O documento discute o gênero da crônica e seu uso em sala de aula. Apresenta características da crônica, como usar temas e linguagem do cotidiano para criar proximidade com o leitor, e como o gênero combina elementos jornalísticos e literários. Também lista alguns dos principais cronistas brasileiros, como Rubem Braga, Fernando Sabino, Moacyr Scliar e Luis Fernando Veríssimo.
1. Endereço da página:
https://novaescola.org.br/conteudo/2223/cronica-em-sala-
de-aula-entre-literatura-e-jornalismo
Publicado em NOVA ESCOLA 01 de Julho | 2013
Planejamento
Crônica em sala de aula:
entre literatura e
jornalismo
Relembre algumas características do gênero e conheça
alguns dos principais autores que o alçaram ao status de
literatura
Wellington Soares
Bruno Mazzoco
NOVA ESCOLA
"Os americanos, através do radar, entraram em contato com a lua, o que não
deixa de ser emocionante. Mas o fato mais importante da semana aconteceu com
o meu pé de milho." A passagem de abertura de "Um pé de milho", crônica de
Rubem Braga, sintetiza uma das principais características do gênero: usar temas e
linguagens típicos do cotidiano do leitor e assim criar cumplicidade entre autor e
público. "É como uma conversa ao pé do ouvido", explica Carlos Ribeiro,
professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
Por serem publicadas em jornais, é comum que as crônicas tenham alguns traços
típicos dos textos informativos, como o uso de temas atuais e uma maior
2. preocupação com a clareza na escrita. Apesar disso, é notável a presença de
elementos típicos da literatura. "A elaboração dos textos é muito cuidadosa.
Notamos sempre elementos como figuras de linguagem, a falta de linearidade
temporal e formas do discurso que não são típicas das notícias", ressalta Mariana
Luz Pessoa de Barros, doutora em Linguística pela Universidade de São Paulo
(USP) e professora do Colégio Santa Cruz, em São Paulo. Portanto, usar crônicas
para aproximação dos alunos com textos literários pode ser uma proposta
interessante.
Uma possibilidade é usar o gênero justamente para mostrar as diferenças entre
os estilos jornalístico e literário. "A crônica ‘Um pé-de-milho’ é um bom texto para
fazer isso. Para o jornalismo, o que acontece com essa planta não é mais
importante do que estabelecer contato com a lua", explica Mariana.
Com sua origem ancorada no estudo da História, a crônica nasceu como registro
histórico e relato da vida de nobres e monarcas. Sua versão moderna surge com
o crescimento dos jornais na França do século 19. Desde então, o gênero passou
por alterações e estabeleceu morada nos periódicos brasileiros. "Em meados do
século 19 tivemos nosso primeiro grande cronista, Machado de Assis", conta o
crítico literário André Seffrin. "A consagração do gênero veio logo em seguida com
Rubem Braga, e outros autores de sucesso como Rachel de Queiroz, Cecília
Meireles, Manuel Bandeira, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes
Campos, Carlinhos Oliveira."
Conheça na página seguinte alguns desses escritores.
Grandes cronistas brasileiros
Rubem Braga (1913 - 1990)
Natural de Cachoeiro do Itapemirim, a 153 km de Vitória, no
Espírito Santo, é considerado o maior cronista brasileiro e um dos
maiores escritores da literatura em Língua Portuguesa. "Ele é o
grande responsável por alçar a crônica ao status de grande
literatura", explica Carlos Ribeiro, professor da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
Sugestão de livro: 200 crônicas escolhidas (Ed. Record, 490 págs., 37,90 reais,
21/2585-2000)
Fernando Sabino (1923 - 2004)
Publica seu primeiro livro aos 18 anos . Empolgado, envia um
exemplar a Mário de Andrade, que o responde: "Se você está
rodeando os 20 anos, de 20 a 25, como imagino, lhe garanto que o
seu caso é bem interessante, você promete muito. E o livro, neste
caso, é bom". Iniciava-se assim a amizade que duraria até a morte
do modernista, em 1945.
Sugestão de livro: As melhores crônicas de Fernando Sabino (Ed. Best Bolso, 196
págs., 14,90 reais, 11-3286-0802)
3. Moacyr Scliar (1937 - 2011)
Filho de russos nascido em Porto Alegre, dedicou a vida a duas
grandes paixões: a medicina e a literatura, lecionando em
Universidades em ambas as áreas. Publicou em vida mais de 70
livros. Sua obra é influenciada principalmente pela condição de
filho de imigrantes e pela formação médica. Como cronista,
colaborou nos jornais Zero Hora e Folha de S. Paulo.
Sugestão de livro: A poesia das coisas simples (Ed. Companhia das Letras, 256
págs., 29,50 reais, 11/3707-3501)
Luis Fernando Veríssimo (1936 - )
Conhecido pelas crônicas bem humoradas, que satirizam os
costumes da sociedade, é filho do também escritor Érico Veríssimo.
Alcançou fama com o livro "O analista de Bagé", em que conta
divertidos causos de um psicanalista gaúcho que atende seus
pacientes de bombacha e tomando chimarrão. Criou também
personagens como o detetive Ed Mort e a Velinha de Taubaté.
Sugestão de livro: O nariz e outras crônicas (Ed. Ática, 112 págs., 32,90 reais,
4003-3061)