A primeira lição de Jesus: o nascimento na pobreza e humildade
1.
2. “Seu nascimento foi a primeira lição que Ele dava aos orgulhosos e
poderosos da Terra. Depois ensinaria que não se necessita de
títulos, de posições, de riqueza e de poder temporal para remover o
mundo da órbita da ignorância.”
Os grandes mestres já trazem a vocação de ensinar ao nascer. E por isso
costumam ensinar desde cedo. Jesus, ainda menino, quando os outros
estão aprendendo, ensinava aos doutores do Templo em Jerusalém.
3. Fatos semelhantes ocorrem com muitas criaturas geniais em todo
mundo. Mas não há registro positivo de alguém que fizesse de toda a
sua vida, desde o ato de nascer até a morte, uma didaxis contínua, uma
lição incessante. Este é um dos fatos que destacam o Mestre Supremo
entre todos os mestres, que caracterizam o Gênio dos gênios. Gautama
Buda era príncipe e nasceu num palácio. Viveu nos esplendores da
corte até descobrir as dores do mundo.
4. Mas Jesus escolheu para berço a manjedoura. Nasceu na pobreza e na
humildade. E assim viveu, para depois morrer na ignomia. Aquele que
devia salvar o mundo e redimir os homens fez-se o menor e o mais
desprezado de todos. Seu nascimento foi a primeira lição que Ele dava
aos orgulhosos e poderosos da Terra. Depois ensinaria que não se
necessita de títulos, de posições, de riqueza e de poder temporal para
remover o mundo da órbita da ignorância.
5. E por fim nos deu duas espantosas lições finais: a morte na cruz e o
túmulo vazio, mostrando-nos que a injustiça eleva o justo e que a morte
desaparece à luz da ressurreição.
Mas a didaxis de Natal tem a sua simbologia. Foi a Sua primeira
parábola, não falada, mas vivida. O fato de Maria dar à luz em um
estábulo não era estranho na Judéia do tempo. Os estábulos eram
dependências da casa que podiam também servir às criaturas
humanas, particularmente no inverno, quando o calor dos animais
domésticos...
6. Ajudava a aquecer o ambiente. Os estábulos de inverno eram
geralmente montados em uma gruta, para que os animais ficassem mais
defendidos nas noites gélidas. Os rigores do inverno obrigavam os
homens a se fraternizarem com seus irmãos e servidores mais
humildes, os animais domésticos. Nascendo assim em um estábulo
Jesus incidia em nenhuma excentricidade, mas dentro dos próprios
costumes do povo, como faria em toda a sua vida, transmitiria aos
homens a mais bela parábola.
7. A criança entre as palhas da manjedoura era como a mônada celeste
lançada no seio da matéria. Os animais que a cercavam ajudavam Maria
a dar-lhe o calor do sangue e da carne. A centelha celeste era assim
envolvida na ganga da encarnação terrestre, com os instintos animais da
carne a prendê-la ao chão do mundo, mas com a ternura espiritual de
Maria a fortalecê-la para a vitória do espírito. A visita dos
Magos, relatada por Mateus, mostra-nos a sabedoria terrena curvandose, reverente ante o saber celeste e prestando-lhe a sua homenagem.
8. A fúria de Herodes o grande e de Jerusalém com Ele revela-nos a
hostilidade ciumenta dos grandes da Terra contra os verdadeiros
emissários do Alto. A convocação dos principais sacerdotes e dos
escribas do povo pelo rei alarmado é o incitamento dos poderes
humanos contra os poderes divinos. Temos assim na didaxis do Natal, a
primeira prova da legitimidade da missão de Jesus. Quando o Buda
nasceu os jardins do palácio rebentaram em flores e perfume.
9. Mas quando Jesus nasceu os anjos cantaram na fímbria do horizonte e
os pastores se ajoelharam nos campos nevados, trêmulos de
emoção, sem sentirem o frio do inverno. Não queremos desmerecer a
grandeza espiritual do Buda e de outros grandes missionários
espirituais, mas a didaxis do Natal nos lembra que o Messias judeu era
realmente o Mestre dos Mestres, o professor por excelência. O
Espiritismo encara os Evangelhos na sua realidade histórica, como
textos inspirados, mas de redação humana, sujeitos às influências
culturais da época...
10. E do meio em que foram redigidos e também às condições pessoais de
cada evangelista. Mas reconhece a legitimidade dos seus ensinos
espirituais e morais e tem o mais profundo respeito pelo sentido
alegórico de episódios como o do Natal. Por isso o Natal espírita não se
reveste de formalidades exteriores, mas não deixa de considerar o
sentido espiritual do grande evento cristão.