1. A Era de Ouro do Islã
Primeiro Século do Califado Abássida (750-861)
2. Cronologia
• 610 Maomé recebe as primeiras revelações do Corão em Meca1.
• 632 Maomé morre. Abu Bakr se torna o primeiro califa (sucessor)2
• 661 Início da dinastia omíada com Muawiyyah I3
• 750 Início da dinastia abássida com Abu al-Abbas al-Saffah4
• 755 Califado de Al-Mansur4.
• 786 Califado de Harun al-Rashid. Auge do poder abássida4.
1 ARMSTRONG, Karen (2001). Pág. 11
2 ARMSTRONG, Karen (2001). Pág. 12
3 ARMSTRONG, Karen (2001). Pág. 14
4 ARMSTRONG, Karen (2001). Pág. 16
3. A formação do Império
• Em 750, os abássidas – descendentes de
al-Abbâs, tio de Maomé, e membros do
clã dos hachemitas – tomaram o poder
dos omíadas e instauraram uma nova
dinastia1.
Califado Abássida em sua máxima extensão (c. 850)
1 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 77
4. A fundação de Bagdá
• Em 762, o segundo califa da dinastia abássida, Al-Mansûr (754-
775), fundou a cidade de Bagdá1 (Madînat al-Salam, “Cidade da
Paz” ou “da Salvação”, como era conhecida em árabe) às
margens do rio Tigre e próximo ao Eufrates.
• A sede do Império Abássida passa de Damasco, na Síria, para
Bagdá, no Iraque. Os grandes centros culturais do Império
passam a ser Bagdá e os arredores: Hamadã (no atual Irã), Raí
(Irã), Nixapur (Irã), Tabriz (Irã), Merv (Turquemenistão), Bucara
(Uzbequistão) e Mossul (Iraque)2.
1 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 77
2 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 66
5. O movimento de traduções
• Durante o reinado de Al-Mansûr (754-775), os trabalhados do matemático
indiano Brahmagupta foram trazidos para Bagdá e traduzidos para o árabe a
pedido do próprio califa (em 773). Foi assim que o sistema numérico hindu
entrou para a matemática árabe1.
• Al-Mansûr também foi buscar na escola de medicina de Gandisapora, na
Pérsia, tradutores de obras de medicina, astronomia e matemática2.
1 EVES, Howard (2004) Pág. 261
2 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 79
6. O movimento de traduções
• O quinto califa Harun al-Rashid (763/766-
808/809), em árabe “Aarão, o Justo”,
patrocinou a tradução de vários clássicos
gregos para o árabe, entre eles parte dos
Elementos de Euclides1 (por Al-Hajjaj2).
• Como condição de um tratado de paz com o
Império Bizantino, manuscritos gregos foram
trazidos de Bizâncio para Bagdá e traduzidos
por intelectuais da corte de Al-Ma’mûm3 (786-
833), o sétimo califa da dinastia abássida.
Harun al-Rashid.
Pintura de Julius Köckert (1864)
1 EVES, Howard (2004) Pág. 261
2 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 497
3 EVES, Howard (2004) Pág. 261
7. O movimento de traduções
• Al-Ma’mûm fundou em Bagdá (em 832) um centro
de reunião de tradutores chamado “Casa da
Sabedoria” (Bayt al-hikmah)1, que também funcionava
como observatório astronômico2.
• Foi durante seu reinado que o Almagesto de Ptolomeu
foi traduzido para o árabe e se completou a tradução
dos Elementos de Euclides3.
Ilustração de Yahyá al-Wasiti (1237)
1 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 80
2 EVES, H. (2004) Pág. 261. ARNOLD, T. (1947). Pág. 497
3 EVES, H. (2004) Pág. 261.
8. O movimento de traduções
• O mais famoso tradutor da época foi Hunayn Ibn
Ishâq (808-873), diácono da Igreja Nestoriana1.
Ele frequentou a Casa da Sabedoria e al-Ma’mum
pagava suas traduções a peso de ouro2.
• Hunayn e seu filho Ishâq traduziram centenas de
textos de Galeno e obras de Aristóteles para o
siríaco3. Mais tarde essas obras foram vertidas
para o árabe. Hunayn Ibn Ishâq
1 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 91
2 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 99
3 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 78
9. O movimento de traduções
• Além de Hunayn e Ishâq, outros tradutores importantes desse período foram:
Al-Hajjaj ben Yusuf que traduziu o Almagesto e os seis primeiros livros dos
Elementos de Euclides1;
o nestoriano Abu Bishr Mattâ (m. 940), que traduziu Aristóteles para o árabe2;
o jacobita Yahyâ ibn Adi (m. 974), aluno de Mattâ3;
o sabeu (pagão) Thâbit ibn Qurra (826-901), médico da cidade de Harã (na Síria)4.
1 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 497
2 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 91
3 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 94
4 CAMPANINI, M. (2010). Pág. 18. LIBERA, A. (2011). Pág. 72
10. O movimento de traduções
• Thâbit traduziu os Elementos de Euclides e obras de
Apolônio de Perga, Arquimedes, Ptolomeu e Teodósio. Os
livros V, VI e VII das Seções Cônicas do matemático grego
Apolônio de Perga só chegaram até nós por meio das
traduções de Thâbit1.
• Segundo o filósofo egípcio Abdur Rahman Badawi, as
traduções feitas pelos tradutores desse período “são, na
maioria, exatas e atestam um profundo conhecimento do
grego e do siríaco”2.
• Ainda segundo Badawi: “(…) Um bom número de textos
gregos perdidos foram-nos restituídos graças a essas
traduções árabes.”3
Seções Cônicas em árabe
1 EVES, Howard (2004) Pág. 261
2 CHÂTELET, François (1974). Pág. 108
3 CHÂTELET, François (1974). Pág. 109
11. O movimento de traduções
• Carra de Vaux diz que, graças as traduções desse período, várias obras gregas
foram conservadas: os três livros das Seções Cônicas de Apolônio, a Esférica de
Menelau, a Mecânica de Héron de Alexandria, a Pneumática de Filão de
Bizâncio, um pequeno tratado atribuído a Euclides e um texto atribuído a
Arquimedes1.
• Segundo Édouard Perroy, apenas obras da Antiguidade grega e obras em
palevi foram traduzidas para o árabe: nunca obras da Antiguidade romana!2
Além disso, obras de literatura e história da Grécia Antiga não foram
traduzidas nesse período3.
1 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 492
2 PERROY, Édouard (1994). Pág. 162
3 Idem
12. Matemática
• O mais famoso matemático desse período foi Mohammed ibn
Mûsâ al-Khowârizmî (780/800-835/844/847/850), em árabe
“Maomé, filho de Moisés de Khwarezm”1, considerado o pai
da álgebra2.
• Al-Khowârizmî viveu em Bagdá e trabalhou na Casa da
Sabedoria3. Escreveu um livro sobre álgebra e outro sobre
numerais hindus que tiveram enorme repercussão na Europa
quando foram traduzidos para o latim (séc. XII)4. Esta última
obra foi responsável pela introdução dos algarismos indo-
arábicos na Europa5, que até então usava os numerais
romanos. Al-Khowârizmî
1, 4 EVES, Howard (2004) Pág. 261
2, 3, 5 <http://escola.britannica.com.br/levels/fundamental/article/Al-Khwarizmi/481649>
13. Matemática
• A própria “álgebra” vem do árabe al-jabr1 e a
palavra “algarismo” de al-Khowârizmî2.
• Segundo Carra de Vaux, os árabes fizeram da
álgebra uma ciência exata, montaram as bases da
geometria analítica, foram indiscutivelmente os
inventores da trigonometria plana e esférica3.
Estátua de Al-Khwārizmī em sua
cidade natal Khiva, Uzbequistão.
1 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 499
2 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 498
3 ARNOLD, Sir. Thomas (1947). Pág. 492
14. Filosofia
• O primeiro filósofo importante de origem árabe, idioma árabe e religião islâmica
foi Abu Yusuf Ya’qub Ibn Ishaq Al-Kindi1 (796/801-866/873). Ele nasceu em
Kufa, no Iraque, de uma família aristocrática (o pai tinha um cargo equivalente
ao que hoje é um governador)2. Foi educado em Basra, no Iraque, e depois
mudo-se para Bagdá, onde recebeu a proteção dos califas Al-Ma’mûm e Al-
Mutasim3.
• Alkindi buscou articular as ideias de uma corrente teológica islâmica chamada
Mutazila com a filosofia grega4. Na sua Epístola sobre a filosofia primeira, dedicada a
Al-Mutasim (o oito califa abássida), Alkindi buscou demonstrar a convergência
da filosofia com o Islã5. Para ele o Deus da religião islâmica era equivalente à
Causa Primeira de Aristóteles e ao Bem-Uno de Plotino.
1 ISKANDAR, J. I. (2011). Pág. 17. cf. LIBERA, A. (2011). Pág. 66
2 ISKANDAR, J. I. (2011). Pág. 17
3 ARMSTRONG, K. (2001). Pág. 119
4 cf. CAMPANINI, M. (2010). Pág. 24
5 LIBERA, A. (2011). Pág. 105
15. Filosofia
• Alkindi foi um grande enciclopedista. Seus escritos cobrem quase todos os
domínios do saber grego: matemática, astronomia, música, óptica, medicina, lógica,
psicologia, meteorologia e política1, além de metafísica e alquimia. Um total de 265
obras2!
• Segundo Badawi, Alkindi foi “mais um vulgarizador do que um espírito original”3 e
o seu grande mérito foi de introduzir Aristóteles nos meios muçulmanos4.
• Alain de Libera considera que “O Filósofo dos Árabes” (Faylasuf al-’Arab), como
Alkindi veio a ser conhecido, encarnou a primeira fase do racionalismo
muçulmano5.
1 GILSON, E. (2013). Pág. 422
2 CHÂTELET, F. (1974). Pág. 109
3 CHÂTELET, F. (1974). Pág. 109
4 LIBERA, A. (2011). Pág. 105
5 LIBERA, Alain de (2011). Pág. 105
16. Mensagem final
“Não devemos nos envergonhar de admitir a verdade
de qualquer fonte que nos venha, mesmo que nos seja
trazida por gerações anteriores e povos estrangeiros.
Para aquele que busca a verdade, nada há de mais
valioso que a própria verdade.”
Al-Kindi, Fi’l-falsafa al-ula1
1 Citado em HOURANI, Albert (2006). Pág. 113
17. Bibliografia
• ARMSTRONG, Karen O Islã. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001
• ARNOLD, Sir. Thomas El legado del islam. Madri: Ediciones Pegaso, 1947
• CAMPANINI, Massimo Introdução à filosofia islâmica. São Paulo: Estação Liberdade, 2010
• CHÂTELET, François História da filosofia; idéias e doutrinas, v. 2: a filosofia medieval do século I ao século XV. Rio de
Janeiro: Zahar, 1974
• EVES, Howard Introdução à história da matemática. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004
• HOURANI, Albert Uma história dos povos árabes. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
• ISKANDAR, Jamil Ibrahim Compreender al-Farab e Avicena. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
• LIBERA, Alain de A filosofia medieval. - 3.ed. - São Paulo: Loyola, 2011.
• PERROY, Édouard A Idade Média: a expansão do Oriente o nascimento da Civilização Ocidental: a preeminências das
Civilizações Orientais. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994 (História geral das civilizações; 6)