Os novos critérios de classificação da artrite reumatoide, definidos em setembro de 2010 pelo Colégio Americano de Reumatologia e pela Liga Europeia contra o Reumatismo, permitem identificar pacientes com alto risco de desenvolver artrite reumatoide antes mesmo dos sintomas clínicos aparecerem, o que pode melhorar o prognóstico da doença. Uma pesquisa aplicou esses novos critérios e identificou 21 pessoas previamente não diagnosticadas que apresentavam artrite reumatoide.
1. Reumatologia
D
iante de evidências científicas de
John Bavosi/Science Photo Library/SPL DC/Latinstock
que o tratamento precoce da ar-
trite reumatoide (AR) melhora
os resultados do combate à doença, o Co-
légio Americano de Reumatologia (ACR)
já havia estabelecido, em 1987, critérios
para a avaliação dos pacientes com AR
potencial o mais cedo possível, indicando
o uso de marcadores de inflamação, tes-
tes laboratoriais (sorologia) e métodos de
imagem como auxiliares no diagnóstico,
para complementar a avaliação clínica.
Contudo, esses critérios de classificação
se revelaram limitados. Uma proporção
significativa de pacientes não se enqua-
drava neles e passou a ser rotulada como
portadora de artrite indiferenciada (AI).
A última edição de 2010 da Revista Bra-
sileira de Reumatologia (RBR) abordou o
tema em seu editorial. “Embora alguns
desses pacientes apresentem um curso de
doença com remissão espontânea, outros
apresentarão um fenótipo de doença pro-
Detecção
gressiva com erosões, exigindo interven-
ção precoce”, considerava o editorial, para
precoce
acrescentar: “Reumatologistas precisam
ser capazes de identificar rapidamente
os pacientes que apresentarão um curso
persistente, progressivo, para garantir o
início precoce da terapêutica”. Os novos
critérios de classificação da AR, estabe-
lecidos em setembro de 2010 pelo ACR
e pela Liga Europeia contra o Reumatis-
mo (EULAR) para a detecção precoce da
doença, contemplam um novo sistema de
Os novos critérios de classificação da artrite reumatoide, pontuação, com base em medidas usadas
definidos em setembro pelo Colégio Americano de na prática clínica. A doença é classificada
D
Reumatologia e pela Liga Europeia contra o Reumatismo, como AR de acordo com a pontuação ob-
tida pelo paciente em cada um dos quatro N
permitem identificar os pacientes sob risco de artrite diferentes domínios ou condições que a P
reumatoide antes da apresentação clínica, o que deve caracterizam, e desde que um total de 6 In
G
contribuir para melhorar o prognóstico da doença ou mais pontos (de um valor máximo de
P
10) seja atingido (veja o quadro à página
P
Por Cristiana Bravo 24). Pesquisadores da Universidade do
(D
N o 18 | Abr/Jun 2011 | PESQUISA MÉDICA 23 No
prin
PM18 final.indb 23 10/03/2011 21:24:35
2. Reumatologia
Colorado aplicaram os novos critérios de classifi- nos critérios de classificação devem ter confirmada
cação de AR do ACR/EULAR 2010 para identifi- a presença de edema de articulações, indicando si-
cação de pessoas com AR antes mesmo do diagnós- novite, em ao menos uma articulação. E não deve
tico clínico. Os resultados foram apresentados em haver outra possibilidade diagnóstica, como lúpus
Atlanta na última reunião científica anual do ACR, ou gota, que explique melhor os sintomas.
em novembro de 2010. A equipe de pesquisadores aplicou o critério a
Os critérios de classificação são os procedimen- participantes não diagnosticados com alto risco de
tos padrão aceitos por pesquisadores para estudar AR com base em fatores familiares e genéticos. Os
e definir uma doença. Eles permitem classificar os estudos incluíam um grupo de 1.790 participantes
portadores de uma doença ou distúrbio e padroni- avaliados para diversos parâmetros – entre eles,
zar o recrutamento em estudos clínicos e outras sintomas, exame de articulações e estimativa de
pesquisas. Não são aplicáveis, como tal, na práti- biomarcadores –, de modo a determinar a relação
ca clínica, mas, com base em pesquisas adicionais, entre esses fatores, os novos critérios da AR e o
podem ser modificados e adaptados para esse uso. curso da doença em longo prazo. Vinte e um pa-
Na prática clínica, os pacientes que se enquadram cientes, previamente não diagnosticados com “AR
definitiva”, dos quais 17 mulheres com idade mé-
dia de cerca de 50 anos, tinham AR. Seis (28,6%)
População-alvo (quem deve ser testado?) dos 21 foram positivos para o fator reumatoide, um
Paciente com pelo menos uma articulação com sinovite clínica definida (4,8%) foi positivo para anticorpo antipeptídeo ci-
(edema).* Sinovite que não seja mais bem explicada por outra doença
trulinado cíclico e 11 (52,4%) apresentaram altos
Critério de classificação para AR (algoritmo baseado em pontuação: níveis de proteína C reativa. Esse grupo apresen-
soma da pontuação das categorias A-D). Pontuação maior ou igual a 6
é necessária para classificação definitiva de um paciente com AR tou, em média, três articulações edemaciadas e 11
Envolvimento articularA articulações doloridas.
1 grande articulaçãoB 0 Esses resultados podem indicar uma fase mais
2-10 grandes articulações 1 precoce do desenvolvimento da AR em relação à
1-3 pequenasC articulações (com ou sem envolvimento de grandes articulações) 2 observada em pessoas que buscam atendimento
4-10 pequenas articulações (com ou sem envolvimento de grandes articulações) 3 médico. Entretanto, o estudo continuará seu segui-
>10 articulaçõesD (pelo menos uma pequena articulação) 5 mento, com o objetivo de checar achados persisten-
SorologiaE (pelo menos o resultado de um teste é necessário para classificação) tes e consistentes com a doença. Como é pioneiro,
FR negativo e AAPC negativo 0 há grande expectativa em torno de seus resultados,
FR positivo em título baixo ou AAPC positivo em título baixo 2 afinal, os novos critérios podem se tornar uma ex-
FR positivo em título alto ou AAPC positivo em título alto 3 celente ferramenta de pesquisa para identificar in-
Provas de fase aguda (pelo menos o resultado de um teste é necessário para classificação)
F divíduos em alto risco de progresso da AR. A iden-
PCR normal e VHS normal 0 tificação desses indivíduos no ambiente de pesquisa
PCR anormal ou VHS anormal 1 pode permitir aos pesquisadores estudar uma fase
Duração dos sintomasG mais precoce do que a encontrada na prática clíni-
< 6 semanas 0 ca, o que terá relevância clínica e terapêutica.
≥ 6 semanas 1
* Os diagnósticos diferenciais são diferentes em pacientes com diferentes apresentações, mas podem incluir condições tais como lúpus
eritematoso sistêmico, artrite psoriática e gota. Se houver dúvidas quanto aos diagnósticos diferenciais relevantes um reumatologista deve
Fontes
ser consultado. Kolfenbach, Derber JR, Deane L, et al. Application of
A
O envolvimento articular se refere a qualquer articulação edemaciada ou dolorosa ao exame físico e pode ser confirmado por evidências de
sinovite detectada por um método de imagem. As articulações interfalangeanas distais (IFDs), primeira carpometacarpiana (CMTC) e primeira the new ACR/EULAR classification criteria for
metatarsofalangeana (MTF) são excluídas da avaliação. As diferentes categorias de acometimento articular são definidas de acordo com a lo-
calização e o número de articulações envolvidas (padrão ou distribuição do acomentimento articular). A pontuação ou colocação na categoria
rheumatoid arthritis to at-risk populations may iden-
mais alta possível é baseada no padrão de envolvimento articular. B São consideradas grandes articulações: ombros, cotovelos, quadris, joelhos tify RA prior to clinical presentation. ACR 2010 (ab-
e tornozelos. C São consideradas pequenas articulações: punhos, MTCF, IFP, interfalangeana do primeiro quirodáctilo e articulações MTF.
D
Nesta categoria, pelo menos uma das articulações envolvidas deve ser uma pequena articulação; as outras articulações podem incluir qual- stract 658).
quer combinação de grandes e pequenas articulações, bem como outras não especificamente mencionadas em outros lugares (por exemplo,
temperomandibular, acromioclavicular e esternoclavicular). E Negativo refere-se a valores (Unidade Internacional-UI) menores ou iguais ao CritériodeclassificaçãodaartritereumatoideACR-EULAR
limite superior normal (LSN) para o método e laboratório. Título positivo baixo corresponde aos valores (UI) maiores que o LSN, mas menores
ou iguais a três vezes o LSN para o método e laboratório. Título positivo alto: valores maiores que 3 vezes o LSN para o método e laboratório. 2010. Rev Bras Reumatol. [periódico na Internet].
Quando o FR só estiver disponível como positivo ou negativo, um resultado positivo deve ser marcado como “positivo em título baixo”.
F
Normal / anormal é determinado por padrões laboratoriais locais (Outras causas de elevação das provas de fase aguda devem ser excluídas).
2010 Out [citado 2011 Jan 30];50(5):481-3. Disponí
G
Duração dos sintomas se refere ao relato do paciente quanto a duração dos sintomas ou sinais de sinovite (por exemplo, dor, inchaço) nas vel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
articulações que estão clinicamente envolvidas no momento da avaliação, independentemente do status do tratamento.
FR = fator reumatoide; AAPC = anticorpos antiproteína/peptídeo citrulinados; LSN = limite superior do normal; VHS = velocidade de hemos-
arttext&pid=S0482-50042010000500001&lng=pt.
sedimentação; PCR = proteína C reativa. Acesso em: 20 Fev. 2011.
24 PESQUISA MÉDICA | No 18 | Abr/Jun 2011
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