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A Era de Ouro do Islã
Primeiro Século do Califado Abássida (750-861)
Cronologia
• 610 Maomé recebe as primeiras revelações do Corão em Meca1.
• 632 Maomé morre. Abu Bakr se torna o primeiro califa (sucessor)2
• 661 Início da dinastia omíada com Muawiyyah I3
• 750 Início da dinastia abássida com Abu al-Abbas al-Saffah4
• 755 Califado de Al-Mansur4.
• 786 Califado de Harun al-Rashid. Auge do poder abássida4.
1 ARMSTRONG, Karen (2001). Pág. 11
2 ARMSTRONG, Karen (2001). Pág. 12
3 ARMSTRONG, Karen (2001). Pág. 14
4 ARMSTRONG, Karen (2001). Pág. 16
A formação do Império
• Em 750, os abássidas – descendentes de
al-Abbâs, tio de Maomé, e membros do
clã dos hachemitas – tomaram o poder
dos omíadas e instauraram uma nova
dinastia1.
Califado Abássida em sua máxima extensão (c. 850)
1 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 77
A fundação de Bagdá
• Em 762, o segundo califa da dinastia abássida, Al-Mansûr (754-
775), fundou a cidade de Bagdá1 (Madînat al-Salam, “Cidade da
Paz” ou “da Salvação”, como era conhecida em árabe) às
margens do rio Tigre e próximo ao Eufrates.
• A sede do Império Abássida passa de Damasco, na Síria, para
Bagdá, no Iraque. Os grandes centros culturais do Império
passam a ser Bagdá e os arredores: Hamadã (no atual Irã), Raí
(Irã), Nixapur (Irã), Tabriz (Irã), Merv (Turquemenistão), Bucara
(Uzbequistão) e Mossul (Iraque)2.
1 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 77
2 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 66
O movimento de traduções
• Durante o reinado de Al-Mansûr (754-775), os trabalhados do matemático
indiano Brahmagupta foram trazidos para Bagdá e traduzidos para o árabe a
pedido do próprio califa (em 773). Foi assim que o sistema numérico hindu
entrou para a matemática árabe1.
• Al-Mansûr também foi buscar na escola de medicina de Gandisapora, na
Pérsia, tradutores de obras de medicina, astronomia e matemática2.
1 EVES, Howard (2004) Pág. 261
2 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 79
O movimento de traduções
• O quinto califa Harun al-Rashid (763/766-
808/809), em árabe “Aarão, o Justo”,
patrocinou a tradução de vários clássicos
gregos para o árabe, entre eles parte dos
Elementos de Euclides1 (por Al-Hajjaj2).
• Como condição de um tratado de paz com o
Império Bizantino, manuscritos gregos foram
trazidos de Bizâncio para Bagdá e traduzidos
por intelectuais da corte de Al-Ma’mûm3 (786-
833), o sétimo califa da dinastia abássida.
Harun al-Rashid.
Pintura de Julius Köckert (1864)
1 EVES, Howard (2004) Pág. 261
2 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 497
3 EVES, Howard (2004) Pág. 261
O movimento de traduções
• Al-Ma’mûm fundou em Bagdá (em 832) um centro
de reunião de tradutores chamado “Casa da
Sabedoria” (Bayt al-hikmah)1, que também funcionava
como observatório astronômico2.
• Foi durante seu reinado que o Almagesto de Ptolomeu
foi traduzido para o árabe e se completou a tradução
dos Elementos de Euclides3.
Ilustração de Yahyá al-Wasiti (1237)
1 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 80
2 EVES, H. (2004) Pág. 261. ARNOLD, T. (1947). Pág. 497
3 EVES, H. (2004) Pág. 261.
O movimento de traduções
• O mais famoso tradutor da época foi Hunayn Ibn
Ishâq (808-873), diácono da Igreja Nestoriana1.
Ele frequentou a Casa da Sabedoria e al-Ma’mum
pagava suas traduções a peso de ouro2.
• Hunayn e seu filho Ishâq traduziram centenas de
textos de Galeno e obras de Aristóteles para o
siríaco3. Mais tarde essas obras foram vertidas
para o árabe. Hunayn Ibn Ishâq
1 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 91
2 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 99
3 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 78
O movimento de traduções
• Além de Hunayn e Ishâq, outros tradutores importantes desse período foram:
 Al-Hajjaj ben Yusuf que traduziu o Almagesto e os seis primeiros livros dos
Elementos de Euclides1;
 o nestoriano Abu Bishr Mattâ (m. 940), que traduziu Aristóteles para o árabe2;
 o jacobita Yahyâ ibn Adi (m. 974), aluno de Mattâ3;
 o sabeu (pagão) Thâbit ibn Qurra (826-901), médico da cidade de Harã (na Síria)4.
1 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 497
2 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 91
3 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 94
4 CAMPANINI, M. (2010). Pág. 18. LIBERA, A. (2011). Pág. 72
O movimento de traduções
• Thâbit traduziu os Elementos de Euclides e obras de
Apolônio de Perga, Arquimedes, Ptolomeu e Teodósio. Os
livros V, VI e VII das Seções Cônicas do matemático grego
Apolônio de Perga só chegaram até nós por meio das
traduções de Thâbit1.
• Segundo o filósofo egípcio Abdur Rahman Badawi, as
traduções feitas pelos tradutores desse período “são, na
maioria, exatas e atestam um profundo conhecimento do
grego e do siríaco”2.
• Ainda segundo Badawi: “(…) Um bom número de textos
gregos perdidos foram-nos restituídos graças a essas
traduções árabes.”3
Seções Cônicas em árabe
1 EVES, Howard (2004) Pág. 261
2 CHÂTELET, François (1974). Pág. 108
3 CHÂTELET, François (1974). Pág. 109
O movimento de traduções
• Carra de Vaux diz que, graças as traduções desse período, várias obras gregas
foram conservadas: os três livros das Seções Cônicas de Apolônio, a Esférica de
Menelau, a Mecânica de Héron de Alexandria, a Pneumática de Filão de
Bizâncio, um pequeno tratado atribuído a Euclides e um texto atribuído a
Arquimedes1.
• Segundo Édouard Perroy, apenas obras da Antiguidade grega e obras em
palevi foram traduzidas para o árabe: nunca obras da Antiguidade romana!2
Além disso, obras de literatura e história da Grécia Antiga não foram
traduzidas nesse período3.
1 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 492
2 PERROY, Édouard (1994). Pág. 162
3 Idem
Matemática
• O mais famoso matemático desse período foi Mohammed ibn
Mûsâ al-Khowârizmî (780/800-835/844/847/850), em árabe
“Maomé, filho de Moisés de Khwarezm”1, considerado o pai
da álgebra2.
• Al-Khowârizmî viveu em Bagdá e trabalhou na Casa da
Sabedoria3. Escreveu um livro sobre álgebra e outro sobre
numerais hindus que tiveram enorme repercussão na Europa
quando foram traduzidos para o latim (séc. XII)4. Esta última
obra foi responsável pela introdução dos algarismos indo-
arábicos na Europa5, que até então usava os numerais
romanos. Al-Khowârizmî
1, 4 EVES, Howard (2004) Pág. 261
2, 3, 5 <http://escola.britannica.com.br/levels/fundamental/article/Al-Khwarizmi/481649>
Matemática
• A própria “álgebra” vem do árabe al-jabr1 e a
palavra “algarismo” de al-Khowârizmî2.
• Segundo Carra de Vaux, os árabes fizeram da
álgebra uma ciência exata, montaram as bases da
geometria analítica, foram indiscutivelmente os
inventores da trigonometria plana e esférica3.
Estátua de Al-Khwārizmī em sua
cidade natal Khiva, Uzbequistão.
1 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 499
2 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 498
3 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 492
Filosofia
• O primeiro filósofo importante de origem árabe, idioma árabe e religião islâmica
foi Abu Yusuf Ya’qub Ibn Ishaq Al-Kindi1 (796/801-866/873). Ele nasceu em
Kufa, no Iraque, de uma família aristocrática (o pai tinha um cargo equivalente
ao que hoje é um governador)2. Foi educado em Basra, no Iraque, e depois
mudo-se para Bagdá, onde recebeu a proteção dos califas Al-Ma’mûm e Al-
Mutasim3.
• Alkindi buscou articular as ideias de uma corrente teológica islâmica chamada
Mutazila com a filosofia grega4. Na sua Epístola sobre a filosofia primeira, dedicada a
Al-Mutasim (o oito califa abássida), Alkindi buscou demonstrar a convergência
da filosofia com o Islã5. Para ele o Deus da religião islâmica era equivalente à
Causa Primeira de Aristóteles e ao Bem-Uno de Plotino.
1 ISKANDAR, J. I. (2011). Pág. 17. cf. LIBERA, A. (2011). Pág. 66
2 ISKANDAR, J. I. (2011). Pág. 17
3 ARMSTRONG, K. (2001). Pág. 119
4 cf. CAMPANINI, M. (2010). Pág. 24
5 LIBERA, A. (2011). Pág. 105
Filosofia
• Alkindi foi um grande enciclopedista. Seus escritos cobrem quase todos os
domínios do saber grego: matemática, astronomia, música, óptica, medicina, lógica,
psicologia, meteorologia e política1, além de metafísica e alquimia. Um total de 265
obras2!
• Segundo Badawi, Alkindi foi “mais um vulgarizador do que um espírito original”3 e
o seu grande mérito foi de introduzir Aristóteles nos meios muçulmanos4.
• Alain de Libera considera que “O Filósofo dos Árabes” (Faylasuf al-’Arab), como
Alkindi veio a ser conhecido, encarnou a primeira fase do racionalismo
muçulmano5.
1 GILSON, E. (2013). Pág. 422
2 CHÂTELET, F. (1974). Pág. 109
3 CHÂTELET, F. (1974). Pág. 109
4 LIBERA, A. (2011). Pág. 105
5 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 105
Mensagem final
“Não devemos nos envergonhar de admitir a verdade
de qualquer fonte que nos venha, mesmo que nos seja
trazida por gerações anteriores e povos estrangeiros.
Para aquele que busca a verdade, nada há de mais
valioso que a própria verdade.”
Al-Kindi, Fi’l-falsafa al-ula1
1 Citado em HOURANI, Albert (2006). Pág. 113
Bibliografia
• ARMSTRONG, Karen O Islã. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001
• ARNOLD, Sir. Thomas El legado del islam. Madri: Ediciones Pegaso, 1947
• CAMPANINI, Massimo Introdução à filosofia islâmica. São Paulo: Estação Liberdade, 2010
• CHÂTELET, François História da filosofia; idéias e doutrinas, v. 2: a filosofia medieval do século I ao século XV. Rio de
Janeiro: Zahar, 1974
• EVES, Howard Introdução à história da matemática. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004
• HOURANI, Albert Uma história dos povos árabes. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
• ISKANDAR, Jamil Ibrahim Compreender al-Farab e Avicena. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
• LIBERA, Alain de A filosofia medieval. - 3.ed. - São Paulo: Loyola, 2011.
• PERROY, Édouard A Idade Média: a expansão do Oriente o nascimento da Civilização Ocidental: a preeminências das
Civilizações Orientais. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994 (História geral das civilizações; 6)
Links
• Islã medieval:
http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL743056-9982,00-
ISLA+MEDIEVAL+ERA+SUPERPOTENCIA+CIENTIFICA+DIZEM+ESPE
CIALISTAS.html
• Al-Khwarizmi:
http://escola.britannica.com.br/levels/fundamental/article/Al-Khwarizmi/481649
• Filosofia islâmica no Brasil:
http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/paranaense-leciona-1-cadeira-de-
filosofia-arabe-medieval-no-brasil-bg7wwmvghs2jgo0lymfdjv8em

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Era de Ouro do Islã

  • 1. A Era de Ouro do Islã Primeiro Século do Califado Abássida (750-861)
  • 2. Cronologia • 610 Maomé recebe as primeiras revelações do Corão em Meca1. • 632 Maomé morre. Abu Bakr se torna o primeiro califa (sucessor)2 • 661 Início da dinastia omíada com Muawiyyah I3 • 750 Início da dinastia abássida com Abu al-Abbas al-Saffah4 • 755 Califado de Al-Mansur4. • 786 Califado de Harun al-Rashid. Auge do poder abássida4. 1 ARMSTRONG, Karen (2001). Pág. 11 2 ARMSTRONG, Karen (2001). Pág. 12 3 ARMSTRONG, Karen (2001). Pág. 14 4 ARMSTRONG, Karen (2001). Pág. 16
  • 3. A formação do Império • Em 750, os abássidas – descendentes de al-Abbâs, tio de Maomé, e membros do clã dos hachemitas – tomaram o poder dos omíadas e instauraram uma nova dinastia1. Califado Abássida em sua máxima extensão (c. 850) 1 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 77
  • 4. A fundação de Bagdá • Em 762, o segundo califa da dinastia abássida, Al-Mansûr (754- 775), fundou a cidade de Bagdá1 (Madînat al-Salam, “Cidade da Paz” ou “da Salvação”, como era conhecida em árabe) às margens do rio Tigre e próximo ao Eufrates. • A sede do Império Abássida passa de Damasco, na Síria, para Bagdá, no Iraque. Os grandes centros culturais do Império passam a ser Bagdá e os arredores: Hamadã (no atual Irã), Raí (Irã), Nixapur (Irã), Tabriz (Irã), Merv (Turquemenistão), Bucara (Uzbequistão) e Mossul (Iraque)2. 1 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 77 2 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 66
  • 5. O movimento de traduções • Durante o reinado de Al-Mansûr (754-775), os trabalhados do matemático indiano Brahmagupta foram trazidos para Bagdá e traduzidos para o árabe a pedido do próprio califa (em 773). Foi assim que o sistema numérico hindu entrou para a matemática árabe1. • Al-Mansûr também foi buscar na escola de medicina de Gandisapora, na Pérsia, tradutores de obras de medicina, astronomia e matemática2. 1 EVES, Howard (2004) Pág. 261 2 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 79
  • 6. O movimento de traduções • O quinto califa Harun al-Rashid (763/766- 808/809), em árabe “Aarão, o Justo”, patrocinou a tradução de vários clássicos gregos para o árabe, entre eles parte dos Elementos de Euclides1 (por Al-Hajjaj2). • Como condição de um tratado de paz com o Império Bizantino, manuscritos gregos foram trazidos de Bizâncio para Bagdá e traduzidos por intelectuais da corte de Al-Ma’mûm3 (786- 833), o sétimo califa da dinastia abássida. Harun al-Rashid. Pintura de Julius Köckert (1864) 1 EVES, Howard (2004) Pág. 261 2 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 497 3 EVES, Howard (2004) Pág. 261
  • 7. O movimento de traduções • Al-Ma’mûm fundou em Bagdá (em 832) um centro de reunião de tradutores chamado “Casa da Sabedoria” (Bayt al-hikmah)1, que também funcionava como observatório astronômico2. • Foi durante seu reinado que o Almagesto de Ptolomeu foi traduzido para o árabe e se completou a tradução dos Elementos de Euclides3. Ilustração de Yahyá al-Wasiti (1237) 1 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 80 2 EVES, H. (2004) Pág. 261. ARNOLD, T. (1947). Pág. 497 3 EVES, H. (2004) Pág. 261.
  • 8. O movimento de traduções • O mais famoso tradutor da época foi Hunayn Ibn Ishâq (808-873), diácono da Igreja Nestoriana1. Ele frequentou a Casa da Sabedoria e al-Ma’mum pagava suas traduções a peso de ouro2. • Hunayn e seu filho Ishâq traduziram centenas de textos de Galeno e obras de Aristóteles para o siríaco3. Mais tarde essas obras foram vertidas para o árabe. Hunayn Ibn Ishâq 1 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 91 2 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 99 3 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 78
  • 9. O movimento de traduções • Além de Hunayn e Ishâq, outros tradutores importantes desse período foram:  Al-Hajjaj ben Yusuf que traduziu o Almagesto e os seis primeiros livros dos Elementos de Euclides1;  o nestoriano Abu Bishr Mattâ (m. 940), que traduziu Aristóteles para o árabe2;  o jacobita Yahyâ ibn Adi (m. 974), aluno de Mattâ3;  o sabeu (pagão) Thâbit ibn Qurra (826-901), médico da cidade de Harã (na Síria)4. 1 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 497 2 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 91 3 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 94 4 CAMPANINI, M. (2010). Pág. 18. LIBERA, A. (2011). Pág. 72
  • 10. O movimento de traduções • Thâbit traduziu os Elementos de Euclides e obras de Apolônio de Perga, Arquimedes, Ptolomeu e Teodósio. Os livros V, VI e VII das Seções Cônicas do matemático grego Apolônio de Perga só chegaram até nós por meio das traduções de Thâbit1. • Segundo o filósofo egípcio Abdur Rahman Badawi, as traduções feitas pelos tradutores desse período “são, na maioria, exatas e atestam um profundo conhecimento do grego e do siríaco”2. • Ainda segundo Badawi: “(…) Um bom número de textos gregos perdidos foram-nos restituídos graças a essas traduções árabes.”3 Seções Cônicas em árabe 1 EVES, Howard (2004) Pág. 261 2 CHÂTELET, François (1974). Pág. 108 3 CHÂTELET, François (1974). Pág. 109
  • 11. O movimento de traduções • Carra de Vaux diz que, graças as traduções desse período, várias obras gregas foram conservadas: os três livros das Seções Cônicas de Apolônio, a Esférica de Menelau, a Mecânica de Héron de Alexandria, a Pneumática de Filão de Bizâncio, um pequeno tratado atribuído a Euclides e um texto atribuído a Arquimedes1. • Segundo Édouard Perroy, apenas obras da Antiguidade grega e obras em palevi foram traduzidas para o árabe: nunca obras da Antiguidade romana!2 Além disso, obras de literatura e história da Grécia Antiga não foram traduzidas nesse período3. 1 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 492 2 PERROY, Édouard (1994). Pág. 162 3 Idem
  • 12. Matemática • O mais famoso matemático desse período foi Mohammed ibn Mûsâ al-Khowârizmî (780/800-835/844/847/850), em árabe “Maomé, filho de Moisés de Khwarezm”1, considerado o pai da álgebra2. • Al-Khowârizmî viveu em Bagdá e trabalhou na Casa da Sabedoria3. Escreveu um livro sobre álgebra e outro sobre numerais hindus que tiveram enorme repercussão na Europa quando foram traduzidos para o latim (séc. XII)4. Esta última obra foi responsável pela introdução dos algarismos indo- arábicos na Europa5, que até então usava os numerais romanos. Al-Khowârizmî 1, 4 EVES, Howard (2004) Pág. 261 2, 3, 5 <http://escola.britannica.com.br/levels/fundamental/article/Al-Khwarizmi/481649>
  • 13. Matemática • A própria “álgebra” vem do árabe al-jabr1 e a palavra “algarismo” de al-Khowârizmî2. • Segundo Carra de Vaux, os árabes fizeram da álgebra uma ciência exata, montaram as bases da geometria analítica, foram indiscutivelmente os inventores da trigonometria plana e esférica3. Estátua de Al-Khwārizmī em sua cidade natal Khiva, Uzbequistão. 1 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 499 2 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 498 3 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 492
  • 14. Filosofia • O primeiro filósofo importante de origem árabe, idioma árabe e religião islâmica foi Abu Yusuf Ya’qub Ibn Ishaq Al-Kindi1 (796/801-866/873). Ele nasceu em Kufa, no Iraque, de uma família aristocrática (o pai tinha um cargo equivalente ao que hoje é um governador)2. Foi educado em Basra, no Iraque, e depois mudo-se para Bagdá, onde recebeu a proteção dos califas Al-Ma’mûm e Al- Mutasim3. • Alkindi buscou articular as ideias de uma corrente teológica islâmica chamada Mutazila com a filosofia grega4. Na sua Epístola sobre a filosofia primeira, dedicada a Al-Mutasim (o oito califa abássida), Alkindi buscou demonstrar a convergência da filosofia com o Islã5. Para ele o Deus da religião islâmica era equivalente à Causa Primeira de Aristóteles e ao Bem-Uno de Plotino. 1 ISKANDAR, J. I. (2011). Pág. 17. cf. LIBERA, A. (2011). Pág. 66 2 ISKANDAR, J. I. (2011). Pág. 17 3 ARMSTRONG, K. (2001). Pág. 119 4 cf. CAMPANINI, M. (2010). Pág. 24 5 LIBERA, A. (2011). Pág. 105
  • 15. Filosofia • Alkindi foi um grande enciclopedista. Seus escritos cobrem quase todos os domínios do saber grego: matemática, astronomia, música, óptica, medicina, lógica, psicologia, meteorologia e política1, além de metafísica e alquimia. Um total de 265 obras2! • Segundo Badawi, Alkindi foi “mais um vulgarizador do que um espírito original”3 e o seu grande mérito foi de introduzir Aristóteles nos meios muçulmanos4. • Alain de Libera considera que “O Filósofo dos Árabes” (Faylasuf al-’Arab), como Alkindi veio a ser conhecido, encarnou a primeira fase do racionalismo muçulmano5. 1 GILSON, E. (2013). Pág. 422 2 CHÂTELET, F. (1974). Pág. 109 3 CHÂTELET, F. (1974). Pág. 109 4 LIBERA, A. (2011). Pág. 105 5 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 105
  • 16. Mensagem final “Não devemos nos envergonhar de admitir a verdade de qualquer fonte que nos venha, mesmo que nos seja trazida por gerações anteriores e povos estrangeiros. Para aquele que busca a verdade, nada há de mais valioso que a própria verdade.” Al-Kindi, Fi’l-falsafa al-ula1 1 Citado em HOURANI, Albert (2006). Pág. 113
  • 17. Bibliografia • ARMSTRONG, Karen O Islã. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 • ARNOLD, Sir. Thomas El legado del islam. Madri: Ediciones Pegaso, 1947 • CAMPANINI, Massimo Introdução à filosofia islâmica. São Paulo: Estação Liberdade, 2010 • CHÂTELET, François História da filosofia; idéias e doutrinas, v. 2: a filosofia medieval do século I ao século XV. Rio de Janeiro: Zahar, 1974 • EVES, Howard Introdução à história da matemática. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004 • HOURANI, Albert Uma história dos povos árabes. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. • ISKANDAR, Jamil Ibrahim Compreender al-Farab e Avicena. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. • LIBERA, Alain de A filosofia medieval. - 3.ed. - São Paulo: Loyola, 2011. • PERROY, Édouard A Idade Média: a expansão do Oriente o nascimento da Civilização Ocidental: a preeminências das Civilizações Orientais. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994 (História geral das civilizações; 6)
  • 18. Links • Islã medieval: http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL743056-9982,00- ISLA+MEDIEVAL+ERA+SUPERPOTENCIA+CIENTIFICA+DIZEM+ESPE CIALISTAS.html • Al-Khwarizmi: http://escola.britannica.com.br/levels/fundamental/article/Al-Khwarizmi/481649 • Filosofia islâmica no Brasil: http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/paranaense-leciona-1-cadeira-de- filosofia-arabe-medieval-no-brasil-bg7wwmvghs2jgo0lymfdjv8em