado aluno, embora os temas do horror estejam cada vez mais presentes em nosso cotidiano, potencializados através das “telas” da mídia, a humanidade apresenta fenômenos socioespaciais de “enorme conteúdo teleológico, apontando para um mundo diferente e me- lhor” (SANTOS, 1993, p.12) e são nos espaços de exclusão, nos espaços mais degradados, on- de imperam os tempos lentos, que têm surgido novas possibilidades para a construção de um mundo mais saudável, mais sustentável. A leitura da beleza é possível e está presente na vida, querendo contribuir para um Ensaio sobre a lucidez2 (NUNES, 2009, p.10). c) O papel das ciências, artes e das atividades políticas. No âmbito da ciência, o meio ambiente tem sido tratado de diferentes maneiras. A de- pender do contexto histórico, certamente é tratado de maneira diferenciada na atualidade. Inicialmente, o enfoque científico era naturalista, considerando como meio ambiente o arca- bouço físico e biológico, como clima, relevo, solos, águas, flora e fauna. Contudo, especial- mente depois da II Guerra Mundial, o quadro se alterou e as sociedades humanas começaram a ser inseridas na discussão da temática ambiental. Entretanto, até em nossos dias, existem confusões e incoerências a respeito do entendi- mento do homem como sendo, ele mesmo, natureza. Élisée Reclus, importante geógrafo fran- cês, já esclarecia no século XIX: “O homem é a natureza tomando consciência de si mesma”, contudo, esta percepção ainda não alcançou substancialmente a humanidade. No tocante a esta questão, as reflexões de Roberta Crema (2002, p.4) são realmente esclarecedoras: Quando eu falo em espiritualidade, não estou me referindo a nenhuma igreja, a nenhu- ma religião particular, embora respeite todas. Refiro-me à espiritualidade como o fazia Einste- in, apontando para uma vivência cósmica; ou, ainda, outro físico contemporâneo, Fritijof Ca- pra, que denominou seu penúltimo livro de “Pertencendo ao Universo”. Espiritualidade é uma consciência não dual, uma consciência de participação, da parte no todo, que na essência é o amor, e na prática é solidariedade. Uma pessoa que despertou para essa dimensão espiritual é 2 Referência ao livro Ensaio sobre a lucidez, do Nobel de literatura José Saramago.
  • 18. 17 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE uma pessoa que não se vê separada do outro, da comunidade e do Universo. Eu pergunto: em sã consciência, você colocaria fogo no seu corpo? Se você sente-se não separado do outro, você jogaria fogo em alguém que está dormindo num banco? E se você se sente não separado da natureza, você iria empestá-la, destruir ecossistemas por uma neurose de progresso compulsi- vo, que foi decantada no século passado por Comte e que, agora, testemunhamos o lado som- brio dessa religião do progresso a qualquer custo, progresso a custa da hecatombe? Você em- pestaria a natureza se você se sentisse não separado dela? Sem sombra de dúvida. Nestes últimos séculos, temos investido, de forma unilateral, no mundo da matéria, e os frutos são notáveis, sintetizados na tecnociência maravilhosa de que dispomos. A grande tragédia, entretanto, é que não houve praticamente nenhum investimento significativo no mundo da subjetividade, da alma, da ética, da consciência, da essência. O re- sultado encontra-se nos noticiários tristes e apocalípticos de cada dia: escalada de violência e guerras infindáveis; a exclusão desumana de uma maioria que morre de fome, por uma mino- ria que morre de medo; extinção em massa de espécies; rota da colisão do ser humano com a natureza e todo tipo de aplicações tecnológicas irresponsáveis. O investimento maciço na al- ma é a única estratégia que poderá viabilizar a perpetuação, com qualidade e dignidade de nossa espécie. Antigas e esquecidas lições: para que serve ganhar o mundo inteiro se você per- deu a sua alma, se você se perdeu de si mesmo, se você se esqueceu do ser que lhe faz ser? Fe- lizmente, crise é também a oportunidade de aprender e de evoluir. Gosto de confiar que o ser humano será a maior descoberta do terceiro milênio! FONTE: HTTP://BLIG.IG.COM.BR As diferentes formas de representação artística têm divulgado a temática ambiental de forma bastante interessante. A natureza é sempre um tema explorado pelos pintores, esculto- res, poetas, inicialmente sob enfoque mais naturalista, contudo na contemporaneidade, os artistas têm se debruçado, especialmente, a denunciar a degradação ambiental, inserindo no contexto a destruição da qualidade de vida do homem.
  • 19. 18 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA FONTE: HTTP://COLUNISTAS.IG.COM.BR/STREET/FILES/2009/09/GUERNICA-784569.JPG A obra Guernica de Pablo Picasso denuncia o terror da guerra espanhola e seu impacto negativo na vida. No âmbito político, pode-se classificar de desprezível a atitude demagógica de certos in- divíduos que, sob atenção do eleitorado, tem utilizado do discurso ambiental para se promo- verem. Deve-se, contudo, reconhecer a atitude de alguns políticos em defesa ao meio ambien- te, mesmo com grandes dificuldades diante das conjunturas políticas, em escala global e nacional, os mesmos têm conseguido alguns avanços na esfera ambiental (MENDONÇA, 2002), no momento em que têm elaborado, bem como aprovado, diretrizes em prol da quali- dade de vida das populações mais pobres e da melhoria da qualidade dos ecossistemas. A humanidade avançou em muitos aspectos, contudo, ainda existe muito a fazer. A nos- sa relação com os demais irmãos naturais não é sustentável, e começamos a perceber isto, o que fez emergir a questão ambiental da contemporaneidade, a qual. expõe a insatisfação com a forma que nos relacionamos com a natureza. Trata-se de uma crise civilizacional que pode nos conduzir a um novo patamar de consciência. Como diria Nietzsche, “só o caos pode ge- rar uma estrela dançarina”. O Surgimento de estrelas está associado a grandes explosões. FONTE: NASA, 2009
  • 20. 19 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE A época em que vivemos hoje não é a da luz nascente da aurora, que é a luz do primeiro olhar3, nem a luz sem sombras que afoga mais do que revela4, nem a luz do crepúsculo, na qual o pássaro de Minerva alça voo. Esta é a época da luz que também brilha na noite, a luz da fogueira, a luz amarela da lua que circula para lembrar aos homens a presença da luz na pró- pria escuridão (UNGER, 2000, p.25). Começamos, cada vez mais, a perceber o que estamos fazendo com Gaia (a nossa mãe) e, por conseguinte, a nós mesmos. Começamos também a agir diferente, o que tem nos conduzido à procura de uma nova ética, ou seja, novas maneiras de nos relacionar com o mundo. Uma das grandes riquezas pela busca de uma nova ética é a de tornar manifesto que a crise ambiental é o sintoma, a expressão de uma crise que é cultural, civilizacional e espiritual. Uma crise que nos obriga a pensar esta questão que ficou “esquecida”, por tanto tempo, a nos- sa compreensão do ser (UNGER, 2000, p.53). Emerge da crise planetária um momento oportuno para nos (re)organizamos, em todos os níveis da existência, e essa (re)organização deve emergir de nosso interior. Sem sombra de dúvida. Nestes últimos séculos, temos investido, de forma unilateral, no mundo da matéria e os frutos são notáveis, sintetizados na tecnociência maravilhosa que dis- pomos. A grande tragédia, entretanto, é que não houve praticamente nenhum investimento significativo no mundo da subjetividade, da alma, da ética, da consciência, da essência. O re- sultado encontra-se nos noticiários tristes e apocalípticos de cada dia: escalada de violência e guerras infindáveis; a exclusão desumana de uma maioria que morre de fome, por uma mino- ria que morre de medo; extinção em massa de espécies; rota da colisão do ser humano com a natureza e todo tipo de aplicações tecnológicas irresponsáveis. O investimento maciço na al- ma é a única estratégia que poderá viabilizar a perpetuação, com qualidade e dignidade de nossa espécie. Antigas e esquecidas lições: para que serve ganhar o mundo inteiro se você per- deu a sua alma, se você se perdeu de si mesmo, se você se esqueceu do ser que lhe faz ser? Fe- lizmente, crise é também oportunidade de aprender e de evoluir. Gosto de confiar que o ser humano será a maior descoberta do terceiro milênio! (CREMA, 2002, p.4). 3 Que a é luz dos pré-socráticos, as primeiras luzes da racionalidade (UNGER, 2000, p.25). 4 A luz sem sombras da Razão (que iria tudo iluminar), da ciência que iria tudo desvendar e da tecnologia que iria tudo programar e o ideal de uma sociedade transparente a si mesma (sem fissuras) comungam de uma mesma ruptura, de uma mesma hybris. A ruptura com o contraditório, o paradoxo, as zonas de sombras. Filhos tardios dessa euforia, nossa herança é a perplexidade. É ela o nosso grande dom. A mitologia grega é revelado- ra, ela nos diz que Íris (a mensageira dos deuses) aquela que faz a ponte entre o homem e sua transcendência, é filha de Thaumas, o espanto. Tanto Platão quanto Aristóteles se reportam a este mito para dizer que o espan- to é arché da filosofia. Como o espanto, a perplexidade permite a irupção do sagrado, pode ser fonte de cria- ção, porque é uma força desorganizadora, subversiva, titânica (UNGER, 2000, p.25,26).
  • 21. 20 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA Segundo Milton Santos (2000, p.174), uma grande transformação está em marcha, con- tudo é preciso que se completem duas grandes mutações: uma filosófica e outra técnica, capa- zes de atribuir um novo sentido à existência de cada pessoa e também do planeta. Essas gran- des transformações devem oportunizar a diluição dos espaços de exclusão (ambientalmente falando, o que engloba o social) e construir novos espaços de solidariedade. Segundo Milton Santos (2000, p.174), apesar da farsa que encobre ou tenta maquiar o sistema ruído, existem possibilidades e até indícios de mudança, no sentido não só de revelar a mentira utilizando os mesmo recursos técnicos dos mandatários, como amenizar a verdade. Um mundo diferente, melhor, supõe uma mudança radical das condições atuais, segundo Milton Santos, de modo que a centralidade de todas as ações seja localizada no homem e não mais no dinheiro. Empiricamente, tanto a proliferação de grandes populações em áreas restri- tas, fato causador da genuína e edificante sociodiversidade, como o livre acesso de classes an- teriormente excluídas a aparatos tecnológicos e informacionais apontam e propiciam progres- sos. No campo teórico, para o referido autor, o que possibilita mudanças é o crescente surgimento de um novo discurso, com abordagem empírica e concreta. A despeito das aparências, é nos espaços de exclusão que se nota o surgimento dos neo- espaços solidários e são exatamente os homens comuns, os pobres, os flagelados, segundo Mil- ton Santos, os atores que estão descobrindo uma nova solidariedade. Onde impera o absurdo, os limites do imponderável, pode emergir e tem emergido soluções para a desordem; realmen- te no caos habita a ordem, ou seria, quem sabe, a (re) invenção da ordem? (NUNES, 2009, p.10). Segundo a Antropologia Comportamentalista, o que o homem é não está decidido de uma vez para sempre, o homem está essencialmente aberto, seu comportamento não está sim- plesmente predeterminado e pré-decidido pelo sistema instintivo, o que significa que ele pode e deve conquistar-se (OLIVEIRA, 1993). O ser pode, apesar da cegueira que comanda a socie- dade globalitária, transformar-se e construir um novo mundo (NUNES, 2009, p.10). A Geografia escolar pode ajudar a construir novas realidades, novas meta-narrativas, um novo mundo, contudo o seu ensino ainda é, muitas vezes, mecânico, decorativo e frequen- temente não relacionado às necessidades e anseios dos estudantes. Não é pautada na aprendi- zagem. O processo de ensino-aprendizagem da Geografia pode ser diferente, melhor, deve conter experiências concretas que conduzam na construção competências que oportunizem análise das redes de relações que (re)configuram o espaço geográfico. Segundo Nunes (2007), os desafios estão postos, mas as possibilidades são enormes. Temos muito a caminhar, os desafios precisam ser superados e você, prezado aluno, pode fa- zer a diferença em sua escola, em sua comunidade, em seu mundo.
  • 22. 21 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE Se é verdade que nos libertamos no encontro, como o homem poderá libertar-se num encontro com a natureza? Roberto Crema: Gosto de afirmar que ninguém transforma ninguém e ninguém se transforma no encontro. O encontro é o espaço alquímico de cura e de evolução. O encon- tro consigo mesmo, através do autoconhecimento; o encontro com o outro e sua alteridade que nos fecunda; o encontro com a grande natureza e com o próprio mistério que, convo- cado ou não, reconhecido ou não, sempre está presente; eis a arena vasta e maravilhosa do encontro, este mestre da existência plena. Fonte: Tempo da Terra/ Jornal O Tempo - 05/07/2002, p.4 – Entrevista. 1.1.2 CONTEÚDO 2. O AMBIENTALISMO GEOGRÁFICO DE CUNHO NATURALISTA Segundo Mendonça (2002, p.21), esta fase compreende desde a origem da Geografia Ci- entífica até meados das décadas de 50/60 do século XX. Nessa fase, o meio ambiente é com- preendido apenas como a descrição do quadro natural, tais como clima, relevo, solo, águas, flora e fauna. O homem estava dissociado da abordagem ambiental dessa época. A fase descrita é marcada por um forte empirismo e enciclopedismo, na qual os estudio- sos desbravavam fronteiras e descreviam exaustivamente as características físicas dos mesmos, refletindo os princípios básicos do positivismo5 , elaborado por Augusto Comte. AUGUSTO COMTE. FONTE: HTTP://WWW.BIOGRAFIASYVIDAS.COM/BIOGRAFIA/C/FOTOS/COMTE.JPG 5 PARA SABER MAIS ACESSE: HTTP://WWW.MUNDODOSFILOSOFOS.COM.BR/COMTE.HTM
  • 23. 22 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA Pode-se dizer que, desde a sistematização da ciência geográfica, pelos alemães Alexander von Humboldt e Carl Ritter, que a mesma defendia a necessidade de estudos mais integrados da paisagem, ou seja, dos elementos que constituem as realidades socioambientais. A Geogra- fia é, sem dúvida, a única ciência que desde a sua formação se propôs ao estudo da relação entre os homens e o meio natural do planeta (MENDONÇA, 2002, p.23). Humboldt era um naturalista que fez viagens para vários continentes, descrevendo os aspectos naturais desses ambientes, enquanto que Ritter, filósofo e historiador, descrevia as várias organizações espaciais dos homens sobre os lugares. Juntando os dois conhecimentos, ambos fundaram a Geografia Científica. Nasce uma ciência que, desde a sua origem, estava preocupada diretamente como o que hoje se entende por meio ambiente (MENDONÇA, 2002, p.24). HUMBOLDT (À ESQUERDA) E RITTER (À DIREITA) FONTE: HTTP://PRESSBLOG.UCHICAGO.EDU/2009/09/14/HUMBOLDTS_ENDURDING_LEGACY.HTML E WWW.BIOGRAFIASYVIDAS.COM/.../R/RITTER_CARL.HTM) “Para se ter uma ideia, duas das ciências mais ligadas ao estudo da natureza, desde sua origem e em função de suas especificidades, desenvolveram seus estudos de maneira bas- tante diferenciada do que se entende por meio ambiente: a biologia, por exemplo, embora produza inúmeros e valiosos conhecimentos para a compreensão do meio natural, jamais envolveu o homem enquanto ser social em sua análise, e a ecologia, proposta enquanto ci- ência somente nos anos 30 de nosso século, está muito mais próxima do estudo da nature- za dissociada do homem, até porque seu pressuposto metodológico básico – o ecossistema – é de cunho eminentemente naturalista” (MENDONÇA, 2002, p.23).
  • 24. 23 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE 1.1.3 CONTEÚDO 3. O AMBIENTALISMO GEOGRÁFICO ENGAJADO NA TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE A partir das décadas de 60, 70 e 80, especialmente a partir do desenvolvimento da “Geo- grafia Radical”, de cunho marxista, a Geografia ficou extremamente voltada para a crítica das relações capitalistas de produção, contudo, contribuiu muito pouco para a discussão da temá- tica ambiental, mostrando-se quando o fez muito pobre e limitada (MENDONÇA, 2002, p.56,57). O professor Antônio Carlos Robert de Morais explica que as perspectivas marxistas, es- truturalistas e fenomenológicas limitam o seu alcance explicativo ao domínio dos fenômenos sociais, desconhecendo projeções das ciências naturais. “Alfred Schmidt mostrou, em um interessante estudo, a inexistência de uma perspectiva ontológica a respeito da Natureza no interior da obra de Marx.” Mendonça (2002) nos ensina que se o marxismo relevou-se limitado quanto ao trata- mento da temática ambiental, o método positivista, por seu lado, também não satisfez en- quanto paradigma segundo o qual tal análise se desenvolveria. Por isso, outras possibilidades foram postas ou ainda estão sendo pensadas. O que dizer da Teoria Geossistêmica? Ou da Teoria da Complexidade, da Teoria do Caos? Será que a utilização dos fractais poderá ser efi- cientes no tratamento da questão ambiental? Ou o melhor horizonte no tratamento do meio ambiente é o diálogo interdisciplinar ou transdisciplinar, como se propõe na atualidade? São muitas indagações ainda não respondidas, contudo podemos ter algumas certezas a respeito da Geografia: - Segundo Conti (1998, p.1), é o ramo da ciência que se ocupa em estudar os arranjos espaciais resultantes da relação sociedade/natureza, sendo, por isso, um importante ins- trumento da formação humanística latu sensu, a qual pressupõe a educação ambiental e, portanto, a proteção da natureza e de seus valores, reconhecidos como essenciais para a sobrevivência e o bem-estar do homem. - Segundo Conti (1998, p.1), a Geografia não dissocia os aspectos culturais dos natu- rais e nisso reside sua singularidade. Analisa a ecosfera em seus cinco componentes: at- mosfera, litosfera, hidrosfera, biosfera e antroposfera, os quais se encontram em perma- nente processo interativo.
  • 25. 24 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA FONTE: HTTP://1.BP.BLOGSPOT.COM/_QYCWOP6MBNW/SGKPQTHSW2I/AAAAAAAAACI/ASOSUAIOPX4/S400/ARVORE.JPG 1.1.4 CONTEÚDO 4. EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE Em meados da década de 60, os problemas socioambientais passaram a ecoar mundial- mente, mobilizando diversos grupos sociais. Em decorrência disto, surge o primeiro alerta político, um relatório intitulado ”Os limites do crescimento do Clube de Roma” (1968), deno- tando a necessidade da diminuição significativa das atividades produtivas em todo o mundo. Contudo, só a partir da I Conferência Mundial do Meio Ambiente, realizada em Estocolmo em 1972, que as nuances ambientais ganharam realmente dimensões políticas mundiais (NUNES, 2007, p.13). FONTE: HTTP://SUSTENTABILIZANDO.FILES.WORDPRESS.COM Segundo Buarque (1996), surgem, entre as décadas de setenta e oitenta, os primeiros conceitos de ecodesenvolvimento, que denotam, em síntese, a necessidade de se utilizar meios
  • 26. 25 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE de desenvolvimento mais adaptados ao meio ambiente, causando uma menor quantidade de resíduos. FONTE: CAPRA (2002) Em 1986, a Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Comissão Brundtland) publicou o relatório ‘Nosso Futuro Comum’, o qual passou a constituir a refe- rência principal para o novo tipo de desenvolvimento, o sustentável, explicando que ele deve satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades (NUNES, 2007, p.14). A busca pelo desenvolvimento sustentável transformou-se na grande bandeira inovado- ra do modo de produção vigente e, apesar de várias outras denominações defendidas por au- tores e/ou instituições, a partir da II Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92), realizada no Rio de Janeiro, ganhou espaço na mídia, nos mei- os acadêmicos e técnicos, bem como nos discursos políticos (BUARQUE, 1996, p.9). Segundo Nunes (2007, p.14), a ECO-92 resultou num documento denominado de A- genda 21, trata-se de um conjunto de 2.500 recomendações que, de fato, nunca foram re- almente aplicadas. A tarefa parece árdua e os desafios crescentes, já que, nos últimos doze anos, muitos países continuaram desenvolvendo uma economia tradicionalista, devastadora e excludente. Acredita-se que, se a humanidade procura um futuro mais promissor, o novo modelo de desenvolvimento deve procurar: a) Adequar o ritmo da economia com o ritmo da natureza;
  • 27. 26 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA b) Ter cautela com os produtos artificiais; c) E desenvolver tecnologias limpas que garantam a sustentabilidade das teias da vida em nosso planeta; d) Ser socialmente menos excludente e mais solidária. A Geografia, como ciência que se preocupa com as (re)configurações das realidades es- paciais, tem um papel importante a desempenhar na construção de um novo mundo; não só denunciar as agressões, mas também propor soluções criativas que venham a ajudar a huma- nidade a melhor se relacionar como o mundo e com seus semelhantes. Entretanto, como de- nota Roberto Crema (2002, p.4), nós não podemos cuidar do próximo e da natureza se nos descuidarmos de nós mesmos, naturalmente. Todos somos filhos e filhas de uma promessa que fizemos e estamos aqui para trazer uma contribuição singular, uma palavra original, uma ação própria. Investir nos talentos que nos foram confiados é o primeiro passo para nos tornarmos agente de saúde e de transforma- ção. A injustiça social e a degradação ambiental têm início na degeneração de nossos pensa- mentos, sentimentos, palavras e ações. Quando colocamos ordem, equilíbrio e harmonia em nosso interior, naturalmente, iremos transpirar esta conquista e inspiraremos outros a trilha- rem ruma a esta tarefa higiênica prioritária (CREMA, 2002, p.4). O QUE É AGENDA 21? A Agenda 21 traduz em ações o conceito de desenvolvimento sustentável A comunidade internacional, durante a Rio-92, acordou a aprovação de um documen- to contendo compromissos para mudança do padrão de desenvolvimento no próximo sé- culo, denominando-o Agenda 21. Resgatava, assim, o termo 'Agenda' no seu sentido de in- tenções, desígnio, desejo de mudanças para um modelo de civilização em que predominasse o equilíbrio ambiental e a justiça social entre as nações. Mais do que um documento, a Agenda 21 é um processo de planejamento participati- vo que analisa a situação atual de um país, Estado, município e/ou região, e planeja o futu- ro de forma sustentável. Esse processo de planejamento deve envolver todos os atores soci- ais na discussão dos principais problemas e na formação de parcerias e compromissos para a sua solução a curto, médio e longo prazos. A análise e o encaminhamento das propostas para o futuro devem ser feitas dentro de uma abordagem integrada e sistêmica das dimen- sões econômica, social, ambiental e político-institucional. Em outras palavras, o esforço de planejar o futuro, com base nos princípios de Agenda 21, gera produtos concretos, exequí- veis e mensuráveis derivados de compromissos pactuados entre todos os atores, fator esse, que garante a sustentabilidade dos resultados.
  • 28. 27 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE É importante destacar, que a Conferência do Rio, em contraste com a Conferência de Estocolmo de 1972, orientou-se para o desenvolvimento, e que a Agenda 21 não é uma Agenda Ambiental e sim uma Agenda de Desenvolvimento Sustentável, em que, eviden- temente, o meio ambiente é uma consideração de primeira ordem. O enfoque desse pro- cesso de planejamento apresentado com o nome de agenda 21 não é restrito às questões li- gadas à preservação e conservação da natureza, mas sim a uma proposta que rompe com o planejamento dominante nas últimas décadas com predominância do enfoque econômico. A Agenda considera, dentre outras, questões estratégicas ligadas à geração de emprego e de renda; à diminuição das disparidades regionais e interpessoais de renda; às mudanças nos padrões de produção e consumo; à construção de cidades sustentáveis; à adoção de novos modelos e instrumentos de gestão. Em termos das iniciativas, a Agenda não deixa dúvida. Os governos têm a prerrogativa e a responsabilidade de deslanchar e facilitar o processo de implementação em todas as es- calas. Além dos governos, a convocação da Agenda visa mobilizar todos os segmentos da sociedade, chamando-os de "atores relevantes" e "parceiros do desenvolvimento sustentá- vel". Essa concepção processual e gradativa da validação do conceito implica assumir que os princípios e as premissas que devem orientar a implementação da Agenda 21 não consti- tuem um rol completo e acabado: torná-la realidade é, antes de tudo, um processo social no qual os atores vão pactuando paulatinamente com novos consensos e montando uma agenda possível rumo ao futuro que se deseja sustentável. FONTE: HTTP://WWW.MMA.GOV.BR/INDEX.PHP?IDO=CONTEUDO.MONTA&IDESTRUT URA=18
  • 29.
  • 30. 29 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE MAPA CONCEITUAL O diagrama denota as questões gerais mais importantes discutidas no tema. Crise Ambiental Relações insustentáveis Degradação da natureza e da sociedade Necessitamos de instaurar novas relações Para criar um mundo mais sustentável Que respeite os ciclos naturais e o próprio ser humano Um novo mundo é possível através da resolução ética Oriunda da transformação profunda dos seres humanos
  • 31. 30 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA ESTUDO DE CASO Leia e analise a situação descrita abaixo. Posteriormente, responda as indagações pro- postas. O MEIO AMBIENTE NA SALA DE AULA Um professor de Geografia do Ensino Médio tinha o objetivo de contribuir para a for- mação de cidadãos críticos e transformadores e, em sua prática ao longo do ano, trabalhou conteúdos relacionados à Geografia Física e Humana. Quando trabalhou com conteúdos rela- cionados à Climatologia, procedeu da seguinte forma: - Apresentou o conteúdo através de aulas expositivas, apresentando estatísticas e, sem- pre que possível, denunciando com veracidade as práticas humanas que agridem a natureza. - No final de cada conteúdo, para avaliar a aprendizagem, aplicava uma prova que se ba- seava em questões de vestibulares de universidades públicas e privadas. a) Analisando a situação descrita, o professor se aproximou de uma prática crítica e transformadora? Justifique a sua resposta. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ b) Para os fins propostos, você considera a avaliação do professor adequada? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________
  • 32. 31 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ c) Contribua para a melhoria da práxis do professor, propondo uma adequação das ati- vidades educacionais empreendidas pelo mesmo. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ EXERCÍCIOS PROPOSTOS Questões do ENADE, adaptadas do ENADE ou similares QUESTÃO 01 A Geografia não é (e nunca foi…) uma disciplina neutra; ela transmite valores, quer ex- plícita quer implicitamente; a diferença reside nos valores que se têm tentado transmitir, ao longo dos tempos, uma vez que têm mudado muito. Fonte: Contributo da Educação Geográfi- ca na Educação Ambiental. O Caso da Geografia no Ensino Secundário Alzira Filipe Alberto.
  • 33. 32 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA Com base no quadro e no texto, analise as proposições: I - A Geografia apresenta um arcabouço teórico-metodológico ríquissimo, podendo dia- logar de forma efetiva com os diferentes saberes, portanto, é uma ciência que pode ajudar sig- nificativamente no desenvolvimento de comunidades e na promoção de projetos que visem conservar ou presenvar o ambiente. II - As questões ambientais podem e devem ser abordadas por todas as disciplinas e sob diversos ângulos e pontos de vista. Trata-se de uma temática transdisciplinar, na qual a Geo- grafia tem o contributo específico de a territorializar e analisar de uma forma multidimensio- nal. III - Um dos objetivos fundamentais da Geografia é o conhecimento das distintas pro- blemáticas socioambientais e, por isso, tem um importante papel a desempenhar na constru- ção de novas realidades locais, regionais e globais. Das proposições estão corretas (a) I e II, apenas. (b) II e III, apenas. (c) I e III, apenas. (d) I, II e III. QUESTÃO 02 Analise as proposições abaixo: I - Alguns autores enfatizam que a grande ameaça que paira sobre o planeta não é de or- dem climática, mas o aprofundamento das injustiças e desigualdades sociais. II - Josué de Castro, ao longo de sua obra, desenvolveu temas de relevância para a socie- dade, contudo, a temática da fome no Nordeste foi a que acabou por torná-lo nacional e in- ternacionalmente conhecido. III - Josué de Castro, Milton Santos, Manuel Correia de Andrade, dentre outros geógra- fos, ocuparam-se criticar o atual modelo de desenvolvimento da humanidade e da globaliza- ção perversa. Das proposições estão corretas: (a) I e III apenas. (b) II e III apenas. (c) I, II e III. (d) I e II apenas.
  • 34. 33 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE QUESTÃO 03 Baseando-se nos conhecimentos sobre a Sustentabilidade e Agenda 21, é possível afir- mar: I – Um modelo de desenvolvimento sustentável deve procurar, dentre outros aspectos, adequar o ritmo da economia com o ritmo da natureza, desenvolver tecnologias limpas, ser socialmente menos excludente e solidária. II - A sustentabilidade deve ser capaz de apresentar autonomia de manutenção, perten- cer simbioticamente a uma rede de coadjuvantes também sustentáveis e produzir a harmonia entre a sociedade e a natureza. III - A Agenda 21 é um conjunto de 2.500 recomendações que, a partir da década de 90, começaram a ser implantados efetivamente pelas nações, a fim de diminuir a emissão de gases estufa. Das proposições estão corretas: (a) I e III apenas. (b) II e III apenas. (c) I, II e III. (d) I e II apenas. QUESTÃO 04 “A educação ambiental se constitui numa forma abrangente de educação, que se propõe atingir todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo permanente que procura incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental (...).” Baseando em seus conhecimentos sobre a Educação Ambiental, afirma-se: I – A partir da Conferência Intergovernamental realizada em Tsibilisi, em 1977, inicia-se um amplo processo para criar, em escala global, as condições que formem uma nova consci- ência sobre o valor da natureza e para reorientar a produção de conhecimento, baseada nos princípios da interdisciplinaridade e da complexidade. II - Educação Ambiental pode ser subdividida em formal e informal, a primeira refere-se a um processo institucionalizado, que ocorre nas unidades de ensino e a segunda se caracteri- za por sua realização fora da escola, envolvendo flexibilidade de métodos/conteúdos e um público alvo muito variável.
  • 35. 34 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA III - Um programa de educação ambiental deve promover, concomitantemente, o de- senvolvimento de conhecimentos, valores, habilidades e atitudes necessárias à preservação e melhoria da qualidade ambiental. Das proposições estão corretas: (a) I e III apenas. (b) II e III apenas. (c) I, II e III. (d) I e II apenas. QUESTÃO 05 Faça um mapa conceitual que expresse como você trabalharia com seus alunos o seguin- te tema: Mudanças globais: o que podemos fazer? CONSTRUINDO CONHECIMENTO GEOGRAFIA EM QUESTÃO Prezado (a) estudante, com o intuito de contribuir ainda mais para a sua futura prática docente, compartilhamos abaixo algumas atividades pedagógicas, as quais poderão ser aplica- das ou adequadas para contextos do Ensino Fundamental ou Médio. Por favor, nos acompa- nhe! Para você, professor! A força da natureza Plano de aula do Ensino Médio de Geografia. Convide a turma para saber mais sobre como os seres humanos podem se preparar para as catástrofes naturais http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/forca-natureza-531205.shtml Crise financeira e meio ambiente Plano de aula do Ensino Médio de Geografia. Convoque a turma para discutir esta re- lação: em que medida a desaceleração econômica contribui para atenuar problemas socio- ambientais?
  • 36. 35 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/crise-financeira-meio-ambiente- 530368.shtml O futuro da humanidade em questão Estimule o debate entre os alunos sobre a má utilização dos recursos naturais nas soci- edades contemporâneas http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/futuro-humanidade-questao- 498002.shtml Para trabalhar com os pequeninos... As crianças também falam através de desenhos, por isso uma atividade boa para avali- ar a aprendizagem dos pequeninos é a produção de quadrinhos. Veja no endereço: http://www.cbpf.br/~eduhq/html/tirinhas/tirinhas.php Cartilha interativa para crianças: http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/abc/index.html Cartilha em PDF para crianças: para imprimir, colorir e aprender http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/~rmclima/pdfs/Planetinha_e_sua_turma.pdf Para ver, ouvir e refletir... Você pode acesso gratuito a vídeos educativos sobre mudanças climáticas, acessando: http://videoseducacionais.cptec.inpe.br/
  • 37. 36 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
  • 38. 37 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE 1.2 TEMA 2. CONSCIÊNCIA AMBIENTAL 1.2.1 CONTEÚDO 1. CONSCIÊNCIA AMBIENTAL: CONCEITUAÇÃO E DESPERTAMENTO CONCEITO DE CONSCIÊNCIA A palavra Consciência deriva do latim Conscientia. O significado que esse termo tem na filosofia moderna e contemporânea é o de uma relação intrínseca do homem, “interior” ou “espiritual”, pela qual ele pode conhecer-se de modo imediato e privilegiado e por isso julgar- se de forma segura e infalível. Trata-se, portanto, de uma noção em que o aspecto moral – a possibilidade de autojulgar-se – tem conexões estreitas com o aspecto teórico, gerando a pos- sibilidade de conhecer-se de modo direto e infalível (ABBAGNANO,1999). A Consciência é indiscutivelmente o fator mais importante que deve nortear as ações e o desenvolvimento humano, pois considerando o atual estado de caos instalado nas pessoas e, consequentemente, no planeta, verifica-se o quanto é necessário estarmos atentos aos nossos sentimentos, pensamentos e ações que devem ser cada vez mais integrados, unificando a cons- ciência individual e coletiva, afinal, quanto mais consciência, menos conflito, logo menos caos. FONTE: HTTP://WWW.HM9.COM.BR/BLOG/V2/WP-CONTENT/UPLOADS/2008/09/MUDAR_O_MUNDO_BLOGHUGOMARTINS.JPG
  • 39. 38 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA A temática Consciência pode ser caracterizada como um novo paradigma na contempo- raneidade, pois emerge da busca do real significado das relações humanas. Nesse sentido, veri- fica-se, também, que na área de desenvolvimento humano tem crescido substancialmente a quantidade de publicações com o tema em questão, investindo num outro padrão de ação do ser humano, partindo dele próprio e expandindo para o todo do qual é parte integrante. FONTE: HTTP3. BP. BLOGSPOT.COM_KO6VXFSKE_IR64KW8WZO6IAAAAAAAABLOY0S2UKN4IA8S400KEY_ID304145_SIZE480.JPG Por se tratar de um novo paradigma, é necessário entendermos as definições de alguns autores, cientistas atentos e preocupados em despertar, construir e desenvolver a sua própria consciência, proporcionando o mesmo na sociedade. De acordo com La Sala Batà (1989, p.20), compreendemos que: 1) Consciência é um estado interior de conhecimento, que se desenvolve pouco a pouco e tem, portanto, vários níveis e graus. Ela nos permite entrar em contato e experimentar diretamente a realidade das coisas e a realidade de nós próprios, em qualquer dos níveis a que eles pertençam. 2) Quando se experimenta a verdadeira consciência há uma sensação de des- pertar, como se tivéssemos feito uma “descoberta”, não apenas com a mente, mas com todo nosso ser. 3) Cada abertura mínima de consciência traz consigo um resultado, uma transformação, um amadurecimento, uma ampliação da visão que não mais se perde. Por isso, o desenvolvimento da consciência está estreitamente liga- do com cada experiência direta, com cada compreensão interior efetiva. Não pode haver consciência sem transformação. A consciência pode ser entendida como a totalidade de nossa experiência. Luckesi (1998, p15) afirma que “consciência não é abstração, algo intocável, mas sim aquilo que somos
  • 40. 39 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE na totalidade do nosso ser, o que inclui, simultaneamente, as dimensões do corpo, da persona- lidade (emoção) e da espiritualidade”. Expressando que a consciência é um dom e para que se manifeste necessita da nossa capacidade para manifestá-la e esta, por sua vez, depende do nos- so desenvolvimento. Luckesi (1998) destaca ainda que “o ser humano é um ser que, na sua essência, é consciência, é luz”. FONTE: HTTP:/4.BP.BLOGSPOT.COM/_ZARQGCQJOUA/SNMUFJD6UPI/AAAAAAAAAZW/Z4CQO9AXRHO/S400/BRA%C3%A7OS+ABERTOS.JPG Verificamos que Barreto (2005) corrobora com essa ideia ao afirmar que ter noção de Consciência é se permitir conceber quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Defi- nindo Consciência como uma das propriedades intrínsecas ao ser humano, capaz de reflexos, compreendendo-a como absoluta e ilimitada. FONTE: HTTP://WWW.IMOTION.COM.BR/IMAGENS/DATA/MEDIA/75/2101MAOS_MUNDO.JPG A Física Quântica, por sua vez defende que a consciência deve ser a base do ser no qual a matéria existe como possibilidade, assumindo, assim, um aspecto unitiva. A tomada de consciência reside no fato de que quando o ser humano colocar-se num es- tado de constante renovação, aprendizado e movimento estará indo sempre além de si mes- mo, no entanto, cada vez mais para dentro de si, visto que, quanto mais o ser humano se afasta dele mesmo, mais mergulha na falta de sentido e no caos, tanto individual, como socio-
  • 41. 40 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA ambiental. Caos este, que vem sendo caracterizado pelo alto índice de violência, corrupção, volúpia e degradação ambiental em nível local e global, revelando assim, uma existência sem sentido onde a autoilusão e o autoengano, são vividos de maneira intensa. Isso ocorre, pois se cria uma vida fora de si, afastando-se de sua própria natureza interna pela falta de consciência da realidade. FONTE: HTTP://1.BP.BLOGSPOT.COM/_7JLNPAYPKPA/SXUKKAM9YVI/AAAAAAAAANE/BCE3_CZZ7PG/S1600/CONFLITO+1.JPG Com o choque produzido pelo lançamento da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki (Japão), no final da Segunda Guerra Mundial, a humanidade se deu conta de que havia alcan- çado, de fato, um nível de conhecimento técnico capaz de destruir toda a vida em nosso plane- ta. Este evento marcou a trajetória humana na “espaçonave Terra” (SACHS, 2002) e, a par- tir de então, alguns eventos contribuíram para o início de uma reflexão sistemática sobre a questão ambiental e a sobrevivência coletiva no planeta. Um marco nesta construção da cons- ciência ambiental foi a viagem do homem à Lua em 1969, quando se verificou que a Terra é o lar da humanidade. A divulgação das fotografias de “corpo inteiro da Terra” tiradas pelos astronautas (foi a primeira vez que o homem teve a visão do planeta visto do espaço), favoreceu a formação da opinião pública quanto às limitações do “capital da natureza” (SACHS, op. cit). O depoimento de Edgar Mitchell, sexto astronauta a pisar na Lua, mostra claramente a mudança de paradigma – de uma visão cartesiana limitada à percepção de um país, uma cul- tura, de uma porção estanque do planeta – para uma visão sistêmica, integradora e global.
  • 42. 41 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE Cada homem retorna [da Lua] com o sentimento de que não é mais um cidadão americano, mas um cidadão planetário, com a consciência global instantânea. FONTE: HTTP://WWW.ASTRONOMIAAMADORA.NET/IMAGES/WALLPAPERS/SOLAR_SYSTEM/PLANETAS_INTERIORES/TERRA_VISTA-DA- LUA_1024X768.JPG No entanto, não apenas os que vivenciaram esta experiência ampliaram a sua consciên- cia em relação ao ambiente planetário, mas toda a sociedade, que através dos meios de comu- nicação de massa (principalmente a televisão) puderam ver as fotografias do planeta Terra tiradas do espaço. Não foi mera coincidência que o encanto dessa fotografia tenha se difundido justamente em que tantas pessoas começavam a se preocupar com o relacio- namento entre a humanidade e o planeta, e com a necessidade de vivermos em harmonia uns com os outros e com o nosso meio ambiente. A fotografia tornou-se um símbolo espiritual de nosso tempo, representando a consciên- cia, cada vez mais forte, de que nós e o planeta somos parte de um único sis- tema e de que não podemos mais nos divorciar do todo (RUSSELL, 1993, p. 25). E você, já parou para refletir sobre o planeta Terra como o seu, o nosso lar? A partir da leitura da música Terra, de Caetano Veloso, reflita acerca da importância da consciência ambiental.
  • 43. 42 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA FONTE: HTTP://WWW.CULTURABRASIL.ORG/IMAGENS/GAIA.JPG Terra Autor: Caetano Veloso Quando eu me encontrava preso na cela de uma cadeia Foi que vi pela primeira vez as tais fotografias Em que apareces inteira, porém lá não estava nua E sim coberta de nuvens Terra, Terra Por mais distante o errante navegante Quem jamais te esqueceria? Ninguém supõe a morena dentro da estrela azulada Na vertigem do cinema mando um abraço pra ti Pequenina como se eu fosse o saudoso poeta E fosses a Paraíba Terra, Terra, Por mais distante o errante navegante Quem jamais te esqueceria? Eu estou apaixonado por uma menina terra Signo de elemento terra, do mar se diz terra à vista
  • 44. 43 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE Terra para o pé firmeza, terra para a mão carícia Outros astros lhe são guia Terra, Terra, Por mais distante o errante navegante Quem jamais te esqueceria? Eu sou um leão de fogo, sem ti me consumiria A mim mesmo eternamente, e de nada valeria Acontecer de eu ser gente, e gente é outra alegria Diferente das estrelas Terra, terra, Por mais distante o errante navegante Quem jamais te esqueceria? De onde nem tempo e nem espaço, que a força mãe dê coragem Pra gente te dar carinho, durante toda a viagem Que realizas do nada, através do qual carregas O nome da tua carne Terra, terra, Por mais distante o errante navegante Quem jamais te esqueceria? Nas sacadas dos sobrados, da velha São Salvador Há lembranças de donzelas do tempo do Imperador Tudo, tudo na Bahia faz a gente querer bem A Bahia tem um jeito Terra, Terra, Por mais distante o errante navegante Quem jamais te esqueceria? Terra. Leia com atenção a citação abaixo: Para que serve a mente? Para pensar, é claro, mas para que serve pensar? Pensar dá sentido ao mundo a nossa volta. O cérebro é semelhante ao hard-
  • 45. 44 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA ware de um computador, ele processa símbolos. A mente dá sentido a esses símbolos. O mapa da mente no cérebro que a consciência faz ao gerar o co- lapso da mente e do cérebro simultaneamente, pode ser compreendido como um software do computador. A consciência, claro, é o programador (GOSWAMI, 2007, p.104). Vimos que a definição de consciência relaciona-se com a autopercepção, autojulgamen- to, com a ação ética e moral. Vimos, também, que a partir de meados da década de 60 se ini- ciou um movimento social em prol da manutenção de um ambiente equilibrado. O questionamento que fazemos agora para você é: É possível um ambiente equilibrado com seres humanos que agem e interagem de ma- neira desequilibrada no mesmo? E esse desequilíbrio não seria fruto de um ambiente in- terno desequilibrado, sem a participação da autopercepção, do autojulgamento e de ações éticas e morais, ou seja, carecendo de consciência? Segundo Capra (2000, p.66), na qualidade de seres humanos, pensamos e refletimos, “formulamos juízo de valor, elaboramos crenças e agimos intencionalmente; somos dotados de autoconsciência e temos a experiência de nossa liberdade pessoal”. Em síntese, podemos afirmar que o nível de consciência do ser humano é diretamente proporcional à qualidade de suas ações equilibradamente praticadas tanto em nível pessoal como social. Ao observarmos, através das informações que nos chegam diariamente pelos meios de comunicação, o atual estado do meio ambiente, em nível global, verificamos que o ser huma- no e a sociedade tem pautado suas ações por um baixo nível de consciência, inclusive ambien- tal. A retomada da consciência crítica e da ação autointegrada é premissa básica para o ser humano buscar reconciliar-se, consigo e com o meio do qual faz parte integrante, sob pena de intensificar os problemas socioambientais verificados em todos os níveis e escalas de análise. Assim, tais reflexões emergem de uma noção integrada em que a consciência, como as- pecto inato de todo e qualquer indivíduo, requer daqueles que já a possuem uma compreensão responsável de sua atuação como agente transformador da sociedade. E a possibilidade de intervir no que concernem à pesquisa, análise e compreensão no que tange as suas práticas pessoais e profissionais/sociais, baseadas numa ética e moral elevadas.
  • 46. 45 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE FONTE: HTTP://WWW.95FM.COM.BR/PORTAL/_UPIMGS/BLOG/ARQ4B39EB219FC0D.JPG Sabemos que a contemporaneidade tem-se caracterizado como um momento de refle- xões e indagações acerca do modelo de pensamento baseado na racionalidade ocidental, o qual difundiu ao longo dos anos, uma visão fragmentada de homem. Visão essa, sustentada desde o século XVII, quando Descartes lançou a sua tão conhecida e reconhecida máxima: “Penso, logo existo.” O valor do insight de Descartes é inegável e de grande valia. No entanto, isso foi rele- gando a plano secundário as questões da natureza interna e subjetiva do ser humano, dando origem ao pensamento cartesiano que, até os vigentes dias é sustentado, em certa medida, co- mo um paradigma trabalhado nos sistemas sociais. Nesse novo século, inúmeros são os desafios lançados no plano do conhecimento, no que se refere a pensar um projeto na preservação ambiental. Desta maneira, todo e qualquer ser humano deve atentar para a emergencial necessidade de assumir seu compromisso social, construindo constantemente suas condutas e atitudes e assim, a responsabilidade enquanto cidadãos que agem e interagem no meio circundante. Um dos objetivos da consciência ambiental é demonstrar factualmente aos indivíduos, dentro e fora das Instituições de Ensino, das Organizações socialmente responsáveis (ou não), a importância de estar em plena conexão com os aspectos que envolvem o nosso ambiente como um todo e, não apenas, parte dele. Preservar, cuidar desse ambiente deve ser compreendido mais como um princípio ético a ser trabalhado desde a educação básica, onde as crianças e jovens trabalharão, desde a sua tenra idade, com a consciência ético-ambiental para tornarem-se adultos socialmente respon- sáveis. Responsabilidade esta que permeará todos os aspectos da sua vida e do seu viver.
  • 47. 46 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA FONTE: HTTP://WWW2.UOL.COM.BR/SCIAM/REPORTAGENS/IMG/ABRE_MUNDO.JPG Segundo Passos (2004) o verdadeiro comportamento ético não reside na repetição de enunciados gerais e abstratos - “ame o próximo, não seja violento, respeite os mais velhos, proteja a natureza” - e sim na capacidade de enfrentar os dilemas diários que se colocam no relacionamento entre pessoas e destas com o mundo em que vivem, em condições de recursos precários, necessidades prementes e pouca informação. O desenvolvimento da consciência ambiental perpassa por ações individuais e coletivas. A educação escolar tem aí um papel vital, como veremos no Tema 3 de nosso módulo. Buscar compreender em sua profundidade as questões ambientais é premissa para qualquer ser hu- mano que deseje empreender ações ambientalmente sustentáveis e responsáveis. Para tanto, faz-se necessário conhecer os mecanismos de autoregulação ambiental e como as diferentes ações humanas interferem nestes mecanismos. FONTE: HTTP4. BP. BLOGSPOT.COM_L_IZHKO8RN4SEPOOX8SPUIAAAAAAAAD6UEBMIGJ7MLTYS400AEARTHLOVE.JPG Existem, atualmente, várias correntes ambientalistas que buscam responder aos desafios postos pela ação depredatória da espécie humana sobre o planeta.
  • 48. 47 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE A seguir, apresentamos a transcrição de um texto de Schwartzman (1999), sobre as cor- rentes ambientalistas e sugerimos que você realize a leitura crítica e reflita sobre possíveis formas de desenvolvimento da consciência ambiental tanto individual, como coletivamente. Os especialistas que têm se dedicado ao estudo dos temas ambientais distinguem-se das diferentes correntes, como orientações e ideologias ambientalistas, que, muitas vezes, se confundem. Uma maneira de entender essas diferentes correntes ou ideologias é pensar em uma linha que vai de um extremo, que poderíamos chamar de "geocêntrico", a outro que pode ser chamado de "antropocêntrico". Corrente geocêntrica: parte da ideia de que o homem deve se adaptar e integrar à na- tureza, e não a natureza ao homem. Nesta perspectiva, os sistemas ecológicos, formados por florestas, rios, mares e campos, assim como as espécies vegetais e animais, são frágeis e insubstituíveis, e estão ameaçados pelo crescimento da indústria, da tecnologia e da ocupa- ção dos espaços pelos homens. Os interesses das pessoas devem se subordinar à necessida- de de preservação das espécies e dos ambientes naturais. Para isto, a sociedade deveria ser organizada para atender no máximo às necessidades das pessoas, e não a seus desejos. Corrente antropocêntrica: a natureza existe para servir ao homem, e não haveriam limites éticos ao uso de recursos naturais e à intervenção e transformação dos ambientes naturais para servir aos interesses humanos. Esta noção faz parte do pensamento moderno que surgiu com a revolução industrial no século XVIII, que supõe que os recursos da natu- reza seriam infinitos, e que a capacidade humana de encontrar soluções para seus proble- mas, necessidades e ambições, através da ciência, da tecnologia e pela organização de grandes sistemas administrativos e produtivos, seriam também ilimitados. Entre essas duas correntes surge o que se denomina hoje, de desenvolvimento susten- tável. Este termo foi consagrado, e passou a ser adotado por instituições internacionais, governos e organizações comunitárias em todo o mundo, a partir do já famoso relatório de 1987 da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento denominado "Our Common Future", Nosso Futuro Comum, que ficou conhecido como o "Relatório Brundtland", o nome de sua presidente. O desenvolvimento sustentável supõe que a natureza tem limites, que o progresso humano não pode continuar de forma ilimitada e incontrolável, e que deve haver uma res- ponsabilidade coletiva pelo uso dos recursos naturais. O valor fundamental expresso pelo Relatório Brundtland não é o primado da natureza, nem o primado da liberdade individu- al, mas a responsabilidade inter-generacional: a idéia de que é necessário atender às neces- sidades do presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras de atender a suas próprias necessidades.
  • 49. 48 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA As diferentes perspectivas sobre a questão ambiental e o desenvolvimento sustentável estão permeadas por uma outra questão, que é a do papel dos governos e das organizações da sociedade para levar à frente políticas ambientalmente corretas e adequadas. Existem os que defendem a necessidade de grandes sistemas de poder e estruturas complexas de pla- nejamento dentro dos países; outros acreditam muito mais na força das organizações co- munitárias e do poder local; outros, finalmente, colocam suas esperanças na criatividade e eficiência da iniciativa privada. Todas estas perspectivas são, em maior ou menor grau, combinações de conhecimen- tos, avaliações e valores que as pessoas possuem a respeito da natureza, da vida humana e da sociedade. Quanto mais conheçamos a respeito do que vem ocorrendo na natureza e na sociedade, mais teremos condições de levar à frente e fortalecer nossos valores. Existe hoje um grande esforço de conhecer melhor o sentido ambiental da atividade humana, inclusive por parte de agências governamentais internacionais e nacionais, como o IBGE. O nosso papel, na educação ambiental, não deve e nem pode se limitar à difusão retórica de nossos valores. Além de dar o exemplo, temos que mostrar aos estudantes as diferentes alternativas e visões sobre o tema ambiental, e, sobretudo transmitir conheci- mentos que possam aumentar sua capacidade de entender e avaliar os possíveis sentidos e alcances das diferentes opções. Adaptado de SCHWARTZMAN, Simon. Consciência Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Palestra preparada para abertura do Curso de Educação Ambiental, na Sema- na do Meio Ambiente, em 07 de junho de 1999. Disponível em: <http://www.schwartzman.org.br/simon/ambiente.htm>. 1.2.2 CONTEÚDO 2. ÉTICA E RESPONSABILIDADE AMBIENTAL É salutar, necessária e urgente despertar e/ou desenvolver uma ética ambiental, pois, uma vez convivendo em sociedade e, em contato pleno com a Natureza, tal convivência re- quer uma maior responsabilidade e comprometimento nas próprias ações que, reverberam diretamente no todo. A partir da concepção dos psicólogos transpessoais, para se preservar a vida, é necessá- rio despertar a consciência ecológica, pois esta é um aspecto que se processa, por assim dizer, no interior do ser humano.
  • 50. 49 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE FONTE: HTTP://API.NING.COM/FILES/Q0NGFEIOS7WROEQZ6FX1UTZ73FYXL8ZA4GKOB3XCMHDDZGFPMXKPXPUERTZHBBZUDTPGL- 3E6CML2FYDF5VDZIGZTTUPZBWM/100_4713.JPG A sustentabilidade ambiental externa é obviamente necessária; porém, sem crescimento e desenvolvimento nas dimensões internas até em níveis globocêntricos de valores e consciên- cia, o ambiente continua correndo graves riscos. Aqueles que se preocupam apenas com solu- ções externas estão contribuindo para o problema. Ou o self, a cultura e a natureza são libera- dos em conjunto ou não o são de modo algum. O modo de fazê-lo é o enfoque da ecologia integral. Wilber (2006) ressalta que a Natureza é o modelo perfeito de beleza, pois tudo nela fun- ciona perfeitamente: as estações, os fenômenos naturais, as cores e formas. Se forem observa- dos os planetas, as estrelas, enfim, os corpos celestes na imensidão do Universo, percebe-se que tudo é absolutamente interligado por uma sincronia, uma simetria esteticamente perfeita. Sendo o homem, de acordo com o artista Leonardo Da Vinci, o micro do macrocosmo, por que, então, não se basear nessa estética que a conduta desses mesmos corpos celestes nos demonstram a cada momento? E será que os aspectos da natureza interna não refletem na natureza externa? Para responder a pergunta, recorremos ao pensamento de Morin (2001) que ressalta que a vida nascida da Terra, é solidária da Terra. A vida é solidária da vida. Toda vida animal tem necessidade de bactérias, plantas, outros animais. A descoberta da solidariedade ecológica é uma grande e recente descoberta. Nenhum ser vivo, mesmo humano, pode libertar-se da bios- fera. Na contemporaneidade, exige-se uma reflexão e uma postura ética em todos os setores da vida humana, especialmente no exercício das diversas profissões. Segundo Passos (2004), etimologicamente o termo “ética” é derivado do grego “ethos”, que significa costume, índole,
  • 51. 50 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA maneira de agir. O mesmo sentido é atribuído a palavra “moral” (do latim mos, mores), que também significa costume, modo de agir. Comumente a palavra moral é atribuído um sentido religioso e, muitas vezes punitivo. No entanto, é necessário tratar de ética e moral como ciência prática de caráter filosófico. ”Poder-se-ia dizer que a moral normatiza e direciona a prática das pessoas e a ética teoriza sobre as condutas, estudando as concepções que dão suporte à moral [...]. Donde deduzimos que a Ética é a ciência da Moral.” (PASSOS, 2004, p.23). FONTE: HTTP://FABIANAPAULA.FILES.WORDPRESS.COM/2009/07/FOTO-DE-PESSOAS-FELIZES.JPG A ética existe, por assim dizer, em si mesma, mas os indivíduos, através do livre-arbítrio, escolhem ser ou não ser ético seja nos seus sentimentos, pensamentos, atos e obras. Portanto, o cumprimento da ética é questão de fundo moral. A prática de valores éticos nas ações humanas surtirá efeito satisfatório se, concomitan- te, estiverem relacionados a uma postura não apenas ética, mas estética e moral dos individu- as. Portanto, se o indivíduo quiser tomar para si a tarefa de ajudar a formação de um siste- ma de valores, precisa refletir profundamente sobre seus próprios e verdadeiros valores. Vale ressaltar que “valores” podem ser considerados como princípios éticos que permeiam as ações humanas. Não aqueles que estão nos livros, nas bibliotecas, mas os que ele irá, efetivamente, praticar, com intuito de beneficiar, não apenas a si próprio, mas, sobretudo, o todo do qual se é parte integrante. Quando os valores éticos são praticados na sociedade deve ser com o obje- tivo expresso de auxiliá-lo na formação de um indivíduo consciente de seus deveres e direitos dentro dela. A Ética pode ser considerada como um conjunto de princípios ou padrões de conduta. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, ética pode referir-se a um conjunto de princí- pios e normas que um grupo estabelece para seu exercício profissional (por exemplo, os códi-
  • 52. 51 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE gos de ética dos médicos, dos advogados, dos psicólogos, etc.) (Disponível em: <http://mecsrv04.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pdf/livro082.pdf> acessado em 25.03.07). A Ética é tão importante para a prática educativa que constitui num dos temas transver- sais propostos nos mesmos Parâmetros acima citados e explícita uma preocupação para que educadores, em parceria com a escola, realizem um trabalho de incentivo a autonomia do e- ducando no que diz respeito à constituição de valores de cada um. Desta maneira, se os valo- res, enquanto princípios éticos relacionados à educação, não saírem das quatro paredes do ambiente escolar e se expandirem para toda a sociedade para fazerem parte da própria vida, da própria prática, não fará sentido algum. FONTE: HTTP://WWW.OVELHO.COM/FILES/BLOGS/USER23807/APERTO-DE-MAOS.JPG Em relação à Ética, os PCN pontuam quatro blocos de conteúdos, como sendo premis- sas básicas para a prática de valores éticos, a saber: FONTE: WWW.CORBIS.COM.BR
  • 53. 52 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA É possível professores e instituições de ensino fazerem uso de atividades que contem- plem o desenvolvimento e prática de uma ética ambiental, promovendo a realização de uma leitura do cotidiano e do convívio grupal para que os estudantes, independentes da faixa etá- ria, integrem-se e resgatem, através dessas atividade, valores que possam promover a aprendi- zagem significativa que eleve a sua percepção para a emergencial necessidade de preservação ambiental, perder de vista a preparação para futuros cidadãos e profissionais que, certamente, estarão mais integrados, totalmente inseridos na sociedade. E assim, encontrarão um fértil solo de possibilidades que viabilizará a realização de projetos e atividades que contribuirão com o crescimento de si e do outro. Na sociedade da informação e do conhecimento, onde o nível de exigências em todos os setores profissionais e organizacionais são cada vez maiores, é salutar perceber que o desen- volvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as o- portunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de cidadão (SEN, 2000). No entanto, o que observamos é um mundo imerso em desigualdades, em guerras (95% delas por questões éticas e religiosas), no terrorismo, que expõe a sua nefasta face e consequências absurdamente destruidoras. Observa-se também que os seus sistemas padronizados de ensino dedicam - se mais ao desenvolvimento dos aspectos cognitivos dos seres humanos (pensamento cartesiano), mas tem feito muito pouco para desenvolver e despertar as suas boas qualidades inerentes ao mesmo. Essa defasagem tem despertado a preocupação de alguns educadores que, comprome- tidos com a educação, buscam caminhos para a tão almejada transformação. A fim de que as ações educativas pautadas em desenvolvimento e valores humanos a- barquem uma ética elevada e, mais que isso, possa viabilizar a prática desses mesmos valores tão necessários para o bem-estar coletivo, respeito à diversidade e à solidariedade, é necessário criar espaços favoráveis para formação e profissionais-multiplicadores, valorizando os seus aspectos positivos (qualidades, faculdades latentes, virtudes etc.) através de estudos, reflexões e vivências a partir dos mesmos valores, pois poderão estimular e inspirar seus semelhantes a se tornarem seres humanos íntegros, inclusive através de seu próprio exemplo. A transformação social almejada pela humanidade em direção a uma sociedade de paz e harmonia, ou seja, equilíbrio passa necessariamente por uma mudança no processo educacio- nal que deve formar o ser humano capaz de construir esse novo mundo. Isso exige uma revi- são na proposta educativa no sentido de uma expansão da compreensão da realidade e do de- senvolvimento do ser humano nos seus níveis intelectual, afetivo, emocional e espiritual. Seu compromisso com a ética, a responsabilidade social e planetária, numa visão de educação in- tegradora e formadora de caráter.
  • 54. 53 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE A convivência harmoniosa dos seres humanos é proveniente da conduta praticada pelos mesmos para com a Natureza, bem como de valores éticos nas ações do dia-a-dia é um dos fatores essenciais para a concretização de uma educação consciente e eficiente. FONTE: HTTP://WWW.EVANGELIZABRASIL.COM/WP-CONTENT/UPLOADS/2009/01/MUNDO_VERDE.JPG No entanto, esse é um momento impar de reflexões e indagações acerca dos paradigmas vigentes que, até então, vem sendo a base para o pensamento estruturado na racionalidade tão comumente observada no mundo ocidental, o qual difundiu no decorrer dos séculos, uma visão fragmentada de homem. De fato, a estrutura de pensamento que dominou durante muito tempo e que, de certa forma permanece até hoje, é o paradigma de disjunção e redução que, segundo Morin (2001), três ideias norteavam a práxis científica: ordem, separação e razão. A ideia de ordem baseava-se no determinismo universal com predominância da ordem mecânica; já a ideia de separação sustentava que, para conhecer o todo, deveria decompô-Io em partes, estudando cada parte separadamente, de forma minuciosa. E a razão pautava-se em uma coerência dada pela obediência aos princípios clássicos.
  • 55. 54 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA • MÉTODO EMPÍRICO: baseia-se na doutrina de que a explicação do conhecimento e de qualquer fenômeno pode ser obtida exclusivamente pela observação e experi- mentação, donde resulta a teoria científica. A experiência objetiva verificar concei- tos, confirmá-Ios e produzi-Ios. Utiliza o método indutivo, ou seja, parte da apre- sentação de suposições sobre o objeto para se chegar à definição dos fatos (Andrade, 2000). • MÉTODO RACIONAL CARTESIANO: doutrina que atribui à razão humana a capacidade exclusiva de conhecer e estabelecer a verdade, independentemente da experiência dos sentidos, rejeitando toda e qualquer intervenção dos sentimentos e das emoções. Assim, o conhecimento científico verdadeiro, capaz de ser universal- mente aceito, só pode ser fornecido pela razão humana, independentemente da ex- periência sensorial. Para Descartes, a ciência é um conhecimento racional dedutivo e demonstrativo como a matemática. A dedução, ou o argumento dedutivo refere-se a uma demonstração, que vai
  • 56. 55 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE do geral ao particular, e que é capaz de chegar a uma conclusão certa a partir de um con- junto de proposições que se encadeiam uma às outras obedecendo a uma ordem. Newton introduziu a combinação apropriada de ambos os métodos, ressaltando que "tanto os experimentos sem interpretação sistemática quanto a dedução a partir de princípios básicos não conduziriam a uma teoria confiável [...]. Newton unificou as duas tendências e desenvolveu metodologia em que a ciência natural passou a basear-se desde então" (CAPRA, 2000, p. 59). O cientista cria um universo material composto por partículas que movimentam- se pela atração gravitacional, cuja criação é divina. Tal universo, movimentando-se tal como uma máquina, é governado por leis imutáveis. "A concepção mecanicista da natureza está pois, intimamente relacionada com um rigoroso determinismo, em que a gigante máquina cósmica é completamente causal e determinista" (CAPRA, op. cit., p. 61). A visão de um universo mecânico perfeitamente compreensível pela ciência criou a divi- são cartesiana entre espírito e matéria (CAPRA, op. cit.). Com o firme estabelecimento da visão mecanicista do mundo no século XVIII, a física tomou-se naturalmente a base de todas as ciências. Se o mun- do é realmente uma máquina, a melhor maneira de descobrir como ela fun- ciona é recorrer à mecânica newtoniana. Assim, foi uma conseqüência inevi- tável da visão de mundo dos séculos XVIII e XIX tomassem como seu modelo a física newtoniana (CAPRA, op. cit, p. 63). As consequências da utilização do paradigma mecanicista-reducionista em quase todos os campos de atividade humana tornaram-se catastróficas, uma vez que a organicidade das relações sociais e das relações entre sociedade e meio ambiente foram amoldadas dentro desta visão de mundo fragmentária, onde o indivíduo, coisificado, passou a conformar-se às exigên- cias da sociedade; exigências estas que se submetem aos interesses de grupos econômicos que. lançando mão de armas ideológicas, fragmentam a cada instante ideais de solidariedade e co- operação. Tal paradigma também introduziu uma concepção puramente mecanicista da natureza, onde ela não tem nenhuma finalidade, além da exploração humana. Esta concepção de alguma forma ainda persiste e se caracteriza pelos seguintes fundamentos: • Racionalidade cartesiana-instrumental-econômica; • Visão reducionista das ciências, do mundo e da natureza, através da fragmentação; • Concepção mecanicista da natureza, confiança ilimitada na ciência e na tecnologia; Filosofia do progresso, entendido só como acúmulo de bens materiais e de avanço científico e tecnológico;
  • 57. 56 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA • Super valorização dos fatos e da experiência, sem levar em conta os fenômenos transcendentes; • Ética antropocêntrica, que considera o homem como o centro de todas as coisas e que o leva a adotar uma posição de domínio sobre a natureza, com total ausência dos seus limites de uso, ausência de solidariedade. Tal modelo implica na adoção de pensamentos e atitudes antiecológicas e sociais, que podem, inclusive, levar o meio ambiente a uma condição de inviabilidade. Uma outra questão que diz respeito às conseqüências do modelo cartesiano-racionalista pode ser entendida como a crescente especialização na cultura científica. Com um sistema de valores pautado no redu- cionismo e fragmentação, a ciência compartimentou-se em disciplinas acadêmicas com seus respectivos objetos de estudos distintos, como se a realidade fosse realmente constituída de peças separadas. FONTE: WWW.GETTYIMAGES.COM.BR Donde se originam as posturas que contribuem sobremaneira para a disseminação do caos social e planetário: [...] médicos tratando pessoas como se fossem órgãos e sistemas separados que nada tem a ver entre si; entidades governamentais fragmentadas, empresas compartimentadas [...] como decorrência dessa visão; surgiu a crença de progresso material ilimitado a ser al- cançado com o crescimento econômico e tecnológico. Acredita-se que os recursos do pla- neta são inexauríveis (PEREIRA, HANNAS, 2000, p. 50). Esse paradigma, ainda que justifique padrões de ações agressivos, antiecológicos e anti- naturais; tem um grande vigor, pois mostrou-se útil e eficiente, visto que a ciência e a tecnolo-
  • 58. 57 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE gia trouxeram conforto e melhores condições de vida. Porém, a tecnologia e a ciência "separa- ram-se da filosofia, da ética, da arte e da espiritualidade, acentuando-se a visão dualista da realidade e do homem" (op. cit., p. 52-53); tendo, como efeito, uma "ciência e tecnologia que passaram a ser controladas por fatores econômicos e interesses pessoais ou grupais sem ne- nhuma referência à ética" (op. cit., p. 52-53) e a cultura "tornou-se progressivamente fragmen- tada e desenvolveu uma tecnologia, instituições e estilos de vida profundamente doentios" (CAPRA, 2000, p. 226). No campo da educação, tal paradigma deixou marcas profundas que são reconhecíveis na pedagogia tradicional a qual caracteriza-se, entre outros aspectos, pela supervalorização da formação técnica onde o indivíduo deve amoldar-se às metas ditadas pela sociedade através de um padrão de ensino que incentiva a competição e o individualismo para se 'vencer na vida', devendo-se obter, com anos de instrução, um bom emprego, uma boa colocação social, ou seja, um status quo advindo do ter em detrimento do ser. Para Luckesi (1990, p. 56) “a sociedade industrial e tecnológica estabelece [...] as metas econômicas, sociais e políticas, a educação treina [...] nos alunos os comportamentos de ajustamento a essas metas [...] a tecnologia é o meio efi- caz de se obter a maximização da produção e garantir um ótimo funciona- mento da sociedade; a educação é um recurso tecnológico por excelência”. PAUSA PARA A REFLEXÃO! É fato que a educação pouco tem se preocupado com o homem, voltando-se para ade- quá-lo a um padrão de reprodução social estereotipado, desconectado do real, que aprisiona, despersonaliza, aliena, oprime, adequando-o a um sistema social, não raro, desumano, fazen- do-o abdicar de algo ímpar e inerente ao homem, que é sua capacidade de compreensão para saber escolher com base no real. Isto não é algo particular deste século, nem deste milênio, mas é um traço marcante do que o sistema educacional e os educadores têm gerado no ho- mem, face a ignorância, esquecimento e/ou inobservação do seu papel supremo que é o de libertar e não convencer ou converter, tão pouco, escravizar os seres humanos. FONTE: HTTP://4.BP.BLOGSPOT.COM/_EK7C5SYUJ4K/SSV7AAB7MOI/AAAAAAAAA_K/PYPEBUW36AY/S400/EDUCA%C3%A7%C3%A3O+IND%C3% ADGENA.BMP
  • 59. 58 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA Morin (2000) salienta que os conhecimentos fragmentados só servem para usos técni- cos. Não conseguem conjugar-se para alimentar um pensamento capaz de considerar a situa- ção humana no âmago da vida, na terra, no mundo, e de enfrentar os grandes desafios da nos- sa época. Não conseguimos integrar nossos conhecimentos para a condução de nossas vidas. E complementa: O retalhamento das disciplinas torna impossível apreender o que é tecido junto, isto é, o complexo [...]. Os desenvolvimentos disciplinares das ciências [...] trouxeram [...] os inconvenientes da superespecialização, do confina- mento e do despedaçamento do saber. Não só produziram o conhecimento e a elucidação, mas também a ignorância e a cegueira. [...] Na escola [...] nos ensinam a isolar os objetos [...], a separar as disciplinas [...], a dissociar os problemas, em vez de reunir e integrar. Obrigam-nos a reduzir o complexo ao simples, isto é, a separar o que está ligado; a decompor, e não a recompor; e a eliminar tudo que causa desordens ou contradições em nosso entendi- mento. (MORIN, 2000,p. 14-15). Com os novos desafios da contemporaneidade que, segundo Morin (2000, p.114) carac- teriza-se por uma crescente complexidade e por questões multidimensionais e problemas es- senciais, "o reino do paradigma de ordem por exclusão de desordem (que exprimiria a con- cepção determinista-mecanicista do Universo) sofreu fissuras em inúmeros pontos”. A EMERGÊNCIA DE UM NOVO PARADIGMA Em linhas gerais, podemos traçar alguns eventos que favoreceram a ruptura do para- digma cartesiano redutor e a emergência do paradigma sistêmico: • Descoberta da segunda lei da Termodinâmica (século XIX); • Idéias evolucionistas na Biologia; • Surgimento das ciências sistêmicas na década de 30, principalmente na ecologia. SUGESTÃO: realize uma pesquisa para se aprofundar nos tópicos expostos. Sugestão de leitura: MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
  • 60. 59 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE FONTE: HTTP://I.S8.COM.BR/IMAGES/BOOKS/COVER/IMG8/135438.JPG Essa nova abordagem científica, pautada na não-separabilidade na análise dos fenôme- nos, ganha importância global na atualidade, onde as questões ambientais que no início do século XX circunscreviam-se muito mais em contextos sociais locais, levando a um estudo restrito de ecossistemas; tornaram-se questões mundiais, com a crise ambiental verificada no planeta em seu conjunto, levando consequentemente ao estudo, principalmente a partir da década de 80, do ecossistema planetário, a biosfera, na qual o ser humano está inserido de modo indissociável. Diante do quadro traçado, percebe-se uma mudança epistemológica que redundou em novas abordagens metodológicas na práxis científica. As ciências, que durante séculos não dialogaram entre si, encerradas que estavam em seu conhecimento hermético e especializado, atualmente permitem-se a uma maior interatividade que descamba em uma interdisciplinari- dade inicial que se desdobra, não raro, na multidisciplinaridade, que percebe o conhecimento não como um saber pronto e acabado encerrado nos altos degraus do saber superior (como o engendrado nas universidades e centros tecnológicos) e sim como algo vivo e dinâmico, cons- truído e reconstruído pela soma sinergética dos vários saberes que compõem o todo social, conforme salienta Pascal em seu ELO: Todas as coisas são causadas e causadoras, ajudadas e ajudantes, mediatas e imediatas, e todas são sustentadas por um elo natural e imperceptível, que li- ga as mais distantes e as mais diferentes, considero impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, tanto quanto conhecer o todo sem conhecer, particularmente, as partes (MORIN, 2000, p. 88). Só poderá se falar em unidade de pensamento quando as ciências fornecerem a precisão e o método na ordem dos fatos. Assim como as filosofias e a exatidão de suas deduções lógi- cas, o autoconhecimento e busca espiritual forem capazes de reunir as qualidades dos senti- mentos e a noção real de ética e estética elevada. E cabe a Educação, em todos os seus graus -
  • 61. 60 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA desde as séries iniciais até a Universidade, engendrar essa reforma do pensamento, tratar o conhecimento sem disjunções e dicotomias entre razão e intuição, matéria e essência, ciência e fé. Se a educação direcionar a sua atuação na reconquista de um conhecimento que leve o homem, a descobrir todo o seu potencial criativo, sem distanciamento de uma moral elevada que dê o sustentáculo para ações comprometidas com a ética ambiental, com a paz e a solida- riedade mundiais, de fato a humanidade estará muito próxima de uma transformação sem precedentes. Essa nova educação irá retomar uma visão unitiva de mundo. A educação não pode se divorciar de seu destino, de seu objetivo: o homem e o mundo. A visão sistêmica, não fragmentada do homem, corpo-mente- espírito, não pode ser seccionada. A educação não pode se contentar com os objetivos limitados a partes dessa unidade, não pode endereçar seus objetivos apenas para situar o homem no mundo material. Somos uma totalidade: en- tão, a educação deve voltar-se para a totalidade, para a ordem universal, para os laços que nos unem ao mundo natural e cósmico, para a unicidade da vi- da, e não para a separação entre os mundos mineral, vegetal, animal, huma- no, que são interdependentes e cuja sobrevivência comum depende do res- peito à sua harmonia (Pereira, Hannas, 2000, p. 167-168). O paradigma emergente, multifacetado, holístico, transdisciplinar; referência a constru- ção de uma nova ética ambiental do novo milênio, totalizante ao observar o ser humano como individualidade dotada, além do corpo físico e da mente, de essência, estando apto, portanto, a conceber, perceber e receber da vida a sua real beleza e significação uma vez que o sistema educacional, como um dos principais vetores da construção da consciência ambiental preocu- par-se-á em auxiliar que o ser conecte-se à sua essência para conceber fatos da vida sem o in- termédio de condicionamentos que o distancia do real sentido da existência. FONTE: HTTP://STATIC.BLOGSTORAGE.HI-PI.COM/PHOTOS/CIDOKA. SPACEBLOG.COM. BR/IMAGES/GD/1223950844/EDUCACAO-E- AFETIVIDADE.JPG
  • 62. 61 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE A nova ética ambiental favorece o reordenamento da estrutura social, transformando o dual em uno, compreendendo que o homem não é só matéria, não é apenas razão. Ao cogito, ergo sum de Descartes acrescenta-se o siento, percibo, sueño, amo [...] ergo sum (GADOTTI, 2007). É o ser humano retomando ao ponto mais distante e, paradoxalmente, o mais próximo de si: sua essencialidade.
  • 63. 62 CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA, DIONNE BARRETO, FÁBIO NUNES, GISELE DAS CHAGAS COSTA
  • 64. 63 GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE MAPA CONCEITUAL