O documento da Legião da Boa Vontade (LBV) para a 49a Sessão da Comissão do Status da Mulher das Nações Unidas defende uma estratégia justa de igualdade de gêneros e apresenta as atividades da LBV para promover o empoderamento e avanço das mulheres e meninas, como programas de saúde, educação e capacitação profissional.
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
Revista Boa Vontade, edição 201
1.
2.
3.
4. Editorial
Status da
Mulher
nas Nações Unidas
Q
José de Paiva Netto,
jornalista, radialista e
escritor, é Presidente
das Instituições da Boa
Vontade.
uando fazia os acertos finais
da nova edição (52ª), revista
e ampliada, de As Profecias
sem Mistério, que foi lançada
com sucesso na XII Bienal Internacional
do Livro, no Rio de Janeiro, encerrada
no dia 22 deste mês, recebi a publicação
da Mensagem da Legião da Boa Vontade
(LBV) para a 49ª Sessão da Comissão
do Status da Mulher, nas Nações Unidas,
Nova York, EUA. Pela relevância do
documento — divulgado pela ONU, em
seus seis idiomas oficiais (Inglês, Espanhol, Francês, Árabe, Russo e Chinês)
a delegações de Estado e a organizações
não-governamentais
—, resolvi homenagear, essas que são o
sustentáculo das nações, transcrevendo
o material em meu
livro e trazendo-o
também na revista
BOA VONTADE.
Passemos, então,
ao conteúdo desta memorável página:
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Documento da Legião da Boa
Vontade para a 49a Sessão da
Comissão do Status da Mulher
Sede das
Nações
Unidas, em
Nova York,
EUA.
“Com relação à 49a Sessão da Comissão do Status da Mulher, sobre o
tema ‘Desafios atuais e previsões de
estratégias para o avanço e empoderamento*¹ das mulheres e meninas’, a
5. Amado Vieira
Legião da Boa Vontade (LBV), ONG
brasileira com status consultivo geral no
Ecosoc, tem recolhido e compartilhado
com o sistema das Nações Unidas melhores práticas no tocante a estratégias
do empoderamento e do avanço das
mulheres e meninas para disseminá-las
em caráter nacional e internacional, por
intermédio de Centros Comunitários,
creches e pré-escolas espalhadas na
América Latina, na Europa e nos Estados Unidos, especialmente no Brasil,
no Paraguai, no Uruguai, na Bolívia, na
Argentina, em Portugal e nos Estados
Unidos, pois, segundo afirma o jornalista, radialista e escritor José de Paiva
Netto, Diretor-Presidente da LBV:
“‘Toda organização vitoriosa desfruta a presença marcante de mulheres
espiritualmente esclarecidas. A intuição,
competência do Criador manifesta na
criatura, é um dos poderosos instrumentais femininos. Talvez por isso
tenha Voltaire (1694-1778), um dia,
exclamado: ‘Tous les raisonnements
des hommes ne valent pas un sentiment d’une femme’, isto é, todos os
raciocínios dos homens não valem o
sentimento de uma mulher’ (Reflexões
da Alma, 38a ed., p. 17).
“A Legião da Boa Vontade defende
uma estratégia justa, política, cultural,
científica, filosófica na igualdade de gêneros. Conforme se encontra na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
‘todos têm o direito de fazer parte do
governo do seu país. O empoderamento
e autonomia da mulher e a melhoria do
seu status social, econômico e político
são essenciais para alcançarem transparência e um governo respeitável e uma
administração e desenvolvimento autosustentável em todas as áreas da vida’
(texto extraído da Plataforma de Ação
da Declaração de Beijing — Mulher no
Poder e Tomada de Decisões).
“Mesmo que as mulheres em nossos
dias possam liderar grandes corporações, dirigir aeronaves, conduzir operações nos centros de cirurgia hospitalares, inserir-se no mercado de trabalho,
aproximando-se dos mesmos direitos
que os homens, ainda existe um enorme
caminho a ser trilhado. É inadmissível
Plenário das Nações Unidas (ONU),
Nova York, EUA.
que, em pleno século XXI, elas ainda
sofram com as penas de uma cultura
milenar e sejam subjugadas.
“Por isso a LBV traz aos debates
da 49ª Sessão da Comissão do Status
da Mulher a sua cooperação para uma
adoção absoluta de ação da plataforma
de Beijing, trabalhando para promover
parcerias entre homens e mulheres em
todos os segmentos: político, cultural,
científico, educacional e assim por
diante. Como diz o Diretor-Presidente
da LBV com relação à igualdade de
gêneros: ‘Valorizar a Mulher dignifica
o Homem’.
“‘Pelo nosso prisma, a mulher tem
direito a ser Presidente da República,
condutora de religiões, capitã de indústria, de aviões e navios transatlânticos;
tem direito de ser médica, engenheira,
professora... No trabalho, há um justo
conceito de valor entre homens e mulheres: o da competência. Então, os sexos
nisto estarão harmonizados. Que brilhe
o Homem, que brilhe a Mulher, conforme a competência de cada um. Isto não
quer dizer que homens e mulheres são
totalmente iguais. Aí está pelo menos,
de início, a anatomia para desmentir.
O que quero dizer é que não se devem
sustentar antigas barreiras e levantar
novas, firmadas em tabus, preconceitos
e interesses espúrios para impedir maior
influência da Mulher sobre o destino do
mundo. Homem e mulher dependem um
do outro. Completam-se’ (Paiva Netto,
extraído do livro Reflexões e Pensamentos — Dialética da Boa Vontade,
publicado em 1987).
“Como resultado de inúmeros problemas psicológicos e financeiros
vividos pelas mulheres para que elas
possam encarar uma gravidez saudável
e decentemente criar seus filhos, a LBV
criou diversos programas para minimizar essa situação emergente em seus
Centros Comunitários e Educacionais,
entre eles o SER Mulher. Essa ação
desenvolve uma variedade de outras
integradas para toda a família e seus
membros, independentemente de idade.
O objetivo principal é resgatar a autoestima humana, profissional, intelectual
e emocional. Uma equipe de profissionais voluntários concretiza ações para
melhorar a qualidade de vida daquelas
pessoas como um todo, acrescentando
valores éticos e espirituais aos valores
materiais, objetivando o verdadeiro
exercício da cidadania.
Revista Boa Vontade
6. Editorial
Mário Bosso
a criança, desde seu primeiro
“Uma das atividades da LBV
ano de vida (no berçário) até a
em parceria com setores privados
juventude (quando freqüenta o
e departamentos governamentais é
ensino fundamental e médio),
o suporte voluntário para efetivaestá envolvida pela LBV no
mente gerar resultados e melhorar
processo de aprendizagem com
a vida das mulheres menos favobases sólidas. Todo esse trabalho
recidas na sociedade, por meio de
está embasado na Pedagogia do
conferências educacionais, aulas de
Cidadão Ecumênico, criada pelo
cabeleireiro e estética, workshops,
educador Paiva Netto e aplicada
cursos ocupacionais, melhorando
com sucesso nas unidades edua renda financeira familiar e oferecacionais que a Obra mantém no
cendo ajuda jurídica e psicológica.
Brasil e no mundo, levando ao
‘Cidadão-Bebê’ tem como finalidaaluno valores universais de Espide estreitar os laços afetivos entre
ritualidade Ecumênica e o gosto
mãe e filho, encorajar a realização
Conceição Malaman, representante da LBV na ONU,
pela prática da Solidariedade.
do pré-natal, resgatar o significa- durante a Conferência de Cúpula da Paz Mundial para o
Faz surgir no indivíduo valores
do da gravidez e combater a má Milênio, em agosto de 2000, ocasião em que entregou
que contribuem para o contínuo
nutrição de mamães e bebês. As ao Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, a
melhoramento das relações e
mensagem “O Dinamismo da Paz”, de Paiva Netto.
mulheres começam a participar
do ambiente sociais. Esses cendesse projeto desde o terceiro mês
tros educacionais da Instituição
de gestação. Durante todos os estágios, filhos para atingir o potencial pleno e a
elas são auxiliadas a preparar o enxoval cidadania. Milhares deles são tirados funcionam sob o lema Aqui se estuda.
e a fazer exames clínicos. Recebem ali- anualmente da situação de risco social Formam-se Cérebro e Coração.
“Para dar apoio e amparo às meninas
mentação complementar, terapia da fala, e capacitados para a competição no
cuidados de enfermaria, assistência com mercado de trabalho. As escolas são e mulheres em situação de risco social,
terapia musical para elas e sua família. compostas de moderno centro de pes- desde a década de 1980 a LBV oferece
Ainda freqüentam palestras sobre a quisas: física, química, biologia; e de à sociedade escolas e Centros Comunicriança recém-nascida, amamentação, laboratórios de computadores, ginásios tários e Educacionais, no Brasil e Exteplanejamento familiar, doenças sexu- de esportes e grandes áreas recreativas. rior. Nesses locais, são proporcionados
“Nesse contexto, as creches e es- gratuitamente a milhares de crianças e
almente transmissíveis, câncer cervical
e de mama, etc. A mesma motivação é colas têm preponderante papel, porque jovens menos favorecidos pré-educação
dada para que elas orem em família.
“Essa prática continua até que o
A mensagem da Legião da Boa Vontade (LBV) para a 49ª Sessão
neném atinja um ano de idade. Durante
da Comissão do Status da Mulher, das Nações Unidas, Nova York
esse tempo, mães vão em grupos às pa— EUA, foi divulgada pela ONU, em seus seis idiomas oficiais (Inglês,
lestras, pelas quais são orientadas sobre
Espanhol, Francês, Árabe, Russo e Chinês) a delegações de Estado e a
má nutrição, nutrição, creches, higiene
organizações não-governamentais. Aliás, a LBV foi a primeira ONG
e saúde bucal dela e de sua prole. Outra
brasileira a possuir o relevante status consultivo geral no Conselho
atividade para garantir os direitos das
Econômico e Social (Ecosoc). É o Brasil cumprindo seu valoroso papel
mulheres e a assistência são as creches
de Solidariedade Ecumênica, no cenário internacional.
e as escolas da LBV, que preparam seus
Francês
Chinês
Inglês
Espanhol
Russo
Árabe
7. que se julgam bons, honestos, capazes,
mas que se acomodam, satisfazendo-se
apenas em reivindicar os direitos humanos que lhes assistem, esquecendo-se de
cumprir com maior arrojo e prontidão
os deveres sociais, morais e espirituais
que lhes cabem. Quando o território não
é defendido pelos bons, os maus fazem
‘justa’ a vitória da injustiça (...)’.
“Para assegurar estratégias de previsões da Plataforma de Ação de Beijing
no avanço e no empoderamento das
meninas e mulheres na 49ª Sessão
da Comissão do Status da Mulher, os
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seu emérito e saudoso criador, Alziro
Zarur (1914-1979), sob inspiração divina, lançou na Terra, a partir da alma
brasileira, as raízes desta Instituição. A
LBV quer uma sociedade em que todos
os homens sejam realmente iguais em
direito, e cujos méritos sociais, por mais
louvados e reconhecidos, não se tornem
causa de prejuízo dos direitos e liberdades dos demais cidadãos.
“‘Uma sociedade em que Deus e
Suas Leis de Amor e Justiça inspirem
responsabilidade à liberdade individual,
a fim de assegurar liberdade a todos.
“A Legião da Boa
Vontade defende
uma estratégia
justa, política,
cultural, científica,
filosófica na
igualdade de
gêneros.”
(Documento da LBV à ONU)
Falo do Criador Supremo, não dos
que procuram fazer Dele, que é Amor,
instrumento execrável do fanatismo,
preconceito e ódio. Então, as virtudes
reais serão as construídas pela própria
Criatura na ocupação honesta dos seus
dias, na administração dos seus bens e no
respeito aos alheios, na bela e instigante
aventura da vida. Uma nação que se faça
de homens assim será sempre grande e
inviolável.
“‘A culpa é dos chamados bons
“‘É a hora da união de todos quantos
acreditam na regeneração do tecido social, tendo o Espírito do Homem como
princípio. E o que vemos em todas as
regiões do Planeta, senão a institucionalização da injustiça? Culpa de quem?
Dos arruaceiros? Dos gananciosos?
Dos corruptos? Dos exploradores? Dos
revoltados? Não! Responsabilidade dos
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infantil, elementar e ensino médio, cursos profissionalizantes, alfabetização,
entre outros. Como exemplo, temos o
Centro Educacional, Cultural e Comunitário, na cidade do Rio de Janeiro/RJ; o
Instituto de Educação, em São Paulo/SP;
o Lar e Parque Alziro Zarur (da LBV),
em Glorinha/RS; além de muitos outros
centros profissionalizantes no País. A
Pedagogia do Cidadão Ecumênico é
aplicada nos centros educacionais da
LBV e visa conciliar o intelecto com
o sentimento à luz da Espiritualidade
Ecumênica. Colabora na solução dos
maiores conflitos humanos e garante
participação igual às mulheres, conforme os assuntos tratados na temática
‘igualdade de gêneros’.
Como afirma o jornalista Paiva Netto
em seu Manifesto da Boa Vontade*2:
‘“(...) Cizânia, radicalismos, hostilidades de todos os matizes devem
permanecer afastados dos debates e das
proposições religiosas, filosóficas, políticas, científicas, econômicas, artísticas,
esportivas e o que mais o seja, pois o Ser
Humano nasce na Terra para viver em
sociedade, Sociedade Solidária.
“‘A proposição do Parlamento
Mundial da Fraternidade Ecumênica (o
ParlaMundi da LBV) visa também conciliar o conhecimento vigente no mundo
físico com o saber infinitamente amplo,
situado na dimensão do Espírito eterno;
unir o Ser Humano às civilizações que
existem no Mundo Espiritual, ainda invisível aos nossos pobres e restritíssimos
cinco sentidos materiais.
“‘Conciliação pelo Espírito
“‘Conciliar é, portanto, a nossa
grande convocação, firmados que estamos na extensa experiência ecumênica
da LBV: o Brasil e o mundo precisam
da vivência imediata do ecumenismo
religioso, étnico, partidário, empresarial,
social, enfim, o Ecumenismo Irrestrito,
com base nos valores mais profundos
do Espírito. Grande é a nação e sábio o
governante que congraçam os valores
de seus componentes de todas as etnias,
crenças, convicções políticas... São os
construtores do verdadeiro progresso.
“‘A Legião da Boa Vontade assumiu
graves compromissos sociais, desde que
governos e a sociedade civil devem ampliar estratégias de resgate da qualidade
da educação pública e familiar, todas
elas com base na adoção de valores da
Espiritualidade Ecumênica, portanto
universais.”
Retrato de Mãe
Não poderia finalizar este artigo
deixando de prestar nossa homenagem
a todas as mães, por meio desta jóia
literária do bispo chileno Dom Ramón
Ángel Jara (1852-1917)*³:
“Existe uma simples mulher que
possui um pouco de Deus pela imensidade de seu Amor, e muito de anjo pela
constância de sua dedicação. Mulher
que, sendo jovem, pensa como anciã; e
na velhice, trabalha como se tivesse o vigor da juventude; se é ignorante, decifra
Revista Boa Vontade
8. PhotoDisc
Editorial
os problemas da vida com mais acerto
do que um sábio; sendo culta, amoldase à simplicidade das crianças; quando
pobre, considera-se bastante rica com
a felicidade daqueles que ama; e sendo
rica, daria com prazer sua riqueza para
não sofrer a injúria da ingratidão. Forte
ou intrépida, entretanto estremece ante
o choro de uma criancinha; franzina,
se reveste, às vezes, da bravura de um
leão. Mulher que, enquanto viva, não
sabemos dar-lhe o devido valor, porque
a seu lado todas as nossas dores se apagam... Mas, depois de morta, daríamos
tudo o que somos e tudo o que temos
para vê-la de novo um só instante e dela
receber a carícia de seus abraços, uma
palavra de seus lábios...
“Não exijais de mim que diga o
nome dessa mulher se não quiserdes
que eu inunde de lágrimas este álbum,
porque já a vi passar em meu caminho. Porém, quando os vossos filhos
crescerem, lede-lhes esta página. E
eles, cobrindo-vos de beijos, dirão que
um pobre viandante, em retribuição da
magnífica hospedagem recebida, deixou gravado neste álbum, para todos,
o retrato de sua própria Mãe”.
Exemplos históricos
Mulher! Sinônimo de fortaleza,
coragem e compaixão... Certamente
por isso o Divino Mestre contou com
Revista Boa Vontade
o extraordinário apoio de tantas heroínas como Madalena, Joana de
Cusa, Maria, Marta, sua irmã,
além de tantas outras que o
Evangelho não registra, mas
o Espírito de Deus imortaliza.
No momento da crucificação,
elas se encontravam corajosamente ao lado da Mãe de
Jesus, enquanto os homens,
exceto João Evangelista, assustados, se escondiam. Depois,
vieram a redimir-se. Aliás, na
hora trágica do Mestre, elas é que
permaneceram ao Seu lado. Por isso
que, na volta do Taumaturgo Celeste ao Planeta Terra, conforme está
anunciado no Seu Evangelho e no
Seu Apocalipse, já que Ele vem dar a
cada um de acordo com as suas obras
(Boa Nova do Cristo, segundo MaToda organização
vitoriosa desfruta a
presença marcante de
mulheres espiritualmente
esclarecidas. A intuição,
competência do Criador
manifesta na criatura,
é um dos poderosos
instrumentais femininos.
Talvez por isso tenha
Voltaire (1694-1778), um
dia, exclamado: “(...) todos
os raciocínios dos homens
não valem o sentimento de
uma mulher”.
teus, 16:27), creio que elas tenham a
glória de estar à frente da equipe de
recepção. Elas e todos aqueles que
são capazes, pela força do Amor, de
afrontar os perigos e não desonrar o
seu Senhor. Pois disse Jesus:
— Aquele que me testemunhar entre
os homens, Eu o testemunharei diante
do Pai que está nos céus; mas aquele
que me negar perante os homens, Eu
também o negarei diante do Pai que
está no Céu (Evangelho do Cristo,
segundo Mateus, 10:32 e 33).
E para terminar, este significativo
provérbio judaico:
— Deus não pode estar em todos
os lugares e por isso fez as mães.
_________________
*¹ Empoderamento (empowerment)
— Termo cunhado na língua inglesa para
designar um processo contínuo que fortalece
a autoconfiança dos grupos populacionais
desfavorecidos e os capacita para a articulação de seus interesses e para a participação
na comunidade, facilitando-lhes o acesso aos
recursos disponíveis e o controle sobre estes,
a fim de que possam levar uma vida autodeterminada e auto-responsável e compartilhar
do processo político. Dessa forma, a abordagem de empoderamento das atividades
ligadas ao fomento das mulheres aponta para
a autodeterminação, o aumento do nível de
auto-organização, assim como para um papel mais ativo do sexo feminino em todos os
processos sociais. Fonte: site Compêndio do
Vocabulário da GTZ (www2.gtz.de/glossar).
*2
Manifesto da Boa Vontade — Importante pronunciamento feito por Paiva Netto
durante o lançamento, em 21 de outubro de
1991, da Pedra Fundamental do Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica,
o ParlaMundi da LBV, em Brasília/DF.
O prédio foi inaugurado pelo dirigente
da Legião da Boa Vontade poucos anos
depois, à zero hora de 25 de dezembro de
1994. O manifesto reúne muitos conceitos
lançados por ele décadas anteriores, mas
que são extremamente atuais e necessários
nos dias de hoje, neste mundo globalizado,
que cada vez mais precisa, como ele diz,
de Educação e Cultura, Alimentação,
Saúde e Trabalho com Espiritualidade
Ecumênica.
*3
Ramón Ángel Jara — Nasceu em
Santiago, no Chile, em 2 de agosto de
1852. Iniciou seus estudos com os padres
franceses no Colégio dos Sagrados Corações de Valdivia e em 1862 se incorporou
ao seminário conciliar de Santiago, onde
alcançou o grau de bacharel em Humanidades. Posteriormente ingressou na Universidade do Chile para seguir a carreira de
Direito, mas em 1874 abandonou-a porque
decidiu ser sacerdote. Recebeu a ordenação
sacerdotal em 16 de setembro de 1876.
Chegou a ser o quinto bispo de San Carlos
de Ancud e também o quinto bispo de La
Serena. Faleceu na cidade de Serena em 9
de março de 1917.
9. Ciência e Fé
Fotos: Eliana Gonçalves
1
na ONU
Aproveito o ensejo para anunciar outras vitórias de nosso País
em seu papel de disseminar a
Solidariedade: a participação da
LBV em mais dois importantes
acontecimentos que se realizam na
Sede da ONU.
No dia 26 de maio, representantes
de nossa querida Obra — que integra o
Comitê de Espiritualidade, Valores e Interesses
Globais de ONGs nas Nações Unidas — discorreram
sobre antigo tema que escrevi “Transformação pela
Consciência Espiritual e o Ecumenismo Irrestrito”
durante evento promovido pelo referido comitê: Seminário — Como as Dimensões Espirituais da Ciência
e da Consciência podem ajudar as Nações Unidas e a
Humanidade a alcançar melhores padrões de vida, num
contexto de maior liberdade — que, por sinal, tem a
LBV como co-organizadora.
O encontro contou ainda com as palestras do consagrado cientista e escritor Dr. Masaru Emoto, autor do
The Hidden Messages in Water (Mensagens Secretas
da Água), e do Embaixador Anwarul K. Chowdhury,
Subsecretário-Geral da ONU e Alto Comissário para
os Países Menos Desenvolvidos, Ilhados e Pequenas
Ilhas em Desenvolvimento.
Outro acontecimento importante, para a minha
felicidade, exatamente quando completarei 49 anos
nas lides da LBV, será a entrega, pela Legião da Boa
Vontade, durante a Reunião do Alto Segmento do
Conselho Econômico e Social (Ecosoc), do relatório
com sugestões das organizações não-governamentais
da América do Sul, que tem por meta contribuir para o
cumprimento dos Oito Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio da ONU. Esse parecer é o primeiro resultado
dos trabalhos fomentados pela Rede Sociedade Solidária, lançada pela LBV (Leia matéria na p. 38).
2
3
4
5
5
6
Sala de Conferência no 1 da ONU — Flagrantes fotográficos durante o Seminário “Como as Dimensões Espirituais da Ciência e da
Consciência podem ajudar a ONU e a Humanidade a atingirem melhores padrões de vida num contexto de maior Liberdade”, evento este que
superlotou a Sala de Conferência nº 1, na Sede das Nações Unidas, em Nova York (EUA). Na foto 1, aspecto geral da mesa. Na imagem 2, aparecem a representante da Legião da Boa Vontade, Conceição Malaman, ladeada por Ida Urso (E) e Iris Spellings, ambas da Aquarian Age Community. As duas organizações lideram o subcomitê de ONGs “Dimensões Espirituais da Ciência e da Consciência nas Nações Unidas”. Na oportunidade,
Conceição Malaman abriu o evento com a mensagem do escritor Paiva Netto, “Questão de Morte ou de Vida?”, dedicada aos participantes do
Seminário. O público acompanhou atentamente a leitura do texto por meio de uma publicação especial do Fórum Mundial Permanente Espírito
e Ciência, disponível em três idiomas (inglês, português e espanhol). O acontecimento também foi transmitido, ao vivo, pela Super Rede Boa
Vontade de Rádio, no Brasil, e pela internet (www.boavontade.com). Nas imagens 3 e 4, Danilo Parmegiani, da LBV, aparece ao lado dos conferencistas convidados para o encontro: o Subsecretário-Geral das Nações Unidas e alto representante, o embaixador Anwarul Chowdhury (3), e o
cientista e escritor japonês, Masaru Emoto (4). Na foto 5, a jovem Mariana Malaman (da Juventude Ecumênica da LBV) também tem registrada
sua opinião nos debates da conferência, conforme pode ser visto na sexta imagem. Acompanhe a cobertura completa na próxima edição.
Revista Boa Vontade
10. Cartas
Parabéns, BOA VONTADE!
Venho parabenizar a revista BOA
VONTADE, edição
comemorativa de
nº 200. A capa, as
matérias abordadas
e o conteúdo estão
excelentes. Não há
preço que pague
tanta qualidade
numa só revista.
Faço destaque
especialmente
para a matéria de
capa: “Estamos respirando
a morte”. Li, com muito entusiasmo,
por se tratar de Orientações Divinas.
O editorial do escritor Paiva Netto faz
com que governos, entidades diversas,
pessoas comuns, etc. abram os olhos
para a correção de rumos a serem
tomados. A propósito, estive na XII
Bienal Internacional do Livro no Rio de
Janeiro e comprei o livro As Profecias
sem Mistério, também do jornalista
Paiva Netto. Quero confessar a jóia
rara que tenho, neste momento, em
minhas mãos. A obra em si já é um
grande sucesso, pois responde de
maneira simples, indagações íntimas das
criaturas humanas e espirituais, sobre
as profecias contidas, em particular, no
Apocalipse. (João Carlos de Carvalho
— Rio de Janeiro/RJ)
Li e gostei do editorial “Estamos
respirando a morte”, do Irmão Paiva,
publicado na edição nº 200 da revista
BOA VONTADE. É importante
in memoriam
Homenagem ao renomado Professor
Daniel Trevisan
Ademar Eugênio de Mello
O saudoso Professor Ademar Eugênio
de Mello durante palestra no ParlaMundi
da LBV
Faleceu, no dia 8 de maio, o Professor Ademar Eugênio de Mello, Bacharel
em Matemática Aplicada, membro da
Antiga e Mística Ordem Rosa-cruz
(AMORC) por muitos anos e pesquisador da Psicofilosofia dos Kahunas (sacerdotes) do Havaí, sendo um dos mais
importantes pesquisadores brasileiros
a desenvolver trabalhos de Integração
entre Ciência e Espiritualidade por meio
da Física Quântica.
Participou, também, como Conse-
10 Revista Boa Vontade
lheiro e Conferencista do Fórum Mundial Permanente Espírito e Ciência, da
LBV, tendo palestrado no ParlaMundi
da LBV, em Brasília/DF, em 2002 e
2004. Em sua conferência no ano passado, o Professor trabalhou o tema “O
delineamento de um modelo hipotético
da Alma humana”, traçando a visão da
essência espiritual do Homem pelas
várias correntes de estudo. Na edição n°
199 da revista BOA VONTADE, foram
publicados trechos de sua palestra, em
que ele afirma: “quando se acende uma
vela para alguém, a luz, que é formada
por fótons, está atuando nos dois universos. Neste que nós estamos vendo,
a chamada vela; e a luminosidade dela,
o fóton, aparece no Mundo Espiritual.
Vejam que essa crença das pessoas de
acenderem uma vela para um morto, ou
no Dia de Finados, tem um certo fundamento dentro da Física Quântica”.
A LBV solidariza-se com os parentes
do professor Ademar Eugênio de Mello
e envia as mais sinceras vibrações de Paz
e gratidão ao seu Espírito eterno.
percebermos que as ações humanas,
como a poluição do ar, sufocam não
só o nosso corpo, mas principalmente
nosso Espírito. Outro ponto que gostaria
de destacar é a ligação que o autor fez
entre meio ambiente e falência moral,
mostrando a todos que o Planeta e
os Seres Humanos são um só corpo
e que é necessária a Fraternidade no
mundo, inclusive para a preservação da
Natureza. (Leticya Elizabeth, estudante
— via e-mail)
Muito interessante a análise
do Desembargador do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio Grande do
Sul, José Carlos Teixeira Giorgis,
sobre o Protocolo de Kyoto, publicada
na edição passada da revista BOA
VONTADE. Destaco o último trecho
do artigo, no qual o Desembargador
ressalta que o sucesso desse acordo
só será verificado se houver esforços
por parte dos países e indústrias que
devem colocar em primeiro plano a
preservação da Vida e não as cifras
do dinheiro. (Paulo Jorge dos Santos
— Manaus/AM)
A revista BOA VONTADE, edição
de nº 200, está espetacular! (...) O
novo formato, o conteúdo, então,
nem se fala. Continua com uma
abordagem inteligente, atualizada, de
agradável leitura e sempre com o toque
indispensável da Espiritualidade
Ecumênica. Agradeço e parabenizo
ao escritor Paiva Netto. (Paulo Azor,
economista — via e-mail)
Comprei a edição comemorativa da
revista BOA VONTADE de número
200, com novo formato, juntamente
com o informativo JESUS ESTÁ
CHEGANDO! Na minha opinião
ficaram com mais originalidade além
de serem ambos mais práticos para
leitura. Nota dez, parabéns! (Antonio
Azevedo Tonin – São Paulo/SP)
Tenho em mãos a nova revista
BOA VONTADE (nº 200). Está
sensacional! Gostei muito do novo
11. Educar no sentido lato
(...) A programação da LBV
(Super Rede Boa Vontade de Rádio
— RBV) realiza, plenamente, a
função ideal de uma emissora. Ensina
a falar corretamente a língua, já que
ela é o instrumento transmissor das
idéias. E o Paiva Netto capricha,
com seu linguajar correto, claro, bem
articulado. Tem o poder de formar,
reformar, reforçar expressões novas,
ricas, significativas — ele é inspirador.
Isto é “educar” no sentido lato.
Tudo é motivo para a “informação”,
seja histórica, geográfica, filosófica,
científica! Dá gosto ver o nosso Paiva
Netto embrenhar-se na história grega,
romana, medieval, destrinchando a
semântica das palavras. Ele não perde
uma oportunidade para enriquecer
seus ouvintes, fornecer meios para
que eles o acompanhem, minuciados
e capacitados para perceber tudo!
A sua maneira de expor a doutrina
é leve, solta, alegre (...). (Diomira
Riccioppo Angerosa — Rio de
Janeiro/RJ)
BOA VONTADE nas escolas
Sou leitora da revista BOA
VONTADE e no exercício do meu
trabalho — professora de jovens
e adultos do programa Brasil
Alfabetizado, do Estado do Rio
de Janeiro, que funciona no CIEP
Jacy Pacheco, em Niterói — afirmo
que, sem sombra de dúvidas, essa
publicação é imprescindível para
todos os educadores. Por exemplo,
lendo a revista de nº 198, trabalhei
com meus alunos a questão do
racismo, principalmente com
relação a times de futebol da Europa,
coluna escrita por José Carlos
A importância da LBV na ONU
Cida Linares
formato. O conteúdo nos traz
assuntos da mais alta importância e
é um verdadeiro ensinamento de
Vida, de Trabalho, de Conhecimento,
de Ação e Espiritualidade. Parabéns!
(Ronei Ribeiro, via e-mail)
“A minha experiência
com a LBV
foi muito
próxima:
tivemos
parcerias
durante
Dr. Walter Barelli
três anos
em cursos de qualificação
para muitos jovens. Participei de várias formaturas
lá na LBV do Bom Retiro,
em São Paulo/SP (Av. Rudge, 700). Eram mais de mil
adolescentes em cada umas
das formaturas; uma festa
bonita e muito bem-feita. Os
jovens ficavam agradecidos
porque estavam aprendendo
informática e, depois, outras
ferramentas profissionalizantes. A LBV fez isso e prestou
conta de todo tostão que
gastou. Não se apoderou
de nenhum centavo que
Araújo, o Garotinho. Também na
BOA VONTADE, de nº 199, sentime lisonjeada com o artigo do
jornalista Paiva Netto: “A Mulher no
conSerto das Nações”. O exemplo
da vida de Helen Adams Keller, que
apesar de cega e surda, conseguiu
romper tremendas barreiras,
tornando-se uma das mulheres
mais respeitadas da História e,
por fim, a vida emblemática de
humildade e renúncia de Maria
Santíssima. Enfim, expus em debate
com os pais dos alunos esse artigo
que foi de grande esclarecimento a
todos. (Edimara Portugal Nazareth
Patané — professora, Rio de
Janeiro/RJ).
não era dela, e os jovens
saíram de lá contentes. Portanto, essa participação da
Legião da Boa Vontade no
Conselho Econômico e Social
da ONU, o Ecosoc, representa que uma instituição do
porte da LBV é reconhecida
internacionalmente e isso é
importantíssimo. A ONU é a
maior organização que temos
no Planeta, seria o governo do
mundo. E o governo do mundo chama a LBV para ajudar
na questão econômica e social
do mundo. Por isso, está mais
uma vez de parabéns por suas
vitórias, e esta é uma das suas
grandes conquistas. Só tenho
de agradecer por mais essa
oportunidade que a LBV está
me dando e vamos continuar
trabalhando juntos”.
Dr. Walter Barelli
Deputado Federal e
ex-Ministro do Trabalho
Eis Deus!
Venho por meio desta agradecer ao
Irmão Paiva por tudo que fez e faz pelos
jovens. Quero destacar a oportunidade
que tem nos dado de debater e aprender
sobre um assunto especialíssimo Ecce
Deus! (Eis Deus!), que acompanhei na
íntegra, na revista BOA VONTADE.
Fantástico! Estamos muito felizes
e gratos pela confiança. (Wilson da
Conceição Basílio, estudante — Rio
de Janeiro/RJ)
Escreva para a revista BOA VONTADE
Av. Rudge, 938 • Bom Retiro• São
Paulo/SP — CEP 01134-000 — e-mail:
info@boavontade.com
Revista Boa Vontade
11
12. Ao Leitor
Estávamos em fase de fechamento desta edição da BOA VONTADE quando a socióloga Sandra
Fernandez, colaboradora da revista
em Nova York/EUA, nos enviou
uma matéria intitulada “Aborto:
Suicídio da alma feminina”, revelando o número alarmante desta
prática em todo o mundo: 46 milhões por ano. O mais espantoso,
nesse trabalho de reportagem que
consumiu dois meses de pesquisa
da socióloga, é que, para a maior
parte dos abortos, não há um motivo “justificado”. As que o fazem
apresentam apenas o próprio “não
querer” como desculpa. Claro que
o assunto logo mereceu destaque.
E o mais contundente: a base de
argumentação da página tinha
uma correlação com o Editorial
do jornalista Paiva Netto, que traz
o importante documento formulado pela Legião da Boa Vontade
em colaboração à 49ª Sessão da
Comissão do Status da Mulher,
das Nações Unidas, Nova York,
EUA. Neste relatório, a LBV
expõe sua ampla experiência em
dar subsídios para que a Mulher
se fortaleça, capacitando-a para
obter os recursos sociais e morais
para que tenha e crie seus filhos, ou
seja, a outra fatia feminina que em
conseqüência da pobreza pode ser
levada a interromper a gravidez. O
trabalho foi divulgado pela ONU
— nos seus seis idiomas oficiais
(Inglês, Espanhol, Francês, Árabe,
Russo e Chinês) — a delegações
de Estado e a organizações nãogovernamentais.
Por fim, vale aqui ressaltar o
sucesso da XII Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro,
que encerrou suas atividades, em
22 de maio, recebendo mais de
600 mil pessoas; e com um dado
animador: boa parte deste público
era de jovens e crianças, num país
que ainda possui pouca tradição
de ler. Entre os títulos que mais
venderam nessa megafeira está a
obra As Profecias sem Mistério, do
escritor Paiva Netto, o que mostra
também outra faceta deste mercado
livreiro em ascendência: a procura
pelos temas espirituais.
Boa leitura!
Os editores
BOA VONTADE
ANO XXIII • Nº 201 • MAIO de 2005
BOA VONTADE é uma publicação mensal das
IBVs, editada pela Editora Elevação.
Diretor e Editor responsável
Francisco de Assis Periotto
MTE/DRTE/RJ 19.916 JP
Redação
Editor Executivo: Gerdeilson Botelho
Subeditora: Débora Verdan
Revisão
Adriane Schirmer
Neuza Alves
Walter Periotto
Colaboradores
Alvino Barros, Antonio
Paulo Espeleta, Daniel
Rocha, Elias Paulo, Maria
Aparecida da Silva, Paulo
Azor, Profa Nádia Lauriti,
Rita Silvestre, Silvia Bovino,
Wanderly Albieri Baptista e
William Luz
Arte
Sumário
Projeto Gráfico: João Periotto
Capa: João Periotto e Alziro Braga
Produção
Edição nº 201
4 Editorial
10 Cartas
15 Coluna do Garotinho
16 Especial
22 Atualidades
24 Biosfera
28 História
34 Perfil
37 Notícias de Brasília
38 Terceiro Setor
40 Bem-estar
42 Melhor Idade
44 Memória
46 Literatura
54 Ação Jovem LBV
56 Acontece
62 Pedagogia do Cidadão
Ecumênico
Endereço para correspondência:
Av. Rudge, 938 — Bom Retiro
CEP 01134-000 — São Paulo/SP
Tel.: (11) 3358-6868 — Caixa Postal
13.833-9 — CEP 01216-970
Internet: www.boavontade.com
E-mail: info@boavontade.com
Impressão: PROL Editora Gráfica
A revista BOA VONTADE não se responsabiliza
por conceitos emitidos em seus artigos assinados.
12 Revista Boa Vontade
13. Sumário
Editorial
4
4 Editorial
História
28
Perfil
34
Literatura
46
Acontece
56
Paiva Netto apresenta importante
documento, divulgado pela ONU em
seis idiomas, que traz valiosa contribuição da LBV para a 49ª Sessão
da Comissão do Status da Mulher,
ocorrida em Nova York.
15 Coluna do Garotinho
A despedida de Romário dos campos
de futebol é o tema abordado por
José Carlos Araújo na Coluna do
Garotinho deste mês.
Coluna de José Carlos Araújo
15
16 Especial
No mundo, 46 milhões de abortos
são praticados anualmente. Entenda
por que esta prática desumana e
ilegal virou fonte de renda para algumas clínicas especializadas e pauta
para discussões políticas.
24 Biosfera
A Mata Atlântica, um dos mais
importantes ecossistemas para o
Homem pede socorro.
Especial
16
28 História
Após 60 anos do conflito, o mundo
silencia em memória às vítimas da Segunda Guerra Mundial, um dos mais
violentos episódios da nossa História.
34 Perfil
O respeitado jornalista Heródoto
Barbeiro expõe seu ponto de vista
sobre temas polêmicos, tais como: a
informação vista como mercadoria, a
obrigatoriedade do diploma acadêmico na profissão e a imparcialidade no
conteúdo exibido pelas mídias.
Biosfera
24
46 Literatura
Paiva Netto lança na XII Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro,
nova edição de As Profecias sem
Mistério, obra que integra coleção
que já ultrapassou um milhão de
exemplares vendidos.
56 Acontece
LBV recebe homenagem da
Assembléia Legislativa do Estado
do Rio Grande do Sul pelos serviços
prestados ao povo gaúcho.
Revista Boa Vontade
13
14.
15. Coluna do Garotinho
José Carlos Araújo é locutor
esportivo da Rádio Globo do
Rio de Janeiro/RJ
F
elizes somos nós, amantes
do futebol-arte, que pudemos acompanhar a carreira
de Romário. Nem falo nos
jogos pelo clube em que ainda atua,
o Vasco da Gama, ou em que atuou,
como Flamengo, Fluminense, PSV e
Barcelona.
Falo do Romário da Seleção
Brasileira. Do Romário campeão do
mundo em 1994. Do Romário polêmico, cortado da Seleção em 1998, já
na França, quando os médicos o dispensaram por contusão, sem ouvir sua
palavra de que poderia se recuperar a
tempo de disputar aquela Copa.
Romário teve sua despedida. Aos
39 anos, foi convocado para o amistoso contra a Guatemala. Um jogo
festivo. A despedida do Baixinho,
dando adeus à camisa amarelinha que
foi dele por quase duas décadas.
Uma camisa que Romário soube
honrar. Quem não se lembra dos seus
gols salvadores contra o Uruguai, no
Maracanã, garantindo o Brasil na
Copa de 94?
Quem não se lembra do Romário, artilheiro do Brasil na Copa dos
Estados Unidos? Seus gols foram
bálsamos para o brasileiro, que não
comemorava a conquista de um campeonato mundial desde 1970.
vira uma página
E, quando mais se esperava de Romário, lá estava ele, transformando
em realidade nossos sonhos. Aquele
troféu que o Brasil esperou 24 anos
para erguer em triunfo é de todos os
jogadores, mas pertence mais a um
atleta em especial: Romário, por tudo
o que fez.
Era o Romário eleito o melhor
jogador do mundo. Era o Romário
campeão mundial.
A festa que lhe foi oferecida
como despedida da Seleção foi até
modesta. Deveria ter sido contra
uma Argentina, uma Alemanha, uma
seleção do mundo, num palco como
o Maracanã, que foi seu reino durante
décadas. Mas foi contra a Guatemala,
no Pacaembu.
No entanto, ele soube transformar
essa festa que tinha tudo para ser
morna numa noite de gala, como se
estivesse comparecendo para receber
o Oscar de mais um ídolo que o Brasil
aposenta.
Foi uma noite em que o polêmico
jogador fez de tudo. Uma noite
pra lá de emocionante. O gol,
é claro, não poderia faltar.
Romário fez o dele, o último pela Seleção Brasileira
e ele, o homenageado, aproveitou para saudar alguém
especial: sua filha, que
nasceu com a Síndrome
de Down.
O jovem arrogante de
outros tempos deu lugar
ao homem maduro, capaz
de chorar ao ouvir o Hino
Nacional e a torcida gritando seu nome.
O País inteiro viu as lágrimas
rolando pela sua face. Mas Romá-
rio não pôde
ver a recíproca, que foi
verdadeira:
muitas lágrimas também
Romário foi um
rolaram por
dos craques
que assinaram
milhares de
a camiseta da
LBV, na campa
faces que
nha
“Brasil — bom
de bola, bom
ele jamais de coraçã
o”, na Copa de
1994,
viu. Gente
quando o Bras
il foi Tetracampeão Mun
que, durandial nos EUA.
te mais de
20 anos, se habituou a ir aos
estádios, a ligar a televisão, a ouvir o
rádio e a ler nos jornais as façanhas de
um craque chamado Romário.
Quem o viu com a camisa da Seleção Brasileira agradeça aos deuses
do futebol. Com certeza, não verá
mais outro com o jeito moleque e o
futebol encantador desse artilheiro
que se aposenta. A nós, só resta dizer
uma coisa:
— Obrigado, Romário!
Revista Boa Vontade
15
Reprodução BV
Reprodução BV197
A história do futebol brasileiro
17. Arquivo pessoal
aborto:
Suicídio
da alma feminina
Sandra Fernandez
Socióloga (Nova York, EUA)
O Ser Humano deve orgulhar-se
de existir e lutar infatigavelmente pela
Vida. Vencer a si próprio de modo a
conquistar, para todo o sempre, a sua
dignidade espiritual, o tesouro que o
ladrão não rouba, a traça não rói nem a
ferrugem consome (Evangelho de Jesus,
segundo Mateus, 6:19). Como revela
a Sabedoria, “vencedor é aquele que
vence a si mesmo. Deus, que é Vida,
para a Vida o criou.”
Paiva Netto, Diretrizes Espirituais da
Religião de Deus, volume I.
O
aborto é um dos temas mais polêmicos existentes no cenário
mundial. Enganam-se aqueles
que o associam apenas à esfera feminina. Esta prática é um objeto
manipulado por grupos com interesses
variados. Pode ser um fato político quando decide quem irá vencer a eleição para
presidência de um país (como no caso
norte-americano); também como uma
mercadoria comercial quando disputa os
futuros clientes de uma clínica bem moderna com equipamentos e confortos de
última geração. O aborto é um fenômeno
social quando origina movimentos em
defesa da democracia pela liberdade de
escolha da mulher. Enfim, poderia ficar
enumerando diversos fatores que mascaram a demagogia em torno do assunto,
mas o importante é destacar: 46 milhões
de abortos são praticados anualmente
em todo o mundo. São 46 milhões de
crianças que não chegam a existir.
A Ciência, todavia, discute quantas
semanas são necessárias para que um
feto seja considerado um bebê. É interessante deixar claro que não é o fator existência que está sendo discutido e, sim, o
tempo. O que na realidade transforma o
feto em um indivíduo pronto para nascer
é o tempo de relação entre mãe e filho. O
tempo que a mulher possui carregando
a criança em seu ventre. Nessa disputa
pelo tempo entram diversas convenções
sociais que irão determinar, por parte da
mulher, a decisão de continuar ou não
sua gravidez. O fato de interromper a
gestação em seu início, antes que os
outros possam saber da sua existência,
coopera para o não-julgamento do seu
ato por parte da sociedade. Isto é, o ato de
abortar tem fatores externos poderosos
como a visão de mundo individualista
e até mesmo utilitarista em possuir tudo
o que proporciona prazer e abrir mão
daquilo que não se encaixa ou dificulta
os objetivos últimos. Apesar de a mídia
criar a idéia de uma sociedade cada vez
mais liberta de suas antigas tradições e
preconceitos é comum não ser discutida
a questão da responsabilidade por parte
dos pais nos casos de gravidez na adolescência. O primeiro pensamento é: ela
é muito jovem para a maternidade, que
nas entrelinhas quer dizer que essa gravidez irá dificultar um bom casamento
para a filha ou marcá-la com o termo
preconceituoso de “mãe solteira”.
É intenção de grupos — principalmente presentes na mídia e na elite
intelectual do país — conduzir a massa
a pensar em termos tais como pobreza,
violência e idade materna na hora de
discutir a interrupção de uma gravidez.
Por que nunca se fala abertamente em
egoísmo, eliminação de provas (de um
adultério ou do que seja), projeção de
figuras anônimas no cenário nacional
pela defesa do direito de escolha da
mulher, comércio, campanha eleitoral
(pró ou até mesmo contra)? Por que
nunca se discute o “benefício” que o
aborto proporciona a muitos envolvidos
nessa prática?
Tirania do
individualismo
Richard Sennett, em O Declínio do
Homem Público – As Tiranias da Intimidade diz que o Capitalismo aconteceu no
século XIX por conta da sociabilidade
gerada pela burguesia. A expansão da
sociedade burguesa proporcionou uma
origem de estrutura de personalidade,
em que há uma distinção entre público e privado. A política pertencia ao
mundo público e masculino, afastado
do universo privado. Esse modelo vai
se esgotando no início do século XX.
As pessoas começam a sair às ruas
com suas famílias e ganham as calçadas. Entretanto, segundo o autor, esse
estreitamento entre público e privado
gera uma ideologia narcisista. Inventase o termo “amigo íntimo”. As pessoas
se relacionam-se cada vez mais com
as que se parecem com elas. Surge um
tipo perverso de comunidade na qual se
exclui o que não é igual. Gera, conforme
Sennett, uma incivilidade, uma legião
de anônimos que não se conhecem
mutuamente. As pessoas sentem cada
vez mais a solidão. Esse individualismo
cria o culto narcisista e niilista (cético)
Revista Boa Vontade
17
18. que, para o autor, é o perfil conformista
da sociedade contemporânea. A partir
da teoria de Sennett, podemos analisar
que o individualismo em seu excesso
pode querer também excluir aquilo que
é capaz de modificar uma vida já idealizada sob um modelo perfeito, isto é, uma
criança não esperada pode ser o diferente
não desejado nesse modelo perfeito. A
solução: o aborto, a exclusão do que não
é querido, do que não é igual a mim.
Outro autor, David Riesmann, em A
Multidão Solitária diz que o fenômeno
da classe média cria a sociedade da abundância, uma
estrutura de personalidade
geradora de insolidarismo.
Uma multidão de pessoas
que andam nas ruas, mas
anônimas, sem nenhum
laço de solidariedade em
que os sistemas valorativos entram em declínio.
“Qual a personalidade dessa sociedade?”, pergunta
o autor. A base é uma
personalidade reativa,
conformista, ajustada ao seu mundo,
adequada aos
modismos de
sua era.
Citei esses
dois autores
porque nas pesquisas das organizações que
fazem estudos
sobre o aborto,
encontramos
que pobreza,
estupro e má
formação dos
órgãos são motivos comuns
alegados para a
prática do aborto. Entretanto,
o maior índice
de abortos está
Photos.com
Photos.com
Especial
18 Revista Boa Vontade
relacionado ao item “sem motivo”, ou
seja, sem uma razão se não o próprio
“não querer”. “Que modelo de sociedade é essa?”, perguntamos então. Como
defender a prática do aborto utilizando
a Democracia (que é uma teoria de
governo brilhante) para legitimar o
direito da mulher de excluir o não desejado? É a tirania do individualismo.
Daqui a pouco o aborto será sinônimo
de exclusão. Excluir possíveis crianças
de rua, deficientes físicos, possíveis
portadores de doenças, raças inteiras.
Se não nos preocuparmos com a política
de exclusão, estaremos pactuando com
a sociedade do conformismo.
Sociedade
Civilizada?
Joyce Arthur fez um estudo intitulado “Aborto Legal: o sinal de uma
sociedade civilizada”, comparando os
benefícios sociais que os países com
práticas legais do aborto possuem em
relação às demais nações onde a prática
é condenada. Ela declara que o aborto
legal está relacionado aos países com
maior índice de desenvolvimento intelectual, social e cultural. Alega que a
maternidade obrigada é o único tipo de
escravidão que vitimiza somente mulheres e crianças. O aborto, conforme a
autora, é provavelmente o procedimento
cirúrgico mais comum no mundo. Aproximadamente 46 milhões de abortos são
feitos a cada ano, sendo que 20 milhões
deles são ilegais. A cada mil mulheres
grávidas, 35 decidem abortar. O risco
de morte nesses processos cirúrgicos
também foi analisado pela pesquisa,
que, constatou que, em 100 mil abortos,
330 mulheres morrem provenientes de
práticas clandestinas.
Em certo momento, Joyce Arthur
questiona a posição do Brasil na liderança dos países em fase de pleno desenvolvimento econômico e que não possui
a prática do aborto amparada pela Lei. A
pesquisadora menciona que 1,5 milhão
de abortos são feitos anualmente no
Brasil. Em conseqüência dessa prática,
250 mil mulheres são hospitalizadas e
milhares morrem. Ela finaliza a citação
ao Brasil com as seguintes palavras:
“Apesar de todos esses motivos, você
já deve ter ouvido falar sobre a séria
epidemia das crianças de rua do Rio de
Janeiro, em que são forçadas ao crime
e à prostituição para manterem-se a si
mesmas. A polícia os consideram vermes, algumas vezes atiram nelas como
se fossem ratos”.
Ora, é compreensível a intenção da
autora em defender aquilo que acredita
ser certo, porém, sendo brasileira, não
posso concordar com essa afirmação
que demonstra o não-conhecimento a
respeito das nossas crianças pobres. Se
aplicarmos a teoria de que o aborto é a
solução para a problemática “menino
de rua” estaremos concordando que
quem nasce pobre não pode ter futuro.
Isto é, se o aborto fosse uma prática
legal não haveria crianças na rua.
Nesse caso, o aborto seria uma política
de eleição. Um dos mais importantes
sociólogos brasileiros, considerado
mestre por intelectuais famosos, veio
de um lar extremamente pobre e esse
mesmo sociólogo (alguns poderão se
chocar) andou pelas ruas, não tinha
onde morar. Há muitos exemplos
na História e contemporâneos a nós
que inverteram a situação de pobreza
e mudaram seu destino. Sabemos
da falta de recursos financeiros em
muitos lares, mas não significa dizer
que somente por ser pobre o indivíduo
será ladrão ou optará pela prostituição.
No Japão, por exemplo, é notório que
adolescentes japonesas de classe média
se prostituem para adquirir um último
modelo de celular ou para ter uma
bolsa de marca famosa. Nesse ponto
não podemos relacionar pobreza à
prostituição.
É sério e grave o problema da infância pobre no Brasil, mas a discussão é
outra: política, educação, cidadania,
Solidariedade, mas, não ao aborto,
como alerta o jornalista Paiva Netto
no artigo “Aborto e Vida Eterna”:
“Quanto à argumentação de alguns
de que é preferível abortar a permitir
às futuras gerações viverem em países
incorrigíveis na falta de cuidados com
a sua população humilde, trata-se de
conversa muito mal explicada, porque
o crescimento demográfico no Brasil,
por exemplo, tem diminuído. E mais:
ninguém ignora que está ocorrendo a
esterilização de incontáveis mulheres
brasileiras, desde as idades menores.
Se não houver verdadeiro sentido de
preocupação social com a nossa gente,
as populações deste País poderiam cair
à metade do que atualmente existe,
19. e o problema da pobreza não estaria
resolvido”.
Um negócio bilionário
Ao escrever sobre este tema, comecei
a prestar mais atenção em minha volta e
descobri a grande quantidade de anúncios de clínicas de aborto em outdoors e
nas listas de páginas amarelas nos Estados Unidos. Existe um número 0800 que
direciona o cliente para a clínica mais
perto de sua residência. O slogan dessa
central de serviços clínicos é: Pregnant
and scared. We have the solution. (Grávida e com medo. Nós temos a solução.)
Resolvi ligar para essa central argumentando que estava grávida e queria ouvir
a experiência desses profissionais. Fui
indicada para uma clínica de Montclair,
cidade de alto poder aquisitivo em Nova
Jersey. A recepcionista atendeu-me, com
muita delicadeza, perguntando detalhes
como idade, seguro médico e profissão
(estudante tem desconto). Ao perceber
meu sotaque, perguntou se estava em
visita aos Estados Unidos. Perguntei o
porquê dessa questão e a atendente me
respondeu que a clínica possuía total
descrição e que, se eu fosse turista, eles
aceitavam cheque-viagem e cartões de
crédito (observei que turistas vêm ao
EUA para efetuar abortos e essa classe
de pessoas, certamente, não pode ser
considerada pobre). Respondi-lhe que
era turista e que não entendia nada sobre aborto. Explicou-me que a prática
poderia ser de terminação médica ou
cirúrgica. Quando questionei qual seria o
preço para realizar um aborto, a resposta
que obtive foi a seguinte: “Depende da
semana em que se encontra a gestação.
Até 7 semanas $330; de 7 a 14 semanas
$360; de 14 a 16 semanas $580; de 16
a 19 $860; e de 19 a 20 semanas $960.
Mais que 20 semanas de gestação é
considerado procedimento especial.
Qualquer exame ou procedimento médico são considerados adicionais (o que
aumenta o gasto do paciente)”.
No mesmo instante, peguei a calculadora e multipliquei o número mundial
de abortos legais por $360, para se tirar a
média de dólares que envolvem a prática
do aborto. O resultado deu a expressiva
cifra de 9,36 bilhões de dólares, esse
número para mais.
Quis saber dos riscos, o que respondeu ser um procedimento médico
seguro. Perguntei sobre a relação do
aborto com o câncer de mama o qual
comentou não saber nada sobre isso.
Então, pedi-lhe que se informasse a
respeito.
Riscos para adosaúde
Há perigos na prática aborto que
também não são muito divulgados.
O Hospital Bicêtre em Paris elaborou
um estudo em que o risco é 1,5% mais
alto de crianças nascerem prematuras,
com apenas 33 semanas de gestação
quando a mãe já praticou um aborto
anteriormente. A interrupção da gravidez é indicada como principal fator
de problemas emocionais, familiares, e
até mesmo de separação de casais que
Se aplicarmos a teoria
de que o aborto é
a solução para a
problemática “menino
de rua” estaremos
concordando que,
quem nasce pobre não
pode ter futuro.
escolheram por essa prática. Há riscos de
morte, hemorragia, infecção, perfuração
do útero, histerectomia (complicações
com o útero o que necessitará a remoção
total desse órgão), estenose (endurecimento de tecidos provocando cólicas
sem menstruação), aborto incompleto
(quando o aborto falha na remoção do
tecido da gravidez e o bebê continua
dentro da barriga da mãe, o que causará
muita injúria ao bebê e à mãe, necessitando remoção cirúrgica) e o sintoma a
longo prazo, que é o desenvolvimento
do câncer de mama.
Dos últimos 34 estudos mundiais
sobre este tipo de câncer, 27 relacionam
que o aborto expõe a mulher ao câncer
de mama por interromper de forma nãonatural o desenvolvimento das células
que produzem o leite materno. Os hormônios que produzem esta substância já
estão presentes nos primeiros instantes
da gravidez. Quando interrompido esse
processo, a mulher corre o risco de
desenvolver esta enfermidade.
O risco se torna maior quando há
histórico de casos da doença na
família.
É inegável o caráter comercial do
aborto, quando falamos de cifras como
bilhões de dólares. Mas o que pensar
quando utilizam o aborto como uma ferramenta política? Quando o governo de
um país coloca sua máquina burocrática
para assegurar o direito à interrupção da
gravidez?
Na França, a intenção de cometer um
aborto é acompanhada por psicólogos
que irão atestar se a gestação irá alterar
a saúde mental da mulher. A partir da
conclusão, eles aprovam ou não o procedimento pelo Estado.
Na Irlanda, a luta contra o aborto
conseguiu um avanço nas leis: foi criada
uma emenda constitucional delegando
ao feto o direito constitucional de nascer.
Em vez de feto foi utilizado o termo
“criança por nascer”.
Este feliz exemplo dos parlamentares irlandeses vem ao encontro do
que registrou o jornalista Paiva Netto
na década de 1980 quanto à defesa
legal que o feto deveria possuir em
detrimento à arbitrariedade feminina:
“Quem não conhece os Deveres Espirituais não saberá respeitar os Direitos
Humanos em sua inteireza, incluídos
os direitos das vítimas, que vão além
dos patamares atingidos pelos seus
mais atilados defensores, na maioria das
vezes adstritos à análise dos fatos pelo
critério unicamente material, o que não
é suficiente. Cidadania, no seu sentido
lato, não se restringe ao corpo físico do
cidadão, pois se prolonga ao seu Espírito eterno. A compreensão disso será
uma das maiores vitórias da sociedade
no próximo milênio. A personalidade
física de cidadão deveria ser estendida
ao feto, para que pudesse, por meio de
procuração, sob forma que o Direito
determinaria, obter capacidade de
defesa de sua vida, já que a Ciência
está demonstrando que a existência
humana tem início no instante em que
o espermatozóide adentra o óvulo. (...)
Quanto ao fato da possibilidade de o
Direito admitir procuração do feto na
sua luta inconsciente pela sobrevivência a um causídico, não tem nada de
ridículo. Ridícula e, muito mais que
isto, trágica é a morte de quem não
pode a si mesmo defender”.
Revista Boa Vontade
19
20. Especial
mais que ativistas pró-aborto tentem
mostrar — por intermédio de estatísticas
defendendo a bandeira da pobreza e da
saúde da mulher — não conseguem
mascarar o sentimento individualista e
egoísta desse ato.
Aborto e as Leis
Espirituais
José de Paiva Netto, em seu artigo
No mundo,
46 milhões
PhotoDisc
de abortos
são praticados
anualmente.
Leisque vemos acontecerVida
contra a na China,
Éo
em que o aborto é exigido por lei nos
casos de casais que já possuem um
filho. É impressionante o estudo “Controle de Natalidade na China de 1949 a
2000: Política de População e Desenvolvimento Demográfico”, feito pelo
pesquisador Thomas Scharping. Ele
começa perguntando como é possível
uma elite, pequena o suficiente, conseguir a partir de uma oficina de trabalho
controlar a reprodução de centenas de
milhares de famílias? Nesse estudo,
Scharping explica como e por que os
líderes chineses decidiram subjugar
o nascimento de crianças ao controle
burocrático. O Estado vive o desafio
de não poder planejar a fertilidade tão
facilmente como controla os negócios
econômicos. Entretanto, futuros pais
em potencial são mais numerosos que
as empresas estatais e mais motivados
para a reprodução.
O Estado colocou em prática regras,
serviços de contracepção, propagandas
massivas e um sistema de oficiais treinados para detectar fraudes na declaração
de número de filhos. Os casais que
possuem apenas um filho conseguem
benefícios como tratamento preferencial para a criança na escola, recebem
melhores casas para viver, assistência
médica e isenções de encargos.
Os contratos de trabalhos são as
melhores armas no controle da natalidade. Em algumas cidades consta nos
20 Revista Boa Vontade
contratos de trabalho a exigência de
apenas um filho por empregado. Há diversos tipos de punição para as famílias
que não respeitam e tentam burlar essas
leis. Os oficiais chegam de repente nas
casas em busca de brinquedos, mamadeiras, chupetas, roupas que indiquem
a existência de crianças não-declaradas,
ou examinam os dentes da criança
para certificar se a idade corresponde
com a declaração de nascimento. Em
decorrência do controle excessivo, o
interrompimento brusco da gestação é
bastante usada entre os chineses. É um
aborto diferente dos demais países cujas
mulheres recorrem a essa prática moti-
“Quem não conhece
os Deveres Espirituais
não saberá respeitar os
Direitos Humanos em sua
inteireza, incluídos os
direitos das vítimas (...).”
Paiva Netto
vadas por critérios pessoais. O aborto
na China é coercitivo, motivado pela
burocracia do Estado.
Abortar não é um processo natural
e necessário ao Ser Humano, por isso
não consegue uma aceitação unânime
por toda a sociedade, como acontece,
por exemplo, nos casos de mobilização
pela luta de se preservar a Natureza. Por
“Aborto e Vida Eterna”, argumenta que
aqueles que defendem a prática do aborto o fazem firmados na visão distorcida
dos Direitos Humanos, fazem-no por
desconhecer os Direitos Espirituais.
Prossegue o autor: “Entre eles, há pessoas dignas do maior respeito. Contudo,
seriamente equivocam-se ao pensar
que a morte termina com tudo e/ou por
ignorar a Lei da Reencarnação, que se
trata de misericordiosa oportunidade
concedida por Deus para o desenvolvimento de nossas Almas com a correção
de nossas faltas. Assim, muitos ainda
ignoram que, para o Espírito, por mais
absurdo e incrível que lhes possa parecer, muitas vezes é necessário retornar
com problemas físicos e/ou mentais,
porque precisam livrar-se de desvios
do passado (e surgirem luminosos
como Espíritos libertos). Erros não
apenas referentes ao Ser reencarnante,
mas também aos pais que, por isso, no
Mundo Espiritual prometeram dar ao
necessitado de vencer as provações a
oportunidade de voltar à carne. Abortar
é, pois, transferir a prova para mais tarde,
com acréscimos dolorosos para todos
os infratores da Lei da Vida. Aos que
apelam para o livre-arbítrio concedido
pelo Criador, fraternalmente advertimos
que Deus nos deixa moralmente livres,
mas não irresponsavelmente livres. De
Deus não se zomba, alertava Paulo em
sua Epístola aos Gálatas, 6:7, completando: Aquilo que o Homem semear,
isso mesmo terá de colher.”
O que Paiva Netto está sugerindo
é que há tempo para a criação de uma
sociedade realmente solidária, pensando
em seus valores e respeitando a Vida
para não cair na figura do herói insano
de Jean-Jacques Rousseau no Discurso
da Desigualdade: “O homem selvagem,
depois de ter comido, fica em paz com
toda a natureza e é amigo de todos os
seus semelhantes. Caso, por vezes, tenha
de disputar a alimentação, jamais avança
21. e Sua Justiça, e todas as coisas materiais
vos serão acrescentadas.”
O Cristo Jesus pode ser considerado
o fruto da primeira ativista contra o aborto mencionada pela História — Maria.
Quando o Anjo anunciou à Virgem que
ela traria aos olhos do mundo o Espírito
O Cristo Jesus pode ser
considerado o fruto da
primeira ativista contra o
aborto mencionada pela
História — Maria. Quando
o Anjo anunciou à Virgem
que ela traria aos olhos do
mundo o Espírito de Jesus,
ela aceitou mesmo correndo
o risco de ser massacrada
pela sociedade de época.
de Jesus, ela aceitou mesmo correndo o
risco de ser massacrada pela sociedade
da época. Passados dois mil e cinco
anos, todos concordam que a sociedade
era bem diferente da atual. Maria não
era casada. Era noiva. Se ainda nos
recentes anos 1970 (recente em relação
ao ano 1 da Era Cristã) uma mulher
grávida e não-casada era discriminada,
não temos fatores para mensurar a discriminação sofrida pela Virgem Maria.
Entretanto, ela aceitou a missão de ser a
Mãe de Jesus. Isto é, não abortou a sua
missão o que poderia ter feito usando
seu livre-arbítrio. E o mais importante
é que por todo o Evangelho não vemos
nenhuma menção ao disse-me-disse
que certamente a gravidez simbólica de
Maria causou na época. Pelo contrário,
ela deixa um cântico de agradecimento
a Deus afirmando quão bem-aventurada
era por ter a oportunidade de ser Mãe
(Evangelho de Jesus, segundo Lucas,
capítulo 1, versículos 46 a 55), provando
que ser Mãe supera qualquer sofrimento.
Ao contrário do que se divulga como
uma solução, abortar pode retirar do Eu
feminino aquilo que lhe é mais bonito,
o seu direito de criação, sua Alma de
Mulher.
E, para concluir, esse trecho do artigo
“A maior das reformas: a do Homem”
do escritor Paiva Netto: “O Planeta é
belíssimo! Convida à vitória. Mas o
Homem... tem sido o que se vê… Por
isso, a maior das reformas é a do próprio
Homem. Urge neste término de ciclo
que esta preceda as demais. A Vida é
uma conquista diária. Uma lição de Fé
Realizante a todo momento exigida,
para que a criatura de Deus não caia na
ociosidade, mãe e pai dos piores males
que assolam o Espírito e enfermam o
corpo, conseqüentemente. Na verdade,
não basta ter agido bem ontem. Necessário se faz melhor caminhar hoje e ainda
mais gloriosamente amanhã.”
Ser mãe
supera
qualquer
sofrimento
Photos.com
desferindo golpes, sem antes ter comparado a dificuldade de vencer com a de
encontrar em outro lugar sua subsistência, e, como o orgulho não interfere no
combate, este acaba com alguns murros;
o vencedor come, o vencido vai tentar
a sorte e tudo fica em paz. Mas, com o
homem em sociedade, as coisas se passam muito diferentemente: trata-se, em
primeiro lugar, de atender ao necessário
e, depois, ao supérfluo; depois, vêm as
delícias e, depois, as imensas riquezas;
depois, os súditos e os escravos. Não
há um momento de descanso. O que há
de mais singular é que, quanto mais naturais e prementes são as necessidades,
tanto mais aumentam as paixões e, o que
é pior, o poder de satisfazê-las, de forma
que, depois de longas prosperidades,
depois de terem se devorado muitos
tesouros e arruinado muitos homens,
meu herói acabará por tudo sufocar até
que seja ele o único senhor do universo.
Esse, abreviadamente, o quadro moral,
senão da vida humana, pelo menos das
pretensões secretas do coração de todo
homem civilizado.” (Os Pensadores,
p. 298).
E continua o escritor Paiva Netto,
em contrapartida à interpretação liberal
dos Direitos Humanos: “O Direito tem
por dever abrir os caminhos para a integração do humano ao Divino, no campo
das relações humanas e principalmente
nas de Estado, tendo em vista a situação
atual do mundo. Tristemente escreveu
Jacques Austruy, em O Escândalo do
Desenvolvimento: ‘Fundamentalmente,
neste domínio, o papel do poder consiste
em tornar a ilusão um bem de consumo
e fazer da esperança um lucro’. E não
há maior ilusão do que pensarmos
que a morte determina o fim da Vida.
Este é um equívoco de conseqüências
trágicas para a Humanidade. Quousque
tandem? (Até quando?) A respeito de
ilusão, ponderou o Dr. Paul Gibier que a
chamada realidade (restrita aos sentidos
físicos) é a grande quimera dos homens.
E qual tem sido a pior fraude consumida
pelo mundo? Ser levado a considerar
que o material está acima do espiritual.
Daí todas as distorções, porque, como
afirmava o saudoso fundador da LBV,
Alziro Zarur (1914-1979): ‘O que errado
se inicia, errado vai até o fim’. Ora, o
roteiro adequado estabeleceu-o Jesus no
Seu Evangelho, segundo Mateus, 6:33:
Buscai primeiramente o Reino de Deus
Revista Boa Vontade
21
22. Atualidades
Cida Linares
Grupo Band
lança Rede de Rádio jornalística
Elias Paulo
N
o dia 20 de maio entrou no ar
a mais nova rede de rádio de
notícias do País, a Bandnews FM. Ligada ao Grupo
Bandeirantes de Comunicação, a emissora pode ser sintonizada, a princípio,
nas cidades de São Paulo/SP (96,9
MHz), Rio de Janeiro/RJ (94,9 MHz),
Belo Horizonte/MG (89,5 MHz) e Porto
Alegre/RS (99,3 MHz). Para comemorar, o Grupo Bandeirantes promoveu
uma festa de pré-lançamento com a
presença de jornalistas, personalidades
e funcionários da Band. A solenidade
ocorreu na sede da Rede, no bairro do
Morumbi, na capital paulista.
O Presidente do Grupo Bandeirantes, Sr. Johnny Saad, entrevistado pela
Rede Boa Vontade de Comunicação,
disse que a nova emissora será uma
“rede que veio para inovar, mudar,
levar uma opção ao público jovem e
também ao feminino, por isso ela está
toda em Freqüência Modulada. Com
24 horas, jornais de 20 minutos, são 72
noticiários por dia, tudo ao vivo, onnews. Nem técnico de mesa de áudio ela
terá, pois vai ser operada por jornalistas,
exatamente para dar o ritmo e a bossa da
FM com a informação”.
Amigo do Diretor-Presidente da
Legião da Boa Vontade de longa data,
o Sr. Johnny agradeceu a Instituição
pela presença. “Nós, da Bandeirantes,
somos muito orgulhosos de sermos
aliados de vocês. Acompanhamos a
luta do Paiva, acompanhamos desde
o tempo de Zarur e sabemos deste
trabalho sério, bonito, honrado, que
cuida de criança, de gente idosa,
envolve todo mundo. Então, nós somos, em 1º lugar, fãs, admiradores e
colaboradores do trabalho de vocês.
Queria agradecer por estarem hoje
aqui, nos prestigiando, divulgando
o lançamento dessa rede nova. (...)
Muito obrigado e fiquem com Deus”,
agradeceu.
O Sr. Johnny Saad, Presidente do
Grupo Band (D) e Alziro Paiva, representando seu pai, Paiva Netto, no
prestigiado evento.
23. Wilson Dias
solidária
Derli Francisco
Vi l a r i n o
Wo l f f é o
mais antigo
cerimonialista em atividade em
Blumenau/
SC, atuando,
desde a década de 1970, Vilarino Wolff
nos mais importantes eventos da cidade. Há treze anos, trabalha no meio
radiofônico e atualmente apresenta
um programa dominical na Rádio
Nereu Ramos.
Colaborador da Legião da Boa
Vontade, Wolff divulga as ações da
Obra no programa que comanda.
Também toma parte, como mestrede-cerimônias, das aberturas oficiais
de encontros, principalmente nos
cursos de qualificação e educação
profissional que a LBV desenvolve.
Em um dos recentes acontecimentos, Wolff, ao término da solenidade,
destacou: “É uma satisfação muito
grande poder reverenciar os 49 anos
de atividades do radialista José de
Paiva Netto, o qual tem dedicado a
sua vida aos ministérios desta ONG,
que é toda voltada para ajudar na
construção da felicidade do Ser Humano. Ao José de Paiva Netto, me
permita dirigir uma palavra direta,
dizendo que Deus lhe dê muitos mais
anos de vida, porque aqueles que
fazem o Bem não deveriam ter a sua
existência limitada ao tempo”.
Quem quiser saber mais a respeito
das iniciativas da LBV em Blumenau
ou ainda se tornar voluntário pode
entrar em contato com o Centro
Comunitário e Educacional da Instituição na cidade, localizado na Rua
Vidal Ramos, 100, Centro, tel. (47)
322-1480.
Arquivo BV
Wilson Dias
Blumenau
O Vice-Presidente José de Alencar e o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na
cerimônia de relançamento do Projeto Rondon.
Integrando o Brasil
Com Projeto Rondon, o Presidente Lula une o
País desenvolvido ao não-desenvolvido.
O
Presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, recentemente, anunciou durante
seu programa Café com o
Presidente, na Radiobrás, retransmitido pela Super Rede Boa Vontade de Rádio, o relançamento do
benemérito Projeto Rondon. No ar,
Lula destacou seu contentamento
em ver 200 estudantes que partiram
para implementar o retorno dessa
atividade, que visa à integração do
chamado “Brasil desenvolvido”
com o “Brasil não-desenvolvido”.
Ou seja, jovens de centros urbanos
indo ao interior do país para alfabetizar, pesquisar sobre saúde, além de
contribuir para mantê-la nas comunidades locais.
Ao ser indagado sobre quem
aprenderia mais, Lula respondeu:
“No fundo, no fundo vai ser a grande aula que os estudantes vão ter.
Porque normalmente os estudantes
são gente de classe média, que vive
em centros urbanos. E de repente
vão conviver com índios ou com
Fonte: Radiobrás
pessoas que nunca foram à cidade
grande, pessoas que não têm muitas
informações sobre como cuidar da
saúde. Vão aprender muito mais do
que ensinar, na minha opinião.
“De forma que estou muito satisfeito. Era um sonho que eu tinha
que é uma forma de fazer com que
a palavra Solidariedade volte a
ser utilizada pelo povo brasileiro.
Porque é um grande gesto de Solidariedade, um grande gesto de Boa
Vontade um grupo de jovens sair de
sua comodidade e se dirigir a uma
cidade do interior para conviver
com a temperatura adversa, com um
calor imenso como o que estava em
Tabatinga.
“E esses estudantes todos felizes,
ou seja, como se estivessem também
realizando um sonho. A alegria era
tanta que eu podia imaginar o que
cada um deles estava pensando:
— ‘Finalmente vou ser Solidário a
alguém. Vou poder estender os meus
conhecimentos a alguém que não
teve a mesma chance que eu’.”
[R.O.]
Revista Boa Vontade
23
24. Biosfera
A Mata Atlântica, um dos mais importantes
“E
stamos respirando
a morte”. Este incisivo alerta feito
pelo jornalista Paiva
Netto em seu Editorial, publicado na
edição de nº 200. E não é para menos,
pois o assunto é vital para a nossa
sobrevivência. A poluição do ar que
invade os corpos tem reduzido a perspectiva de vida de milhões e milhões
de pessoas, basta ver os estudos que
estão sendo realizados pelo Planeta,
apresentados pelo articulista em sua
matéria.
Pisar no freio da destruição que,
sucessivamente, se opera no meio
ambiente é uma das grandes bandeiras
das Instituições da Boa Vontade, nesta
luta para salvar os últimos depositórios
dos ecossistemas responsáveis por
uma melhor qualidade de vida.
Os poluentes atingem o solo, a
água e o ar, e, comemorando o Dia da
Mata Atlântica em 27 de maio, tomar
conhecimento de sua situação atual e
o que tem sido feito para preservá-la
é de máxima importância.
Afinal, as matas são os grandes
pulmões da Humanidade, melhorando o que respiramos.
A Mata Atlântica, considerada
um dos mais relevantes biomas do
Planeta, é um exemplo claro desta
situação que não pode perdurar, ela já
cobriu 1,3 milhão de km² de território
brasileiro, mas a ação do Homem em
séculos de agressão fez com que sua
“A gente perde
aproximadamente
um campo de futebol
da floresta a cada
quatro minutos.”
Mário Mantovani
área fosse reduzida a 7% da extensão
primária. Localizada principalmente
às margens do Oceano Atlântico,
percorre praticamente toda a costa
brasileira e regiões interioranas.
Apenas para se ter idéia do que perdemos em termos de extensão, basta
imaginar que seu espaço original poderia ser comparado ao tamanho da
França e mais três vezes o território
da Alemanha.
Até a água que utilizamos em
nossa casa está ligada a esta floresta,
grande responsável pelo abastecimento nacional, à medida que regula
a maior parte de fluxo dos mananciais
hídricos brasileiros. Foi ela, também,
que ao longo da História, ajudou a
nossa economia ao preservar e melhorar a qualidade dos solos, propiciando os grandes ciclos do café e do
açúcar, entre outras culturas.
O Diretor de Mobilização e um
dos fundadores da SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, ONG que tem
se notabilizado na defesa dessa riqueza verde, em entrevista à revista BOA
VONTADE, fala da situação atual da
floresta e o que vem sendo realizado
para assegurar o seu futuro.
BOA VONTADE — Este mês
a Fundação SOS Mata Atlântica
completa 18 anos de trabalho. Receba a homenagem da LBV e de seu
Diretor-Presidente, José de Paiva
Netto, que tem criado espaços dentro
da Instituição para a defesa deste
patrimônio.
Mantovani — Realmente tem
sido um grande apoio e tem nos inspirado muito na nossa luta, renovan-
Alerta
24 Revista Boa Vontade
25. ecossistemas para o Homem, pede socorro.
não havia parado no passado, nos
ciclos econômicos, mas ela acontecia
agora, quando a gente perde aproximadamente um campo de futebol
dessa floresta a cada quatro minutos.
Estamos trazendo para toda a sociedade o que é a Mata Atlântica, porque
quem não conhece não protege.
BV — Como anda a conscientização do Povo brasileiro?
tempo para procurar informações,
mas o nosso papel é produzi-las, traduzindo para a sociedade. Outro dado
que notamos nesta pesquisa é que
80% desse pouco que resta de Mata
Atlântica está na mão de particulares.
Temos de criar incentivos para que
essas pessoas a preservem, inclusive
colocando isso na lei desta floresta,
que está parada no Congresso.
Mantovani — Fizemos uma
pesquisa e não foi muito bom o resultado. Lógico que hoje há uma população que vive da mão para a boca,
correndo todos os dias, e isso faz com
que as pessoas não tenham muito
“Estamos falando de uma
floresta que garante a água
que bebemos. (...) Sem esse
verde, teremos problemas
muito sérios, e não é que
estamos tratando de um tema
de fim do mundo, e sim de
alguma coisa muito presente.”
Arquivo SOS Mata Atlântica
do-a, porque lutar pela vida é sempre
muito difícil. Uma das formas boas
de se fazer cidadania no Brasil é estar
organizado em grupos de atuação. A
SOS surgiu da necessidade de proteger uma floresta que a gente percebia,
há 18 anos, vinha sofrendo grandes
agressões, só que não tínhamos idéia
do tamanho delas. Achávamos que
era apenas o litoral, mas trabalhando
a consciência com tecnologia, com
mobilização, fomos percebendo o
tamanho da Mata. Quando criamos
a SOS, usamos a bandeira do Brasil
com aquela logomarca: “Estão tirando o verde de nossa bandeira”. Isso
chamou muito a atenção das pessoas.
Dezessete Estados do Brasil, 3.400
municípios, dos 5.500 (do País),
quase 60% da população mora onde
já tivemos a Mata Atlântica, e isso,
para se ter uma idéia nesses 505
anos, havia sido reduzido da mancha
original para apenas 7%. E, o mais
grave, percebemos que a devastação
Mário Mantovani
Arquivo BV
verde
Revista Boa Vontade
25
26. Arquivo BV
Biosfera
A Mata Atlântica já cobriu
1,3 milhão de km² de
território brasileiro, mas a
ação do homem, em séculos
de agressão, fez com que
sua área fosse reduzida a
7% da extensão primária.
BV — Em falar nesta lei, a quanto
anda a aprovação no Congresso Nacional do Projeto de Lei nº 3.285/92,
cuja tramitação se arrasta por 13 anos
e seu texto proíbe o corte e a exploração vegetal nativa da mata?
Mantovani — Esse decreto surgiu
logo depois da Eco 92, quando houve
uma análise da Mata Atlântica e se
viu que a situação era desesperadora.
Então, ele veio com um impacto muito
duro e até negativo para a proteção,
porque as pessoas achavam-se proibidas de fazer qualquer coisa. Nesses
12 anos, se há um fato negativo de
não ter uma lei que proteja a floresta,
há um positivo: ela foi discutida todos
esses anos e atualizada. A lei dos crimes ambientais, que surgiu em 1996,
ajudou para que a melhorasse; a lei dos
recursos híbridos também. Enfim, tudo
o que aconteceu no Brasil foi incorporado. A Câmara dos Deputados obteve
473 votos. Foi uma unanimidade, uma
das aprovações mais bonitas que a
gente já viu, falta apenas o Senado.
Nesse tempo todo, cada Estado fez a
regulamentação do que é a Mata e a
aprovou nos Conselhos Estaduais, no
Conselho Nacional, dando à legislação
não apenas aquela coisa de um deputado que vota, de um senador, e todo
mundo é obrigado a fazer, mas é uma
lei discutida com todos os segmentos
da sociedade (...). Hoje temos uma
legislação extremamente positiva, que
mostra o Brasil como um dos países
mais atuais nesses termos.
BV — Vocês tiveram nesse decreto 3.285 o apoio do Povo?
Mantovani — É verdade, contamos com milhares de assinaturas
26 Revista Boa Vontade
27. BV — Por que foi criado o corredor de Biodiversidade da Serra do
Mar? E como ele funciona?
Mantovani — Talvez seja uma
das descobertas mais graves ao
Photos.com
Arquivo BV
longo desse nosso percurso ambiental. Sabíamos que o fato de
a Mata Atlântica estar isolada em
pequenas manchas era muito grave,
porque temos um fenômeno chamado efeito de bordo, ou seja, aquele
pequeno fragmento de Mata sofre
com vento, veneno, fogo, sementes
que invadem de outras pastagens,
e tudo isso agride aquele pequeno
remanescente florestal. O que não
sabíamos é uma questão que chamamos hoje de erosão genética, ou
seja, as espécies só se reproduzem
entre elas. Na realidade, não temos
7%, mas, sim, 7% menos a erosão
genética, menos o efeito de bordo,
a pressão que vem sofrendo tudo
isso. O ideal para que essa floresta
se recupere é que ela tenha conectividade, para que haja fluxos
gênicos, troca de sementes, de
espécies, de tudo ao longo desses
corredores. A Serra do Mar é uma
área natural que serve para este
fim, e precisamos ter esses espaços
para garantir que não acabe toda
essa grande biodiversidade.
Arquivo BV
que vieram da nossa Legião da
Boa Vontade. Foi fantástico! Nós
conseguimos milhões de assinaturas (no documento) que levamos
a Brasília. Só de desenhos de
crianças, levamos 360 mil para a
Comissão de Meio Ambiente para
continuar o processo de aprovação
desse projeto. (...) É lógico que
temos de continuar chamando a
atenção, porque a sociedade precisa
desses estímulos. Estamos falando
de uma floresta que garante a água
que bebemos. (...) Sem esse verde,
teremos problemas muito sérios, e
não é que estamos tratando de um
tema de fim do mundo, e, sim, de
alguma coisa muito presente. Toda
essa devastação está acontecendo
nos últimos 100 anos. (...) É impressionante, dos 93% do que foram
destruídos só 40% são usados para a
agricultura e pecuária extensiva. Os
50% que não foram desmatados estão passando pelo processo de erosão. Dessa maneira para cada quilo
de alimento que São Paulo produz
atualmente, temos 10 quilos de solo,
e, quando você fala de perder solo
por falta de cobertura vegetal, não
quer dizer que é somente isso, perde
fertilidade, adubo que foi colocado,
etc. Por isso, nossa agricultura,
nossos alimentos são caros. Se
falarmos de São Paulo onde temos
máquinas tirando terra o tempo
todo de dentro do (Rio) Tietê, só o
aprofundamento da calha do Tietê
custou 700 milhões de dólares, que
os brasileiros que aqui vivem vão
ter de pagar. Tudo em conseqüência
do mau uso da terra. Além de pagar
para tirá-la, também pagamos com
as enchentes. Cuidar da Natureza é
zelar pela criação de Deus, pela nossa qualidade de vida e pela garantia
para as futuras gerações.
[L.S.M]
Revista Boa Vontade
27
28. História
“Num futuro que nós, civis,
religiosos e militares de bom senso,
desejamos próximo, não mais se
firmará a Paz sob as esteiras rolantes
de tanques ou ao troar de canhões;
sobre pilhas de cadáveres ou
multidões de viúvas e órfãos (....).”
Paiva Netto
28 Revista Boa Vontade
29. N
este mês, quando o mundo
revive os 60 anos do fim da
Segunda Guerra Mundial na
Europa, podemos observar
que a violência perdura ainda hoje, e a
celebração de uma verdadeira Paz parece
distante.
Com certeza se faz necessária a lembrança dessas tristes páginas da história
humana, escritas na primeira metade
do último século. Na observação de
nossos erros como civilização, podemos
encontrar formas de impedir que tudo
venha a se repetir.
No segundo conflito mundial extinguiram-se mais vidas do que o
número total de vítimas de grandes
embates históricos como as Guerras
Napoleônicas, a Guerra Franco-Prussiana, a Guerra da Coréia, a Guerra do
Vietnã e a Primeira Guerra Mundial
somadas. Um monumento ao ódio e à
intolerância, em forma de hecatombe,
que ressoa tristemente ainda hoje. Mas
esse período também foi palco para
exemplos de altruísmo, perseverança e
fé. Histórias dignas de serem lembradas
Revista Boa Vontade
29
Photos.com
Daniel Rocha
30. História
e lições amargas que não devem ser
esquecidas.
Para o melhor entendimento da extensão desta guerra e sua influência na
constituição do mundo atual, apresento
resumo simples de alguns dos principais
fatos relacionados ao conflito.
Fotos: Arquivo histórico BV
A origem do mal
É evidente que motivações políticas
e econômicas não explicam a natureza
irracional desta Guerra. Além das ambições territoriais do Império do Japão
e Itália, um dos principais vetores do
conflito nasceu da miséria alemã.
A capitulação da tríplice Aliança
(Áustria, Hungria e Alemanha), na
Primeira Grande Guerra, culminou na
aceitação do Tratado de Versalhes, um
documento com 200 páginas e 440
artigos, acentuadamente severo com os
derrotados, especialmente com a Alemanha, apontada como principal responsável pelo acontecido, impondo-lhe a
responsabilidade de indenizar as nações
vencedoras envolvidas no conflito.
A Alemanha mergulhou no caos
econômico. O desemprego disparou.
Embora, após 1924, a produção industrial retornasse aos níveis do período
pré-guerra, a quebra da bolsa de Nova
York, em 1929, fez cessar o fluxo de
investimentos americanos vitais à recuperação alemã. Este foi o golpe de
misericórdia na combalida economia
local. A inflação explodiu. A moeda
30 Revista Boa Vontade
desvalorizou-se de tal modo que bilhões
de marcos mal conseguiam comprar
um pedaço de pão. A república estava
desacreditada e o cenário estava montado para a entrada em cena de um certo
personagem: Hitler.
Nascido em 20 de abril de 1889, na
cidade austríaca de Braunnau, Adolf
Hitler, embora não como protagonista, já atuava nas arenas políticas da
Alemanha. Havia, em 1923, tentado
um golpe de estado com seu ainda
incipiente partido, o Partido NacionalSocialista dos Trabalhadores Alemães
(NSDAP) e apelidado de “nazi”, numa
ação que acabou batizada de putsch da
cervejaria de Munique. Após o fracasso do intento, Hitler acabou julgado e
preso. Durante seu período de detenção,
compilou o cerne de sua doutrina nacionalista, fanática e racista em uma obra
intitulada Mein Kampf (Minha Luta),
na qual apregoava o nacionalismo, o
anticomunismo, o anti-semitismo e a
crença na superioridade da raça ariana.
Proclamava o desejo de constituir um
novo estado alemão, o III Reich, capaz
de promover a autonomia econômica
do país, libertando-o do Tratado de
Versalhes.
Em 1923, o golpe nazista malogrou
diante da falta de adesão popular, mas,
seis anos mais tarde, a conjuntura
econômica e social germânica havia se
degradado ao extremo. O povo alemão
— humilhado em seu orgulho, empobrecido sob o peso dos custos do país
endividado, sem emprego e faminto
— constituía uma massa de sedentos
por dignidade. Estavam prontos para o
discurso nazista e, de fato, alinhavamse nas fileiras do partido em número
crescente. Soma-se a isto a expressiva
adesão da burguesia — seduzida pelo
discurso anticomunista do partido —,
que financiava as ações de Hitler.
Após as eleições em setembro de
1930, o partido nazista elegeu 107
deputados para o Parlamento. Foi preciso pouco tempo para que, finalmente,
Adolf Hitler fosse, em janeiro de 1933,
nomeado chanceler. Com a morte de
Hindenburg, em 1934, Hitler, que já
dispunha de plenos poderes delegados
pelo Parlamento, tornou-se também
Presidente. Era o fim da República de
Weimar e início de um período quase
surreal na história alemã.
Com domínio total sobre a nação,
Hitler coloca seu plano em marcha. Os
comunistas e os judeus foram perseguidos e presos, os direitos constitucionais
foram suspensos e dissolveram-se os
partidos políticos. A conversão popular
se deu pela competente propaganda
nazista, a cargo do ministro Joseph
Goebbels. Em suas campanhas, a
hipnótica prédica afirmava que Hitler,
o führer, iria conduzir a raça ariana
em sua conquista do espaço territorial
vital, o Lebensraum, na constituição
do III Reich.
Após os primeiros ajustes internos
para melhorar a economia, novas provi-
31. O trágico resultado
da loucura:
6 milhões
de judeus assassinados.
dências visavam à reestruturação bélica.
Abandonou a Liga das Nações, reativou
o serviço militar e direcionou os esforços
científicos do país para o desenvolvimento de tecnologia militar.
Com o subterfúgio de reunir no mesmo território os alemães que viviam fora
do país, Hitler iniciou a expansão de suas
fronteiras, retalhadas pelo Tratado de
Versalhes. As regiões do Sarre e da Renânia foram reintegradas. Os preparativos
não deixavam dúvida: Hitler aprontavase, avidamente, para a guerra.
Ostentando o seu novo poderio bélico, o führer pressionou o governo austríaco, impondo-lhe o anchluss (união),
ação expressamente proibida pelo Tratado de Versalhes. Após uma crise política,
a Áustria cedeu. O artifício da ameaça
foi novamente utilizado, em 1938, na
tomada da Tchecoslováquia. Desta vez,
Hitler contava com o apoio político de
um importante aliado: Benito Mussolini,
o Duce (chefe), que conduzia na Itália o
regime fascista, ideologicamente afinado
com o nazismo.
As peças estavam postas no tabuleiro, o próximo movimento, um acordo
secreto com a União Soviética, garantia a
não-agressão mútua e combinava a futura
partilha do território da Polônia, próximo
alvo nos planos de conquista de Hitler.
A guerra
Em 1º de setembro de 1939, as
Forças Armadas alemãs (Wehrmacht)
invadiram a Polônia. É o ato inicial do
que viria a ser a Segunda Guerra Mundial. Um milhão de soldados, em 75
divisões, iniciaram a blitzkrieg* contra
600 mil poloneses fracamente armados.
Com a ajuda da Luftwaffe (Força Aérea
Alemã), a Polônia foi subjugada. A França e a Grã-Bretanha, relutantes no início,
não tiveram outra opção que honrar suas
obrigações com aquele país e declarar
guerra à Alemanha.
Com a conflagração, as tropas alemãs
avançam sobre vários países europeus.
No segundo conflito mundial
extinguiram-se mais vidas do
que o número total de vítimas
de grandes embates históricos
como as Guerras Napoleônicas, a Guerra Franco-Prussiana, a Guerra da Coréia, a
Guerra do Vietnã, e a Primeira
Guerra Mundial somados.
Em setembro, era assinado o Pacto Tripartite com Itália e Japão, constituindo
as forças do Eixo. A França aguardava
“segura” atrás da Linha Maginot, um
conjunto de fortificações construído no
nordeste do país e nos Alpes, fronteiras
com a Alemanha, Bélgica e a Itália. Os
franceses imaginavam-se imunes aos
avanços nazistas, supondo que a impressionante fortificação asseguraria as suas
fronteiras. Em 1940, Hitler, surpreenden-
do os franceses, contorna a sofisticada
linha de defesa atacando pelo bosque
das Ardenas, considerada por todos
uma área intransponível. Disfarçando
seus movimentos, a Wehrmacht invade
o país rapidamente, impedindo qualquer
reação. Caíra a França.
Derrotados, os franceses tiveram de
aceitar a ocupação germânica, a divisão
de seu território e o colaboracionismo de
um novo governo. Concomitantemente
às ações da guerra, em Berlim e em
outras cidades dos territórios alemães,
crescia a perseguição aos judeus. A população semita fora isolada em infectos
guetos, espoliada de suas posses, privada
de alimentação regular, água e recursos
de saúde. Na aplicação da insana doutrina nazista, milhões de judeus seguiam
desses lugares para campos de concentração. Eram submetidos a trabalhos
forçados e, sistematicamente e de forma
covarde, o regime de Hitler promovia o
extermínio étnico.
Com a vitória no oeste, Hitler voltou sua cobiça para a imensidão dos
territórios do leste, em especial a União
Soviética. Em 22 de junho de 1941, a
Wehrmatch — que já dominava a Romênia, Bulgária e Hungria e conquistara
a Iugoslávia e a Grécia — invadiu o
território soviético, abrindo uma nova e
temerária frente de batalha para forças
alemãs. Imediatamente, os soviéticos
receberam o apoio dos aliados e iniciaram as manobras de combate em defesa
do país. Utilizaram estratégias de terra
Revista Boa Vontade
31
32. História
arrasada — que não deixavam nada para
trás que os alemães pudessem aproveitar
— enquanto promoviam o desmonte e
transporte de suas indústrias para áreas
distantes, além dos montes Urais, longe
do alcance imediato dos nazistas. Alheios
a esse esforço, os alemães avançaram até
os arredores de Moscou, organizando
suas linhas para a tomada da cidade.
Do outro lado do mundo, um fato
mudaria totalmente o panorama da guerra. Os EUA, até então se esforçando em
manter a neutralidade no conflito, são
atacados de surpresa em 7 de dezembro,
na base naval de Pearl Harbor. Os americanos finalmente declaram guerra ao
Eixo e o conflito se alastra para o resto
do globo. A iniciativa americana de se
envolver no conflito assemelhava-se ao
“despertar de um gigante”. Antes da conflagração, os americanos desenvolveram
sua indústria de guerra e reuniram uma
produção bélica 50% mais poderosa do
que as da Alemanha e Japão somadas.
No período de 1943 a 1944, os Estados
Unidos fabricavam um navio por dia e
um avião a cada cinco minutos.
Mas, enquanto os EUA estavam fora
de combate, japoneses ocuparam vários
países na região do Pacífico. Apesar do
sucesso inicial das forças do Eixo, os
ventos estavam prestes a mudar e, dessa
vez, sopravam contra Berlim, Roma e
Tóquio.
A virada
No verão de 1940, a Inglaterra
enfrentava o poderoso assédio da Luftwaffe. Nesse período, enquanto os
americanos mantinham sua neutralidade
no conflito, encontrava-se praticamente
sozinha no ofício da resistência à dominação nazista. Londres era bombardeada
dia e noite. Durante os intensos ataques,
os londrinos refugiavam-se nas estações
e túneis subterrâneos do metrô aguardando o pior. A estratégia de resistência e
defesa britânica dependia visceralmente
da aviação inglesa. A RAF — Royal Air
Force —, em desvantagem numérica,
travou célebres combates nos ares sobre
o Canal da Mancha, engajando-se contra
os numerosos alemães com um ímpeto
heróico. Com efeito, os esforços dos
pilotos ingleses impediram o avanço dos
planos de invasão das ilhas britânicas
32 Revista Boa Vontade
e, impondo tantas perdas à força aérea
inimiga, fizeram o führer recuar em sua
estratégia. Um milagre operado pela coragem dos combatentes britânicos. Não
foi sem propósito que o célebre primeiroministro Winston Churchill proferiu em
seu discurso, referindo-se aos bravos
aviadores da RAF que detiveram os
ataques maciços da Luftwaffe: “Nunca,
na história dos conflitos humanos, tantos
deveram tanto a tão poucos”.
A indústria soviética, já reconstituída,
permite o reaparelhamento do Exército
Vermelho. Em Moscou, o “General
Inverno”, antigo aliado dos russos, fez
sua parte castigando as divisões alemãs encarregadas do cerco à cidade.
Com a melhora das condições de
combate dos soviéticos, os alemãs,
sem provisões regulares e equipamentos adequados ao frio intenso,
vêem frustradas suas aspirações de
tomar a cidade e acabam esmagados pelo avanço do novo Exército
Vermelho. Foi o fim das ilusões de
invencibilidade do exército alemão e
um marco do início da vitória aliada.
Em vantagem numérica e com
equipamentos melhores, os soviéticos
alcançam o triunfo contra a Wehrmatch
na batalha por Stalingrado. O quarto
exército alemão, sob o comando do
general Von Paulus, rende-se em 31
de janeiro de 1943. O combate durou
cinco meses. Dos trezentos mil soldados
alemães, noventa mil morrem de frio e
fome e mais de cem mil são mortos nas
três semanas anteriores à rendição. O
povo soviético também paga caro por seu
triunfo contra a barbárie de Hitler. Vinte
milhões de vidas são perdidas, quase
metade do número global de mortes de
toda a guerra.
Na África, em maio de 1943, as forças do general alemão Erwin Rommel
(o Afrikakorps) capitulam. Em julho de
1943, os Aliados desembarcam na Sicília
e, em setembro, avançam até Nápoles.
Mussolini é destituído (e morto), e a
Itália muda de lado. Tropas alemãs ainda
ocupavam Roma, o centro e o norte do
país, mas a ofensiva aliada toma a capital
em junho de 1944, chegando ao norte de
Florença em setembro. Em abril de 1945,
as forças alemãs na Itália, cercadas, também se rendem. É fundamental lembrar
que esta importante conquista contou
com o abnegado esforço dos soldados da
Força Expedicionária Brasileira (FEB),
que lutou bravamente, como em outras
partes do mundo, em solo italiano, em
especial na memorável tomada de Monte
Castelo, em 21 de fevereiro de 1945.
Os alemães pagavam caro pelos delírios de poder do führer.
Divididas em
A batalha dos
aliados contra o
Japão prossegue até
agosto quando, no
dia 6, a pequena
bomba atômica “Little
Boy” foi lançada
sobre Hiroshima do
B-29 “Enola Gay”.
Para saber mais:
BEEVOR, Antony. Berlim 1945: a queda.
Rio de Janeiro: Record, 2005.
Segunda Guerra Mundial : 60 anos: a
ofensiva do nazismo, Volume 1.
São Paulo: Abril, 2005.
Segunda Guerra Mundial : 60 anos: o
mundo sob Hitler, Volume 2.
São Paulo: Abril, 2005.
33. várias frentes de batalha, a Wehrmatch
era comprimida pelas forças aliadas.
Havia ainda um grave problema na
cadeia de comando alemã: Hitler. Suas
intervenções alucinadas em decisões
estratégicas para a condução das forças
alemãs haviam se mostrado, por fim,
mortais. Era evidente
a deterioração de
seu quadro psicológico.
Sua obsessão anti-semita chegara a
tal ponto que ele próprio ordenara o que
convencionou chamar “solução final”
para os judeus presos nos numerosos
campos de concentração alemães espalhados pela Europa. O trágico resultado
da loucura: 6 milhões de judeus assassinados.
Em 6 de junho de 1944, chamado de
“Dia D” pelos Aliados, sob o comando
do general Einsenhower, realizou-se o
ataque estratégico, pelo Canal da Mancha, que daria o golpe mortal nas forças
nazistas que ainda resistiam na Europa.
Cinqüenta e cinco mil soldados norteamericanos, britânicos e canadenses desembarcaram nas praias da Normandia,
noroeste da França, na maior operação
aeronaval da História, envolvendo
mais de 5 mil navios e mil aviões. Os
combates são sangrentos, milhares de
soldados morreram ainda na praia, tentando transpor as fortificações do litoral
da Normandia. Apesar das baixas, a
operação teve êxito graças ao fato de as
demais tropas alemãs permanecerem,
por ordem pessoal de Hitler, no interior
do país, em vez de serem estacionadas
na costa, como havia pedido inutilmente
o marechal-de-campo Erwin Rommel.
Graças a esses erros estratégicos, foi
impossível uma contra-ofensiva alemã.
Os aliados estavam de volta à França.
O ataque combinado de ingleses
e americanos libertou a França, os
Países Baixos e a Bélgica, fechando
o cerco a Hitler pela frente ocidental. A fronteira alemã anterior
ao início da guerra foi cruzada
pelos aliados em Aachen a
12 de setembro, ao mesmo
tempo em que eram realizados
bombardeios aéreos contra
cidades industriais alemãs. Em
Dresden, o volume de bombas
foi tamanho, cerca de 3.500
toneladas, que 35 mil moradores,
incluindo crianças, morreram. O
fósforo das bombas transformou os
corpos numa massa liquefeita, que se
fundia no asfalto.
No início de 1945, os soviéticos, do
lado leste, e os norte-americanos, do lado
oeste, iniciaram uma verdadeira corrida
para Berlim, no intuito de dar cabo ao
conflito. A Wehrmatch, espalhada em
duas frentes, apenas recuava, somando
inúmeras baixas a cada quilômetro.
Por fim, após diversas batalhas, o que
os alemães mais temiam aconteceu: os
soviéticos chegaram primeiro. Era o fim.
Quando Hitler ouviu o soar das armas
soviéticas a dois quarteirões do bunker da
Chancelaria do Reich, num ato derradeiro de loucura, suicidou-se com um tiro na
cabeça. Sua esposa, Eva Hitler, o segue
no ato insano e envenena-se. Seus corpos
foram arrastados para fora e queimados.
A 7 de maio, o seu sucessor, o almirante
Dönitz, assinou a capitulação alemã.
A batalha dos aliados contra o Japão
prossegue até agosto quando, no dia 6, a
pequena bomba atômica “Little Boy” foi
lançada sobre Hiroshima do B-29 “Enola
Gay”. O morticínio não tinha precedentes, e o mundo nunca vira arma de tamanho poder. Como o Japão ainda resistia,
no dia 9 uma outra bomba semelhante,
“Fat Man” é lançada pelo B-29 “Bock’s
Car” sobre Nagasaki. Foi demais para
as forças do Império do Japão. Os dois
engenhos nucleares causaram cerca de
300 mil mortos instantaneamente, e
um número indeterminado de vítimas
posteriormente, em decorrência da
contaminação pela radiação. Em 14 de
agosto de 1945, o general Tojo, do Japão,
apresentou a rendição incondicional,
dando fim ao mais terrível conflito da
História.
Infelizmente, o mundo, após o cessarfogo, continuou a empunhar as armas.
Durante o restante do século XX e, ainda
hoje, o que se viu (e se vê) é o desfilar
de guerras sucessivas, numa seqüência
infame de morticínios injustificáveis.
De fato, o silêncio no front nunca foi
“ouvido”. O caminho pacífico é da renovação profunda dos ideais humanos,
como podemos ver neste trecho do livro
Reflexões da Alma, da Editora Elevação,
de autoria do jornalista Paiva Netto:
— “Num futuro que nós, civis, religiosos e militares de bom senso, desejamos próximo, não mais se firmará a Paz
sob as esteiras rolantes de tanques ou ao
troar de canhões; sobre pilhas de cadáveres ou multidões de viúvas e órfãos; nem
mesmo sobre grandiosas realizações de
progresso material sem Deus. Isto é, sem
o correspondente avanço ético, moral e
espiritual. O Homem descobrirá que não
é somente sexo e estômago. Há nele o
Espírito eterno, que lhe fala de outras
vidas e outros mundos, que procura
pela Intuição ou pela Razão. A paz dos
homens é, ainda hoje, a dos lobos e de
alguns loucos imprevidentes que dirigem
povos da Terra.
A Paz, a verdadeira Paz, nasce primeiro do coração limpo do Homem.
E só Jesus pode purificar o coração da
Humanidade de todo o ódio, porque
Jesus é o Senhor da Paz.”
____________________
* Blitzkrieg — A guerra-relâmpago foi a tática
empregada pela Alemanha na Segunda Guerra
Mundial para surpreender e esmagar o inimigo.
Desenvolvida pelo general Heinz Guderian, consistia no avanço rápido de blindados, apoiados
por aviões e pela infantaria motorizada. Um dos
objetivos dessa estratégia era causar pânico na
população civil, obrigando-a a fugir, o que dificultava o avanço das tropas inimigas.
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