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Historiadores e
pesquisadores analisam
as raízes econômicas e
culturais de Pirabeiraba
150 anos de
trabalho e
tradição
Usina de Açúcar de Pirabeiraba,
início do século XX
Um presente à minha terra
3Apresentação da revista Pirabeiraba 150 pelo ex-vereador e ex-presidente da Câmara Fabio Dalonso
Primórdios de Pirabeiraba: aspectos obscuros da sua gênese histórica
4Dilney Cunha - Historiador, graduado e pós-graduado em História pela Univille
Pirabeiraba ontem e hoje
8Milton Benkendorf – Licenciado em História e mestrando em Patrimônio, Cultura e Sociedade da Univille.
O associativismo teuto-brasileiro em Pirabeiraba
12Wilson de Oliveira Neto – Professor de História em São Bento do Sul e mestrando em Patrimônio Cultural e Sociedade da Univille.
Estradas e famílias: colonização em Pirabeiraba
14Brigitte Brandenburg – Engenheira agrônoma da Epagri e fundadora do Instituto de Geneologia de Santa Catarina.
Pirabeiraba: fragmentos para pensar um pedaço
22Fernando Cesar Sossai – Mestre em Educação, Comunicação e Tecnologia pela Udesc e professor de História na Univille.
Engenho de mate de Abdon Baptista, na Estrada Dona Francisca
Reunião da família Pabst (Rio da Prata) com o pastor
luterano C. Bartelmann (com chapéu na mão)
A revista Pirabeiraba 150 é uma publicação comemorativa dos 150 anos de Pirabeiraba editada pelo ex-vereador Fabio Dalonso.
Contato: fabiodalonso@expresso.com.br
Jornalista responsável: Domingos de Abreu Miranda (DRT-SP 18.888).
Fotos: Nilson Bastian e Arquivo Histórico de Joinville e Grupo Folclórico Windmühle.
Diagramação: Marcelo Duarte • mdu@terra.com.br
Impressão: Gráfica: Grafinorte.
A
niversário sem presente não é aniversário. Há cerca de seis meses já pensava o que pode-
ria oferecer a esta comunidade – que me viu nascer e que tantas alegrias têm me dado
– quando ela completasse 150 anos de existência. Queria dar um presente que agradasse a
todos: jovens, idosos, homens, mulheres, católicos, luteranos, ricos ou pobres. Então deci-
di oferecer a esta boa gente uma revista que relatasse um pouco da história deste aprazível
pedaço de chão. Portanto estamos entregando a vocês Pirabeiraba 150.
Este projeto foi idealizado com a ajuda do meu leal amigo e jornalista Domingos
Miranda e do conceituado historiador Dilney Cunha. A vocês dois o meu eterno agradeci-
mento por ter permitido concretizar este antigo sonho meu. Para esta empreitada contei também com o
apoio dos amigos Marisa Fock, Clóvis Seefeldt, Mário Sérgio, proprietário
da Criacom e a participação especial do fotógrafo Nilson Bastian. Aqui não
poderia deixar de destacar a compreensão de Marcelo e Jonas, diretores do
Perini Business Park, que entenderam o significado desta publicação para
a comunidade, investindo na publicidade.
Mas a revista Pirabeiraba 150 não sairia sem o trabalho abnegado e
gratuito de um grupo de conceituados pesquisadores, alguns deles com ra-
ízes em Pirabeiraba. Quem coordenou esta empreitadada foi o historiador
Dilney Cunha, autor dos livros “Suíços em Joinville: o duplo desterro”e
“História do Trabalho em Joinville – gênese”. Ele também escreve o artigo
de abertura, “Primórdios de Pirabeiraba: aspectos obscuros da sua gênese
histórica”. Já a pesquisa “Pirabeiraba ontem e hoje” foi feita por um filho
da terra, Milton Benkendorf, licenciado em História e mestrando em Pa-
trimônio, Cultura e Sociedade, da Univille. Wilson de Oliveira Neto, professor de História e co-autor
do livro “O Exército e a cidade” escreveu sobre “O associativismo teuto-brasileiro em Pirabeiraba”. A
engenheira agrônoma e pesquisadora da realidade local, Brigitte Brandenburg, trouxe à tona um inte-
ressante levantamento, “Estradas e famílias: colonização em Pirabeiraba”. Fechando o ciclo de estudos o
professor de História da Univille e mestre em educação, comunicação e tecnologia pela Udesc, Fernan-
do César Sossai, nos apresenta “Pirabeiraba: fragmentos para pensar um pedaço”.
Tenho certeza que estes trabalhos de alta qualidade servirão a todos aqueles que queiram entender
melhor nosso passado, conhecer o presente e vislumbrar perspectivas sobre o futuro desta comunidade.
Obrigado a todos.
Pirabeiraba, 15 de abril de 2009.
Fabio Dalonso
Um presente à minha terra
3
No final do século 18 e início do século 19, parte das terras de-
volutas adjacentes a Pirabeiraba, que então pertenciam à freguesia de
São Francisco do Sul, foram cedidas a famílias de origem luso-brasileira,
muitas das quais possuíam escravos. Nas sesmarias (como eram deno-
minadas essas propriedades) cultivavam-se principalmente mandioca e
cana-de-açúcar. Um e outro pequeno engenho produzia cachaça, melado
e açúcar mascavo. Descendentes desses primeiros povoadores ainda hoje
residem na região, como as famílias Cercal, Dias, Cidral, Cristino e Araú-
jo. Narrando suas memórias, Manoel de Oliveira Cercal conta que seus
antepassados chegaram de Portugal há cerca de 250 anos. Adquiriram
terras nas regiões de Araquari, do Boa Vista e do Cubatão, dedicando-se
a agricultura, com a utilização do trabalho escravo.
Ana Dias, nascida em 1907, neta de escravos de sesmeiros da re-
gião do Cubatão, recorda que após a abolição (1888), muitos cativos e
seus descendentes foram trabalhar para famílias germânicas de Pirabeira-
ba. Ela mesmo foi empregada da família Bächtold, da Estrada da Ilha.
Entretanto, o povoamento sistemático e em maior escala da re-
gião começou com a criação da Colônia Dona Francisca e a chegada dos
imigrantes europeus a partir de 1851. Desde o princípio era intenção da
Sociedade Colonizadora de Hamburgo e do representante do Príncipe
e da Princesa de Joinville, Léonce Aubé, ocupar as terras mais ao norte
da Colônia. Para isso, foi projetada uma estrada que ligaria Joinville ao
planalto de Curitiba e serviria para estabelecer o comércio entre essas
regiões. Também foi construída em 1854 uma grande serraria às margens
Aspectos obscuros da sua gênese histórica
Primórdios de
Pirabeiraba
Dilney Cunha*
A
ocupação humana da região hoje denominada de Pirabeiraba data de pelo menos 5 mil anos atrás, quan-
do grupos de coletores-caçadores-pescadores estabeleceram-se preferencialmente às margens de rios como
o Cubatão e da baía da Babitonga. Os únicos vestígios deixados por essas populações são os sambaquis,
montes de conchas nos quais se encontraram artefatos de pedra como pequenas esculturas em forma de
animais (zoólitos), pontas de flecha, utensílios domésticos e até mesmo ossos humanos.
Grupos indígenas também passaram pela região, como os carijós (guaranis) no século 15 e os xok-
lengs (botocudos ou “bugres”) já no século 19, os quais protagonizaram vários confrontos com os colonos
europeus, alguns mais graves, como o que vitimou o casal Lenschow em 1876 na Estrada da Serra (atual
SC-301). Embora não se tenha comprovação, é possível que os guaranis tenham aberto o caminho mais antigo da re-
gião, chamado de Peabiru, cujos trechos hoje são conhecidos como Estrada Três Barras e Caminho do Monte Crista. A
trilha foi utilizada ao que parece pelos exploradores espanhóis e portugueses no século 16 e serviu também de passagem
para os padres jesuítas e os tropeiros que se deslocavam entre o planalto curitibano e o litoral norte catarinense, onde
estavam a vila e o porto de São Francisco do Sul.
* Dilney Cunha
– Historiador,
graduado e
pós-graduado
em História pela
UNIVILLE, autor
dos livros “Suíços
em Joinville – O
duplo desterro” (Ed.
Letra d´Água,
Joinville, 2003,
traduzido para o
alemão e lançado na
Suíça em 2004 pela
Editora Limmat, de
Zurique) e “História
do Trabalho em
Joinville – Gênese”
(Ed. Todaletra,
2008).
4
Estrada Dona Francisca, no alto
da serra, caminho usado para o
transporte do mate
do rio Cubatão, na altura da confluência com o rio da Prata. A “Serraria
do Príncipe” como ficou conhecida, foi por vários anos o maior empre-
endimento da Colônia, exportando madeira para fora da Província de
Santa Catarina.
O que determinou porém a criação de Pirabeiraba foi um enca-
deamento de fatos: em 1855 a Sociedade Colonizadora de Hamburgo
estava à beira da falência; seus recursos financeiros estavam esgotados e
o dinheiro prometido pelo governo imperial brasileiro não veio. A Co-
lônia Dona Francisca por sua vez vivia um momento delicado: muitos
colonos, frustrados em suas expectativas, em virtude das inúmeras di-
ficuldades encontradas, preferiram transferir-se para outras localidades
como Curitiba. A rivalidade entre os
negócios do Príncipe de Joinville, ad-
ministrados pelo seu representante,
Léonce Aubé, e os negócios da So-
ciedade Colonizadora, aumentava a
tensão. O diretor da Colônia, Benno
von Frankenberg und Ludwigsdorff,
profundamente descontente com
a situação, pede demissão. Dois in-
terventores assumem a Direção, mas
também acabam se desentendendo.
Foi nesse exato momento
que, percebendo que o seu próprio
empreendimento estava ameaça-
do, o Príncipe de Joinville enviou Aubé a Hamburgo para assinar um
contrato com a Sociedade Colonizadora, mediante o qual se tornou seu
sócio-acionista, com a aquisição de 800 ações. Comprometia-se a pagar
por elas 50.000 tálers (moeda alemã da época) e dar 30.000 morgos (75
milhões de m²) de terra à Sociedade. Também ficou acertado que Aubé
seria o novo diretor da Colônia.
Ocorre porém que o Príncipe ainda encontrava-se exilado na
Inglaterra, em uma situação financeira desconfortável. Embora não se
tenha a documentação comprobatória, é quase certo que aquele dinhei-
ro veio do seu irmão Henri d´Orleans, Duque d´Aumale, general do
exército francês, escritor de obras militares e à época, dono da maior
fortuna da França, estimada em 66 milhões de francos, herdada do seu
padrinho, o príncipe Bourbon-Condé. Da herança fazia parte também o
famoso castelo de Chantilly, que abriga hoje uma das principais coleções
de arte do mundo, doada pelo duque.
Em troca dessa ajuda, o Duque d´Aumale recebeu uma extensa
área de terras situadas na margem esquerda do rio Cubatão, que ficou co-
nhecida como Domínio Pirabeiraba. Ali mandou construir na década de
1860 uma enorme fábrica de açúcar, que funcionou até o início do sécu-
lo 20, sendo considerada a maior e mais moderna de toda a Província de
Santa Catarina e comparada aos melhores estabelecimentos do gênero
no Brasil. Suas instalações foram or-
çadas em cerca de Rs 120.000$000
(cento e vinte mil contos de réis),
dos quais Rs 40.000$000 em má-
quinas (importadas da França), uma
quantia fabulosa para a época. Suas
caldeiras a vapor operavam com
motores de 96 cavalos de força, ca-
pazes de produzir até 800 hectolitros
(80.000 litros) de caldo por dia.
Havia cerca de 4 quilômetros
de trilhos, fixos e móveis, atraves-
sando as plantações. Assim, a cana
depois de cortada e enfeixada, era
colocada em vagões e conduzida até a fábrica, onde então iniciava-se o
processo de moagem, destilação e produção de aguardente (cachaça) e
açúcar. Também foi construída uma escola para os filhos dos emprega-
dos da fazenda. O conjunto de construções (casa de máquinas, engenho
de moagem, residência do administrador, galpões e rancho dos empre-
gados etc) tinha o aspecto de uma “pequena cidade”, segundo expressão
usada pelo escritor joinvilense Ernst Niemeyer.
Inicialmente produzia-se apenas cachaça e açúcar mascavo, e a
partir da década de 1870, foi a pioneira na produção do açúcar branco e
refinado, premiado em exposições agroindustriais, como a de Porto Ale-
O que determinou porém a criação de
Pirabeiraba foi um encadeamento de fatos:
em 1855 a Sociedade Colonizadora de
Hamburgo estava à beira da falência; seus
recursos financeiros estavam esgotados e o
dinheiro prometido pelo governo imperial
brasileiro não veio.
Carroção “Sãobentowagen”, com
sua cobertura de lona, era o meio de
transporte mais comum na Estrada
Dona Francisca
5
gre em 1881. Para que se tenha uma idéia do impacto na economia local,
a produção total de açúcar da colônia saltou de 1.350 arrobas (cerca de
20.000 quilos) em 1867 para 8.760 arrobas (cerca de 128.000 quilos) em
1868, enquanto a de cachaça pulou de 28.000 medidas (aprox. 73.000
litros) para 64.800 medidas (aprox. 170.000 litros).
Além de suprir o mercado local, a fábrica exportava seus produtos
para Desterro (atual Florianópolis), Blumenau, Laguna, São Bento do
Sul e também para as Províncias do Paraná, Rio Grande do Sul e Rio
de Janeiro. Embora a fazenda possuísse extensos canaviais, a fábrica era
abastecida também por inúmeros agricultores da região.
Pela sua grandiosidade, pelas suas instalações modernas, pela
sua administração inovadora para época e lugar, a fazenda do Duque
d´Aumale transformou-se em um empreendimento-modelo no país.
Atraiu a atenção de ilustres visitantes, como o conde d´Eu, esposo da
princesa Isabel, o dinamarquês Henningsen, representante do Duque
de Chartres (irmão de d´Aumale) e o príncipe austríaco Windischgratz.
A população também parece ter feito da fazenda um ponto “turístico”:
associações e grupos de pessoas costumavam realizar “excursões” de Join-
ville até o local.
Aubé era agora, além de representante do Príncipe de Joinville e
do Duque d´Aumale, o novo diretor da Colônia Dona Francisca. Assim,
uma das primeiras medidas que adotou foi garantir a mudança do traça-
do da futura estrada que ligaria a colônia ao planalto. O projeto inicial
da antiga direção fazia com que ela passasse pela região de Anaburgo
(atual Vila Nova). Aubé, vendo que isso seria extremamente prejudicial
para os interesses do Príncipe, iniciou com recursos próprios e do gover-
no da Província, a construção de uma outra estrada em 1852. Partindo
do centro de Joinville (atual rua Dona Francisca), ela atravessava justa-
mente as terras do nobre francês, o que viabilizaria a sua colonização e
consequentemente provocaria sua valorização, além de garantir o escoa-
mento da produção dos futuros empreendimentos (serraria e fábrica de
açúcar). Acumulando os cargos, não foi nada difícil para Aubé fazer valer
o seu projeto.
Esse fato foi fundamental para o surgimento de Pirabeiraba. No
seu relatório de 1857, a Sociedade Colonizadora de Hamburgo já men-
cionava a criação de um novo povoamento na região do Cubatão e no
relatório seguinte fala da “cidade (Stadtplatz) projetada para situar-se ao
longo da estrada que leva até o planalto e promete por causa de sua
localização, rápido progresso”. Em 1859, a chamada “Estrada da Serra”
(atual SC-301) estava concluída até a “nova cidade a ser construída às
margens do rio Cubatão”. Estava tudo preparado para iniciar a coloni-
zação da região.
Naquele mesmo ano, o governo imperial enviou à colônia o conse-
lheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz, para que fiscalizasse o andamento
das obras públicas, em especial a Estrada da Serra. Para homenageá-lo, a
Direção da Colônia ofereceu-lhe o primeiro lote do novo núcleo popu-
lacional, que também em sua homenagem recebeu o nome de Pedreira.
Localizava-se no ponto onde se encontravam as estradas da Serra, Cuba-
tão e Três Barras.
O título de propriedade traz a data de 15 de abril, tida hoje como
a data de fundação do distrito de Pirabeiraba; mas os primeiros assen-
tamentos ocorreram ao que parece ainda em 1858 na Estrada Cubatão
(trechos da Estrada Anaburgo e BR-101). Os registros imobiliários da
Direção da Colônia indicam por sua vez que o primeiro lote na Estrada
da Ilha foi vendido ao imigrante alemão Heinrich Demuth em 15 de
setembro de 1859. Independente da data, é fato que esse ano marcou
o início da colonização em maior escala da região de Pirabeiraba, com
a chegada de inúmeras famílias de origem germânica, em sua absoluta
maioria oriunda de pequenas aldeias rurais da Pomerânia, região locali-
zada no leste do antigo Reino da Prússia (atuais Alemanha e Polônia).
Vieram ainda muitos imigrantes de Mecklemburgo, Saxônia e da Suíça.
Em 1867, ou seja, menos de dez anos depois, residiam naquele distrito
974 pessoas (em toda a Colônia moravam 4.667 habitantes), das quais
628 eram estrangeiras (ou seja, imigrantes).
Fontes
CIESLINSKI, Carolina; COELHO, Ilanil. Os luso-brasileiros em terras de alemães: a história
que não foi contada. In: Caderno de iniciação à pesquisa. Vol. 6-novembro/2004. Joinville:
UNIVILLE, p.204.
FICKER, Carlos. História de Joinville: subsídios para a crônica da Colônia Dona Francisca.
Joinville: Ipiranga, 1965.
QUANDT, Olavo Raul. Mil pomeranos. Joinville: edição do autor, 2003.
SCHMALZ, Odete. Um ducado francês em terras principescas de Santa Catarina. Monografia.
Joinville: FURJ, 1989.
JORNAL O TRABALHADOR. Joinville. Ano I - no
1 - Fevereiro de 1999.
Acervo: Comunidade Evangélica Luterana de Pirabeiraba
LIVROS de registros de batismos, casamentos e óbitos. 1859-1870.
Acervo: Arquivo Histórico de Joinville (AHJ)
LISTAS de imigrantes. Diversas.
RELATÓRIOS da Sociedade Colonizadora de 1849 em Hamburgo. 1851-1892. Traduzidos por
Helena R. Richlin.
HOLTERMANN, C. A. Die deutsche Kolonie Dona Francisca in Brasilien in historischen – sta-
tistischer Beziehung. Mittheilungen der geographischen Gesellschaft in Hamburg, 1876-1877
STATISTIK der Kolonie Dona Francisca vom Jahre 1867 (levantamento realizado pela Subdele-
gacia e pela direção da Colônia Dona Francisca).
CERCAL, Manoel de Oliveira; MEYER, Maria de Lourdes Cercal; Araújo, Maria Luiza Cercal
de; e CERCAL, Flávio Lúcio de Oliveira. Entrevista concedida a Janine Gomes da Silva e
Jeisa Rech. Joinville, 10 set. 2002. Núcleo de Pesquisa Histórica do AHJ.
DIAS, Ana; CRISTINO, Antônio Davi. Entrevista concedida a Dietlinde Clara Rothert,
Maria Judite Pavesi e Milton Benkendorf. Joinville, 16 de março de 2000. Núcleo de
História Oral. AHJ.
6
Estrada Dona Francisca (Km 20)
no início do século XX
7
Escola hoje
Aeducação sempre recebeu atenção especial dos
moradores de Pirabeiraba. Na foto a escola agríco-
la inaugurada na década de 60. Abaixo escola as
margens da Estrada Dona Francisca, em 1910.
Escola ontem
Este, que já ocupou quase metade do território do Município e
hoje, mesmo com a transferência de todo o Distrito Industrial Norte
para a sede do Município, ainda possui mais de um terço da superfície
do município de Joinville. Mas a polêmica no período era outra: Pira-
beiraba arrecadava sessenta por cento dos impostos pagos ao Tesouro
Municipal, e surgiu a possibilidade de emancipação. Isto na primeira
gestão do Prefeito Wittich Freitag, que prontamente tratou de mudar a
legislação, incorporando a Zona Industrial à sede, pondo um ponto final
nas aspirações dos emancipacionistas.
O Distrito de Pirabeiraba tal como a localidade de Anaburgo,
hoje situada no bairro Vila Nova, nasceu sob o signo de ser a sede da
então recém-fundada Colônia Dona Francisca. Como ambas fugiram ao
controle de seus primeiros administradores, a sede acabou mesmo fican-
do onde hoje se encontra o centro do município de Joinville.
O Distrito de Pirabeiraba se encontra ao Norte do município, na
direção da Serra do Mar e é ponto de passagem para quem deseja ir a
Curitiba pela BR-101, antiga Estrada de Três Barras, que corta as comu-
nidades da Estrada do Oeste, Estrada Canela, Estrada Bonita, a Estrada
Palmeira e a localidade de Rio Bonito. Já a SC-301, antiga Estrada Dona
Francisca, leva a Campo Alegre e São Bento do Sul, que dá acesso às
comunidades de Estrada Mildau, Estrada do Pico, Estrada Rio da Prata,
Estrada Quiriri, Estrada Rio do Júlio, alto da serra, e a chamada Vila
Dona Francisca na altura do quilômetro 21 já no sopé da Serra do Mar.
Complementam ainda o Distrito as comunidades da Estrada da Ilha,
Milton Benkendorf*
E
screver um pouco da história de Pirabeiraba é escrever minha própria história, pois, aqui nasci e dei
meus primeiros passos nas letras. Primeiramente na Escola Isolada Estadual da Estrada da Ilha, co-
munidade onde residia e conclui o ensino fundamental na Escola de Educação Básica Olavo Bilac,
em pleno período da ditadura militar. Ampliei meus horizontes, passei a interagir com as outras co-
munidades através dos Grupos de Jovens, vinculada à Igreja Evangélica Luterana, o que me permitiu
ter uma idéia da extensão do nosso Distrito.
“A incompreensão do presente nasce
fatalmente da ignorância do passado.”
Pirabeiraba
ontem e hoje
* Milton Benkendorf
- É licenciado em
História e Mestrando
em Patrimônio,
Cultura e Sociedade
da Univille.
Serraria do príncipe de Joinville, às
margens do Rio Cubatão, confluência
com o Rio da Prata (1865)
Marc Bloch
8
Estrada Ribeirão do Cubatão, cujo
acesso é anterior ao centro urbano
do Distrito.
Com a ocupação do solo da
Colônia, a primeira atividade foi o
desmatamento, para que na seqüên-
cia pudessem utilizar as terras para
a atividade agropastoril, que, depois
da extração da madeira in natura,
tornou-se a atividade econômica que
trouxe o sustento dos agricultores e
de suas famílias.
A vocação agrícola das comu-
nidades criadas ao longo da Estrada Dona Francisca e da Estrada de
Três Barras, nem sempre encontrou solo fértil para assegurar o sucesso
destas recém criadas comunidades. Mas, a grande maioria encontrou os
recursos necessários para se desenvolverem, apesar das adversidades que
este tipo de pioneirismo costuma enfrentar.
Suprimida a vegetação, plantada a primeira safra, era preciso es-
perar a primeira colheita para poder aos poucos matar a fome da família,
e ainda cuidar dos animais domésticos, que tal como o grupo familiar
também tinha que ser alimentado.
A produção da propriedade nem sempre era suficiente para aten-
der as necessidades básicas. Cabia
ao chefe da casa então prover esta
carência, e para isso ele acabava tra-
balhando como bóia fria para outros
colonos, que dispunham de capital
para iniciar suas atividades. Estes
pagavam para derrubar a mata e ini-
ciar o cultivo nas suas propriedades
ou como outra opção, os colonos
insolventes trabalhavam como em-
pregados da Administração da Colô-
nia, na abertura de novas estradas,
demarcação de lotes, derrubada de
árvores e na construção de pontes.
A agricultura permaneceu como principal atividade do Distrito,
até o início da década de 30. Passou a dividir com as Serrarias, que bene-
ficiavam a madeira extraída da floresta, o espaço econômico da região.
Levantamento feito por volta do ano de 2001 pelo Núcleo de História
Oral do Arquivo Histórico de Joinville, aponta entre os anos de 1930 a
1970, a existência de mais de trinta Serrarias em atividade só na região
de Pirabeiraba.
Como as comunidades que se estabeleceram foram se desenvol-
vendo, abriu-se espaço para que estabelecimentos comerciais fossem sur-
Com a ocupação do solo da Colônia, a
primeira atividade foi o desmatamento, para
que na seqüência pudessem utilizar as terras
para a atividade agropastoril, que, depois da
extração da madeira in natura, tornou-se a
atividade econômica que trouxe o sustento
dos agricultores e de suas famílias.
9
Vista aérea de
Pirabeiraba
gindo ao longo das principais vias. Estes, além de fornecerem mantimen-
tos para suprir os colonos, adquiridos na sede do município, acabavam
também adquirindo produtos destes, que os revendiam. Com isto, criou-
se uma relação de comércio de troca, também conhecida como escambo.
Muitos destes comerciantes transformaram-se em pequenos “banquei-
ros”, pois para não perder o controle das finanças, criaram um controle
de caixa para cada colono. Uma espécie de conta corrente, onde eram
anotados os valores das mercadorias adquiridas do agricultor, como cré-
dito e noutra coluna as compras efetuadas pelo mesmo do comerciante,
e numa terceira coluna era anotado o saldo do correntista, a cada vez
que a conta era movimentada. Muitos dos colonos deixavam seu dinhei-
ro na mão do comerciante, e isto explica de certa forma o sucesso dos
comerciantes da região. Alguns destes ainda existem e atuam com secos e
molhados, açougues, hotelaria e restaurantes, que em algumas situações,
estão há várias gerações nas mãos de uma mesma família.
Outro fator que contribuiu para o sucesso dos comerciantes foi
o fluxo de carroções vindos do planalto, com o ciclo da erva-mate, que
durou aproximadamente de 1890 a 1930. Transportavam até o porto do
Bucarein a erva beneficiada, e até as ervateiras, a matéria prima vinda do
Planalto Serrano. Os comerciantes se beneficiavam oferecendo pousada
para os carroceiros e também pasto e cocheiras para os cavalos destes.
Nas últimas quatro ou cinco décadas, foi possível sentir as mu-
danças de forma mais rápida. Situada numa região de exuberante Mata
Atlântica, Pirabeiraba sofreu com o enrijecimento da Legislação Am-
biental, na década de 1970, que provocou a desativação de praticamente
noventa por cento (90%) das madeireiras existentes, e também em mui-
tos casos tornando-a uma atividade econômica quase inviável. Com esta
imposição, muitos agricultores acabaram por desistirem da roça para se
empregarem em empresas como forma de buscar o seu sustento.
A Pirabeiraba de hoje, pouco lembra a do passado, pois aos pou-
cos, com a construção da BR-101, na década de 1960, e mais tarde na
década de 1990 a construção da SC-301, o Distrito passou a ser ocupado
por um número cada vez maior de indústrias que buscavam terrenos com
localização privilegiada e também mão de obra disponível para contra-
tação.
A mão de obra além de ser farta, era formada por ex-agricultores
e ou os filhos destes, que precisavam empregar-se nas empresas face a
nova conjuntura. Estes habituados às lides do campo, e não fugindo do
trabalho pesado, ao qual estavam acostumados, foram muito disputados
por diversas das grandes empresas como Cônsul, Tupy, Embraco, Dohler
e Tigre.
Aos poucos a atividade econômica de Pirabeiraba acabou ficando
cada vez mais parecida com a do município sede (Joinville). Até mesmo
o perfil dos agricultores acabou se modificando: muitos dos que perma-
neceram na atividade passaram a ser monocultores, como é o caso da
banana, outros agregaram a atividade do turismo rural para incrementar
sua renda. Mas, muitos desistiram e venderam suas propriedades que
acabaram virando sítios de lazer de moradores urbanos em busca da tran-
qüilidade oferecida pelo campo.
Atualmente, Pirabeiraba tem uma população de aproximadamen-
te 25 mil habitantes, responde por um quinto da arrecadação do municí-
pio e sua atividade agrícola mais significativa é a produção de banana.
Encerro o texto utilizando uma frase do historiador inglês Eric J.
Hobsbawm, “...as pessoas vivem um presente permanente, esquecendo-se de seu
passado cuja memória há muito ficou esquecida”.
Bibliografias consultadas
FICKER, Carlos. História de Joinville. Joinville: Ipiranga, 1965.
CUNHA, Dilney. Suíços em Joinville – O duplo desterro. Joinville: Letra D´ Água, 2003.
____________. História do Trabalho em Joinville – Gênese. Joinville: Todaletra, 2008.
HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
SINODO LUTERANO. Lutherische Kirche in Brasilien. São Leopoldo: Rotermund &
CO, 1955.
10
Canavial da Fazenda Pirabeiraba
com a vila operária ao fundo, na
primeira década do século XX
Instalações no interior da Usina de
Açúcar de Pirabeiraba, uma das
mais modernas da época
11
teuto-brasileiro em Pirabeiraba
O associativismo
* Wilson de Oliveira
Neto – Mestrando
em Patrimônio
Cultural e Sociedade
na Universidade
da Região de
Joinville (UNIVILLE).
Professor de História
no Colégio Global
(São Bento do Sul,
SC). Co-autor do
livro O Exército e a
cidade (Editora da
UNIVILLE, 2008).
wilhist@gmail.com
Wilson de Oliveira Neto*
A
existência de uma intensa vida associativa é um dos aspectos que mais chama a atenção daqueles
que estudam a história e a cultura teuto-brasileiras. São recorrentes na bibliografia especializada
menções à grande quantidade de agremiações, associações, clubes ou sociedades das mais variadas
matizes que, no exercício de suas funções, foram além do mero espaço de sociabilidade entre os
membros das comunidades teuto-brasileiras formadas no sul do Brasil a partir do século 19. Como
afirma a antropóloga Giralda Seyferth (1999), o associativismo foi um espaço de manutenção de
etnicidade. Locais de expressão da Kultur alemã.
No Brasil, as primeiras sociedades teuto-brasileiras surgiram no
meio urbano. Elas eram chamadas genericamente de Germania e estavam
ligadas ao comércio e à indústria. Apesar de sua natureza econômica,
esses clubes possuíam bibliotecas e desenvolviam uma intensa vida cul-
tural, com apresentações de canto, música e teatro. A respeito dessas
organizações pioneiras, sabe-se ainda que:
“[...] celebravam datas históricas alemãs, possuíam
bibliotecas com predominância de textos em língua
alemã, organizavam apresentações teatrais e de mú-
sica instrumental e coral privilegiando a tradição ale-
mã. Sob este aspecto, portanto, não se diferenciavam
muito das sociedades de Tiro e de Ginástica, apesar
destas exibirem mais ostensivamente as práticas es-
portivas nas suas denominações. As sociedades Ger-
mania, porém, eram mais do que simples espaços de
recreação, sendo consideradas [...] precursoras das
câmaras de comércio teuto-brasileiras” (SEYFERTH,
1999, p. 25).
Com o passar do tempo, outras associações surgiram, como por
exemplo, as Hilfsvereine (Sociedades de Socorro-Mútuo), Kulturvereine
(Sociedades de Agricultores), Sängervereine (Sociedades de Cantores),
Schützenvereine (Sociedades de Atiradores), Turnvereine (Sociedades de Gi-
násticos), entre outras.
De acordo com a historiografia, as agremiações teuto-brasileiras
surgiram, basicamente, a partir de duas razões: a) Pela falta de amparo
aos imigrantes por parte do Estado brasileiro; b) Por uma tradição asso-
ciativa existente na Alemanha há séculos (FOUQUET, 1974 e SEYFER-
TH, 1999). Nas Colônias, tudo estava por ser feito e durante os seus
primórdios, diante de toda a precariedade material, as sociedades foram
locais em que os problemas comunitários eram enfrentados e superados.
Na Alemanha contemporânea, o associativismo ainda é visto como algo
de importância nacional, que tem suas raízes na época medieval. Existem
no país em torno de 345 mil associações, das quais participam cerca de
70 milhões de sócios. É o que afirma o Perfil da Alemanha (2000), guia
publicado em vários idiomas pelo Departamento de Imprensa e Informa-
ção do Governo Federal.
Opapelsocialdoassociativismoteuto-brasileiropodeservisualizado
Participantes da Sociedade de
Atiradores de Pirabeiraba, no
início do século passado
12
através, por exemplo, das sociedades
de tiro (Schützenvereine). Suas origens
estão situadas nas corporações de ati-
radores que, na Idade Média, eram
responsáveis pela defesa dos burgos
localizados em diversas regiões da Eu-
ropa Centro-Ocidental. Contudo, as
atividades dessas confrarias não eram
apenas militares. Periodicamente,
eram realizadas competições de tiro
e demais celebrações que, segundo a
historiadora Sueli M. V. Petry (1982),
são os embriões das festas de atiradores de hoje.
Fora isso, em muitos momentos as associações ou clubes teuto-
brasileiros prestaram vários serviços de utilidade pública que ultrapassa-
ram as fronteiras das Colônias. Em Dona Francisca, atual Município de
Joinville, por exemplo, a Schützenverein zu Joinville junto com o Corpo de
Bombeiros Voluntários foram as primeiras formas de defesa da Colônia.
Inclusive, foram mobilizados em virtude da passagem da Revolução Fe-
deralista pela região, durante o final do século 19 (GUEDES, OLIVEI-
RA NETO e OLSKA, 2008). No Rio Grande do Sul, informa o memo-
rialista Carlos Fouquet (1974) que, o primeiro Tiro de Guerra gaúcho foi
criado a partir da sociedade de atiradores de Porto Alegre.
Porém, o associativismo praticado por imigrantes alemães e seus
descendentes era visto com desconfiança por muitas autoridades brasi-
leiras. Especialmente as Schützenvereine e as Turnvereine, as quais tinham
um caráter militarizado, evidenciado na cultura material e nas práticas
pertencentes a essas agremiações. Pairava uma suspeita de que tais ins-
tituições estimulavam a formação de “quistos étnicos” nas regiões colo-
niais (SEYFERTH, 1999). Esses fatos associados aos contextos de guerras
mundiais e de nacionalismos resultaram em intervenções ocorridas du-
rante a Campanha de Nacionalização (1938) e a Segunda Guerra Mun-
dial (1939-1945), nesta última, a partir da entrada do Brasil no conflito,
em 1942. Durante essa guerra, as agremiações teuto-brasileiras foram
duramente atingidas, sendo suas sedes fechadas e depredadas, tal como
mostram historiadores e memorialistas diversos. A dimensão étnica que
as associações teuto-brasileiras possuíam foi o principal motivo que levou
o governo a intervir nos seus interiores durante as décadas de 1930 e 40
(SEYFERTH, 1999). Contudo, após o término do conflito, em 1945,
pouco a pouco elas foram reabertas e apesar dos pesares, voltaram a ser
espaços de sociabilidades e de tradições criadas pelos primeiros imigran-
tes alemães que chegaram ao Brasil há mais de 180 anos atrás.
Associações em Pirabeiraba
Tanto em Joinville (sede da Colônia Dona Francisca) como mais
especificamente no distrito rural de Pirabeiraba, o associativismo consti-
tuiu-se em um traço cultural marcante da sociedade local. As primeiras
agremiações surgiram com a chegada dos imigrantes germânicos.
Em Pirabeiraba, as associa-
ções religiosas e escolares foram as
primeiras a serem criadas. Os colo-
nizadores, quase todos agricultores
e com uma religiosidade evangélica
fortemente arraigada, formaram em
1863 uma “comunidade eclesiástica
e escolar” (Kirche-und Schulgemein-
de) na Estrada da Ilha e em 1864 o
mesmo ocorreu na vila de Pedreira
(atual Pirabeiraba). Nos anos poste-
riores, à medida que surgiam novos
núcleos populacionais nas recém-abertas estradas do distrito, associações
do mesmo gênero eram criadas.
Um outro tipo de agremiação bastante presente entre os colonos
teuto-brasileiros eram as associações de tiro. Em 1894 surgiu a “Schützen-
verein Pirabeiraba”, que se reunia para treinos e torneios no Salão Schrö-
der, na Estrada Dona Francisca km 9, esquina com a Estrada da Ilha. Em
1906 foi fundada na mesma estrada, no km 21, a “Schützenverein Tell”.
De acordo com a pesquisadora Brigitte Gern, essas associações
foram fechadas durante a Segunda Guerra Mundial por determinação
governamental e mais tarde passaram a integrar as sociedades culturais
e recreativas da região. Surgiram assim os clubes de tiro das associações
recreativas Guarany, Mildau, Rio da Prata e Dona Francisca (estes dois
últimos substituíram a Sociedade de Tiro Tell).
Devem ser citadas ainda outras associações relevantes na histó-
ria da comunidade: a sociedade de teatro amador e recreação “Unter
Uns Pedreira” (Entre Nós Pedreira), que atuou de 1889 a 1938, a “Tur-
nerbund (Liga de Ginastas) Dona Francisca” mais tarde “Sociedade de
Ginástica Dona Francisca”, a “Musikverein (Sociedade Musical) Dona
Francisca” e o “Sängerchor (Coral) Pedreira”.
Além de constituírem-se em espaços de sociabilidade, tecendo ou
fortalecendo os laços de solidariedade como forma de vencer as adversi-
dades iniciais, essas instituições promoveram a conservação de costumes
e tradições, tidos pelo grupo como autenticamente germânicos (Deuts-
chtum), reelaborando- e ressignificando-os em uma nova identidade (teu-
to-brasileira), em oposição aos demais grupos étnicos.
Referências
DEPARTAMENTO DE IMPRENSA E INFORMAÇÃO DO GOVERNO FEDERAL. Perfil da
Alemanha. Frankfurt; Meno: Societäts-Verlag, 2000.
FOUQUET, Carlos. O imigrante alemão e seus descendentes no Brasil (1808 – 1824 – 1974).
São Paulo / São Leopoldo: Instituto Hans Staden / Federação dos Centros Culturais “25
de julho”, 1974.
GERN, Brigitte Brandenburg. Breve história dos clubes de tiro alvo-seta e de bolão da Sociedade
Cultural e Recreativa Guarani – Pirabeiraba. Joinville, 2009. Digitado. Não publicado.
GUEDES, Sandra Paschoal Leite de Camargo; OLIVEIRA NETO, Wilson de; OLSKA, Marilia
Gervazi. O Exército e a cidade: Joinville e seu batalhão. Joinville: UNIVILLE, 2008.
HERKENHOFF, Elly. Era uma vez um simples caminho. Joinville: Fundação Cultural, 1987.
PETRY, Sueli Maria Vanzuita. Os clubes de caça e tiro na região de Blumenau: 1859 – 1981.
Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1982.
SEYFERTH, Giralda. As associações recreativas nas regiões de colonização alemã no sul do
Brasil: kultur e etnicidade. Travessia, São Paulo, p. 24 – 28, maio – ago. 1999.
Com o passar do tempo, outras associações
surgiram, como por exemplo, as Hilfsvereine
(Sociedades de Socorro-Mútuo), Kulturvereine
(Sociedades de Agricultores), Sängervereine
(Sociedades de Cantores), Schützenvereine
(Sociedades de Atiradores), Turnvereine
(Sociedades de Ginásticos)...
13
Grupo Folclórico
Windmühle
colonização em Pirabeiraba
estradas e famílias
Vista parcial da antiga
Pirabeiraba (Pedreira)
Casal Fritz e Bertha Bennack
com os filhos Paulo e Gustavo,
na Estrada Anaburgo
14
* Brigitte
Brandenburg
é engenheira
agrônoma na
Epagri e fundadora
do Instituto de
Genealogia de
Santa Catarina
Brigitte Brandenburg*
O
Distrito de Pirabeiraba, além do núcleo urbano, é cortado por 16 estradas, abertas quase todas
na fase de colonização, pelos imigrantes germânicos (sobretudo pomeranos) e por luso-brasilei-
ros que começaram a chegar à região na década de 1860. A história da sua ocupação por essas
famílias é muito parecida e como são várias localidades, optamos por descrever duas delas e em
seguida mencionar as demais, informando os nomes das famílias que as colonizaram e/ou que
nelas residem há mais tempo.
1 – Assentamentos de colonos na Estrada do Oeste e sua relação
com o Domínio Pirabeiraba
A maioria dos produtores rurais da Estrada do Oeste no século
19, produzia cana-de-açúcar para a Usina do Duque D’Aumale, também
chamada Fazenda Pirabeiraba. Até o início do século 20, era a maior
indústria instalada no município de Joinville. A Fazenda Pirabeiraba
tinha produção própria de cana, mas comprava de todos os produto-
res residentes na região, devido a alta demanda de matéria-prima. Os
funcionários da usina eram moradores ou proprietários em vários distri-
tos da Colônia Dona Francisca, que, atraídos pela oferta de trabalho e
pagamentos de acordo com a natureza das tarefas, trabalhavam mais ou
menos frequentemente na usina. O projeto de produção centralizada
de açúcar, aguardente e álcool e a necessidade de maior produção para
abastecer a usina de matéria-prima, criou a oportunidade de oferta de lo-
tes aos colonos já com alguma experiência no manejo da cultura. Sendo
assim, vários colonizadores, incluindo brasileiros já residentes na região
de Três Barras, celebraram contratos de arrendamentos com o Domínio
Dona Francisca, que variavam em períodos de 30 a 50 anos. Mais tarde,
os lotes foram adquiridos, com a oferta para compra.
A ocupação dos lotes iniciou em torno de 1865, conforme mostra
a lista de arrendatários:
Número Adquirentes ou arrendatários Área Data contrato
116 Evaristo Alves 17 há 1/1/1868
117 Johann Michel Gehnke 312.500mq 1/1/1868
  Frederico Jordan    
  Carl Greffin   29/12/1876
118 Hermann Friedrich Wilhelm Gehnke 310.000 mq 1/1/1868
  August Brandenburg   8/10/1876
119 Wilhelm Friedrich Graper 245.000mq 1/1/1868
  Repartido em duas partes iguais:    
119a Wilhelm Friedrich Graper 12,65 há 8/2/1874
119b Ferdinand Boldt 11,85 há 8/2/1874
120 August Friedrich Kersten 23,50 há 1/1/1863
  terreno dividido em 1868:    
120A August Haak 12,50 há 1/1/1878
121 Johann Friedrich Benkendorf 24 há 1/1/1871
122 Francisco Bento 19,50 há 1/1/1868
  Augusto Ziebarth transferido em 25/8/1872
  Gustav Henning transferido em 31/5/1873
  Johann Loth transferido em 29/7/1876
123 Basilio Gonçalvez Araujo 19 há 1/1/1871
124 Manoel Nunes da Silveira 47,5 há 1/1/1871
125 Antonio Soares Lopes 600.000mq/60 ha 1/1/1871
57 Franz Behling - riscado 25 há 1/1/1874
  Gustav Johannsen    
179a Wilhelm Martens 13,75 há 1/1/1870
179b Albert Ristow 13,75 há  
180 Wilhelm Bergemann 26 há 1/1/1874
181 Friedrich Wilhelm Benkendorf 22 há 1/1/1871
182 August Kersten 22 há 1/1/1870
182/1132 Adolf Kersten    
183 August Martens 22ha 1/1/1870
184 Christian Feissel 26 há 1/1/1871
185 Wilhelm Bertling 27,5 1/1/1871
  Ferdinand Piske    
186 Joaquim Padilha 32,5 1/1/1873
  Laurindo Correa    
  Bento Padilha   1/1/1873
187 Schulz - marceneiro 28,50 há 1/1/1874
188 Johann Friedrich Tabbert 28,50 há 1/1/1873
189 August Lenz 28,50 há 1/1/1874
100 Wilhelm Schramm 50.000BQ 1/7/1865
  August Friedrich Wilhelm Schramm 25 há  
101 Friedrich Brüggemann 50.000BQ 1/7/1865
  Carl Gustav Danielsen transferido a  
  Friedrich Otte    
Entre os imigrantes, havia pessoas de várias origens, com predomí-
nio de pomeranos e saxões. Da mesma forma como ocorreu em outras
localidades, imigrantes e descendentes casaram com membros da comuni-
dade. Os imigrantes luteranos criaram uma associação eclesiástica, a partir
da construção de uma escola em 1883, que servia também aos cultos reli-
giosos e manutenção de cemitério, sendo que a partir de 1893 recebiam
uma pequena subvenção da Intendência Municipal (Prefeitura).
A partir do trabalho remunerado na usina, os agricultores ini-
ciaram o desmatamento de seus lotes para o cultivo da cana, e ao lon-
go das décadas seguintes, instalaram engenhos e criaram suas próprias
associações, como a “Landwirtschaftliche Verein für Brüderschaft
Pedreira”(Associação Agrícola Fraternidade Pedreira), ligada aos produ-
tores rurais da Estrada da Ilha, também parcialmente envolvidos com
o cultivo da cana. Em 1911 criaram a Usina Sindicada, associação de
produtores de cana-de-açúcar, com engenho próprio instalado no início
da Estrada do Oeste, através de uma associação de produtores da Estrada
do Oeste, Estrada da Ilha, e Estrada Pirabeiraba e Estrada Três Barras.
A influência da usina de açúcar instalada pelo Duque D’Aumale
foi fundamental para uma economia regional que perdurou até a década
de 70, em Pirabeiraba.
Esta antiga usina precursora da atividade na região, contava em
1897 com a seguinte estrutura, conforme o inventário do Duque, faleci-
do neste ano, e que consta do acervo do Arquivo Histórico de Joinville:
1)	 4.361 hectares de terras da dita Fazenda Pirabeiraba (obs.: na
avaliação final foram citados 3.000 hectares)
2)	Duas casas de moradia
3)	Uma casa para residência do feitor
4)	Uma casa para abrigar trabalhadores
5)	Um edifício onde funcionam as máquinas para moenda de
cana e fabricação de açúcar.
6)	Uma máquina a vapor para fabricação de açúcar, com moendas
para cana, centrífugas, caldeiras de defecação, de evaporação e
de cristalização, caldeiras a vapor com tanques de caldo para os
movimentos e evaporação.
7)	 Quatro filtros e máquina para a preparação do carvão.
8)	Um aparelho de destilação com oito cubos de fermentação.
9)	Um galpão para depósito de lenha
10)	Um galpão construído de madeira e tijolos para depositar di-
versos.
11)	Um galpão para fabricação de barricas
12)	 2.500 metros de trilhos para vagonetes.
13)	 20 vagonetes
14)	Um galpão para abrigar a balança de pesar cana
15)	Um galpão para depósito de bagaços
16)	Um galpão para estrebaria.
17)	Um guindaste de ferro e madeiras
18)	Uma oficina de ferreiro com seus pertences
19)	Uma balança decimal, grande, para pesar açúcar 15
16
Bodas de prata de Otto Schulze e
Lene Bächtold, na Estrada da Ilha
Casal Louis Duvoisin e Anna Tanner. Ele veio
para Joinville em 1850, antes da fundação
da cidade, e ela com o barco Colon, se
estabelecendo mais tarde em Pirabeiraba
Álbum de família
20)	Duas carroças de quatro rodas
21)	Três mil aduellas para fazer barricas
22)	Onze barricas novas
23)	Dois mil quilos de açúcar cristalizado
24)	Nove tanques de lata para depósito de açúcar
25)	Nove tonéis, sendo quatro de madeira e cinco metálicos
26)	Quatro e meio hecates (dezoito morgens coloniais) de cana
plantada, em quinta ressoca
27)	 Quatro arados
28)	Duas grades
29)	Um rolo de ferro para abater a terra arada
30)	Dois capinadores de ferro
31)	Oito cavalos de tiro
32)	Nove bois
33)	Dezessete vacas
34)	 Doze novilhas
35)	Quatorze bezerros
36)	Seis bezerros de dois meses
TOTAL = 172:797$500 (cento e setenta e dois contos, setecen-
tos e noventa e sete mil e quinhentos réis)
Procurador dos bens – Friedrich Brüstlein
Esta estrutura foi instalada às margens do Rio Cubatão, no início
da Estrada do Oeste. A única estrutura que resiste ao tempo é o galpão
onde foi instalada a caldeira, e construída em pedra de granito. Os maio-
res investimentos em construções foram feitos em 1873, época de gran-
de absorção de mão de obra. Entre os trabalhadores, diaristas da usina
constam os nomes dos seguintes imigrantes e brasileiros residentes em
diversas regiões da Colônia Dona Francisca, como pode ser observado
abaixo:
ANO 1873
Nome do funcionário
Stein Fritz Emil
Stein Johanna
Hindlmeier
Ledebuhr Wilhelm
Ledebuhr August
Beulke Carl
Hardt Ludwig
Benkendorf Wilhelm
Kühne Heinrich
Kühne Jr. Heinrich
Seger August
Bössow Jochen
Graper Wilhelm
Baarz
Kersten I August
Kersten II August
Struck Junior August
Martens August
Feissel senior
Feissel Junior
Feissel Mine
Feissel Anna
Genke senior
Struck senior August
Jensen Jens
Ganske
Marre senior
Alves Evaristo
José Manoel
Correa Joaquim
Gonçalves da Maia Manoel
Borges José
Padilha velho
Bahia José
Alves Maria
Alves Francisco
Klug Johann
Boldt Ferdinand
Martens August
Genke Hermann
Stoll Ferdinand
Hoff Friedrich
Graper Ernst
Graper Wilhelm
Holz Doris
Holz senior
Holz Mine
Holz Ricke
Ganske August
Nennemann Friedrich
Elling Fritz & comp.
Nass August
Trapp Bertha
Haak August
Hoffmann Carl
Hoffmann Ludwig
Beulke Johanna
Beulke I.
Beulke W.
Beulke Friedrich
Schier Johanna
Hardt Tine
Krüger Carl
Ganske
Polnow Fr.
Kienbaum W.
Kienbaum Auguste
Wiener Bertha
Seiler Kunigunde
Krelling Franz
Santos Maria
Rosa Ida
Struck Junior August
Struck Bertha
Struck Emilie
Struck Ernestine
Bertling Carl
Elmer Joachin e Comp. (família)
Böge Jedde
Graper Ernst Estrada do Oeste
Graper August Estrada do Oeste
Klug Johann Estrada da Ilha
Johannson Gustav Estrada do Oeste
Kersten II August Estrada do Oeste
Kersten I August Estrada do Oeste
Martens Wilhelm Estrada da Ilha
Bertling Carl Estrada do Oeste
Bergemann Wilhelm Estrada do Oeste
Bergemann Emilie Estrada do Oeste
Bergemann Bertha Estrada do Oeste
Brandenburg August Estrada do Oeste
Brandenburg Eduard Estrada do Oeste
Loth Johann Estrada do Oeste
Loth Carl Estrada do Oeste
Abraham Carl Estrada da Ilha
Grosse August
Köhn Wilhelm Estrada do Oeste
Boldt Wilhelm Estrada da Ilha
Lenz August Estrada do Oeste
Genke Johann Estrada do Oeste
Genke Senior Estrada do Oeste
Manoel Joaquim
Letzner Carl Estrada Annaburg
Elling August Estrada da Ilha
Elling Friedrich Estrada da Ilha
Schmöckel Wilhelm Estrada Catharina - depois Garuva
Schmöckel Julius Idem acima
Lenz August Estrada do Oeste
Holz Ferdinand Estrada da Ilha
Nass August Annaburg
Nass Carl Annaburg
Feissel Wilhelm Estrada do Oeste
Ganske August Estrada Blumenau
Bössow Johann
Wandersee Reinhard Estrada do Oeste
Wandersee Albert Estrada do Oeste
Manoel Jr. José
17
Álbum de família Reunião da família Pabst,
em Rio da Prata
18
Família Erzinger. Vê-se a matriarca
Maria Müller Erzinger, imigrada em
1855 de Schaffhansen, Suíça
Manoel José
Manoel Antonio
Padilha Bento Estrada do Oeste
Padilha Aguida
Padilha Marco
Borges Preis
Bibiano José
Bibiano Gregório
Bibiano Francisco
Correa Jofefa Tres Barras
Correa Anna
Alves Caroline
Alves João
Neitzel Friedrich Estrada da Ilha
Hartkopf Albert Estrada da Serra
Ramnow Ernst Estrada Da Ilha
Ramnow Emil Estrada da Ilha
Zander Cristian Estrada da Serra
Zander Wilhelm Estrada da Serra
Lütke Estrada da Serra
Radünz Mildau
Schulz Wilhelm Estrada da Ilha
Schulz Ferdinand Estrada da Ilha
Demuth Estrada da Ilha
Habeck Carl Estrada da Tromba
Habeck Johann Estrada da Tromba
Sal Francisco de Estrada do Oeste
Sann Wilhelm Annaburg
Lorenz Ferdinand Annaburg
Garz Heinrich Estrada Rio da Prata
Langanke Julius Estrada da Serra
Kühne Wilhelm
Kühl Gustav Estrada Mildau
Elmer Joachin Estrada da Ilha
Trapp Carl Estrada da Tromba
Schwalmann Johann
Graviel José
Daberkow Gottlieb
Daberkow Wilhelm
Korn Friedrich Estrada da Ilha
Wendler August Estrada da Ilha
Benkendorf Franz Estrada Pirabeiraba
Baron Thomas
Krüger Hermann Estrada da Ilha
Haak August Estrada do Oeste
Bössow Johann
Prust Ferdinand
Schier August Estrada da Ilha
Fehrmann Hermann
Gesing Wilhelm Serrastrasse
Boss Johann
Hermann Cristian Joinville
Boska Martin Estrada da Ilha
Fábrica
Müller Heinrich Estrada da Ilha
Ledebuhr Wilhelm Estrada da Ilha
Ledebuhr August Estrada da Ilha
Schlichting Gustav Joinville
Bauer Gustav Estrada da Ilha
Abraham Carl Estrada da Ilha
Schmalz Jacob Joinville
Desta forma, conclui-se que a atividade da cana-de-açúcar para fa-
bricação de açúcar refinado iniciou-se com este empreendimento, esten-
dendo-se por mais de 100 anos entre os agricultores da região.
2 - Assentamento inicial da Estrada Mildau
A estrada Mildau, cuja extensão em 1869 pertencia, em parte ao
Domínio Dona Francisca (propriedade dos Príncipes de Joinville), e em
parte à Sociedade Colonizadora de Hamburgo, foi colonizada a partir
de 1870 por imigrantes que arrendaram as terras, em contrato firmado
por 50 anos. A área dos lotes variava de 9 a 22 hectares. Os primeiros
arrendatários assinaram contrato no final de 1869 e em janeiro de 1870,
firmado pelo representante do Domínio D. Francisca, Sr. Friedrich Brüs-
tlein, sendo estes arrendatários abaixo relacionados, como também sua
origem por distrito e Província Prussiana (atual Alemanha e parte da
Polônia):
Carl Lanz – (1869) – Schlawee, Köslin, Pomerânia
Luiz Duvoisin, que transferiu seu contrato para João Gomes de
Oliveira, em 7 de novembro de 1871, Suíço,
Louis Gustav Wiener – Rivolsdorf, Köslin, Pomerânia
Carl e Hermann Neitzke (1869) – Köslin, Pomerânia,
Hermann Neitzke (1869) – Köslin, Pomerânia
August Hardt – Putzernin, Köslin, casado com Karoline Boness
Carl Friedrich Struck – Regenwalde, Stettin, Pomerânia
Wilhelm Christof Beulke – Köslin, Pomerânia
August Ferdinand Friedrich Struck – Regenwalde, Stettin,
Pomerânia
Karl Friedrich Wilhelm Radünz – Neustettin, Köslin , Pomerânia
Johann Friedrich Wilhelm Radünz – Neustettin, Köslin, Pomerânia
Entre 1870 e 1875 aproximadamente, a Sociedade Colonizadora,
proprietária da parte sul do Mildau, que confrontava com o limite norte
das terras da Colônia, vendeu lotes de aproximadamente 25 hectares,
localizados na parte interior e mais próxima do morro da Tromba, a imi-
grantes pomeranos, em totalidade, oriundos em sua maioria de Köslin e
Regenwalde, dois dos três distritos localizados naquele período, no cen-
tro e oeste da Província da Pomerânia, de influência eslava. Os nomes
destes imigrantes, que com as suas famílias, se instalaram neste período
na Estrada Mildau são:
Friedrich Fick - da Pomerânia
Franz Polzin – Saatzig, Stettin, Pomerânia
Carl Malon – Belgard e Köslin, Pomerânia
Johann Beulke - Köslin, Pomerânia
August Hardt - Putzernin, Köslin, Pomerânia, (repassou o lote a
Hermann Bahr a partir de 1875)
Wilhelm Wegener, Belgard, Pomerânia cuja viúva repassou o
lote a Heinrich Buttke em 1875.
Heinrich Buttke – Köslin, Köslin, Pomerânia
Friedrich Wegener, Schiefelbein, Belgard, Stettin, Pomerânia, que
mudou-se para a estrada do Oeste em 1883 e repassou o lote a
Ernst Trapp (Belgard, Stettin, Pomerânia – vivia na Estrada Oeste)
Carl Trapp (filho de Ernst Trapp)– Belgard, Stettin, Pomerânia
Wilhelm Greffin – Regenwalde, Stettin, Pomerânia
Gottlieb Finger
Wilhelm Hoffmann – Regenwalde, Pomerânia
Wilhelm Dumke – Grandhof, Köslin, Köslin Pomerânia
Fritz Gumz – Schiefelbein, Belgard, Stettin, Pomerânia
Hermann Bahr – Bublitz, Köslin, Pomerania
Wilhelm Friedrich Tabbert – Piritz, Stettin, Pomerânia
August Kühl – Rogow, Regenwalde, Pomerânia
Carl Dummer – Schiefelbein, Belgard, Pomerânia
Gottlieb Dabberkow - Pomerânia
Wilhelm Wodke – Putzernin, Köslin, Pomerânia
Johann Garz – Stolp, Köslin, Pomerânia
Gottlieb Ledebuhr - Pomerânia
Heinrich Treptow – Schlawee, Köslin, Pomerânia
Friedrich Baarz – Regenwalde, Stettin, Pomerânia
Friedrich Krumnow – Regenwalde, Stettin, Pomerânia
Algumas famílias, trabalhavam inicialmente para a usina de açú-
car do Duque D´Aumale, como pode ser observado nos registros de
pagamento de diaristas e mensalistas da usina, situada no local deno-
minado Pirabeiraba, ou Fazenda Pirabeiraba, na margem esquerda do
Rio Cubatão. Em 1873, Albert e Bertha Wiener, Carl Trapp, August e
Gustav Kühl, Carl e August Struck, Carl Friedrich Struck, August Hardt,
Hermann Hardt, Carl Neitzke, Wilhelm Beulke, Carl e Johann Radünz
trabalhavam em atividades agrícolas nesta fazenda com suas esposas e
alguns filhos. A Serraria do Príncipe estava instalada desde o final da
década de (18)50 na Estrada da Serra, no Km 17, e é possível que eventu-
almente absorvesse a madeira derivada do desmatamento das áreas dos
lotes ocupados pelas famílias. Assim também ocorria com a construção
da Estrada da Serra, para cujas obras eram contratados os trabalhadores
residentes no local e de outras regiões da cidade.
Luiz Duvoisin inicialmente vendia madeira, quando instalado na
19
estrada Mildau, sendo que transferiu seu contrato de arrendamento a
João Gomes de Oliveira, natural de Paraty (Araquari), que produzia cana-
de-açúcar, processada em seu engenho através de trabalho escravo.
Outros agricultores como Wodke, Ledebuhr, Trapp, Baarz já pos-
suíam propriedades na Estrada da Ilha, sendo que em alguns casos, suas
propriedades passaram a ser exploradas pelos filhos.
Instalados em suas propriedades, as famílias, todas luteranas, es-
tavam associadas à comunidade Evangélica de Pedreira, na qual oficiali-
zavam casamentos, batizados, confirmações, e óbitos. Havia nesta época
duas escolas em Pedreira, uma pública e uma comunitária, construída
com recursos da própria comunidade. O grupo de famílas instaladas na
Estrada Mildau criou entre si, laços e vínculos através de casamentos
entre os seus membros.
A partir de 1900, aproximadamente, os descendentes começaram
a relacionar-se fora da comunidade e iniciaram-se alguns casamentos
com filhos de moradores da Estrada da Serra, próximo a Pedreira. Tam-
bém neste período ou até mesmo antes disso, em torno de 1880 houve
uma migração de imigrantes e de jovens casais, da Estrada Mildau, para
ocupação de novos lotes na Estrada Rio da Prata, como a das famílias
Dumke, Malon, Hardt. Além disso, membros de outras famílias como
Greffin, Wegener e Maass passaram a residir na Estrada do Oeste, a par-
tir da medição e venda de lotes do domínio Dona Francisca a colonos
dispostos a produzir cana-de-açúcar para a Usina Pirabeiraba. A família
Struck vendeu seu lote a família Gomes de Oliveira e passou a ocupar a
outra parte de seu lote na Estrada da Tromba.
Não cabe relatar aqui todos os casamentos ocorridos entre imi-
grantes e os de seus descendentes, quando o objetivo é exemplificar as
relações iniciais e inclusive antecedentes à colonização, de grupos de imi-
grantes que deixavam sua pátria em grandes grupos de famílias, originá-
rias de mesmas vilas ou próximas, como no caso dos naturais de Köslin e
Regenwalde, da Estrada Mildau. Aqui estabeleceram comunidades com
identificação cultural, parentesco e compadrio. Devido ao isolamento
do período, relacionavam-se entre si, originando casamentos dentro das
mesmas famílias. Essa característica de agrupamento conforme a origem,
reflete-se em vários outros núcleos populacionais dos diversos distritos
rurais de Joinville no século 19. Das famílias instaladas na Estrada Mil-
dau, vários deixaram a localidade e outros, devido a casamentos, pas-
saram a se instalar nesta comunidade. As famílias ainda residentes no
local envolvem descendentes principalmente das famílias Wiener, Kühl,
e Artmann.
Os filhos dos colonos desta comunidade freqüentavam a escola
comunitária de Pedreira, assim como também a escola pública instalada
até 1872. Os primeiros imigrantes e seus descendentes eram sepultados
invariavelmente, no cemitério de Pedreira.
3 – Pirabeiraba
É o núcleo urbano e a sede do Distrito. Chamado inicialmente de
Pedreira, sua fundação data de 1859. Entre as famílias que colonizaram
o local ou que ali residem há mais tempo estão:
BOLDT, HENNING, DUVOISIN, SEEFELDT, BRAATZ,
SCHRÖDER, SCHRAMM, SCHOLZ, DUVOISIN, DÖRLITZ, KOHN,
ELLING, BIRCKHOLZ, , OHDE, GILGEN, EBERHARDT, MAIER,
ERZINGER, KLAAS, NOACK, SCHMIDT, FEISSEL, BERTLING,
BEHLING, BÜHNEMANN, SCHNEIDER, FRÖHLICH, PENSKY,
AHLANDT, RAHLF, RIEPER, KÜSTER, KÖNIG, CARDOSO, NEHLS
no século 19. Outras famílias passaram a residir em Pedreira, mais tarde, e
especialmente no século 20, devido a relações de casamento e migração de
famílias ou profissões, defintiva ou temporariamente, como Budal, Nass,
Kunde, Ohde, Hattenhauer, Strehlow, Hoffmann, Haveroth, Baggenstoss,
Hardt, Castella, Dumke, Haak, Teuber, Brandenburg, Piske, Züge, Romig
Kortmann, Monich, Hardt, Blume, Schmalz, Letzner, Brito, Meerholz, Pa-
rucker, Engelke, Rudnick e muitas outras.
4 – Estrada Dona Francisca (atual SC – 301)
Primeiras famílias entre 1861 e 1872: José Manoel Correa, Ernst
Boese, Johann P. Siert, Franz Cornehl, Ernst Hanemann, Friedrich
Henke, Ernst Bartsch, Pierre Boclet, Johann G. Tanner, François Davet,
Fabiano Gonçalves, José Gonçalves da Maia, Friedrich Schmidt, José Sou-
za da Silveira, Antonio Soares Lopes, Manoel Gomes de Oliveira, João
Gomes de Oliveira, Gaspar Gonçalves de Araújo, José Machado Lima,
Victorine Doudet, Fr. Panzenhagen, Carl Krelling, Louis Berlie, Francis-
co Xavier Nunes da Silveira, Rudolf Voigt (da Silésia), Rudolf Voigt (da
Pomerania), Wilhelm Voigt, Domingos Coelho Gomes, Johann Rudni-
ck, Friedrich e Gustav Lütke, Bento Gonçalves de Oliveira, Ludwig Voigt,
Wilhelm Bergmann, Otto Hartkopf, , Ernst Ullmann, Dora Schwitzky,
Cristian Heiden, Carl Struck, André Gomes da Silveira, Manoel Gomes
de Oliveira, João José Gomes de Oliveira, Wilhelm Markwarth, Martin
Maul, Johann Becker, Wilhelm Bölcke, Manoel José da Cruz, José Souza
da Silva, Fr. Morbach, Joh. Knüppel, Joh. Zimmermann, Julius Raabe,
J. Auerwald, Peter Paké, Friedrich Treichel, C.J.Roggenbau, Joh. Da-
niel Schmidt, Joh. Lenschow, Rösler, Nennemann, Kunde, R. Ammon,
A. Balmat, Kunde, Honorato Fernandez Indalêncio, Joh. Lenschow,
Ritzmann, Meyer, Parucker, Polzin. Thiele, Pries, Kortmann, Bächtold,
Fock, Fentzlaff, Sell. No final do século 19 e início do século 20, migra-
ram para a Estrada Dona Francisca, ou estabeleceram-se outras famílias,
através de casamentos, ou aquisições como: Parucker, C. Baumer, Thie-
le, Pries, Kortmann, MAYA, DUMKE, SCHMIDT, LOPES PEREIRA,
VALE, HOFFMANN, SIMM, ROCHA, VEIGA COUTINHO, HAR-
DT, PABST, SCHNEIDER, PETSCHOW, TEUBER, LAUER, RIEPER,
SCHOLZ, BUDAL, SEEFELDT, SUTTER, LARSEN, CLEMENTE, e
muitas outras que continuam a se formar e a se estabelecer.
5 – Estrada Guilherme
Famílias: RUDNICK, TROMM, MULLER, FORSTER,
SCHRAMM. Atualmente a maioria dos lotes é composto de chácaras e
migrantes recentes.
6 – Estrada do Pico
Primeiras Famílias: Goudard, Monney, Piske, Gomes de Freitas,
Lopes, Batista, Machado, , da Rosa, Fleith, Vieira, Luz. Mais tarde, após a
década de 30, constam os nomes de Eleutério Indalêncio, José Machado
da Luz, e descendentes destes primeiros moradores, além das famílias que
para lá migraram como: TROMM, ESSER, BARTSCH, HINSCHING,
SCHMIDT, DAVET, PABST, PRIES, ARTMANN, PFUNDNER, SCH-
MIDT, SCHROEDER, ERZINGER, VOIGT, JANNING, SCHULZ,
BENKENDORF, PRIES, SEEFELDT E OUTRAS.
7 – Estrada da Tromba
Famílias: SCHRANK, JOÃO GOMES DE OLIVEIRA, STRU-
CK, SCHULZ, SCHWALBE, STRUCK, BÄHRWALDT, PABST,
BARTSCH, SELL, NASCIMENTO.
8 – Estrada Francisco Antônio Fleith (DO MORRO)
Famílias: BARTSCH, JÖNCK, SELL, HARDT, BÖGE,
FRÖHLICH, SUTTER, HARDT, KOHLSCHEN, AHLANDT.
9 – Estrada Rio da Prata
Primeiras famílias: Gonçalves da Maia, Bauer (herança de Ritz-
mann), Sellmer, França, Henning, J. Wittmack, Bruhn, Pabst, Barth,
Lanz, Silva, Gonçalves de Oliveira, Nunes de Souza, com migração poste-
rior de imigrantes da estrada do Mildau e outras localidades, como ART-
MANN, DUMKE, SCHMIDT, BEULKE, MAIA, BRÜSKE, SCHULTZ,
MALON, HARDT, BAARZ, STRUCK, GAARZ, RUTZEN, SCHWAL-
BE, VATER, CRUZ, TOLLER, LOPES.
10 – Estrada Isaac
Famílias: CARDOSO, DEMATE, MACHADO, FRANÇA, SIL-
VA, PEREIRA, RAMOS.
11 – Estrada Quiriri
Famílias: KRELLING, BERGMANN, ROCHA, PABST,
SCHWITZKY, KLÄHR, VOIGT, BRÜSKE, PISKE, RUDNICK, LO-
PES, BÜHNEMANN, MEYER, LAATSCH, POPP, NEGENDANK,
NICKEL, QUANDT, MORAES, SCHNEIDER, MAIA, CORREIA,
SOUZA, ARAÚJO, FARIAS, BORBA, SCHULZE, SCHROEDER,
FAGUNDES, SILVA, KOHN, PEREIRA, VIEIRA, CUNHA, RAMOS,
HARDT, VEIGA, PRIES, NASS, INDALÊNCIO, NEITZEL, CARVA-
LHO, PISKE, BENINCA, KERSTEN, SCHULTZ.
20
12 – Estrada da Ilha
Primeiras famílias: PROCHNOW, LEDEBUHR, MÜHL-
MANN, NIELSEN (NIELSON), NICKEL, BUSS, SCHIER, NASS,
BAUER, FINDER, CORDTS, BAARZ, LEMKE, DABERKOW, ELL-
MER, MOLL, BEILFUSS, RETZLAFF, KLUG, FRANKE, HEIDEN,
NEITZEL, PONICK, BEETZ, SEEGER, KORN, TREPTOW, KRI-
CHELDORF, FRENZEL, BOSKA, HENNING, HOFF, KARNOP,
BEYER, FISCHER, TOBLER, FRÖHLICH, KRÜGER, POLLNOW,
MERKLE, WODKE, BANDT, HEIN, POLZIN, KERSTEN, FRIEDE-
MANN, BÖGE, MEIER, SCHROEDER, BÖGE, HARDT, SCHULZ,
SCHULTZE, LETZNER, BÄCHTOLD, HOLZ, BENKENDORF, BU-
DAL ARINS, VOSS, SANTIAGO, NASS, KARNOPP, WOLFGRAMM,
BENNACK, RISTOW, SCHRAMM, BERGEMANN. Mais recentemen-
te estabeleceram-se as famílias GAULKE, TEUBER, POFFO, HARGER,
DAROZ, KRELLING, PFUNDNER, PABST, SCHROEDER, HARDT,
RODRIGUES, BERKENBROCK, HEINZ, HENTSCHEL, HÄNSCH,
HIRATA, BLÖMER e outras.
13 – Estrada Caminho Curto
Famílias: BENKENDORF, SCHROEDER, NICOLETTI, HA-
ENSCH, FISCHER.
14 – Vila Canela
Famílias: CORREA, ALVES, SCHATZMANN, KERSTEN, PA-
RADELA, HARDT, BACH, SCHRAMM, PISKE, GONÇALVES, NASS,
BRANDENBURG, WEGENER, FERREIRA, MACHADO, VOLLES,
CORREIA, BÄCHTOLD, CAETANO, COUTINHO, BORGES.
15 – Rio Bonito
Famílias: MEWS, KERSTEN, BENKENDORF, HEUSY, POPP,
RAHLF, SCHULZ, PISKE, SCHOLZ, WETTIG, LOEFFLER, SEEFEL-
DT,DUVOISIN,WITT,ZIETZ,HENCKE,HATTENHAUER,TROMM,
POHL,SCHATZMANN,KUNDE,FISCHER,BUTTKE,HARTMANN,
BELLOW, BÄCHTOLD, SCHMÖCKEL, HORNBURG.
16 – Estrada Palmeiras (parte da antiga Estrada Três Barras)
Famílias: GRIESBACH, TROMM, FOCK, NEITZEL, HOLZ,
SCHWESZER, ITTNER, TROMM, MARQUARDT, BRAMMIGK,
REINHOLD, STOLLE, LOEFFLER, MÜLLER, ZIETZ, RAUCH,
SCHIESSL, SCHMIDLIN, HERTENSTEIN, ZILS, VENTURI, AL-
BRECHT, BUTZKE, PROCHNOW, POSANSKI.
FONTES DE PESQUISA
Acervo do Arquivo Histórico de Joinville
- Fundo Domínio Dona Francisca: Documentos da Fazenda Pirabeiraba. Documentos de arren-
damento de terras do Domínio Pirabeiraba. Folha de pagamento dos funcionários da -Fazen-
da Pirabeiraba. Livro de registros de terras e transferências. Fundo Domínio Dona Francisca.
Lista de pagamento de Lotes – Sociedade Colonizadora de Hamburgo 1849.
- Mapa da Colonia Dona Francisca, 1859, Fr. Heeren.
- Mapas da Colônia Dona Francisca –1868 e 1886- Escala 1:50.000 – J. Köhler`s Lith. Institut
Hamburg.
- Kolonie Zeitung – 1863-1898.
- Inventário dos Bens do Duque D’Aumale.
- Lista de lotes arrendados dos Príncipes de Joinville-Estrada Dona Francisca, Estrada da Tromba,
Estrada Rio da Prata, Pedreira, período 1861-1875, Fundo Domínio Dona Francisca.
- Lista dos Proprietários de terras da Colônia Dona Francisca, Sociedade Colonizadora de Ham-
burgo.
- Relatórios da Sociedade em 1859-1861-1864; tradução Helena Richlin.
Acervo da Comunidade Luterana de Pirabeiraba
- Livros de Registros eclesiásticos, batizados, casamentos, confirmações e óbitos – 1862 a 1910.
Transcrição do Banco de dados de registros eclesiásticos da Igreja Luterana, acervo particular
de Brigitte Brandenburg.
Acervo particular de Brigitte Brandenburg
- Registros de óbitos de 14 cemitérios de Pirabeiraba e Annaburg. Elaboração e acervo de Brigitte
Brandenburg.
- Genealogia das famílias da Estrada Mildau – Brigitte Brandenburg.
- Genealogia das famílias de Pedreira – Brigitte Brandenburg.
- Genealogia das famílias de Pirabeiraba.
- Livro de estatutos da Associação dos Produtores de Cana-de-açúcar da Usina Sindicada, de
August Brandenburg
- Arquivo de notícias sobre Pirabeiraba – século 19 – Brigitte Brandenburg.
Outros
- Cadastro de Produtores rurais de Joinville, ACARESC, 1994.
- CORRÊA, Roseana Maria & ROSA, Terezinha Fernandes da.(coords.)“História dos Bairros de
Joinville”. Arquivo Histórico de Joinville, 1990.
Paulo Karnopp e família
em frente à residência,
na Estrada da Ilha
21
FRAGMENTOS PARA PENSAR UM PEDAÇO1
pirabeiraba:
Em tempos em que global e local misturam-se de tal maneira que um
parece produzir o outro, não há muitas certezas onde podemos nos agarrar. Para
além do fato de nossa única certeza ser a de que vivemos em meio a incertezas,
é preciso lembrar que pretensões de solidez, segundo o historiador Diego Finder
Machado, alimentam desejos de passados no mundo contemporâneo3
. É como se
a evocação do passado funcionasse como uma espécie de âncora capaz de assegu-
rar certa estabilidade diante dos terrenos movediços que constituem as sociedades
modernas. Assim, na gramática cultural que vivemos, o presente tem se transmu-
tado em passados e o passado tem se convertido em presentes num movimento
dialético e ininterrupto que escapa ao controle de instrumentos como relógios e
calendários.
Dialogando com os meandros desta
economia temporal, eventos comemorativos
têm sido meticulosamente preparados com
a intenção de reanimar, por intermédio de
festejos pomposos, histórias sobre supostos
pioneiros que ocuparam e desenvolveram uma
determinada região. Segundo a historiadora
Helenice Rodrigues Silva, toda comemoração
é alimentada por aspirações que pretendem
demonstrar ao presente como o passado pode
ser-nos uma substância pedagógica. É como se
ao celebrarmos os “grandes feitos” praticados por outros, pudéssemos, ao mesmo
tempo, aprender um conjunto de lições que nos instrumentalizam a compreensão
do tempo em que vivemos.
Ao carregar consigo um devir de memória que denuncia projetos de futuro
arquitetados por vontades presentes que enxergam o passado como uma possibi-
lidade de redenção, tem-se configurado uma infinidade de usos e abusos daquilo
que experimentamos como sendo o tempo. Trata-se, então, de deslocamentos do
passado sobre o porvir, convertendo-o em memória e a memória no próprio tem-
po. Logo, o que temos em jogo durante eventos comemorativos não são apenas
processos de identificação e de diferenciação, de pertencimento e de exclusão,
de adequações do ontem ao agora, mas também o da transmissão de memórias
sociais e a própria passagem da memória à história.
Há aproximadamente quinze quilômetros do centro da cidade, um dos
pedaços de Joinville parece ser índice do consumismo de passados que alimentam
o presente. A Freundenfest, com suas atividades desenhadas para celebrar “o ani-
versário de Pirabeiraba”4
, o Stammtisch, um encontro que reúne os “chegados” do
pedaço para conversar, comer e beber, restaurantes que oferecem “a gastronomia
típica alemã”5
e atrativos turísticos como a Estrada Bonita e a Casa Krueger são
apenas alguns dentre os muitos exemplos dos excertos que remontam ao pretérito
na tentativa de produzir um presente mais palatável.
Conforme relata-nos a cronista Elly Herkenhoff o atual distrito de Pira-
beiraba possui uma relação salutar com a antiga Estrada da Serra (posteriormente
denominada Estrada Dona Francisca). Segundo ela, um ano após o início das
obras de construção dessa estrada (1859), chegou a então Colônia Dona Francisca
o conselheiro Luiz Pedreira de Couto Ferraz “a fim de inspecionar o andamento
das obras, percorrendo com essa finalidade, em companhia do diretor da Colônia
Dona Francisca, Leoncé Aubé, as diversas estradas em construção [...]”6
. Nesse
momento, tratava-se de programar estratégias de controle da paisagem imediata
de forma a desenvolver com sucesso um projeto de colonização. Assim como em
outras regiões do país, o meio ambiente era entendido como um obstáculo a ser
vencido: se por um lado fornecia as condições básicas para a sobrevivência imedia-
ta, de outro, também era o que precisava ser “domado”.
Prosseguindo, Elly Herkenhoff chama-nos a atenção para as primeiras ati-
vidades econômicas da então localidade de Pedreira. Após o loteamento dos cerca
de dois quilômetros que compunham, em 1859, o perímetro da região, um nú-
mero significativo de pessoas, muitas delas imigrantes, já haviam ali se instalado.
Além disso, ainda se situava a margem da Estrada da Serra “a serraria pertencente
ao Príncipe de Joinville [...], assim como também se localizava nas proximidades
a grande propriedade do Duque de Aumale, irmão do Príncipe de Joinville, pro-
priedade esta chamada de Fazenda do Curtume, onde já na década de sessenta
grandes plantações de cana-deaçúcar foram formadas”7
.
Diferentemente do passado em que três ícones representavam os aspectos
econômicos da região de Pirabeiraba (a Estrada Dona Francisca, uma serraria e
uma grande propriedade produtora de aguardente), atualmente o cenário modifi-
cou-se de sobremaneira. Como nos lembra o geógrafo Dionicio Kunze, o Distrito
de Pirabeira, hoje, resulta da mistura entre pequenas propriedades agrícolas e
traços da urbe8
. Grandes empresas, que diariamente interagem num cenário eco-
nômico globalizado, também integram a paisagem da região. Mais recentemente,
frente a uma modalidade de turismo, que por vezes emprega de maneira fácil e
aleatória o adjetivo “sustentável”, muitos passeantes têm sido atraídos na intenção
de visitar aquela que é considerada uma das últimas regiões bucólicas da cidade
de Joinville.
Todo este conjunto complexo de situações sócio-econômicas revela-nos
um dado extremamente interessante: o trânsito de fluxos globais no Distrito de
Pirabeira. Turismo rural, embebido em ideais de sustentabilidade, coexistindo
com empresas que comercializam em mercados que se organizam de acordo com
uma escala global: como negar que isso não é um indicativo crasso da produção
local da globalização? Ainda nesta mesma acepção, a configuração de diferentes
usos históricos do meio ambiente, substituindo, ainda que retoricamente, ideais
socioambientais pautados no colonizar/desenvolver a qualquer custo pelos de pre-
servar/conservar os recurso naturais, também não seriam pistas das tentativas de
inserção do Distrito de Pirabeiraba no mundo globalizado?
Sentidos e dilemas de um pedaço da Cidade. Questionamentos que se
envolvem com práticas de comemoração que consomem passados no âmago do
tempo presente. Nesse cenário, narrativas históricas sobre economia, meio am-
biente ou qualquer outro tema são fragmentos de um mundo contemporâneo
que se achega no pedaço e, ao mesmo tempo, é ele também imaginado, inventado,
significado e produzido no e pelo próprio pedaço.
REFERÊNCIAS
Folder de divulgação da Freundenfest. Disponível em: <http://www.pirabeiraba.com.br> Acesso em março
de 2009.
HERKENHOFF, Elly. Era uma vez um simples caminho... Joinville: Fundação
Cultural, 1987. p. 203.
KUNZE, Dionicio. As Pequenas Propriedades Agrícolas de Joinville. Informativo O Economista, Joinville,
08 de março de 2007. MACHADO, Diego Finder. Redimidos Pelo Passado? Desejos de Passado em
uma
Cidade Contemporânea (Joinville 1998-2009). Dissertação. 187 p. Universidade do Estado de Santa Catari-
na. Mestrado em História. Florianópolis, 2009.
VICENZI, Herculano. Atrações gastronômicas em Pirabeiraba. A Notícia, Joinville, 14
de julho de 2003.
Fernando Cesar Sossai2
U
ma cidade se faz nos pedaços. Neles as cidades são imaginadas, inventadas, significadas e produzidas. Dizer que as
urbes constituem-se a partir de fragmentos díspares não é exatamente uma novidade. Em um período em que todas
as coisas parecem despedaçar-se, o verbo fragmentar pode ser empregado para designar praticamente tudo o que se
passa ao longo de nosso cotidiano. Hoje, provavelmente, a máxima de Marx – tudo que sólido desmancha no ar – é
muito mais sentida do que quando foi escrita.
...o Stammtisch, um encontro
que reúne os “chegados” do
pedaço para conversar, comer e
beber, restaurantes que oferecem
“a gastronomia típica alemã...
Fernando Cesar
Sossai – Mestre
em Educação,
Comunicação e
Tecnologia pela
Udesc e professor
do curso de História
da Univille
22
1
A escrita deste artigo contou com as sugestões de dois historiadores que comigo fazem parte de um grupo de pesquisas interessado em discutir as nuanças culturais
que atravessam a Joinville contemporânea. De antemão, deixo aqui registrado a Diego Finder Machado e Ilanil Coelho meus mais sinceros agradecimentos.
2
Mestre em Educação, Comunicação e Tecnologia pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Atualmente é professor do curso de História da
Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE. Contato: cesar@univille.net
3
Cf.: MACHADO, Diego Finder. Redimidos Pelo Passado? Desejos de Passado em uma Cidade Contemporânea (Joinville 1998-2009). Dissertação. 187 p. Uni-
versidade do Estado de Santa Catarina. Mestrado em História. Florianópolis, 2009.
4
Cf.: Folder de divulgação da Freundenfest. Disponível em: <http://www.pirabeiraba.com.br> Acesso em março de 2009.
5
Cf.: VICENZI, Herculano. Atrações gastronômicas em Pirabeiraba. A Notícia, Joinville, 14 de julho de 2003.
6
Cf.: HERKENHOFF, Elly. Era uma vez um simples caminho... Joinville: Fundação Cultural, 1987. p. 203.
7
Ibidem.
8
Cf.: KUNZE, Dionicio. As Pequenas Propriedades Agrícolas de Joinville. Informativo O Economista, Joinville, 08 de março de 2007.
Usina de Açúcar de Pirabeiraba. Em
primeiro plano à direita, trilhos na
fazenda para o transporte de cana
Transporte de cana cortada para a
Usina de Açúcar de Pirabeiraba
23
w w w . p e r i n i b u s i n e s s p a r k . c o m . b r
Uma vizinhança
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História e origens de Pirabeiraba

  • 1. Historiadores e pesquisadores analisam as raízes econômicas e culturais de Pirabeiraba 150 anos de trabalho e tradição Usina de Açúcar de Pirabeiraba, início do século XX
  • 2. Um presente à minha terra 3Apresentação da revista Pirabeiraba 150 pelo ex-vereador e ex-presidente da Câmara Fabio Dalonso Primórdios de Pirabeiraba: aspectos obscuros da sua gênese histórica 4Dilney Cunha - Historiador, graduado e pós-graduado em História pela Univille Pirabeiraba ontem e hoje 8Milton Benkendorf – Licenciado em História e mestrando em Patrimônio, Cultura e Sociedade da Univille. O associativismo teuto-brasileiro em Pirabeiraba 12Wilson de Oliveira Neto – Professor de História em São Bento do Sul e mestrando em Patrimônio Cultural e Sociedade da Univille. Estradas e famílias: colonização em Pirabeiraba 14Brigitte Brandenburg – Engenheira agrônoma da Epagri e fundadora do Instituto de Geneologia de Santa Catarina. Pirabeiraba: fragmentos para pensar um pedaço 22Fernando Cesar Sossai – Mestre em Educação, Comunicação e Tecnologia pela Udesc e professor de História na Univille. Engenho de mate de Abdon Baptista, na Estrada Dona Francisca Reunião da família Pabst (Rio da Prata) com o pastor luterano C. Bartelmann (com chapéu na mão) A revista Pirabeiraba 150 é uma publicação comemorativa dos 150 anos de Pirabeiraba editada pelo ex-vereador Fabio Dalonso. Contato: fabiodalonso@expresso.com.br Jornalista responsável: Domingos de Abreu Miranda (DRT-SP 18.888). Fotos: Nilson Bastian e Arquivo Histórico de Joinville e Grupo Folclórico Windmühle. Diagramação: Marcelo Duarte • mdu@terra.com.br Impressão: Gráfica: Grafinorte.
  • 3. A niversário sem presente não é aniversário. Há cerca de seis meses já pensava o que pode- ria oferecer a esta comunidade – que me viu nascer e que tantas alegrias têm me dado – quando ela completasse 150 anos de existência. Queria dar um presente que agradasse a todos: jovens, idosos, homens, mulheres, católicos, luteranos, ricos ou pobres. Então deci- di oferecer a esta boa gente uma revista que relatasse um pouco da história deste aprazível pedaço de chão. Portanto estamos entregando a vocês Pirabeiraba 150. Este projeto foi idealizado com a ajuda do meu leal amigo e jornalista Domingos Miranda e do conceituado historiador Dilney Cunha. A vocês dois o meu eterno agradeci- mento por ter permitido concretizar este antigo sonho meu. Para esta empreitada contei também com o apoio dos amigos Marisa Fock, Clóvis Seefeldt, Mário Sérgio, proprietário da Criacom e a participação especial do fotógrafo Nilson Bastian. Aqui não poderia deixar de destacar a compreensão de Marcelo e Jonas, diretores do Perini Business Park, que entenderam o significado desta publicação para a comunidade, investindo na publicidade. Mas a revista Pirabeiraba 150 não sairia sem o trabalho abnegado e gratuito de um grupo de conceituados pesquisadores, alguns deles com ra- ízes em Pirabeiraba. Quem coordenou esta empreitadada foi o historiador Dilney Cunha, autor dos livros “Suíços em Joinville: o duplo desterro”e “História do Trabalho em Joinville – gênese”. Ele também escreve o artigo de abertura, “Primórdios de Pirabeiraba: aspectos obscuros da sua gênese histórica”. Já a pesquisa “Pirabeiraba ontem e hoje” foi feita por um filho da terra, Milton Benkendorf, licenciado em História e mestrando em Pa- trimônio, Cultura e Sociedade, da Univille. Wilson de Oliveira Neto, professor de História e co-autor do livro “O Exército e a cidade” escreveu sobre “O associativismo teuto-brasileiro em Pirabeiraba”. A engenheira agrônoma e pesquisadora da realidade local, Brigitte Brandenburg, trouxe à tona um inte- ressante levantamento, “Estradas e famílias: colonização em Pirabeiraba”. Fechando o ciclo de estudos o professor de História da Univille e mestre em educação, comunicação e tecnologia pela Udesc, Fernan- do César Sossai, nos apresenta “Pirabeiraba: fragmentos para pensar um pedaço”. Tenho certeza que estes trabalhos de alta qualidade servirão a todos aqueles que queiram entender melhor nosso passado, conhecer o presente e vislumbrar perspectivas sobre o futuro desta comunidade. Obrigado a todos. Pirabeiraba, 15 de abril de 2009. Fabio Dalonso Um presente à minha terra 3
  • 4. No final do século 18 e início do século 19, parte das terras de- volutas adjacentes a Pirabeiraba, que então pertenciam à freguesia de São Francisco do Sul, foram cedidas a famílias de origem luso-brasileira, muitas das quais possuíam escravos. Nas sesmarias (como eram deno- minadas essas propriedades) cultivavam-se principalmente mandioca e cana-de-açúcar. Um e outro pequeno engenho produzia cachaça, melado e açúcar mascavo. Descendentes desses primeiros povoadores ainda hoje residem na região, como as famílias Cercal, Dias, Cidral, Cristino e Araú- jo. Narrando suas memórias, Manoel de Oliveira Cercal conta que seus antepassados chegaram de Portugal há cerca de 250 anos. Adquiriram terras nas regiões de Araquari, do Boa Vista e do Cubatão, dedicando-se a agricultura, com a utilização do trabalho escravo. Ana Dias, nascida em 1907, neta de escravos de sesmeiros da re- gião do Cubatão, recorda que após a abolição (1888), muitos cativos e seus descendentes foram trabalhar para famílias germânicas de Pirabeira- ba. Ela mesmo foi empregada da família Bächtold, da Estrada da Ilha. Entretanto, o povoamento sistemático e em maior escala da re- gião começou com a criação da Colônia Dona Francisca e a chegada dos imigrantes europeus a partir de 1851. Desde o princípio era intenção da Sociedade Colonizadora de Hamburgo e do representante do Príncipe e da Princesa de Joinville, Léonce Aubé, ocupar as terras mais ao norte da Colônia. Para isso, foi projetada uma estrada que ligaria Joinville ao planalto de Curitiba e serviria para estabelecer o comércio entre essas regiões. Também foi construída em 1854 uma grande serraria às margens Aspectos obscuros da sua gênese histórica Primórdios de Pirabeiraba Dilney Cunha* A ocupação humana da região hoje denominada de Pirabeiraba data de pelo menos 5 mil anos atrás, quan- do grupos de coletores-caçadores-pescadores estabeleceram-se preferencialmente às margens de rios como o Cubatão e da baía da Babitonga. Os únicos vestígios deixados por essas populações são os sambaquis, montes de conchas nos quais se encontraram artefatos de pedra como pequenas esculturas em forma de animais (zoólitos), pontas de flecha, utensílios domésticos e até mesmo ossos humanos. Grupos indígenas também passaram pela região, como os carijós (guaranis) no século 15 e os xok- lengs (botocudos ou “bugres”) já no século 19, os quais protagonizaram vários confrontos com os colonos europeus, alguns mais graves, como o que vitimou o casal Lenschow em 1876 na Estrada da Serra (atual SC-301). Embora não se tenha comprovação, é possível que os guaranis tenham aberto o caminho mais antigo da re- gião, chamado de Peabiru, cujos trechos hoje são conhecidos como Estrada Três Barras e Caminho do Monte Crista. A trilha foi utilizada ao que parece pelos exploradores espanhóis e portugueses no século 16 e serviu também de passagem para os padres jesuítas e os tropeiros que se deslocavam entre o planalto curitibano e o litoral norte catarinense, onde estavam a vila e o porto de São Francisco do Sul. * Dilney Cunha – Historiador, graduado e pós-graduado em História pela UNIVILLE, autor dos livros “Suíços em Joinville – O duplo desterro” (Ed. Letra d´Água, Joinville, 2003, traduzido para o alemão e lançado na Suíça em 2004 pela Editora Limmat, de Zurique) e “História do Trabalho em Joinville – Gênese” (Ed. Todaletra, 2008). 4 Estrada Dona Francisca, no alto da serra, caminho usado para o transporte do mate
  • 5. do rio Cubatão, na altura da confluência com o rio da Prata. A “Serraria do Príncipe” como ficou conhecida, foi por vários anos o maior empre- endimento da Colônia, exportando madeira para fora da Província de Santa Catarina. O que determinou porém a criação de Pirabeiraba foi um enca- deamento de fatos: em 1855 a Sociedade Colonizadora de Hamburgo estava à beira da falência; seus recursos financeiros estavam esgotados e o dinheiro prometido pelo governo imperial brasileiro não veio. A Co- lônia Dona Francisca por sua vez vivia um momento delicado: muitos colonos, frustrados em suas expectativas, em virtude das inúmeras di- ficuldades encontradas, preferiram transferir-se para outras localidades como Curitiba. A rivalidade entre os negócios do Príncipe de Joinville, ad- ministrados pelo seu representante, Léonce Aubé, e os negócios da So- ciedade Colonizadora, aumentava a tensão. O diretor da Colônia, Benno von Frankenberg und Ludwigsdorff, profundamente descontente com a situação, pede demissão. Dois in- terventores assumem a Direção, mas também acabam se desentendendo. Foi nesse exato momento que, percebendo que o seu próprio empreendimento estava ameaça- do, o Príncipe de Joinville enviou Aubé a Hamburgo para assinar um contrato com a Sociedade Colonizadora, mediante o qual se tornou seu sócio-acionista, com a aquisição de 800 ações. Comprometia-se a pagar por elas 50.000 tálers (moeda alemã da época) e dar 30.000 morgos (75 milhões de m²) de terra à Sociedade. Também ficou acertado que Aubé seria o novo diretor da Colônia. Ocorre porém que o Príncipe ainda encontrava-se exilado na Inglaterra, em uma situação financeira desconfortável. Embora não se tenha a documentação comprobatória, é quase certo que aquele dinhei- ro veio do seu irmão Henri d´Orleans, Duque d´Aumale, general do exército francês, escritor de obras militares e à época, dono da maior fortuna da França, estimada em 66 milhões de francos, herdada do seu padrinho, o príncipe Bourbon-Condé. Da herança fazia parte também o famoso castelo de Chantilly, que abriga hoje uma das principais coleções de arte do mundo, doada pelo duque. Em troca dessa ajuda, o Duque d´Aumale recebeu uma extensa área de terras situadas na margem esquerda do rio Cubatão, que ficou co- nhecida como Domínio Pirabeiraba. Ali mandou construir na década de 1860 uma enorme fábrica de açúcar, que funcionou até o início do sécu- lo 20, sendo considerada a maior e mais moderna de toda a Província de Santa Catarina e comparada aos melhores estabelecimentos do gênero no Brasil. Suas instalações foram or- çadas em cerca de Rs 120.000$000 (cento e vinte mil contos de réis), dos quais Rs 40.000$000 em má- quinas (importadas da França), uma quantia fabulosa para a época. Suas caldeiras a vapor operavam com motores de 96 cavalos de força, ca- pazes de produzir até 800 hectolitros (80.000 litros) de caldo por dia. Havia cerca de 4 quilômetros de trilhos, fixos e móveis, atraves- sando as plantações. Assim, a cana depois de cortada e enfeixada, era colocada em vagões e conduzida até a fábrica, onde então iniciava-se o processo de moagem, destilação e produção de aguardente (cachaça) e açúcar. Também foi construída uma escola para os filhos dos emprega- dos da fazenda. O conjunto de construções (casa de máquinas, engenho de moagem, residência do administrador, galpões e rancho dos empre- gados etc) tinha o aspecto de uma “pequena cidade”, segundo expressão usada pelo escritor joinvilense Ernst Niemeyer. Inicialmente produzia-se apenas cachaça e açúcar mascavo, e a partir da década de 1870, foi a pioneira na produção do açúcar branco e refinado, premiado em exposições agroindustriais, como a de Porto Ale- O que determinou porém a criação de Pirabeiraba foi um encadeamento de fatos: em 1855 a Sociedade Colonizadora de Hamburgo estava à beira da falência; seus recursos financeiros estavam esgotados e o dinheiro prometido pelo governo imperial brasileiro não veio. Carroção “Sãobentowagen”, com sua cobertura de lona, era o meio de transporte mais comum na Estrada Dona Francisca 5
  • 6. gre em 1881. Para que se tenha uma idéia do impacto na economia local, a produção total de açúcar da colônia saltou de 1.350 arrobas (cerca de 20.000 quilos) em 1867 para 8.760 arrobas (cerca de 128.000 quilos) em 1868, enquanto a de cachaça pulou de 28.000 medidas (aprox. 73.000 litros) para 64.800 medidas (aprox. 170.000 litros). Além de suprir o mercado local, a fábrica exportava seus produtos para Desterro (atual Florianópolis), Blumenau, Laguna, São Bento do Sul e também para as Províncias do Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Embora a fazenda possuísse extensos canaviais, a fábrica era abastecida também por inúmeros agricultores da região. Pela sua grandiosidade, pelas suas instalações modernas, pela sua administração inovadora para época e lugar, a fazenda do Duque d´Aumale transformou-se em um empreendimento-modelo no país. Atraiu a atenção de ilustres visitantes, como o conde d´Eu, esposo da princesa Isabel, o dinamarquês Henningsen, representante do Duque de Chartres (irmão de d´Aumale) e o príncipe austríaco Windischgratz. A população também parece ter feito da fazenda um ponto “turístico”: associações e grupos de pessoas costumavam realizar “excursões” de Join- ville até o local. Aubé era agora, além de representante do Príncipe de Joinville e do Duque d´Aumale, o novo diretor da Colônia Dona Francisca. Assim, uma das primeiras medidas que adotou foi garantir a mudança do traça- do da futura estrada que ligaria a colônia ao planalto. O projeto inicial da antiga direção fazia com que ela passasse pela região de Anaburgo (atual Vila Nova). Aubé, vendo que isso seria extremamente prejudicial para os interesses do Príncipe, iniciou com recursos próprios e do gover- no da Província, a construção de uma outra estrada em 1852. Partindo do centro de Joinville (atual rua Dona Francisca), ela atravessava justa- mente as terras do nobre francês, o que viabilizaria a sua colonização e consequentemente provocaria sua valorização, além de garantir o escoa- mento da produção dos futuros empreendimentos (serraria e fábrica de açúcar). Acumulando os cargos, não foi nada difícil para Aubé fazer valer o seu projeto. Esse fato foi fundamental para o surgimento de Pirabeiraba. No seu relatório de 1857, a Sociedade Colonizadora de Hamburgo já men- cionava a criação de um novo povoamento na região do Cubatão e no relatório seguinte fala da “cidade (Stadtplatz) projetada para situar-se ao longo da estrada que leva até o planalto e promete por causa de sua localização, rápido progresso”. Em 1859, a chamada “Estrada da Serra” (atual SC-301) estava concluída até a “nova cidade a ser construída às margens do rio Cubatão”. Estava tudo preparado para iniciar a coloni- zação da região. Naquele mesmo ano, o governo imperial enviou à colônia o conse- lheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz, para que fiscalizasse o andamento das obras públicas, em especial a Estrada da Serra. Para homenageá-lo, a Direção da Colônia ofereceu-lhe o primeiro lote do novo núcleo popu- lacional, que também em sua homenagem recebeu o nome de Pedreira. Localizava-se no ponto onde se encontravam as estradas da Serra, Cuba- tão e Três Barras. O título de propriedade traz a data de 15 de abril, tida hoje como a data de fundação do distrito de Pirabeiraba; mas os primeiros assen- tamentos ocorreram ao que parece ainda em 1858 na Estrada Cubatão (trechos da Estrada Anaburgo e BR-101). Os registros imobiliários da Direção da Colônia indicam por sua vez que o primeiro lote na Estrada da Ilha foi vendido ao imigrante alemão Heinrich Demuth em 15 de setembro de 1859. Independente da data, é fato que esse ano marcou o início da colonização em maior escala da região de Pirabeiraba, com a chegada de inúmeras famílias de origem germânica, em sua absoluta maioria oriunda de pequenas aldeias rurais da Pomerânia, região locali- zada no leste do antigo Reino da Prússia (atuais Alemanha e Polônia). Vieram ainda muitos imigrantes de Mecklemburgo, Saxônia e da Suíça. Em 1867, ou seja, menos de dez anos depois, residiam naquele distrito 974 pessoas (em toda a Colônia moravam 4.667 habitantes), das quais 628 eram estrangeiras (ou seja, imigrantes). Fontes CIESLINSKI, Carolina; COELHO, Ilanil. Os luso-brasileiros em terras de alemães: a história que não foi contada. In: Caderno de iniciação à pesquisa. Vol. 6-novembro/2004. Joinville: UNIVILLE, p.204. FICKER, Carlos. História de Joinville: subsídios para a crônica da Colônia Dona Francisca. Joinville: Ipiranga, 1965. QUANDT, Olavo Raul. Mil pomeranos. Joinville: edição do autor, 2003. SCHMALZ, Odete. Um ducado francês em terras principescas de Santa Catarina. Monografia. Joinville: FURJ, 1989. JORNAL O TRABALHADOR. Joinville. Ano I - no 1 - Fevereiro de 1999. Acervo: Comunidade Evangélica Luterana de Pirabeiraba LIVROS de registros de batismos, casamentos e óbitos. 1859-1870. Acervo: Arquivo Histórico de Joinville (AHJ) LISTAS de imigrantes. Diversas. RELATÓRIOS da Sociedade Colonizadora de 1849 em Hamburgo. 1851-1892. Traduzidos por Helena R. Richlin. HOLTERMANN, C. A. Die deutsche Kolonie Dona Francisca in Brasilien in historischen – sta- tistischer Beziehung. Mittheilungen der geographischen Gesellschaft in Hamburg, 1876-1877 STATISTIK der Kolonie Dona Francisca vom Jahre 1867 (levantamento realizado pela Subdele- gacia e pela direção da Colônia Dona Francisca). CERCAL, Manoel de Oliveira; MEYER, Maria de Lourdes Cercal; Araújo, Maria Luiza Cercal de; e CERCAL, Flávio Lúcio de Oliveira. Entrevista concedida a Janine Gomes da Silva e Jeisa Rech. Joinville, 10 set. 2002. Núcleo de Pesquisa Histórica do AHJ. DIAS, Ana; CRISTINO, Antônio Davi. Entrevista concedida a Dietlinde Clara Rothert, Maria Judite Pavesi e Milton Benkendorf. Joinville, 16 de março de 2000. Núcleo de História Oral. AHJ. 6 Estrada Dona Francisca (Km 20) no início do século XX
  • 7. 7 Escola hoje Aeducação sempre recebeu atenção especial dos moradores de Pirabeiraba. Na foto a escola agríco- la inaugurada na década de 60. Abaixo escola as margens da Estrada Dona Francisca, em 1910. Escola ontem
  • 8. Este, que já ocupou quase metade do território do Município e hoje, mesmo com a transferência de todo o Distrito Industrial Norte para a sede do Município, ainda possui mais de um terço da superfície do município de Joinville. Mas a polêmica no período era outra: Pira- beiraba arrecadava sessenta por cento dos impostos pagos ao Tesouro Municipal, e surgiu a possibilidade de emancipação. Isto na primeira gestão do Prefeito Wittich Freitag, que prontamente tratou de mudar a legislação, incorporando a Zona Industrial à sede, pondo um ponto final nas aspirações dos emancipacionistas. O Distrito de Pirabeiraba tal como a localidade de Anaburgo, hoje situada no bairro Vila Nova, nasceu sob o signo de ser a sede da então recém-fundada Colônia Dona Francisca. Como ambas fugiram ao controle de seus primeiros administradores, a sede acabou mesmo fican- do onde hoje se encontra o centro do município de Joinville. O Distrito de Pirabeiraba se encontra ao Norte do município, na direção da Serra do Mar e é ponto de passagem para quem deseja ir a Curitiba pela BR-101, antiga Estrada de Três Barras, que corta as comu- nidades da Estrada do Oeste, Estrada Canela, Estrada Bonita, a Estrada Palmeira e a localidade de Rio Bonito. Já a SC-301, antiga Estrada Dona Francisca, leva a Campo Alegre e São Bento do Sul, que dá acesso às comunidades de Estrada Mildau, Estrada do Pico, Estrada Rio da Prata, Estrada Quiriri, Estrada Rio do Júlio, alto da serra, e a chamada Vila Dona Francisca na altura do quilômetro 21 já no sopé da Serra do Mar. Complementam ainda o Distrito as comunidades da Estrada da Ilha, Milton Benkendorf* E screver um pouco da história de Pirabeiraba é escrever minha própria história, pois, aqui nasci e dei meus primeiros passos nas letras. Primeiramente na Escola Isolada Estadual da Estrada da Ilha, co- munidade onde residia e conclui o ensino fundamental na Escola de Educação Básica Olavo Bilac, em pleno período da ditadura militar. Ampliei meus horizontes, passei a interagir com as outras co- munidades através dos Grupos de Jovens, vinculada à Igreja Evangélica Luterana, o que me permitiu ter uma idéia da extensão do nosso Distrito. “A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado.” Pirabeiraba ontem e hoje * Milton Benkendorf - É licenciado em História e Mestrando em Patrimônio, Cultura e Sociedade da Univille. Serraria do príncipe de Joinville, às margens do Rio Cubatão, confluência com o Rio da Prata (1865) Marc Bloch 8
  • 9. Estrada Ribeirão do Cubatão, cujo acesso é anterior ao centro urbano do Distrito. Com a ocupação do solo da Colônia, a primeira atividade foi o desmatamento, para que na seqüên- cia pudessem utilizar as terras para a atividade agropastoril, que, depois da extração da madeira in natura, tornou-se a atividade econômica que trouxe o sustento dos agricultores e de suas famílias. A vocação agrícola das comu- nidades criadas ao longo da Estrada Dona Francisca e da Estrada de Três Barras, nem sempre encontrou solo fértil para assegurar o sucesso destas recém criadas comunidades. Mas, a grande maioria encontrou os recursos necessários para se desenvolverem, apesar das adversidades que este tipo de pioneirismo costuma enfrentar. Suprimida a vegetação, plantada a primeira safra, era preciso es- perar a primeira colheita para poder aos poucos matar a fome da família, e ainda cuidar dos animais domésticos, que tal como o grupo familiar também tinha que ser alimentado. A produção da propriedade nem sempre era suficiente para aten- der as necessidades básicas. Cabia ao chefe da casa então prover esta carência, e para isso ele acabava tra- balhando como bóia fria para outros colonos, que dispunham de capital para iniciar suas atividades. Estes pagavam para derrubar a mata e ini- ciar o cultivo nas suas propriedades ou como outra opção, os colonos insolventes trabalhavam como em- pregados da Administração da Colô- nia, na abertura de novas estradas, demarcação de lotes, derrubada de árvores e na construção de pontes. A agricultura permaneceu como principal atividade do Distrito, até o início da década de 30. Passou a dividir com as Serrarias, que bene- ficiavam a madeira extraída da floresta, o espaço econômico da região. Levantamento feito por volta do ano de 2001 pelo Núcleo de História Oral do Arquivo Histórico de Joinville, aponta entre os anos de 1930 a 1970, a existência de mais de trinta Serrarias em atividade só na região de Pirabeiraba. Como as comunidades que se estabeleceram foram se desenvol- vendo, abriu-se espaço para que estabelecimentos comerciais fossem sur- Com a ocupação do solo da Colônia, a primeira atividade foi o desmatamento, para que na seqüência pudessem utilizar as terras para a atividade agropastoril, que, depois da extração da madeira in natura, tornou-se a atividade econômica que trouxe o sustento dos agricultores e de suas famílias. 9 Vista aérea de Pirabeiraba
  • 10. gindo ao longo das principais vias. Estes, além de fornecerem mantimen- tos para suprir os colonos, adquiridos na sede do município, acabavam também adquirindo produtos destes, que os revendiam. Com isto, criou- se uma relação de comércio de troca, também conhecida como escambo. Muitos destes comerciantes transformaram-se em pequenos “banquei- ros”, pois para não perder o controle das finanças, criaram um controle de caixa para cada colono. Uma espécie de conta corrente, onde eram anotados os valores das mercadorias adquiridas do agricultor, como cré- dito e noutra coluna as compras efetuadas pelo mesmo do comerciante, e numa terceira coluna era anotado o saldo do correntista, a cada vez que a conta era movimentada. Muitos dos colonos deixavam seu dinhei- ro na mão do comerciante, e isto explica de certa forma o sucesso dos comerciantes da região. Alguns destes ainda existem e atuam com secos e molhados, açougues, hotelaria e restaurantes, que em algumas situações, estão há várias gerações nas mãos de uma mesma família. Outro fator que contribuiu para o sucesso dos comerciantes foi o fluxo de carroções vindos do planalto, com o ciclo da erva-mate, que durou aproximadamente de 1890 a 1930. Transportavam até o porto do Bucarein a erva beneficiada, e até as ervateiras, a matéria prima vinda do Planalto Serrano. Os comerciantes se beneficiavam oferecendo pousada para os carroceiros e também pasto e cocheiras para os cavalos destes. Nas últimas quatro ou cinco décadas, foi possível sentir as mu- danças de forma mais rápida. Situada numa região de exuberante Mata Atlântica, Pirabeiraba sofreu com o enrijecimento da Legislação Am- biental, na década de 1970, que provocou a desativação de praticamente noventa por cento (90%) das madeireiras existentes, e também em mui- tos casos tornando-a uma atividade econômica quase inviável. Com esta imposição, muitos agricultores acabaram por desistirem da roça para se empregarem em empresas como forma de buscar o seu sustento. A Pirabeiraba de hoje, pouco lembra a do passado, pois aos pou- cos, com a construção da BR-101, na década de 1960, e mais tarde na década de 1990 a construção da SC-301, o Distrito passou a ser ocupado por um número cada vez maior de indústrias que buscavam terrenos com localização privilegiada e também mão de obra disponível para contra- tação. A mão de obra além de ser farta, era formada por ex-agricultores e ou os filhos destes, que precisavam empregar-se nas empresas face a nova conjuntura. Estes habituados às lides do campo, e não fugindo do trabalho pesado, ao qual estavam acostumados, foram muito disputados por diversas das grandes empresas como Cônsul, Tupy, Embraco, Dohler e Tigre. Aos poucos a atividade econômica de Pirabeiraba acabou ficando cada vez mais parecida com a do município sede (Joinville). Até mesmo o perfil dos agricultores acabou se modificando: muitos dos que perma- neceram na atividade passaram a ser monocultores, como é o caso da banana, outros agregaram a atividade do turismo rural para incrementar sua renda. Mas, muitos desistiram e venderam suas propriedades que acabaram virando sítios de lazer de moradores urbanos em busca da tran- qüilidade oferecida pelo campo. Atualmente, Pirabeiraba tem uma população de aproximadamen- te 25 mil habitantes, responde por um quinto da arrecadação do municí- pio e sua atividade agrícola mais significativa é a produção de banana. Encerro o texto utilizando uma frase do historiador inglês Eric J. Hobsbawm, “...as pessoas vivem um presente permanente, esquecendo-se de seu passado cuja memória há muito ficou esquecida”. Bibliografias consultadas FICKER, Carlos. História de Joinville. Joinville: Ipiranga, 1965. CUNHA, Dilney. Suíços em Joinville – O duplo desterro. Joinville: Letra D´ Água, 2003. ____________. História do Trabalho em Joinville – Gênese. Joinville: Todaletra, 2008. HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. SINODO LUTERANO. Lutherische Kirche in Brasilien. São Leopoldo: Rotermund & CO, 1955. 10
  • 11. Canavial da Fazenda Pirabeiraba com a vila operária ao fundo, na primeira década do século XX Instalações no interior da Usina de Açúcar de Pirabeiraba, uma das mais modernas da época 11
  • 12. teuto-brasileiro em Pirabeiraba O associativismo * Wilson de Oliveira Neto – Mestrando em Patrimônio Cultural e Sociedade na Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE). Professor de História no Colégio Global (São Bento do Sul, SC). Co-autor do livro O Exército e a cidade (Editora da UNIVILLE, 2008). wilhist@gmail.com Wilson de Oliveira Neto* A existência de uma intensa vida associativa é um dos aspectos que mais chama a atenção daqueles que estudam a história e a cultura teuto-brasileiras. São recorrentes na bibliografia especializada menções à grande quantidade de agremiações, associações, clubes ou sociedades das mais variadas matizes que, no exercício de suas funções, foram além do mero espaço de sociabilidade entre os membros das comunidades teuto-brasileiras formadas no sul do Brasil a partir do século 19. Como afirma a antropóloga Giralda Seyferth (1999), o associativismo foi um espaço de manutenção de etnicidade. Locais de expressão da Kultur alemã. No Brasil, as primeiras sociedades teuto-brasileiras surgiram no meio urbano. Elas eram chamadas genericamente de Germania e estavam ligadas ao comércio e à indústria. Apesar de sua natureza econômica, esses clubes possuíam bibliotecas e desenvolviam uma intensa vida cul- tural, com apresentações de canto, música e teatro. A respeito dessas organizações pioneiras, sabe-se ainda que: “[...] celebravam datas históricas alemãs, possuíam bibliotecas com predominância de textos em língua alemã, organizavam apresentações teatrais e de mú- sica instrumental e coral privilegiando a tradição ale- mã. Sob este aspecto, portanto, não se diferenciavam muito das sociedades de Tiro e de Ginástica, apesar destas exibirem mais ostensivamente as práticas es- portivas nas suas denominações. As sociedades Ger- mania, porém, eram mais do que simples espaços de recreação, sendo consideradas [...] precursoras das câmaras de comércio teuto-brasileiras” (SEYFERTH, 1999, p. 25). Com o passar do tempo, outras associações surgiram, como por exemplo, as Hilfsvereine (Sociedades de Socorro-Mútuo), Kulturvereine (Sociedades de Agricultores), Sängervereine (Sociedades de Cantores), Schützenvereine (Sociedades de Atiradores), Turnvereine (Sociedades de Gi- násticos), entre outras. De acordo com a historiografia, as agremiações teuto-brasileiras surgiram, basicamente, a partir de duas razões: a) Pela falta de amparo aos imigrantes por parte do Estado brasileiro; b) Por uma tradição asso- ciativa existente na Alemanha há séculos (FOUQUET, 1974 e SEYFER- TH, 1999). Nas Colônias, tudo estava por ser feito e durante os seus primórdios, diante de toda a precariedade material, as sociedades foram locais em que os problemas comunitários eram enfrentados e superados. Na Alemanha contemporânea, o associativismo ainda é visto como algo de importância nacional, que tem suas raízes na época medieval. Existem no país em torno de 345 mil associações, das quais participam cerca de 70 milhões de sócios. É o que afirma o Perfil da Alemanha (2000), guia publicado em vários idiomas pelo Departamento de Imprensa e Informa- ção do Governo Federal. Opapelsocialdoassociativismoteuto-brasileiropodeservisualizado Participantes da Sociedade de Atiradores de Pirabeiraba, no início do século passado 12
  • 13. através, por exemplo, das sociedades de tiro (Schützenvereine). Suas origens estão situadas nas corporações de ati- radores que, na Idade Média, eram responsáveis pela defesa dos burgos localizados em diversas regiões da Eu- ropa Centro-Ocidental. Contudo, as atividades dessas confrarias não eram apenas militares. Periodicamente, eram realizadas competições de tiro e demais celebrações que, segundo a historiadora Sueli M. V. Petry (1982), são os embriões das festas de atiradores de hoje. Fora isso, em muitos momentos as associações ou clubes teuto- brasileiros prestaram vários serviços de utilidade pública que ultrapassa- ram as fronteiras das Colônias. Em Dona Francisca, atual Município de Joinville, por exemplo, a Schützenverein zu Joinville junto com o Corpo de Bombeiros Voluntários foram as primeiras formas de defesa da Colônia. Inclusive, foram mobilizados em virtude da passagem da Revolução Fe- deralista pela região, durante o final do século 19 (GUEDES, OLIVEI- RA NETO e OLSKA, 2008). No Rio Grande do Sul, informa o memo- rialista Carlos Fouquet (1974) que, o primeiro Tiro de Guerra gaúcho foi criado a partir da sociedade de atiradores de Porto Alegre. Porém, o associativismo praticado por imigrantes alemães e seus descendentes era visto com desconfiança por muitas autoridades brasi- leiras. Especialmente as Schützenvereine e as Turnvereine, as quais tinham um caráter militarizado, evidenciado na cultura material e nas práticas pertencentes a essas agremiações. Pairava uma suspeita de que tais ins- tituições estimulavam a formação de “quistos étnicos” nas regiões colo- niais (SEYFERTH, 1999). Esses fatos associados aos contextos de guerras mundiais e de nacionalismos resultaram em intervenções ocorridas du- rante a Campanha de Nacionalização (1938) e a Segunda Guerra Mun- dial (1939-1945), nesta última, a partir da entrada do Brasil no conflito, em 1942. Durante essa guerra, as agremiações teuto-brasileiras foram duramente atingidas, sendo suas sedes fechadas e depredadas, tal como mostram historiadores e memorialistas diversos. A dimensão étnica que as associações teuto-brasileiras possuíam foi o principal motivo que levou o governo a intervir nos seus interiores durante as décadas de 1930 e 40 (SEYFERTH, 1999). Contudo, após o término do conflito, em 1945, pouco a pouco elas foram reabertas e apesar dos pesares, voltaram a ser espaços de sociabilidades e de tradições criadas pelos primeiros imigran- tes alemães que chegaram ao Brasil há mais de 180 anos atrás. Associações em Pirabeiraba Tanto em Joinville (sede da Colônia Dona Francisca) como mais especificamente no distrito rural de Pirabeiraba, o associativismo consti- tuiu-se em um traço cultural marcante da sociedade local. As primeiras agremiações surgiram com a chegada dos imigrantes germânicos. Em Pirabeiraba, as associa- ções religiosas e escolares foram as primeiras a serem criadas. Os colo- nizadores, quase todos agricultores e com uma religiosidade evangélica fortemente arraigada, formaram em 1863 uma “comunidade eclesiástica e escolar” (Kirche-und Schulgemein- de) na Estrada da Ilha e em 1864 o mesmo ocorreu na vila de Pedreira (atual Pirabeiraba). Nos anos poste- riores, à medida que surgiam novos núcleos populacionais nas recém-abertas estradas do distrito, associações do mesmo gênero eram criadas. Um outro tipo de agremiação bastante presente entre os colonos teuto-brasileiros eram as associações de tiro. Em 1894 surgiu a “Schützen- verein Pirabeiraba”, que se reunia para treinos e torneios no Salão Schrö- der, na Estrada Dona Francisca km 9, esquina com a Estrada da Ilha. Em 1906 foi fundada na mesma estrada, no km 21, a “Schützenverein Tell”. De acordo com a pesquisadora Brigitte Gern, essas associações foram fechadas durante a Segunda Guerra Mundial por determinação governamental e mais tarde passaram a integrar as sociedades culturais e recreativas da região. Surgiram assim os clubes de tiro das associações recreativas Guarany, Mildau, Rio da Prata e Dona Francisca (estes dois últimos substituíram a Sociedade de Tiro Tell). Devem ser citadas ainda outras associações relevantes na histó- ria da comunidade: a sociedade de teatro amador e recreação “Unter Uns Pedreira” (Entre Nós Pedreira), que atuou de 1889 a 1938, a “Tur- nerbund (Liga de Ginastas) Dona Francisca” mais tarde “Sociedade de Ginástica Dona Francisca”, a “Musikverein (Sociedade Musical) Dona Francisca” e o “Sängerchor (Coral) Pedreira”. Além de constituírem-se em espaços de sociabilidade, tecendo ou fortalecendo os laços de solidariedade como forma de vencer as adversi- dades iniciais, essas instituições promoveram a conservação de costumes e tradições, tidos pelo grupo como autenticamente germânicos (Deuts- chtum), reelaborando- e ressignificando-os em uma nova identidade (teu- to-brasileira), em oposição aos demais grupos étnicos. Referências DEPARTAMENTO DE IMPRENSA E INFORMAÇÃO DO GOVERNO FEDERAL. Perfil da Alemanha. Frankfurt; Meno: Societäts-Verlag, 2000. FOUQUET, Carlos. O imigrante alemão e seus descendentes no Brasil (1808 – 1824 – 1974). São Paulo / São Leopoldo: Instituto Hans Staden / Federação dos Centros Culturais “25 de julho”, 1974. GERN, Brigitte Brandenburg. Breve história dos clubes de tiro alvo-seta e de bolão da Sociedade Cultural e Recreativa Guarani – Pirabeiraba. Joinville, 2009. Digitado. Não publicado. GUEDES, Sandra Paschoal Leite de Camargo; OLIVEIRA NETO, Wilson de; OLSKA, Marilia Gervazi. O Exército e a cidade: Joinville e seu batalhão. Joinville: UNIVILLE, 2008. HERKENHOFF, Elly. Era uma vez um simples caminho. Joinville: Fundação Cultural, 1987. PETRY, Sueli Maria Vanzuita. Os clubes de caça e tiro na região de Blumenau: 1859 – 1981. Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1982. SEYFERTH, Giralda. As associações recreativas nas regiões de colonização alemã no sul do Brasil: kultur e etnicidade. Travessia, São Paulo, p. 24 – 28, maio – ago. 1999. Com o passar do tempo, outras associações surgiram, como por exemplo, as Hilfsvereine (Sociedades de Socorro-Mútuo), Kulturvereine (Sociedades de Agricultores), Sängervereine (Sociedades de Cantores), Schützenvereine (Sociedades de Atiradores), Turnvereine (Sociedades de Ginásticos)... 13 Grupo Folclórico Windmühle
  • 14. colonização em Pirabeiraba estradas e famílias Vista parcial da antiga Pirabeiraba (Pedreira) Casal Fritz e Bertha Bennack com os filhos Paulo e Gustavo, na Estrada Anaburgo 14
  • 15. * Brigitte Brandenburg é engenheira agrônoma na Epagri e fundadora do Instituto de Genealogia de Santa Catarina Brigitte Brandenburg* O Distrito de Pirabeiraba, além do núcleo urbano, é cortado por 16 estradas, abertas quase todas na fase de colonização, pelos imigrantes germânicos (sobretudo pomeranos) e por luso-brasilei- ros que começaram a chegar à região na década de 1860. A história da sua ocupação por essas famílias é muito parecida e como são várias localidades, optamos por descrever duas delas e em seguida mencionar as demais, informando os nomes das famílias que as colonizaram e/ou que nelas residem há mais tempo. 1 – Assentamentos de colonos na Estrada do Oeste e sua relação com o Domínio Pirabeiraba A maioria dos produtores rurais da Estrada do Oeste no século 19, produzia cana-de-açúcar para a Usina do Duque D’Aumale, também chamada Fazenda Pirabeiraba. Até o início do século 20, era a maior indústria instalada no município de Joinville. A Fazenda Pirabeiraba tinha produção própria de cana, mas comprava de todos os produto- res residentes na região, devido a alta demanda de matéria-prima. Os funcionários da usina eram moradores ou proprietários em vários distri- tos da Colônia Dona Francisca, que, atraídos pela oferta de trabalho e pagamentos de acordo com a natureza das tarefas, trabalhavam mais ou menos frequentemente na usina. O projeto de produção centralizada de açúcar, aguardente e álcool e a necessidade de maior produção para abastecer a usina de matéria-prima, criou a oportunidade de oferta de lo- tes aos colonos já com alguma experiência no manejo da cultura. Sendo assim, vários colonizadores, incluindo brasileiros já residentes na região de Três Barras, celebraram contratos de arrendamentos com o Domínio Dona Francisca, que variavam em períodos de 30 a 50 anos. Mais tarde, os lotes foram adquiridos, com a oferta para compra. A ocupação dos lotes iniciou em torno de 1865, conforme mostra a lista de arrendatários: Número Adquirentes ou arrendatários Área Data contrato 116 Evaristo Alves 17 há 1/1/1868 117 Johann Michel Gehnke 312.500mq 1/1/1868   Frederico Jordan       Carl Greffin   29/12/1876 118 Hermann Friedrich Wilhelm Gehnke 310.000 mq 1/1/1868   August Brandenburg   8/10/1876 119 Wilhelm Friedrich Graper 245.000mq 1/1/1868   Repartido em duas partes iguais:     119a Wilhelm Friedrich Graper 12,65 há 8/2/1874 119b Ferdinand Boldt 11,85 há 8/2/1874 120 August Friedrich Kersten 23,50 há 1/1/1863   terreno dividido em 1868:     120A August Haak 12,50 há 1/1/1878 121 Johann Friedrich Benkendorf 24 há 1/1/1871 122 Francisco Bento 19,50 há 1/1/1868   Augusto Ziebarth transferido em 25/8/1872   Gustav Henning transferido em 31/5/1873   Johann Loth transferido em 29/7/1876 123 Basilio Gonçalvez Araujo 19 há 1/1/1871 124 Manoel Nunes da Silveira 47,5 há 1/1/1871 125 Antonio Soares Lopes 600.000mq/60 ha 1/1/1871 57 Franz Behling - riscado 25 há 1/1/1874   Gustav Johannsen     179a Wilhelm Martens 13,75 há 1/1/1870 179b Albert Ristow 13,75 há   180 Wilhelm Bergemann 26 há 1/1/1874 181 Friedrich Wilhelm Benkendorf 22 há 1/1/1871 182 August Kersten 22 há 1/1/1870 182/1132 Adolf Kersten     183 August Martens 22ha 1/1/1870 184 Christian Feissel 26 há 1/1/1871 185 Wilhelm Bertling 27,5 1/1/1871   Ferdinand Piske     186 Joaquim Padilha 32,5 1/1/1873   Laurindo Correa       Bento Padilha   1/1/1873 187 Schulz - marceneiro 28,50 há 1/1/1874 188 Johann Friedrich Tabbert 28,50 há 1/1/1873 189 August Lenz 28,50 há 1/1/1874 100 Wilhelm Schramm 50.000BQ 1/7/1865   August Friedrich Wilhelm Schramm 25 há   101 Friedrich Brüggemann 50.000BQ 1/7/1865   Carl Gustav Danielsen transferido a     Friedrich Otte     Entre os imigrantes, havia pessoas de várias origens, com predomí- nio de pomeranos e saxões. Da mesma forma como ocorreu em outras localidades, imigrantes e descendentes casaram com membros da comuni- dade. Os imigrantes luteranos criaram uma associação eclesiástica, a partir da construção de uma escola em 1883, que servia também aos cultos reli- giosos e manutenção de cemitério, sendo que a partir de 1893 recebiam uma pequena subvenção da Intendência Municipal (Prefeitura). A partir do trabalho remunerado na usina, os agricultores ini- ciaram o desmatamento de seus lotes para o cultivo da cana, e ao lon- go das décadas seguintes, instalaram engenhos e criaram suas próprias associações, como a “Landwirtschaftliche Verein für Brüderschaft Pedreira”(Associação Agrícola Fraternidade Pedreira), ligada aos produ- tores rurais da Estrada da Ilha, também parcialmente envolvidos com o cultivo da cana. Em 1911 criaram a Usina Sindicada, associação de produtores de cana-de-açúcar, com engenho próprio instalado no início da Estrada do Oeste, através de uma associação de produtores da Estrada do Oeste, Estrada da Ilha, e Estrada Pirabeiraba e Estrada Três Barras. A influência da usina de açúcar instalada pelo Duque D’Aumale foi fundamental para uma economia regional que perdurou até a década de 70, em Pirabeiraba. Esta antiga usina precursora da atividade na região, contava em 1897 com a seguinte estrutura, conforme o inventário do Duque, faleci- do neste ano, e que consta do acervo do Arquivo Histórico de Joinville: 1) 4.361 hectares de terras da dita Fazenda Pirabeiraba (obs.: na avaliação final foram citados 3.000 hectares) 2) Duas casas de moradia 3) Uma casa para residência do feitor 4) Uma casa para abrigar trabalhadores 5) Um edifício onde funcionam as máquinas para moenda de cana e fabricação de açúcar. 6) Uma máquina a vapor para fabricação de açúcar, com moendas para cana, centrífugas, caldeiras de defecação, de evaporação e de cristalização, caldeiras a vapor com tanques de caldo para os movimentos e evaporação. 7) Quatro filtros e máquina para a preparação do carvão. 8) Um aparelho de destilação com oito cubos de fermentação. 9) Um galpão para depósito de lenha 10) Um galpão construído de madeira e tijolos para depositar di- versos. 11) Um galpão para fabricação de barricas 12) 2.500 metros de trilhos para vagonetes. 13) 20 vagonetes 14) Um galpão para abrigar a balança de pesar cana 15) Um galpão para depósito de bagaços 16) Um galpão para estrebaria. 17) Um guindaste de ferro e madeiras 18) Uma oficina de ferreiro com seus pertences 19) Uma balança decimal, grande, para pesar açúcar 15
  • 16. 16 Bodas de prata de Otto Schulze e Lene Bächtold, na Estrada da Ilha Casal Louis Duvoisin e Anna Tanner. Ele veio para Joinville em 1850, antes da fundação da cidade, e ela com o barco Colon, se estabelecendo mais tarde em Pirabeiraba Álbum de família
  • 17. 20) Duas carroças de quatro rodas 21) Três mil aduellas para fazer barricas 22) Onze barricas novas 23) Dois mil quilos de açúcar cristalizado 24) Nove tanques de lata para depósito de açúcar 25) Nove tonéis, sendo quatro de madeira e cinco metálicos 26) Quatro e meio hecates (dezoito morgens coloniais) de cana plantada, em quinta ressoca 27) Quatro arados 28) Duas grades 29) Um rolo de ferro para abater a terra arada 30) Dois capinadores de ferro 31) Oito cavalos de tiro 32) Nove bois 33) Dezessete vacas 34) Doze novilhas 35) Quatorze bezerros 36) Seis bezerros de dois meses TOTAL = 172:797$500 (cento e setenta e dois contos, setecen- tos e noventa e sete mil e quinhentos réis) Procurador dos bens – Friedrich Brüstlein Esta estrutura foi instalada às margens do Rio Cubatão, no início da Estrada do Oeste. A única estrutura que resiste ao tempo é o galpão onde foi instalada a caldeira, e construída em pedra de granito. Os maio- res investimentos em construções foram feitos em 1873, época de gran- de absorção de mão de obra. Entre os trabalhadores, diaristas da usina constam os nomes dos seguintes imigrantes e brasileiros residentes em diversas regiões da Colônia Dona Francisca, como pode ser observado abaixo: ANO 1873 Nome do funcionário Stein Fritz Emil Stein Johanna Hindlmeier Ledebuhr Wilhelm Ledebuhr August Beulke Carl Hardt Ludwig Benkendorf Wilhelm Kühne Heinrich Kühne Jr. Heinrich Seger August Bössow Jochen Graper Wilhelm Baarz Kersten I August Kersten II August Struck Junior August Martens August Feissel senior Feissel Junior Feissel Mine Feissel Anna Genke senior Struck senior August Jensen Jens Ganske Marre senior Alves Evaristo José Manoel Correa Joaquim Gonçalves da Maia Manoel Borges José Padilha velho Bahia José Alves Maria Alves Francisco Klug Johann Boldt Ferdinand Martens August Genke Hermann Stoll Ferdinand Hoff Friedrich Graper Ernst Graper Wilhelm Holz Doris Holz senior Holz Mine Holz Ricke Ganske August Nennemann Friedrich Elling Fritz & comp. Nass August Trapp Bertha Haak August Hoffmann Carl Hoffmann Ludwig Beulke Johanna Beulke I. Beulke W. Beulke Friedrich Schier Johanna Hardt Tine Krüger Carl Ganske Polnow Fr. Kienbaum W. Kienbaum Auguste Wiener Bertha Seiler Kunigunde Krelling Franz Santos Maria Rosa Ida Struck Junior August Struck Bertha Struck Emilie Struck Ernestine Bertling Carl Elmer Joachin e Comp. (família) Böge Jedde Graper Ernst Estrada do Oeste Graper August Estrada do Oeste Klug Johann Estrada da Ilha Johannson Gustav Estrada do Oeste Kersten II August Estrada do Oeste Kersten I August Estrada do Oeste Martens Wilhelm Estrada da Ilha Bertling Carl Estrada do Oeste Bergemann Wilhelm Estrada do Oeste Bergemann Emilie Estrada do Oeste Bergemann Bertha Estrada do Oeste Brandenburg August Estrada do Oeste Brandenburg Eduard Estrada do Oeste Loth Johann Estrada do Oeste Loth Carl Estrada do Oeste Abraham Carl Estrada da Ilha Grosse August Köhn Wilhelm Estrada do Oeste Boldt Wilhelm Estrada da Ilha Lenz August Estrada do Oeste Genke Johann Estrada do Oeste Genke Senior Estrada do Oeste Manoel Joaquim Letzner Carl Estrada Annaburg Elling August Estrada da Ilha Elling Friedrich Estrada da Ilha Schmöckel Wilhelm Estrada Catharina - depois Garuva Schmöckel Julius Idem acima Lenz August Estrada do Oeste Holz Ferdinand Estrada da Ilha Nass August Annaburg Nass Carl Annaburg Feissel Wilhelm Estrada do Oeste Ganske August Estrada Blumenau Bössow Johann Wandersee Reinhard Estrada do Oeste Wandersee Albert Estrada do Oeste Manoel Jr. José 17
  • 18. Álbum de família Reunião da família Pabst, em Rio da Prata 18 Família Erzinger. Vê-se a matriarca Maria Müller Erzinger, imigrada em 1855 de Schaffhansen, Suíça
  • 19. Manoel José Manoel Antonio Padilha Bento Estrada do Oeste Padilha Aguida Padilha Marco Borges Preis Bibiano José Bibiano Gregório Bibiano Francisco Correa Jofefa Tres Barras Correa Anna Alves Caroline Alves João Neitzel Friedrich Estrada da Ilha Hartkopf Albert Estrada da Serra Ramnow Ernst Estrada Da Ilha Ramnow Emil Estrada da Ilha Zander Cristian Estrada da Serra Zander Wilhelm Estrada da Serra Lütke Estrada da Serra Radünz Mildau Schulz Wilhelm Estrada da Ilha Schulz Ferdinand Estrada da Ilha Demuth Estrada da Ilha Habeck Carl Estrada da Tromba Habeck Johann Estrada da Tromba Sal Francisco de Estrada do Oeste Sann Wilhelm Annaburg Lorenz Ferdinand Annaburg Garz Heinrich Estrada Rio da Prata Langanke Julius Estrada da Serra Kühne Wilhelm Kühl Gustav Estrada Mildau Elmer Joachin Estrada da Ilha Trapp Carl Estrada da Tromba Schwalmann Johann Graviel José Daberkow Gottlieb Daberkow Wilhelm Korn Friedrich Estrada da Ilha Wendler August Estrada da Ilha Benkendorf Franz Estrada Pirabeiraba Baron Thomas Krüger Hermann Estrada da Ilha Haak August Estrada do Oeste Bössow Johann Prust Ferdinand Schier August Estrada da Ilha Fehrmann Hermann Gesing Wilhelm Serrastrasse Boss Johann Hermann Cristian Joinville Boska Martin Estrada da Ilha Fábrica Müller Heinrich Estrada da Ilha Ledebuhr Wilhelm Estrada da Ilha Ledebuhr August Estrada da Ilha Schlichting Gustav Joinville Bauer Gustav Estrada da Ilha Abraham Carl Estrada da Ilha Schmalz Jacob Joinville Desta forma, conclui-se que a atividade da cana-de-açúcar para fa- bricação de açúcar refinado iniciou-se com este empreendimento, esten- dendo-se por mais de 100 anos entre os agricultores da região. 2 - Assentamento inicial da Estrada Mildau A estrada Mildau, cuja extensão em 1869 pertencia, em parte ao Domínio Dona Francisca (propriedade dos Príncipes de Joinville), e em parte à Sociedade Colonizadora de Hamburgo, foi colonizada a partir de 1870 por imigrantes que arrendaram as terras, em contrato firmado por 50 anos. A área dos lotes variava de 9 a 22 hectares. Os primeiros arrendatários assinaram contrato no final de 1869 e em janeiro de 1870, firmado pelo representante do Domínio D. Francisca, Sr. Friedrich Brüs- tlein, sendo estes arrendatários abaixo relacionados, como também sua origem por distrito e Província Prussiana (atual Alemanha e parte da Polônia): Carl Lanz – (1869) – Schlawee, Köslin, Pomerânia Luiz Duvoisin, que transferiu seu contrato para João Gomes de Oliveira, em 7 de novembro de 1871, Suíço, Louis Gustav Wiener – Rivolsdorf, Köslin, Pomerânia Carl e Hermann Neitzke (1869) – Köslin, Pomerânia, Hermann Neitzke (1869) – Köslin, Pomerânia August Hardt – Putzernin, Köslin, casado com Karoline Boness Carl Friedrich Struck – Regenwalde, Stettin, Pomerânia Wilhelm Christof Beulke – Köslin, Pomerânia August Ferdinand Friedrich Struck – Regenwalde, Stettin, Pomerânia Karl Friedrich Wilhelm Radünz – Neustettin, Köslin , Pomerânia Johann Friedrich Wilhelm Radünz – Neustettin, Köslin, Pomerânia Entre 1870 e 1875 aproximadamente, a Sociedade Colonizadora, proprietária da parte sul do Mildau, que confrontava com o limite norte das terras da Colônia, vendeu lotes de aproximadamente 25 hectares, localizados na parte interior e mais próxima do morro da Tromba, a imi- grantes pomeranos, em totalidade, oriundos em sua maioria de Köslin e Regenwalde, dois dos três distritos localizados naquele período, no cen- tro e oeste da Província da Pomerânia, de influência eslava. Os nomes destes imigrantes, que com as suas famílias, se instalaram neste período na Estrada Mildau são: Friedrich Fick - da Pomerânia Franz Polzin – Saatzig, Stettin, Pomerânia Carl Malon – Belgard e Köslin, Pomerânia Johann Beulke - Köslin, Pomerânia August Hardt - Putzernin, Köslin, Pomerânia, (repassou o lote a Hermann Bahr a partir de 1875) Wilhelm Wegener, Belgard, Pomerânia cuja viúva repassou o lote a Heinrich Buttke em 1875. Heinrich Buttke – Köslin, Köslin, Pomerânia Friedrich Wegener, Schiefelbein, Belgard, Stettin, Pomerânia, que mudou-se para a estrada do Oeste em 1883 e repassou o lote a Ernst Trapp (Belgard, Stettin, Pomerânia – vivia na Estrada Oeste) Carl Trapp (filho de Ernst Trapp)– Belgard, Stettin, Pomerânia Wilhelm Greffin – Regenwalde, Stettin, Pomerânia Gottlieb Finger Wilhelm Hoffmann – Regenwalde, Pomerânia Wilhelm Dumke – Grandhof, Köslin, Köslin Pomerânia Fritz Gumz – Schiefelbein, Belgard, Stettin, Pomerânia Hermann Bahr – Bublitz, Köslin, Pomerania Wilhelm Friedrich Tabbert – Piritz, Stettin, Pomerânia August Kühl – Rogow, Regenwalde, Pomerânia Carl Dummer – Schiefelbein, Belgard, Pomerânia Gottlieb Dabberkow - Pomerânia Wilhelm Wodke – Putzernin, Köslin, Pomerânia Johann Garz – Stolp, Köslin, Pomerânia Gottlieb Ledebuhr - Pomerânia Heinrich Treptow – Schlawee, Köslin, Pomerânia Friedrich Baarz – Regenwalde, Stettin, Pomerânia Friedrich Krumnow – Regenwalde, Stettin, Pomerânia Algumas famílias, trabalhavam inicialmente para a usina de açú- car do Duque D´Aumale, como pode ser observado nos registros de pagamento de diaristas e mensalistas da usina, situada no local deno- minado Pirabeiraba, ou Fazenda Pirabeiraba, na margem esquerda do Rio Cubatão. Em 1873, Albert e Bertha Wiener, Carl Trapp, August e Gustav Kühl, Carl e August Struck, Carl Friedrich Struck, August Hardt, Hermann Hardt, Carl Neitzke, Wilhelm Beulke, Carl e Johann Radünz trabalhavam em atividades agrícolas nesta fazenda com suas esposas e alguns filhos. A Serraria do Príncipe estava instalada desde o final da década de (18)50 na Estrada da Serra, no Km 17, e é possível que eventu- almente absorvesse a madeira derivada do desmatamento das áreas dos lotes ocupados pelas famílias. Assim também ocorria com a construção da Estrada da Serra, para cujas obras eram contratados os trabalhadores residentes no local e de outras regiões da cidade. Luiz Duvoisin inicialmente vendia madeira, quando instalado na 19
  • 20. estrada Mildau, sendo que transferiu seu contrato de arrendamento a João Gomes de Oliveira, natural de Paraty (Araquari), que produzia cana- de-açúcar, processada em seu engenho através de trabalho escravo. Outros agricultores como Wodke, Ledebuhr, Trapp, Baarz já pos- suíam propriedades na Estrada da Ilha, sendo que em alguns casos, suas propriedades passaram a ser exploradas pelos filhos. Instalados em suas propriedades, as famílias, todas luteranas, es- tavam associadas à comunidade Evangélica de Pedreira, na qual oficiali- zavam casamentos, batizados, confirmações, e óbitos. Havia nesta época duas escolas em Pedreira, uma pública e uma comunitária, construída com recursos da própria comunidade. O grupo de famílas instaladas na Estrada Mildau criou entre si, laços e vínculos através de casamentos entre os seus membros. A partir de 1900, aproximadamente, os descendentes começaram a relacionar-se fora da comunidade e iniciaram-se alguns casamentos com filhos de moradores da Estrada da Serra, próximo a Pedreira. Tam- bém neste período ou até mesmo antes disso, em torno de 1880 houve uma migração de imigrantes e de jovens casais, da Estrada Mildau, para ocupação de novos lotes na Estrada Rio da Prata, como a das famílias Dumke, Malon, Hardt. Além disso, membros de outras famílias como Greffin, Wegener e Maass passaram a residir na Estrada do Oeste, a par- tir da medição e venda de lotes do domínio Dona Francisca a colonos dispostos a produzir cana-de-açúcar para a Usina Pirabeiraba. A família Struck vendeu seu lote a família Gomes de Oliveira e passou a ocupar a outra parte de seu lote na Estrada da Tromba. Não cabe relatar aqui todos os casamentos ocorridos entre imi- grantes e os de seus descendentes, quando o objetivo é exemplificar as relações iniciais e inclusive antecedentes à colonização, de grupos de imi- grantes que deixavam sua pátria em grandes grupos de famílias, originá- rias de mesmas vilas ou próximas, como no caso dos naturais de Köslin e Regenwalde, da Estrada Mildau. Aqui estabeleceram comunidades com identificação cultural, parentesco e compadrio. Devido ao isolamento do período, relacionavam-se entre si, originando casamentos dentro das mesmas famílias. Essa característica de agrupamento conforme a origem, reflete-se em vários outros núcleos populacionais dos diversos distritos rurais de Joinville no século 19. Das famílias instaladas na Estrada Mil- dau, vários deixaram a localidade e outros, devido a casamentos, pas- saram a se instalar nesta comunidade. As famílias ainda residentes no local envolvem descendentes principalmente das famílias Wiener, Kühl, e Artmann. Os filhos dos colonos desta comunidade freqüentavam a escola comunitária de Pedreira, assim como também a escola pública instalada até 1872. Os primeiros imigrantes e seus descendentes eram sepultados invariavelmente, no cemitério de Pedreira. 3 – Pirabeiraba É o núcleo urbano e a sede do Distrito. Chamado inicialmente de Pedreira, sua fundação data de 1859. Entre as famílias que colonizaram o local ou que ali residem há mais tempo estão: BOLDT, HENNING, DUVOISIN, SEEFELDT, BRAATZ, SCHRÖDER, SCHRAMM, SCHOLZ, DUVOISIN, DÖRLITZ, KOHN, ELLING, BIRCKHOLZ, , OHDE, GILGEN, EBERHARDT, MAIER, ERZINGER, KLAAS, NOACK, SCHMIDT, FEISSEL, BERTLING, BEHLING, BÜHNEMANN, SCHNEIDER, FRÖHLICH, PENSKY, AHLANDT, RAHLF, RIEPER, KÜSTER, KÖNIG, CARDOSO, NEHLS no século 19. Outras famílias passaram a residir em Pedreira, mais tarde, e especialmente no século 20, devido a relações de casamento e migração de famílias ou profissões, defintiva ou temporariamente, como Budal, Nass, Kunde, Ohde, Hattenhauer, Strehlow, Hoffmann, Haveroth, Baggenstoss, Hardt, Castella, Dumke, Haak, Teuber, Brandenburg, Piske, Züge, Romig Kortmann, Monich, Hardt, Blume, Schmalz, Letzner, Brito, Meerholz, Pa- rucker, Engelke, Rudnick e muitas outras. 4 – Estrada Dona Francisca (atual SC – 301) Primeiras famílias entre 1861 e 1872: José Manoel Correa, Ernst Boese, Johann P. Siert, Franz Cornehl, Ernst Hanemann, Friedrich Henke, Ernst Bartsch, Pierre Boclet, Johann G. Tanner, François Davet, Fabiano Gonçalves, José Gonçalves da Maia, Friedrich Schmidt, José Sou- za da Silveira, Antonio Soares Lopes, Manoel Gomes de Oliveira, João Gomes de Oliveira, Gaspar Gonçalves de Araújo, José Machado Lima, Victorine Doudet, Fr. Panzenhagen, Carl Krelling, Louis Berlie, Francis- co Xavier Nunes da Silveira, Rudolf Voigt (da Silésia), Rudolf Voigt (da Pomerania), Wilhelm Voigt, Domingos Coelho Gomes, Johann Rudni- ck, Friedrich e Gustav Lütke, Bento Gonçalves de Oliveira, Ludwig Voigt, Wilhelm Bergmann, Otto Hartkopf, , Ernst Ullmann, Dora Schwitzky, Cristian Heiden, Carl Struck, André Gomes da Silveira, Manoel Gomes de Oliveira, João José Gomes de Oliveira, Wilhelm Markwarth, Martin Maul, Johann Becker, Wilhelm Bölcke, Manoel José da Cruz, José Souza da Silva, Fr. Morbach, Joh. Knüppel, Joh. Zimmermann, Julius Raabe, J. Auerwald, Peter Paké, Friedrich Treichel, C.J.Roggenbau, Joh. Da- niel Schmidt, Joh. Lenschow, Rösler, Nennemann, Kunde, R. Ammon, A. Balmat, Kunde, Honorato Fernandez Indalêncio, Joh. Lenschow, Ritzmann, Meyer, Parucker, Polzin. Thiele, Pries, Kortmann, Bächtold, Fock, Fentzlaff, Sell. No final do século 19 e início do século 20, migra- ram para a Estrada Dona Francisca, ou estabeleceram-se outras famílias, através de casamentos, ou aquisições como: Parucker, C. Baumer, Thie- le, Pries, Kortmann, MAYA, DUMKE, SCHMIDT, LOPES PEREIRA, VALE, HOFFMANN, SIMM, ROCHA, VEIGA COUTINHO, HAR- DT, PABST, SCHNEIDER, PETSCHOW, TEUBER, LAUER, RIEPER, SCHOLZ, BUDAL, SEEFELDT, SUTTER, LARSEN, CLEMENTE, e muitas outras que continuam a se formar e a se estabelecer. 5 – Estrada Guilherme Famílias: RUDNICK, TROMM, MULLER, FORSTER, SCHRAMM. Atualmente a maioria dos lotes é composto de chácaras e migrantes recentes. 6 – Estrada do Pico Primeiras Famílias: Goudard, Monney, Piske, Gomes de Freitas, Lopes, Batista, Machado, , da Rosa, Fleith, Vieira, Luz. Mais tarde, após a década de 30, constam os nomes de Eleutério Indalêncio, José Machado da Luz, e descendentes destes primeiros moradores, além das famílias que para lá migraram como: TROMM, ESSER, BARTSCH, HINSCHING, SCHMIDT, DAVET, PABST, PRIES, ARTMANN, PFUNDNER, SCH- MIDT, SCHROEDER, ERZINGER, VOIGT, JANNING, SCHULZ, BENKENDORF, PRIES, SEEFELDT E OUTRAS. 7 – Estrada da Tromba Famílias: SCHRANK, JOÃO GOMES DE OLIVEIRA, STRU- CK, SCHULZ, SCHWALBE, STRUCK, BÄHRWALDT, PABST, BARTSCH, SELL, NASCIMENTO. 8 – Estrada Francisco Antônio Fleith (DO MORRO) Famílias: BARTSCH, JÖNCK, SELL, HARDT, BÖGE, FRÖHLICH, SUTTER, HARDT, KOHLSCHEN, AHLANDT. 9 – Estrada Rio da Prata Primeiras famílias: Gonçalves da Maia, Bauer (herança de Ritz- mann), Sellmer, França, Henning, J. Wittmack, Bruhn, Pabst, Barth, Lanz, Silva, Gonçalves de Oliveira, Nunes de Souza, com migração poste- rior de imigrantes da estrada do Mildau e outras localidades, como ART- MANN, DUMKE, SCHMIDT, BEULKE, MAIA, BRÜSKE, SCHULTZ, MALON, HARDT, BAARZ, STRUCK, GAARZ, RUTZEN, SCHWAL- BE, VATER, CRUZ, TOLLER, LOPES. 10 – Estrada Isaac Famílias: CARDOSO, DEMATE, MACHADO, FRANÇA, SIL- VA, PEREIRA, RAMOS. 11 – Estrada Quiriri Famílias: KRELLING, BERGMANN, ROCHA, PABST, SCHWITZKY, KLÄHR, VOIGT, BRÜSKE, PISKE, RUDNICK, LO- PES, BÜHNEMANN, MEYER, LAATSCH, POPP, NEGENDANK, NICKEL, QUANDT, MORAES, SCHNEIDER, MAIA, CORREIA, SOUZA, ARAÚJO, FARIAS, BORBA, SCHULZE, SCHROEDER, FAGUNDES, SILVA, KOHN, PEREIRA, VIEIRA, CUNHA, RAMOS, HARDT, VEIGA, PRIES, NASS, INDALÊNCIO, NEITZEL, CARVA- LHO, PISKE, BENINCA, KERSTEN, SCHULTZ. 20
  • 21. 12 – Estrada da Ilha Primeiras famílias: PROCHNOW, LEDEBUHR, MÜHL- MANN, NIELSEN (NIELSON), NICKEL, BUSS, SCHIER, NASS, BAUER, FINDER, CORDTS, BAARZ, LEMKE, DABERKOW, ELL- MER, MOLL, BEILFUSS, RETZLAFF, KLUG, FRANKE, HEIDEN, NEITZEL, PONICK, BEETZ, SEEGER, KORN, TREPTOW, KRI- CHELDORF, FRENZEL, BOSKA, HENNING, HOFF, KARNOP, BEYER, FISCHER, TOBLER, FRÖHLICH, KRÜGER, POLLNOW, MERKLE, WODKE, BANDT, HEIN, POLZIN, KERSTEN, FRIEDE- MANN, BÖGE, MEIER, SCHROEDER, BÖGE, HARDT, SCHULZ, SCHULTZE, LETZNER, BÄCHTOLD, HOLZ, BENKENDORF, BU- DAL ARINS, VOSS, SANTIAGO, NASS, KARNOPP, WOLFGRAMM, BENNACK, RISTOW, SCHRAMM, BERGEMANN. Mais recentemen- te estabeleceram-se as famílias GAULKE, TEUBER, POFFO, HARGER, DAROZ, KRELLING, PFUNDNER, PABST, SCHROEDER, HARDT, RODRIGUES, BERKENBROCK, HEINZ, HENTSCHEL, HÄNSCH, HIRATA, BLÖMER e outras. 13 – Estrada Caminho Curto Famílias: BENKENDORF, SCHROEDER, NICOLETTI, HA- ENSCH, FISCHER. 14 – Vila Canela Famílias: CORREA, ALVES, SCHATZMANN, KERSTEN, PA- RADELA, HARDT, BACH, SCHRAMM, PISKE, GONÇALVES, NASS, BRANDENBURG, WEGENER, FERREIRA, MACHADO, VOLLES, CORREIA, BÄCHTOLD, CAETANO, COUTINHO, BORGES. 15 – Rio Bonito Famílias: MEWS, KERSTEN, BENKENDORF, HEUSY, POPP, RAHLF, SCHULZ, PISKE, SCHOLZ, WETTIG, LOEFFLER, SEEFEL- DT,DUVOISIN,WITT,ZIETZ,HENCKE,HATTENHAUER,TROMM, POHL,SCHATZMANN,KUNDE,FISCHER,BUTTKE,HARTMANN, BELLOW, BÄCHTOLD, SCHMÖCKEL, HORNBURG. 16 – Estrada Palmeiras (parte da antiga Estrada Três Barras) Famílias: GRIESBACH, TROMM, FOCK, NEITZEL, HOLZ, SCHWESZER, ITTNER, TROMM, MARQUARDT, BRAMMIGK, REINHOLD, STOLLE, LOEFFLER, MÜLLER, ZIETZ, RAUCH, SCHIESSL, SCHMIDLIN, HERTENSTEIN, ZILS, VENTURI, AL- BRECHT, BUTZKE, PROCHNOW, POSANSKI. FONTES DE PESQUISA Acervo do Arquivo Histórico de Joinville - Fundo Domínio Dona Francisca: Documentos da Fazenda Pirabeiraba. Documentos de arren- damento de terras do Domínio Pirabeiraba. Folha de pagamento dos funcionários da -Fazen- da Pirabeiraba. Livro de registros de terras e transferências. Fundo Domínio Dona Francisca. Lista de pagamento de Lotes – Sociedade Colonizadora de Hamburgo 1849. - Mapa da Colonia Dona Francisca, 1859, Fr. Heeren. - Mapas da Colônia Dona Francisca –1868 e 1886- Escala 1:50.000 – J. Köhler`s Lith. Institut Hamburg. - Kolonie Zeitung – 1863-1898. - Inventário dos Bens do Duque D’Aumale. - Lista de lotes arrendados dos Príncipes de Joinville-Estrada Dona Francisca, Estrada da Tromba, Estrada Rio da Prata, Pedreira, período 1861-1875, Fundo Domínio Dona Francisca. - Lista dos Proprietários de terras da Colônia Dona Francisca, Sociedade Colonizadora de Ham- burgo. - Relatórios da Sociedade em 1859-1861-1864; tradução Helena Richlin. Acervo da Comunidade Luterana de Pirabeiraba - Livros de Registros eclesiásticos, batizados, casamentos, confirmações e óbitos – 1862 a 1910. Transcrição do Banco de dados de registros eclesiásticos da Igreja Luterana, acervo particular de Brigitte Brandenburg. Acervo particular de Brigitte Brandenburg - Registros de óbitos de 14 cemitérios de Pirabeiraba e Annaburg. Elaboração e acervo de Brigitte Brandenburg. - Genealogia das famílias da Estrada Mildau – Brigitte Brandenburg. - Genealogia das famílias de Pedreira – Brigitte Brandenburg. - Genealogia das famílias de Pirabeiraba. - Livro de estatutos da Associação dos Produtores de Cana-de-açúcar da Usina Sindicada, de August Brandenburg - Arquivo de notícias sobre Pirabeiraba – século 19 – Brigitte Brandenburg. Outros - Cadastro de Produtores rurais de Joinville, ACARESC, 1994. - CORRÊA, Roseana Maria & ROSA, Terezinha Fernandes da.(coords.)“História dos Bairros de Joinville”. Arquivo Histórico de Joinville, 1990. Paulo Karnopp e família em frente à residência, na Estrada da Ilha 21
  • 22. FRAGMENTOS PARA PENSAR UM PEDAÇO1 pirabeiraba: Em tempos em que global e local misturam-se de tal maneira que um parece produzir o outro, não há muitas certezas onde podemos nos agarrar. Para além do fato de nossa única certeza ser a de que vivemos em meio a incertezas, é preciso lembrar que pretensões de solidez, segundo o historiador Diego Finder Machado, alimentam desejos de passados no mundo contemporâneo3 . É como se a evocação do passado funcionasse como uma espécie de âncora capaz de assegu- rar certa estabilidade diante dos terrenos movediços que constituem as sociedades modernas. Assim, na gramática cultural que vivemos, o presente tem se transmu- tado em passados e o passado tem se convertido em presentes num movimento dialético e ininterrupto que escapa ao controle de instrumentos como relógios e calendários. Dialogando com os meandros desta economia temporal, eventos comemorativos têm sido meticulosamente preparados com a intenção de reanimar, por intermédio de festejos pomposos, histórias sobre supostos pioneiros que ocuparam e desenvolveram uma determinada região. Segundo a historiadora Helenice Rodrigues Silva, toda comemoração é alimentada por aspirações que pretendem demonstrar ao presente como o passado pode ser-nos uma substância pedagógica. É como se ao celebrarmos os “grandes feitos” praticados por outros, pudéssemos, ao mesmo tempo, aprender um conjunto de lições que nos instrumentalizam a compreensão do tempo em que vivemos. Ao carregar consigo um devir de memória que denuncia projetos de futuro arquitetados por vontades presentes que enxergam o passado como uma possibi- lidade de redenção, tem-se configurado uma infinidade de usos e abusos daquilo que experimentamos como sendo o tempo. Trata-se, então, de deslocamentos do passado sobre o porvir, convertendo-o em memória e a memória no próprio tem- po. Logo, o que temos em jogo durante eventos comemorativos não são apenas processos de identificação e de diferenciação, de pertencimento e de exclusão, de adequações do ontem ao agora, mas também o da transmissão de memórias sociais e a própria passagem da memória à história. Há aproximadamente quinze quilômetros do centro da cidade, um dos pedaços de Joinville parece ser índice do consumismo de passados que alimentam o presente. A Freundenfest, com suas atividades desenhadas para celebrar “o ani- versário de Pirabeiraba”4 , o Stammtisch, um encontro que reúne os “chegados” do pedaço para conversar, comer e beber, restaurantes que oferecem “a gastronomia típica alemã”5 e atrativos turísticos como a Estrada Bonita e a Casa Krueger são apenas alguns dentre os muitos exemplos dos excertos que remontam ao pretérito na tentativa de produzir um presente mais palatável. Conforme relata-nos a cronista Elly Herkenhoff o atual distrito de Pira- beiraba possui uma relação salutar com a antiga Estrada da Serra (posteriormente denominada Estrada Dona Francisca). Segundo ela, um ano após o início das obras de construção dessa estrada (1859), chegou a então Colônia Dona Francisca o conselheiro Luiz Pedreira de Couto Ferraz “a fim de inspecionar o andamento das obras, percorrendo com essa finalidade, em companhia do diretor da Colônia Dona Francisca, Leoncé Aubé, as diversas estradas em construção [...]”6 . Nesse momento, tratava-se de programar estratégias de controle da paisagem imediata de forma a desenvolver com sucesso um projeto de colonização. Assim como em outras regiões do país, o meio ambiente era entendido como um obstáculo a ser vencido: se por um lado fornecia as condições básicas para a sobrevivência imedia- ta, de outro, também era o que precisava ser “domado”. Prosseguindo, Elly Herkenhoff chama-nos a atenção para as primeiras ati- vidades econômicas da então localidade de Pedreira. Após o loteamento dos cerca de dois quilômetros que compunham, em 1859, o perímetro da região, um nú- mero significativo de pessoas, muitas delas imigrantes, já haviam ali se instalado. Além disso, ainda se situava a margem da Estrada da Serra “a serraria pertencente ao Príncipe de Joinville [...], assim como também se localizava nas proximidades a grande propriedade do Duque de Aumale, irmão do Príncipe de Joinville, pro- priedade esta chamada de Fazenda do Curtume, onde já na década de sessenta grandes plantações de cana-deaçúcar foram formadas”7 . Diferentemente do passado em que três ícones representavam os aspectos econômicos da região de Pirabeiraba (a Estrada Dona Francisca, uma serraria e uma grande propriedade produtora de aguardente), atualmente o cenário modifi- cou-se de sobremaneira. Como nos lembra o geógrafo Dionicio Kunze, o Distrito de Pirabeira, hoje, resulta da mistura entre pequenas propriedades agrícolas e traços da urbe8 . Grandes empresas, que diariamente interagem num cenário eco- nômico globalizado, também integram a paisagem da região. Mais recentemente, frente a uma modalidade de turismo, que por vezes emprega de maneira fácil e aleatória o adjetivo “sustentável”, muitos passeantes têm sido atraídos na intenção de visitar aquela que é considerada uma das últimas regiões bucólicas da cidade de Joinville. Todo este conjunto complexo de situações sócio-econômicas revela-nos um dado extremamente interessante: o trânsito de fluxos globais no Distrito de Pirabeira. Turismo rural, embebido em ideais de sustentabilidade, coexistindo com empresas que comercializam em mercados que se organizam de acordo com uma escala global: como negar que isso não é um indicativo crasso da produção local da globalização? Ainda nesta mesma acepção, a configuração de diferentes usos históricos do meio ambiente, substituindo, ainda que retoricamente, ideais socioambientais pautados no colonizar/desenvolver a qualquer custo pelos de pre- servar/conservar os recurso naturais, também não seriam pistas das tentativas de inserção do Distrito de Pirabeiraba no mundo globalizado? Sentidos e dilemas de um pedaço da Cidade. Questionamentos que se envolvem com práticas de comemoração que consomem passados no âmago do tempo presente. Nesse cenário, narrativas históricas sobre economia, meio am- biente ou qualquer outro tema são fragmentos de um mundo contemporâneo que se achega no pedaço e, ao mesmo tempo, é ele também imaginado, inventado, significado e produzido no e pelo próprio pedaço. REFERÊNCIAS Folder de divulgação da Freundenfest. Disponível em: <http://www.pirabeiraba.com.br> Acesso em março de 2009. HERKENHOFF, Elly. Era uma vez um simples caminho... Joinville: Fundação Cultural, 1987. p. 203. KUNZE, Dionicio. As Pequenas Propriedades Agrícolas de Joinville. Informativo O Economista, Joinville, 08 de março de 2007. MACHADO, Diego Finder. Redimidos Pelo Passado? Desejos de Passado em uma Cidade Contemporânea (Joinville 1998-2009). Dissertação. 187 p. Universidade do Estado de Santa Catari- na. Mestrado em História. Florianópolis, 2009. VICENZI, Herculano. Atrações gastronômicas em Pirabeiraba. A Notícia, Joinville, 14 de julho de 2003. Fernando Cesar Sossai2 U ma cidade se faz nos pedaços. Neles as cidades são imaginadas, inventadas, significadas e produzidas. Dizer que as urbes constituem-se a partir de fragmentos díspares não é exatamente uma novidade. Em um período em que todas as coisas parecem despedaçar-se, o verbo fragmentar pode ser empregado para designar praticamente tudo o que se passa ao longo de nosso cotidiano. Hoje, provavelmente, a máxima de Marx – tudo que sólido desmancha no ar – é muito mais sentida do que quando foi escrita. ...o Stammtisch, um encontro que reúne os “chegados” do pedaço para conversar, comer e beber, restaurantes que oferecem “a gastronomia típica alemã... Fernando Cesar Sossai – Mestre em Educação, Comunicação e Tecnologia pela Udesc e professor do curso de História da Univille 22
  • 23. 1 A escrita deste artigo contou com as sugestões de dois historiadores que comigo fazem parte de um grupo de pesquisas interessado em discutir as nuanças culturais que atravessam a Joinville contemporânea. De antemão, deixo aqui registrado a Diego Finder Machado e Ilanil Coelho meus mais sinceros agradecimentos. 2 Mestre em Educação, Comunicação e Tecnologia pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Atualmente é professor do curso de História da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE. Contato: cesar@univille.net 3 Cf.: MACHADO, Diego Finder. Redimidos Pelo Passado? Desejos de Passado em uma Cidade Contemporânea (Joinville 1998-2009). Dissertação. 187 p. Uni- versidade do Estado de Santa Catarina. Mestrado em História. Florianópolis, 2009. 4 Cf.: Folder de divulgação da Freundenfest. Disponível em: <http://www.pirabeiraba.com.br> Acesso em março de 2009. 5 Cf.: VICENZI, Herculano. Atrações gastronômicas em Pirabeiraba. A Notícia, Joinville, 14 de julho de 2003. 6 Cf.: HERKENHOFF, Elly. Era uma vez um simples caminho... Joinville: Fundação Cultural, 1987. p. 203. 7 Ibidem. 8 Cf.: KUNZE, Dionicio. As Pequenas Propriedades Agrícolas de Joinville. Informativo O Economista, Joinville, 08 de março de 2007. Usina de Açúcar de Pirabeiraba. Em primeiro plano à direita, trilhos na fazenda para o transporte de cana Transporte de cana cortada para a Usina de Açúcar de Pirabeiraba 23
  • 24. w w w . p e r i n i b u s i n e s s p a r k . c o m . b r Uma vizinhança de serviços e oportunidades