Roteiro para Criação de Unidades de Conservação Municipais
Recursos naturais do Acre: geologia, geomorfologia e solos
1.
2. Rio Branco ‑ Acre
2010
Livro Temático II
RECURSOS NATURAIS I: GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA E SOLOS DO ACRE
ZONEAMENTO ECOLÓGICO‑ECONÔMICO DO ACRE FASE II
ESCALA 1:250.000
Secretaria de Estado de Meio Ambiente
Programa Estadual de Zoneamento Ecológico‑Econômico do Acre
4. Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Carlos Minc Baumfeld
Ministro do Meio Ambiente
Arnóbio Marques de Almeida Júnior
Governador do Estado do Acre
Carlos César Correia de Messias
Vice‑Governador
Gilberto do Carmo Lopes Siqueira
Secretário de Estado de Planejamento
Eufran Ferreira do Amaral
Secretário de Estado de Meio Ambiente
Cleísa Brasil da Cunha Cartaxo
Diretora‑Presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre
Felismar Mesquita Moreira
Diretor‑Presidente do Instituto de Terras do Acre
Carlos Ovídio Duarte da Rocha
Secretário de Estado de Floresta
Nilton Luiz Cosson Mota
Secretário de Estado de Extensão Agroflorestal
e Produção Familiar
Mauro Jorge Ribeiro
Secretário de Estado de Agropecuária
João César Dotto
Diretor‑Presidente da Fundação de Tecnologia
do Estado do Acre
Roberto Barros dos Santos
Procurador Geral do Estado
Maria Corrêa da Silva
Secretária de Estado de Educação
Osvaldo de Souza Leal Júnior
Secretário de Estado de Saúde
Mâncio Lima Cordeiro
Secretário de Estado de Fazenda
Márcia Regina de Sousa Pereira
Secretária de Estado de Justiça e Segurança Pública
Marcus Alexandre Médice Aguiar
Diretor‑Geral do Departamento Estadual de Estradas de
Rodagem, Hidrovias e Infra‑Estrutura Aeroportuária
Paulo Roberto Viana de Araújo
Diretor‑Presidente Instituto de Defesa
Agropecuaria e Florestal
Cassiano Figueira Marques de Oliveira
Secretário de Estado de Esporte, Turismo e Lazer
Aníbal Diniz
Secretário de Estado de Comunicação
Eduardo Nunes Vieira
Secretário de Infraestrutura, Obras Públicas e Habitação
Petrônio Aparecido Chaves Antunes
Diretor do Departamento de Águas e Saneamento
Laura Keiko Sakai Okamura
Secretária de Estado de Desenvolvimento
para Segurança Social
Daniel Queiroz de Sant’ana
Diretor‑Presidente da Fundação de Cultura e Comunicação
Elias Mansour
Mâncio Lima Cordeiro
Secretário de Estado de Gestão Administrativa
Ilmara Rodrigues Lima
Diretora‑Presidente da Companhia de Habitação do Acre
Carlos Alberto Ferreira de Araújo
Secretário de Estado de Articulação Institucional
Irailton Lima de Souza
Diretor‑Presidente do Instituto Estadual de
Desenvolvimento de Educação Profissional
Dom Moacir Grechi
Fábio Vaz de Lima
Secretário de Estado de Governo
Francisco da Silva Pinhanta
Assessor Especial dos Povos Indígenas
5. Comissão Editorial
Presidente: Eufran Ferreira do Amaral ‑ SEMA
Vice‑Presidente: Edson Alves de Araújo ‑ SEMA/SEAP
Membros
Adriano Alex do Santos e Rosário ‑ SEMA
Antônio Wilian Flores de Melo ‑ UFAC
Átila de Araújo Magalhães ‑ SEMA
Carlos Edegard de Deus ‑ Biblioteca da Floresta
Claudenir Maria Ferreira da Rocha ‑ SEMA
Conceição Marques de Souza ‑ SEMA
Jakeline Bezerra Pinheiro ‑ SEMA
Janaina Silva de Almeida ‑ SEMA
Judson Ferreira Valentim ‑ EMBRAPA‑Acre
Jurandir Pinheiro de Oliveira Filho ‑ SEMA
Magaly da Fonseca S. T. Medeiros ‑ SEPLAN/EAB
Maria Aparecida de O. Azevedo Lopes ‑ SEMA
Marília Lima Guerreiro ‑ SEMA
Marta Nogueiro de Azevedo ‑ SEMA
Mónica Julissa De Los Rios de Leal ‑ SEMA
Nilson Gomes Bardales ‑ SEMA
Renata Gomes de Abreu ‑ SEMA
Roberto de Alcântara Tavares ‑ SEMA
Rosana Cavalcante dos Santos ‑ SEMA
Sara Maria Viana Melo ‑ SEMA
Revisores
GEOLOGIA DO ESTADO DO ACRE
Pedro Edson Leal Bezerra, Dr. em Geologia | UFPA
Adriano Alex Santos e Rosário, Engº Agrônomo | SEMA
‑ Revisão Técnica
GEOMORFOLOGIA DO ESTADO DO ACRE
Carlos Ernesto G. R. Schaefer, Dr. em Solos e Nutrição
de Plantas | UFV
José Eduardo Bezerra da Silva, Me. Geografia | IBGE/RJ
Adriano Alex Santos e Rosário, Engº Agrônomo | SEMA
‑ Revisão Técnica
BASES GEOLÓGICAS E GEOMORFOLÓGICAS DA
FORMAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DOS SOLOS NO ESTADO
DO ACRE
Paulo Guilherme Salvador Wadt, Dr. em Solos e Nutrição
de Plantas | Embrapa‑Acre
Luciana Mendes Cavalcante, Me. em Geologia
e Geoquímica | PETROBRÁS
Adriano Alex Santos e Rosário, Engº Agrônomo | SEMA
‑ Revisão Técnica
FORMAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
GEOGRÁFICA DOS SOLOS DO ACRE
José Ribamar Torres da Silva, Dr. em Ciências
do Solo | UFAC
João Luiz Lani, Dr. em Solos e Nutrição de Plantas | UFV
Paulo Emílio Ferreira da Motta, Dr. em Ciências do Solo |
EMBRAPA‑Solos
Manuel Alves Ribeiro Neto, Me. em Ciências do Solo | UFAC
João Martiniano Pereira, Me. em Solos | Embrapa‑Acre
Adriano Alex Santos e Rosário, Engº Agrônomo | SEMA
‑ Revisão Técnica
Diagramação e Arte Final
MX Design
Impressão
Gráfica Imediata
6. O Zoneamento Ecológico‑Econômico
(ZEE) tem como atribuição fornecer subsí‑
dios para orientar as políticas públicas re‑
lacionadas ao planejamento, uso e ocupação
do território, considerando as potencialida‑
des e limitações do meio físico, biótico e so‑
cioeconômico, tendo como eixo norteador os
princípios do Desenvolvimento Sustentável.
É uma ferramenta essencial para a definição
de estratégias compartilhadas de gestão do
território entre governo e sociedade.
No território acreano, a elaboração par‑
ticipativa do ZEE envolveu estudos sobre
sistemas ambientais, potencialidades e limi‑
tações para o uso sustentável dos recursos
naturais, relações entre a sociedade e o meio
ambiente e identificação de cenários, de
modo a subsidiar a gestão do território no
presente e no futuro, num grande pacto de
construção da sustentabilidade a partir de
uma economia de base florestal com foco na
melhoria de qualidade de vida da população.
O Zoneamento Ecológico‑Econômico do
Acre Fase II – Escala 1:250.000 foi elabora‑
do a partir da contribuição de inúmeros es‑
pecialistas, em diferentes campos do conhe‑
cimento cujos subsídios foram incorporados
ao Documento Síntese. São estudos inéditos,
elaborados especificamente para subsidiar
nas decisões a serem tomadas sobre o ter‑
ritório do Acre.
Tornar acessíveis, na íntegra, os estudos
temáticos do ZEE é o objetivo da Coleção do
ZEE Fase II. O tema interessa não somente
àqueles que estudam a realidade acreana
ou amazônica, mas também aos que vêem o
zoneamento como instrumento estratégico
primordial de ordenamento do espaço, dos
recursos e das atividades econômicas.
Apresentação
Geral
A presente Coleção do ZEE Fase II é di‑
vidida em Livros Temáticos, compostos de
vários artigos específicos que permitem a
visão de temas como: Concepção filosófica
e metodológica da construção do ZEE; Geo‑
logia, geomorfologia e Solos do Acre; A bio‑
diversidade do Acre; Os ambientes do Acre
e a Vulnerabilidade Ambiental; Situação
Fundiária e Conflitos; Aspectos socioeconô‑
micos; Uso dos Recursos Naturais; Memória,
Identidades e Territorialidade; As Cidades e
as fronteiras; Aspectos Político e Institucio‑
nal e a percepção social; A Gestão Territorial
do Acre e outros temas a serem inseridos no
decorrer do processo de implementação do
ZEE, se mostrando uma coleção aberta para
novas atualizações e temas.
Com essa iniciativa o Governo do Estado
do Acre busca reafirmar seu compromisso
com um futuro do Acre e da Amazônia, cons‑
truído por todos e pautado no conhecimen‑
to da realidade, no planejamento das ações
e na permanente ampliação dos benefícios
do desenvolvimento sustentável para toda a
sociedade. É a Florestania que vai além da
cidadania dos povos da floresta. É o embasa‑
mento cultural de um projeto de desenvol‑
vimento sustentável que deseja colaborar e
ter a cooperação de parceiros para constru‑
ção da Sociedade do Século XXI.
É uma pequena contribuição de quem
está vencendo uma realidade desfavorável
de conservar a floresta e criar esperança
para seus povos. Muito ainda há por se fazer
neste varadouro da sustentabilidade, porém
o conhecimento do território é a base para
tornar realidade o sonho de viver em um
mundo sustentável.
7. Sumário
Capítulo 1. Geologia do Estado do Acre......................................................................14
1. Introdução................................................................................................................... 14
2. Descrição Metodológica............................................................................................ 14
2. 1. Material Utilizado....................................................................................... 14
2. 2. Estudos Preliminares.................................................................................. 15
2. 3. 2.3 Estudo Temático.................................................................................. 15
3. Geologia do Acre........................................................................................................ 15
4. A Geologia nas Regionais do Acre............................................................................ 23
5. Potencialidades de Uso e Aplicação......................................................................... 29
6. Neotectônica no Acre................................................................................................ 32
Capítulo 2. Geomorfologia do Estado do Acre.............................................................36
7. Introdução................................................................................................................... 36
8. Descrição Metodológica............................................................................................ 36
8. 1. Material Utilizado....................................................................................... 36
8. 2. Estudos Preliminares.................................................................................. 37
8. 3. Estudo Temático......................................................................................... 37
8. 4. FundamentaçãoTeórica............................................................................. 37
9. Geomorfologia da Área............................................................................................. 38
10. A Geomorfologia nas Regionais do Acre.............................................................. 43
Capítulo 3. Bases Geológicas e Geomorfológicas da Formação e Distribuição dos Solos no
Estado do Acre........................................................................................48
11. Introdução................................................................................................................. 48
12. O Papel da Geotectônica do Acre na Formação dos Solos............................... 49
13. O Papel da Geotectônica do Acre na Formação dos Solos............................... 60
Capítulo 4. Formação, Classificação e Distribuição Geográfica dos Solos do Acre..........68
14. Gênese dos Solos do Acre....................................................................................... 68
15. Principais Classes de Solos....................................................................................... 69
Referência.................................................................................................................96
Bibliografia............................................................................................................. 106
8. Lista de Figuras
Figura 01. Localização da Bacia do Acre no contexto geotectônico amazônico. (1) a ‑ Formação Solimões, b ‑ sedimentos
terciários; (2) Formação Içá; (3) Formação Alter do Chão; (4) coberturas proterozóicas; (5) rochas paleozóicas;
(6) coberturas do Quaternário. Fonte: Adaptado de Bezerra, 2003......................................................................... 16
Figura 02. Mapa geológico do Estado do Acre com unidades litoestratigráficas aflorantes (o Sienito República, a Formação
Formosa e o Complexo Jamari não são visualizados nessa escala). Fonte: ZEE/Acre............................................ 19
Figura 08. Figura 8. Padrão meândrico típico da planície amazônica, ao longo do Rio Juruá, oeste do Acre. Na parte supe‑
rior da figura, a cidade de Cruzeiro do Sul. Fonte: Google Earth, 1999.................................................................... 38
Figura 09. Relevo colinoso de dissecação convexa de baixa amplitude nas imediações de Rio Branco................................. 40
Figura 10. Relevo colinoso de média amplitude com dissecação aguçada e convexa localizado na BR‑364, no trecho entre
Feijó e Tarauacá.................................................................................................................................................................. 41
Figura 11. Relevo característico da Depressão Marginal à Serra do Divisor. Ao fundo da figura nota‑se relevos do Planalto
Residual da Serra do Divisor............................................................................................................................................. 42
Figura 12. Superfície Tabular de Cruzeiro do Sul em contato com o rio Juruá. Sede do Município de Rodrigues Alves..... 42
Figura 13. Ponto de inserção do Rio Moa na serra homônima..................................................................................................... 43
Figura 14. Localização da Bacia do Acre (hachuras) no contexto geológico da Amazônia. Fonte: Modificado de Cavalcan‑
te, 2006................................................................................................................................................................................ 49
Figura 15. Vista aérea do ponto de inserção do rio Moa, seguindo as falhas, em área de domínio montanhoso no extremo
oeste do Estado do Acre. Fonte: Eufran Ferreira do Amaral...................................................................................... 50
Figura 16. Contexto geotectônico do Acre na Bacia Amazônica. Fonte: Modificado de Cavalcante, 2006.......................... 51
Figura 17. Evolução da paisagem da região da bacia do Acre. As feições de paisagem são indicadas pelas fases em seqüên‑
cia. A Fase 4 mostra o Oceano Pacífico, no extremo oeste, a Cordilheira dos Andes, ao centro e a paisagem que
predomina no sudeste acreano. No extremo leste pode‑se observar os primeiros dobramentos, que correspon‑
dem a Serra do Divisor, no Estado do Acre................................................................................................................... 53
Figura 18. Contexto geotectônico do Acre na Bacia Amazônica. Fonte: Modificado de Cavalcante, 2006.......................... 53
Figura 19. Reconstrução do lago Amazonas. Fonte: Baseado nas informações de Frailey, et al. (1988) e em um Modelo
Digital de Elevação Hidrologicamente Corrigido do projeto SIVAM (SIF/SIVAM, 2003)......................................... 54
Figura 20. Gipisita (1,2 metros de profunfidade) localizada após o rio Caeté no Município de Sena Madureira às margens
da BR‑364. Fonte: Eufran Ferreira do Amaral............................................................................................................... 55
Figura 21. Distribuição da zona sismogência de Cruzeiro do Sul, com os limites do Estado do Acre (linha preta) e identifi‑
cação dos epicentros (círculos vermelhos). Fonte: Adaptado de IBGE, 2006.......................................................... 60
Figura 22. Paisagem atual da bacia do Acre com a cordilheira dos Andes a oeste. Fonte: Imagem de satélite Landsat,
2002...................................................................................................................................................................................... 61
Figura 23. Compartimentação geotectônica do Estado do Acre baseada nas evidencias atuais e sua distribuição em rela‑
ção à cobertura pedológica.............................................................................................................................................. 62
Figura 24. Modelo proposto de compartimentos neotectônicos e pedológicos da bacia do Acre nos limites do Estado do
Acre....................................................................................................................................................................................... 63
Figura 25. Corte altimétrico da Serra do Divisor ao município de Acrelândia no Estado do Acre, indicando os blocos pe‑
dológicos e neotectônicos................................................................................................................................................ 65
Figura 26. Mapa de solos em nível de ordem do Estado do Acre................................................................................................. 71
Figura 27. Perfil modal de Argissolos no estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com a indicação dos horizon‑
tes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C) Paisagem de ocorrência. (D) Localização
no estado do Acre.............................................................................................................................................................. 73
9. Figura 28. Perfil modal de Cambissolo no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com a indicação dos horizon‑
tes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C) Paisagem de ocorrência. (D) Localização
no Estado do Acre.............................................................................................................................................................. 78
Figura 29. Perfil modal de Plintossolo no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com a indicação dos horizon‑
tes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C) Paisagem de ocorrência. (D) Localização
no Estado do Acre.............................................................................................................................................................. 80
Figura 30. Perfil modal de Latossolo no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com a indicação dos horizon‑
tes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C) Paisagem de ocorrência. (D) Localização
no Estado do Acre.............................................................................................................................................................. 81
Figura 31. Perfil modal de Luvissolo no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com a indicação dos horizontes.
(B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C) Paisagem de ocorrência. (D) Localização no
Estado do Acre.................................................................................................................................................................... 84
Figura 32. Perfil modal de Gleissolo no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com a indicação dos horizontes.
(B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C) Paisagem de ocorrência. (D) Localização no
Estado do Acre.................................................................................................................................................................... 87
Figura 33. Perfil modal de Neossolo Flúvico no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com a indicação dos
horizontes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C) Paisagem de ocorrência. (D) Lo‑
calização no Estado do Acre............................................................................................................................................. 90
Figura 34. Perfil modal de Vertissolo no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com a indicação dos horizon‑
tes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C) Paisagem de ocorrência. (D) Localização
no Estado do Acre.............................................................................................................................................................. 92
Lista de Tabelas
Tabela 01. Área ocupada pelas diferentes formações geológicas nas regionais do Estado do Acre. *área em Km² ** não
ocorre................................................................................................................................................................................... 24
Tabela 02. Área ocupada pelas diferentes unidades geomorfológicas nas regionais do estado do Acre. Área aproximada em
Km² ** não ocorre............................................................................................................................................................. 44
Tabela 03. Expressão geográfica e distribuição relativa de classes de solos no nível de subordem no Estado do Acre, de
acordo com o mapa de solos na escala de 1:250.000 do ZEE Fase II. Fonte: ACRE, 2006. * Desconsiderando a
área referente à água. Fonte: Amaral et al. (2006)...................................................................................................... 70
Tabela 04. Expressão geográfica e distribuição relativa de classes de solos no nível de ordem no Estado do Acre, de acordo
com o mapa de solos na escala de 1:250.000 do ZEE Fase II. Fonte: ACRE, 2006. * Desconsiderando a área
referente à água. Fonte: Amaral et al. (2006)............................................................................................................... 71
Tabela 05. Atributos físicos e químicos de horizontes superficiais e subsuperficiais de Argissolos Amarelos (PA) e
ArgissolosVermelho‑Amarelos (PVA), do Estado do Acre. Fontes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999);
Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) & Bardales (2005). Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a
partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados................................................................................... 75
Tabela 06. Atributos físicos e químicos de horizontes superficiais e subsuperficiais de Cambissolos do Estado do Acre. Fon‑
tes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) & Bardales (2005).
Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados.....
77
Tabela 07. Atributos físicos e químicos de horizontes superficiais e subsuperficiais de Plintossolos do Estado do Acre. Fon‑
tes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) & Bardales (2005).
Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados.....
80
Tabela 08. Atributos físicos e químicos dos horizontes superficiais e sub‑superficiais de Latossolos do Estado do Acre. Fon‑
tes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) & Bardales (2005).
10. Lista de Quadros
Quadro 01. Materiais utilizados neste trabalho. Fonte: *Inpe, 2006; **Radambrasil, 1976....................................................... 15
Quadro 02. Coluna Estratigráfica das unidades florantes no Estado do Acre. Fonte: IBGE, 1999............................................. 18
Quadro 03. Materiais utilizados neste trabalho. Fonte: Inpe, 2006* e Radambrasil**, 1976..................................................... 37
Quadro 04. Coluna dos principais eventos da evolução da paisagem das bacias dos rios Acre e Iaco...................................... 57
Quadro 05. Eras geológicas, períodos, relação com o ano, época, formação, litologias e principais eventos na bacia do Acre.....59
Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados.....
82
Tabela 09. Atributos físicos e químicos de horizontes superficiais e sub‑superficiais de Luvissolos, no Estado do Acre. Fon‑
tes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) & Bardales (2005).
Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados.....
85
Tabela 10. Atributos físicos e químicos de horizontes superficiais e sub‑superficiais de Gleissolos do Estado do Acre. Fontes:
Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) & Bardales (2005). Obs.:
Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados........... 88
Tabela 11. Atributos físicos e químicos de horizontes superficiais e sub‑superficiais de Neossolos Flúvicos e Quartzarênicos
do Estado do Acre. Fontes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo
(2003) & Bardales (2005). Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos
autores acima citados........................................................................................................................................................ 91
Tabela 12. Atributos físicos e químicos de horizontes superficiais e sub‑superficiais de Vertissolos Háplicos e Hidromórficos,
do Estado do Acre. Fontes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo
(2003) & Bardales (2005). Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos
autores acima citados........................................................................................................................................................ 93
11.
12. O uso adequado dos recursos naturais de
forma sustentável não pode e nem deve ser
mais um sonho efêmero e passageiro. Tem
que ser real em razão de se garantir a pró‑
pria existência da raça humana. Os recursos
naturais não podem ser, na visão financista,
simplesmente um dos fatores de enrique‑
cimento e de uso infinito. Eles são, na sua
maioria, finitos, vivos, interdependentes e
carecem de cuidados de forma a serem utili‑
zados com sabedoria. Nos dizeres da ordem
divina referentes a Adão e Eva: é preciso
cuidar, amar e não destruir o que nos foi le‑
gado e se agirmos de maneira irresponsável
seremos expulsos, como aqueles, do “paraí‑
so”. Foi a primeira missão dada ao homem.
Cuidar da Terra.
Conscientes disso e desejando tornar re‑
alidade nossos sonhos, sabemos que é pre‑
ciso AGIR, com temor e de forma sensata
e sábia. Lavrar e guardar a terra. Usar de
forma que atenda as nossas necessidades,
mas também, que permaneça para os outros
‑ sustentabilidade. Mas como cuidar bem e
adequadamente se não conhecemos os prin‑
cípios, as inter‑relações da natureza de for‑
ma que possamos planejar as ações adequa‑
das? Não podemos mais nos aventurar ou
como dizem: “atirar no escuro”. Não há mais
tempo para erros grosseiros ou irresponsa‑
bilidades, até porque os recursos naturais
estão cada vez mais escassos e o tempo de
agir se esvai apressadamente.
Diante desses desafios a serem enfrenta‑
dos para o bem da humanidade o Governo
do Acre num esforço integrado, amadureci‑
do e com todo o respeito à natureza e acima
de tudo com o desejo de acertar, disponibi‑
liza a sociedade esta coleção temática que
faz parte dos produtos oriundos dos estudos
do PROGRAMA ESTADUAL DE ZONEAMEN‑
TO ECOLÓGICO‑ECONÔMICO DO ACRE –
FASE II. O objetivo é trazer à sociedade os
conhecimentos atuais a respeito do Acre
para o seu melhor uso. Terra amazônica, dis‑
tante dos grandes centros brasileiros, dife‑
rente, com gente valente, altaneira, vibrante
e disposta, a exemplo de Chico Mendes e
tantos outros e com um ambiente peculiar
do resto da Amazônia. Terra de solos férteis
e ricos, cujos rios corriam para o oceano Pa‑
cífico e atualmente para o Atlântico. Talvez
nesta inversão, ocorrida há tantos anos a
natureza nos lega um grande ensino: DA NE‑
CESSIDADE DE PROCURAR NOVOS CAMI‑
NHOS. Vencer cordilheiras intransponíveis,
entremear entre opiniões diversas, povos e
críticas, mas à semelhança dos rios, procu‑
rar sempre os caminhos mais baixos – o da
humildade. Vencendo no tempo e no espa‑
ço as barreiras aparentemente difíceis ou
impossíveis de serem superadas. Mas, a se‑
melhança dos rios que encontraram novos
caminhos, o povo acriano talvez tenha um
“destino, uma grande responsabilidade, uma
dádiva” de mostrar para o mundo os novos
caminhos de uso da natureza: de viver na
floresta e com a floresta.
Diante de tantos desafios talvez também
os rios Acre, Juruá, Purus e tantos outros
que banham esta terra nos ensinem a ter
tempo de cheia e de vazantes. Abundância
e escassez. Transportar riquezas pelas suas
águas e deixar nas vazantes os seus leitos
férteis para a produção de alimentos à hu‑
manidade. Nos seus leitos meândricos talvez
uma grande lição: é preciso tempo, paciência
para se chegar ao destino, mas nem por isto,
na demora, deixar de sermos úteis. Banhar
com as suas águas os solos férteis e deixar
as argilas nas suas barrancas. Ao mesmo
tempo caminhar e deixar ser caminhado. Re‑
ceber, às vezes, o pior do ser humano, lixo,
descaso, mas no seu silêncio tentar levar
tudo isso adiante. Morrer silenciosamente,
mas nunca deixar de tentar vencer.
Apresentação
11
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACRE
13. Assim, são as palavras aqui contidas, nos
seus diversos capítulos, que o Governo coloca
a disposição da sociedade de forma simples,
de fácil compreensão tanto para especialistas
como para leigos.
aa A Geologia – que trata da origem das
terras do Acre. Como foi formada? Quais
são os seus constituintes?
aa A Geomorfologia – como foram esculpi‑
das as suas formas, seu relevo. O que eles
nos indicam?
aa As Bases geológicas e geomorfológicas da
formação e distribuição dos solos no Esta‑
do do Acre – como estas bases influencia‑
ram a formação dos diferentes tipos de
solos existentes?
aa Os Solos – a sua formação (gênese), clas‑
sificação e sua distribuição geográfica no Es‑
tado do Acre e por fim.
É um exercício. Não é, com certeza, um tra‑
balho acabado e plenamente correto ainda que
feito por especialistas. Oxalá fosse. Foi o melhor
de cada um. O possível. Talvez aos leitores, a se‑
melhança dos olhos d’água, nascentes, igarapés
que na sua pequenez, mas que são a origem dos
grandes rios, juntem‑se a nós, com as suas críti‑
cas, sugestões e possam ao longo do tempo, aper‑
feiçoar, melhorar, e assim no transcurso da vida,
como partículas de um todo, possamos cuidar de
formamelhorolegadoquenosfoidadoechegar‑
mos ao destino final a semelhança dos rios, a foz,
belos e essenciais a vida.
João Luiz Lani
12
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACRE
14. 1
Livro Temático II
Recursos Naturais I:
Geologia, Geomorfologia e Solos do Acre
Capítulo
Geologia do Estado do Acre
15. A
gestão territorial consiste na
ocupação racional do território
e uso econômico e sustentável
dos recursos naturais. Portan‑
to, o Zoneamento Ecológico Econômico é
um instrumento de ordenamento territo‑
rial para orientar o planejamento de uso e
ocupação do território conforme os condi‑
cionantes do meio físico, biótico e socioe‑
conômico (SAE, 1991).
No tocante ao meio físico, partindo de
uma visão holística em que todos os com‑
ponentes interagem entre si e são inter‑
dependentes, há que ser feita uma estra‑
tificação baseada na análise das relações
existentes entre esses principais compo‑
nentes: rochas, relevo, solos, hidrografia,
vegetação e clima para que se proceda
ao diagnóstico ambiental e a avaliação da
vulnerabilidade e potencialidade natural
de uma dada região. É nesse contexto que
o estudo da geologia do Estado do Acre,
enfocada em nível regional ao longo do
presente texto, se faz necessário.
O Zoneamento Ecológico Econômico
do Estado do Acre, em sua primeira fase,
apresentou dados em escala 1:1.000.000.
Na versão atual os resultados são compa‑
tíveis com a escala 1:250.000, o que pro‑
porciona maior grau de detalhamento nos
produtos gerados. Para o tema Geologia a
tarefa foi a de compilar um leque de infor‑
mações dispersas e gerar mapas temáticos
a partir do banco de dados do projeto SI‑
PAM – IBGE (Sistema de Proteção da Ama‑
zônia – Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). Os aspectos gerais da geolo‑
gia retratados no mapa geológico e deta‑
lhados ao longo do texto, constituem in‑
formações que subsidiaram a elaboração
do Mapa de Gestão do ZEE/AC. O mapa ge‑
ológico em destaque, portanto, informa a
área de ocorrência de determinados tipos
de rochas nos domínios do Estado do Acre,
agrupadas em unidades litoestratigráficas
ou edafoestratigráficas, e as suas relações
espaciais e cronológicas. A partir disso,
pode‑se concluir seus ambientes de forma‑
ção e seus comportamentos mediante pro‑
cessos físicos naturais ou antrópicos que
podem afetar sua disposição e determinar
seu grau de vulnerabilidade, além das po‑
tencialidades em relação à concentração
de bens minerais de interesse econômico.
2. Descrição Metodológica
2. 1. Material Utilizado
O material em formato digital utilizado
durante a pesquisa pertence ao acervo do
IMAC, já os em formato analógico foram
consultados na EMBRAPA ‑ Amazônia Orien‑
tal, constando de:
Banco de dados gráficoalfanumérico
desenvolvido e alimentado pelo IBGE para
o Projeto SIPAM, consistindo de mapas no
formato digital de geologia com escala de
Geologia
do Estado do Acre
b Texto:b Luciana Mendes Cavalcante
Geóloga, M.Sc.
1. Introdução
14
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
16. entrada 1:250.000, e dados alfanuméricos
sobre os diversos temas.
1. Arquivos vetoriais contendo a hidro‑
grafia das cartas topográficas do IBGE
e DSG na escala 1:250.000 disponíveis
para a área, e das cartas planialtimétri‑
cas do Projeto RADAMBRASIL na mes‑
ma escala (Quadro 1).
2. Imagens ETM do satélite LANDSAT 7,
em formato digital com as configura‑
ções constantes no Quadro 1.
Quadro 01. Materiais utilizados neste trabalho. Fonte:
*Inpe, 2006;
**Radambrasil, 1976.
Imagens de Satélite
Órbita – ponto WRS*
Base topográfica de
acordo com o corte
internacional na
escala 1:250.000**
001/067 004/066 SB18ZC SC19VD
002/066 004/067 SB18ZD SC19XA
002/067 005/065 SB19YC SC19XC
002/068 005/066 SB19YD SC19XD
003/066 005/067 SC18XA SC19YA
003/067 006/065 SC18XB SC19YB
003/068 006/066 SC18XD SC19YD
004/065 SC19VA SC19ZA
SC19VB SC19ZB
SC19VC SC19ZC
2. 2. Estudos Preliminares
Os estudos preliminares envolveram a
reunião, o cadastramento e a sistematização
das informações geológicas obtidas através
de levantamentos bibliográficos, e o prepa‑
ro do material básico – imagens de sensores
remotos ‑ para interpretação.
2. 3. Estudo Temático
O procedimento de obtenção de informa‑
ções geológicas para o estudo temático em
si compreendeu duas vertentes principais:
síntese e revisão bibliográfica e elaboração
de bases cartográficas através da interpreta‑
ção de produtos de sensores remotos.
A síntese e a revisão bibliográfica envol‑
veram consultas sobre a geologia em dife‑
rentes escalas disponíveis na litera‑
tura sobre a área de estudo, além dos
materiais cartográficos e dos produ‑
tos de sensores remotos. Os resulta‑
dos apresentados quanto à Geologia
dizem respeito à delimitação de uni‑
dades litoestratigráficas, localização
de ocorrências fossilíferas e mine‑
rais, além da delineação das princi‑
pais estruturas tectônicas.
O ajuste das informações geoló‑
gicas às bases cartográficas foi fei‑
to por meio de técnicas de geopro‑
cessamento utilizando o programa
ARCGIS 9.0. Foram gerados mapas
geológicos digitais e analógicos e
posteriormente comparados. Isto se
deu para fins de maior confiabilidade
nos produtos finais.
3. Geologia do Acre
No Estado do Acre, a unidade
geotectônica mais importante é a
Bacia do Acre (Figura 1), que com‑
preende, em superfície, unidades
essencialmente cenozóicas. Entre‑
tanto, em sua porção mais a oeste
ocorrem remanescentes mesozóicos
e até pré‑cambrianos. Sua história
geológica envolve primeiramente
deposição pericratônica e marginal aberta
no Paleozóico, resultando em sedimentos
continentais intercalados a sedimentos ma‑
rinhos. Segundo Oliveira (1994), partindo
de análises de feições sismoestratigráficas
em seções sísmicas realizadas pela Petro‑
brás, e das principais estruturas da bacia, a
sedimentação inicial se deu por rifteamen‑
to intracontinental com possíveis incursões
15
GeologiadoEstadodoAcre
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACRE
17. marinhas. Entretanto para Caputo (1973)
tal possibilidade só é vislumbrada para as
Bacias do Solimões e do Amazonas. Após o
soerguimento do Andes, a deposição se deu
em ambiente essencialmente intracontinen‑
tal, com a presença de lagos e posteriormen‑
te, de megaleques aluviais.
O embasamento da Bacia do Acre é re‑
presentado pelo Complexo Jamari, sua
unidade litoestratigráfica mais antiga que
aflora nas cabeceiras do rio São Francisco
(extremo oeste do Estado, na Serra do Jaqui‑
rana), e compreende rochas gnáissicas, gra‑
nulitos, anfibolitos, quartzo‑dioritos e xistos.
Corresponde ao Complexo Xingu citado na
primeira fase do ZEE, mas aqui diferencia‑
do deste por maior complexidade litológica,
bem como por ambiência tectônica, posto
que a Bacia ter‑se‑ia desenvolvido sobre a
Faixa Móvel Rondoniana, cujo embasamen‑
to é o chamado Complexo Jamari.
Em discordância com essa unidade ocor‑
re a Formação Formosa, cujos litotipos são
resultantes de uma emersão do escudo bra‑
sileiro, conforme Caputo (1973). Após essa
deposição houve manifestação ígnea alcali‑
na (subida de magma), causando metafor‑
mismo de contato na Formação Formosa.
Esse evento originou corpos intrusivos de
pequenas dimensões (Sienito República).
Durante o Cretáceo, houve momentos de
incursões e regressões marinhas sucessi‑
vas, resultando na deposição do Grupo Acre.
De uma forma geral, houve subsidência na
Figura 01. Localização da Bacia do Acre no contexto geotectônico amazônico. (1) a ‑ Formação Solimões,
b ‑ sedimentos terciários; (2) Formação Içá; (3) Formação Alter do Chão; (4) coberturas proterozóicas; (5)
rochas paleozóicas; (6) coberturas do Quaternário. Fonte: Adaptado de Bezerra, 2003.
16
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
18. área, desta feita do tipo flexural em resposta
à sobrecarga imposta já nesta época pelos
dobramentos andinos. O Arco de Iquitos
(que separa a Bacia do Acre da Bacia do So‑
limões) funcionava como área fonte de se‑
dimentos nos momentos de sedimentação
clástica regressiva (momentos de saída do
mar). Após o soerguimento dos Andes (Oro‑
genia Quéchua), o Arco de Iquitos foi rebai‑
xado e a Bacia do Acre tornou‑se intraconti‑
nental ou de antepaís, com área fonte vinda
do oeste. Nesse momento depositaram‑se
os litotipos da Formação Solimões e, pro‑
vavelmente, concomitantemente ou logo
após a deposição da Formação Içá que foi
depositada a seguir, houve a inversão dos
sistemas de drenagem para leste e formação
dos rios Solimões e Amazonas. Maia et al
(1977), em razão de análises de sondagens
e perfurações, separa o material da base da
então Formação Solimões em uma outra
formação, a Ramon (constituída por siltitos
e arenitos de ambiente oxidante). Não há
registros no banco de dados do SIPAM so‑
bre a mesma, provavelmente porque foram
Quadro 02. Coluna Estratigráfica das unidades florantes no Estado do Acre. Fonte: IBGE, 1999.
Era Período Época Formação Características Litológicas
Cenozóico
Quaternário
Holoceno
Aluviões
holocênicos
(QHa) depósitos grosseiros a conglomeráticos,
representando residuais de canal, arenosos relativos
a barra em pontal e pelíticos relacionados a
transbordamentos.
Coluviões
holocênicos
(QHc) material grosso disposto no sopé de
montanhas em forma de leque aluvial.
Terraços
holocênicos
(QHt) depósitos de planície fluvial, cascalhos
lenticulares de fundo de canal, areias de barra em
pontal e siltes e argilas de transbordamento.
Areias
quartzosas
(QHaq) areais inconsolidados em interflúvios.
Pleistoceno
Terraços
Pleistocênicos
(QPt) terraços fluvias antigos. Argilas, silte e areias,
localmente com intercalações lenticulares de
argilitos e conglomerados.
Coberturas
detrito
‑lateríticas
(QPdl) material argiloarenoso amarelado,
caolinítico, alóctone e autóctone.
descritas somente unidades que afloram em
território acriano.
Em seguida, já no Pleistoceno, alterna‑
ram-se momentos de quietude (em que se
dá instalação dos perfis lateríticos – cober‑
turas detritolateríticas) com outros de mo‑
vimentação tectônica. Essa nova tectônica
(Neotectônica) gerou reativações de antigas
falhas, soerguendo e rebaixando blocos e
sendo a responsável pela deposição do ma‑
terial holocênico, além de controlar a distri‑
buição do relevo e da drenagem atuais. Na
tabela a seguir (Quadro 2) estão listadas as
unidades mapeadas na escala de 1:250.000,
que compreendem a coluna litoestratigrá‑
fica da área. Em seguida é apresentado o
mapa geológico do Estado do Acre (Figura
2). Em comparação às unidades relatadas
em escala 1:1.000.000 (na primeira fase do
ZEE), verifica‑se uma melhor separabilidade
em função da diminuição da escala, pois as
unidades do Pleistoceno eram restritas a
Formação Cruzeiro do Sul e as do Holoceno,
aos aluviões.
Continua
17
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
19. Era Período Época Formação Características Litológicas
Cenozóico
Formação
Cruzeiro do
Sul
(QPcs) terraços, originados através de
sedimentação fluvial, flúviolacustre e aluvial,
constituídos por arenitos finos a médios, friáveis,
maciços e argilosos, com intercalações de argilitos.
Terciário
Plioceno
Mioceno
Formação
Solimões
(TNs) sedimentos pelíticos fossilíferos (argilitos
com intercalações de siltitos, arenitos, calcários
e material carbonoso), de origem fluvial e
flúviolacustre, com estratificações planoparalelas e
cruzadas tabulares e acanaladas.
Mesozóico
Cretáceo
Maestrichtiano
*Formação
Divisor
(Kd) arenitos brancos, amarelos e vermelhos,
maciços ou com estratificação cruzada, médios,
bem selecionados, com intercalação de siltitos.
CampanianoTuroniano
Cenomaniano
*Formação
Rio Azul
(Kra) compõe‑se de arenitos finos, com
intercalações de folhelhos e níveis de calcário
(na base) e para o topo esses arenitos contêm
intercalações de siltitos cinzaesverdeados.
*Formação
Moa
(Km) conglomerados polimíticos basais
encimados por arenitos finos a conglomeráticos
com estratificação cruzada. No topo, arenitos
finos a médios, estratificação cruzada e níveis
conglomeráticos.
(conclusão)
Coluna Estratigráfica das unidades aflorantes no Estado do Acre. Fonte: IBGE, 1999.
*Grupo Acre
Pré‑Cambieano
ProterozóicoSuperior
Sienito
República
(PS(L))r composta por quartzo traquito pórfiro,
ultramilonito, microsienito, sienito, traquito pórfiro
cataclástico, sienito pórfiro, nordmarkito, quartzo
traquito e traquito amigdaloidal, constituem corpos de
pequenas dimensões.
Formação
Formosa
(PSf) quartzitos cinzaescuros, muito duros, camadas de
chert cinzaclaro e esbranquiçadas, metassiltitos e arenitos
quartzíticos. Apresenta metamorfismo de contato devido
à intrusão de rocha sienítica.
Pré‑Cambieano
Indiferenciado
Complexo
Jamari
(PIMj) rochas de alto grau de metamorfismo na forma
de gnaisses, migmatitos, granitos anatéticos, granulitos,
leptitos e charnockitos.
18
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
20. Complexo Jamari (PIMj)
Esta unidade representa a associação de
rochas mais antiga da região, ocorrendo no
extremo oeste do Estado do Acre. Foi desig‑
nada por Silva et al. (1974) como Complexo
Xingu. Entretanto, Isotta et al. (1978), consi‑
derando que em Rondônia o Complexo Xin‑
gu envolveria determinadas litologias, como
xistos, quartzitos e rochas intrusivas, não
encontradas no embasamento da região, e
ainda, que seria bastante difícil à identifica‑
ção pura e simples de Complexo Xingu, pro‑
puseram a denominação Complexo Jamari,
a qual está sendo adotada aqui.
Os principais litotipos são rochas de alto
grau metamórfico na forma de gnaisses,
migmatitos, granitos anatéticos, anfibolitos,
leptitos e charnoquitos.
Formação Formosa (PSf)
A primeira citação sobre litologias desta
unidade encontra‑se em Moura & Wander‑
ley (1938); posteriormente Leite (1958) in‑
troduziu a denominação Formação Formosa
em referência às rochas que sustentam a
cachoeira homônima no igarapé Capanaua,
na serra do Divisor. Esta unidade é constitu‑
ída de quartzitos altamente metamorfizados
devido à intrusão de rochas ígneas alcalinas.
Com relação à idade desta unidade, vários
autores atribuem a tais litologias idade pa‑
leozóica (MOURA & WANDERLEY, 1958;
LEITE, 1958; MIURA, 1972). Caputo (1973)
considerou que tais rochas seriam do Pro‑
terozóico Superior, uma vez que se encon‑
tram cortadas por rochas ígneas atribuídas
ao Escudo Brasileiro, o que é considerado
neste estudo.
Sienito República (PS(L)r)
As rochas alcalinas reunidas sob a deno‑
minação Sienito República ocorrem somen‑
te na serra do Divisor, em exposições restri‑
tas aos leitos dos igarapés Capanaua, Índio
Coronel, Tachipá, República e Paraná João
Bezerra. Essas rochas encontram‑se cortan‑
do as litologias da Formação Formosa, nas
quais produzem transformações devido ao
metamorfismo de contato, sendo constituí‑
das por quartzo traquito pórfiro, ultramilo‑
nito, microsienito, sienito, quartzo traquito,
traquito pórfiro cataclástico, sienito pórfiro,
nordmarkito e traquito amigdaloidal. Pode
‑se correlacionar tal unidade com rochas
graníticas que ocorrem no Estado de Ron‑
72°0'0"W
72°0'0"W
69°0'0"W
10°0'0"S
8°0'0"S
Legenda
Aluviões holocênicos
Coluviões holocênicos
Terraços holocênicos
Areias quartzosas
Formação Cruzeiro do Sul
Terraços pleistocênicos
Coberturas detrito-lateríticas
Formação Solimões
Formação Solimões - fácies arenosa
Grupo Acre -Fm.Divisor
-Fm.Rio Azul
-Fm.Moa
110 0 11055 Km
Figura 02. Mapa geológico do Estado do Acre com unidades litoestratigráficas aflorantes
(o Sienito República, a Formação Formosa e o Complexo Jamari não são visualizados nessa escala).
Fonte: ZEE/Acre
19
GeologiadoEstadodoAcre
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACRE
21. dônia, o que se faz crer que essas litologias
sejam do Proterozóico Superior.
Grupo Acre
Sob essa denominação reúnem‑se as
formações Moa, Rio Azul e Divisor. Tais li‑
tologias sustentam as serras que ocorrem a
oeste do Estado do Acre (Serra do Jaquirana,
Serra do Moa, Serra, do Juruá‑Mirim e Serra
do Rio Branco) e estão condicionadas a uma
estrutura dobrada. No flanco interno da
dobra está a Formação Rio Azul, na porção
central, a Formação Moa e no flanco externo
e ocidental, a Formação Divisor.
Formação Moa (Km)
O ambiente deposicional admitido para
esses sedimentos é dominantemente conti‑
nental (CAPUTO, 1973). Os litotipos predo‑
minantes são arenitos, com intercalações de
camadas de argilitos e siltitos, e níveis con‑
glomeráticos. Sua idade baseia‑se em corre‑
lação estratigráfica, e a maioria dos traba‑
lhos a posiciona no intervalo Cenomaniano
– Coniaciano, ou seja, no Cretáceo Superior.
Formação Rio Azul (Kra)
Moura & Wanderley (1938) chamaram
ao conjunto de rochas desta unidade de “Sé‑
rie com folhelhos e calcários”, formalizando
depois o termo Rio Azul, devido às boas ex‑
posições nesse rio. A unidade é caracteriza‑
da por uma seqüência de arenitos finos a
médios, ocasionalmente com disseminação
ferruginosa. Na porção basal existem inter‑
calações de folhelhos e níveis de calcários.
Para o topo existem intercalações de folhe‑
lhos e siltitos. Sua idade é dada com base em
correlação estratigráfica, principalmente
com relação à Formação Moa. Os trabalhos
realizados até então a posicionam no inter‑
valo Turoniano – Campaniano, ou seja, no
Cretáceo Superior (BARROS et al., 1977).
Formação Divisor (Kd)
Sua idade baseia‑se na relação estrati‑
gráfica no topo do Cretáceo Superior, no
intervalo Maestrichtiano. Caracteriza‑se do‑
minantemente por um pacote de arenitos
médios bem selecionados. Ao longo da se‑
ção contém intercalações de siltitos averme‑
lhados, e localmente silicificados e brecha
de falha. Na porção basal esses arenitos são
mais friáveis e porosos, chegando a exibir
grandes cavernas. Para o topo são mais fer‑
ruginosos, chegando a desenvolver crostas
e concreções com até 30 cm de espessura.
O ambiente de deposição admitido por Ca‑
puto (1973) e adotado até então é flúvio
‑litorâneo, sendo mais fluvial para o topo.
Formação Solimões (TNs)
As primeiras referências aos sedimen‑
tos da Formação Solimões datam do século
XIX e encontram‑se nos trabalhos de Hartt
20
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
22. (1870), Orton (1870, apud Oliveira & Leo‑
nardos, 1943), Orton (1876) e Brown (1879),
entre outros.
A Formação Solimões é a mais exten‑
sa das unidades litoestratigráficas do Acre,
estendendo‑se além fronteira para os terri‑
tórios peruano e boliviano. Encontra‑se, em
algumas partes no lado leste, encoberta pelas
coberturas detrito‑lateríticas pleistocênicas,
expondo‑se nas áreas próximas aos vales.
A seqüência litológica constitui‑se de ar‑
gilitos sílticos cinza a esverdeados; siltitos ar‑
gilosos, localmente com concreções e lentes
calcárias, concreções gipsíferas e limoníticas,
e níveis ou lentes com matéria vegetal carbo‑
nizada (turfa e linhito) em geral fossilíferos.
Intercalados ou sobrepostos aos pelitos
ocorrem arenitos finos a grosseiros. Em deter‑
minadas áreas, predominam sobre os pelitos,
permitindo sua individualização. Esses litoti‑
pos estão dispostos em seqüências cíclicas, tí‑
picas de ambiente continental fluvial e flúvio
‑lacustre, com fácies de leque aluvial (SILVA et
al., 1976).
Maia et al. (1977), com base em seu con‑
teúdo fossilífero, estabeleceram o intervalo
de idade Mioceno‑Plioceno. Latrubesse et al.
(1994) admitiram para Formação Solimões
um único ciclo deposicional contínuo, por
meio de leques gigantes, durante o Mioceno
Superior e o Plioceno, idade correlacionada à
da fauna abundante e variada de mamíferos
Huayqueriense montehermosense.
Formação Cruzeiro do Sul (QPcs)
Foi definida primeiramente por Boin
& Bonatti como parte superior da Forma‑
ção Solimões (apud. BARROS et al., 1977),
referindo‑se aos sedimentos arenosos que
se encontram sobrepostos aos terraços infe‑
riores, localizados nas imediações da cidade
de Cruzeiro do Sul. Os autores do projeto
PMACI II (PINTO et al., 1994) adotaram a
denominação: Formação Cruzeiro do Sul
para os sedimentos acima referidos, ratifica‑
da no presente trabalho.
Pouco estudada em suas características
específicas, devido sua recente separação a
partir da Formação Solimões, a Formação
Cruzeiro do Sul ocorre sobreposta a feições
tipo terraço, sendo sua maior exposição lo‑
calizada ao sudoeste da cidade de Cruzeiro
do Sul, na confluência dos rios Moa e Juruá.
São sedimentos depositados por correntes
fluviais, flúviolacustre e em leques aluviais,
compostos por arenitos finos, friáveis, maci‑
ços, argilosos, com intercalações de argilitos
lenticulares e estratificação cruzada; sobre‑
tudo em sua porção inferior.
Coberturas detrito‑lateríticas
neopleistocênicas (QPdl)
A partir da década de 60, a comunidade
geológica brasileira despertou para o estu‑
do das lateritas da Região Amazônica devido
principalmente a sua grande potencialidade
mineral (Fe, Al, Au, Ti, Nb etc.). Diversos au‑
tores como Towse & Vinson (1959), Som‑
broek (1966), Costa (1985, 1988a e b e
1990a e b) e Costa & Araújo (1990) estuda‑
ram as lateritas da Amazônia. Costa (1991)
reconheceu dois principais eventos de late‑
rização durante o Cenozóico: um primeiro,
no Eoceno‑Oligoceno, formador das lateri‑
tas maturas ricas em caulinita e um outro
mais recente, no Pleistoceno, formador das
lateritas imaturas com alto teor de ferro. A
cobertura detrito‑laterítica neopleistocêni‑
ca é, portanto, similar ao segundo evento
(DEL’ARCO & MAMEDE, 1985).
No Acre, dispõe‑se sobre os sedimentos
da Formação Solimões, restringindo‑se a
21
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
23. parte sudeste do Estado. Compõe‑se de sedi‑
mentos argiloarenosos de cor amarelada, ca‑
oliníticos, parcial a totalmente pedogeneiza‑
dos, gerados por processos alúviocoluviais.
Sua delimitação é feita basicamente por
interpretação visual de imagens de radar
e de satélite (aspecto textural liso e homo‑
gêneo). Por conta disso, e em face da con‑
temporaneidade entre a deposição dessas
coberturas e a elaboração das superfícies de
aplainamento, admite‑se para essa unidade
a idade neopleistocênica.
Terraços pleistocênicos (QPt)
As antigas planícies de inundação, atu‑
almente definidas como superfícies aplai‑
nadas e possivelmente escalonadas, as
quais representam Aluviões antigos, foram
individualizadas sob a designação Aluviões
Indiferenciadas, por Silva et al. (1976). No
presente trabalho esses depósitos foram de‑
signados Terraços pleistocênicos.
Mostram uma distribuição descontínua,
representando diferentes comportamen‑
tos dos meios deposicionais, provavelmen‑
te ocasionados por diferentes fatores, tais
como: oscilações climáticas, movimentos
eustáticos, ou mesmo a ação de algum even‑
to de caráter tectônico, inclusive de bascu‑
lamento local. No presente trabalho estes
depósitos estão diferenciados dos Terraços
holocênicos devido principalmente à sua
dissecação por drenagem de primeira e se‑
gunda ordem e pela presença de raros me‑
andros colmatados, os quais são mais abun‑
dantes nos terraços holocênicos.
São constituídos por argilas, siltes e
areias, às vezes maciços, de colorações aver‑
melhadas, depositados em terraços fluviais
antigos e rampas terraços. Localmente en‑
globam intercalações lenticulares de argili‑
tos e conglomerados. Conglomerados com
seixos de material carbonático e quantida‑
de expressiva de fauna fóssil pleistocênica
são encontrados na região do Alto Juruá.
Nas rampas terraços incluem sedimentos
colúvioaluviais arenoargilosos, provavel‑
mente depositados em condições paleo
‑hidrológicas distintas das atuais; relaciona‑
das às variações climáticas.
Terraços holocênicos (QHt)
Esses depósitos mostram características
típicas de depósitos de planície fluvial, isto
22
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
24. é, são constituídos por cascalhos lenticu‑
lares de fundo de canal, areias quartzosas
inconsolidadas de barra em pontal e siltes
e argilas de transbordamento. Ocorrem ao
longo das principais drenagens.
Areias quartzosas inconsolidadas (QHaq)
Inicialmente incluídas como parte areno‑
sa da Formação Solimões nas imediações de
Cruzeiro do Sul, Pinto et al. (1994) separa‑
ram as areias quartzosas que ocorriam nas
áreas de campinas, posicionando‑as na por‑
ção superior da Formação Cruzeiro do Sul.
Esses sedimentos arenosos, resultantes
de processos pedogenéticos, constituem
produto de intensa lixiviação sobre sedi‑
mentos de porção superior da Formação
Cruzeiro do Sul, tendo sua área de exposi‑
ção delimitada pela presença das campinas.
Ocorrem, portanto, em áreas interfluviais
com lençol freático elevado, sendo uma for‑
mação superficial edafoestratigráfica, cor‑
respondendo aos Neossolos quartzarênicos.
Apresenta um relevo geralmente tabular,
que representa um platô residual, desen‑
volvendo uma drenagem com vales de fun‑
do chato e planícies de inundação amplas.
Encontra‑se recobrindo um pacote argiloso
de caráter redutor (depósito de transbor‑
damento), representativo de um ciclo mais
antigo. Este apresenta um relevo mais mo‑
vimentado, com formas de topo convexo e/
ou aguçado.
Depósitos coluvionares (QHc)
Dispõem‑se no sopé dos relevos do Com‑
plexo Fisiográfico da Serra do Divisor, com‑
pondo os chamados leques aluviais com
seu padrão de drenagem distributário bem
característico. São compostos por arcósios,
conglomerados, grauvacas e fragmentos de
rocha de má classificação.
Depósitos aluvionares (QHa)
As acumulações mais expressivas ocor‑
rem nas planícies dos rios maiores, sobre‑
tudo daqueles com cursos meândricos e
sinuosos. Os sedimentos apresentam carac‑
terísticas gerais semelhantes e constituem
depósitos de canal, incluindo depósitos de
barra em pontal e os depósitos residuais de
canal e de transbordamento.
Nos depósitos de canal, que formam
praias de extensão variável, ocorrem areias
quartzosas de granulação fina a grosseira.
Os depósitos de transbordamento são cons‑
tituídos por silte e argila com granulometria
decrescente da base para o topo. Nas seções
basais são encontradas comumente areias
quartzosas fina, porcentagem variável de
argila e presença freqüente de muscovita e
minerais pesados.
Os sedimentos sílticos e argilosos sempre
sucedem as areias da base, apresentando‑se
maciços ou finamente laminados. Comu‑
mente incluem restos vegetais de troncos e
folhas parcialmente carbonizados.
4. A Geologia nas
Regionais do Acre
O Estado do Acre foi divido em cinco
regionais (Alto Acre, Baixo Acre, Purus, Ta‑
rauacá e Envira e Juruá) que tiveram como
base principal as bacias hidrográficas, que
caracterizam identidades culturais e de pro‑
dução distintas. Na tabela 1 verifica‑se a
distribuição das formações geológicas em
cada regional.
A predominância da Formação Soli‑
mões no Estado do Acre é notável (cerca
de 85% da área do Estado). Sobre a mes‑
ma desenvolveram‑se diversos tipos de
solos, onde diversas tipologias vegetais
instalaram‑se. O porquê dessa diversidade
de ambientes diz respeito à própria gêne‑
se geológica e geomorfológica presentes,
entretanto carecem de estudos específicos.
Apesar dessas lacunas de informação, al‑
guns direcionamentos podem ser dados.
23
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
25. Tabela 01. Área ocupada pelas diferentes formações geológicas nas regionais do Estado do Acre.
*área em Km²
** não ocorreFormações
Geológicas
AltoAcreBaixoAcrePurusTarauacáJuruá
Área%Área%Área%Área%Área%
Aluviões
holocênicos
1129,727,10842,093,783174,927,823168,065,923097,569,69
Coluviões
holocênicos
****************92,910,29
Terraços
holocênicos
123,400,77524,632,35769,221,89526,530,981562,374,88
Areiasquartzosas****************104,980,32
Formação
CruzeirodoSul
****************3115,129,75
Terraços
pleistocênicos
****157,760,70264,920,65****809,902,53
Coberturas
detrito‑lateríticas
921,505,791598,817,1776,530,18*******
Formação
Solimões
10977,5069,0014380,3964,5632172,3379,3342718,6879,8021988,0268,81
Fm.Solimões–
fáciesarenosa
2758,0717,334767,5021,43987,119,827059,5413,19346,171,08
FormaçãoDivisor****************371,901,16
FormaçãoRio
Azul
****************230,090,72
FormaçãoMoa****************210,700,65
SienitoRepública****************3,650,011
Formação
Formosa
****************1,090,003
ComplexoJamari****************1,820,005
Margemdosrios0,140,00080,600,002110,440,2755,040,1014,630,045
24
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
26. Pelos dados acima apresentados e confor‑
me as figuras mostradas á seguir, observa‑se
que a regional com maior diversidade geoló‑
gica é a do Juruá e a de menor diversidade
é a do Tarauacá. Pela história geológica da
região é compreensível que isto ocorra, pois
a parte mais a oeste do Estado está incluí‑
da na faixa de dobramentos da Cordilheira
dos Andes. Com os dobramentos e falhas de
empurrão, houve uma sobrecarga litosférica
compensada por subsidência flexural perifé‑
rica e formação das bacias de antepaís, onde
se insere a bacia do Acre. Com a progressão
da deformação da faixa andina porções do
embasamento da bacia foram soerguidas,
propiciando a exposição de rochas paleozói‑
cas e mesozóicas, normalmente encobertas
pela Formação Solimões.
Com exceção da regional do Juruá, há
certa uniformidade geológica no restante
da área. As diferenciações ficam por conta
da ocorrência de diferentes níveis de terra‑
ços fluviais nas regionais do Purus e Baixo
Acre (terraços pleistocênicos e holocênicos)
(pelas falhas e fraturas analisados nesse tra‑
balho, acredita‑se que a tectônica teve um
papel importante para sua diferenciação.
Levando em conta dados morfométricos
obtidos pelo levantamento geomorfológico
realizado também nessa segunda fase do
ZEE, verifica‑se nessas regionais, um posi‑
cionamento altimétrico condizente com di‑
ferenciações causadas por basculamentos
pretéritos); e pela presença de coberturas
detritolateríticas ao leste do Estado, inse‑
ridas nas regionais do Baixo e Alto Acre.
A gênese desses depósitos em tais locais
precisa ser estudada com mais detalhe,
mas de qualquer modo, trata‑se de uma
possibilidade de investimentos para essas
regionais caso seja comprovada alguma
potencialidade mineralógica.
70°0'0"W 69°0'0"W 68°0'0"W
11°0'0"S
10°0'0"S
Legenda
Aluviões holocênicos
Coberturas detrito-lateríticas
Formação Solimões
Fm. Solimões- fácies arenosa
Terraços holocênicos
Terraços plaistocênicos
Figura 03. Mapa geológico da regional do Alto Acre.
Fonte: Acre, 2006
25
GeologiadoEstadodoAcre
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACRE
27. 69°0'0"W
69°0'0"W 68°0'0"W 67°0'0"W
10°0'0"S
Legenda
Aluviões holocênicos
Coberturas detrito-lateríticas
Formação Solimões
Fm. Solimões- fácies arenosa
Terraços holocênicos
Terraços plaistocênicos
Figura 04. Mapa geológico da regional do Baio Acre
Fonte: Acre, 2006
71°0'0"W 70°0'0"W 69°0'0"W
10°0'0"S
9°0'0"S
Legenda
Aluviões holocênicos
Coberturas detrito-lateríticas
Formação Solimões
Fm. Solimões- fácies arenosa
Terraços holocênicos
Terraços plaistocênicos
Figura 05. Mapa geológico da regional do Purus.
Fonte: Acre, 2006
26
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
29. 74°0'0"W 72°0'0"W
9°0'0"S
8°0'0"S
Legenda
Aluviões holocênicos
Complexo Jamari
Formação Solimões
Formação Solimões - fácies arenosa
Terraços holocênicos
Coluviões holocênicos
Areias quartzosas
Formação Cruzeiro do Sul
Terraços pleistocênicos
Formação Divisor
Formação Rio Azul
Formação Moa
Sienito República
Formação Formosa
Figura 07. Mapa geológico da regional do Juruá.
Fonte: Acre, 2006
28
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
30. 5. Potencialidades de Uso
e Aplicação
No tocante às potencialidades de uso e
aplicação a escassez de informações sobre
os materiais disponíveis no Estado do Acre
é fator limitante. Há litotipos presentes nas
diversas formações geológicas passíveis de
exploração, entretanto, não há segurança
de que sua exploração seja profícua e pos‑
sível, visto que facultam estudos de campo,
levantamentos e ensaios com os materiais. É
necessário, portanto, que se verifique onde
estão os afloramentos que podem ser explo‑
rados, a qualidade desses materiais, qual o
volume que pode ser explorado, que medi‑
das de controle ambiental precisam ser con‑
sideradas, etc.
Formação Solimões
As principais potencialidades no Esta‑
do, dentro da Formação Solimões (que é a
principal formação geológica em termos de
área de ocorrência) são a gipsita e argilas.
Ocorrências de gipsita e de argilas têm sido
descritas desde os primeiros trabalhos de
reconhecimento geológico na região.
Quanto à forma de ocorrência, são conhe‑
cidas três variedades de gipsita: a selenita, a
gipsita fibrosa (a mais freqüente e economi‑
camente importante) e o alabastro. A gipsita
do Acre é do tipo selenita e ocorrem predo‑
minantemente, nos rios Purus, Chandless e
Iaco, nas imediações de Sena Madureira e
Manuel Urbano, além de ocorrências meno‑
res nas proximidades de Marechal Thauma‑
turgo. Nas descrições são destacadas as pe‑
quenas espessuras de suas exposições e ini‑
bidas iniciativas exploratórias, entretanto,
cabe ser ressaltado aqui os múltiplos usos
desse mineral: a gipsita é consumida sob
as formas bruta e beneficiada. Sob a forma
bruta é utilizada pelos setores cimenteiro e
agrícola. Sob a forma beneficiada, denomi‑
nada gesso, é utilizada predominantemente
pela indústria da construção civil na forma
de pré‑moldados, em revestimento de pare‑
des e como elemento de decoração arquite‑
tônica e, subordinadamente, pelos setores
ceramista, odontológico, médico e de adere‑
ços (joalharia). Dessa forma, por ser o Acre
um local carente de matéria prima, torna‑se
útil uma melhor investigação sobre a ocor‑
rência de gipsita e seu volume exploratório.
29
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
31. O mesmo ocorre com as argilas. Alguns
testes realizados pelo IPT (Instituto de Pes‑
quisas Tecnológicas) indicam boa qualidade.
Pela característica litológica da Formação
Solimões pode haver um volume compatível
para exploração mesmo em nível local. En‑
tretanto, ressalta‑se a necessidade de melhor
avaliação desses depósitos através de pros‑
pecção e de definições de parâmetros para
controle e recuperação do meio ambiente,
em função da fonte energética disponível na
região e da demanda do mercado consumi‑
dor (colaboraria em parte com a diminuição
de matéria vinda de outros estados).
Coberturas detrito‑lateríticas
pleistocênicas
Desde os anos 80, com a investida go‑
vernamental para construção de rodovias, a
atenção voltou‑se para a necessidade de se
obter material utilizado na construção civil
no Acre pela ausência de rocha dura no Es‑
tado. Por outro lado, a descoberta das co‑
berturas lateríticas na região e a utilização
desse material em outras regiões da Amazô‑
nia e em alguns locais do Nordeste, fez com
que se desse á devida atenção à questão. Al‑
guns trabalhos, como o de Azevedo (1982) e
o de Costa (1985) serviram como estímulo a
exploração das lateritas no Estado, além de
pesquisas específicas realizadas por empre‑
sas construtoras de rodovias.
Costa (1985) cita a já utilização de late‑
rita fina na capa asfáltica e da grossa como
base e sub‑base e asfalto. Não se trata, ob‑
viamente, de material excelente para tal
aplicação, mas em face da disponibilidade e
de sua razoável qualidade, trata‑se de uma
boa frente de aplicação. O DERACRE, nas re‑
gionais do Alto e Baixo Acre, utilizam outro
tipo de material. Segundo o órgão, trata‑se
de matéria mais resistente, entretanto em
Cruzeiro do Sul, as lateritas são utilizadas,
conforme dados do IMAC.
Formação Cruzeiro do Sul
Nessa unidade há uma grande quantida‑
de de areias, o que possibilita sua explora‑
ção. As atividades contam com a fiscalização
do IMAC. O material retirado é de excelente
qualidade, além de apresentar variedade de
aplicações em função de variação granulo‑
métrica (as areais vão de muito finas a con‑
glomeráticas).
Terraços holocênicos e pleistocênicos
Em determinados locais do Estado, as
unidades de terraços apresentam grande
volume de areia. Nos municípios do Baixo e
Alto Acre, são amplamente exploradas e tais
atividades são regularizadas e fiscalizadas
pelo IMAC, ou estão em processo de regu‑
larização. Há retirada regular de areia tam‑
bém em Feijó, Tarauacá e Manoel Urbano.
Mais uma vez ressalta‑se que toda explo‑
ração deve ser sustentada por avaliações
preliminares onde se verificam a disponibili‑
dade do recurso, a possibilidade de extração,
a relação custo‑benefício e, principalmente,
os impactos gerados no ambiente por con‑
ta da exploração. Em Sena Madureira, por
30
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
32. exemplo, há retirada direta das praias no
Rio Iaco sem a percepção de que a atividade
promove acréscimo de movimento de mas‑
sa, tornando as áreas altamente instáveis do
ponto de vista geotécnico, além de causar
degradação ambiental.
Coluviões Holocênicos
Em geral, os colúvios são fontes impor‑
tantes de recursos minerais. Na Amazônia,
são importantes fontes de ouro e quartzo.
No Acre, como se vê no mapa geológi‑
co, há uma ocorrência restrita desse tipo
de depósito no oeste do Estado. É possível
a ocorrência de mineralizações nessa região
em função dos litotipos presentes (Grupo
Acre) e os colúvios seriam disseminadores e
ao mesmo tempo concentradores desses mi‑
nérios. Entretanto, localiza‑se numa área de
proteção integral (Parque Nacional da Serra
do Divisor), o que inviabiliza a retomada de
prospecção e de possível exploração.
Desde o Radambrasil, as informações so‑
bre potencialidades minerais no Estado do
Acre continuam precárias. Algumas investi‑
das da CPRM foram realizadas, mas nenhu‑
ma evidenciou um caráter exploratório factí‑
vel dessas ocorrências, o que nos leva a crer
na sua inviabilidade. Entretanto, sugere‑se
aqui, maior grau de detalhamento a fim de
se conhecer a real situação dessas ocorrên‑
cias para emitir pareceres mais confiáveis.
Paleontologia
O Estado do Acre, sem dúvida, se desta‑
ca pela presença de localidades fossilíferas
disseminadas, grosso modo, por todo seu
território associadas em grande parte à
Formação Solimões, mas também a depósi‑
tos desde o Cretáceo (como dentes de tuba‑
rões encontrados na Serra do Moa) (RANCY,
2000) até o Holoceno.
Trata‑se de sítios de grande valor cien‑
tífico e, passíveis de se constituir em áre‑
as de relevante interesse científico ou de
Proteção Ambiental. A presença de fósseis
é fundamental para o entendimento da his‑
tória geológica e paleontológica do Estado,
e isto torna imprescindível a conscientiza‑
ção da população local sobre a importân‑
cia dessas ocorrências no município para
que se busquem formas de preservação
dos locais de coleta de material fossilífero
e do próprio conteúdo coletado. Não raro
31
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
33. fósseis são descobertos pela população
e perdidos em seguida por inadequação
de acondicionamento.
6. Neotectônica no Acre
Da teoria de Tectônica de Placas, sabe
‑se que a Terra constitui‑se de um mosaico
de blocos, chamados Placas Tectônicas. Tais
blocos estão em movimento, em seus limites
ocorrem movimentos distensivos, compres‑
sivos ou transformantes (uma placa desliza
em sentido contrário a adjacente). Essas mo‑
vimentações geram a tectônica (do grego
tecktos = construção) da Terra e isso ocorre
em ciclos. Ao ciclo de movimentações mais
recente chamamos de Neotectônica.
As questões envolvendo os limites da Ne‑
otectônica (ou seja, até quando podemos re‑
cuar no tempo geológico para considerar o
prefixo “neo”) começaram a ser elucidadas a
partir da análise das várias propostas dispo‑
níveis na literatura por Pavlides (1989). Este
autor concluiu que o início do período neo‑
tectônico não representa um marco estrati‑
gráfico na evolução da Terra, mas vincula‑se
às particularidades de cada ambiente geo‑
tectônico. Outro aspecto importante nesse
contexto é que os movimentos atuais, que
sempre foram considerados dentro de uma
categoria independente, uma vez que não
se admitia deformação da crosta no Holo‑
ceno, passaram a integrar a Neotectônica. A
principal consequência desse entendimento
é que: as transgressões e regressões mari‑
nhas, o desenvolvimento e a organização de
bacias hidrográficas, além da elaboração de
sistemas de relevo atuais ‑ antes vinculados
apenas às idéias de oscilações eustáticas ‑
passaram a ser associados também aos mo‑
vimentos orogenéticos e epirogenéticos da
crosta (BEMERGUY, 1997).
Segundo Hasui & Costa (1996) a Neo‑
tectônica apresenta caráter multidisciplinar
que requer a utilização de métodos e técni‑
cas de investigação geológicos, geofísicos
e geoquímicos; as aplicações são encontra‑
das em quase todas as frentes de utilização
prática (mineração, exploração mineral;
hidrogeologia, obras de engenharia, estu‑
dos ambientais, planejamento de ocupação
do espaço, ecoturismo, etc) ou científica da
informação geológica (evolução geológica,
evolução da paisagem e outros). Também
possibilita extrapolações para deduzir mani‑
festações ou prever riscos naturais ou artifi‑
ciais no meio físico.
Os aspectos gerais da Neotectônica no
interior da placa Sulamericana, em parti‑
cular no Brasil, foram abordados por Hasui
(1990) e Costa et al. (1996). Desses traba‑
lhos conclui‑se que o início da Neotectônica
está sendo vinculado à mudança do regime
tectônico de caráter distensivo, a que se
liga a abertura do Atlântico, para um regi‑
me transcorrente, ora em vigor, relacionado
com a rotação da Placa Sulamericana para
oeste, com o pólo de rotação localizado a
sul‑sudeste da Groenlândia. A época des‑
sa mudança de regime foi tentativamente
fixada no Mioceno Superior, assim, a Neo‑
tectônica abrangeria o Neógeno (Mioceno
‑Plioceno) /Quaternário. A Neotectônica tem
manifestações em termos de evolução do re‑
levo, sedimentação e geração de estruturas
geológicas notáveis;
32
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
34. Na região amazônica, Costa et al.
(1996) demonstraram que a complexa
coexistência de extensas planícies com
sistemas de serras de altitudes supe‑
riores a 2.500 m só pode ser mais bem
entendida se forem considerados os
elementos estruturais gerados pelos
movimentos tectônicos do Cenozóico,
sobretudo no Neógeno/Quaternário.
Tais estruturas são consideradas neo‑
tectônicas se forem geradas ou reativa‑
das no período citado. Se essas estrutu‑
ras estão em movimentação, precisam
ser levadas em conta antes de qualquer
iniciativa de planejamento e ordena‑
mento territorial, pois podem envolver
riscos para as populações. Os trends de
estruturas mais importantes são os de
direção NE‑SW, NW‑SE e E‑W reativados
com a instalação da faixa transcorrente
do Juruá. Esta direção, aliás, promove
reorganizações importantes nos princi‑
pais rios do Estado, pois geralmente deslo‑
cam seus cursos para a esquerda em função
dessas falhas E‑W. Momentos de transpres‑
são alternados com transtensão são respon‑
sáveis pela elaboração da paisagem atual.
No Acre, tem‑se uma das mais importan‑
tes zonas sismogênicas do Brasil (áreas com
risco de ocorrer sismos ‑ terremotos). Os sis‑
mos representam alívios de tensão ao longo
de falhas, em geral em ciclos recorrentes de
cargas/descargas de tensão ou quiescência/
manifestação de abalos, e são analisados
por seus efeitos em superfícies ou registra‑
dos em sismógrafos.
O Estado carece de estudos nesse senti‑
do. Frente aos grandes projetos de constru‑
ção civil, abertura de estradas, construção
de pontes, etc., que estão sendo ou serão
desenvolvidos, é importante que atenção
seja dispensada aos efeitos da Neotectônica
na determinação de áreas aptas a receber
aqueles empreendimentos ou áreas com‑
pletamente inaptas. Isso diz respeito à vul‑
nerabilidade dessas áreas, de que tratamos
no início do texto. É imprescindível a deli‑
neação de falhas ativas no território acriano
e de estruturas que imprimam fragilidade
aos ambientes.
Um primeiro passo é a análise do rele‑
vo gerado por tectônica e da drenagem. Os
cursos de água geralmente adaptam‑se às
orientações das estruturas geológicas ou
são afetadas por elas, resultando no desen‑
volvimento de cachoeiras, ou barragens, ou
deslocamentos dos canais dependendo do
tipo de falha; já o relevo tectônico expressa
um espectro de feições topográficas que po‑
dem ser empregadas como indicadoras de
estilo, magnitude e taxa de movimentos tec‑
tônicos, destacando‑se as seguintes: escar‑
pas de falhas; paleoterraços desnivelados;
deslocamento de escarpas fluviais; mudan‑
ça brusca de declividade; deslocamento de
construções feitas pelo homem historica‑
mente comprovadas; cristas, etc.
Nesse momento, tais estruturas serão
visualizadas no mapa geológico a ser publi‑
cado nesta segunda fase do ZEE, com base
em análise de drenagem e de relevo, mas
cabe aqui ressaltar a iminente necessidade
de aprofundar esses estudos, determinar a
gênese dessas estruturas, a cronologia dos
eventos que as geraram, sobretudo em áre‑
as no sudeste acriano, onde a antropização
é maior.
33
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeologiadoEstadodoAcre
35. Considerações Finais
Como explicado anteriormente, a base
de dados utilizada neste trabalho foi a do
SIPAM/IBGE. Entretanto alguns ajustes
foram realizados, como por exemplo, a
adequação da legenda geológica para o
Estado do Acre e a presença de algumas
lacunas de informação que foram sana‑
das a partir da análise de imagens de sa‑
télite e de radar.
Destaca‑se o grande avanço nesta se‑
gunda fase do ZEE haja vista a ampliação
da escala de trabalho de 1:1.000.000
para 1:250.000. Isso possibilita um
maior poder de análise em todos os te‑
mas trabalhados. Os avanços no tema
Geologia são notáveis. Em sua primeira
fase, o ZEE apresentou dez unidades lito‑
estratigráficas contra quinze publicadas
nesse momento. Principalmente no perí‑
odo de tempo mais recente é importante
esse detalhamento. A separação dos di‑
versos níveis de terraços, por exemplo,
pode explicar o desenvolvimento deste
ou daquele tipo de solo e suas conse‑
qüências. A separação de depósitos de
colúvio daqueles aluvionares proporcio‑
na melhor entendimento dos processos
erosivos neste ou naquele setor do Esta‑
do, etc.
Diante dos avanços obtidos nessa eta‑
pa do ZEE cabe ressaltar a necessidade
de um detalhamento maior das informa‑
ções geológicas, com investimentos em
trabalhos de campo e análises laborato‑
riais dos materiais encontrados no Esta‑
do. No tocante a litologia (tipo de mate‑
rial ou rocha), a necessidade primeira é a
de conhecer melhor nossas potencialida‑
des de exploração de bens minerais e de‑
terminação/quantificação de aquíferos
(rochas que permitem acúmulo e fluxo
de água subterrânea); no que diz respei‑
to a estruturas tectônicas, possibilidade
de ampliar e direcionar investimentos de
construção civil e planejamento ambien‑
tal como um todo a determinadas áreas
menos vulneráveis tectonicamente, etc.
34
GeologiadoEstadodoAcre
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACRE
36. 2
Livro Temático II
Recursos Naturais I:
Geologia, Geomorfologia e Solos do Acre
Capítulo
Geomorfologia do Estado do Acre
37. O
processo de Zoneamento Ecoló‑
gico Econômico envolve, preli‑
minarmente, estudos ambientais
que examinam os efeitos da inter‑
ferência do homem sobre os diversos am‑
bientes naturais, por meio de abordagens
multidisciplinares. Nesse ínterim, destaca
‑se a análise do relevo como um dos compo‑
nentes básicos desse tipo de pesquisa.
A Geomorfologia compreende a descri‑
ção, classificação e elucidação dos proces‑
sos de evolução das formas de relevo, que
expressam o arcabouço litoestrutural e re‑
tratam a atuação de condições climáticas
pretéritas e atuais. Sobre elas, desenvolvem
‑se os tipos de solos, os quais, por sua vez,
permitem a instalação das variadas co‑
munidades vegetais. A partir desse ponto,
vislumbra‑se o emaranhado de relações
existentes entre ambiente e ser humano, o
modo como uma esfera atua sobre a outra e
como são interdependentes.
Dessa feita, a segunda fase do Zonea‑
mento Ecológico Econômico do Acre, por
meio de mapeamento em escala 1:250.000,
pretende apresentar a geomorfologia do
Estado do Acre. Tal ação foi realizada por
meio de compilação bibliográfica e geração
de mapas temáticos a partir do banco de
dados ambientais do projeto SIPAM – IBGE.
O grande avanço com relação à primeira
fase foi a de ampliação de classes temáti‑
cas (três classes geomorfológicas anterio‑
res versus nove atuais). Esse detalhamento
permite inferir sobre processos morfoge‑
néticos de maneira mais precisa e, conse‑
quentemente, permite melhorar a acurá‑
cia na determinação de vulnerabilidades/
potencialidades do meio físico por meio da
superposição dos mapas temáticos do eixo
de recursos naturais.
8. Descrição Metodológica
8. 1. Material Utilizado
O material em formato digital utilizado
durante a pesquisa pertence ao acervo do
IMAC, já os em formato analógico foram
consultados na Embrapa Amazônia Oriental,
constando de:
Banco de dados gráfico alfanumérico
desenvolvido e alimentado pelo IBGE para
o Projeto SIPAM (IBGE, 1999), consistindo
de mapas no formato digital de geomorfo‑
logia e cartografia, com escala de entrada
1:250.000, e dados alfanuméricos sobre os
diversos temas.
Arquivos vetoriais contendo a hidrogra‑
fia das cartas topográficas do IBGE e DSG na
escala 1:250.000 disponíveis para a área, e
das cartas planialtimétricas do Projeto RA‑
DAMBRASIL na mesma escala (Quadro 3).
Imagens ETM do satélite LANDSAT 7, em
formato digital com as configurações cons‑
tantes no Quadro 3.
PC Dell Pentium 4 com configuração de
3.2 GHz e 2 1Gb de memória RAM.
Programa ARCGIS para tratamento e
gerenciamento dos dados cartográficos em
formato digital.
Geomorfologia do
Estado do Acre
b Texto:b Luciana Mendes Cavalcante
Geóloga, M.Sc.
7. Introdução
36
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACREGeomorfologiadoEstadodoAcre
38. Figura 08. Materiais utilizados neste trabalho. Fonte:
Inpe, 2006* e Radambrasil**, 1976.
Imagens de Satélite
Órbita – ponto WRS*
Base topográfica de
acordo com o corte
internacional na escala
1:250.000**
001/067 004/066 SB18ZC SC19VD
002/066 004/067 SB18ZD SC19XA
002/067 005/065 SB19YC SC19XC
002/068 005/066 SB19YD SC19XD
003/066 005/067 SC18XA SC19YA
003/067 006/065 SC18XB SC19YB
003/068 006/066 SC18XD SC19YD
004/065 SC19VA SC19ZA
SC19VB SC19ZB
SC19VC SC19ZC
8. 2. Estudos Preliminares
Nessa fase são sistematizadas as infor‑
mações geomorfológicas obtidas através de
levantamentos bibliográficos. Aqui também
são reunidos e preparados os materiais bá‑
sicos (imagens de sensores remotos e ma‑
pas planimétricos e/ou planialtimétricos),
para interpretação.
8. 3. Estudo Temático
Aqui são realizadas síntese e revisão bi‑
bliográfica e elaboração de bases cartográ‑
ficas por meio de interpretação de produtos
de sensores remotos e de bases topográfi‑
cas. Para os dados de campo, uma vez que
não houve ações nesse sentido, foram uti‑
lizados dados secundários (banco de dados
do Projeto SIPAM).
A síntese e revisão bibliográfica envol‑
veram consultas sobre a geomorfologia do
Estado, além dos materiais cartográficos e
dos produtos de sensores remotos. Os resul‑
tados apresentados dizem respeito
à delimitação de unidades morfo‑
gráficas ou geomorfológicas.
Por meio de técnicas de geo‑
processamento foram elaboradas
as bases cartográficas (utilizando
o programa ARCGIS 9.0). O re‑
sultado foi comparado a mapas
gerados analogicamente.
8. 4. FundamentaçãoTeórica
A geração das bases analógicas
pautou‑se na aplicação das téc‑
nicas de fotoleitura, fotoanálise e
fotointerpretação recomendadas
por Soares & Fiori (1976) envol‑
vendo a interpretação de imagens
de radar e de satélite. É igualmente
relevante à aplicação do conceito
de sistemas de relevo (COOKE &
DOORNKAMP, 1978), que com‑
preende a análise das formas e
dos grupos de formas de relevo e
se aproxima das bases do mapea‑
mento de land‑system. Esse procedimento
busca a subdivisão de uma região em áreas
que tenham em seu interior atributos físicos
comuns que são diferentes das áreas adja‑
centes. Internamente, os sistemas de relevo
apresentam um padrão recorrente de topo‑
grafia, solos e vegetação.
Uma breve revisão de conceitos faz‑se
necessária a fim de introduzir o assunto tra‑
tado adiante. O mapeamento geomorfológi‑
co permite uma ordenação dos fatos geo‑
morfológicos mapeados em uma taxonomia
que os hierarquiza (IBGE, 1995).
Em função da gênese e da geometria, uma
forma de relevo é considerada um modelado
(podendo ser resultante de acumulação (A),
aplanamento (P), dissecação (D) e dissolu‑
ção (K)). Determinados tipos de modelado, a
predominância de determinados processos
morfogenéticos e a ocorrência de forma‑
ções superficiais diferentes de outras cons‑
tituem a Unidade Geomorfológica ou Mor‑
fográfica (classificação adotada aqui); aos
grupamentos de unidades geomorfológicas
que apresentam semelhanças resultantes
37
GeomorfologiadoEstadodoAcre
LIVROTEMÁTICOII
RECURSOSNATURAISI:GEOLOGIA,GEOMORFOLOGIAESOLOSDOACRE
39. da convergência de fatores de sua evolução
chamamas aqui de Regiões Geomorfológi‑
cas e aos grandes conjuntos estruturais, ou
conjuntos de regiões geomorfológicas, que
geram arranjos regionais de relevo, guar‑
dando entre si relação de causa, chamamos
de Domínios Morfoestruturais.
Na primeira fase do ZEE/AC, as unidades
geomorfológicas eram aquelas apresenta‑
das e descritas pelo Projeto RADAM (SILVA
et al., 1976; BARROS et al., 1977) ‑ Planí‑
cie Amazônica, Depressão Rio Acre‑Javari e
Planalto Rebaixado da Amazônia Ocidental.
Com a ampliação da escala de mapeamento
para 1:250.000, novas unidades forma inse‑
ridas em função do maior grau de detalhe
(descritas a seguir).
9. Geomorfologia da Área
Um dos objetivos do mapeamento geo‑
morfológico é o zoneamento do relevo e o
principal fator utilizado para tal é a altime‑
tria. Entretanto, há na Amazônia uma rela‑
tiva homogeneidade altimétrica. Por conta
disso, busca‑se uma diferenciação em ter‑
mos morfogenéticos e em termos texturais
(analisando imagens de satélite e de radar).
Para fins de zoneamento, a avaliação do
relevo reporta‑se, principalmente, ao seu
uso, e para tanto não
basta à caracterização
da forma, mas também
do grau de dissecação, o
que é função basicamen‑
te do grau de aprofunda‑
mento das incisões nos
modelados e da densida‑
de da drenagem.
Este plano de infor‑
mação, portanto, apre‑
senta e descreve as for‑
mas do relevo e a sua
configuração superficial.
O Estado do Acre mostra
‑se dividido em nove uni‑
dades geomorfológicas:
a Planície Amazônica, a
Depressão do Endimari
‑Abunã, a Depressão
do Iaco‑Acre, a Depressão de Rio Branco,
a Depressão do Juruá‑Iaco, a Depressão do
Tarauacá‑Itaquaí, a Depressão Marginal a
Serra do Divisor, a Superfície Tabular de
Cruzeiro do Sul e os Planaltos Residuais da
Serra do Divisor (ver mapa geomorfológico
em anexo).
Planície Amazônica
Unidade com altitudes variando entre
110 e 270m, situada ao longo dos principais
rios. O processo de formação da planície
amazônica se dá por colmatagem de sedi‑
mentos em suspensão e construção de pla‑
nícies e terraços orientada por ajustes tectô‑
nicos e acelerada por evolução de meandros.
Os padrões de drenagem nela presentes são
o meândrico (Figura 8) e o anastomosado,
indicando ajuste hidrodinâmico em áreas
rebaixadas. É caracterizada por vários níveis
de terraços e as várzeas recentes contêm d
iques e paleocanais, lagos de meandro e de
barramento, bacias de decantação, furos,
canais anastomosados e trechos de talve‑
gues retilinizados por fatores estruturais.
O contato desta unidade com as demais é
em geral gradual, mas com ressaltos nítidos
nos contatos das planícies com as formas de
dissecação mais intensas das unidades vizi‑
Figura 09. Figura 8. Padrão meândrico típico da planície amazônica,
ao longo do Rio Juruá, oeste do Acre. Na parte superior da figura, a
cidade de Cruzeiro do Sul. Fonte: Google Earth, 1999.
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LIVROTEMÁTICOII
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40. nhas. Já os contatos com os terraços mais
antigos podem ser disfarçados.
A composição das formações superfi‑
ciais é de níveis de argilas, siltes e areias
muito finas a grosseiras, estratificadas,
localmente intercaladas por concreções
ferruginosas, e concentrações orgânicas,
resultando em Neossolos flúvicos, Luvis‑
solos hipocrômicos, Gleissolos melânicos,
Argissolos vermelho‑amarelo e amarelo e
Plintossolos háplicos.
Apresenta‑se, na área em questão, em
quatro categorias distintas de modelados
(ver mapa geomorfológico em anexo).
São elas:
aa Terraços fluviais. São acumulações flu‑
viais de forma plana, apresentando rup‑
tura de declive em relação ao leito do rio
e às várzeas recentes situadas em nível
inferior, entalhadas devido à variação do
nível de base. Ocorrem nos vales conten‑
do aluviões finas a grosseiras, pleistocê‑
nicas e holocênicas.
aa Planícies e terraços fluviais. São áreas
planas resultantes de diferentes acumu‑
lações fluviais, periódica ou permanen‑
temente inundadas, comportando me‑
andros abandonados e diques fluviais
com diferentes orientações, ligadas
com ou sem ruptura de declive a pata‑
mar mais elevado. Ocorrem nos vales
com preenchimento aluvial contento
material fino a grosseiro, pleistocênicos
e holocênicos.
aa Planícies fluviais. Áreas planas resul‑
tantes de acumulação fluvial e sujeitas
á inundações periódicas, incluindo as
várzeas atuais, podendo conter lagos de
meandros, furos e diques aluviais para‑
lelos ao leito atual do rio. Ocorrem nos
vales com preenchimento aluvial.
aa Planícies e terraços flúvio‑lacustres. Área
plana resultante de processos de acumu‑
lação fluvial/lacustre, podendo compor‑
tar canais anastomosados ou diques mar‑
ginais, com ou sem ruptura de declive
em relação à bacia do lago e às planícies
flúvio‑lacustres situadas em nível infe‑
rior. Ocorrem em setores sob o efeito de
processos de acumulação fluvial e lacus‑
tre, sujeitos ou não a inundações perió‑
dicas, com barramentos formando lagos.
aa Depressão Do Endimari‑Abunã. Unidade
com altitude variando entre 130 e 200m,
nivelada por pediplanação pós‑terciária,
posteriormente dissecada pela drenagem
atual. Trata‑se de superfície suavemente
dissecada, com topos tabulares e algu‑
mas áreas planas. No trecho que acompa‑
nha longitudinalmente o rio Abunã ocor‑
rem relevos um pouco mais dissecados e
de topos convexos (limite leste do Esta‑
do). Sedimentos da Formação Solimões
geraram Argissolos vermelho‑amarelos,
como próximo a Xapuri. Observam‑se
ainda Latossolos de diversas texturas.
Seu contato com as unidades vizinhas é
gradual. Esta unidade caracteriza‑se por
formas de dissecação, descritas a seguir:
aa Dissecação homogênea convexa. Gera
formas de relevo de topos convexos, es‑
culpidas em variadas litologias, às vezes
denotando controle estrutural, definidas
por vales pouco profundos, vertentes de
declividade suave, entalhadas por sulcos
e canais de primeira ordem.
aa Dissecação homogênea tabular. Gera for‑
mas de relevo de topos tabulares, con‑
formando feições de rampas suavemente
inclinadas e lombas esculpidas em co‑
berturas sedimentares inconsolidadas,
denotando eventual controle estrutural.
Além dessas, há ainda modelado de apla-
amento:
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LIVROTEMÁTICOII
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41. aa Pediplano retocado inumado. Trata‑se de
superfície de aplanamento elaborada du‑
rante fases sucessivas de retomada dos
processos de erosão, os quais geraram
sistemas de planos inclinados, às vezes le‑
vemente côncavos. Aparece inumada por
coberturas detríticas e/ou de alteração.
Depressão do Iaco‑Acre
Unidade com altitude variando entre
160 e 290m, com padrão de drenagem den‑
drítico. Admite‑se para sua formação um
possível truncamento pela pediplanação
pós‑terciária, podendo ter sofrido tectônica
de soerguimento relacionada à reativação
do Arco de Iquitos. Posteriormente foi disse‑
cada pela drenagem atual.
Compreende uma superfície muito disse‑
cada e com declives muito expressivos. As
áreas de topo aguçado com declives fortes
e as de topo convexo com declives media‑
nos refletem a presença de fácies arenosa
da Formação Solimões. De um modo geral, o
contato com outras unidades é gradacional.
No segmento mais setentrional, percebe‑se
uma nítida diferenciação na intensidade da
dissecação sem, contudo, definir uma linha
de ruptura entre uma unidade e outra.
Os sedimentos da Formação Solimões ge‑
raram principalmente Argissolos com cará‑
ter plíntico. No segmento mais ao noroeste, a
fácies arenosa dessa formação deu origem a
Plintossolos háplicos e Argissolos vermelho
‑amarelos. Suas formas de dissecação são a
convexa e a tabular, descritas anteriormente
e a aguçada, a seguir:
Dissecação homogênea aguçada. Trata
‑se de um conjunto de formas de relevo de
topos estreitos e alongados, esculpidas em
sedimentos, denotando controle estrutural,
definidas por vales encaixados.
Depressão de Rio Branco
Unidade com padrão de drenagem angu‑
lar, o que implica um controle estrutural. Va‑
ria na altimetria de 140 a 270m. A tectôni‑
ca parece ter um papel importante na área,
provavelmente uma movimentação tardia
no Arco de Iquitos provocou o soerguimen‑
to da unidade de relevo, que foi posterior‑
mente dissecada pela drenagem atual.
Caracteriza‑se por um relevo muito dis‑
secado, com topos convexos e densidade
de drenagem muito alta, apresenta declives
medianos na parte centro‑norte, diminuindo
para sul, onde se torna suave ondulado (Fi‑
gura 9). O contato com outras unidades se
dá de forma gradual. No entanto, com a De‑
pressão do Iaco‑Acre observa‑se diferença
na altitude e na intensidade da dissecação,
porém, sem que se perceba a presença de
uma linha nítida de ruptura topográfica.
Os sedimentos da Formação Solimões
presentes nessa unidade originaram domi‑
nantemente Argissolos vermelho‑amarelos.
As formas de dissecação relacionadas a
essa unidade são a convexa e a tabular (des‑
crições apresentadas anteriormente).
Depressão do Juruá‑Iaco
Esta unidade apresenta altitude variável
entre 150 a 440m. Trata‑se de uma área ni‑
velada por pediplanação pós‑terciária e pro‑
vavelmente afetada por neotectônica tardia.
A erosão descaracterizou o aplainamento re‑
sultando em modelados de dissecação. Sua
principal característica é a de apresentar‑se
Figura 10. Relevo colinoso de dissecação
convexa de baixa amplitude nas imediações
de Rio Branco.
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