Este documento discute o magnetismo da matéria e as equações de Maxwell. Aborda conceitos como dipolo magnético, lei de Gauss para campos magnéticos, momento de dipolo magnético de spin e orbital de elétrons, paramagnetismo, ferromagnetismo e histerese, diamagnetismo e campo magnético induzido. Também apresenta as equações de Maxwell da indução e de Ampère-Maxwell.
1. Aula 14: Magnetismo da Matéria e
Equações de Maxwell
Curso de Física Geral III
F-328
1o semestre, 2014
F328 – 1S2014 1
2. ω
As propriedades magnéticas dos materiais podem ser
compreendidas pelo que ocorre com seus átomos e elétrons.
Introdução
A estrutura mais simples na eletricidade é,
como vimos, uma carga isolada q; no magnetismo, é
um dipolo magnético, do qual uma barra imantada
(ímã) é um exemplo. Um ímã é caracterizado por dois
polos: o polo norte (de onde emergem as linhas do
campo magnético) e o polo sul ( para onde as linhas
migram). Não somos capazes de isolar um único polo
(monopolo magnético): um ímã partido ao meio se
subdivide em dois outros e assim sucessivamente até
o nível microscópico de átomos, núcleos e elétrons.
Até onde sabemos, não existem, pois, monopolos magnéticos.
Ímãs – Polos e dipolos
F328 – 1S2014 2
3. A lei de Gauss para campos magnéticos é uma maneira formal de
se dizer que não existem monopolos magnéticos:
0
ˆ
. =
= ∫ dA
n
B
B
!
φ
O fluxo de B
!
através de qualquer superfície
fechada é nulo, já que não pode existir qualquer
“carga magnética” isolada envolvida pela
superfície.
A lei de Gauss do magnetismo é válida mesmo para estruturas
mais complicadas do que um dipolo magnético.
Vemos que 0
=
B
φ através das superfícies I
e II da figura. As linhas de são fechadas.
B
!
b
A Lei de Gauss do magnetismo
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4. Em 1600, William Gilbert descobriu que a Terra era um ímã natural
permanente com polos magnéticos próximos aos polos norte e sul
geográficos: seu campo magnético pode ser aproximado pelo de uma
enorme barra imantada ( um dipolo magnético) que atravessa o centro
do planeta. Uma vez que o polo norte da agulha imantada de uma
bússola aponta na direção do polo sul de um ímã, o que é denominado
polo norte da Terra, é na realidade, um polo sul do dipolo magnético
terrestre.
O Magnetismo da Terra
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5. A direção do campo magnético sobre a superfície da Terra pode
ser especificada em termos de dois ângulos: a declinação e a
inclinação do campo.
O campo observado em qualquer local da superfície varia com o
tempo. Por exemplo, entre 1580 e 1820 a direção indicada pelas
agulhas de uma bússola variou de 350 em Londres.
O Magnetismo da Terra
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6. Um elétron isolado pode ser considerado
classicamente como uma minúscula carga negativa em
rotação, possuindo um momento angular intrínseco ou
spin ; associado a este spin existe um momento de
dipolo magnético de spin , relacionado a por:
Já vimos que elétrons constituindo uma corrente elétrica num fio
geram um campo magnético ao redor do fio. Há mais duas maneiras,
cada um envolvendo um momento de dipolo magnético, de produzir
um campo magnético. Contudo, a compreensão destes mecanismos
exige conhecimentos de Física Quântica não abordados nesta
disciplina.
Momento de Dipolo Magnético de Spin
S
!
S
m
e
S
!
!
−
=
µ (1)
S
!
S
µ
!
Magnetismo e Elétrons
F328 – 1S2014 6
7. onde e é a constante de
Planck.
( é chamado número quântico magnético de spin.)
O próprio spin não pode ser medido (*); a componente
(medida ao longo do eixo z, por exemplo) é quantizada
e pode ter dois valores que diferem apenas em sinal:
2
1
, ±
=
= S
S
z m
m
S !
S
!
z
S
s
J
h .
10
x
63
,
6 34
−
=
π
2
/
h
≡
!
S
m
(*) a mecânica quântica prevê (e a experiência
confirma) que apenas uma das componentes do spin e
o quadrado do seu módulo podem ser medidos
simultaneamente.
Magnetismo e Elétrons
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8. O momento de dipolo magnético também não pode ser medido;
apenas a sua componente ao longo do eixo z, por exemplo, que
também é quantizada. Tomando a componente z de (1) :
S
µ
!
m
eh
S
m
e
z
z
S
π
µ
4
, ±
=
−
=
A grandeza do lado direito de (2) é chamada magneton de
Bohr :
(2)
)
( B
µ
T
J
m
e
m
eh
B
24
10
x
27
,
9
2
4
−
=
=
=
!
π
µ
Momentos de dipolo magnético de elétrons e de outras partículas
elementares podem ser expressos em termos de .
Para um elétron, a componente z medida de é:
B
µ
B
µ
µ 1
, =
z
S
S
µ
!
Magnetismo e Elétrons
F328 – 1S2014 8
9. Momento de Dipolo Magnético Orbital
Os elétrons ligados aos átomos possuem um momento angular
orbital, , ao qual se pode associar um momento de dipolo
magnético orbital . Os dois estão relacionados por:
orb
orb L
m
e !
!
2
−
=
µ
orb
L
!
orb
µ
!
(3)
Analogamente, nem nem podem ser medidos, mas apenas
suas componentes ao longo de um eixo (z), e estas componentes são
também quantizadas:
,...
2
,
1
,
0
,
2
, ±
±
=
= l
l
z
orb m
h
m
L
π m
eh
ml
z
orb
π
µ
4
, −
=
B
l
z
orb m µ
µ −
=
,
e
Ou:
( é chamado número quântico magnético orbital )
l
m
orb
µ
!
orb
L
!
Magnetismo e Elétrons
F328 – 1S2014 9
10. Modelo de Espira para Órbitas de Elétrons
Podemos obter a equação (3) de modo clássico, supondo que o
elétron, em seu movimento circular em torno do átomo, é uma
“espira de corrente”. Temos:
A
i
orb
!
!
=
µ
Mas:
r
ev
i
π
2
tempo
carga
=
=
2
2
2 evr
r
r
ev
orb =
= π
π
µ
mrv
Lorb =
Combinando as equações (4) e (5) e levando em conta os sentidos
de e , podemos escrever vetorialmente:
orb
orb L
m
e !
!
2
−
=
µ
orb
L
!
orb
µ
!
(4)
Temos ainda: (5)
Magnetismo e Elétrons
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11. Em materiais paramagnéticos, os átomos têm momentos de dipolo
magnéticos permanentes que interagem fracamente e estão orientados
aleatoriamente na ausência de um campo magnético externo. Na pre-
sença de um campo externo, eles tendem a se alinhar paralelamente
ao campo, mas isto é dificultado pelo movimento caótico provocado
pela agitação térmica. O grau de alinhamento dos momentos com o
campo depende da intensidade deste e da temperatura.
B
!
Um material paramagnético colocado num campo externo não
uniforme é atraído para a região onde o campo é mais intenso.
Paramagnetismo
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12. A magnetização M de um material (momento de dipolo total por
unidade de volume) dá uma idéia da extensão deste alinhamento.
Em 1895, Pierre Curie descobriu experimentalmente a relação
entre a magnetização de uma substância, o campo externo e a
temperatura:
T
B
C
M ext
=
(Lei de Curie)
Curva de magnetização para
o sulfato de cromo-potássio.
Paramagnetismo
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13. Esta é a forma mais forte de magnetismo, exibida por materiais
como ferro, cobalto, níquel, gadolínio, etc e por suas ligas. O
ferromagnetismo surge devido a uma interação quântica especial,
chamada acoplamento de troca, que permite o alinhamento dos
dipolos atômicos em rígido paralelismo, apesar da tendência à
desordem devida à agitação térmica.
Acima de uma certa temperatura crítica, chamada temperatura
de Curie, o acoplamento de troca deixa de ter efeito e o material
torna-se paramagnético.
T > Tc
T < Tc
Ferromagnetismo
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14. O anel de Rowland (figura) é um dispositivo para estudar a
magnetização de um material (núcleo toroidal circundado por uma
bobina primária). O campo no interior do núcleo é: ,
0 M
B
B
B +
=
onde é o campo da bobina e está associado ao alinhamento
dos dipolos do núcleo, isto é, há um , correspondendo à
saturação.
max
,
M
B
M
B
0
B
núcleo de ferro
Ferromagnetismo
F328 – 1S2014 14
15. Por que o momento magnético de uma amostra não atinge logo
o seu valor de saturação, mesmo para pequenos valores de ?
Por que cada prego de ferro em estado natural não é um ímã
permanente?
0
B
Um material ferromagnético, em seu estado normal, é constituído
de um número muito grande de domínios magnéticos, dentro dos
quais o alinhamento dos dipolos atômicos é perfeito.
0
=
B
!
B
!
Ferromagnetismo
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16. Como a orientação dos domínios é aleatória, seus efeitos
magnéticos em grande parte se cancelam. Quando o material é
magnetizado, os domínios tendem a se alinhar, dando forte
contribuição para o campo magnético no material. Este alinhamento
pode persistir mesmo quando o campo externo é removido,
deixando o material permanentemente magnetizado, graças a um
campo remanescente (ponto b da figura).
A curva externa da figura é chamada
curva de histerese. As fronteiras dos
domínios não retornam completamente à sua
configuração original quando o campo
externo é diminuído ou mesmo reduzido a
zero (memória magnética).
Ferromagnetismo - Histerese
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17. É o tipo de magnetismo manifestado por todos os materiais
comuns, mas é tão fraco que é mascarado se o material exibir
também magnetismo de um dos outros dois tipos. Um material
diamagnético não possui momento de dipolo magnético permanente;
quando o material é submetido a um campo magnético externo,
fracos momentos de dipolo magnético são produzidos nos átomos
do material.
A combinação destes momentos de dipolo induzidos produz um
fraco campo magnético resultante, que desaparece quando o campo
externo é removido.
O momento de dipolo induzido por um campo externo tem
sentido oposto a . Se este for não uniforme, o material
diamagnético é repelido de uma região de campo mais intenso para
uma região de campo menos intenso.
ext
B
!
ext
B
!
Diamagnetismo
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19. Vimos que um fluxo magnético variável no tempo produz um
campo elétrico. Será que um fluxo elétrico variável no tempo pode
produzir um campo magnético? A experiência diz que sim.
Por analogia com a lei de Faraday reformulada, podemos
escrever:
∫ =
dt
d
l
d
B E
φ
ε
µ 0
0
.
!
"
(Lei de Maxwell da indução)
Consegue-se uniforme variando à taxa constante
dt
dE
E
!
figura (a)
no interior de um capacitor que está sendo carregado
com uma corrente constante (figura (a)).
O campo elétrico variável produz um campo magnético
dentro e fora da região cilíndrica.
Campos Magnéticos Induzidos
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20. A lei de Ampère-Maxwell
Considerando as duas maneiras de se obter um campo magnético
(uma corrente ou um campo variável no tempo), podemos
combinar as equações correspondentes em uma só:
E
!
env
E
i
dt
d
l
d
B 0
0
0
. µ
φ
ε
µ +
=
∫
!
"
(Lei de Ampère-Maxwell)
Vê-se que há duas diferenças entre os casos
elétrico e magnético: a) no laço de circuitação
(figura (b)), o sentido de induzido é oposto ao do
campo induzido, razão pela qual não aparece o
sinal negativo na equação anterior; b) as constantes
e aparecem por causa da adoção do sistema
SI de unidades.
B
!
0
ε
0
µ
E
!
figura (b)
Lei de Ampère-Maxwell
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21. ( )
Observamos que o termo tem dimensão de corrente e o
dt
d E
φ
ε0
dt
d
i E
d
φ
ε0
=
Para o caso de um capacitor sendo carregado (figura), mostra-se
facilmente que id = i; então podemos considerar a corrente fictícia id
como dando continuidade à corrente real i que está carregando o
capacitor.
chamamos de corrente de deslocamento :
d
i
Então a lei de Ampère-Maxwell fica:
( )
∫ +
= d
env i
i
l
d
B 0
. µ
!
"
Corrente de Deslocamento
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id tem significado real?
22. Calculando o campo magnético induzido
Embora nenhuma carga realmente se mova entre as placas do
capacitor sendo carregado, o conceito de corrente de deslocamento
pode nos ajudar a calcular o campo magnético induzido.
Como a corrente de deslocamento está uniformemente distribuída
entre as placas do capacitor circular de raio R:
E fora do capacitor:
O sentido de está mostrado na figura.
( )
R
r
r
R
i
r
B d
<
= 2
0
2
)
(
π
µ
( )
R
r
r
i
r
B d
>
=
π
µ
2
)
( 0
B
!
campo devido
à corrente i
campo devido
à corrente id
campo devido
à corrente i
Campo Magnéticos Induzidos
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23. As equações de Maxwell são equações básicas do eletromagnetismo,
capazes de explicar uma grande variedade de fenômenos e são a base
do funcionamento de muitos dispositivos eletromagnéticos. São elas:
Forma integral Forma diferencial
∫ =
0
ˆ
.
ε
env
q
dA
n
E
!
∫ =0
ˆ
. dA
n
B
!
∫ −
=
dt
d
l
d
E B
φ
!
!
.
env
E
i
dt
d
l
d
B 0
0
0
. µ
φ
ε
µ +
=
∫
!
"
0
.
ε
ρ
=
∇ E
!
!
t
B
E
∂
∂
−
=
×
∇
!
!
!
t
E
J
B
∂
∂
+
=
×
∇
!
!
!
!
0
0
0 µ
ε
µ
(1)
(2)
(3)
(4)
0
. =
∇ B
!
!
As equações de Maxwell
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24. Vamos deduzir uma equação diferencial cujas soluções descrevem
uma onda eletromagnética e descobrir a sua velocidade de propagação
no vácuo. Consideremos as equações de Maxwell com .
0
=
=J
ρ
Tomando-se o rotacional de (3) e utilizando (1) :
2
2
0
0
)
(
)
(
t
E
B
t
t
B
E
∂
∂
−
=
×
∇
∂
∂
−
=
∂
∂
×
∇
−
=
×
∇
×
∇
!
!
!
!
!
!
!
!
µ
ε
Mas: E
E
E
!
!
!
!
!
!
! 2
)
.
(
)
( ∇
−
∇
∇
=
×
∇
×
∇
E como :
0
. =
∇ E
!
! (5)
Analogamente, tomando-se o
rotacional de (4) e utilizando (2) : 2
2
0
0
2
t
B
B
∂
∂
=
∇
!
!
µ
ε (6)
As equações (5) e (6) equivalem a seis equações diferenciais escalares
(uma para cada componente de e ) formalmente idênticas.
E
!
B
!
2
2
0
0
2
t
E
E
∂
∂
=
∇
!
!
µ
ε
A Equação de uma Onda Eletromagnética
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25. Para simplificar, consideremos que e estejam nas direções y
e z, respectivamente e ainda que e
somente. Então, as equações (5) e (6) se simplificam para:
E
!
B
!
)
,
( t
x
E
E y
y = )
,
( t
x
B
B z
z=
2
2
0
0
2
2
t
E
x
E y
y
∂
∂
=
∂
∂
µ
ε 2
2
0
0
2
2
t
B
x
B z
z
∂
∂
=
∂
∂
µ
ε
e
Cada uma destas equações é formalmente idêntica à equação:
que representa uma onda oscilando na direção y e propagando-se na
direção x com velocidade v . Então, as equações (7) acima representam
uma onda que se propaga na direção x com velocidade
c
10
x
0
,
3
1 8
0
0
=
≅
=
s
m
v
µ
ε
2
2
2
2
2
1
t
y
v
x
y
∂
∂
=
∂
∂ ,
(7)
A Equação de uma Onda Eletromagnética
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26. Ou seja, uma onda EM se propaga no vácuo com velocidade da luz.
A equação de onda para um escalar qualquer (representando qualquer
componente de ou ) é:
ψ
,
0
1
2
2
2
2
2
=
∂
∂
−
∂
∂
t
c
x
ψ
ψ
cuja solução mais geral para propagação numa direção genérica
do espaço é do tipo:
E
!
B
!
, com .
c
k
ω
=
Para uma onda propagando-se na direção x:
)
.
(
e t
r
k
i
m
ω
ψ
ψ ±
=
!
!
)
(
sen t
x
k
m ω
ψ
ψ ±
=
A Equação de uma Onda Eletromagnética
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