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      Por: Hevlyn Celso / Colaboração: Julliana Reis
      Fotos: Reinaldo Borges




      Adoção de

     PETS ESPECIAIS
                          ONGS QUE SE DEDICAM AO CUIDADO DE ANIMAIS ABANDONADOS
                          PROMOVEM A DOAÇÃO DE CÃES E GATOS COM DEFICIÊNCIA




                                                        É
                                                                difícil não se apaixonar por um bi-
                                                                chinho de estimação que, com seu
                                                                olhar terno, pede para ser adota-
                                                       do. Às vezes, a conquista é imediata, mas
                                                       nem todos têm a mesma sorte. Animais
                                                        idosos ou com deficiências são os que mais
                                                         têm dificuldade de serem aceitos. Entre-
                                                          tanto, algumas associações lutam para
                                                          mudar essa realidade.
                                                             Fundada em 1999 por Ila Franco
                                                            Bick, a Aliança Internacional do
                                                                  Animal (Aila) surgiu quando a
                                                                    empresária viu um cão aban-
                                                                    donado levar um chute que o
                                                                    fez perder um dente. Choca-
                                                                    da, ela adotou o animal, que
                                                                    se tornou mascote da associa-
                                                                   ção, instalada na comunidade
                                                                  de Paraisópolis, bairro de São
                                                               Paulo (SP).
Roberto Russo com o cão Alê                                     Além de idoso, Fluffy – o cão em
e Ila Franco com Pitoco                                   questão – perdeu a visão, a audição e so-
                                                          fre de insuficiência renal, mas vive feliz,

60   revista incluir • março/abril 201
                                     1
sempre acompanhado de sua protetora, que não
mede esforços para garantir o bem-estar do animal.
   A Aila, que iniciou as atividades com apenas
dois funcionários, atualmente conta com 37
colaboradores e abriga mais de mil animais –
sendo que sete deles têm alguma deficiência –,
que são mantidos com a ajuda de alguns patro-
cinadores, entre eles, fabricantes de ração e medica-
mentos veterinários.
   Mas os desafios são muitos, e novos patrocina-
dores e sócios mantenedores são necessários, assim
como um novo ponto de adoção de animais (recen-
temente, a ONG perdeu o ponto que mantinha há
dez anos). Agora a adoção é feita diretamente na
                                                         Luciana Felício com Pina e Miriam Miranda
sede, pelo site ou em eventos.                           com Zoinho. No destaque, Sarampo, Zoinho,
   De acordo com a fundadora da Aila, os animais         Lulu e Caverna
são tratados, vermifugados e esterilizados antes de
serem disponibilizados para adoção, que é monito-          Atualmente, no local vivem 420 cães,
rada por meio de visitas ao novo lar do animal para     sendo que cerca de 200 deles são idosos e
acompanhamento da adaptação.                            outros 30 possuem alguma deficiência. “A
   Entre os animais com deficiência para adoção         gente sempre fala que o animal é que adota
estão os vira-latas Alê, que usa cadeirinha de rodas    o dono e não o contrário. Uma coisa, que já
para se locomover, e Pitoco, que tem deficiência nas    está sendo quebrada, é a adoção do animal
                                                        de rua. Outra coisa é a pessoa vir, adotar
patas traseiras.
                                                        o animal abandonado, maltratado, com se-
                                                        quelas e deficiências... É um passo a mais
À espera de adoção
                                                        nessa conscientização”, constata Miriam.
   Instalada em uma chácara em Piracicaba (SP), a
                                                           Com tantos animais idosos, a ONG con-
ONG Vira-Lata Vira-Vida foi criada em 2009, pela
                                                        tou com a ajuda de duas construtoras que
designer Miriam Miranda, que tomou conhecimen-          doaram mão de obra e material para a cons-
to de um local onde viviam 540 cães abandonados.        trução de um asilo. “Estamos muito empol-
Devido às dificuldades da dona do imóvel em manter      gados com a ideia do asilo, que vai garantir
os animais, Miriam não pensou duas vezes e fundou       mais conforto e segurança aos cães idosos.”
a ONG, com a realização de uma campanha que arre-          Entre os cães que esperam por um lar
cadou 23 toneladas de ração.                            estão Sarampo, que tem uma deficiência
   Com a alimentação garantida, o segundo passo         na pata devido à cinomose (uma infecção
foi equipar um ambulatório e contratar uma vete-        viral comum em cães), e Caverna, que teve
rinária para cuidar da saúde dos animais, que es-       a pata amputada em um acidente com um
tava muito debilitada.                                  cortador de grama. >

                                                                          revista incluir • março /abril 201
                                                                                                           1   61
Sirlândia Pires com Many                      Fabiana Barbosa com Laís       Mayara Rodrigues com Teka




         Ainda de acordo com Miriam, a ONG precisa de            cial, é bem levada também. Tenho outras
      5 toneladas de ração por mês e é mantida com a ajuda       duas cadelas em casa e todas elas convivem
      de doações espontâneas, eventos e venda de produ-          muito bem e adoram brincar. Nas corridas,
      tos como bolsas e camisetas, disponíveis no site. Há       a Laís sempre ganha das outras”, conta.
      também um programa de adoção a distância, no qual             Fabiana garante ainda que, por ser saudá-
      a pessoa contribui mensalmente e o animal fica no          vel, Laís não precisa de cuidados especiais.
      abrigo, podendo visitá-lo quando quiser.                      Moradora de Paraisópolis, a auxiliar de
         Sensibilizada com a falta de interesse das pessoas      serviços gerais Mayara Esperança Rodri-
      pelos animais com deficiência, Miriam lançou, no final     gues, 28 anos, conhece a ONG desde crian-
      de 2010, a campanha Cães especiais – Pessoas legais.       ça. Em 2007, descobriu que seu filho tinha
         Os interessados em adotar podem agendar uma             dificuldade para andar e, por sugestão de
                                                                 um amigo, decidiu adotar um animal que
      visita para conhecer os animais, ou ainda, escolher
                                                                 pudesse incentivá-lo a se locomover. Aca-
      o cão pelo site. Após a escolha, o cão é submetido
                                                                 bou sendo escolhida por Teka, que tem
      a um exame para avaliar sua condição. Também é
                                                                 uma das patas dianteiras amputadas. “Ela
      necessário que seja assinado um termo de adoção,
                                                                 veio fazer festa, é bem elétrica e espontâ-
      que permite as visitas de integrantes da ONG para
                                                                 nea. Eu pensei... mas ela tem deficiência,
      conhecer as condições de adaptação do animal. Caso
                                                                 será que vai conseguir? Em pouco tempo
      o adotante tenha outros bichos em casa, é oferecido
                                                                 meu filho começou a andar e hoje eles se
      o apoio de uma psicóloga para orientar a integração
                                                                 divertem juntos”, constata Mayara.
      entre os animais.                                             Foi por meio da Internet que a secre-
                                                                 tária Sirlândia Pires de Oliveira, 47 anos,
      Amor sem limites                                           conheceu a Aila, e decidiu fazer uma visita.
         A balconista Fabiana Barbosa, 40 anos, conheceu         Lá conheceu Many, que tem visão limita-
      Laís em um evento da Aila, e não se importou com o         da e uma deficiência nas patas traseiras,
      fato da cadela ter uma pata amputada. “Quando a vi,        e decidiu ficar com ele porque achou que
      me apaixonei. Ela é uma cadela muito bonita, espe-         ninguém iria adotá-lo. “Ele tem persona-

62   revista incluir • março/abril 201
                                     1
lidade própria, se vira para comer, beber e fazer as        check-up anual a partir dos 8 anos, vacina-
necessidades, não precisa de ajuda para nada. Só vai        ção em dia e alimentação adequada.
ao veterinário para receber as vacinas”, diz Sirlândia.       Roberto diz que uma mudança na dieta
   Para ela, todos têm o dever de proteger esses ani-       pode fazer a diferença: “Hoje há no mercado
mais: “Eles precisam de nós assim como o ser humano.        rações específicas para animais idosos, com
O que eu aprendi é que se você está deprimido com al-       problemas cardíacos, renais. Com isso você
guma coisa, é só olhar e brincar com ele que tudo passa”.   pode poupá-lo de uma futura lesão”.
                                                              Segundo ele, novos estudos indicam que
Cuidados para uma vida melhor                               a castração de fêmeas antes do primeiro cio
   Cães saudáveis, com ou sem deficiências, vivem 15        pode impedir a futura formação de tumo-
anos, em média. Para o veterinário Roberto de Lacer-        res, uma vez que a venda de anticoncepcio-
da Russo, da Aila, cada animal precisa de atenção es-       nais sem orientação é perigosa, pois estes
pecífica. “Um animal que sofreu lesões na coluna, por       são aplicados em doses e idades erradas,
exemplo, poderá ter dificuldades para se locomover          hormônios que podem gerar infecções ute-
com os membros posteriores e começará a rastejar;           rinas e uma série de problemas.
por isso, um local plano, com piso de pouco atrito,           Os veterinários são unânimes quando
pode contribuir para evitar a formação de escaras,          falam sobre a maior satisfação que têm em
bem como o uso de cadeirinha de rodas, que deve ser         seu trabalho: a cura de animais que chega-
usada com restrições, para evitar cansar o animal.”         ram até eles, muitas vezes em péssima situ-
   Em caso de deficiência visual, se o animal viver         ação, e que hoje estão recuperados.
sempre no mesmo ambiente, irá se familiarizar com             “Eu tenho uma cumplicidade muito
os obstáculos e utilizará a audição para detectá-los,       grande com os animais. O carinho que
mas precauções simples, como a instalação de barrei-        eles nos dão, independente das circuns-
ras, podem ajudar.                                          tâncias, é incondicional, e isso é o que
   Os passeios são recomendados de acordo com as            faz com que lutemos a cada dia mais por
limitações, assim como a separação na hora da ali-          eles”, afirma o médico.
mentação, para evitar competições e brigas se houver
outros animais na casa.
   Luciana Felício, veterinária da ONG Vira-Lata
                                                              Serviços:
Vira-Vida, afirma que o envelhecimento pesa mais              Aliança Internacional do Animal (Aila)
do que a deficiência na questão da manutenção.                Tel: (11) 3749-9996 / 3749-0800
“A maior parte das deficiências não vai resultar em           www.aila.org.br
grandes problemas. O que leva a problemas é o fator
idade, não a deficiência em si.”                              ONG Vira-Lata Vira-Vida
   Animais idosos estão mais propensos a ter falên-           Tel: (19) 9831-1929
cias de órgãos, principalmente problemas renais, car-         www.viralataviravida.org.br
díacos e hepáticos (no fígado). Recomenda-se então

                                                                             revista incluir • março /abril 201
                                                                                                              1   63

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Revista incluir 10 especial

  • 1. especial Por: Hevlyn Celso / Colaboração: Julliana Reis Fotos: Reinaldo Borges Adoção de PETS ESPECIAIS ONGS QUE SE DEDICAM AO CUIDADO DE ANIMAIS ABANDONADOS PROMOVEM A DOAÇÃO DE CÃES E GATOS COM DEFICIÊNCIA É difícil não se apaixonar por um bi- chinho de estimação que, com seu olhar terno, pede para ser adota- do. Às vezes, a conquista é imediata, mas nem todos têm a mesma sorte. Animais idosos ou com deficiências são os que mais têm dificuldade de serem aceitos. Entre- tanto, algumas associações lutam para mudar essa realidade. Fundada em 1999 por Ila Franco Bick, a Aliança Internacional do Animal (Aila) surgiu quando a empresária viu um cão aban- donado levar um chute que o fez perder um dente. Choca- da, ela adotou o animal, que se tornou mascote da associa- ção, instalada na comunidade de Paraisópolis, bairro de São Paulo (SP). Roberto Russo com o cão Alê Além de idoso, Fluffy – o cão em e Ila Franco com Pitoco questão – perdeu a visão, a audição e so- fre de insuficiência renal, mas vive feliz, 60 revista incluir • março/abril 201 1
  • 2. sempre acompanhado de sua protetora, que não mede esforços para garantir o bem-estar do animal. A Aila, que iniciou as atividades com apenas dois funcionários, atualmente conta com 37 colaboradores e abriga mais de mil animais – sendo que sete deles têm alguma deficiência –, que são mantidos com a ajuda de alguns patro- cinadores, entre eles, fabricantes de ração e medica- mentos veterinários. Mas os desafios são muitos, e novos patrocina- dores e sócios mantenedores são necessários, assim como um novo ponto de adoção de animais (recen- temente, a ONG perdeu o ponto que mantinha há dez anos). Agora a adoção é feita diretamente na Luciana Felício com Pina e Miriam Miranda sede, pelo site ou em eventos. com Zoinho. No destaque, Sarampo, Zoinho, De acordo com a fundadora da Aila, os animais Lulu e Caverna são tratados, vermifugados e esterilizados antes de serem disponibilizados para adoção, que é monito- Atualmente, no local vivem 420 cães, rada por meio de visitas ao novo lar do animal para sendo que cerca de 200 deles são idosos e acompanhamento da adaptação. outros 30 possuem alguma deficiência. “A Entre os animais com deficiência para adoção gente sempre fala que o animal é que adota estão os vira-latas Alê, que usa cadeirinha de rodas o dono e não o contrário. Uma coisa, que já para se locomover, e Pitoco, que tem deficiência nas está sendo quebrada, é a adoção do animal de rua. Outra coisa é a pessoa vir, adotar patas traseiras. o animal abandonado, maltratado, com se- quelas e deficiências... É um passo a mais À espera de adoção nessa conscientização”, constata Miriam. Instalada em uma chácara em Piracicaba (SP), a Com tantos animais idosos, a ONG con- ONG Vira-Lata Vira-Vida foi criada em 2009, pela tou com a ajuda de duas construtoras que designer Miriam Miranda, que tomou conhecimen- doaram mão de obra e material para a cons- to de um local onde viviam 540 cães abandonados. trução de um asilo. “Estamos muito empol- Devido às dificuldades da dona do imóvel em manter gados com a ideia do asilo, que vai garantir os animais, Miriam não pensou duas vezes e fundou mais conforto e segurança aos cães idosos.” a ONG, com a realização de uma campanha que arre- Entre os cães que esperam por um lar cadou 23 toneladas de ração. estão Sarampo, que tem uma deficiência Com a alimentação garantida, o segundo passo na pata devido à cinomose (uma infecção foi equipar um ambulatório e contratar uma vete- viral comum em cães), e Caverna, que teve rinária para cuidar da saúde dos animais, que es- a pata amputada em um acidente com um tava muito debilitada. cortador de grama. > revista incluir • março /abril 201 1 61
  • 3. Sirlândia Pires com Many Fabiana Barbosa com Laís Mayara Rodrigues com Teka Ainda de acordo com Miriam, a ONG precisa de cial, é bem levada também. Tenho outras 5 toneladas de ração por mês e é mantida com a ajuda duas cadelas em casa e todas elas convivem de doações espontâneas, eventos e venda de produ- muito bem e adoram brincar. Nas corridas, tos como bolsas e camisetas, disponíveis no site. Há a Laís sempre ganha das outras”, conta. também um programa de adoção a distância, no qual Fabiana garante ainda que, por ser saudá- a pessoa contribui mensalmente e o animal fica no vel, Laís não precisa de cuidados especiais. abrigo, podendo visitá-lo quando quiser. Moradora de Paraisópolis, a auxiliar de Sensibilizada com a falta de interesse das pessoas serviços gerais Mayara Esperança Rodri- pelos animais com deficiência, Miriam lançou, no final gues, 28 anos, conhece a ONG desde crian- de 2010, a campanha Cães especiais – Pessoas legais. ça. Em 2007, descobriu que seu filho tinha Os interessados em adotar podem agendar uma dificuldade para andar e, por sugestão de um amigo, decidiu adotar um animal que visita para conhecer os animais, ou ainda, escolher pudesse incentivá-lo a se locomover. Aca- o cão pelo site. Após a escolha, o cão é submetido bou sendo escolhida por Teka, que tem a um exame para avaliar sua condição. Também é uma das patas dianteiras amputadas. “Ela necessário que seja assinado um termo de adoção, veio fazer festa, é bem elétrica e espontâ- que permite as visitas de integrantes da ONG para nea. Eu pensei... mas ela tem deficiência, conhecer as condições de adaptação do animal. Caso será que vai conseguir? Em pouco tempo o adotante tenha outros bichos em casa, é oferecido meu filho começou a andar e hoje eles se o apoio de uma psicóloga para orientar a integração divertem juntos”, constata Mayara. entre os animais. Foi por meio da Internet que a secre- tária Sirlândia Pires de Oliveira, 47 anos, Amor sem limites conheceu a Aila, e decidiu fazer uma visita. A balconista Fabiana Barbosa, 40 anos, conheceu Lá conheceu Many, que tem visão limita- Laís em um evento da Aila, e não se importou com o da e uma deficiência nas patas traseiras, fato da cadela ter uma pata amputada. “Quando a vi, e decidiu ficar com ele porque achou que me apaixonei. Ela é uma cadela muito bonita, espe- ninguém iria adotá-lo. “Ele tem persona- 62 revista incluir • março/abril 201 1
  • 4. lidade própria, se vira para comer, beber e fazer as check-up anual a partir dos 8 anos, vacina- necessidades, não precisa de ajuda para nada. Só vai ção em dia e alimentação adequada. ao veterinário para receber as vacinas”, diz Sirlândia. Roberto diz que uma mudança na dieta Para ela, todos têm o dever de proteger esses ani- pode fazer a diferença: “Hoje há no mercado mais: “Eles precisam de nós assim como o ser humano. rações específicas para animais idosos, com O que eu aprendi é que se você está deprimido com al- problemas cardíacos, renais. Com isso você guma coisa, é só olhar e brincar com ele que tudo passa”. pode poupá-lo de uma futura lesão”. Segundo ele, novos estudos indicam que Cuidados para uma vida melhor a castração de fêmeas antes do primeiro cio Cães saudáveis, com ou sem deficiências, vivem 15 pode impedir a futura formação de tumo- anos, em média. Para o veterinário Roberto de Lacer- res, uma vez que a venda de anticoncepcio- da Russo, da Aila, cada animal precisa de atenção es- nais sem orientação é perigosa, pois estes pecífica. “Um animal que sofreu lesões na coluna, por são aplicados em doses e idades erradas, exemplo, poderá ter dificuldades para se locomover hormônios que podem gerar infecções ute- com os membros posteriores e começará a rastejar; rinas e uma série de problemas. por isso, um local plano, com piso de pouco atrito, Os veterinários são unânimes quando pode contribuir para evitar a formação de escaras, falam sobre a maior satisfação que têm em bem como o uso de cadeirinha de rodas, que deve ser seu trabalho: a cura de animais que chega- usada com restrições, para evitar cansar o animal.” ram até eles, muitas vezes em péssima situ- Em caso de deficiência visual, se o animal viver ação, e que hoje estão recuperados. sempre no mesmo ambiente, irá se familiarizar com “Eu tenho uma cumplicidade muito os obstáculos e utilizará a audição para detectá-los, grande com os animais. O carinho que mas precauções simples, como a instalação de barrei- eles nos dão, independente das circuns- ras, podem ajudar. tâncias, é incondicional, e isso é o que Os passeios são recomendados de acordo com as faz com que lutemos a cada dia mais por limitações, assim como a separação na hora da ali- eles”, afirma o médico. mentação, para evitar competições e brigas se houver outros animais na casa. Luciana Felício, veterinária da ONG Vira-Lata Serviços: Vira-Vida, afirma que o envelhecimento pesa mais Aliança Internacional do Animal (Aila) do que a deficiência na questão da manutenção. Tel: (11) 3749-9996 / 3749-0800 “A maior parte das deficiências não vai resultar em www.aila.org.br grandes problemas. O que leva a problemas é o fator idade, não a deficiência em si.” ONG Vira-Lata Vira-Vida Animais idosos estão mais propensos a ter falên- Tel: (19) 9831-1929 cias de órgãos, principalmente problemas renais, car- www.viralataviravida.org.br díacos e hepáticos (no fígado). Recomenda-se então revista incluir • março /abril 201 1 63