Matéria veiculada no Jornal Correio Braziliense em 13/05/2012, a respeito da colocação no mercado de trabalho do profissional com Altas Habilidades/Superdotação.

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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 13 de maio de 2012 231 OFERTA
INTELIGÊNCIA
Superdotados mostram ser possível aproveitar no mercado a capacidade acima da média, mas a condição não é
garantia de sucesso profissional. É importante identificar precocemente as altas habilidades e saber lidar com elas
» MARINA MERCANTE
À PROVA Monique Renne/CB/D.A Press
Diagnóstico além do QI
imagem de um superdotado é cercada de A conceituação mais aceita na atualidade é a do
A mitos. A princípio, vem à mente um aluno
nota 10, um adolescente que tem respos-
tas para tudo e um adulto com fortes tra-
ços de genialidade. Por isso, enfrentar dificulda-
des no mercado de trabalho estaria fora de cogita-
pesquisador norte-americano Joseph Renzulli.
Segundo ele, o superdotado é quem apresenta um
conjunto de três características bem definidas:
habilidade acima da média, envolvimento com a
tarefa e criatividade. O diagnóstico, normalmente,
ção. Não é bem assim. Associar inteligência a su- é feito durante o período escolar. Embora o teste de
cesso profissional é natural, mas deve ser feito QI seja válido, não é o único instrumento
com ressalvas. O êxito de alguém com alta capaci- considerado. Também são adotadas a observação
dade para determinada área depende de escolhas em sala de aula e as indicações de professores, de
ao longo da vida. Além disso, o talento pode pas- familiares ou do próprio superdotado. Na rede
sar despercebido caso colegas, chefes e o próprio pública de ensino, um psicólogo faz uma avaliação
trabalhador não saibam lidar com a situação. O que pode durar até três meses. São usadas
reconhecimento formal e precoce da superdota- ferramentas da psicologia e da pedagogia, sempre
ção também é essencial para o bom desempenho com base na teoria de Renzulli.
no mundo corporativo. Afinal, os números de pes-
soas identificadas no Brasil ainda está aquém das
estimativas de superdotados existentes.
Embora eles encontrem espaço mais favorável
no meio acadêmico (leia mais na página 2), usual-
mente aberto à criatividade e à inovação, há super- Ex-aluno da rede pública, Jhonathan descobriu cedo a aptidão em linguagens: hoje, é bibliotecário do Ipea
dotados realizados profissionalmente no serviço
público, na iniciativa privada ou atuando como em-
preendedores. “Ser bem-sucedido tem a ver com fa- profissional. “Sou novo, com apenas 23 anos, e isso estudiosos,dizerquealguémésuperdotado dá a falsa Então, trabalhamos isso. Fica natural para o jovem por-
zer a escolha certa. Para os superdotados, não é di- não é uma competição. Tenho outras prioridades impressão de que se trata de um sabe-tudo. “Quem que a gente dá ênfase à área de interesse dele”, afirma.
ferente. Ou seja, é necessário optar por uma carreira além do trabalho. Por exemplo, quero aprender a na- tem aptidões cognitivas pode ter dificuldades emo-
na qual seja possível colocar em prática as habilida- dar”, comenta. tivas, por exemplo, e quem possui facilidades psico- Ambiente favorável
des desenvolvidas desde a infância”, afirma a psicó- Sobre o potencial que possui, avisa: “Não tenho motoras pode enfrentar problemas de memoriza-
problema em contar, mas também não saio por aí ção”, justifica a presidente do Conbrasd. Altas habi- Para evitar que as deficiências se sobreponham às
loga Cristina Maria Carvalho Delou, que preside o
falando. O que conquistei até hoje foi porque me lidades, alta capacidade ou habilidades especiais habilidades, além de escolher a ocupação compatí-
Conselho Brasileiro para Superdotação (Conbrasd).
dediquei, estudei”, pondera o rapaz. Cristina De- são sinônimos usados paraa superdotação. vel com a superdotação, é preciso estar em um am-
Foi assim com o brasiliense Jhonathan Divino
lou defende que os colegas de trabalho devem sa- Maria Aparecida de Oliveira, professora de língua biente profissional favorável — o que é difícil em al-
Ferreira dos Santos, 23 anos, identificado como su-
ber quando há um superdotado por perto: “Não é e literatura que acompanhou Jhonathan na sala de gumas situações. “Ao contrário do que parece à pri-
perdotado na área de linguagens ainda na época es-
questão de se mostrar, mas de facilitar o relacio- recursos (leia mais na página 3) do Centro Educacio- meira vista, superdotados podem apresentar uma
colar, quando frequentava um colégio público em
namento. Você só fica bem em um meio quando nal Elefante Branco durante o ensino médio, sabe dificuldade maior do que o normal para se inserir no
Taguatinga. Hoje, acumula os diplomas de gradua-
os outros sabem quem você é. Além disso, deve- que diferenciar as aptidões das dificuldades demons- mercado. Por possuírem uma visão mais abrangente
ção em biblioteconomia e especialização em tecno-
mos aprender a conviver com nossos talentos e tradas pelo aluno faz a dife- das coisas, muitas vezes acabam não tendo suas opi-
logia da informação, ambos pela Universidade de
nossas deficiências. Uma pessoa pode ser su- rença no futuro profis- niões aceitas pelo grupo”, opina Cristiane Fabian da
Brasília (UnB). Ele trabalhou durante seis meses na
perdotada em uma área e ter dificuldades sional. “O mercado Costa Cruz, presidente da Mensa Brasil, sociedade
Escola das Nações antes de assumir o cargo de téc-
em outra”, afirma. de trabalho hoje formada por pessoas de alto QI.
nico de desenvolvimento e administração — espe-
Justamente por isso, a nomen- quer saber de Além do mais, os processos seletivos nas em-
cialidade biblioteconomia no Instituto de Pesquisa
clatura para quem tem habili- criatividade. presas dão valor às habilidades de relacionamen-
Econômica Aplicada (Ipea), onde está desde maio
dades acima da média cos- to em detrimento de outras, acredita Cristiane.
de 2009. Bem adaptado, diz que consegue usar seus
tuma causar polêmica. “Não quero dizer que os superdotados sejam an-
conhecimentos no dia a dia profissional.
Issoporque,paraalguns tissociais. O que ocorre é que a maioria deles tem
Jhonathan tem habilidades em outras áreas. Por is-
pouca paciência para assuntos banais e prefere
so, a rotina fora do serviço é agitada: faz dança, é cate-
ficar longe de grupinhos em algumas situações, o
quista, canta em um coral e está concluindo um curso
que acaba sendo malvisto pelos participantes
de francês. Já sabe espanhol e inglês. Não quer abrir
desses grupos”, analisa.
mão do atual emprego, mas pretende fazer mes-
trado e doutorado. E esclarece: não tem pressa
para definir o futuro » Leiapáginas 2 eesse assunto
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