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Filhos: educando daqui para a eternidade por Douglas Wilson e
Nancy Wilson
Copyright © 2018 by Canon Press Publicado originalmente em
inglês sob o título: Why Children Matter 1a edição 2019
ISBN ebook: 978-85-85034-30-6
Tradução: Elmer Pires Revisão: Cesare Turazzi Capa e Diagramação: Tiago
Dias Versão Ebook: Tiago Dias
Todos os direitos reservados à:
Editora Trinitas LTDA São Paulo, SP
www.editoratrinitas.com.br
PRIMEIRA PARTE | POR QUE DAQUI PARA A ETERNIDADE
Capítulo 1: A Definição de Família
Capítulo 2: Sejam Mímicos de Deus
Capítulo 3: Sacrifique com Júbilo
Capítulo 4: Um Não em um Mundo de Sim
Capítulo 5: Os Três “L’s”
SEGUNDA PARTE | OS FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA Capítulo 6: Filhos de Deus
Capítulo 7: Quatro Princípios Para a Disciplina
TERCEIRA PARTE | EDUCAÇÃO E ADMOESTAÇÃO
Capítulo 8: A Necessidade de uma Paideia Cristã
Capítulo 9: Princípios e Métodos
Capítulo 10: Criação de Filhos e a Comunidade
Capítulo 11: Há Somente um Esconderijo Contra o Pecado
QUARTA PARTE | MAIS PARECIDOS COM CRISTO
Capítulo 12: Sejam Meus Imitadores
Capítulo 13: Pais Dignos de Imitação
Capítulo 14: Seja um Imitador de Cristo
ANEXO
Perguntas e Respostas com Doug e Nancy
PRIMEIRA
PARTE
CAPÍTULO 1
A família é uma comunidade divinamente estabelecida. A instituição da família — consistindo em
um homem, uma mulher e seus filhos — foi criada por Deus, não por homens. Não é uma porção
arbitrária de indivíduos, nem algo que meras criaturas possam definir.
O Congresso não pode votar para decretar no que consiste a família tanto quanto não pode votar
para decidir se a gravidade existe ou não. O Congresso pode decretar que a água corre rio acima, mas
não importa o quanto vote, seus integrantes não são capazes de mudar aquilo que Deus estabeleceu
previamente.
Da mesma forma, se o Congresso votasse por revogar a lei da gravidade, e algumas pessoas
decidissem pular de uma colina ou de um arranha-céu, talvez estes tivessem a sensação de liberdade
por um instante — estamos voando! —, mas nada mudaria a realidade do que a gravidade é e do que
ela faz. Igualmente, mesmo que a Suprema Corte banisse o casamento, embora pudesse destruir a
vida de muitas pessoas, isso não destruiria a realidade do casamento em si. O matrimônio foi
estabelecido por Deus logo no princípio do mundo. Ele não será movido, ele não será modificado.
Uma vez que, em primeiro lugar, a família não foi inventada por nós, não temos o direito de
reinventá-la. Por essa razão, os pais devem tomar cuidado para não tratar a família como algo
remendado e administrado com técnicas desenvolvidas por especialistas. Logo, não inicie a leitura
deste pequeno livro achando que está lidando com um punhado de técnicas inteligentes e perspicazes
que têm por fim obter uma família perfeita. Cada membro da família é uma pessoa criada à imagem de
Deus, e, se desejamos conduzi-la adequadamente, devemos atentar para a Palavra de Deus como
nosso primeiro e mais importante guia. Isso inclui tratar todos os membros de uma família como
pessoas, e não como se fossem mais um número numa fila de espera.
Quando se fala sobre família, criação de filhos, entre outros assuntos práticos, depressa passamos
a desejar livros com títulos como: Três Passos Para… ou Doze Passos Para… ou Os Segredos do…,
etc. Mas este livro não é um exercício de autoajuda terapêutica — mas, sim, é a proclamação do
Evangelho incorporada à vida em família. Se você olha para a sua família, e não enxerga princípios do
Evangelho, então você está olhando para a sua família de olhos fechados.
Em especial os pais jovens devem aproximar-se das Escrituras, famintos por instrução sobre como
realizar tamanha tarefa, principalmente aqueles que não tiveram um bom exemplo paterno ou materno.
Pais podem dar a seus filhos algo que seus próprios pais não lhes deram, pois nosso Deus quebra os
ciclos do pecado.
Mesmo que sem um bom modelo vindo daqueles que o geraram, ainda que desprovido do exemplo
de como tornar-se um pai piedoso ou uma mãe piedosa, você não está limitado a imitar as pessoas ao
seu redor. Aprender por meio da imitação direta é uma grande bênção e ajuda, mas a Bíblia ensina que
podemos imitar pessoas a partir daquilo que foi escrito acerca delas, sejam biografias, sejam exemplos
da própria Escritura. Deus é o Deus de novos começos, Aquele que abençoa até mil gerações. Quando
Deus diz que visita a iniquidade de até três ou quatro gerações, esta não é uma ameaça severa, mas
um ato de misericórdia. Isso porque Deus está, com isso, limitando a reação em cadeia do pecado.
O título deste pequeno livro é Filhos: Educando Daqui Para a Eternidade, mas eu poderia aumentá-
lo para Filhos: Educando Daqui Para a Eternidade, e Por Que Isso Importa a Todos Nós. Os princípios
do Evangelho descritos aqui carregam aplicações para todas as áreas da vida, mas em particular para
as famílias que estão criando e educando seus filhos.
Além do mais, se você estiver lendo esse livro e pensando que não tem nada que ver com crianças,
devo dizer que preste bastante atenção também: quando solteiro e alistado na Marinha, aportado em
uma base em Norfolk, frequentei a Tabernacle Church.
Era uma grande igreja, na qual estava ligada uma próspera escola cristã. Se soubesse que, dentro
de poucos anos, estaria no meio da tentativa de começar também uma escola cristã, teria prestado
mais atenção ao que acontecia naquele lugar. Havia muito que aprender. Mesmo ainda jovem e recém
tentando descobrir o número do telefone do pai dela, preste atenção. Para falar a verdade, se estiver
tentando conseguir o número do pai dela, você já está um tanto adiantado.
CAPÍTULO 2
Sede, pois, imitadores de Deus,
como filhos amados.
(Efésios 5.1, ARA)1
Efésios 5.1 diz que devemos ser imitadores de Deus. Escolhi a versão em inglês ESV nessa parte,
pois a versão King James (salvo indicação em contrário, foi a que utilizei neste livro) traz a construção
“be followers of God,2 isto é, “sejam seguidores de Deus”, mas a palavra grega traduzida por
“seguidores” [followers] é justamente de onde extraímos os termos “mímica” e “imitação”. Paulo está
ordenando que imitemos, que copiemos a Deus. Somos filhos amados de Deus, e devemos olhar para
Ele como filhos que olham para o próprio pai.
Deus nos criou para sermos criaturas que refletem, criaturas imitativas. Imitamos instintiva e
naturalmente. Não só imitamos aqueles que estão em um mesmo nível, tais como nossos amigos,
conhecidos, colegas de estudo, de trabalho e familiares, mas também pegamos muitas coisas daqueles
que estão acima de nós. Aprendemos a andar e a falar conforme nossos pais, mas a imitação
fundamental à qual a Bíblia nos chama é a imitação daquele que adoramos.
Os idólatras tornam-se semelhantes àquilo que adoram. O Salmo 115.4–8 diz que os idólatras
adoram estátuas que têm olhos mas não veem, ouvidos que não ouvem, narizes que não cheiram, e
termina, declarando: “tornem-se semelhantes a eles os que os fazem”. Se você adora algo surdo, mudo
e cego, logo você se torna surdo, mudo e cego. Se seu deus for imóvel, você também será imóvel. Se
o seu deus for fundamentalmente impessoal, por resultado você se tornará cada vez menos pessoal.
Da mesma forma os adoradores do Deus verdadeiro, eles tornam-se semelhantes àquele que
adoram, como Paulo deixa claro em 2Coríntios 3.18: “E todos nós, com o rosto desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua
própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. O Deus a quem adoramos é o sol que brilha sobre nós;
e nós somos a lua, refletindo-o. Diante de Deus em adoração, somos transformados de glória em
glória; e nisso, à medida que transformados, também desejamos transmitir essa glória a nossos filhos.
Em poucos lugares as ramificações desse princípio da imitação são tão importantes quanto na
criação de filhos. Para tanto, a imitação é absolutamente crucial. Você não quer que seus filhos o
imitem, a menos que você próprio seja um imitador de Deus. Se você não imita a Deus, se você não o
busca, observando sincera e abertamente sua face em adoração semanalmente, sendo transformado
de glória em glória, então a última coisa a desejar é que seus filhos o imitem. Mesmo assim, a má
notícia é que seus filhos vão copiá-lo, queira isso ou não. Ao nascerem, você até pode procurar por um
manual de instrução. Pode sentir que não tem ideia do que fazer. Porém, há uma falsa premissa nessa
preocupação — você tem uma Bíblia. Seu dever é adorar a Deus, imitá-lo, e pedir a Ele que caminhe
lado a lado, agora que você ingressou no desafio de ser pai.
Tendemos a pensar que o poder é usado destrutivamente, a fim de impor algo a alguém. Mas, como
Deus faz uso do poder? Este é utilizado para o bem, para a salvação e maturidade do povo de Deus.
Ele deseja que o seu próprio povo seja salvo, e o poder do seu braço é o que Ele usa para salvar-nos.
Deus quer que cresçamos. Ele não deseja suprimir ou sufocar com um relacionamento asfixiante. Deus
não nos força a ser como Ele é, mas nos convida a crescer cada vez mais no ato de imitá-lo, e seu
Espírito nos auxilia à medida que crescemos.
Às vezes, quando os filhos já adultos visitam a casa dos pais no Dia de Ação de Graças, estes lhes
perguntam por qual motivo não fazem visitas com mais frequência. Nesse caso, pode ser que os pais
sejam exigentes e grudentos. Ironicamente, quando os pais criam e educam os pequenos tendo por
objetivo uma independência bíblica e piedosa, seus filhos, na verdade, desejam gastar tempo com eles
na idade adulta.
O propósito do pai ou da mãe é, por fim, ser o instrumento de salvação para os filhos. Você não é a
base que os salvará, mas, sim, é ordenado a imitar Aquele que é o fundamento da salvação. O mesmo
ocorre no casamento. O marido não pode oferecer a si mesmo como expiação vicária, substitutiva por
sua esposa.
O único que pode fazer isso é Jesus Cristo. Porém, o marido é ordenado a imitar aquilo que não é
capaz de fazer. O mesmo acontece no caso do pai e da mãe. Pais, vocês não são capazes de salvar
seus filhos. Não há um botão que pressionar ou uma só decisão a tomar, para daí transformar-se numa
base de salvação. Vocês obviamente não são graça salvadora para seus filhos, mas são ordenados a
imitá-la e a facilitá-la, permeando-a na atmosfera do lar. Deus é poderoso para salvar.
CAPÍTULO 3
O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com
alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo.
(Sofonias 3.17)
Ponderemos agora sobre esse versículo de Sofonias e o coloquemos ao lado de Efésios 5.1.
Efésios diz que Deus nos trata como filhos. Uma vez que a Escritura mostra como Ele nos trata,
desejemos ser nós também à semelhança dele na forma de tratar nossos filhos. Do mesmo modo como
Ele nos trata, devemos nós tratar nossos próprios filhos. E vemos em Sofonias que Deus se deleita em
nós.
Quando Jesus interveio para salvar-nos, Ele o fez pagando um alto preço. Havendo tomado o
pedaço de pão que representava seu corpo, Ele o ergueu e deu graças. Conforme Hebreus 12, Jesus
fez o que realizou na cruz “em troca da alegria que lhe estava proposta”. Nossa santa ceia é chamada
de Eucaristia. O que isso significa? Eucharisto é a palavra grega para ação de graças, significando que
a refeição da Eucaristia é uma refeição de agradecimento. É uma refeição de gratidão, não só porque
agradecemos a Deus por aquilo que Cristo fez por nós, mas também porque Ele agradeceu a Deus
quando Ele próprio a instituiu. Esse é o tipo de espírito grato que vemos em Sofonias. Deus é poderoso
para salvar, e Ele salva com júbilo.
Agora sabemos, a partir da história de toda a Bíblia, que a salvação envolve sacrifício, sangue,
requer que coisas sejam despedaçadas. Aquele que não conheceu pecado se fez pecado por nós, mas
Ele o fez com júbilo. Jesus não só deu graças durante a noite em que instituiu a Ceia, mas, mais tarde,
Ele e os discípulos cantaram um Salmo, e então partiram (Mt 26.30; Mc 14.26). Jesus literalmente
cantou enquanto se preparava para ir à cruz.
Logo, os sacrifícios por seus filhos devem ser feitos com júbilo, deve ser possível praticá-los
cantando. Se não há uma cântico em seus lábios, não é um sacrifício bíblico. Sem uma canção de
alegria, o sacrifício não passa de um tipo de Ai, coitadinho de mim, vejam como sou mártir!, entre
outros tipos que não dão nada, exceto um retorno medíocre. O esperado é que você não manifeste
cânticos de júbilo e regozijo por seus filhos só quando eles forem adoráveis, enquanto estiverem
dormindo, em tempos de pura harmonia, uma vez que não estão se comportando mal naquela hora. A
vida é mais complicada que isso, e tudo — incluindo a bagunça — deve ser encarado com uma
canção. O deleite que estamos imitando não é do tipo irrealista. Nosso tipo de deleite leva em
consideração o mundo como ele é, e, mesmo assim, se regozija. Manifeste júbilo por seus filhos
enquanto se sacrifica por eles, enquanto sofre penas, enquanto eles próprios não fazem ideia do
quanto está deixando por causa deles.
Regozije-se até mesmo no dia em que eles forem sair de casa e seguir o próprio rumo, mesmo que
isso envolva o alistamento na Marinha ou entrar numa universidade. Esperançosamente, como pai ou
mãe, você, na verdade, os está preparando para o crescimento — e não apenas para boas conversas
com a mamãe. “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só
carne” (Gn 2.24).
Os filhos vão embora, as filhas são dadas em casamento. Há muitos pais evangélicos,
conservadores e sentimentais que guerreiam contra isso e querem adiar esse dia. Pais que se irritam
com seus filhos por terem então um emprego ou cônjuge e filhos, o que dificulta passar um tempo
juntos, batalham contra a estrutura que Deus criou para o mundo.
É óbvio, não estou dizendo para evitar um relacionamento com seu filho adulto e com seus netos. O
Salmo 103.17 diz que “a misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade, sobre os que o temem, e
a sua justiça, sobre os filhos dos filhos”. Devemos nos regozijar pelos filhos de nossos filhos. Tenhamos
um relacionamento com cada um deles, não como cobertores sufocantes, mas com regozijo por tudo
aquilo que Deus dá.
CAPÍTULO 4
Quando criou a raça humana, Deus colocou Adão num jardim repleto de delícias, com apenas uma
proibição no meio dele. Fora do jardim, nada era proibido, e dentro dele, havia apenas uma coisa
proibida. Além disso, creio eu, a árvore do conhecimento do bem e do mal seria proibida por apenas
certo tempo, e por isso, depois de aprovados no período de teste, Deus lhes permitiria comer dela.
Quando pegaram daquele fruto, Adão e Eva foram julgados por pegá-lo prematuramente, não que a
árvore do conhecimento do bem e do mal fosse má em si mesma. Por toda a Escritura, o conhecimento
do bem e do mal é o que os reis usam enquanto governam e julgam (p. ex., 1Reis 3.9). Esse é o tipo
de conhecimento que faz com que reis julguem corretamente. Mas Adão e Eva ainda não estavam
preparados.
No entanto, que essa proibição fosse ou não revogada mais tarde, embora Adão e Eva tivessem
desobedecido a essa única proibição e sido punidos como resultado disso, Deus viu que o golpe mais
severo de retaliação por esse pecado afinal caíra sobre Ele. Que tipo de Deus é esse? Deus deu a
Adão um mundo perfeito, uma esposa perfeita, um ambiente perfeito, uma missão perfeita, uma
vocação perfeita, e então, mesmo quando Adão e Eva transgrediram, fazendo a única coisa proibida
daquele mundo perfeito, ainda assim Deus prometeu que a descendência da mulher destruiria a
descendência da serpente, esmagando sua cabeça (Gn 3.15).
Imite isso. O ambiente do lar deve ser repleto de graça. Quando repleto de graça, o lar não
permanece sem padrões. Não se trata de introduzir anarquia moral. A graça não é uma massa amorfa
e gelatinosa. A graça tem uma espinha dorsal. Porém, quando os fundamentos são transgredidos, os
sacrifícios mais pesados no ato de restauração são realizados pelos guardiões da graça, não pelos
executores da lei, não por aqueles que apontam o dedo, não pelos familiares que acusam os pais, nem
por pessoas que corrigem em um tom nasal de autopiedade.
Imagine que seu filho tenha desobedecido, e por isso você lhe diz: “Como acha que você me faz
sentir agindo assim? Já disse milhares de vezes para não fazer isso”. Embora seja verdade que a
repetição é uma parte necessária na educação dos filhos, o tom trêmulo da autopiedade e a voz
exasperada não são. Essa não é uma maneira bíblica de pastorear os filhos, pois eles aprendem por
meio da imitação. Ao presenciar um adulto se sentindo um coitado, nossa reação imediata não é de:
“Ó, coitadinho!”. Se repleto de autopiedade, seus filhos já estão aprendendo uma lição. Mas o que um
filho aprende não é sentir dó de você, mas, sim, a dizer: “Como acha que isso me faz sentir?”. E
acontece que isso pode se repetir.
Aquele que dá egoísmo, recebe egoísmo. A coisa mais fácil do mundo é encontrar um padrão moral
na Bíblia e então aproveitar-se dele de modo egoísta. O pai egoísta dá exemplo de egoísmo. Um jardim
repleto de graça pode conter uma árvore da lei. Um jardim repleto de lei não pode conter uma árvore
da graça. Caso haja somente lei em seu jardim, mas com uma árvore da graça ao centro, esta não é de
fato oriunda da graça. É uma árvore de méritos, e você terá bons filhos apenas por causa da
recompensa: “Eu fui bonzinho, posso ganhar minha recompensa agora?”.
Eu sei, dizer que a atmosfera em seu lar deve ser de “total graça” pode parecer sem sentido ou um
tipo de presbiterianismo zen, mas aguente um pouco. Mark Twain era o exemplo de pessoa profana,
homem que tinha o costume de abusar do uso da linguagem profana, e sua esposa não gostava nada
daquilo. Certo dia, ela decidiu deixá-lo profanar, e então virou-se e, calmamente, recitou-lhe cada
palavra que o ouvira dizer. Ele a fitou e então disse: “Querida, você conhece as palavras, mas não
reconhece o tom”. Agora, inverta o processo: muitos cristãos conhecem as palavras “graça”,
“misericórdia” e “perdão”, mas não reconhecem o tom delas. Nosso tom pode ser encontrado na
passagem do capítulo anterior: Sofonias 3.17. Deus se regozija em nós com júbilo.
Quando direcionada a um fim, a disciplina tem seu propósito. Nenhuma correção parece prazerosa
quando aplicada, mas sua glória é encontrada na colheita (Hb 12.11). A criação de filhos não é uma
escrituração abstrata, mas, sim, uma história que se espalha desde o lavrar e plantar até o colher.
Trata-se de uma história, e é necessário manter um olho na história de modo a, quando disciplinar seus
filhos, manter o outro na colheita — neste caso, para o próprio bem deles. A colheita vem quando eles
também compreendem o fruto pacífico de uma vida correta.
Quando na idade adulta, você é quem cresceu e compreende o tempo. Aos três anos de idade, um
ano é um terço de toda a existência de vida. Aos olhos de um pai ou de uma mãe, não passa de mais
um poste na estrada. Estes, portanto, devem ter uma melhor compreensão do tempo e da história do
que um bebê de um ano. . . certo?
Dificuldade numa história é graça; dificuldade sem uma história é apenas dor. A instrução dos filhos
é a oportunidade que você tem de amá-los enquanto os prepara para a colheita, mas isso significa que
é preciso ter a colheita em mente.
CAPÍTULO 5
Quanto ao viver cristão, há três “L’s” para escolher: legalismo, licenciosidade, liberdade. No lar,
surge o legalismo quando pais tentam estabelecer valores tradicionais ou uma atmosfera disciplinada
baseados na pura autoridade paternalista e influenciados pelo benefício próprio. Estes desejam que
seus filhos se comportem de tal forma que não os irrite. Eles falam para não arrastar coisas pela sala,
porque isso incomoda e deixa qualquer um maluco. No entanto, pai e mãe devem ser motivados pelo
desejo de ver seus filhos aprendendo a ter autocontrole, preparando-os para o mundo e para a idade
adulta. Devemos corrigir nossos filhos para o benefício deles mesmos, e não nosso.
Quanto ao legalismo, é o rigor que se torna o padrão fundamental. A licenciosidade ocorre quando
os pais percebem que o legalismo demanda trabalho demais. Acontece que, depois de tantos
melindres, até mesmo os filhos se revoltam e explodem. Como resultado, os pais simplesmente
abandonam todos os padrões, rejeitando tudo como um monte de tolice legalista, tornando o ato de ser
pai ou mãe uma longa corrente de desculpas e teorias de Facebook sobre a ineficiência de dar
palmadas.
Se você contou a vinte e oito pessoas só nessa semana que “seu filho não cochilou hoje” como
desculpa para a desobediência dele, então talvez seja hora de reavaliar alguns conceitos. Bem
sabemos que há momentos quando não é pretexto, mas uma explicação plausível. No entanto,
recorrendo a esse tipo de subterfúgio todas as vezes, você está apenas tentando fazer com que as
pessoas não notem sua falta de sabedoria e disciplina.
A liberdade não é uma posição intermediária entre o legalismo e a licenciosidade; é algo totalmente
diferente. Temos grande dificuldade com ela. Liberdade não é legalismo moderado, nem licenciosidade
moderada. A liberdade é mais rigorosa que o legalismo; a liberdade é mais libertadora que a
licenciosidade. Jesus disse a seus discípulos: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em
muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus” (Mt 5.20). Jesus não lhes disse que
fossem fariseus moderados, mas que os excedessem.
A liberdade foi comprada para nós por Cristo na cruz, não por nossos recursos e justificativas. A
justiça da liberdade sobrepuja a do legalista, e a alegria da liberdade ultrapassa a do libertino. Se
deseja ser um pai cristão piedoso sem se tornar um cristão piedoso que morre para si mesmo e para
seus próprios desejos, então você não entendeu nada desde o começo.
A graça é o que todos nós devemos aprender como cristãos individuais; é o que aprendemos
quando adoramos a Deus com sinceridade tanto como indivíduos quanto como pais e mães piedosos.
Viver em um ambiente de pura graça, e que também se envolve com a lei, é algo que somente o
Espírito de Deus pode conceber.
Os filhos percebem quando temos prazer neles conforme nos regozijamos em ser imitadores de
Deus. É assim que o mundo funciona.
Então qual direção estamos tomando? Filhos são criaturas que carregam a imagem de Deus. Como
pecadores, essa imagem está desfigurada, pois eles estão afetados pelo pecado de Adão, assim como
todos nós, mas como santos, essa imagem está sendo restaurada neles, bem como em nós. Eles
foram afetados pela queda assim como nós, mas a imagem de Jesus Cristo está sendo formada neles,
bem como em nós.
Agora que Cristo veio e nos redimiu da condenação da lei, foi-nos dada a oportunidade, como Paulo
diz, de criar nossos filhos “na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6.4). Os filhos também estão
no capítulo 6 do livro de Efésios, mas ainda é parte do mesmo processo que Paulo começou a
descrever no capítulo 1.
O propósito de Deus e o bom conselho de sua vontade incluem os filhos, portanto, criá-los na
disciplina e na admoestação do Senhor significa que tanto pais quanto filhos estão se despindo do
velho homem e se revestindo do novo homem. Você e seus filhos estão se despindo do velho homem.
Você e seus filhos estão se revestindo do novo homem. Deus está em busca de uma linhagem, e é
desde o começo que Ele está em busca de uma linhagem. Por que Deus os fez, homem e mulher, um
só? Ele estava em busca de uma “descendência piedosa” (Ml 2.15). Por essa razão é que educamos
nossos filhos daqui para a eternidade.
SEGUNDA
PARTE
CAPÍTULO 6
Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o
Senhor, teu Deus.
(Deuteronômio 8.5)
Já escrevi muitas vezes que a teologia emana de quem você é. Não importa no que você diga
acreditar, sua teologia da justificação e sua teologia da santificação são expostas de forma
microcósmica no relacionamento com seus filhos. Talvez isso o faça coçar a cabeça por um instante,
mas lembre-se de que não só queremos aprender a disciplinar nossos filhos de maneira bíblica, mas
fazê-lo em um contexto bíblico. Logo, esse pequeno livro não é uma lista de técnicas, e as Escrituras
não são uma pedreira de onde juntamos uma série de pedras. Desejamos apenas uma pedra, nosso
Senhor Jesus Cristo.
Pais e mães crentes devem criar seus filhos conforme o chamado que é feito aos cristãos, mas não
é possível criá-los assim fora do contexto do Evangelho. Buscamos compreender tudo aquilo que
fazemos pelo contexto do Evangelho da graça. Não se trata de uma série de técnicas para pessoas de
boa índole, decentes, respeitáveis, de classe média. Estamos abordando o assunto como cristãos,
pessoas libertas pelo Evangelho de Jesus Cristo, e queremos ser usados por Deus para conduzir
nossos filhos a essa mesma liberdade.
Deuteronômio 8.5 explicitamente diz que o Senhor tem um relacionamento com os seres humanos
que se espelha na relação que um pai tem com seu filho. É preciso meditar nessa verdade, e não
apenas reconhecê-la. Moisés disse ao povo que considerasse com o coração e meditasse sobre isto:
um homem corrige seu filho, e Deus faz o mesmo com aqueles que são seus filhos.
Quando somos salvos, Deus nos adota como parte de sua família, e isso significa que estamos em
um relacionamento entre pai e filho com Ele. O Senhor Jesus nos ensina a orar “Pai nosso, que estás
nos céus”. Jesus diz “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”
(Jo 14.6). Logo, Deus é o nosso Pai. As Escrituras geralmente fazem distinção entre justificação e
santificação. A justificação estabelece o fato desse relacionamento, enquanto a santificação determina
a direção dessa relação.
A questão nisso tudo é que você é um filho de Deus pelo dom gratuito da graça de Deus. A
santificação é o processo por meio do qual Deus nos comunica o que Ele deseja que sejamos
conforme crescemos em sua família. Deus não disciplina os filhos do vizinho: Ele disciplina seus
próprios filhos. As dores da santificação dão testemunho do fato de que somos filhos de Deus. Não
existe santificação sem direção, e direção significa disciplina.
Entendemos o que a Bíblia diz sobre Deus Pai e sobre nossa busca por aprender como disciplinar
nossos filhos. Ao mesmo tempo olhamos para o nosso modo de discipliná-los, e aprendemos coisas
sobre nosso relacionamento com Deus. A forma de agir com nossos filhos nem sempre é o melhor jeito
de aprender sobre Deus, mas, às vezes, pela graça divina, fazemos a coisa certa, e isso nos dá a
oportunidade de aprender mais sobre o que Deus tem feito em nossa vida.
CAPÍTULO 7
A disciplina, se corretamente considerada, é uma forma de sabedoria. Do contrário, ela não pode
ser chamada de sábia. A disciplina é dolorosa, mas nem tudo o que é doloroso é disciplina. Devemos
ser adultos em nosso pensar — cachorros têm quatro patas, mas nem tudo com quatro patas é um
cachorro. Então consideremos alguns princípios para a disciplina, sendo cada um deles refletido no
relacionamento que Deus tem com seu povo.
Em primeiro lugar, disciplina não e punição. A disciplina tem como finalidade a correção,
enquanto a punição visa justiça e retribuição. A pena capital, por exemplo, não tem por objetivo a
correção do criminoso. Até pode ser que, na bondade e benevolência de Deus, alguém no corredor da
morte clame ao Senhor e seja convertido, mas esse não é o propósito da pena de morte. Um dos
grandes erros de nossos dias é tentar fazer com que os magistrados civis dominem a responsabilidade
da disciplina. Por que temos penitenciárias? É para lá que vão os penitentes. Todo o sistema de
penitenciárias foi criado pelo Estado para realizar a obra da disciplina que pertence à família, a qual o
magistrado civil não é capaz de cumprir. Ao magistrado civil está designada a espada (Rm 13), não a
vara da disciplina.
A Bíblia ensina que os os pais devem disciplinar seus filhos, e não os punir. Hebreus 12.11 diz:
“Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois,
entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça”. A disciplina visa
a colheita ou o objetivo, ou porque há um problema a ser corrigido (a forma negativa da disciplina) ou
porque há imaturidade ou fraqueza ainda sem correção (a forma positiva da disciplina). Enfim, a
disciplina sempre deseja partir de um lugar para outro a fim de concretizar algo.
Você não coloca cada filho numa banheira por um período semelhante de tempo por pensar em
direitos iguais. Algumas crianças precisam ficar na banheira por um período menor de tempo, e outras
precisam de mais, pois estão sujas dos pés à cabeça. Dar umas palmadas, disciplinar comportamentos
e corrigir atitudes não é punição, mas disciplina, cujo propósito como um todo é tornar possível a
chegada a determinado ponto. Não se considere um juiz distribuindo justiça para todos os lados. Tanto
a disciplina quanto a punição são boas em seus devidos momentos, mas não são a mesma coisa. Pais
(especialmente quando com filhos pequenos) de forma alguma devem pensar em termos de
julgamento ou retribuição.
Em segundo lugar, certifique-se de disciplinar não com muitas regras, mas com alguns
poucos princípios. Você é um pai, não uma agência regulamentadora. Aplicações específicas podem
sempre ser deduzidas de princípios, ao contrário de quando se introduz princípios a partir de uma série
de comandos individuais, o que não alcança o mesmo resultado.
Lembro-me de, quando criança, ter recebido de meu pai três regras. Não só isso, mas lembro
também onde eu estava no jardim da frente quando ele deu essas regras, e me lembro da maneira
carinhosa e afetuosa com que ele me as deu (ele pôs o punho em frente do meu rosto). Seus três
princípios foram: 1) Sem desobediência, 2) Sem mentira, 3) Não desrespeite a sua mãe. Agora, isso
não abrange tudo?
Foque nas leis que são como raiz, e não naquelas que, como folhas, estão na ponta dos galhos.
Jesus ensina que há dois grandes mandamentos que resumem todo o Antigo Testamento: amarás ao
Senhor teu Deus de todo o teu coração e o teu próximo como a ti mesmo (Mt 22.37–40). Esses dois
correspondem aos Dez Mandamentos — o maior mandamento corresponde aos quatro primeiros, o
segundo grande mandamento corresponde aos últimos seis. Todas as outras leis do Antigo Testamento
encaixam-se debaixo deles dois. Disciplina por princípios significa que seu sistema de disciplina faz
sentido. Ela é ordenada. Não um caos de mandamentos que dependem do estado emocional da
mamãe ou do papai enquanto as diretivas são dadas.
Multiplicamos normas e regras porque, caso o desejo seja acusar, sempre há com o que acusar.
(Não tenho dúvidas de que a grande maioria de vocês esteja desobedecendo pelo menos a alguma
regulamentação estatal enquanto lê este livro). Mas essa é a forma de um tirano pensar, não de um pai
ou de uma mãe. Pense em termos de “mantenha a simplicidade, seja direto”. Deus nos deu a Bíblia, e
você pode reduzir a lei do Antigo Testamento a dez requisitos que cabem em uma ficha — e após isso
você pode reduzi-los novamente a dois.
Se perguntássemos “O que o Congresso quer que façamos?”, teríamos de encher prateleiras e
mais prateleiras de regulamentações. Isso porque o Governo Federal não procura obediência, mas, ao
contrário, tenta controlar a vida dos cidadãos. Pais não devem agir assim.
Lembre-se de que Deus deu um jardim perfeito a Adão e Eva: havia um mundo repleto de sim, mas
apenas um não. Diminua o número de nãos em seu lar. Essa é uma outra forma de dizer que, como pai
ou mãe, você deve escolher suas batalhas cuidadosamente. Suponha que, durante um mês, após cem
ordens dadas, seus filhos tenham desobedecido constantemente. Seria muito melhor reduzir tudo a dez
ordens e tê-los seguindo cada uma das dez, melhor isso do que manter as cem, mas ter apenas um
quinto delas obedecido. O pai com cem ordens pode até conseguir conformidade mais vezes, mas a
média de acertos será terrível. E o que se tem incutido é confusão quando uma criança nunca sabe se
o papai vai dar uns tapas ou se a mamãe vai explodir. O mundo delas será muito mais estável e seguro
se a quantidade de requisitos for reduzida, mas sempre tendo a obediência como alvo. É tudo uma
questão de equilíbrio.
Em terceiro lugar, fique calmo. A correção é necessária quando alguém falha, mas a Bíblia diz
como aplicá-la: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o
com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado” (Gl 6.1). Essa passagem
nos diz como devemos corrigir um ao outro no Corpo. Durante o batismo de infantes, uma das coisas
que os pais prometem fazer é tratar a criança como um irmão ou irmã no Senhor.
Quando altamente motivado a disciplinar seus filhos, você, de acordo com essa passagem, não
está qualificado para fazê-lo. E por “altamente motivado” não quero dizer motivado pelo Espírito Santo,
mas por seus nervos, sua raiva, suas paixões. Tudo está dando nos nervos, as crianças estão em
cima, então você explode, e daí as corrige. No caso, a correção se dá por causa de um zelo emocional
que só quer vê-los de boca fechada. Não é a disciplina devida pela transgressão da Palavra de Deus,
mas a repentina por causa do orgulho afrontado.
Gálatas 6.1 diz que, para corrigir um irmão, você deve ser espiritual: “corrigi-o com espírito de
brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado”. Sempre que corrigir seus filhos, você será
tentado. Faça-o, mas examinando a si mesmo, a fim de não ser tentado, e cair. Mas, quando
qualificado para disciplinar, você nem sempre se sentirá motivado. Vejamos, você está em paz com
Deus e com o mundo, sentado em sua grande poltrona de papai assistindo ao jogo, e um de seus filhos
então desdenha de algo que sua esposa disse. Você até pode estar qualificado para discipliná-lo
naquele momento, mas, justamente por estar tudo propício, não se sente no clima. No entanto, mesmo
não sentindo vontade, a sua disciplina precisa estar baseada em princípios e no que Deus deseja que
você faça naquele instante, e não em seu estado emocional. Talvez você sinta vontade de disciplinar
justamente quando não deveria, e talvez não a sinta exatamente quando deveria, logo, não baseie a
disciplina no estado de suas emoções. A fim de ensinar obediência, sua disciplina deve ser em si
mesma obediente e disciplinada.
Citei a frase “qualificado para disciplinar”. Não cometa o erro de pensar que, por ter sido culpado do
mesmo tipo de pecado quando criança, não está qualificado para disciplinar seus filhos. Sua condição
para disciplinar deve estar baseada no que Deus manda fazer naquele momento, e não baseada no
fato de ter ou não sido a criança que deveria ser. Se não foi o tipo de filho que deveria ter sido, ainda
assim você não deve consertar esse fato do passado recusando-se a ser um bom pai no presente.
Arrependa-se e comece a fazer da maneira de Deus de hoje em diante. As condições ideais para tanto
estarão ou não presentes no momento da disciplina.
A verdadeira disciplina diz respeito à comunhão restaurada. Quando cometido, o pecado quebra a
comunhão na família. A disciplina busca tratar essa transgressão a fim de desfazer seus efeitos (Ef
4.32). E há chances de isso dar errado. Se, para começo de conversa, já não houvesse comunhão,
será impossível restaurar aquilo que não existe. Caso os filhos sejam um sofrimento constante graças a
caprichos e desobediência, com instantes periódicos de dor aguda, que alguns chamam de “disciplina”,
a reação a isso será algo como “Eu te odeio, eu te odeio, eu te odeio”. O filho que não deseja voltar ao
jardim da comunhão já não está dentro dele.
Se os momentos de disciplina afastam seus filhos mais e mais, que isso lhe sirva de sinal. Eles
podem nunca ter pertencido ao jardim, para início de conversa, e é aí que você precisa começar a agir.
Agora, se todos estão em comunhão, se o seu lar é um lar feliz, então, quando o pecado transgredir
tudo isso, e você discipliná-los, seus filhos desejarão voltar. Eis um sinal saudável.
Outra forma de dar errado é aplicar a disciplina quando se está com raiva. A disciplina piedosa
subtrai do número de ofensas; ela não acrescenta. Seu filho foi desobediente e duas ou três coisas
quebraram a comunhão no lar; caso o discipline com raiva, a comunhão do lar será ainda mais
perturbada. A “disciplina” não ajudou. Se o momento de disciplina adiciona ofensas, então não é
disciplina. A disciplina subtrai, restaura, e coloca as coisas no devido lugar. Se isso não estiver
acontecendo, você provavelmente não tem uma comunhão cristã, amorosa em seu lar.
Gostaria de adicionar mais uma coisa a esse terceiro princípio: fique calmo e aplique a correção
física mesmo assim. Anteriormente, mostrei que em Gálatas 6.1 somos ordenados a corrigir nossos
irmãos, guardando-nos para também não sermos tentados. Mesmo então, você o faz da forma como
Deus diz que deve ser feito. A disciplina da vara não deve ser entendida como uma forma de
autoexpressão. Trata-se de uma forma de correção e de agradar a Deus. Não é uma maneira de
ventilar os sentimentos. Se precisa usar para desabafar emoções, você não está qualificado. A
palmada precisa ser muito mais judiciosa e calma que isso. Porém, permanecendo calmo, e motivado
por obediência à Palavra, o que Deus diz? Em Provérbios 23.13–14, a Palavra de Deus diz: “Não
retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara
e livrarás a sua alma do inferno”. Nisso estamos imitando a nosso Pai: Hebreus 12.6 declara que Deus
castiga todo aquele que recebe por filho.
Vivemos numa época em que um grande número de pais cristãos, embora profundamente tolos,
têm tentado disciplinar de forma tola. Daí, descobrindo que isso não funciona, concluem que o
problema deve estar na Palavra de Deus, e não na aplicação inepta proposta por eles. Tratando-se de
uma correção pecaminosa, sua aplicação deve ser abolida. Muitos não entendem isso e acabam por
jogar tudo fora. A Palavra de Deus nos diz o que devemos fazer. Não rejeite o que a Bíblia claramente
ensina. Recusando-se a ouvi-la, você não livrará seu filho, que está a caminho da destruição.
Sim, a disciplina física é ensinada na Bíblia, mas isso não significa uma necessidade de disciplinar
seu filho a cada dez minutos, havendo ou não necessidade. Não estamos falando de abuso de
menores — as palmadas devem doer, nunca lesionar.
A “disciplina física não funciona” ocorre de duas formas: uma quando corrige seu filho, e ele
aprende a ficar longe toda a vez que você pisa em casa ou liga a TV. Não passa de abuso. Deus não o
chama para espancar seu filho; se isso é o que tem feito, seu dever é arrepender-se e buscar o perdão
de Deus e de seus filhos. Um pai jamais deve espancar seus filhos.
O outro erro, e francamente o mais comum, acontece quando se dá uma palmada ou um tapinha
ocasional e muito inconsistente por cima das fraldas. Bom, a criança simplesmente foi deslocada por
uns dezoito centímetros, e nada mais. Aquela pequena coisinha endiabrada vai reagir assim: “Rá! Eu
desafio você e toda sua deplorável tentativa de intimidar a dona do mundo!”.
A disciplina é uma linguagem universal. Ela comunica. A disciplina piedosa supera. Deve haver
conquista, do contrário não pode ser considerada piedosa. Muitas vezes, pais relutam em disciplinar
quando necessário, pois pensam que seus filhos têm a mentalidade fraca em relação à causa e ao
efeito da piedade. A mãe pode dizer “Acho que minha ovelhinha” — conhecido pelos de fora como
tornado uivante, e por seus irmãos como Rasputin de pijamas — “não compreende a conexão entre
fazer birra e a palmada. Ele parece tão triste e desnorteado”. Você disse não entende a causa e o
efeito da disciplina?
Mas como, sendo ele um verdadeiro gênio das causas e efeitos da impiedade? Diga, ele
compreende a conexão entre choramingar e conseguir o que quer? Ele compreende essa relação
casual. . . então por que não entenderia o relacionamento causal entre mostrar o dedo e ser
disciplinado? Provérbios 19.19 diz: “Homem de grande ira tem de sofrer o dano; porque, se tu o
livrares, virás ainda a fazê-lo de novo”. Esse é o princípio de causa e efeito. Ao limpar a barra de
alguém que perdeu a paciência, mesmo que tenha dois, trinta, sessenta anos de idade, você terá de
fazê-lo outra vez. Quando isso acontece, a criança é recompensada por agir sem medir as
consequências. Ganha-se mais daquilo que foi atenuado, perde-se o que não foi penalizado.
Em quarto lugar, disciplina é amor. A Bíblia declara isso de duas formas: primeiro, positivamente:
“porque o Senhor corrige a quem ama” (Hb 12.6). Quando Deus ama, Ele corrige. O mesmo princípio é
declarado negativamente apenas alguns instantes depois: “Mas, se estais sem correção, de que todos
se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos” (Hb 12.8). Em Provérbios 13.24 temos o
princípio declarado de forma negativa: “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama,
cedo, o disciplina”. Sem disciplina física eficaz, você odeia seus filhos. Se não os disciplina de acordo
com a Palavra de Deus, não me importa a sua estrutura emocional — você não os está amando. O
amor não é definido por nossa estrutura emocional, mas por aquilo que a Bíblia diz. O ódio é definido
por aquilo que a Escritura declara, e a Palavra de Deus diz que não disciplinar os filhos praticamente
equivale a desprezá-los — e isso inclui renegá-los ao não fazer nada mais do que dar tapinhas por
sobre as fraldas.
Logo, a disciplina sem eficácia é uma forma de negar, rejeitar, odiar seus filhos. Deus não age
assim conosco, portanto não devemos agir dessa maneira com nossos filhos. Ao mesmo tempo,
queremos corrigir nossos filhos enquanto manifestamos todo o fruto do Espírito. Por isso disciplinar
crianças é a vida cristã de forma microcósmica. Não se trata de uma busca secular desconectada de
questões como o pecado e o perdão, o Evangelho e a redenção. O ato de disciplinar os filhos está
totalmente relacionado a Jesus. Estamos nutrindo almas, não treinando filhotes. Essa é uma forma de
discipulado e ministério, e não pode ser um ministério sem ter Jesus no centro.
Não se conquista a justificação pelo experimentar da disciplina. A santificação não conduz à
justificação, e nosso lugar em Cristo não foi dado porque alguém nos arrastou até Ele mediante a
correção física. Você foi adotado pela livre graça divina. E então Deus coloca em você uma das marcas
de pertencimento: Ele disciplina todo filho que tem. Medite nisso. Deus o está amando quando o
disciplina. Você recebe o dom da disciplina santificadora como resultado da livre graça.
Quando garoto, nas vezes em que era disciplinado, meu pai, sempre calmo e sensato, dava-nos
uma oportunidade de autodefesa, geralmente bem fraca. Ele nos disciplinava e então nos segurava,
orava conosco, e dizia algo do tipo: “Tudo está completa e totalmente perdoado, e você pode voltar e
reingressar na família como um membro integralmente participante dela, desde que não fique mal-
humorado com o que acabou de acontecer”. Lembro-me de sentar no porão, ouvindo o feliz tilintar dos
talheres no andar de cima, como o filho pródigo em terra distante.
Quando isso acontecia, antes de me arrepender e reingressar na família, eu era um Wilson? Eu era
um Wilson no porão tanto quanto era e fui em qualquer outro momento da minha vida. Na verdade,
esse era o porquê de eu estar lá. Meu pai não fazia aquilo com os filhos do vizinho (por mais tentador
fosse de vez em quando). Eu estava lá pois eu era um Wilson. A membresia na minha família nunca
esteve mais segura do que quando eu estava sentado lá, sob disciplina.
Estava feliz em ser um Wilson? Não necessariamente. Eis que você é um cristão justificado. Essa é
a sua posição como cristão. E então Deus disciplina, açoita, corrige. Ele opera coisas diferentes e que
introduzem problemas em nossa vida; se ficamos bravos ou chateados, é como se estivéssemos
sentados nas escadas do porão, não querendo voltar a fazer parte da família. Você é bem-vindo a mais
uma vez subir as escadas a qualquer momento e aprender a lição a partir disso. Aprendendo a lição,
enxergando que a santificação relaciona-se com a justificação, você entende como a disciplina de seus
filhos retrata isso também. Sua teologia da justificação e sua teologia da santificação destilam da ponta
de seus dedos, especialmente se você estiver disciplinando seus filhos.
TERCEIRA
PARTE
CAPÍTULO 8
E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do
Senhor.
(Efésios 6.4)
Na parte anterior, distinguimos a disciplina da punição. Essa distinção inicial mostra que a disciplina
é corretiva, enquanto a punição está preocupada apenas com a justiça ou retribuição. Quando ordena a
execução de um criminoso, o magistrado não tenta transformá-lo numa pessoa melhor, mas está
simplesmente executando justiça. Isso pode ou não tornar o criminoso uma pessoa melhor, porém a
questão não é disciplinar, mas, ao contrário, punir. O que os pais fazem em casa é disciplinar, não
punir.
Uma vez aceita a responsabilidade de aplicar a disciplina paterna ou materna, descobre-se que, em
si mesma, ela ocorre sob duas categorias: corretiva e formativa. A disciplina corretiva é a correção de
pecados manifestos no passado, bem como a correção daquilo que diz respeito ao futuro. A disciplina
formativa antecipa aquelas tentações típicas ao homem e busca incutir certos traços de caráter
antecipadamente.
Nesse texto, a responsabilidade é dada aos pais. Tomando toda a Escritura, sabemos que ambos,
pai e mãe, são responsáveis por essa tarefa crucial (por exemplo, no livro de Provérbios, um jovem é
exortado a obedecer à lei de sua mãe). Paralelamente, vale notar que a responsabilidade central nessa
passagem é dada ao pai. Deus impõe mandamentos sobre nossas fraquezas. Mães geralmente não
precisam ser exortadas ao interesse e ao investimento na contínua instrução diária de seus filhos. Os
pais precisam ser exortados dessa forma, e Paulo faz exatamente isso.
Também nos é ensinado, poucos versículos antes, que o marido é o cabeça da esposa assim como
Cristo é o cabeça da Igreja, e isso significa que o pai é o responsável por tudo o que acontece no lar.
Ele é o responsável, em primeiro lugar, por não se tornar uma provocação para seus filhos.
Novamente, Deus dá mandamentos às nossas fraquezas. Quando a Bíblia diz “Pais, não façam isso”
ou “Esposas, não façam aquilo” ou “Filhos, não façam isso e aquilo”, Deus está falando sobre coisas
que possivelmente faríamos, não fôssemos exortados a evitá-las. Logo, os pais têm uma tendência a
provocar seus filhos, e o apóstolo está contra-atacando essa postura. Quando um pai faz seus filhos
tropeçarem em ira, seu pecado antecede o dos filhos e é muito mais grave. Em Lucas 17.2, Jesus diz
que seria melhor que um homem tivesse uma pedra de moinho amarrada ao pescoço do que fazer
tropeçar um de seus pequeninos.
Agora, o pai de família é responsável por prover para seus filhos uma educação e criação cristãs.
Filhos cristãos precisam receber muito mais que uma educação cristã, mas o mínimo é a receber. As
palavras traduzidas em Efésios 6.4 por “disciplina e admoestação” são paideia e nouthesia. Ambas são
quase sinônimas, logo é difícil dizer qual palavra é traduzida para qual palavra. Ambas poderiam ser
traduzidas por “disciplina”, e ambas poderiam ser traduzidas por “admoestação”. Tome ambos os
termos, e eles abrangerão e, necessariamente, exigirão uma educação cristã.
O que chamamos educação não é tão grande quanto o termo desse comando, mas é,
necessariamente, um componente crítico. Quando se fala de educação cristã, todos pensam em
escolas, história, geografia, matemática. Logo nos vem à mente aquele período “formal” específico,
mas, embora a paideia o inclua, ela não se limita a isso.
Hoje em dia, a educação é concebida como “despejo de informações”, mas a exigência crua e
bruta, sem instrução, é uma forma de provocação. Já por outro lado, os pais não devem permitir que
seus filhos se esquivem da obediência, exigindo explicações. “Por que temos que fazer isso?”. É uma
obrigação dos pais responder a esse tipo de pergunta, mas também penso que um pai astuto dirá: “Vou
dizer uma coisa. Essas perguntas são ótimas. Por que você não limpa a garagem como eu disse para
fazer, e quando terminar, sentamos e conversamos sobre o motivo de eu ter pedido isso, certo?”. De
repente parece que a criança não quer mais as respostas às perguntas que ela mesma fez; tudo o que
ela quer é adiar a limpeza da garagem. E você não quer uma criança exigindo explicações como
substituto da obediência.
Paralelamente, se é rotina para o seu filho ouvir nada além de “porque eu mandei”, e eles não
fazem ideia do porquê são pastoreados nessa direção, algo está drasticamente errado. As duas
metades desse versículo estão conectadas: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-
os na disciplina e na admoestação do Senhor”. Ensinar, instruir e fazer com que o mundo tenha sentido
são maneiras de não provocar os filhos à ira.
Seu filho é provocado à ira se você não o mune de habilidades. Ainda criança, ele não é preparado
para trabalhar duro, para estudar níveis mais elevados de matemática, para manter um emprego, para
responder bem às autoridades. . . daí, quando cai a ficha é que se costuma perceber que o trem já
partiu e que já é tarde demais. Não houve preparo. E quem foi que não os preparou? Se o pai não
proveu uma educação cristã piedosa, então ele negligenciou o que Paulo ensina nesta passagem.
Você já leu a respeito desse importante ponto da disciplina algumas vezes, mas ele se aplica à
paideia cristã também. Então, aqui está, de novo: a diferença entre a disciplina corretiva e a formativa é
que, quando as coisas vão ativamente mal, a disciplina corretiva as coloca de volta nos trilhos,
restaurando a comunhão entre pais e filhos, enquanto a disciplina formativa previne o pior no futuro.
Toda disciplina é corretiva, mas alguns tipos corrigem erros passados e outros previnem erros futuros.
Suponha que uma mãe, ao sair pela porta, diga a seu filho que termine a lição de matemática antes
de jogar videogame. Suponha que ele entre no modo de racionalização típica de um menino do Ensino
Fundamental e comece a pensar sobre quanta matemática está envolvida na programação de
videogames, e que, na verdade, o espírito da matemática está impregnado nesses jogos! Quando,
mais tarde, naquela noite, de súbito suas explicações e racionalizações desaparecerem como o orvalho
da manhã e as vierem consequências, sua mãe estará impondo o primeiro tipo de disciplina, a
disciplina corretiva sobre um incidente do passado.
O segundo tipo de disciplina é deixar estabelecido que a lição de matemática deve vir em primeiro
lugar. A lição de matemática pode fazer uma criança sentir-se perseguida. Lá está, uma pilha de
tarefas, não porque ela fez algo de errado, mas justamente porque seus pais querem que continue a
não fazer nada de errado ao longo de toda a vida. A lição de matemática exemplifica o preparo para um
dia futuro, e isso é disciplina formativa. Ela também é corretiva, mas é correção preventiva. O mesmo
ocorre em outros assuntos. Você está antecipando problemas comuns à vida, preparando seu filho e o
munindo para dias difíceis. Isso se conecta ao todo do tema da formação de caráter.
Certo escritor foi muito prestativo ao notar que a educação tem que ver com formação, e não tanto
com informação. Correção preventiva, feita da maneira certa, é um processo de construção de caráter.
Um dos grandes erros que os pais geralmente cometem é opor a parte acadêmica a questões de
caráter. Aprender a fazer o tipo de trabalho que as crianças aprenderam a fazer e que tiveram de
aprender por milênios não é o oposto da formação de caráter — em si já é formação de caráter.
Se um grupo de meninos estivesse usando pás para cavar uma vala, e um dos pais deles viesse e
buscasse seu filho para que passasse fazendo outra coisa em vez de cavar, esse não seria um
exemplo de focar no caráter em vez de cavar.
Embora o caráter seja mais importante que a vala, não a cavando, o caráter não é desenvolvido. O
que se tem é alguém que se debruça sobre a pá ou que vai para casa e se senta no sofá. Todas as
tarefas em nossa frente são oportunidades para a construção do caráter. Ao levar seu filho de volta
para casa, privando-o do trabalho de cavar aquela vala, você estaria se recusando a trabalhar no
caráter dele.
CAPÍTULO 9
Não se pode abordar todo esse assunto sem falar sobre princípios e métodos. Imagine uma rodovia
com quatro pistas de mãos contrárias, duas rumo ao céu e duas rumo ao inferno. Um Ford e um
Chevrolet estão nas pistas rumo ao céu, e nas duas pistas rumo ao inferno estão um Ford e um
Chevrolet. Os tempos são maus, tanto que, quando os Fords se cruzam, seus motoristas buzinam e
acenam um para o outro. O mesmo ocorre no caso dos Chevrolets. Os motoristas em direções opostas
podem sentir um senso real de solidariedade, uma vez que têm o mesmo tipo de veículo, mas estão
seguindo em direções completamente distintas.
Quando se trata de educação, alguns pais recorrem a colégios cristãos, outras ao ensino domiciliar,
e alguns às co-ops.3 Assim como na analogia do Ford/Chevrolet, o veículo não importa tanto quanto o
local para onde se está dirigindo. Alguns fazem escolhas diferentes por motivos bons e piedosos que
têm muito mais em comum do que outros que fazem as mesmas escolhas, mas por razões
completamente diferentes. A escolha em si não é tão importante quanto a motivação. Não queremos
cair em paralelos estúpidos de Ford-Ford ou Chevrolet-Chevrolet. Queremos pensar sobre o princípio
— criamos nossos filhos na disciplina e na admoestação do Senhor? Se a sua lealdade primária é aos
métodos, você não está pensando como um cristão. Se a sua lealdade primária é ao alvo, você se verá
em boa companhia com um número de pessoas buscando o mesmo alvo mas com métodos diferentes.
Mas qual é o alvo? A palavra paideia que Paulo usa em Efésios 6.4, a qual discutimos em capítulos
anteriores, é uma palavra de denso significado. Todo idioma tem palavras abrangentes como essa —
em nossa cultura, um exemplo disso seria a palavra “democracia”. Ela é tão importante que não seria
de impressionar se você encontrasse um estudo de três volumes acerca dela num sebo. Paideia era
uma dessas enormes palavras no mundo antigo, e ela se referia à enculturação de uma criança até o
ponto que ela pudesse tomar seu lugar como cidadão em uma pólis. Em outras palavras, paideia
referia-se à realidade toda abrangente, criadora da civilização. Paulo a usa para fazer referência a algo
muito similar. O apóstolo viu cristãos que outrora foram como que estrangeiros à comunidade de Israel
(ver Ef 2.12), mas que mais tarde tomariam seu lugar como cidadãos da nova Jerusalém (ver Gl 4.26;
Hb 12.22). A ligação é a mesma em Filipenses, falando de nossa cidadania nos céus (Fl 3.20). A
paideia cristã prepara a criança para as responsabilidades que ela terá como adulto no reino de Deus.
Quando Paulo ordena aos pais que providenciem uma paideia cristã, ele o faz antes que houvesse algo
como uma cultura cristã para os filhos dos primeiros cristãos de Éfeso que receberam essa carta.
A determinação de instruir filhos na paideia do Senhor é impressionante, principalmente porque não
havia civilização cristã na qual os enculturar. O que ele estava falando para o cristão de Éfeso fazer? A
fim de cumprir tamanha exigência, os primeiros cristãos tiveram de criar tal cultura, coisa que vieram a
concretizar mais tarde — e é por essa razão que estamos aqui hoje. A civilização ocidental é o
resultado desse esforço, e o reino de Deus não é a civilização ocidental, mas não há como contar a
história de uma sem contar a história do outro. Não se pode relatar a história da Igreja sem falar de
Carlos Magno, Alfredo, o Grande, nem se consegue falar sobre a civilização ocidental sem relatar os
primeiros Pais da Igreja.
Prosseguindo em cumprir essa obrigação, o alvo é fazer com que a civilização e o reino de Deus
tornem-se mais e mais sinônimos e de mais difícil desassociação. Neste momento, é muito fácil
diferenciá-los. Atualmente, a batalha entre as trevas e a luz é óbvia. E era muito mais óbvia quando a
Carta aos Efésios foi escrita. Mesmo assim, os cristãos primitivos fizeram o que o apóstolo Paulo
mandou fazer, e o resultado foi uma cultura cristianizada. Eles não o fizeram perfeitamente, e nós não
estamos nem perto disso, mas aqueles crentes criaram uma cultura na qual era possível educar os
filhos. É privilégio nosso ter aspectos significantes construídos por eles ainda funcionando como parte
de nossa herança, significando que não precisamos começar do nada como eles precisaram.
Muitos são os esforços e as conquistas que os cristãos devem almejar com aquela grande oração
de duas palavras, “Geronimo! Amen”.4 Deus é quem guia todo o processo. Mas agindo dessa maneira,
precisamos confiar no Senhor, sabendo que conhecemos apenas uma pequena fração de tudo o que
está acontecendo, mesmo quando diz respeito ao que acontece com nossos próprios filhos.
Consequentemente, nós simplesmente temos de receber a Palavra de Deus e busca-lá dando o nosso
melhor à medida que Deus nos capacita com sua graça.
CAPÍTULO 10
Enquanto com filhos pequenos, pais podem ser vítimas da aderência a determinada ideia — todos
os tipos de noções sobre estratagemas educacionais, esquisitices com a saúde, disciplinas infantis,
fobias alimentares, e assim por diante. Para a maior parte dessas coisas, podemos dizer, e
deveríamos, assim como o apóstolo Paulo, que cada um tenha opinião inteiramente definida em sua
própria mente (Rm 14.5). Uma das formas de manter a paz numa congregação diversificada é permitir
que os outros façam as coisas do jeito deles. O que é bom e a coisa certa a fazer. Porém, também é
preciso lembrar que não é sábio viver em uma sala de espelhos (2Co 10.12). Se ninguém pode abordá-
lo e questionar suas decisões, você tem uma atitude pagã. É seu dever estar totalmente convencido e
convicto ao final do dia, pois você é quem precisa tomar decisões para a sua família, mas também é
preciso estar aberto para receber opiniões de terceiros.
Se nunca presenciou o exemplo de pais piedosos educando os próprios filhos, busque
diligentemente por isso. Ao buscar conselhos e exemplos piedosos para imitar, tome cuidado.
Aprendemos por imitação, mas também invejamos por imitação. É preciso aprender a copiar sem
comparar.
Uma das grandes verdades que descobri ao construir a minha casa foi a natureza do trabalho com
cimento. Uma parte incrível de trabalhar com esse material é perceber que, poucas horas depois de
colocá-lo, não importa o que aconteça, o trabalho estará feito. Você não mais terá de preocupar-se em
ficar acordado até tarde para terminar a obra.
Seus filhos são esse cimento molhado. Isso não o obriga a tomar um percurso de ação em
particular, mas o obriga a adotar determinado comportamento. Aqueles ao seu redor têm a obrigação
de ajudá-lo na disciplina cristã do seu filho. Não chegamos ao nível “é necessário uma vila para educar
uma criança”, de Hillary Clinton, mas, em um sentido limitado, seus filhos são membros de pessoas do
pacto e de uma congregação pactual. É bem provável — é garantido, na verdade — que alguns pais
sentados na outra fileira saibam mais sobre o que está acontecendo com você e seu filho do que você
mesmo. Você pode não saber que seu filho é um incômodo, e a pessoa sentada do outro lado da igreja
pode não saber o nome do meio do seu filho — mas ela ainda é capaz de perceber que ele é um
incômodo. Precisamos daqueles que cuidam da nossa retaguarda.
Criar filhos na paideia do Senhor significa instruí-los a fim de que eles saibam que estão
incorporados em um corpo mais abrangente, maior que sua família. Não apenas maior que ela, mas a
Igreja de Deus é ainda mais importante. Você não é forçado a fazer tudo o que alguém diz, mas é
obrigado a ter disposição para ouvir sem ficar bravo. O Salmo 141.5 diz assim: “Fira-me o justo, será
isso mercê; repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo”. No final
das contas, existe a liberdade em Cristo de diferir dos irmãos quando estes diferem sobre pontos de
vista. Entretanto, você não tem o direito de ficar irritado enquanto se depara com uma perspectiva
diferente da sua. Você não tem o direito de ignorá-las, sem mais nem menos.
Estamos envolvidos na vida uns dos outros, e isso é conveniente, pois certos pecados e tropeços
vão à frente enquanto outros deixam rastros (1Tm 5.24). A insensatez própria dos pais é o tipo de coisa
que pode demorar para explodir — um de seus irmãos em Cristo pode perceber que algo vai acontecer
uma década antes da concretização. Entregue-se ao Senhor, leve sua petição diante do Senhor, clame
a Deus por isso. . . e esteja disposto a considerar a questão. Provérbios 12.1 diz: “Quem ama a
disciplina ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é estúpido”.
Você pode saber se está incutindo o tipo de disciplina correta em seus filhos ao reagir quando
alguém lhe sugere algo. Entrando na defensiva quando isso acontece, não se surpreenda ao ver seu
filho na defensiva quando você lhe der alguma sugestão. Ele está aprendendo a como ser ensinável
por você. Ou não.
CAPÍTULO 11
Crie seu filho para que ele assuma a posição que lhe cabe entre as pessoas, e isso quer dizer que
sair de casa significa sucesso. Assim como é dito em Gênesis, deixará o homem pai e mãe e se unirá a
sua mulher e os dois se tornarão uma só carne. Estabelecer uma família e um novo lar está no gene de
seus filhos. Em Os Quatro Amores, C. S. Lewis comenta sobre o tipo de amor carente que se recusa a
deixar ir. Isso não é criá-los com sucesso. A criação de filhos é prepará-los para a vida no reino de
Deus conforme este interage com o reino dos homens.
O que acontece na família que se forma duma escola cristã ou da comunidade de ensino domiciliar
não deve ocorrer isoladamente. Há tempos em que preparamos nosso povo para andar no lado de fora
da congregação, onde as pessoas são pecaminosas e irracionais. Ou seja, seu filho será maltratado.
Alguém dirá algo indevido. E daí? Bem-vindo ao mundo, filho. Não podemos criar nossos filhos
enrolados em algodão ou embrulhados com plástico bolha, onde nunca encontrarão pecado.
Pessoas me perguntam: “Por qual razão você matriculou seus filhos na Logos School?”.5 Fiz isso
por ser um lugar onde existe bastante pecado. Essa é uma ótima razão para enviá-los. Há centenas de
crianças, e elas pecam pra caramba — e os professores e administradores também são descendentes
de Adão. Temos todos os tipos de problemas. Mas o que também temos é uma comunidade onde nos
comprometemos a lidar com o pecado de maneira bíblica. Não há lugar no planeta onde você possa
esconder seus filhos da presença do pecado.
Ainda que os trancasse numa cabana no topo de uma montanha a oeste de Montana para lá educá-
los, notaria que nosso pai em comum, Adão, seguiu seus passos e o veria manifestando sua presença
de todas as maneiras. O pecado deve ser tratado com o Evangelho, não com isolamento ou com
coletes de proteção.
Eis um desafio, pois você e seus filhos recebem o preparo para o viver cristão justamente quando,
estando eles na classe de catecúmeno ou na escola, ou em uma co-op6, um professor não ensina algo
corretamente ou os trata indevidamente. Esconder-se do pecado de fora não nos protegerá do pecado
do lado de dentro. Há pessoas lá fora com pontos cegos e sentimentos de vingança. Há pessoas com
boas intenções que não acabam bem. Não há como esconder-se dessa verdade. Confronte-a com o
Evangelho e siga em frente.
Devemos munir nossos filhos para que eles encontrem esse tipo de coisa com um coração cheio do
Evangelho. Muna-os com o Evangelho, ensine-os a ter compaixão dos irmãos e das irmãs da igreja,
ainda que não concordem sobre todos os aspectos. Isso é o que significa construir uma comunidade e
viver nela. Isso nos leva de volta ao critério graça. O único lugar que existe para esconder-se do
pecado é Jesus Cristo. Qualquer outra técnica não surtirá efeito, não funcionará. Você deve confiar em
Jesus. Se, confiando em Jesus, você estiver buscando um método educacional em particular, Deus
abençoará seus esforços. Agora, se você acha que já cuidou de tudo, então o seu método não está
debaixo da bênção de Deus, e fadado a esvair-se de suas mãos. Não importa o que seja nem quem
esteja envolvido.
Você pode ter o melhor equipamento do mundo, mas se tentar fazer um omelete com ovos
estragados, você ainda terá um omelete estragado. Não importa quão boa a receita ou quão sofisticada
a cozinha. A fim de não pegar ovos estragados, você precisa ter Jesus — perdão, pureza, humildade e
confissão de pecados. Por essa razão que é espiritualmente perigoso quando cristãos se gabam de
diferentes métodos educacionais, não por haver algo necessariamente de errado com o método em si,
mas por ser uma postura que exclui Jesus. Agindo assim, você perde a bênção. Almeje exclusivamente
ocupar-se da obra de criar seus filhos, ensinando-os e educando-os, com tudo já sobre o altar,
esperando que o fogo desça.
QUARTA
PARTE
CAPÍTULO 12
Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos
pais; pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo Jesus. Admoesto-vos, portanto, a que sejais
meus imitadores. Por esta causa, vos mandei Timóteo, que é meu filho amado e fiel no Senhor, o
qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo Jesus, como, por toda parte, ensino em cada
igreja.
(1Coríntios 4.15–17) Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.
(1Coríntios 11.1) Ser um pai bíblico e uma mãe bíblica é muito mais que um pacote de dicas e técnicas. Técnicas são úteis para aprender
a pintar números, mas esse não é o tipo de coisa que fazemos enquanto instruímos nossos filhos. Ao mesmo tempo, a criação de filhos
não é algo tão misterioso e alheio a esse mundo que só nos resta não saber o que fazer. Não estamos em uma densa neblina, nada
podendo fazer, exceto tateá-la. Pais sábios compreendem o que estão fazendo, mas não com uma postura mecânica.
A paternidade e a maternidade modeladas pela piedade dizem respeito a tornar-se mais como
Jesus na presença de pequeninos que também estão no processo que é conformar-se mais à
semelhança de Cristo. Ambos estão aprendendo lições na escola da santificação. Neste livro sobre a
criação de filhos, falamos sobre justificação, a qual consolida o fato do seu relacionamento com Deus,
e a santificação, que é o processo de direcionar essa relação. Na escola da santificação, os pais estão
nos anos finais, e os filhos nas séries iniciais. Os pais já estiveram onde os filhos agora se encontram,
e os filhos um dia estarão onde os pais hoje estão.
Vemos os princípios estabelecidos na Palavra, e lhes devemos obediência, mas não podemos imitá-
los de forma a tentar fabricar técnicas educacionais a partir de ripas 6 cm x 12 cm. A criação de filhos
não funciona dessa forma. A criação de filhos não é algo impossível e, sim, envolve um comportamento
guiado por regras, mas deve ser sempre pessoal. Lembre-se da Primeira Parte: a palavra traduzida por
“seguidor” é mimetai, da qual tiramos as palavras “mímica” e “imitar”. Em 1Coríntios 4.15–17,
aprendemos que o genuíno discipulado cristão é guiado por um paradigma muito mais parecido com
uma família do que com um auditório. É como um pai conversando com seus filhos ao redor da mesa
de jantar. É como uma mãe conversando com sua filha na cozinha, ambas dialogando sobre algo muito
importante a esta.
Ser pai ou mãe não é como despejar informações, não é como um livro, nem como uma palestra.
Tais podem ser valiosos em seus devidos lugares, mas não cumprem o papel quando se cria filhos.
São coisas valiosas em seus devidos lugares, mas não são tudo.
Paulo diz em 1Coríntios 4.15 que um pai é o equivalente a dez mil instrutores. Se você não tem pai,
não importa a quantas palestras você assista. Uma das coisas com as quais lidamos em nossa cultura
hoje é a crise da ausência paterna. Tentamos compensá-la com dez mil instrutores, mas será
necessário muito mais que isso. Por esta razão, Paulo suplica aos de Corinto que sejam imitadores
dele (v.16) Ele diz para que o imitem, observando o que faz e fazendo o mesmo. Isso nos incomoda,
pois somos individualistas, e, no entanto, desejamos ser originais. Queremos fazer as coisas do nosso
jeito, e dançar conforme nossa própria música, mas, no fim das contas, todos estão copiando alguém.
Ou você copia alguém que o fará crescer ou alguém que criará muitos problemas. Por isso Paulo
enviou Timóteo: ele era um filho amado de Paulo. O filho poderia recapitular as maneiras de seu pai.
Em 1Coríntios 11, aprendemos que, quando imitamos Paulo, estamos imitando um imitador. O
próprio Paulo imita a Cristo (1Co 11.1). O padrão original não foi estabelecido por Paulo, mas pelo
Senhor Jesus. Ele imitou a Cristo e nós devemos imitá-lo; da mesma forma como Paulo imitou a Jesus,
nós imitamos Paulo. Um dos pontos centrais que devemos imitar é o padrão da imitação em si.
É claro que há dois tipos de imitação. Progresso verdadeiro e piedade são coisas que se
desenvolvem através da imitação, mas porque seres humanos são necessariamente imitadores, o
mesmo ocorre com a impiedade. Nascemos neste mundo como descendentes pecaminosos de Adão,
logo temos uma certa inclinação à imitação do que é feio e pecaminoso, e manteremos essa inclinação
até que o Senhor nos converta. Mas mesmo então, imitando a Deus ou pecadores,
independentemente, crescemos por meio da imitação. Encontramo-nos em constante perigo de invejar
outras pessoas e nos compararmos a elas. Contudo, com todo o processo ocorrendo em Cristo, então
estamos salvos.
Uma forma de dizer se estou copiando de forma sábia ou tola é a seguinte: se estamos imitando
biblicamente, quanto mais o fazemos, mais autênticos somos. Quanto mais parecido com Cristo você
for, mais resplandecerá a sua personalidade. Vemos situações quando alguém copia uma outra pessoa
e, por resultado, se perde, mas isso ocorre por causa do que chamo de ego comparativo. Se for algo
mais guiado pela inveja ou pela comparação, haverá cada vez mais confusão. Entretanto, quando
todos nós nos tornamos mais como Jesus, e quando todos os bilhões de cristãos estiverem reunidos
ao redor do trono de Deus, o que surge não é um exército de clones com um código de série na parte
de trás ou no pé. Quanto mais parecido com Jesus você for, mais autêntico você será. Quanto menos
parecido com Jesus, mais monótono e previsível. O pecado é monótono. A piedade não.
Quanto mais um filho copia seu pai de forma autoconsciente em Cristo, mais singular ele se torna
como futuro pai. Tentando preservar a originalidade ao fazer o esforço para ser o mais singular e legal
possível, o que na verdade você está fazendo é copiar outras pessoas com um olhar insincero, sendo
incapaz de admitir que é isso que está fazendo. Lembro-me de algo que aprendi na Mad Magazine nos
anos 1960: “Está cada vez mais difícil diferenciar os dissidentes”. Quando você copia com um olhar
mesquinho e esnobe, isso tudo fica invisível a si mesmo. Você não enxerga que é igual a todo mundo.
Mas se você copia aqueles que Deus ordena copiar, e os imita como eles imitam a Cristo, então você
não está prestes a perder a si mesmo. Ao contrário, você está no processo de tornar-se aquilo que
Deus deseja.
CAPÍTULO 13
Todos estamos familiarizados com o sarcasmo embutido no dizer: “Faça o que eu digo, não faça o
que eu faço”. Quando desafiados, a primeira reação dos pais não deveria ser “Vamos pôr um fim nisso”
ou “O pecado surgiu em nosso filho! Precisamos arrancá-lo!”. Ao contrário, a primeira reação deve ser
de, em oração, perguntar se o Senhor não está lhe revelando algo sobre o seu próprio comportamento
e modo de vida.
Ao perguntar “Onde foi que a nossa pequena Sally aprendeu isso?” e supor que tenha sido de
algum réprobo do parquinho no final da rua, pare e considere, que talvez ela esteja aprendendo isso de
você. Será possível que, nesta situação, Deus esteja segurando um espelho em sua frente, mostrando
algumas coisas para que você dê início a correções ao arrepender-se de seus pecados?
Consideremos alguns exemplos. Suponha que o filho se comporte mal à mesa e seu pai se irrite. O
filho teve um mau comportamento, com certeza, e seu pai lhe disse para não ter essa conduta. Mas por
que ele se comporta mal à mesa? Porque seu pai se comporta assim. Irritar-se com seus filhos à mesa
é muito pior do que brincar com batatas usando uma faca. A Palavra de Deus nunca diz nada sobre
brincar com as batatas usando uma faca, mas aborda a raiz do pecado, que faz arrancar a cabeça do
sujeito. O pai então desobedece à Bíblia e age de tal forma que humilha todos ali, incluindo a criança
brincando com as batatas.
Não é legal que crianças brinquem com a comida, mas porque são boas maneiras evitar esse tipo
de comportamento. Entretanto, ficar irritado com maus hábitos manifestando hábitos ainda piores é
uma coisa pior ainda. Eis um exemplo prático de um pai basicamente dizendo que maus hábitos à
mesa são tolerados. As crianças nitidamente têm o problema de brincar com as batatas — mas os
maus modos são absolutamente aceitáveis. Os pais acabaram de provar.
Aqui vai um exemplo mais positivo. Em vez de dizer “Vá ajudar a sua mãe a tirar a mesa”, o pai
deveria falar: “Venha, vamos ajudar a mamãe a limpar a mesa”. Ele dá o exemplo. Não quero dizer que
é sempre errado o pai mandar seu filho fazer algo. A vida não se faz possível a menos que as crianças
recebam tarefas explícitas de vez em quando. Mas elas deveriam recebê-las após verem com
frequência o exemplo dos próprios pais.
Se há algo a aprender com esse pequeno livro, que seja o seguinte: pais tendem a rotular
incorretamente aquilo que têm para ensinar. Se alguma vez na vida você já esteve em um estudo
bíblico tentando se localizar na lição enquanto todo mundo está em 1Reis, e você está em 2Reis,
então, quanto mais procura, mais estranho fica. A confusão toma conta se eles estiverem fazendo uma
coisa, e você outra totalmente diferente.
Imagine o seguinte cenário: suponha que um bebê esteja em frente a uma mesa de café de frente a
você, desejando mexer num vaso. Suponha também que a criança tenha acabado de ficar mais ágil,
mas você ainda não preparou a casa para torná-la à prova de bebês, e ele continua desejando tocar o
vaso. Os pais então costumam imaginar o título da lição: “Como não mexer em vasos”, enquanto a
verdadeira lição deveria ser intitulada “Como não ficar irritado com seu próximo”. Com isso você ensina
seu filho a como não ficar irritado com o próximo, mesmo havendo contínuo desrespeito. Essa é a
verdadeira lição.
Como Deus nos ensina? Oséias 11.3 diz que Deus ensinou Efraim a andar conforme um pai
ensinaria um filho pequeno, permanecendo atrás dele, e segurando seus braços. É assim que
ensinamos nossos filhos a andar quando eles começam a pegar mobilidade. O que está acontecendo?
Quando você está neste cenário, do outro lado da mesa de café, de frente para o seu filho, o seu
trabalho não é ensinar a criança a ser criança. Às vezes pensamos que há alguma coisa errada com
nosso filho, pois ele deseja tocar o vaso e devemos transformá-lo em alguém que não deseje tocar o
vaso. Mas a sua tarefa não é ensinar a criança a como ser criança — a criança já sabe como ser
criança. Você não está ensinando seus filhos a serem crianças. Você, na verdade, deve ensinar seu
filho a tornar-se um adulto.
Por essa razão que, quando interagindo com seu filho, que está do outro lado da mesa, você
deveria olhar para o futuro com os olhos da fé e enxergar seu filho como já estando onde você mesmo
está agora, e seus netos no lugar dele. E, sendo a vez dele, como ele saberá lidar com o próprio filho?
Ele terá aprendido de você!
Se os pais não tiverem paciência diante de provocações repetitivas, quanto menos os filhos!
Disciplinando seus filhos corretamente, você está amando os seus netos. Seu dever não é ensiná-los a
serem crianças aceitáveis, mas como serem adultos responsáveis — pois este é o ponto principal.
Seja honesto — você comprou o vaso em uma venda de garagem no verão passado e esse vaso
estará em outra venda de garagem no próximo verão. Quem liga para o vaso? A criança viverá para
sempre. A criança não é algo que você adquiriu ou de que você se livrará em uma venda de garagem.
O vaso é. Você não deve ensinar a criança a ser uma boa versão do que ela é. Ao contrário, você
ensina seu filho a tornar-se o que ele deve ser. E você, o que será para o seu filho?
Esse princípio não muda. Suponha que você esteja lidando com uma adolescente teimosa e
pensando que “arrumar essa adolescente” é a meta do dia. O seu trabalho não é consertar a
adolescente. O seu dever é modelá-la de modo a deixá-la apta a ser mãe. Algumas primaveras mais
tarde, sua adolescente terá sua própria adolescente. Você não a está treinando para ser uma
adolescente. Ela já sabe fazer isso. Você a está preparando para o dia quando deixar de ser uma.
O mesmo acontece com os professores. Os planos de aula que vocês produziram e entregaram
para a administração não são a verdadeira lição. A verdadeira lição é modelar Cristo para seus alunos,
amando a Cristo e amando os alunos e o material. É isso que é ensino piedoso. Quando os alunos o
veem interagindo com eles e com o material como alguém que ama a Jesus Cristo, isso tem um
impacto profundo. Se você está fazendo algo a mais, isso também tem um impacto, mas não um bom
impacto.
Também há ocasiões em que a imitação correta é superficial. É mais difícil impedir que seus filhos
fumem se você fuma. É mais difícil impedir que seus filhos se irritem se você está constantemente
bravo. Mas há uma outra maneira de abrir o caminho para a imitação sem piedade, mesmo que seus
filhos nunca o vejam fazendo algo errado. Lembre-se, Deus está presente, e Deus vê que portas você
está abrindo em seu lar, até mesmo as portas secretas, e quais fechaduras você está deixando
abertas, até mesmo as secretas.
Por exemplo, um pai com o hábito secreto de consumir pornografia não deve ficar chocado ao
descobrir que seu filho passa pelo mesmo problema, mesmo que nunca o tenha visto. Ocorre que o
pai, com isso, concedeu um tipo de permissão pactual. Ele está dizendo: “Nesta casa deixamos
aquelas portas destrancadas. Não há problema na indiferença”. Pecados secretos também podem ser
imitados. Há uma profunda estrutura nisso tudo, a qual não podemos fingir que entendemos, mas é
extraordinário como esse tipo de coisa acontece paralelamente, mesmo que nada seja feito
abertamente.
Quando oramos, pensamos ou meditamos sobre a criação de filhos, é tentador chegar ao final e
dizer “Bom, o amor é tudo de que precisamos”. Curiosamente, tal redundância é de fato verdadeira,
mas, na verdade, não da forma como os Beatles ensinaram. A Bíblia nos diz em 1João 4.8 que Deus é
amor. Deus é Senhor sobre todas as coisas, e a sua forma de amar está conectada maravilhosamente
e autoritativamente a absolutamente tudo. Em outras palavras, não há lugar aonde você possa ir nesse
mundo em que o amor seja irrelevante. O amor sempre é relevante, pois Deus é amor. É nele que
vivemos e nos movemos e existimos. Deus é quem ama, Jesus é o Amado, e o amor entre eles é o
Espírito. É no amor triuno que vivemos, nos movemos e existimos.
Isso significa que o amor é relevante em todos os lugares. Isso explica por que, se desconectamos
o amor de qualquer coisa que estejamos fazendo, o resultado é fracasso espiritual. Mesmo que eu
tenha dominado todas as técnicas paternas e maternas, se não tenho amor, nada sou. O ensino
piedoso, a formação de caráter, e o discipulado são simplesmente isto — amar a Deus e amar aquilo
que você de fato concretiza na presença de outras pessoas, as quais você também ama. Ame a Deus,
ame o que você está fazendo, e ame quem o está fazendo com você. Fazendo isso, Jesus estará
presente. Do contrário, não importa se você disser “Vamos esquecê-lo. Afinal de contas, tenho uma
lista de afazeres”. Você deve fazer o que faz em Cristo.
Imagine um pai e um filho em frente a um tronco de madeira inteiro. Qual é a responsabilidade do
pai? É pegar dois machados, dar um deles a seu filho, e amar a Deus e amar uma manhã repleta de
madeiras cortadas, e fazer isso ao lado de seu filho, a quem ama. Isso é o que a criação de filhos
piedosa significa.
Ame a Deus, ame o que faz e ame as pessoas que Deus colocou em sua vida. Isso retira a
necessidade de correção? Não, você deve mostrar como segurar o machado e não o deixar que o
manuseie com descuido. Correção, disciplina, ensino, mentoria — tudo isso deve estar presente, pois
você ama a Jesus, pois você ama a madeira, e porque você ama o seu filho. Isso é o que você deve
fazer.
CAPÍTULO 14
Ler 1Coríntios 13 e inserir o próprio nome ao ler a palavra amor é um exercício devocional comum.
O que, na verdade, você precisa fazer é passar por 1Coríntios 13 e colocar o nome de Jesus ali. Jesus
é paciente, Jesus é bondoso. Jesus faz todas essas coisas perfeitamente, e eu devo é fazer nele o que
estou fazendo.
Se você não está imitando Jesus Cristo ou imitando o seu povo que imita a Ele, se você está
corrigindo seus filhos de forma dura ou cegamente com um senso de pânico, ou se não está corrigindo
seus filhos da forma como deve, então é mais fácil pensar de forma reversa, e acreditar que Deus
esteja fazendo o mesmo com você.
Alguns de vocês, pais, devem ter lido este livro com a sensação de um chute na cabeça. Você pode
sentir como se nada pudesse fazer a respeito — seus filhos já estão todos mais velhos, e parece que
Deus está olhando para você da mesma forma como você costumava olhar para seus filhos.
Mas Deus não age dessa forma. Ao pensar sobre o Deus onisciente e onipresente, precisamos
pensar em um Pai. Muitos de nós o imaginam como uma força ou poder onisciente, onipresente e
onipotente tal qual a eletricidade, e com uma tendência maldosa prestes a punir. Mas Deus não é nada
disso, e erramos ao pensar nele nesses termos. Deus perdoa. Ele o tomará de onde está, não de onde
você deveria estar.
É preciso pensar “Tudo bem, não posso fazer nada disso fora de Cristo. Tudo precisa estar em
Jesus, em um espírito de amor, e devo me voltar a Ele e aceitar o perdão que Ele oferece; Ele é que
deve me tirar daqui”.
Isso é o que você deve entender. Não se trata de uma superlei. Tudo isso é o Evangelho. A criação
de filhos é o Evangelho em sua completude, pois também Deus nos está criando. E para o que Ele nos
está criando?
Para a presença, para o gozo e para o céu de Deus. Ele nos está criando para sermos como Jesus.
Ele nos está criando para sermos nós mesmos.
ANEXO
PERGUNTAS & RESPOSTAS
1. Existe um momento aceitável para perguntar a seu filho “Como você acha que isso me faz
sentir?”?
Doug: Das duas, uma: autopiedade ou retoricamente ineficaz.
2. Deve haver o momento para perguntar: “Como você acha que isso faz a sua mãe se sentir?”?
Doug: Depende. Se for no desejo de ver as crianças mais agradecidas ou gratas pela refeição feita,
não há nada de errado nisso, uma vez que será uma atitude para o benefício dos demais.
Nancy: Mas, veja bem, não deve ser algo feito, por exemplo, no meio de uma refeição. Tente um
tempo depois, ou os prepare com certa antecedência, não queira fazer seu filho sentir-se culpado
quando tiver de responder. Doug foi quem me ajudou a aprender a não levar a desobediência das
crianças para o lado pessoal. Se eu me ofendia, as coisas complicavam, e começava a atribuir
causas para a situação: “Se me amasse, você não teria feito isso, então o problema deve ser bem
mais profundo!”. Só permaneça objetivo: “Eu disse para não fazer isso, e você fez mesmo assim”.
Dessa forma, não se torna algo pessoal ou sentimental.
Doug: Voltando ao exemplo da mesa de jantar, ao invés de dizer “Por que é que vocês são um
bando de ingratos?” durante a refeição, arruinando o jantar, é muito melhor dar o exemplo: “Temos
aqui um maravilhoso jantar. Não acham, crianças?”. Agora, se um de seus filhos disser “Não, está
horroroso”, daí, sim, ele o estará provocando e desafiando, então eis um momento propício para a
disciplina. Porém, na maioria das vezes, quando está tudo bem, a criança apenas está se
expressando de forma impensada. Em casos assim, o pai pode demonstrar como ser grato.
3. Como você disciplina seu filho em consistência com a permissão e a liberdade que lhe
proporciona?
Doug: Uma das melhores formas de ser consistente é reduzir o número de ordenanças. Por
exemplo, se o seu filho tem dois anos de idade, e sua casa está repleta de coisas que o obriguem a
ficar repetindo “não mexa” toda hora, minha sugestão é que você pegue todas essas proibições e
considere quantas delas pode eliminar, deixando o ambiente de sua sala seguro para bebês,
digamos. Diminuindo noventa por cento das ordens, fica mais fácil vencer sempre. Mas, impondo
uma multidão de regulamentações, será difícil para o seu filho lembrar-se de todas elas. Vejo pais
citando ordens como se fossem metralhadoras: “Pegue os sapatos. Coloque a jaqueta. Venha aqui.
Ponha esse livro lá”. Eventualmente, seus pequenos ficarão sobrecarregados, e haverá algum tipo de
infração. Além disso, tente aglomerar aquilo que você manda, a fim de ter de usar as mesmas
palavras sempre. Para uma criança de dois anos, uma das expressões pode ser “sem agitação”, e
você deve garantir o uso das mesmas palavras todas as vezes. Se das outras vezes daí usar “sem
mau humor” ou “pare de reclamar”, você pode confundir a cabeça do seu filho.
4. Como ser um lar de sim sem mimar seus filhos?
Doug: Deus diz não pois Ele tem um sim maior. Logo, você pode dizer não a um vídeo, mas depois
lhes dar um quilo de massinha. Quando uma mãe diz não a uma barra de chocolate antes da janta,
esse é um não por ela ter um sim à vista.
Nancy: Uma das coisas que fiz quando nossos filhos eram ainda pequenos foi garantir a obediência
antes mesmo que eu desse uma ordem. Então, quando de fato era o momento de dizer não, eu
podia relembrá-los do que lhes havia dito anteriormente. Daí tudo que precisava acontecer,
acontecia, e eu dizia “Ah, ótimo! Você conseguiu!”. Outras vezes me lembro de ouvi-los reclamando,
então eu falava para rebobinar a fita, sair da sala e entrar novamente, mas então com uma postura
de gratidão. Trata-se de manifestar graça mas também de dar instrução.
Doug: Pais e mães geralmente emboscam seus filhos com ordens e requisitos, é como assistir a um
jogador de futebol americano ficar encurralado pelo time adversário. Suponha que seja verão e seus
filhos estejam brincando bastante e com muito calor e energia, daí você sai para o quintal e diz:
“Hora de entrar!”. Pronto! Eis exatamente uma fábrica de desobediência. É como ter uma sala cheia
com cinco crianças, e dar a todas elas somente um balão — um pequeno balão de pecado. Em vez
disso, você deveria ir ao jardim e dizer “Crianças, dez minutos”. Dessa forma, cada um tem tempo de
se ajustar; elas sabem o que acontecerá. Você as está preparando para o sucesso, e não as
pegando de surpresa, garantindo assim o fracasso delas. Nancy, você costumava prepará-los
enquanto a caminho do supermercado, também.
Nancy: Quando íamos ao supermercado, ainda a caminho, eu recapitulava com todos eles as três
regras: sem pedir besteiras, sem tocar em nada, e fiquem comigo. Era um jogo da sorte, e eu dizia
estar orgulhosa deles; muitas vezes a caixa comentava quão bonzinhos eram os meus filhos.
Crianças obedientes e alegres são um bom testemunho. No final, se cumprissem as regras, eu
sempre comprava um presentinho para eles.
5. Pode falar um pouco sobre os passos que você dava para não levar as coisas para o lado
pessoal quando seus filhos desobedeciam?
Nancy: Enquanto seu filho pequeno tenta argumentar, é tentador cair na argumentação. Doug
lembrava-me de que eu tinha a autoridade sobre meus filhos, e que deveria usá-la sabiamente. A
sabedoria não leva as coisas para o lado pessoal, nem entra em uma discussão com crianças.
Doug: Acaba se tornando algo contraditório. Você já deve ter visto árbitros se intrometendo no jogo,
saindo da imparcialidade. O pai e a mãe são os árbitros. Vestindo a camisa da arbitragem, eles não
podem jogar por um time. A partir do momento que você começa a participar do jogo, torna-se algo
pessoal e o seu julgamento se obscurece.
Nancy: Às vezes eu me precipitava no não: “Mamãe, posso comer um biscoito?” — “Não, não pode”.
Daí é que eles gostavam mesmo de argumentar. E foi então que precisei aprender a esperar e dizer
“Bom, vou pensar”. Normalmente, se parasse para pensar sobre a situação, eu diria que sim ou teria
outra ideia. Creio que seja natural ver filhos tendo a vontade de discutir com a mãe. Então, desde
cedo, Doug sempre me lembrava de permanecer calma, exercendo minha autoridade sobre eles.
Doug era o meu suporte, logo, se eles fossem insubordinados a mim, seriam insubordinados a ele. E
ele me apoiava.
Doug: E isso traz de volta o que meu pai me ensinou: não desrespeite a sua mãe. Eu sabia que,
quando lidava com a minha mãe, eu estava lidando com o meu pai. E quis que meus filhos
soubessem que, se estivessem lidando com a Nancy, estariam lidando comigo. Isso a ajudou, pois,
dessa forma, ela não precisava carregar aquele peso sozinha. Ela poderia simplesmente passar a
bola para mim, se as coisas ficassem intensas e difíceis.
6. Quais passos vocês tomaram para entrar em sintonia na disciplina dos seus filhos?
Doug: A Bíblia relata que todo cristão deve zelar por ter a mesma mentalidade, logo marido e mulher
devem ter a mesma mentalidade quanto à disciplina e aos padrões de obediência. Que eu me
lembre, nunca precisamos nos esforçar para tanto, dado que Nancy sempre quis que estivéssemos
em sintonia. Porém, há outro lado importante: filhos pequenos precisam de que o pai seja duro, mas
não a mãe. Há um aspecto carinhoso e acolhedor que a mamãe precisa dar, e também um aspecto
engole esse choro, não sangre no carpete por parte do pai. Por causa disso, desentendimentos
podem acontecer quando o homem pensa que a mulher deve ser exatamente como ele, ou quando a
esposa acha que o marido deve ser igual a ela, não percebendo as oportunidades de
amadurecimento, que Deus deu aos filhos um pai, para que assim aprendam a ser firmes, e que
Deus deu aos filhos uma mãe, para que assim não sejam duros o tempo todo.
Nancy: Se achasse o Doug severo demais com alguém ou que ele havia deixado algo passar, eu
refletia a respeito, mas não falava daquilo na frente das crianças. Conversávamos mais tarde, sem
que elas pudessem ouvir, sempre almejando uma frente unida. Tentar nos dividir era uma ofensa
digna de disciplina física imediata. Se um deles me pedisse algo e eu dissesse não, ele não teria a
permissão de pedir a Doug. O não de um de nós era o suficiente. Além disso, pais tendem a ser mais
duros com os meninos mas mais moles com as meninas. Mães tendem a ser mais duras com as
meninas, e mais maleáveis com os meninos. Compreender essa tendência pode ajudá-lo a ser mais
sensato com todos.
Doug: Dialoguem a respeito. Fora das trincheiras com os pequeninos, certifique-se de repassar o
que aconteceu. Quando seus filhos estiverem todos dormindo, certifique-se de conversar. “Como foi?
Como foi o dia? O que sente quanto ao seu relacionamento com Fulano e Ciclano? Como aquele
incidente terminou? Certo, da próxima vez faremos o seguinte”.
7. Como era conduzir os devocionais com as crianças?
Doug: Fazíamos um monte de coisas diferentes.
Nancy: Assim que casamos, no primeiro dia, Doug abriu a Bíblia e começou a lê-la para mim em voz
alta, logo pela manhã.
Doug: Quando as crianças começaram a chegar, e nossa agenda ficou confusa, mudamos para a
hora da janta. Que fosse a leitura da Bíblia, o uso do Catecismo para discussão, a leitura de uma
história bíblica, era entre o jantar e a sobremesa. Quando nossos filhos cresceram e já estavam na
escola, todo o período do jantar era tomado pela ética bíblica e por conversas sobre situações da
escola. A essa altura, as crianças estavam todas dispostas a relatar algum ocorrido e a fazer
perguntas. Também líamos bastante em família: altas doses de Nárnia e Senhor dos Anéis. Talvez
seja impreciso dizer que adorávamos em família. Tínhamos uma interação regular e contínua com a
Bíblia e a Palavra de Deus, e diferentes coisas colocavam nossa fé cristã à prova, mas não havia
uma liturgia estabelecida, com cânticos, oração inicial e leitura específica.
Nancy: Cada um começou a ler sua própria Bíblia assim que possível. Costumávamos orar, todos
juntos, à noite. Assim que chegaram ao segundo fluxo do Fundamental, Doug deu início a um estudo
bíblico voltado àquela etapa, e nós nos adaptamos à idade deles.
8. Sendo específico por um instante, quais podem ser as preocupações com, digamos,
“cobertas de segurança”?
Nancy: Certa pessoa deu-me uma naninha como presente do chá de bebê. Era tão fofo, nosso bebê
o pegava e esfregava o rostinho nele sem parar. Um dia eu disse “Olha, meu bem, não é fofo?”, e
Doug disse, “Tire essa cobertinha da nossa casa”. A princípio, achei que estivesse brincando, mas
ele queria que nossos filhos estivessem seguros em nós, não num objeto como uma naninha.
Doug: Aqui vai um qualitativo, e então mais um exemplo. Não é o fim do mundo se o seu filho tiver
uma naninha ou uma chupeta ou algo do tipo, mas é preciso cuidado com coisas assim. Por
exemplo, recentemente estava no aeroporto e vi um time feminino de vôlei embarcando. Passando
pela segurança, contei na fila em minha frente seis delas com bichos de pelúcia, e percebi que essas
garotas não tinham segurança. Na posição de pais, quisemos enfatizar e priorizar nosso
relacionamento e nossa dependência e nossa interação mútuos. Caso víssemos uma das crianças
ficando sem ânimo ou até mesmo fazendo birra para chamar a atenção, nós todos nos reuníamos, e
então dávamos mais atenção e afeição que o normal.
9. Como você estabelece prioridades acerca de pecados ou problemas a serem tratados quando
o pai chega em casa?
Doug: Na verdade, é algo a ser decidido em união. As mulheres geralmente se especializam naquilo
que chamo de “grandes experimentos em telepatia” e de “o olhar de mil significados”, enquanto os
homens especializam-se em não ouvir aquilo que é gritantemente falado, em alto e bom tom.
Mulheres reparam até demais no clima e nas tensões da sala, já homens não prestam atenção o
suficiente nem naquilo que é declarado ou dito. O certo a fazer é não ter esse tipo de mal-entendido
acontecendo em frente das crianças. Vocês devem conversar a respeito quando estiverem revendo o
que aconteceu. Por exemplo, se a obediência estivesse de mal a pior, nós dois nos juntávamos,
conversávamos a respeito, e por vezes decidíamos ajustar algumas coisas. Colocávamos as crianças
em fila e dizíamos a elas que vimos muitas disputas ou muita confusão ou qualquer outra coisa.
Dizíamos a nossos filhos que sentíamos muito por termos deixado aquilo acontecer, e os fazíamos
saber que haveria um breve reinado de terror. Isso significava sem alertas e disciplina por qualquer
tipo de ofensa. Geralmente nenhuma disciplina era necessária, pois eles entendiam a mensagem.
Eles já estavam velhos o suficiente para saber o que estávamos fazendo.
10. Como pedir desculpas aos filhos?
Doug: Pedir desculpa aos meus filhos, como muitas outras coisas, foi algo que aprendi com meu
pai. Lembro vividamente que ele me pediu desculpas por me disciplinar momentos antes, enquanto
ainda estava com raiva. Ele precisou sair para liderar um estudo bíblico, mas, assim que entrou no
carro, parou e pensou: “Não posso ir ao estudo desse jeito”. Então ele voltou para casa, subiu as
escadas, sentou-se em minha cama e buscou o meu perdão por ter me disciplinado com raiva. Ao
fazê-lo, o pai reconhece que todos na casa estão debaixo de sua autoridade, o que significa que as
crianças podem confiar na mamãe e no papai.
11. Alguma consideração sobre deixar os filhos com televisão disponível?
Doug: Enquanto nossos filhos ainda eram pequenos, fomos bem rigorosos com a TV. Já mais
velhos, no segundo ciclo do Ensino Fundamental, havia a questão do videogame. Dizíamos que, se
quisessem ouvir um pouco de música ou jogar videogame, eles ganhariam tempo para isso no
banco de créditos pela leitura de um livro. Desta forma, eles acumulavam tempo. Havia uma
diferença do entretenimento, que hoje é tratado como um direito de nascença, para o lazer, que diz
respeito ao descanso. Logo, se você se esforça, acorda cedo e sai para fazer o que é preciso, e
depois do jantar quer colocar os pés sobre a poltrona e assistir ao jogo, isso é recreação. Agora,
quando você vê alguém numa locadora, segurando dez filmes aos quais ela vai assistir naquele final
de semana, isso não é recreação — é vidiotice. Não queríamos que nossos filhos fizessem isso,
embora o desejo também não fosse de censurá-los ou de excluir tudo automaticamente. Estávamos
de olho para ter certeza de que eles não se afastariam de coisas valiosas como a leitura. Líamos
juntos em família e ouvíamos livros no toca-fitas do carro enquanto viajávamos pelo país. Não
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Imitar a Deus para educar os filhos

  • 1.
  • 2. Filhos: educando daqui para a eternidade por Douglas Wilson e Nancy Wilson Copyright © 2018 by Canon Press Publicado originalmente em inglês sob o título: Why Children Matter 1a edição 2019 ISBN ebook: 978-85-85034-30-6 Tradução: Elmer Pires Revisão: Cesare Turazzi Capa e Diagramação: Tiago Dias Versão Ebook: Tiago Dias Todos os direitos reservados à: Editora Trinitas LTDA São Paulo, SP www.editoratrinitas.com.br
  • 3. PRIMEIRA PARTE | POR QUE DAQUI PARA A ETERNIDADE Capítulo 1: A Definição de Família Capítulo 2: Sejam Mímicos de Deus Capítulo 3: Sacrifique com Júbilo Capítulo 4: Um Não em um Mundo de Sim Capítulo 5: Os Três “L’s” SEGUNDA PARTE | OS FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA Capítulo 6: Filhos de Deus Capítulo 7: Quatro Princípios Para a Disciplina TERCEIRA PARTE | EDUCAÇÃO E ADMOESTAÇÃO Capítulo 8: A Necessidade de uma Paideia Cristã Capítulo 9: Princípios e Métodos Capítulo 10: Criação de Filhos e a Comunidade Capítulo 11: Há Somente um Esconderijo Contra o Pecado QUARTA PARTE | MAIS PARECIDOS COM CRISTO Capítulo 12: Sejam Meus Imitadores Capítulo 13: Pais Dignos de Imitação Capítulo 14: Seja um Imitador de Cristo
  • 4. ANEXO Perguntas e Respostas com Doug e Nancy
  • 6. CAPÍTULO 1 A família é uma comunidade divinamente estabelecida. A instituição da família — consistindo em um homem, uma mulher e seus filhos — foi criada por Deus, não por homens. Não é uma porção arbitrária de indivíduos, nem algo que meras criaturas possam definir. O Congresso não pode votar para decretar no que consiste a família tanto quanto não pode votar para decidir se a gravidade existe ou não. O Congresso pode decretar que a água corre rio acima, mas não importa o quanto vote, seus integrantes não são capazes de mudar aquilo que Deus estabeleceu previamente. Da mesma forma, se o Congresso votasse por revogar a lei da gravidade, e algumas pessoas decidissem pular de uma colina ou de um arranha-céu, talvez estes tivessem a sensação de liberdade por um instante — estamos voando! —, mas nada mudaria a realidade do que a gravidade é e do que ela faz. Igualmente, mesmo que a Suprema Corte banisse o casamento, embora pudesse destruir a vida de muitas pessoas, isso não destruiria a realidade do casamento em si. O matrimônio foi estabelecido por Deus logo no princípio do mundo. Ele não será movido, ele não será modificado. Uma vez que, em primeiro lugar, a família não foi inventada por nós, não temos o direito de reinventá-la. Por essa razão, os pais devem tomar cuidado para não tratar a família como algo remendado e administrado com técnicas desenvolvidas por especialistas. Logo, não inicie a leitura deste pequeno livro achando que está lidando com um punhado de técnicas inteligentes e perspicazes que têm por fim obter uma família perfeita. Cada membro da família é uma pessoa criada à imagem de Deus, e, se desejamos conduzi-la adequadamente, devemos atentar para a Palavra de Deus como nosso primeiro e mais importante guia. Isso inclui tratar todos os membros de uma família como pessoas, e não como se fossem mais um número numa fila de espera. Quando se fala sobre família, criação de filhos, entre outros assuntos práticos, depressa passamos a desejar livros com títulos como: Três Passos Para… ou Doze Passos Para… ou Os Segredos do…, etc. Mas este livro não é um exercício de autoajuda terapêutica — mas, sim, é a proclamação do Evangelho incorporada à vida em família. Se você olha para a sua família, e não enxerga princípios do Evangelho, então você está olhando para a sua família de olhos fechados. Em especial os pais jovens devem aproximar-se das Escrituras, famintos por instrução sobre como realizar tamanha tarefa, principalmente aqueles que não tiveram um bom exemplo paterno ou materno.
  • 7. Pais podem dar a seus filhos algo que seus próprios pais não lhes deram, pois nosso Deus quebra os ciclos do pecado. Mesmo que sem um bom modelo vindo daqueles que o geraram, ainda que desprovido do exemplo de como tornar-se um pai piedoso ou uma mãe piedosa, você não está limitado a imitar as pessoas ao seu redor. Aprender por meio da imitação direta é uma grande bênção e ajuda, mas a Bíblia ensina que podemos imitar pessoas a partir daquilo que foi escrito acerca delas, sejam biografias, sejam exemplos da própria Escritura. Deus é o Deus de novos começos, Aquele que abençoa até mil gerações. Quando Deus diz que visita a iniquidade de até três ou quatro gerações, esta não é uma ameaça severa, mas um ato de misericórdia. Isso porque Deus está, com isso, limitando a reação em cadeia do pecado. O título deste pequeno livro é Filhos: Educando Daqui Para a Eternidade, mas eu poderia aumentá- lo para Filhos: Educando Daqui Para a Eternidade, e Por Que Isso Importa a Todos Nós. Os princípios do Evangelho descritos aqui carregam aplicações para todas as áreas da vida, mas em particular para as famílias que estão criando e educando seus filhos. Além do mais, se você estiver lendo esse livro e pensando que não tem nada que ver com crianças, devo dizer que preste bastante atenção também: quando solteiro e alistado na Marinha, aportado em uma base em Norfolk, frequentei a Tabernacle Church. Era uma grande igreja, na qual estava ligada uma próspera escola cristã. Se soubesse que, dentro de poucos anos, estaria no meio da tentativa de começar também uma escola cristã, teria prestado mais atenção ao que acontecia naquele lugar. Havia muito que aprender. Mesmo ainda jovem e recém tentando descobrir o número do telefone do pai dela, preste atenção. Para falar a verdade, se estiver tentando conseguir o número do pai dela, você já está um tanto adiantado.
  • 8. CAPÍTULO 2 Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados. (Efésios 5.1, ARA)1 Efésios 5.1 diz que devemos ser imitadores de Deus. Escolhi a versão em inglês ESV nessa parte, pois a versão King James (salvo indicação em contrário, foi a que utilizei neste livro) traz a construção “be followers of God,2 isto é, “sejam seguidores de Deus”, mas a palavra grega traduzida por “seguidores” [followers] é justamente de onde extraímos os termos “mímica” e “imitação”. Paulo está ordenando que imitemos, que copiemos a Deus. Somos filhos amados de Deus, e devemos olhar para Ele como filhos que olham para o próprio pai. Deus nos criou para sermos criaturas que refletem, criaturas imitativas. Imitamos instintiva e naturalmente. Não só imitamos aqueles que estão em um mesmo nível, tais como nossos amigos, conhecidos, colegas de estudo, de trabalho e familiares, mas também pegamos muitas coisas daqueles que estão acima de nós. Aprendemos a andar e a falar conforme nossos pais, mas a imitação fundamental à qual a Bíblia nos chama é a imitação daquele que adoramos. Os idólatras tornam-se semelhantes àquilo que adoram. O Salmo 115.4–8 diz que os idólatras adoram estátuas que têm olhos mas não veem, ouvidos que não ouvem, narizes que não cheiram, e termina, declarando: “tornem-se semelhantes a eles os que os fazem”. Se você adora algo surdo, mudo e cego, logo você se torna surdo, mudo e cego. Se seu deus for imóvel, você também será imóvel. Se o seu deus for fundamentalmente impessoal, por resultado você se tornará cada vez menos pessoal. Da mesma forma os adoradores do Deus verdadeiro, eles tornam-se semelhantes àquele que adoram, como Paulo deixa claro em 2Coríntios 3.18: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. O Deus a quem adoramos é o sol que brilha sobre nós; e nós somos a lua, refletindo-o. Diante de Deus em adoração, somos transformados de glória em glória; e nisso, à medida que transformados, também desejamos transmitir essa glória a nossos filhos.
  • 9. Em poucos lugares as ramificações desse princípio da imitação são tão importantes quanto na criação de filhos. Para tanto, a imitação é absolutamente crucial. Você não quer que seus filhos o imitem, a menos que você próprio seja um imitador de Deus. Se você não imita a Deus, se você não o busca, observando sincera e abertamente sua face em adoração semanalmente, sendo transformado de glória em glória, então a última coisa a desejar é que seus filhos o imitem. Mesmo assim, a má notícia é que seus filhos vão copiá-lo, queira isso ou não. Ao nascerem, você até pode procurar por um manual de instrução. Pode sentir que não tem ideia do que fazer. Porém, há uma falsa premissa nessa preocupação — você tem uma Bíblia. Seu dever é adorar a Deus, imitá-lo, e pedir a Ele que caminhe lado a lado, agora que você ingressou no desafio de ser pai. Tendemos a pensar que o poder é usado destrutivamente, a fim de impor algo a alguém. Mas, como Deus faz uso do poder? Este é utilizado para o bem, para a salvação e maturidade do povo de Deus. Ele deseja que o seu próprio povo seja salvo, e o poder do seu braço é o que Ele usa para salvar-nos. Deus quer que cresçamos. Ele não deseja suprimir ou sufocar com um relacionamento asfixiante. Deus não nos força a ser como Ele é, mas nos convida a crescer cada vez mais no ato de imitá-lo, e seu Espírito nos auxilia à medida que crescemos. Às vezes, quando os filhos já adultos visitam a casa dos pais no Dia de Ação de Graças, estes lhes perguntam por qual motivo não fazem visitas com mais frequência. Nesse caso, pode ser que os pais sejam exigentes e grudentos. Ironicamente, quando os pais criam e educam os pequenos tendo por objetivo uma independência bíblica e piedosa, seus filhos, na verdade, desejam gastar tempo com eles na idade adulta. O propósito do pai ou da mãe é, por fim, ser o instrumento de salvação para os filhos. Você não é a base que os salvará, mas, sim, é ordenado a imitar Aquele que é o fundamento da salvação. O mesmo ocorre no casamento. O marido não pode oferecer a si mesmo como expiação vicária, substitutiva por sua esposa. O único que pode fazer isso é Jesus Cristo. Porém, o marido é ordenado a imitar aquilo que não é capaz de fazer. O mesmo acontece no caso do pai e da mãe. Pais, vocês não são capazes de salvar seus filhos. Não há um botão que pressionar ou uma só decisão a tomar, para daí transformar-se numa base de salvação. Vocês obviamente não são graça salvadora para seus filhos, mas são ordenados a imitá-la e a facilitá-la, permeando-a na atmosfera do lar. Deus é poderoso para salvar.
  • 10. CAPÍTULO 3 O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo. (Sofonias 3.17) Ponderemos agora sobre esse versículo de Sofonias e o coloquemos ao lado de Efésios 5.1. Efésios diz que Deus nos trata como filhos. Uma vez que a Escritura mostra como Ele nos trata, desejemos ser nós também à semelhança dele na forma de tratar nossos filhos. Do mesmo modo como Ele nos trata, devemos nós tratar nossos próprios filhos. E vemos em Sofonias que Deus se deleita em nós. Quando Jesus interveio para salvar-nos, Ele o fez pagando um alto preço. Havendo tomado o pedaço de pão que representava seu corpo, Ele o ergueu e deu graças. Conforme Hebreus 12, Jesus fez o que realizou na cruz “em troca da alegria que lhe estava proposta”. Nossa santa ceia é chamada de Eucaristia. O que isso significa? Eucharisto é a palavra grega para ação de graças, significando que a refeição da Eucaristia é uma refeição de agradecimento. É uma refeição de gratidão, não só porque agradecemos a Deus por aquilo que Cristo fez por nós, mas também porque Ele agradeceu a Deus quando Ele próprio a instituiu. Esse é o tipo de espírito grato que vemos em Sofonias. Deus é poderoso para salvar, e Ele salva com júbilo. Agora sabemos, a partir da história de toda a Bíblia, que a salvação envolve sacrifício, sangue, requer que coisas sejam despedaçadas. Aquele que não conheceu pecado se fez pecado por nós, mas Ele o fez com júbilo. Jesus não só deu graças durante a noite em que instituiu a Ceia, mas, mais tarde, Ele e os discípulos cantaram um Salmo, e então partiram (Mt 26.30; Mc 14.26). Jesus literalmente cantou enquanto se preparava para ir à cruz. Logo, os sacrifícios por seus filhos devem ser feitos com júbilo, deve ser possível praticá-los cantando. Se não há uma cântico em seus lábios, não é um sacrifício bíblico. Sem uma canção de alegria, o sacrifício não passa de um tipo de Ai, coitadinho de mim, vejam como sou mártir!, entre outros tipos que não dão nada, exceto um retorno medíocre. O esperado é que você não manifeste cânticos de júbilo e regozijo por seus filhos só quando eles forem adoráveis, enquanto estiverem dormindo, em tempos de pura harmonia, uma vez que não estão se comportando mal naquela hora. A vida é mais complicada que isso, e tudo — incluindo a bagunça — deve ser encarado com uma
  • 11. canção. O deleite que estamos imitando não é do tipo irrealista. Nosso tipo de deleite leva em consideração o mundo como ele é, e, mesmo assim, se regozija. Manifeste júbilo por seus filhos enquanto se sacrifica por eles, enquanto sofre penas, enquanto eles próprios não fazem ideia do quanto está deixando por causa deles. Regozije-se até mesmo no dia em que eles forem sair de casa e seguir o próprio rumo, mesmo que isso envolva o alistamento na Marinha ou entrar numa universidade. Esperançosamente, como pai ou mãe, você, na verdade, os está preparando para o crescimento — e não apenas para boas conversas com a mamãe. “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24). Os filhos vão embora, as filhas são dadas em casamento. Há muitos pais evangélicos, conservadores e sentimentais que guerreiam contra isso e querem adiar esse dia. Pais que se irritam com seus filhos por terem então um emprego ou cônjuge e filhos, o que dificulta passar um tempo juntos, batalham contra a estrutura que Deus criou para o mundo. É óbvio, não estou dizendo para evitar um relacionamento com seu filho adulto e com seus netos. O Salmo 103.17 diz que “a misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade, sobre os que o temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos”. Devemos nos regozijar pelos filhos de nossos filhos. Tenhamos um relacionamento com cada um deles, não como cobertores sufocantes, mas com regozijo por tudo aquilo que Deus dá.
  • 12. CAPÍTULO 4 Quando criou a raça humana, Deus colocou Adão num jardim repleto de delícias, com apenas uma proibição no meio dele. Fora do jardim, nada era proibido, e dentro dele, havia apenas uma coisa proibida. Além disso, creio eu, a árvore do conhecimento do bem e do mal seria proibida por apenas certo tempo, e por isso, depois de aprovados no período de teste, Deus lhes permitiria comer dela. Quando pegaram daquele fruto, Adão e Eva foram julgados por pegá-lo prematuramente, não que a árvore do conhecimento do bem e do mal fosse má em si mesma. Por toda a Escritura, o conhecimento do bem e do mal é o que os reis usam enquanto governam e julgam (p. ex., 1Reis 3.9). Esse é o tipo de conhecimento que faz com que reis julguem corretamente. Mas Adão e Eva ainda não estavam preparados. No entanto, que essa proibição fosse ou não revogada mais tarde, embora Adão e Eva tivessem desobedecido a essa única proibição e sido punidos como resultado disso, Deus viu que o golpe mais severo de retaliação por esse pecado afinal caíra sobre Ele. Que tipo de Deus é esse? Deus deu a Adão um mundo perfeito, uma esposa perfeita, um ambiente perfeito, uma missão perfeita, uma vocação perfeita, e então, mesmo quando Adão e Eva transgrediram, fazendo a única coisa proibida daquele mundo perfeito, ainda assim Deus prometeu que a descendência da mulher destruiria a descendência da serpente, esmagando sua cabeça (Gn 3.15). Imite isso. O ambiente do lar deve ser repleto de graça. Quando repleto de graça, o lar não permanece sem padrões. Não se trata de introduzir anarquia moral. A graça não é uma massa amorfa e gelatinosa. A graça tem uma espinha dorsal. Porém, quando os fundamentos são transgredidos, os sacrifícios mais pesados no ato de restauração são realizados pelos guardiões da graça, não pelos executores da lei, não por aqueles que apontam o dedo, não pelos familiares que acusam os pais, nem por pessoas que corrigem em um tom nasal de autopiedade. Imagine que seu filho tenha desobedecido, e por isso você lhe diz: “Como acha que você me faz sentir agindo assim? Já disse milhares de vezes para não fazer isso”. Embora seja verdade que a repetição é uma parte necessária na educação dos filhos, o tom trêmulo da autopiedade e a voz exasperada não são. Essa não é uma maneira bíblica de pastorear os filhos, pois eles aprendem por meio da imitação. Ao presenciar um adulto se sentindo um coitado, nossa reação imediata não é de: “Ó, coitadinho!”. Se repleto de autopiedade, seus filhos já estão aprendendo uma lição. Mas o que um
  • 13. filho aprende não é sentir dó de você, mas, sim, a dizer: “Como acha que isso me faz sentir?”. E acontece que isso pode se repetir. Aquele que dá egoísmo, recebe egoísmo. A coisa mais fácil do mundo é encontrar um padrão moral na Bíblia e então aproveitar-se dele de modo egoísta. O pai egoísta dá exemplo de egoísmo. Um jardim repleto de graça pode conter uma árvore da lei. Um jardim repleto de lei não pode conter uma árvore da graça. Caso haja somente lei em seu jardim, mas com uma árvore da graça ao centro, esta não é de fato oriunda da graça. É uma árvore de méritos, e você terá bons filhos apenas por causa da recompensa: “Eu fui bonzinho, posso ganhar minha recompensa agora?”. Eu sei, dizer que a atmosfera em seu lar deve ser de “total graça” pode parecer sem sentido ou um tipo de presbiterianismo zen, mas aguente um pouco. Mark Twain era o exemplo de pessoa profana, homem que tinha o costume de abusar do uso da linguagem profana, e sua esposa não gostava nada daquilo. Certo dia, ela decidiu deixá-lo profanar, e então virou-se e, calmamente, recitou-lhe cada palavra que o ouvira dizer. Ele a fitou e então disse: “Querida, você conhece as palavras, mas não reconhece o tom”. Agora, inverta o processo: muitos cristãos conhecem as palavras “graça”, “misericórdia” e “perdão”, mas não reconhecem o tom delas. Nosso tom pode ser encontrado na passagem do capítulo anterior: Sofonias 3.17. Deus se regozija em nós com júbilo. Quando direcionada a um fim, a disciplina tem seu propósito. Nenhuma correção parece prazerosa quando aplicada, mas sua glória é encontrada na colheita (Hb 12.11). A criação de filhos não é uma escrituração abstrata, mas, sim, uma história que se espalha desde o lavrar e plantar até o colher. Trata-se de uma história, e é necessário manter um olho na história de modo a, quando disciplinar seus filhos, manter o outro na colheita — neste caso, para o próprio bem deles. A colheita vem quando eles também compreendem o fruto pacífico de uma vida correta. Quando na idade adulta, você é quem cresceu e compreende o tempo. Aos três anos de idade, um ano é um terço de toda a existência de vida. Aos olhos de um pai ou de uma mãe, não passa de mais um poste na estrada. Estes, portanto, devem ter uma melhor compreensão do tempo e da história do que um bebê de um ano. . . certo? Dificuldade numa história é graça; dificuldade sem uma história é apenas dor. A instrução dos filhos é a oportunidade que você tem de amá-los enquanto os prepara para a colheita, mas isso significa que é preciso ter a colheita em mente.
  • 14. CAPÍTULO 5 Quanto ao viver cristão, há três “L’s” para escolher: legalismo, licenciosidade, liberdade. No lar, surge o legalismo quando pais tentam estabelecer valores tradicionais ou uma atmosfera disciplinada baseados na pura autoridade paternalista e influenciados pelo benefício próprio. Estes desejam que seus filhos se comportem de tal forma que não os irrite. Eles falam para não arrastar coisas pela sala, porque isso incomoda e deixa qualquer um maluco. No entanto, pai e mãe devem ser motivados pelo desejo de ver seus filhos aprendendo a ter autocontrole, preparando-os para o mundo e para a idade adulta. Devemos corrigir nossos filhos para o benefício deles mesmos, e não nosso. Quanto ao legalismo, é o rigor que se torna o padrão fundamental. A licenciosidade ocorre quando os pais percebem que o legalismo demanda trabalho demais. Acontece que, depois de tantos melindres, até mesmo os filhos se revoltam e explodem. Como resultado, os pais simplesmente abandonam todos os padrões, rejeitando tudo como um monte de tolice legalista, tornando o ato de ser pai ou mãe uma longa corrente de desculpas e teorias de Facebook sobre a ineficiência de dar palmadas. Se você contou a vinte e oito pessoas só nessa semana que “seu filho não cochilou hoje” como desculpa para a desobediência dele, então talvez seja hora de reavaliar alguns conceitos. Bem sabemos que há momentos quando não é pretexto, mas uma explicação plausível. No entanto, recorrendo a esse tipo de subterfúgio todas as vezes, você está apenas tentando fazer com que as pessoas não notem sua falta de sabedoria e disciplina. A liberdade não é uma posição intermediária entre o legalismo e a licenciosidade; é algo totalmente diferente. Temos grande dificuldade com ela. Liberdade não é legalismo moderado, nem licenciosidade moderada. A liberdade é mais rigorosa que o legalismo; a liberdade é mais libertadora que a licenciosidade. Jesus disse a seus discípulos: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus” (Mt 5.20). Jesus não lhes disse que fossem fariseus moderados, mas que os excedessem. A liberdade foi comprada para nós por Cristo na cruz, não por nossos recursos e justificativas. A justiça da liberdade sobrepuja a do legalista, e a alegria da liberdade ultrapassa a do libertino. Se deseja ser um pai cristão piedoso sem se tornar um cristão piedoso que morre para si mesmo e para seus próprios desejos, então você não entendeu nada desde o começo.
  • 15. A graça é o que todos nós devemos aprender como cristãos individuais; é o que aprendemos quando adoramos a Deus com sinceridade tanto como indivíduos quanto como pais e mães piedosos. Viver em um ambiente de pura graça, e que também se envolve com a lei, é algo que somente o Espírito de Deus pode conceber. Os filhos percebem quando temos prazer neles conforme nos regozijamos em ser imitadores de Deus. É assim que o mundo funciona. Então qual direção estamos tomando? Filhos são criaturas que carregam a imagem de Deus. Como pecadores, essa imagem está desfigurada, pois eles estão afetados pelo pecado de Adão, assim como todos nós, mas como santos, essa imagem está sendo restaurada neles, bem como em nós. Eles foram afetados pela queda assim como nós, mas a imagem de Jesus Cristo está sendo formada neles, bem como em nós. Agora que Cristo veio e nos redimiu da condenação da lei, foi-nos dada a oportunidade, como Paulo diz, de criar nossos filhos “na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6.4). Os filhos também estão no capítulo 6 do livro de Efésios, mas ainda é parte do mesmo processo que Paulo começou a descrever no capítulo 1. O propósito de Deus e o bom conselho de sua vontade incluem os filhos, portanto, criá-los na disciplina e na admoestação do Senhor significa que tanto pais quanto filhos estão se despindo do velho homem e se revestindo do novo homem. Você e seus filhos estão se despindo do velho homem. Você e seus filhos estão se revestindo do novo homem. Deus está em busca de uma linhagem, e é desde o começo que Ele está em busca de uma linhagem. Por que Deus os fez, homem e mulher, um só? Ele estava em busca de uma “descendência piedosa” (Ml 2.15). Por essa razão é que educamos nossos filhos daqui para a eternidade.
  • 17. CAPÍTULO 6 Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o Senhor, teu Deus. (Deuteronômio 8.5) Já escrevi muitas vezes que a teologia emana de quem você é. Não importa no que você diga acreditar, sua teologia da justificação e sua teologia da santificação são expostas de forma microcósmica no relacionamento com seus filhos. Talvez isso o faça coçar a cabeça por um instante, mas lembre-se de que não só queremos aprender a disciplinar nossos filhos de maneira bíblica, mas fazê-lo em um contexto bíblico. Logo, esse pequeno livro não é uma lista de técnicas, e as Escrituras não são uma pedreira de onde juntamos uma série de pedras. Desejamos apenas uma pedra, nosso Senhor Jesus Cristo. Pais e mães crentes devem criar seus filhos conforme o chamado que é feito aos cristãos, mas não é possível criá-los assim fora do contexto do Evangelho. Buscamos compreender tudo aquilo que fazemos pelo contexto do Evangelho da graça. Não se trata de uma série de técnicas para pessoas de boa índole, decentes, respeitáveis, de classe média. Estamos abordando o assunto como cristãos, pessoas libertas pelo Evangelho de Jesus Cristo, e queremos ser usados por Deus para conduzir nossos filhos a essa mesma liberdade. Deuteronômio 8.5 explicitamente diz que o Senhor tem um relacionamento com os seres humanos que se espelha na relação que um pai tem com seu filho. É preciso meditar nessa verdade, e não apenas reconhecê-la. Moisés disse ao povo que considerasse com o coração e meditasse sobre isto: um homem corrige seu filho, e Deus faz o mesmo com aqueles que são seus filhos. Quando somos salvos, Deus nos adota como parte de sua família, e isso significa que estamos em um relacionamento entre pai e filho com Ele. O Senhor Jesus nos ensina a orar “Pai nosso, que estás nos céus”. Jesus diz “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Logo, Deus é o nosso Pai. As Escrituras geralmente fazem distinção entre justificação e santificação. A justificação estabelece o fato desse relacionamento, enquanto a santificação determina a direção dessa relação. A questão nisso tudo é que você é um filho de Deus pelo dom gratuito da graça de Deus. A santificação é o processo por meio do qual Deus nos comunica o que Ele deseja que sejamos
  • 18. conforme crescemos em sua família. Deus não disciplina os filhos do vizinho: Ele disciplina seus próprios filhos. As dores da santificação dão testemunho do fato de que somos filhos de Deus. Não existe santificação sem direção, e direção significa disciplina. Entendemos o que a Bíblia diz sobre Deus Pai e sobre nossa busca por aprender como disciplinar nossos filhos. Ao mesmo tempo olhamos para o nosso modo de discipliná-los, e aprendemos coisas sobre nosso relacionamento com Deus. A forma de agir com nossos filhos nem sempre é o melhor jeito de aprender sobre Deus, mas, às vezes, pela graça divina, fazemos a coisa certa, e isso nos dá a oportunidade de aprender mais sobre o que Deus tem feito em nossa vida.
  • 19. CAPÍTULO 7 A disciplina, se corretamente considerada, é uma forma de sabedoria. Do contrário, ela não pode ser chamada de sábia. A disciplina é dolorosa, mas nem tudo o que é doloroso é disciplina. Devemos ser adultos em nosso pensar — cachorros têm quatro patas, mas nem tudo com quatro patas é um cachorro. Então consideremos alguns princípios para a disciplina, sendo cada um deles refletido no relacionamento que Deus tem com seu povo. Em primeiro lugar, disciplina não e punição. A disciplina tem como finalidade a correção, enquanto a punição visa justiça e retribuição. A pena capital, por exemplo, não tem por objetivo a correção do criminoso. Até pode ser que, na bondade e benevolência de Deus, alguém no corredor da morte clame ao Senhor e seja convertido, mas esse não é o propósito da pena de morte. Um dos grandes erros de nossos dias é tentar fazer com que os magistrados civis dominem a responsabilidade da disciplina. Por que temos penitenciárias? É para lá que vão os penitentes. Todo o sistema de penitenciárias foi criado pelo Estado para realizar a obra da disciplina que pertence à família, a qual o magistrado civil não é capaz de cumprir. Ao magistrado civil está designada a espada (Rm 13), não a vara da disciplina. A Bíblia ensina que os os pais devem disciplinar seus filhos, e não os punir. Hebreus 12.11 diz: “Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça”. A disciplina visa a colheita ou o objetivo, ou porque há um problema a ser corrigido (a forma negativa da disciplina) ou porque há imaturidade ou fraqueza ainda sem correção (a forma positiva da disciplina). Enfim, a disciplina sempre deseja partir de um lugar para outro a fim de concretizar algo. Você não coloca cada filho numa banheira por um período semelhante de tempo por pensar em direitos iguais. Algumas crianças precisam ficar na banheira por um período menor de tempo, e outras precisam de mais, pois estão sujas dos pés à cabeça. Dar umas palmadas, disciplinar comportamentos e corrigir atitudes não é punição, mas disciplina, cujo propósito como um todo é tornar possível a chegada a determinado ponto. Não se considere um juiz distribuindo justiça para todos os lados. Tanto a disciplina quanto a punição são boas em seus devidos momentos, mas não são a mesma coisa. Pais (especialmente quando com filhos pequenos) de forma alguma devem pensar em termos de julgamento ou retribuição.
  • 20. Em segundo lugar, certifique-se de disciplinar não com muitas regras, mas com alguns poucos princípios. Você é um pai, não uma agência regulamentadora. Aplicações específicas podem sempre ser deduzidas de princípios, ao contrário de quando se introduz princípios a partir de uma série de comandos individuais, o que não alcança o mesmo resultado. Lembro-me de, quando criança, ter recebido de meu pai três regras. Não só isso, mas lembro também onde eu estava no jardim da frente quando ele deu essas regras, e me lembro da maneira carinhosa e afetuosa com que ele me as deu (ele pôs o punho em frente do meu rosto). Seus três princípios foram: 1) Sem desobediência, 2) Sem mentira, 3) Não desrespeite a sua mãe. Agora, isso não abrange tudo? Foque nas leis que são como raiz, e não naquelas que, como folhas, estão na ponta dos galhos. Jesus ensina que há dois grandes mandamentos que resumem todo o Antigo Testamento: amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e o teu próximo como a ti mesmo (Mt 22.37–40). Esses dois correspondem aos Dez Mandamentos — o maior mandamento corresponde aos quatro primeiros, o segundo grande mandamento corresponde aos últimos seis. Todas as outras leis do Antigo Testamento encaixam-se debaixo deles dois. Disciplina por princípios significa que seu sistema de disciplina faz sentido. Ela é ordenada. Não um caos de mandamentos que dependem do estado emocional da mamãe ou do papai enquanto as diretivas são dadas. Multiplicamos normas e regras porque, caso o desejo seja acusar, sempre há com o que acusar. (Não tenho dúvidas de que a grande maioria de vocês esteja desobedecendo pelo menos a alguma regulamentação estatal enquanto lê este livro). Mas essa é a forma de um tirano pensar, não de um pai ou de uma mãe. Pense em termos de “mantenha a simplicidade, seja direto”. Deus nos deu a Bíblia, e você pode reduzir a lei do Antigo Testamento a dez requisitos que cabem em uma ficha — e após isso você pode reduzi-los novamente a dois. Se perguntássemos “O que o Congresso quer que façamos?”, teríamos de encher prateleiras e mais prateleiras de regulamentações. Isso porque o Governo Federal não procura obediência, mas, ao contrário, tenta controlar a vida dos cidadãos. Pais não devem agir assim. Lembre-se de que Deus deu um jardim perfeito a Adão e Eva: havia um mundo repleto de sim, mas apenas um não. Diminua o número de nãos em seu lar. Essa é uma outra forma de dizer que, como pai ou mãe, você deve escolher suas batalhas cuidadosamente. Suponha que, durante um mês, após cem ordens dadas, seus filhos tenham desobedecido constantemente. Seria muito melhor reduzir tudo a dez ordens e tê-los seguindo cada uma das dez, melhor isso do que manter as cem, mas ter apenas um quinto delas obedecido. O pai com cem ordens pode até conseguir conformidade mais vezes, mas a média de acertos será terrível. E o que se tem incutido é confusão quando uma criança nunca sabe se o papai vai dar uns tapas ou se a mamãe vai explodir. O mundo delas será muito mais estável e seguro se a quantidade de requisitos for reduzida, mas sempre tendo a obediência como alvo. É tudo uma questão de equilíbrio. Em terceiro lugar, fique calmo. A correção é necessária quando alguém falha, mas a Bíblia diz como aplicá-la: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado” (Gl 6.1). Essa passagem nos diz como devemos corrigir um ao outro no Corpo. Durante o batismo de infantes, uma das coisas que os pais prometem fazer é tratar a criança como um irmão ou irmã no Senhor. Quando altamente motivado a disciplinar seus filhos, você, de acordo com essa passagem, não está qualificado para fazê-lo. E por “altamente motivado” não quero dizer motivado pelo Espírito Santo, mas por seus nervos, sua raiva, suas paixões. Tudo está dando nos nervos, as crianças estão em cima, então você explode, e daí as corrige. No caso, a correção se dá por causa de um zelo emocional que só quer vê-los de boca fechada. Não é a disciplina devida pela transgressão da Palavra de Deus, mas a repentina por causa do orgulho afrontado. Gálatas 6.1 diz que, para corrigir um irmão, você deve ser espiritual: “corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado”. Sempre que corrigir seus filhos, você será tentado. Faça-o, mas examinando a si mesmo, a fim de não ser tentado, e cair. Mas, quando
  • 21. qualificado para disciplinar, você nem sempre se sentirá motivado. Vejamos, você está em paz com Deus e com o mundo, sentado em sua grande poltrona de papai assistindo ao jogo, e um de seus filhos então desdenha de algo que sua esposa disse. Você até pode estar qualificado para discipliná-lo naquele momento, mas, justamente por estar tudo propício, não se sente no clima. No entanto, mesmo não sentindo vontade, a sua disciplina precisa estar baseada em princípios e no que Deus deseja que você faça naquele instante, e não em seu estado emocional. Talvez você sinta vontade de disciplinar justamente quando não deveria, e talvez não a sinta exatamente quando deveria, logo, não baseie a disciplina no estado de suas emoções. A fim de ensinar obediência, sua disciplina deve ser em si mesma obediente e disciplinada. Citei a frase “qualificado para disciplinar”. Não cometa o erro de pensar que, por ter sido culpado do mesmo tipo de pecado quando criança, não está qualificado para disciplinar seus filhos. Sua condição para disciplinar deve estar baseada no que Deus manda fazer naquele momento, e não baseada no fato de ter ou não sido a criança que deveria ser. Se não foi o tipo de filho que deveria ter sido, ainda assim você não deve consertar esse fato do passado recusando-se a ser um bom pai no presente. Arrependa-se e comece a fazer da maneira de Deus de hoje em diante. As condições ideais para tanto estarão ou não presentes no momento da disciplina. A verdadeira disciplina diz respeito à comunhão restaurada. Quando cometido, o pecado quebra a comunhão na família. A disciplina busca tratar essa transgressão a fim de desfazer seus efeitos (Ef 4.32). E há chances de isso dar errado. Se, para começo de conversa, já não houvesse comunhão, será impossível restaurar aquilo que não existe. Caso os filhos sejam um sofrimento constante graças a caprichos e desobediência, com instantes periódicos de dor aguda, que alguns chamam de “disciplina”, a reação a isso será algo como “Eu te odeio, eu te odeio, eu te odeio”. O filho que não deseja voltar ao jardim da comunhão já não está dentro dele. Se os momentos de disciplina afastam seus filhos mais e mais, que isso lhe sirva de sinal. Eles podem nunca ter pertencido ao jardim, para início de conversa, e é aí que você precisa começar a agir. Agora, se todos estão em comunhão, se o seu lar é um lar feliz, então, quando o pecado transgredir tudo isso, e você discipliná-los, seus filhos desejarão voltar. Eis um sinal saudável. Outra forma de dar errado é aplicar a disciplina quando se está com raiva. A disciplina piedosa subtrai do número de ofensas; ela não acrescenta. Seu filho foi desobediente e duas ou três coisas quebraram a comunhão no lar; caso o discipline com raiva, a comunhão do lar será ainda mais perturbada. A “disciplina” não ajudou. Se o momento de disciplina adiciona ofensas, então não é disciplina. A disciplina subtrai, restaura, e coloca as coisas no devido lugar. Se isso não estiver acontecendo, você provavelmente não tem uma comunhão cristã, amorosa em seu lar. Gostaria de adicionar mais uma coisa a esse terceiro princípio: fique calmo e aplique a correção física mesmo assim. Anteriormente, mostrei que em Gálatas 6.1 somos ordenados a corrigir nossos irmãos, guardando-nos para também não sermos tentados. Mesmo então, você o faz da forma como Deus diz que deve ser feito. A disciplina da vara não deve ser entendida como uma forma de autoexpressão. Trata-se de uma forma de correção e de agradar a Deus. Não é uma maneira de ventilar os sentimentos. Se precisa usar para desabafar emoções, você não está qualificado. A palmada precisa ser muito mais judiciosa e calma que isso. Porém, permanecendo calmo, e motivado por obediência à Palavra, o que Deus diz? Em Provérbios 23.13–14, a Palavra de Deus diz: “Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno”. Nisso estamos imitando a nosso Pai: Hebreus 12.6 declara que Deus castiga todo aquele que recebe por filho. Vivemos numa época em que um grande número de pais cristãos, embora profundamente tolos, têm tentado disciplinar de forma tola. Daí, descobrindo que isso não funciona, concluem que o problema deve estar na Palavra de Deus, e não na aplicação inepta proposta por eles. Tratando-se de uma correção pecaminosa, sua aplicação deve ser abolida. Muitos não entendem isso e acabam por jogar tudo fora. A Palavra de Deus nos diz o que devemos fazer. Não rejeite o que a Bíblia claramente ensina. Recusando-se a ouvi-la, você não livrará seu filho, que está a caminho da destruição.
  • 22. Sim, a disciplina física é ensinada na Bíblia, mas isso não significa uma necessidade de disciplinar seu filho a cada dez minutos, havendo ou não necessidade. Não estamos falando de abuso de menores — as palmadas devem doer, nunca lesionar. A “disciplina física não funciona” ocorre de duas formas: uma quando corrige seu filho, e ele aprende a ficar longe toda a vez que você pisa em casa ou liga a TV. Não passa de abuso. Deus não o chama para espancar seu filho; se isso é o que tem feito, seu dever é arrepender-se e buscar o perdão de Deus e de seus filhos. Um pai jamais deve espancar seus filhos. O outro erro, e francamente o mais comum, acontece quando se dá uma palmada ou um tapinha ocasional e muito inconsistente por cima das fraldas. Bom, a criança simplesmente foi deslocada por uns dezoito centímetros, e nada mais. Aquela pequena coisinha endiabrada vai reagir assim: “Rá! Eu desafio você e toda sua deplorável tentativa de intimidar a dona do mundo!”. A disciplina é uma linguagem universal. Ela comunica. A disciplina piedosa supera. Deve haver conquista, do contrário não pode ser considerada piedosa. Muitas vezes, pais relutam em disciplinar quando necessário, pois pensam que seus filhos têm a mentalidade fraca em relação à causa e ao efeito da piedade. A mãe pode dizer “Acho que minha ovelhinha” — conhecido pelos de fora como tornado uivante, e por seus irmãos como Rasputin de pijamas — “não compreende a conexão entre fazer birra e a palmada. Ele parece tão triste e desnorteado”. Você disse não entende a causa e o efeito da disciplina? Mas como, sendo ele um verdadeiro gênio das causas e efeitos da impiedade? Diga, ele compreende a conexão entre choramingar e conseguir o que quer? Ele compreende essa relação casual. . . então por que não entenderia o relacionamento causal entre mostrar o dedo e ser disciplinado? Provérbios 19.19 diz: “Homem de grande ira tem de sofrer o dano; porque, se tu o livrares, virás ainda a fazê-lo de novo”. Esse é o princípio de causa e efeito. Ao limpar a barra de alguém que perdeu a paciência, mesmo que tenha dois, trinta, sessenta anos de idade, você terá de fazê-lo outra vez. Quando isso acontece, a criança é recompensada por agir sem medir as consequências. Ganha-se mais daquilo que foi atenuado, perde-se o que não foi penalizado. Em quarto lugar, disciplina é amor. A Bíblia declara isso de duas formas: primeiro, positivamente: “porque o Senhor corrige a quem ama” (Hb 12.6). Quando Deus ama, Ele corrige. O mesmo princípio é declarado negativamente apenas alguns instantes depois: “Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos” (Hb 12.8). Em Provérbios 13.24 temos o princípio declarado de forma negativa: “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina”. Sem disciplina física eficaz, você odeia seus filhos. Se não os disciplina de acordo com a Palavra de Deus, não me importa a sua estrutura emocional — você não os está amando. O amor não é definido por nossa estrutura emocional, mas por aquilo que a Bíblia diz. O ódio é definido por aquilo que a Escritura declara, e a Palavra de Deus diz que não disciplinar os filhos praticamente equivale a desprezá-los — e isso inclui renegá-los ao não fazer nada mais do que dar tapinhas por sobre as fraldas. Logo, a disciplina sem eficácia é uma forma de negar, rejeitar, odiar seus filhos. Deus não age assim conosco, portanto não devemos agir dessa maneira com nossos filhos. Ao mesmo tempo, queremos corrigir nossos filhos enquanto manifestamos todo o fruto do Espírito. Por isso disciplinar crianças é a vida cristã de forma microcósmica. Não se trata de uma busca secular desconectada de questões como o pecado e o perdão, o Evangelho e a redenção. O ato de disciplinar os filhos está totalmente relacionado a Jesus. Estamos nutrindo almas, não treinando filhotes. Essa é uma forma de discipulado e ministério, e não pode ser um ministério sem ter Jesus no centro. Não se conquista a justificação pelo experimentar da disciplina. A santificação não conduz à justificação, e nosso lugar em Cristo não foi dado porque alguém nos arrastou até Ele mediante a correção física. Você foi adotado pela livre graça divina. E então Deus coloca em você uma das marcas de pertencimento: Ele disciplina todo filho que tem. Medite nisso. Deus o está amando quando o disciplina. Você recebe o dom da disciplina santificadora como resultado da livre graça.
  • 23. Quando garoto, nas vezes em que era disciplinado, meu pai, sempre calmo e sensato, dava-nos uma oportunidade de autodefesa, geralmente bem fraca. Ele nos disciplinava e então nos segurava, orava conosco, e dizia algo do tipo: “Tudo está completa e totalmente perdoado, e você pode voltar e reingressar na família como um membro integralmente participante dela, desde que não fique mal- humorado com o que acabou de acontecer”. Lembro-me de sentar no porão, ouvindo o feliz tilintar dos talheres no andar de cima, como o filho pródigo em terra distante. Quando isso acontecia, antes de me arrepender e reingressar na família, eu era um Wilson? Eu era um Wilson no porão tanto quanto era e fui em qualquer outro momento da minha vida. Na verdade, esse era o porquê de eu estar lá. Meu pai não fazia aquilo com os filhos do vizinho (por mais tentador fosse de vez em quando). Eu estava lá pois eu era um Wilson. A membresia na minha família nunca esteve mais segura do que quando eu estava sentado lá, sob disciplina. Estava feliz em ser um Wilson? Não necessariamente. Eis que você é um cristão justificado. Essa é a sua posição como cristão. E então Deus disciplina, açoita, corrige. Ele opera coisas diferentes e que introduzem problemas em nossa vida; se ficamos bravos ou chateados, é como se estivéssemos sentados nas escadas do porão, não querendo voltar a fazer parte da família. Você é bem-vindo a mais uma vez subir as escadas a qualquer momento e aprender a lição a partir disso. Aprendendo a lição, enxergando que a santificação relaciona-se com a justificação, você entende como a disciplina de seus filhos retrata isso também. Sua teologia da justificação e sua teologia da santificação destilam da ponta de seus dedos, especialmente se você estiver disciplinando seus filhos.
  • 25. CAPÍTULO 8 E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor. (Efésios 6.4) Na parte anterior, distinguimos a disciplina da punição. Essa distinção inicial mostra que a disciplina é corretiva, enquanto a punição está preocupada apenas com a justiça ou retribuição. Quando ordena a execução de um criminoso, o magistrado não tenta transformá-lo numa pessoa melhor, mas está simplesmente executando justiça. Isso pode ou não tornar o criminoso uma pessoa melhor, porém a questão não é disciplinar, mas, ao contrário, punir. O que os pais fazem em casa é disciplinar, não punir. Uma vez aceita a responsabilidade de aplicar a disciplina paterna ou materna, descobre-se que, em si mesma, ela ocorre sob duas categorias: corretiva e formativa. A disciplina corretiva é a correção de pecados manifestos no passado, bem como a correção daquilo que diz respeito ao futuro. A disciplina formativa antecipa aquelas tentações típicas ao homem e busca incutir certos traços de caráter antecipadamente. Nesse texto, a responsabilidade é dada aos pais. Tomando toda a Escritura, sabemos que ambos, pai e mãe, são responsáveis por essa tarefa crucial (por exemplo, no livro de Provérbios, um jovem é exortado a obedecer à lei de sua mãe). Paralelamente, vale notar que a responsabilidade central nessa passagem é dada ao pai. Deus impõe mandamentos sobre nossas fraquezas. Mães geralmente não precisam ser exortadas ao interesse e ao investimento na contínua instrução diária de seus filhos. Os pais precisam ser exortados dessa forma, e Paulo faz exatamente isso. Também nos é ensinado, poucos versículos antes, que o marido é o cabeça da esposa assim como Cristo é o cabeça da Igreja, e isso significa que o pai é o responsável por tudo o que acontece no lar. Ele é o responsável, em primeiro lugar, por não se tornar uma provocação para seus filhos. Novamente, Deus dá mandamentos às nossas fraquezas. Quando a Bíblia diz “Pais, não façam isso” ou “Esposas, não façam aquilo” ou “Filhos, não façam isso e aquilo”, Deus está falando sobre coisas que possivelmente faríamos, não fôssemos exortados a evitá-las. Logo, os pais têm uma tendência a provocar seus filhos, e o apóstolo está contra-atacando essa postura. Quando um pai faz seus filhos tropeçarem em ira, seu pecado antecede o dos filhos e é muito mais grave. Em Lucas 17.2, Jesus diz
  • 26. que seria melhor que um homem tivesse uma pedra de moinho amarrada ao pescoço do que fazer tropeçar um de seus pequeninos. Agora, o pai de família é responsável por prover para seus filhos uma educação e criação cristãs. Filhos cristãos precisam receber muito mais que uma educação cristã, mas o mínimo é a receber. As palavras traduzidas em Efésios 6.4 por “disciplina e admoestação” são paideia e nouthesia. Ambas são quase sinônimas, logo é difícil dizer qual palavra é traduzida para qual palavra. Ambas poderiam ser traduzidas por “disciplina”, e ambas poderiam ser traduzidas por “admoestação”. Tome ambos os termos, e eles abrangerão e, necessariamente, exigirão uma educação cristã. O que chamamos educação não é tão grande quanto o termo desse comando, mas é, necessariamente, um componente crítico. Quando se fala de educação cristã, todos pensam em escolas, história, geografia, matemática. Logo nos vem à mente aquele período “formal” específico, mas, embora a paideia o inclua, ela não se limita a isso. Hoje em dia, a educação é concebida como “despejo de informações”, mas a exigência crua e bruta, sem instrução, é uma forma de provocação. Já por outro lado, os pais não devem permitir que seus filhos se esquivem da obediência, exigindo explicações. “Por que temos que fazer isso?”. É uma obrigação dos pais responder a esse tipo de pergunta, mas também penso que um pai astuto dirá: “Vou dizer uma coisa. Essas perguntas são ótimas. Por que você não limpa a garagem como eu disse para fazer, e quando terminar, sentamos e conversamos sobre o motivo de eu ter pedido isso, certo?”. De repente parece que a criança não quer mais as respostas às perguntas que ela mesma fez; tudo o que ela quer é adiar a limpeza da garagem. E você não quer uma criança exigindo explicações como substituto da obediência. Paralelamente, se é rotina para o seu filho ouvir nada além de “porque eu mandei”, e eles não fazem ideia do porquê são pastoreados nessa direção, algo está drasticamente errado. As duas metades desse versículo estão conectadas: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai- os na disciplina e na admoestação do Senhor”. Ensinar, instruir e fazer com que o mundo tenha sentido são maneiras de não provocar os filhos à ira. Seu filho é provocado à ira se você não o mune de habilidades. Ainda criança, ele não é preparado para trabalhar duro, para estudar níveis mais elevados de matemática, para manter um emprego, para responder bem às autoridades. . . daí, quando cai a ficha é que se costuma perceber que o trem já partiu e que já é tarde demais. Não houve preparo. E quem foi que não os preparou? Se o pai não proveu uma educação cristã piedosa, então ele negligenciou o que Paulo ensina nesta passagem. Você já leu a respeito desse importante ponto da disciplina algumas vezes, mas ele se aplica à paideia cristã também. Então, aqui está, de novo: a diferença entre a disciplina corretiva e a formativa é que, quando as coisas vão ativamente mal, a disciplina corretiva as coloca de volta nos trilhos, restaurando a comunhão entre pais e filhos, enquanto a disciplina formativa previne o pior no futuro. Toda disciplina é corretiva, mas alguns tipos corrigem erros passados e outros previnem erros futuros. Suponha que uma mãe, ao sair pela porta, diga a seu filho que termine a lição de matemática antes de jogar videogame. Suponha que ele entre no modo de racionalização típica de um menino do Ensino Fundamental e comece a pensar sobre quanta matemática está envolvida na programação de videogames, e que, na verdade, o espírito da matemática está impregnado nesses jogos! Quando, mais tarde, naquela noite, de súbito suas explicações e racionalizações desaparecerem como o orvalho da manhã e as vierem consequências, sua mãe estará impondo o primeiro tipo de disciplina, a disciplina corretiva sobre um incidente do passado. O segundo tipo de disciplina é deixar estabelecido que a lição de matemática deve vir em primeiro lugar. A lição de matemática pode fazer uma criança sentir-se perseguida. Lá está, uma pilha de tarefas, não porque ela fez algo de errado, mas justamente porque seus pais querem que continue a não fazer nada de errado ao longo de toda a vida. A lição de matemática exemplifica o preparo para um dia futuro, e isso é disciplina formativa. Ela também é corretiva, mas é correção preventiva. O mesmo ocorre em outros assuntos. Você está antecipando problemas comuns à vida, preparando seu filho e o munindo para dias difíceis. Isso se conecta ao todo do tema da formação de caráter.
  • 27. Certo escritor foi muito prestativo ao notar que a educação tem que ver com formação, e não tanto com informação. Correção preventiva, feita da maneira certa, é um processo de construção de caráter. Um dos grandes erros que os pais geralmente cometem é opor a parte acadêmica a questões de caráter. Aprender a fazer o tipo de trabalho que as crianças aprenderam a fazer e que tiveram de aprender por milênios não é o oposto da formação de caráter — em si já é formação de caráter. Se um grupo de meninos estivesse usando pás para cavar uma vala, e um dos pais deles viesse e buscasse seu filho para que passasse fazendo outra coisa em vez de cavar, esse não seria um exemplo de focar no caráter em vez de cavar. Embora o caráter seja mais importante que a vala, não a cavando, o caráter não é desenvolvido. O que se tem é alguém que se debruça sobre a pá ou que vai para casa e se senta no sofá. Todas as tarefas em nossa frente são oportunidades para a construção do caráter. Ao levar seu filho de volta para casa, privando-o do trabalho de cavar aquela vala, você estaria se recusando a trabalhar no caráter dele.
  • 28. CAPÍTULO 9 Não se pode abordar todo esse assunto sem falar sobre princípios e métodos. Imagine uma rodovia com quatro pistas de mãos contrárias, duas rumo ao céu e duas rumo ao inferno. Um Ford e um Chevrolet estão nas pistas rumo ao céu, e nas duas pistas rumo ao inferno estão um Ford e um Chevrolet. Os tempos são maus, tanto que, quando os Fords se cruzam, seus motoristas buzinam e acenam um para o outro. O mesmo ocorre no caso dos Chevrolets. Os motoristas em direções opostas podem sentir um senso real de solidariedade, uma vez que têm o mesmo tipo de veículo, mas estão seguindo em direções completamente distintas. Quando se trata de educação, alguns pais recorrem a colégios cristãos, outras ao ensino domiciliar, e alguns às co-ops.3 Assim como na analogia do Ford/Chevrolet, o veículo não importa tanto quanto o local para onde se está dirigindo. Alguns fazem escolhas diferentes por motivos bons e piedosos que têm muito mais em comum do que outros que fazem as mesmas escolhas, mas por razões completamente diferentes. A escolha em si não é tão importante quanto a motivação. Não queremos cair em paralelos estúpidos de Ford-Ford ou Chevrolet-Chevrolet. Queremos pensar sobre o princípio — criamos nossos filhos na disciplina e na admoestação do Senhor? Se a sua lealdade primária é aos métodos, você não está pensando como um cristão. Se a sua lealdade primária é ao alvo, você se verá em boa companhia com um número de pessoas buscando o mesmo alvo mas com métodos diferentes. Mas qual é o alvo? A palavra paideia que Paulo usa em Efésios 6.4, a qual discutimos em capítulos anteriores, é uma palavra de denso significado. Todo idioma tem palavras abrangentes como essa — em nossa cultura, um exemplo disso seria a palavra “democracia”. Ela é tão importante que não seria de impressionar se você encontrasse um estudo de três volumes acerca dela num sebo. Paideia era uma dessas enormes palavras no mundo antigo, e ela se referia à enculturação de uma criança até o ponto que ela pudesse tomar seu lugar como cidadão em uma pólis. Em outras palavras, paideia referia-se à realidade toda abrangente, criadora da civilização. Paulo a usa para fazer referência a algo muito similar. O apóstolo viu cristãos que outrora foram como que estrangeiros à comunidade de Israel (ver Ef 2.12), mas que mais tarde tomariam seu lugar como cidadãos da nova Jerusalém (ver Gl 4.26; Hb 12.22). A ligação é a mesma em Filipenses, falando de nossa cidadania nos céus (Fl 3.20). A paideia cristã prepara a criança para as responsabilidades que ela terá como adulto no reino de Deus. Quando Paulo ordena aos pais que providenciem uma paideia cristã, ele o faz antes que houvesse algo como uma cultura cristã para os filhos dos primeiros cristãos de Éfeso que receberam essa carta.
  • 29. A determinação de instruir filhos na paideia do Senhor é impressionante, principalmente porque não havia civilização cristã na qual os enculturar. O que ele estava falando para o cristão de Éfeso fazer? A fim de cumprir tamanha exigência, os primeiros cristãos tiveram de criar tal cultura, coisa que vieram a concretizar mais tarde — e é por essa razão que estamos aqui hoje. A civilização ocidental é o resultado desse esforço, e o reino de Deus não é a civilização ocidental, mas não há como contar a história de uma sem contar a história do outro. Não se pode relatar a história da Igreja sem falar de Carlos Magno, Alfredo, o Grande, nem se consegue falar sobre a civilização ocidental sem relatar os primeiros Pais da Igreja. Prosseguindo em cumprir essa obrigação, o alvo é fazer com que a civilização e o reino de Deus tornem-se mais e mais sinônimos e de mais difícil desassociação. Neste momento, é muito fácil diferenciá-los. Atualmente, a batalha entre as trevas e a luz é óbvia. E era muito mais óbvia quando a Carta aos Efésios foi escrita. Mesmo assim, os cristãos primitivos fizeram o que o apóstolo Paulo mandou fazer, e o resultado foi uma cultura cristianizada. Eles não o fizeram perfeitamente, e nós não estamos nem perto disso, mas aqueles crentes criaram uma cultura na qual era possível educar os filhos. É privilégio nosso ter aspectos significantes construídos por eles ainda funcionando como parte de nossa herança, significando que não precisamos começar do nada como eles precisaram. Muitos são os esforços e as conquistas que os cristãos devem almejar com aquela grande oração de duas palavras, “Geronimo! Amen”.4 Deus é quem guia todo o processo. Mas agindo dessa maneira, precisamos confiar no Senhor, sabendo que conhecemos apenas uma pequena fração de tudo o que está acontecendo, mesmo quando diz respeito ao que acontece com nossos próprios filhos. Consequentemente, nós simplesmente temos de receber a Palavra de Deus e busca-lá dando o nosso melhor à medida que Deus nos capacita com sua graça.
  • 30. CAPÍTULO 10 Enquanto com filhos pequenos, pais podem ser vítimas da aderência a determinada ideia — todos os tipos de noções sobre estratagemas educacionais, esquisitices com a saúde, disciplinas infantis, fobias alimentares, e assim por diante. Para a maior parte dessas coisas, podemos dizer, e deveríamos, assim como o apóstolo Paulo, que cada um tenha opinião inteiramente definida em sua própria mente (Rm 14.5). Uma das formas de manter a paz numa congregação diversificada é permitir que os outros façam as coisas do jeito deles. O que é bom e a coisa certa a fazer. Porém, também é preciso lembrar que não é sábio viver em uma sala de espelhos (2Co 10.12). Se ninguém pode abordá- lo e questionar suas decisões, você tem uma atitude pagã. É seu dever estar totalmente convencido e convicto ao final do dia, pois você é quem precisa tomar decisões para a sua família, mas também é preciso estar aberto para receber opiniões de terceiros. Se nunca presenciou o exemplo de pais piedosos educando os próprios filhos, busque diligentemente por isso. Ao buscar conselhos e exemplos piedosos para imitar, tome cuidado. Aprendemos por imitação, mas também invejamos por imitação. É preciso aprender a copiar sem comparar. Uma das grandes verdades que descobri ao construir a minha casa foi a natureza do trabalho com cimento. Uma parte incrível de trabalhar com esse material é perceber que, poucas horas depois de colocá-lo, não importa o que aconteça, o trabalho estará feito. Você não mais terá de preocupar-se em ficar acordado até tarde para terminar a obra. Seus filhos são esse cimento molhado. Isso não o obriga a tomar um percurso de ação em particular, mas o obriga a adotar determinado comportamento. Aqueles ao seu redor têm a obrigação de ajudá-lo na disciplina cristã do seu filho. Não chegamos ao nível “é necessário uma vila para educar uma criança”, de Hillary Clinton, mas, em um sentido limitado, seus filhos são membros de pessoas do pacto e de uma congregação pactual. É bem provável — é garantido, na verdade — que alguns pais sentados na outra fileira saibam mais sobre o que está acontecendo com você e seu filho do que você mesmo. Você pode não saber que seu filho é um incômodo, e a pessoa sentada do outro lado da igreja pode não saber o nome do meio do seu filho — mas ela ainda é capaz de perceber que ele é um incômodo. Precisamos daqueles que cuidam da nossa retaguarda.
  • 31. Criar filhos na paideia do Senhor significa instruí-los a fim de que eles saibam que estão incorporados em um corpo mais abrangente, maior que sua família. Não apenas maior que ela, mas a Igreja de Deus é ainda mais importante. Você não é forçado a fazer tudo o que alguém diz, mas é obrigado a ter disposição para ouvir sem ficar bravo. O Salmo 141.5 diz assim: “Fira-me o justo, será isso mercê; repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo”. No final das contas, existe a liberdade em Cristo de diferir dos irmãos quando estes diferem sobre pontos de vista. Entretanto, você não tem o direito de ficar irritado enquanto se depara com uma perspectiva diferente da sua. Você não tem o direito de ignorá-las, sem mais nem menos. Estamos envolvidos na vida uns dos outros, e isso é conveniente, pois certos pecados e tropeços vão à frente enquanto outros deixam rastros (1Tm 5.24). A insensatez própria dos pais é o tipo de coisa que pode demorar para explodir — um de seus irmãos em Cristo pode perceber que algo vai acontecer uma década antes da concretização. Entregue-se ao Senhor, leve sua petição diante do Senhor, clame a Deus por isso. . . e esteja disposto a considerar a questão. Provérbios 12.1 diz: “Quem ama a disciplina ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é estúpido”. Você pode saber se está incutindo o tipo de disciplina correta em seus filhos ao reagir quando alguém lhe sugere algo. Entrando na defensiva quando isso acontece, não se surpreenda ao ver seu filho na defensiva quando você lhe der alguma sugestão. Ele está aprendendo a como ser ensinável por você. Ou não.
  • 32. CAPÍTULO 11 Crie seu filho para que ele assuma a posição que lhe cabe entre as pessoas, e isso quer dizer que sair de casa significa sucesso. Assim como é dito em Gênesis, deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher e os dois se tornarão uma só carne. Estabelecer uma família e um novo lar está no gene de seus filhos. Em Os Quatro Amores, C. S. Lewis comenta sobre o tipo de amor carente que se recusa a deixar ir. Isso não é criá-los com sucesso. A criação de filhos é prepará-los para a vida no reino de Deus conforme este interage com o reino dos homens. O que acontece na família que se forma duma escola cristã ou da comunidade de ensino domiciliar não deve ocorrer isoladamente. Há tempos em que preparamos nosso povo para andar no lado de fora da congregação, onde as pessoas são pecaminosas e irracionais. Ou seja, seu filho será maltratado. Alguém dirá algo indevido. E daí? Bem-vindo ao mundo, filho. Não podemos criar nossos filhos enrolados em algodão ou embrulhados com plástico bolha, onde nunca encontrarão pecado. Pessoas me perguntam: “Por qual razão você matriculou seus filhos na Logos School?”.5 Fiz isso por ser um lugar onde existe bastante pecado. Essa é uma ótima razão para enviá-los. Há centenas de crianças, e elas pecam pra caramba — e os professores e administradores também são descendentes de Adão. Temos todos os tipos de problemas. Mas o que também temos é uma comunidade onde nos comprometemos a lidar com o pecado de maneira bíblica. Não há lugar no planeta onde você possa esconder seus filhos da presença do pecado. Ainda que os trancasse numa cabana no topo de uma montanha a oeste de Montana para lá educá- los, notaria que nosso pai em comum, Adão, seguiu seus passos e o veria manifestando sua presença de todas as maneiras. O pecado deve ser tratado com o Evangelho, não com isolamento ou com coletes de proteção. Eis um desafio, pois você e seus filhos recebem o preparo para o viver cristão justamente quando, estando eles na classe de catecúmeno ou na escola, ou em uma co-op6, um professor não ensina algo corretamente ou os trata indevidamente. Esconder-se do pecado de fora não nos protegerá do pecado do lado de dentro. Há pessoas lá fora com pontos cegos e sentimentos de vingança. Há pessoas com boas intenções que não acabam bem. Não há como esconder-se dessa verdade. Confronte-a com o Evangelho e siga em frente.
  • 33. Devemos munir nossos filhos para que eles encontrem esse tipo de coisa com um coração cheio do Evangelho. Muna-os com o Evangelho, ensine-os a ter compaixão dos irmãos e das irmãs da igreja, ainda que não concordem sobre todos os aspectos. Isso é o que significa construir uma comunidade e viver nela. Isso nos leva de volta ao critério graça. O único lugar que existe para esconder-se do pecado é Jesus Cristo. Qualquer outra técnica não surtirá efeito, não funcionará. Você deve confiar em Jesus. Se, confiando em Jesus, você estiver buscando um método educacional em particular, Deus abençoará seus esforços. Agora, se você acha que já cuidou de tudo, então o seu método não está debaixo da bênção de Deus, e fadado a esvair-se de suas mãos. Não importa o que seja nem quem esteja envolvido. Você pode ter o melhor equipamento do mundo, mas se tentar fazer um omelete com ovos estragados, você ainda terá um omelete estragado. Não importa quão boa a receita ou quão sofisticada a cozinha. A fim de não pegar ovos estragados, você precisa ter Jesus — perdão, pureza, humildade e confissão de pecados. Por essa razão que é espiritualmente perigoso quando cristãos se gabam de diferentes métodos educacionais, não por haver algo necessariamente de errado com o método em si, mas por ser uma postura que exclui Jesus. Agindo assim, você perde a bênção. Almeje exclusivamente ocupar-se da obra de criar seus filhos, ensinando-os e educando-os, com tudo já sobre o altar, esperando que o fogo desça.
  • 35. CAPÍTULO 12 Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo Jesus. Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores. Por esta causa, vos mandei Timóteo, que é meu filho amado e fiel no Senhor, o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo Jesus, como, por toda parte, ensino em cada igreja. (1Coríntios 4.15–17) Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo. (1Coríntios 11.1) Ser um pai bíblico e uma mãe bíblica é muito mais que um pacote de dicas e técnicas. Técnicas são úteis para aprender a pintar números, mas esse não é o tipo de coisa que fazemos enquanto instruímos nossos filhos. Ao mesmo tempo, a criação de filhos não é algo tão misterioso e alheio a esse mundo que só nos resta não saber o que fazer. Não estamos em uma densa neblina, nada podendo fazer, exceto tateá-la. Pais sábios compreendem o que estão fazendo, mas não com uma postura mecânica. A paternidade e a maternidade modeladas pela piedade dizem respeito a tornar-se mais como Jesus na presença de pequeninos que também estão no processo que é conformar-se mais à semelhança de Cristo. Ambos estão aprendendo lições na escola da santificação. Neste livro sobre a criação de filhos, falamos sobre justificação, a qual consolida o fato do seu relacionamento com Deus, e a santificação, que é o processo de direcionar essa relação. Na escola da santificação, os pais estão nos anos finais, e os filhos nas séries iniciais. Os pais já estiveram onde os filhos agora se encontram, e os filhos um dia estarão onde os pais hoje estão. Vemos os princípios estabelecidos na Palavra, e lhes devemos obediência, mas não podemos imitá- los de forma a tentar fabricar técnicas educacionais a partir de ripas 6 cm x 12 cm. A criação de filhos não funciona dessa forma. A criação de filhos não é algo impossível e, sim, envolve um comportamento guiado por regras, mas deve ser sempre pessoal. Lembre-se da Primeira Parte: a palavra traduzida por “seguidor” é mimetai, da qual tiramos as palavras “mímica” e “imitar”. Em 1Coríntios 4.15–17, aprendemos que o genuíno discipulado cristão é guiado por um paradigma muito mais parecido com uma família do que com um auditório. É como um pai conversando com seus filhos ao redor da mesa de jantar. É como uma mãe conversando com sua filha na cozinha, ambas dialogando sobre algo muito importante a esta. Ser pai ou mãe não é como despejar informações, não é como um livro, nem como uma palestra. Tais podem ser valiosos em seus devidos lugares, mas não cumprem o papel quando se cria filhos. São coisas valiosas em seus devidos lugares, mas não são tudo.
  • 36. Paulo diz em 1Coríntios 4.15 que um pai é o equivalente a dez mil instrutores. Se você não tem pai, não importa a quantas palestras você assista. Uma das coisas com as quais lidamos em nossa cultura hoje é a crise da ausência paterna. Tentamos compensá-la com dez mil instrutores, mas será necessário muito mais que isso. Por esta razão, Paulo suplica aos de Corinto que sejam imitadores dele (v.16) Ele diz para que o imitem, observando o que faz e fazendo o mesmo. Isso nos incomoda, pois somos individualistas, e, no entanto, desejamos ser originais. Queremos fazer as coisas do nosso jeito, e dançar conforme nossa própria música, mas, no fim das contas, todos estão copiando alguém. Ou você copia alguém que o fará crescer ou alguém que criará muitos problemas. Por isso Paulo enviou Timóteo: ele era um filho amado de Paulo. O filho poderia recapitular as maneiras de seu pai. Em 1Coríntios 11, aprendemos que, quando imitamos Paulo, estamos imitando um imitador. O próprio Paulo imita a Cristo (1Co 11.1). O padrão original não foi estabelecido por Paulo, mas pelo Senhor Jesus. Ele imitou a Cristo e nós devemos imitá-lo; da mesma forma como Paulo imitou a Jesus, nós imitamos Paulo. Um dos pontos centrais que devemos imitar é o padrão da imitação em si. É claro que há dois tipos de imitação. Progresso verdadeiro e piedade são coisas que se desenvolvem através da imitação, mas porque seres humanos são necessariamente imitadores, o mesmo ocorre com a impiedade. Nascemos neste mundo como descendentes pecaminosos de Adão, logo temos uma certa inclinação à imitação do que é feio e pecaminoso, e manteremos essa inclinação até que o Senhor nos converta. Mas mesmo então, imitando a Deus ou pecadores, independentemente, crescemos por meio da imitação. Encontramo-nos em constante perigo de invejar outras pessoas e nos compararmos a elas. Contudo, com todo o processo ocorrendo em Cristo, então estamos salvos. Uma forma de dizer se estou copiando de forma sábia ou tola é a seguinte: se estamos imitando biblicamente, quanto mais o fazemos, mais autênticos somos. Quanto mais parecido com Cristo você for, mais resplandecerá a sua personalidade. Vemos situações quando alguém copia uma outra pessoa e, por resultado, se perde, mas isso ocorre por causa do que chamo de ego comparativo. Se for algo mais guiado pela inveja ou pela comparação, haverá cada vez mais confusão. Entretanto, quando todos nós nos tornamos mais como Jesus, e quando todos os bilhões de cristãos estiverem reunidos ao redor do trono de Deus, o que surge não é um exército de clones com um código de série na parte de trás ou no pé. Quanto mais parecido com Jesus você for, mais autêntico você será. Quanto menos parecido com Jesus, mais monótono e previsível. O pecado é monótono. A piedade não. Quanto mais um filho copia seu pai de forma autoconsciente em Cristo, mais singular ele se torna como futuro pai. Tentando preservar a originalidade ao fazer o esforço para ser o mais singular e legal possível, o que na verdade você está fazendo é copiar outras pessoas com um olhar insincero, sendo incapaz de admitir que é isso que está fazendo. Lembro-me de algo que aprendi na Mad Magazine nos anos 1960: “Está cada vez mais difícil diferenciar os dissidentes”. Quando você copia com um olhar mesquinho e esnobe, isso tudo fica invisível a si mesmo. Você não enxerga que é igual a todo mundo. Mas se você copia aqueles que Deus ordena copiar, e os imita como eles imitam a Cristo, então você não está prestes a perder a si mesmo. Ao contrário, você está no processo de tornar-se aquilo que Deus deseja.
  • 37. CAPÍTULO 13 Todos estamos familiarizados com o sarcasmo embutido no dizer: “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Quando desafiados, a primeira reação dos pais não deveria ser “Vamos pôr um fim nisso” ou “O pecado surgiu em nosso filho! Precisamos arrancá-lo!”. Ao contrário, a primeira reação deve ser de, em oração, perguntar se o Senhor não está lhe revelando algo sobre o seu próprio comportamento e modo de vida. Ao perguntar “Onde foi que a nossa pequena Sally aprendeu isso?” e supor que tenha sido de algum réprobo do parquinho no final da rua, pare e considere, que talvez ela esteja aprendendo isso de você. Será possível que, nesta situação, Deus esteja segurando um espelho em sua frente, mostrando algumas coisas para que você dê início a correções ao arrepender-se de seus pecados? Consideremos alguns exemplos. Suponha que o filho se comporte mal à mesa e seu pai se irrite. O filho teve um mau comportamento, com certeza, e seu pai lhe disse para não ter essa conduta. Mas por que ele se comporta mal à mesa? Porque seu pai se comporta assim. Irritar-se com seus filhos à mesa é muito pior do que brincar com batatas usando uma faca. A Palavra de Deus nunca diz nada sobre brincar com as batatas usando uma faca, mas aborda a raiz do pecado, que faz arrancar a cabeça do sujeito. O pai então desobedece à Bíblia e age de tal forma que humilha todos ali, incluindo a criança brincando com as batatas. Não é legal que crianças brinquem com a comida, mas porque são boas maneiras evitar esse tipo de comportamento. Entretanto, ficar irritado com maus hábitos manifestando hábitos ainda piores é uma coisa pior ainda. Eis um exemplo prático de um pai basicamente dizendo que maus hábitos à mesa são tolerados. As crianças nitidamente têm o problema de brincar com as batatas — mas os maus modos são absolutamente aceitáveis. Os pais acabaram de provar. Aqui vai um exemplo mais positivo. Em vez de dizer “Vá ajudar a sua mãe a tirar a mesa”, o pai deveria falar: “Venha, vamos ajudar a mamãe a limpar a mesa”. Ele dá o exemplo. Não quero dizer que é sempre errado o pai mandar seu filho fazer algo. A vida não se faz possível a menos que as crianças recebam tarefas explícitas de vez em quando. Mas elas deveriam recebê-las após verem com frequência o exemplo dos próprios pais. Se há algo a aprender com esse pequeno livro, que seja o seguinte: pais tendem a rotular incorretamente aquilo que têm para ensinar. Se alguma vez na vida você já esteve em um estudo
  • 38. bíblico tentando se localizar na lição enquanto todo mundo está em 1Reis, e você está em 2Reis, então, quanto mais procura, mais estranho fica. A confusão toma conta se eles estiverem fazendo uma coisa, e você outra totalmente diferente. Imagine o seguinte cenário: suponha que um bebê esteja em frente a uma mesa de café de frente a você, desejando mexer num vaso. Suponha também que a criança tenha acabado de ficar mais ágil, mas você ainda não preparou a casa para torná-la à prova de bebês, e ele continua desejando tocar o vaso. Os pais então costumam imaginar o título da lição: “Como não mexer em vasos”, enquanto a verdadeira lição deveria ser intitulada “Como não ficar irritado com seu próximo”. Com isso você ensina seu filho a como não ficar irritado com o próximo, mesmo havendo contínuo desrespeito. Essa é a verdadeira lição. Como Deus nos ensina? Oséias 11.3 diz que Deus ensinou Efraim a andar conforme um pai ensinaria um filho pequeno, permanecendo atrás dele, e segurando seus braços. É assim que ensinamos nossos filhos a andar quando eles começam a pegar mobilidade. O que está acontecendo? Quando você está neste cenário, do outro lado da mesa de café, de frente para o seu filho, o seu trabalho não é ensinar a criança a ser criança. Às vezes pensamos que há alguma coisa errada com nosso filho, pois ele deseja tocar o vaso e devemos transformá-lo em alguém que não deseje tocar o vaso. Mas a sua tarefa não é ensinar a criança a como ser criança — a criança já sabe como ser criança. Você não está ensinando seus filhos a serem crianças. Você, na verdade, deve ensinar seu filho a tornar-se um adulto. Por essa razão que, quando interagindo com seu filho, que está do outro lado da mesa, você deveria olhar para o futuro com os olhos da fé e enxergar seu filho como já estando onde você mesmo está agora, e seus netos no lugar dele. E, sendo a vez dele, como ele saberá lidar com o próprio filho? Ele terá aprendido de você! Se os pais não tiverem paciência diante de provocações repetitivas, quanto menos os filhos! Disciplinando seus filhos corretamente, você está amando os seus netos. Seu dever não é ensiná-los a serem crianças aceitáveis, mas como serem adultos responsáveis — pois este é o ponto principal. Seja honesto — você comprou o vaso em uma venda de garagem no verão passado e esse vaso estará em outra venda de garagem no próximo verão. Quem liga para o vaso? A criança viverá para sempre. A criança não é algo que você adquiriu ou de que você se livrará em uma venda de garagem. O vaso é. Você não deve ensinar a criança a ser uma boa versão do que ela é. Ao contrário, você ensina seu filho a tornar-se o que ele deve ser. E você, o que será para o seu filho? Esse princípio não muda. Suponha que você esteja lidando com uma adolescente teimosa e pensando que “arrumar essa adolescente” é a meta do dia. O seu trabalho não é consertar a adolescente. O seu dever é modelá-la de modo a deixá-la apta a ser mãe. Algumas primaveras mais tarde, sua adolescente terá sua própria adolescente. Você não a está treinando para ser uma adolescente. Ela já sabe fazer isso. Você a está preparando para o dia quando deixar de ser uma. O mesmo acontece com os professores. Os planos de aula que vocês produziram e entregaram para a administração não são a verdadeira lição. A verdadeira lição é modelar Cristo para seus alunos, amando a Cristo e amando os alunos e o material. É isso que é ensino piedoso. Quando os alunos o veem interagindo com eles e com o material como alguém que ama a Jesus Cristo, isso tem um impacto profundo. Se você está fazendo algo a mais, isso também tem um impacto, mas não um bom impacto. Também há ocasiões em que a imitação correta é superficial. É mais difícil impedir que seus filhos fumem se você fuma. É mais difícil impedir que seus filhos se irritem se você está constantemente bravo. Mas há uma outra maneira de abrir o caminho para a imitação sem piedade, mesmo que seus filhos nunca o vejam fazendo algo errado. Lembre-se, Deus está presente, e Deus vê que portas você está abrindo em seu lar, até mesmo as portas secretas, e quais fechaduras você está deixando abertas, até mesmo as secretas.
  • 39. Por exemplo, um pai com o hábito secreto de consumir pornografia não deve ficar chocado ao descobrir que seu filho passa pelo mesmo problema, mesmo que nunca o tenha visto. Ocorre que o pai, com isso, concedeu um tipo de permissão pactual. Ele está dizendo: “Nesta casa deixamos aquelas portas destrancadas. Não há problema na indiferença”. Pecados secretos também podem ser imitados. Há uma profunda estrutura nisso tudo, a qual não podemos fingir que entendemos, mas é extraordinário como esse tipo de coisa acontece paralelamente, mesmo que nada seja feito abertamente. Quando oramos, pensamos ou meditamos sobre a criação de filhos, é tentador chegar ao final e dizer “Bom, o amor é tudo de que precisamos”. Curiosamente, tal redundância é de fato verdadeira, mas, na verdade, não da forma como os Beatles ensinaram. A Bíblia nos diz em 1João 4.8 que Deus é amor. Deus é Senhor sobre todas as coisas, e a sua forma de amar está conectada maravilhosamente e autoritativamente a absolutamente tudo. Em outras palavras, não há lugar aonde você possa ir nesse mundo em que o amor seja irrelevante. O amor sempre é relevante, pois Deus é amor. É nele que vivemos e nos movemos e existimos. Deus é quem ama, Jesus é o Amado, e o amor entre eles é o Espírito. É no amor triuno que vivemos, nos movemos e existimos. Isso significa que o amor é relevante em todos os lugares. Isso explica por que, se desconectamos o amor de qualquer coisa que estejamos fazendo, o resultado é fracasso espiritual. Mesmo que eu tenha dominado todas as técnicas paternas e maternas, se não tenho amor, nada sou. O ensino piedoso, a formação de caráter, e o discipulado são simplesmente isto — amar a Deus e amar aquilo que você de fato concretiza na presença de outras pessoas, as quais você também ama. Ame a Deus, ame o que você está fazendo, e ame quem o está fazendo com você. Fazendo isso, Jesus estará presente. Do contrário, não importa se você disser “Vamos esquecê-lo. Afinal de contas, tenho uma lista de afazeres”. Você deve fazer o que faz em Cristo. Imagine um pai e um filho em frente a um tronco de madeira inteiro. Qual é a responsabilidade do pai? É pegar dois machados, dar um deles a seu filho, e amar a Deus e amar uma manhã repleta de madeiras cortadas, e fazer isso ao lado de seu filho, a quem ama. Isso é o que a criação de filhos piedosa significa. Ame a Deus, ame o que faz e ame as pessoas que Deus colocou em sua vida. Isso retira a necessidade de correção? Não, você deve mostrar como segurar o machado e não o deixar que o manuseie com descuido. Correção, disciplina, ensino, mentoria — tudo isso deve estar presente, pois você ama a Jesus, pois você ama a madeira, e porque você ama o seu filho. Isso é o que você deve fazer.
  • 40. CAPÍTULO 14 Ler 1Coríntios 13 e inserir o próprio nome ao ler a palavra amor é um exercício devocional comum. O que, na verdade, você precisa fazer é passar por 1Coríntios 13 e colocar o nome de Jesus ali. Jesus é paciente, Jesus é bondoso. Jesus faz todas essas coisas perfeitamente, e eu devo é fazer nele o que estou fazendo. Se você não está imitando Jesus Cristo ou imitando o seu povo que imita a Ele, se você está corrigindo seus filhos de forma dura ou cegamente com um senso de pânico, ou se não está corrigindo seus filhos da forma como deve, então é mais fácil pensar de forma reversa, e acreditar que Deus esteja fazendo o mesmo com você. Alguns de vocês, pais, devem ter lido este livro com a sensação de um chute na cabeça. Você pode sentir como se nada pudesse fazer a respeito — seus filhos já estão todos mais velhos, e parece que Deus está olhando para você da mesma forma como você costumava olhar para seus filhos. Mas Deus não age dessa forma. Ao pensar sobre o Deus onisciente e onipresente, precisamos pensar em um Pai. Muitos de nós o imaginam como uma força ou poder onisciente, onipresente e onipotente tal qual a eletricidade, e com uma tendência maldosa prestes a punir. Mas Deus não é nada disso, e erramos ao pensar nele nesses termos. Deus perdoa. Ele o tomará de onde está, não de onde você deveria estar. É preciso pensar “Tudo bem, não posso fazer nada disso fora de Cristo. Tudo precisa estar em Jesus, em um espírito de amor, e devo me voltar a Ele e aceitar o perdão que Ele oferece; Ele é que deve me tirar daqui”. Isso é o que você deve entender. Não se trata de uma superlei. Tudo isso é o Evangelho. A criação de filhos é o Evangelho em sua completude, pois também Deus nos está criando. E para o que Ele nos está criando? Para a presença, para o gozo e para o céu de Deus. Ele nos está criando para sermos como Jesus. Ele nos está criando para sermos nós mesmos.
  • 41. ANEXO
  • 42. PERGUNTAS & RESPOSTAS 1. Existe um momento aceitável para perguntar a seu filho “Como você acha que isso me faz sentir?”? Doug: Das duas, uma: autopiedade ou retoricamente ineficaz. 2. Deve haver o momento para perguntar: “Como você acha que isso faz a sua mãe se sentir?”? Doug: Depende. Se for no desejo de ver as crianças mais agradecidas ou gratas pela refeição feita, não há nada de errado nisso, uma vez que será uma atitude para o benefício dos demais. Nancy: Mas, veja bem, não deve ser algo feito, por exemplo, no meio de uma refeição. Tente um tempo depois, ou os prepare com certa antecedência, não queira fazer seu filho sentir-se culpado quando tiver de responder. Doug foi quem me ajudou a aprender a não levar a desobediência das crianças para o lado pessoal. Se eu me ofendia, as coisas complicavam, e começava a atribuir causas para a situação: “Se me amasse, você não teria feito isso, então o problema deve ser bem mais profundo!”. Só permaneça objetivo: “Eu disse para não fazer isso, e você fez mesmo assim”. Dessa forma, não se torna algo pessoal ou sentimental. Doug: Voltando ao exemplo da mesa de jantar, ao invés de dizer “Por que é que vocês são um bando de ingratos?” durante a refeição, arruinando o jantar, é muito melhor dar o exemplo: “Temos aqui um maravilhoso jantar. Não acham, crianças?”. Agora, se um de seus filhos disser “Não, está horroroso”, daí, sim, ele o estará provocando e desafiando, então eis um momento propício para a disciplina. Porém, na maioria das vezes, quando está tudo bem, a criança apenas está se expressando de forma impensada. Em casos assim, o pai pode demonstrar como ser grato. 3. Como você disciplina seu filho em consistência com a permissão e a liberdade que lhe proporciona? Doug: Uma das melhores formas de ser consistente é reduzir o número de ordenanças. Por exemplo, se o seu filho tem dois anos de idade, e sua casa está repleta de coisas que o obriguem a ficar repetindo “não mexa” toda hora, minha sugestão é que você pegue todas essas proibições e considere quantas delas pode eliminar, deixando o ambiente de sua sala seguro para bebês, digamos. Diminuindo noventa por cento das ordens, fica mais fácil vencer sempre. Mas, impondo
  • 43. uma multidão de regulamentações, será difícil para o seu filho lembrar-se de todas elas. Vejo pais citando ordens como se fossem metralhadoras: “Pegue os sapatos. Coloque a jaqueta. Venha aqui. Ponha esse livro lá”. Eventualmente, seus pequenos ficarão sobrecarregados, e haverá algum tipo de infração. Além disso, tente aglomerar aquilo que você manda, a fim de ter de usar as mesmas palavras sempre. Para uma criança de dois anos, uma das expressões pode ser “sem agitação”, e você deve garantir o uso das mesmas palavras todas as vezes. Se das outras vezes daí usar “sem mau humor” ou “pare de reclamar”, você pode confundir a cabeça do seu filho. 4. Como ser um lar de sim sem mimar seus filhos? Doug: Deus diz não pois Ele tem um sim maior. Logo, você pode dizer não a um vídeo, mas depois lhes dar um quilo de massinha. Quando uma mãe diz não a uma barra de chocolate antes da janta, esse é um não por ela ter um sim à vista. Nancy: Uma das coisas que fiz quando nossos filhos eram ainda pequenos foi garantir a obediência antes mesmo que eu desse uma ordem. Então, quando de fato era o momento de dizer não, eu podia relembrá-los do que lhes havia dito anteriormente. Daí tudo que precisava acontecer, acontecia, e eu dizia “Ah, ótimo! Você conseguiu!”. Outras vezes me lembro de ouvi-los reclamando, então eu falava para rebobinar a fita, sair da sala e entrar novamente, mas então com uma postura de gratidão. Trata-se de manifestar graça mas também de dar instrução. Doug: Pais e mães geralmente emboscam seus filhos com ordens e requisitos, é como assistir a um jogador de futebol americano ficar encurralado pelo time adversário. Suponha que seja verão e seus filhos estejam brincando bastante e com muito calor e energia, daí você sai para o quintal e diz: “Hora de entrar!”. Pronto! Eis exatamente uma fábrica de desobediência. É como ter uma sala cheia com cinco crianças, e dar a todas elas somente um balão — um pequeno balão de pecado. Em vez disso, você deveria ir ao jardim e dizer “Crianças, dez minutos”. Dessa forma, cada um tem tempo de se ajustar; elas sabem o que acontecerá. Você as está preparando para o sucesso, e não as pegando de surpresa, garantindo assim o fracasso delas. Nancy, você costumava prepará-los enquanto a caminho do supermercado, também. Nancy: Quando íamos ao supermercado, ainda a caminho, eu recapitulava com todos eles as três regras: sem pedir besteiras, sem tocar em nada, e fiquem comigo. Era um jogo da sorte, e eu dizia estar orgulhosa deles; muitas vezes a caixa comentava quão bonzinhos eram os meus filhos. Crianças obedientes e alegres são um bom testemunho. No final, se cumprissem as regras, eu sempre comprava um presentinho para eles. 5. Pode falar um pouco sobre os passos que você dava para não levar as coisas para o lado pessoal quando seus filhos desobedeciam? Nancy: Enquanto seu filho pequeno tenta argumentar, é tentador cair na argumentação. Doug lembrava-me de que eu tinha a autoridade sobre meus filhos, e que deveria usá-la sabiamente. A sabedoria não leva as coisas para o lado pessoal, nem entra em uma discussão com crianças. Doug: Acaba se tornando algo contraditório. Você já deve ter visto árbitros se intrometendo no jogo, saindo da imparcialidade. O pai e a mãe são os árbitros. Vestindo a camisa da arbitragem, eles não podem jogar por um time. A partir do momento que você começa a participar do jogo, torna-se algo pessoal e o seu julgamento se obscurece. Nancy: Às vezes eu me precipitava no não: “Mamãe, posso comer um biscoito?” — “Não, não pode”. Daí é que eles gostavam mesmo de argumentar. E foi então que precisei aprender a esperar e dizer “Bom, vou pensar”. Normalmente, se parasse para pensar sobre a situação, eu diria que sim ou teria outra ideia. Creio que seja natural ver filhos tendo a vontade de discutir com a mãe. Então, desde cedo, Doug sempre me lembrava de permanecer calma, exercendo minha autoridade sobre eles. Doug era o meu suporte, logo, se eles fossem insubordinados a mim, seriam insubordinados a ele. E ele me apoiava.
  • 44. Doug: E isso traz de volta o que meu pai me ensinou: não desrespeite a sua mãe. Eu sabia que, quando lidava com a minha mãe, eu estava lidando com o meu pai. E quis que meus filhos soubessem que, se estivessem lidando com a Nancy, estariam lidando comigo. Isso a ajudou, pois, dessa forma, ela não precisava carregar aquele peso sozinha. Ela poderia simplesmente passar a bola para mim, se as coisas ficassem intensas e difíceis. 6. Quais passos vocês tomaram para entrar em sintonia na disciplina dos seus filhos? Doug: A Bíblia relata que todo cristão deve zelar por ter a mesma mentalidade, logo marido e mulher devem ter a mesma mentalidade quanto à disciplina e aos padrões de obediência. Que eu me lembre, nunca precisamos nos esforçar para tanto, dado que Nancy sempre quis que estivéssemos em sintonia. Porém, há outro lado importante: filhos pequenos precisam de que o pai seja duro, mas não a mãe. Há um aspecto carinhoso e acolhedor que a mamãe precisa dar, e também um aspecto engole esse choro, não sangre no carpete por parte do pai. Por causa disso, desentendimentos podem acontecer quando o homem pensa que a mulher deve ser exatamente como ele, ou quando a esposa acha que o marido deve ser igual a ela, não percebendo as oportunidades de amadurecimento, que Deus deu aos filhos um pai, para que assim aprendam a ser firmes, e que Deus deu aos filhos uma mãe, para que assim não sejam duros o tempo todo. Nancy: Se achasse o Doug severo demais com alguém ou que ele havia deixado algo passar, eu refletia a respeito, mas não falava daquilo na frente das crianças. Conversávamos mais tarde, sem que elas pudessem ouvir, sempre almejando uma frente unida. Tentar nos dividir era uma ofensa digna de disciplina física imediata. Se um deles me pedisse algo e eu dissesse não, ele não teria a permissão de pedir a Doug. O não de um de nós era o suficiente. Além disso, pais tendem a ser mais duros com os meninos mas mais moles com as meninas. Mães tendem a ser mais duras com as meninas, e mais maleáveis com os meninos. Compreender essa tendência pode ajudá-lo a ser mais sensato com todos. Doug: Dialoguem a respeito. Fora das trincheiras com os pequeninos, certifique-se de repassar o que aconteceu. Quando seus filhos estiverem todos dormindo, certifique-se de conversar. “Como foi? Como foi o dia? O que sente quanto ao seu relacionamento com Fulano e Ciclano? Como aquele incidente terminou? Certo, da próxima vez faremos o seguinte”. 7. Como era conduzir os devocionais com as crianças? Doug: Fazíamos um monte de coisas diferentes. Nancy: Assim que casamos, no primeiro dia, Doug abriu a Bíblia e começou a lê-la para mim em voz alta, logo pela manhã. Doug: Quando as crianças começaram a chegar, e nossa agenda ficou confusa, mudamos para a hora da janta. Que fosse a leitura da Bíblia, o uso do Catecismo para discussão, a leitura de uma história bíblica, era entre o jantar e a sobremesa. Quando nossos filhos cresceram e já estavam na escola, todo o período do jantar era tomado pela ética bíblica e por conversas sobre situações da escola. A essa altura, as crianças estavam todas dispostas a relatar algum ocorrido e a fazer perguntas. Também líamos bastante em família: altas doses de Nárnia e Senhor dos Anéis. Talvez seja impreciso dizer que adorávamos em família. Tínhamos uma interação regular e contínua com a Bíblia e a Palavra de Deus, e diferentes coisas colocavam nossa fé cristã à prova, mas não havia uma liturgia estabelecida, com cânticos, oração inicial e leitura específica. Nancy: Cada um começou a ler sua própria Bíblia assim que possível. Costumávamos orar, todos juntos, à noite. Assim que chegaram ao segundo fluxo do Fundamental, Doug deu início a um estudo bíblico voltado àquela etapa, e nós nos adaptamos à idade deles. 8. Sendo específico por um instante, quais podem ser as preocupações com, digamos, “cobertas de segurança”?
  • 45. Nancy: Certa pessoa deu-me uma naninha como presente do chá de bebê. Era tão fofo, nosso bebê o pegava e esfregava o rostinho nele sem parar. Um dia eu disse “Olha, meu bem, não é fofo?”, e Doug disse, “Tire essa cobertinha da nossa casa”. A princípio, achei que estivesse brincando, mas ele queria que nossos filhos estivessem seguros em nós, não num objeto como uma naninha. Doug: Aqui vai um qualitativo, e então mais um exemplo. Não é o fim do mundo se o seu filho tiver uma naninha ou uma chupeta ou algo do tipo, mas é preciso cuidado com coisas assim. Por exemplo, recentemente estava no aeroporto e vi um time feminino de vôlei embarcando. Passando pela segurança, contei na fila em minha frente seis delas com bichos de pelúcia, e percebi que essas garotas não tinham segurança. Na posição de pais, quisemos enfatizar e priorizar nosso relacionamento e nossa dependência e nossa interação mútuos. Caso víssemos uma das crianças ficando sem ânimo ou até mesmo fazendo birra para chamar a atenção, nós todos nos reuníamos, e então dávamos mais atenção e afeição que o normal. 9. Como você estabelece prioridades acerca de pecados ou problemas a serem tratados quando o pai chega em casa? Doug: Na verdade, é algo a ser decidido em união. As mulheres geralmente se especializam naquilo que chamo de “grandes experimentos em telepatia” e de “o olhar de mil significados”, enquanto os homens especializam-se em não ouvir aquilo que é gritantemente falado, em alto e bom tom. Mulheres reparam até demais no clima e nas tensões da sala, já homens não prestam atenção o suficiente nem naquilo que é declarado ou dito. O certo a fazer é não ter esse tipo de mal-entendido acontecendo em frente das crianças. Vocês devem conversar a respeito quando estiverem revendo o que aconteceu. Por exemplo, se a obediência estivesse de mal a pior, nós dois nos juntávamos, conversávamos a respeito, e por vezes decidíamos ajustar algumas coisas. Colocávamos as crianças em fila e dizíamos a elas que vimos muitas disputas ou muita confusão ou qualquer outra coisa. Dizíamos a nossos filhos que sentíamos muito por termos deixado aquilo acontecer, e os fazíamos saber que haveria um breve reinado de terror. Isso significava sem alertas e disciplina por qualquer tipo de ofensa. Geralmente nenhuma disciplina era necessária, pois eles entendiam a mensagem. Eles já estavam velhos o suficiente para saber o que estávamos fazendo. 10. Como pedir desculpas aos filhos? Doug: Pedir desculpa aos meus filhos, como muitas outras coisas, foi algo que aprendi com meu pai. Lembro vividamente que ele me pediu desculpas por me disciplinar momentos antes, enquanto ainda estava com raiva. Ele precisou sair para liderar um estudo bíblico, mas, assim que entrou no carro, parou e pensou: “Não posso ir ao estudo desse jeito”. Então ele voltou para casa, subiu as escadas, sentou-se em minha cama e buscou o meu perdão por ter me disciplinado com raiva. Ao fazê-lo, o pai reconhece que todos na casa estão debaixo de sua autoridade, o que significa que as crianças podem confiar na mamãe e no papai. 11. Alguma consideração sobre deixar os filhos com televisão disponível? Doug: Enquanto nossos filhos ainda eram pequenos, fomos bem rigorosos com a TV. Já mais velhos, no segundo ciclo do Ensino Fundamental, havia a questão do videogame. Dizíamos que, se quisessem ouvir um pouco de música ou jogar videogame, eles ganhariam tempo para isso no banco de créditos pela leitura de um livro. Desta forma, eles acumulavam tempo. Havia uma diferença do entretenimento, que hoje é tratado como um direito de nascença, para o lazer, que diz respeito ao descanso. Logo, se você se esforça, acorda cedo e sai para fazer o que é preciso, e depois do jantar quer colocar os pés sobre a poltrona e assistir ao jogo, isso é recreação. Agora, quando você vê alguém numa locadora, segurando dez filmes aos quais ela vai assistir naquele final de semana, isso não é recreação — é vidiotice. Não queríamos que nossos filhos fizessem isso, embora o desejo também não fosse de censurá-los ou de excluir tudo automaticamente. Estávamos de olho para ter certeza de que eles não se afastariam de coisas valiosas como a leitura. Líamos juntos em família e ouvíamos livros no toca-fitas do carro enquanto viajávamos pelo país. Não