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Como Trabalhar no dia a dia
Baralho ou Tarot?
Tarot é o nome que se dá ao tradicional Tarot contendo 78 cartas.
Porém em algumas regiões da França e com alguns tutores mais
antigos é muito comum, serem chamados "Tarot Lenormand",
pois acredita-se que qualquer instrumento divinatório com
cartas seja designado "Tarot". Então perdoem me os mais
tradicionais, quando refiro-me ao baralho como Tarot, é apenas um
costume que tive com os tutores nesses anos.
Respeito ao óraculo
Devemos inicialmente, ter em mente que o baralho é um método
de autoajuda, e não devemos profaná-lo, fazendo a ele,
perguntas irrelevantes ou de futilidades, um bom exemplo disso é
"devo trair meu marido", está pergunta profana o baralho, pois é
algo que você deve decidir por si, dentro da sua moral e costumes. O
Baralho é um bom conselheiro, mas não devemos ficar
escravizados de seus conselhos, devemos sempre lembrar, que
seu uso terapêutico, o ajuda a ter mais firmeza em suas decisões,
mas ele não deve ser o mestre de sua vida e tomar as decisões
que cabem a ti, tomá-las Lembre-se de respeitá-lo e agradecê-lo
ao fim de cada consulta ou auto-consulta, mantê-lo limpo e bem
guardado.
Respeito a outros oraculistas
Devemos ser cientes que, cada oraculista, muitas vezes vê em de
outras escolas, e métodos de aprendizado, não existe certo ou
errado, "Verdadeiro/Real método", e sim aquele que cada um
aprendeu, e funciona para si e seus demais (Pois o oráculo,
sempre ira funcionar, independente de cada escola seguida),
lembre-se de respeitar seus colegas oraculistas, e pegar deles,
aquilo que lhe for útil e coerente.
Concentração e Corte do Baralho
É importante que você, esteja relaxado no momento em que for
fazer um atendimento, ou uma leitura para um consulente,
lembre-se, sua energia influência na leitura, então, não faça a
leitura irritado ou com pressa. Tenha o seu método de
relaxamento, uma respiração, um chá, uma reza, meditação, o que
mais lhe é agradável fazer, para conectar-se ao divino e sentir-se
em paz, para ai sim, iniciar o seu trabalho junto ao baralho.
O Corte
É importante sempre embaralhar muito bem o baralho antes de
iniciar uma leitura, o corte deve ser feito da maneira que você achar
melhor, não existe maneira certa de onde tirar as cartas para
iniciar uma tiragem, você pode pegar do meio do baralho, em cima,
em baixo, sequencial, a resposta será dada independente da
ordem de tiragem do baralho.
As cartas devem ser dispostas com seus símbolos abaixados,
sendo revelados apenas no momento que você começar a leitura.
Seu consulente deve fazer o corte e embaralhamento, e o
cartomante deverá organizar as cartas na disposição correta de
cada método de tiragem, dentro da ordem de tiragem do
consulente.
Como perguntar ao baralho
As perguntas devem ser simples e concisas, não precisam vir de
uma história que vem da infância do consulente , até o momento
atual, precisam ser objetivas, então temos como exemplo
"Devo procurar uma mudança de emprego, dentro de 2 meses"
"Ficarei desempregado?"
"Estou noiva, e estamos tendo problemas financeiros, nosso
casamento ira ocorrer neste ano ainda?"
Etc...
Fique sempre muito claro, que é importante, que o consulente lhe
passe informações, pois isso ajuda na melhor interpretação das
cartas, por exemplo, se o consulente procura um novo trabalho, é
importante saber se ele está tendo dificuldades nesse trabalho
atual.
Se a pessoa procura um novo amor, se ela já está em um
relacionamento ou "rolo"...
O Oraculista não é um "adivinho", precisamos de informações para
poder sim, darmos uma melhor resposta baseado nas cartas que
teremos em nossas mãos.
O que evitar?
Você, como oraculista, deve ter o bom senso de saber dizer ao seu
consulente o que não se deve perguntar, pois determinadas
coisas, não são parte do direito sair dizendo as pessoas, como por
exemplo, uma pergunta sobre morte, não lhe cabe o direito de
responder algo que está na mão do criador, então tenha em
mente, que perguntas sobre
Morte
Traição
Desejo de vingança (do seu consulente para com os outros)
Devem ser banidas, pois, traição necessita de diálogo, uma
pessoa, que está em um relacionamento, aonde acontece esse
tipo de dúvida, deve ser resolvido dentro de sua casa, com
diálogo, se isso não ocorre, a pessoa já tem problemas graves o
suficiente para que você lhe responda algo, que lhe traga mais, e que
novamente não lhe é de seu direito.
Não invente, não adicione informações que você não sabe, apenas
para criar clientela, isso a longo e a curto prazo, lhe gera apenas
carga astral a qual você não tem necessidade alguma de ter. Seja
verdadeiro, e responda apenas aquilo que você realmente saiba e
que esteja descrito no baralho.
Um fundamento muito importante na Bruxaria é, aquilo que
fazemos de mal, volta x 7 a nós mesmos, então, saiba realmente o
que a pergunta que você está respondendo, é realmente necessária,
dentro das leis do criador, e se lhe cabem o direito de respondê-la
É muito importante que não façamos um desserviço aos oráculos,
que a muito são ridicularizados, respeitando-o e trazendo como
resposta coisas verdadeiras, e não invencionices para termos
status como grandes oraculistas, o trabalho do oráculo é auxiliar, e
não criar falsas esperanças, afim de deixar-nos famosos.
Limpeza do Baralho
Normalmente, é comum, termos 2 baralhos, uma para a /o
consulente em geral, e o nosso pessoal.
O nosso Baralho pessoal, após consagrado, é imantado com nossa
energia a cada vez que o utilizamos, o deixando cada vez mais
sintonizados com nós mesmos, ele é normalmente utilizado
apenas por nós, sem que ninguém mais o utilize.
Agora, quando nós utilizamos o baralho para trabalhos com
consulente diversa, é muito importante limpar o baralho, a fim
que não tenha energias demais acumuladas nele, essa limpeza
deve ser feita de uma maneira muito simples, um copo com sal
grosso e água, deixe seu baralho (completo, fora da caixa) em
cima desse copo (cuidado para não deixar seu baralho cair nele! ),
e você deve pedir que a força daqueles elementos (água e o sal),
limpem seu baralho e descarreguem toda a energia dos
consulentes que ali podem ter acumuladas. Deixe de um dia para
o outro, se você quiser, deixe uma vela branca próximo (cuidado para
não atear fogo em nada), pedindo que a chama da vela ajude a
purificar aquela limpeza.
Meu costume, é de fazer isso uma vez por semana, mas você deve
fazer quando sentir necessidade.
Luciana Kluki
Artista plástica e Terapeuta alternativa.
Estudou Petit Lenormand e Tarot tradicional na França e no Brasil, com
variados Tutores e métodos. Aprendeu que o mais importante do oráculo, é
respeitar o método de cada um, entendendo que, tudo que é guiado pelo
Lenormand, ira funcionar, inevitavelmente, a energia do oraculo nunca "da
um ponto sem nó"
Faço consultas com Petit Lenormand, via skype, caso tenha interesse, você
pode entrar em contato comigo, via Facebook :
https://www.facebook.com/carrocacigana
Ou pelo e-mail : lucianakluki@gmail.com
Curso: Petit Lenormand (Baralho Cigano)
Eadeptus http://eadeptus.com.br/
Método Francês
Ferradura
7 Cartas - Tiradas aleatoriamente pelo consulente
Devem ser dispostas pelo oraculista da forma descrita acima, deverão ser tiradas de uma única
vez, a qualquer ordem de embaralhamento feito pelo consulente.
Essa tirada pode ser feita para perguntas com validade de até 6 meses ao máximo.
A leitura deve ser feita da seguinte maneira
Carta número 1 - Momento atual do consulente
Carta número 2 - Momento da pergunta, o exato momento em que o consulente está lhe
consultando
Carta número 3 - Elementos que levaram a evolução do motivo da pergunta
Carta número 4 - Conselho do baralho para resolução da questão
Carta número 5 - Como o consulente deve agir sobre sua pergunta
Carta número 6 - Obstáculos (seja você mesmo, ou terceiros) e/ou adversidades que podem
surgir no trajeto
Carta número 7 - Vitória final, como será o desfecho da pergunta
2 Triângulos
7 Cartas, devem ser dispostas pelo oraculista da forma descrita acima, deverão ser tiradas de
uma única vez, a qualquer ordem de embaralhamento feito pelo consulente.
A validade dessa pergunta pode ser determinada pelo consulente, por exemplo 3 meses, 6
meses, 12 meses.
Deverá ser lida da seguinte maneira:
Em sua ordem numérica, partindo de baixo para cima, mas iniciando sempre de carta número 1
Carta número 1 - Representa o seu consulente, quem ele é.
as cartas inferiores - 5-6-7 - São as cartas desfavoráveis ao consulente, lembre-se, toda a leitura
deve ser feita, correlacionando com a carta número que representa o seu consulente então
teremos
Cartas desfavoráveis as consulente, baseado em sua pergunta
5 - 6 - 7
São cartas negativas, momento que o consulente precisa pensar em seus obstáculos (que podem
ser internos ou externos)
O Triangulo superior (Cartas 2-3-4) São as cartas favoráveis o que o consulente tem para reverter
sua atual situação.
LEMBRE-SE essa tirada deve ser feita, como a ordem descrita (disposição de cartas, seguindo a
numeração de sua ordem)
MÉTODO BRASILEIRO
3 cartas
Passado/Presente/Futuro
Baralho deve ser embaralhado pelo consulente e o mesmo, deve dispor as cartas na ordem mais
relevante, as perguntas, podem ser feitas para períodos de até 12 meses.
Deve ser lido, primeiramente
Carta número 1 - Baseando se no passado, tendo como base a pergunta do consulente
Carta número 2 - Presente, o momento atual ao qual ele se refere em sua pergunta
Carta número 3 - O que pode mudar em sua atual/passada situação
Pergunta e Resposta
Baseando em 3 cartas que se correlacionam, você deverá encontrar uma única resposta ao seu
consulente
Baralho deve ser embaralhado pelo consulente e o mesmo, deve dispor as cartas na ordem mais
relevante, as perguntas, podem ser feitas para períodos de até 12 meses.
Baseando-se na ordem que o consulente predispôs as cartas, o oraculista, ira ler e interpretar as
cartas, trazendo uma resposta para a pergunta do consulente.
4 Cartas
Baseando-se em 3 cartas + 1 para conselho para trazer a ajuda ao consulente
O consulente ira fazer sua pergunta, e dispor de 3 cartas em cima da mesa, o oraculista ira
responder sua leitura diante das 3 cartas que estão dispostas, e ao terminar essa leitura, devera
então pedir o conselho do baralho, onde nosso consulente, ira pegar mais uma carta do baralho,
e dispor a mesa, essa quarta carta, ira ser lida como um conselho do baralho, para a "solução" da
pergunta feita pelo consulente.
Luciana Kluki
Artista plástica e Terapeuta alternativa.
Estudou Petit Lenormand e Tarot tradicional na França e no Brasil, com
variados Tutores e métodos. Aprendeu que o mais importante do oráculo, é
respeitar o método de cada um, entendendo que, tudo que é guiado pelo
Lenormand, ira funcionar, inevitável mente, a energia do oráculo nunca "da
um ponto sem nó"
Faço consultas com Petit Lenormand, via skype, caso tenha interesse, você
pode entrar em contato comigo, via Facebook :
https://www.facebook.com/carrocacigana
Ou pelo e-mail : lucianakluki@gmail.com
Curso: Petit Lenormand (Baralho Cigano)
Eadeptus http://eadeptus.com.br/
Mlle Lenormand: Profetisa ou feiticeira?
Ronald Decker, Thierry Depaulis e Michael Dummet
Gostaria de partilhar com todos os estudantes, profissionais, pesquisadores e apaixonados, a
tradução do capítulo 6, Mlle Lenormand: Prophet or Sorcerer? do livro A Wicked Pack of Cards ­
The Orignis of the Occult Tarot, de Ronald Decker, Thierry Depaulis e Michael Dummet ­ St.
Martin’s Press – New York – 1996, três das maiores referências mundiais na história das cartas.
O texto é a biografia mais completa e fidedigna de Mlle. Lenormand, trazendo informações
importantes sobre sua vida, sua forma de trabalho e as ferramentas que utilizava no seu ofício,
bem como a relação de seu nome com baralhos como o Grand Jeu, Petit Lenormand e outros.
Esse texto é muito importante para compreendermos a história do baralho Petiit Lenormand e até
que ponto ele, realmente, estaria ou não, ligado à Mlle Lenormand.
Além disso, teremos a oportunidade de conhecer a vida da Sibila dos Salões e de como construiu
a sua imagem e fama através de inteligentes e ousadas formas de marketing pessoal, valendo­se
de plágios e inverdades, tornando difícil separar de si, a realidade da fantasia.
De qualquer forma, sua fama é inegável: foi a mais célebre e famosa cartomante da história!
Tradução e apresentação de Alexsander Lepletier
Mademoiselle Lenormand
“Mlle Lenormand, a célebre mística francesa, marcou profundamente a história, de forma que a
mera referência à sua passagem seria supérflua. Basta dizer que foi Mlle. Lenormand que previu
para Napoleão sua fenomenal ascensão e sua posterior queda repentina. Mlle Lenormand foi
uma das grandes profetisas vivas, tendo sido reconhecida pela nobreza da Europa.” É dessa
forma que um baralho de 52 cartas, fabricado pela The United States Playing Card Company of
Cinccinati, chamado Gypsy Witch, é apresentado em seu folheto.
O nome de Mlle Lenormand é, provavelmente, mais conhecido que o de Etteilla e seus
discípulos. Não só foi a vidente mais popular das primeiras décadas do século XIX, como se
mantém como a adivinha mais célebre de todos os tempos. Sua popularidade parece dever­se
bastante aos seus escritos, nos quais diz ter estado com pessoas famosas e ter ser tornado a
confidente da Imperatriz Josefina, de quem publicou as alegadas “memórias secretas”. Embora
sejam praticamente esquecidos hoje em dia, Mlle. Lenormand escreveu quatorze livros, nenhum
sobre suas teorias do Tarô ou métodos de cartomancia, e sim sobre sua carreira e suas ligações
com pessoas importantes. Sua preocupação não era a de popularizar uma teoria ou sistema
práticos, mas propagar a crença em seus poderes como uma sibila.
Senhorita Lenormand
Retrato de Marie­Anne Lenormand
Apesar disso, seu nome ainda é associado a um estranho conjunto de cartas, o Grand Jeu de
Mlle. Lenormand, ainda produzido pela Grimaud, a principal empresa francesa fabricante de
cartas. Embora esse baralho, bastante popular, tenha 54 cartas, sendo 52 cartas “normais” e
duas figuras extras, ele tem sido confundido, algumas vezes, com um baralho de Tarô, como
deixam claro os títulos de dois livros recentes: Le Tarot de Mlle Lenormand (Paris, 1989), de
Dicta e Françoise, e Votre Personalité Révélée par Le Tarot de Mlle Lenormand (Paris, 1992) de
Carole Sédillot. O mesmo acontece com uma derivação da tradição Lenormand, o “Petit
Lenormand”. Nesse caso, o baralho é composto de 36 cartas e ainda é produzido no países
germânicos, onde parece ser uma especialidade local.
É fácil compreender que o Grand Jeu de Mlle. Lenormand e seus primos alemães não têm
relação alguma com o tarô. Que os últimos não têm nada a ver com Mlle. Lenormand será
claramente explicado e mostraremos que a sibila não era tão interessada em previsões através
de cartas. Marie­Anne Lenormand (1772­1843) é, finalmente, a figura mais proeminente de uma
época que assistiu os últimos magos fora de moda darem lugar aos modernos oraculistas que
parecem ter proliferado sob o reinado de Napoleão (1804­15).
O começo de Mademoiselle Lenormand
Apesar de clamar às “altas ciências”, a primeira principal ocupação de Etteilla, que era prever o
futuro com as cartas, teve suas raízes na sociedade francesa. Embora uma lei punisse “pessoas
fizessem da adivinhação e prognósticos ou interpretação de sonhos” seu ofício, Paris estava
cheia de cartomantes durante os primeiros anos do século XIX. Uma notícia de 1804 diz: “A
polícia repreende leitores de cartas (“ tireurs de cartes”) em vão, pois surgem novos todos os
dias.” Os arquivos de polícia revelam muitas dessas pessoas a quem Éloïse Mozzani evidencia
num dos mais bem documentados capítulos de seu livro (Mozzani, 1988, capítulo XV, Les tireurs
des cartes sous Napoléon). Cidadão “Irénée” anunciava, em 1802, que ele continuava a ler
cartas, oferecendo explorar o passado, descrever o presente e prever o futuro graças aos seus
estudo da arte da Necromancia. Ele tinha, ainda, segredos exclusivos, como ler a clara de um
ovo e a borra do café, além vender água­de­colônia. Detido, Irénée confessou se chamar Bonier.
Outra busca policial feita no apartamento de uma mulher chamada Gilbert, no mesmo, ano,
revelou que ela possuía três baralhos, incluindo um que se chamava “Thot”’. Um homem
chamado Lyonnais predizia o futuro na rue de Bucy. Quando a polícia chegou, apreendeu “dois
baralhos contendo figuras estranhas, cada um”.
Madame Lacoste, a mulher Grangou, o cidadão Meyer, Mademoiselle Virignie, os Somonets,
Madame Lebrun, a viúva Chevalier, sob o pseudônimo de “Madame Renard” – Madame Raposa
– são somente alguns poucos nomes dentre os muitos praticantes citados por Mozzani que foram
detidos e presos por curtos períodos pela polícia durante os anos de 1801­9. Mlle Lenormand era
exatamente do mesmo tipo, exceto por ter escrito muitos livros. Isso fez uma grande diferença.
Embora tenha enchido seus livros com episódios de sua vida e as pessoas com quem encontrou
e, embora muitas obras tenham sido publicadas ao longo de sua carreira (há, pelo menos, seis
biografias, sem mencionarmos notas em dicionários), não é fácil delinear a vida real de Mlle
Lenormand. Muitas de suas afirmações são ilegítimas, muitas de suas biografias são forjadas,
reconhecidas ou não. Logo após sua morte em 1843, três livros foram publicados. O primeiro
deles, La Sibylle de XIXe siècle, consiste no que pretende serem profecias feitas pela própria
Mlle Lenormand, escrito pouco antes de sua morte, com um comentário sobre elas e uma
pequena biografia da autora (a biografia é anônima).
O autor do comentário intitula­se Hortensius Flamel, um pseudônimo, obviamente. O nome
Flamel é claramente emprestado do célebre suposto alquimista do século XVI, Nicolas Flamel,
mas o primeiro nome soa estranho. A identidade de Hortensius Flamel tem sido sujeita a muita
discussão; devemos deixar nossas considerações sobre o assunto até o próximo capítulo.
Parágrafos inteiros da biografia, incluídos no livro, são repetições, palavra por palavra, de uma
carta anteriormente publicada numa revista semanal chamada Le Tam­Tam (nº 29 de 9­15 de
julho de 1843). Essa carta foi enviada ao editor por um senhor chamado Monsieur Alboise e
alega ser baseada em documentos não publicados vindos de Alençon, local de nascimento da
sibila.
Alboise – Jules­Édouard Alboise (ou Alboize) du (ou de) Pujol (1805­54) – foi um colaborador
permanente da revista, como é indicado na página principal. Ele era um dramaturgo,
administrador de teatro, autor (sempre como colaborador) de pobres vaudevilles e superficiais
romances de época. De acordo com a nota sobre “Lenormand” no Nouvelle Biographie Génerale
(Vol. 29, 1859), Alboise du Pujol era um parente de Mlle Lenormand, que teria casado com sua
sobrinha e herdado papéis particulares a partir dos quais planejava publicar um “Memorial”.
Porém, sua morte, como foi dito, impediu­o de realizar o projeto.
Logo após, em 1843, Francis Girauld, um poeta obscuro, publicou Mademoiselle Lenormand: sa
biographie, ses prédictions extraordinaires, ao qual ele adicionou uma “introdução filosófica nas
ciências ocultas”, apresentando a história da adivinhação, leitura de mãos, cartomancia com os
Tarôs Egípcios e o Jogo de Picket “como explicado pelas profetisas do século XIX”. A capa alega
que é a única biografia “oficial”. A introdução e explicação da cartomancia com o Tarô são
plagiados de Julia Orsini, Le Grand Etteilla ou l’art de tirer les cartes, publicados em Lille em
1838, enquanto a biografia é amplamente derivada de “La Sibylle du XIXe siècle” para os
primeiros anos e dos escritos de Mlle Lenormand.
Ainda no mesmo ano, uma voz cética foi erguida por Louis Du Bois num folheto de 20 páginas
intitulado De Mademoiselle Lenormand et de ses deux biographies, récemment publiées (“Sobre
Mlle Lenormand e suas duas biografias recentemente publicadas”, Paris 1843). Baseado no livro
de Girault, o autor ataca, impiedosamente, a veracidade de Mlle Lenormand e suas afirmações
de ter feito profecias acertadas, sem oferecer evidências sólidas. Du Bois, que se denominava
bibliotecário da École centrale de l’Órne (i.e. o departamento do qual Alençon é a capital), abre
seu panfleto declarando que Marie­Anne Lenormand não nasceu em 1772, como afirmado, tanto
por Girault, como em La sibylle de XIXe siècle, mas a 16 de setembro de 1768, porém, mais uma
vez, sem citar qualquer evidência.
Dois anos depois, Narcisse­Honoré Cellier du Fayel, “professeur à l’Àthénée royal, directeur du
jornal Le génie des Femmes,publicou La vérité sur Mademoiselle Lenormand (Cellier du Fayel,
1845), contando como conheceu Mlle Lenormand em seus últimos anos. Embora, primeiramente
cético, foi convencido pelos seus talentos, tornando­se um amigo íntimo. Sua descrição é mais
plausível que as anteriores e soa honesta a maioria das vezes.
Logo apareceram biografias em dicionários como o Dictionnaire des sciences occultes de Abbé
Migne, (1855), no Nouvelle Biographie Générale depuis les temps plus reculés jusqu’à nos jours
(Vol. 29, 1859) de Firmin­Didot, e na nova edição de Biographie Universelle Ancienne et Moderne
(Vol. 24, c.1860), de Michaud. Elas refletem opiniões muito diferentes: as ferozes notas de Collin
de Plancy são equilibradas pela biografia mais complacente assinada por L. Boyeldieu d’Auvigny
no dicionário de Lecanu. Porém, Lecanu, ansioso por mostrar distanciamento, acrescentou
comentários críticos. A Nouvelle Biographie oferece uma nota favorável pela Ed. de Manne, mas
a Biographie universelle é duramente crítica sob a caneta de Du Bois.
Mademoiselle (Senhorita) Lenormand
A Senhorita (Mlle.) Lenormand, além da prática da cartomancia, publicou vários livros.
Outra parte não tão grandiosa foi pesquisada, em 1911, por Alfred Marquiset em seu La célèbre
Mademoiselle Lenormand. Marquiset é bastante sarcástico, mas bem divertido. Porém, seu livro
é o mais bem documentado até agora. Ele usou arquivos policiais bem como dedicatórias e
manuscritos. O livro mais recente sobre Mlle Lenormand, Mademoiselle Lenormand: la reine de
la voyance (1990), de Dicta Dimitriads, não traz informações reais, sendo fortemente
romanceado e usando, ainda, as mesmas histórias confusas e supersticiosas como fizeram
Flamel, Girauld e outros, de forma a apresentar sua heroína de forma bajuladora. Não é surpresa
que a biografia de Marquiset não seja nem mencionada!
Marie­Anne Lenormand nasceu em Alençon, na Normandia, em 27 de Maio de 1772. Até mesmo
sua chegada ao mundo é cercada de controvérsia. Como vimos, um de seus muitos biógrafos
mantém que ela nasceu a 16 de setembro de 1768. Algumas décadas mais tarde, Ed. de Manne
apresentou a sua data completa de nascimento, contradizendo Du Bois. Pesquisas recentes nos
livros paroquiais de Alençon confirmaram que Marie­Anne­Adelaïde Lenormand nasceu e foi
batizada no mesmo dia, 27 de maio de 1772. Seu pai, Jean­Louis­Antoine Lenormand era um
comerciante de tecidos e morreu no ano seguinte. Sua mãe, Marie­Anne Gilbert, com quem
Jean­Louis Lenormand casara em 1767, teve outro marido em 1774, Isaac Rosay–Desfontaines.
Infelizmente, ela faleceu em 1777, deixando Marie­Anne órfã aos 5 anos de idade. Isaac Rosay
casou­se de novo e mais outra vez em 1779, pois a segunda faleceu. Dessa forma, Marie­Anne
Lenormand era uma estranha para os seus pais legais.
De acordo com a carta de Alboise para a Le Tam­Tam, reproduzida por Flamel e Girauld. Marie­
Anne deixou Alençon, indo para Paris, Não é certo se ela se juntou ao seu padrasto, Isaac
Rosay­Desfountaines, que tinha se estabelecido lá e aberto uma loja na rue du Colombier, ou
outro comerciante – talvez com a indicação de Isaac – ou, ainda, se ela foi simplesmente atraída
pela capital e saiu sem planos. Uma vez em Paris, é dito que reencontrou um conterrâneo,
Jacques­René Hébert, que se tornaria famoso entre 1790 e 1794 com o seu Le Père Duchese, o
mais bruto e violento jornal do período revolucionário. Ela se apaixonou por ele? Não há nada
certo, mas não é provável que tenham sido amantes uma vez que a última confidente de Mlle
Lenormand, N.­H. Cellier du Fayel, revela que ela morreu “em sua pureza natural de
nascimento”.
Nada muito confiável pode ser estabelecido sobre os anos seguintes. De acordo com Dimitriadis,
que não só confia em Flamel e Giraud, mas acrescenta muitos detalhes ainda desconhecidos,
Marie­Anne Lenormand estava vivendo em precárias condições quando decidiu deixar Paris para
ir para Londres e visitar o célebre Dr. Gaal, com quem se encontrou em setembro de 1789.
Entretanto, Du Bois e Cellier apontaram que Gaal não só era desconhecido naquela época, como
nem tinha deixado sua terra natal, a Alemanha. Além disso, ele não tinha exposto em francês
suas pesquisas sobre crânios até 1808. Mesmo sendo uma profetisa, não seria razoável que a
jovem Mlle Lenormand tenha ouvido falar das teorias de Gaal em 1789! Também é uma
extravagante superstição que ela tenha viajado sozinha para outro país aos dezessete anos.
Marie­Anne Lenormand nos diz que em 1793 ela era secretária de Monsieur d’Amerval de la
Saussotte. Numa longa nota nos seus Souvenirs prophétiques d’une sibylle, ela explica como
d’Amerval de La Saussotte, um opositor da realeza, planejou ajudar a rainha Marie­Antoinette a
escapar da prisão. Marie­Anne se juntou ao plano, mas somente teve sucesso em encontrar­se
com a rainha na prisão. Maria Antonieta, ela conta, tinha um baralho para ler a sorte.
Infelizmente, como mostra Alfred Marquiset, tudo nessa história é uma farsa. Mlle Lenormand
usou a moldura de um caso real – o “Caso dos Cravos” – e, simplesmente, mudou os nomes,
colocando o seu no lugar de um homem chamado Gonse e acrescentando alguns detalhes.
A seguir, encontramos Marie­Anne sendo detida na companhia de François Flammermont e
Louise Gilbert. De acordo com um documento arquivado reproduzido por Cellier du Fayel em
1845, eles foram sentenciados à prisão e multados em 10 livres no dia 20 de Floréal do ano II (9
de maio de 1794) por serem “diseurs de bonne fortune” (leitores da sorte). O ato menciona que
eles usavam “convites” e “cartas”. Todavia, Alfred Marquiset mostrou dúvidas quanto a esse
documento que foi publicado somente em 1845 e “deve ter vindo direto da fábrica Lenormand”.
No seu livro de 1814, Mlle Lenormand queixou­se de ter sido presa “sob o terrível sistema do
Terror” (ou seja, 1794); mas ela explica a sua estadia na prisão por “ter pregado uma
contrarrevolução”!
A primeira evidência documentada que temos de Mlle Lenormand é nada mais que um jornal
diário chamado Le mot à l’orreille, ou le Don Quichotte des dames (“A palavra no ouvido, ou Don
Quixote das senhoras”), cuja primeira edição apareceu no dia 11º Vendémiaire, ano VI (2 de
outubro de 1797). Era uma gazeta simples, cheia de humor e notícias do Conseil des Cinq­Cents
(Parlamento). A única alusão à divinação é a “previsão” do tempo na sua quinta edição. Le mot à
l’oreille não parece ter tido muito sucesso: depois de oito edições, Mlle Lenormand desistiu.
Todavia, é interessante ler que ela é “editora­proprietária” – na verdade ela se coloca como
‘rédactrice’, o que nos leva a crer que ela escreveu todos os artigos ­ e que seu endereço seja
“1153 rue de Tournon, Faubourg Saint­Germain”.
É provável que esse seja o atual nº 5 da mesma rua. Embora a rue de Tournon não tenha
mudado desde aqueles dias — muitos dos edifícios são do final do século XVIII — a numeração
atual só foi introduzida em 1805. Antes disso, eram usados sistemas diferentes baseados em
todo o distrito envolvendo números altos. É verdade que Jacques­René Hérbert tinha seu
negócio lá até 1792. Foi inferido que Marie­Anne Lenormand foi a sucessora de Herbert em sua
loja, mas não temos indícios reais de sua situação durante a revolução. Cellier du Fayel cita que
ela só se estabeleceu em 1799 (embora saibamos que ela já havia se estabelecido lá desde
1797), acrescentando que o número 1153 rue de Tournon se tornaria o número 9. Para
Marquiset, ela viveu no número 9 “por volta de 1798”, mudando­se depois para o número 5. Mas,
numa carta que Mlle Lenormand enviou à Imperatriz no dia 28 de novembro de 1804, ela ainda
dá o endereço como “rue de Tournon nº 1153, fabourg Saint­Germain”. A situação se torna
complicada com o arranjo das premissas: nº 5 e nº 7 de um prédio com três lojas e uma entrada
principal. Uma vez numerado ‘5’, a localização na rue de Tournon permaneceria o endereço da
célebre sibila até seus últimos dias.
Lenormand e Robespierre
Lenormand atende Robespierre, um dos líderes da Revolução Frances (1789­1799)
Já era Mlle Lenormand popular? Não há evidências, a não ser em seus próprios escritos. Ela
realmente leu a sorte para o conde de Provença, que se tornaria o Rei Luís XVIII, bem como para
Mirabeau, general Hoche, Camille Desmoulins, Danton, Saint­Just, Marat, Barras, Robespierre,
Talleyrand, o ator Talma e, por último, mas não pior, Joséphine de Beauharnais? Louis du Bois
demonstrou que isso seria logicamente impossível para muitos deles, já em 1843. Cellier du
Flamel duvidou de qualquer celebridade. Para ele, Marie­Anne Lenormand viveu humildemente
até 1800.
Alfred Marquiset ofereceu uma boa reconstrução hipotética da ascensão de Mlle Lenormand: “O
primeiro lugar em que fez suas tentativas foi nos barcos das lavadeiras, sempre apaixonadas
uma “necromancia”. Por alguns centavos elas a alimentava com maravilhosas esperanças e elas
não resistiriam a contar aos seus clientes tais maravilhas. Passo a passo, ela chegou aos
comerciantes, então à burguesia e às mulheres do mundo através de suas criadas. Daí até a alta
sociedade só era preciso mais um passo. Encontrando­se com pessoas de alto nível, Mlle
Lenormand aprimorou sua educação preocupando­se com o conhecimento específico que
precisaria para o seu ofício. Desenvolvendo sua astúcia normanda, ela pôde arrumar relações
secretas em todos os lugares e deslumbrar, frequentemente, com suas revelações, tendo pago
para isso de seu próprio bolso”.
A vidente de Joséphine
No dia 2 de maio de 1801, Marie­Anne Lenormand foi convidada a ir até La Malmaison, a
residência de Joséphine de Beauharnais, numa aldeia a oeste de Paris. Marie­Josèphe­Rose
Tascher de La Pagerie, a primeira esposa de Napoleão Bonaparte, nasceu na Ilha da Martinica
em 1763. Ela se casou com Alexandre de Beauharais em 1779, então, depois da morte de
Beharnais em 1794, casou com Bonaparte em 1796. Como o convite foi anônimo, Mlle
Lenormand não tinha a menor ideia de quem encontraria. Foi pela sua arte da quiromancia que
ela identificou Joséphine – a quem, aparentemente, não reconhecera, apesar dos seus primeiros
contatos durante o Terror. Não somente estava ela diante da esposa do primeiro cônsul, como o
próprio Napoleão Bonaparte estava lá. O único problema é que nossa única fonte disso é o
próprio livro de Mlle Lenormand, “Les Oracle sibyllins…” de 1817.
Lenormand e Josephine
Lenormand faz pevisões para Josephine, esposa de Napoleão Bonaparte
É incerto que ela tenha mesmo se tornado parte das relações de Joséphine, uma vez que Alfred
Marquiset cita um cartão­postal de 28 de novembro de 1804 na qual Mlle Lenormand dirige­se à
Imperatriz como uma “sybille [sic para sybille] française”, “implorando humildemente à Sua
Majestade Imperial para em sua bondade conceder­lhe um grande favor: o 'livro do destino’
disse­lhe ‘que receberia um pequeno trabalho de sua digníssima pessoa”.
Mais uma vez, é difícil separar o que é verdade e o que pura invenção. Mademoiselle Ducrest,
que visitava Joséphine de Beauharnais frequentemente, concorda que ela tinha inclinações para
superstições e adivinhação. Alfred Marquiset também se refere à Duquesa d’Abramtès e à
‘Mademoiselle Avrillon’, ambas dando evidência de que Josephine teria consultado Mlle
Lenormand, diretamente ou através de um mensageiro. Todavia, historiadores provaram que as
duas últimas foram forjadas como muitas outras memórias no período Napoleônico. O que é
óbvio é que Marie­Anne Lenormand se aproveitou bastante da situação. Não só contou sobre
seus alegados encontros com Joséphine com riqueza de detalhes em muitos de seus livros,
como ainda publicou Mémoires Historiques et secrets de l’imperatrice Joséphine, Marie­Rose
Tascher de La Pagerie, em duas edições, 1820 e 1827, orgulhando­se de ter sido confidente e
conselheira de Joséphine.
Relatos mais sérios evidenciam grandes contrastes. Um documento policial relata: “há multidões
na Lenormand, a famosa leitora de cartas da rue de Tournon”, e acrescenta que Metternich, o
estadista austríaco, então embaixador em Paris, visitou­a em 1808. Jacques­Barthélémy
Salgues, no seu Des erreurs et des préjugés répandus dans la société (“Dos erros e preconceitos
na sociedade”) foi forçado a confessar que “longas filas de carruagens” esperavam em frente à
“famosa senhorita L.R.”, significando Lenormand. Então, Mlle Lenormand estava em voga e rica.
Parece que ela comprou uma casa de campo em Migneaux (perto de Poissy, Yvelines), por volta
de 1802 e, provavelmente, mais tarde, um apartamento na rue de la Santé, em Paris. Talleyrand,
Mme de Staël e Talma podem tê­la consultado.
Mas há um lado negro. No seu L’hermite de la chausée d’Antin, Victor­Étienne Jouy conta: “Há
uma sibila moderna em Paris cuja reputação e sustento se baseiam somente na credulidade
infantil das mulheres da melhor sociedade…”, “é no centro de Paris, na rue de Tournon, no
enigmático letreiro do Bureau de Correspondence générale”. Os arquivos policiais revelam que
ela era constantemente detida e presa. Em dezembro de 1803 ela foi mandada para a prisão no
“Madelonnetes” por sua “sala de estar ser um antro de conspiradores”. Os relatos policiais
multiplicaram. Em setembro de 1804 conta­se que “Mlle Lenormand, que reside na rue de
Tournon engana tolos todos os dias”.
O grande assunto de 1809 foi o divórcio de Napoleão de Joséphine. Mlle Lenormand foi detida
em 15 de dezembro como consta nos relatórios policiais. “A mulher Normand [sic], que ganha a
vida lendo a sorte, foi presa. Quase todo o tribunal costumava consultá­la sobre atualidades. Ela
fez horóscopos para as pessoas mais importantes e ganhava mais de 20.000 francos por ano
com o ofício”. Mas temos outra testemunha: a própria Marie­Anne Lenormand. Ela usou um livro
de 602 páginas (Les souvenirs prophétiques d’une sibylle…), publicado em 1814, para nos dizer
porquê e como ela foi para cadeia por alguns dias em 1809. Ela foi interrogada sobre seus
clientes, técnicas e previsões e, então, liberada. A verdadeira razão da sua detenção, ela conta,
foi por ter previsto o divórcio de Napoleão de Joséphine e tentado impedi­lo. Desde então, a
polícia pareceu deixá­la em paz.
Lenormand recebe ordem de prisão
A cartomante Lenomand recebeu várias ordens de prisão
Em 1812­13, Mlle Lenormand tinha uma livraria na rue du Petit­Lion­Saint­Sulpice (ou Petit­
Bourbon­Saint­Sulpice, a rua próxima, depois da Tournon), que deve ter comprado de um antigo
livreiro, Fréchet, em cerca de 1810. Foi nesse endereço que ela publicou seus primeiros livros.
Le souvenirs prophétiques foi publicado “à Paris, chez l’autir, rue de Tournon, nº 5, et à son
magasin de librairie, rue du Petit­Bourbon­St­Sulpice, nº1 ("pode ser adquirido com o autor,… e
em sua livraria… "). O livro foi editado por Lenormant, um editor que não tem qualquer relação
com Marie­Anne. A gravura mostra a chegada dos policiais na sala de consultas de Mlle
Lenormand. Um prefácio (Petit avant­tout) apresenta o livro que é organizado como uma história
sequencial: primeiro, Ma vision, então Le réveil ("O despertar"), Le depart, ("A partida"), Premier
interrogatoire ("Primeiro interrogatório"), Deuxième interrogatoire, seguido pelos onze dias de sua
prisão, algumas “reflexões”, “uma palavra no ouvido”, o “billet doux”, uma viagem ao inferno, uma
Description de l’île d’Elbe e, por último, mas não menos importante, algumas 282 páginas de
notas!
Como podem imaginar, não precisamos resumir esse livro sufocante cujo propósito era mostrar o
quão brilhante ela se comportou e o quão ridícula foi à polícia e, é claro, promover sua arte e
previsões. Nesse fluxo de situações falsas e digressões históricas, ainda assim conseguimos
pegar algumas das técnicas divinatórias da sibila. Em “Le rèveil” (pp.8­9) ela lista alguns de seus
instrumentos, os quais explica em generosas notas: O espelho flamejante de Luca Gaurico, as
trinta e três varetas gregas, sua “cabale de 99 de Zoroastre”, sem mencionar seus grimórios, sua
varinha divinatória, seu precioso talismã… Mas a primeira pergunta dos policiais é sobre leitura
de cartas: “Vou faites le cartes (26)?” (“Você lê as cartas?”). Na sua resposta ela lhe oferece uma
leitura. Mas a promissora nota 26 é decepcionante. Estranhamente, Mlle Lenormand insere um
conto popular conhecido como “A história de Grenadier Richard”, onde um soldado assiste uma
missa com um baralho de cartas na mão e, quando repreendido, explica que cada carta tem um
significado bíblico. No segundo interrogatório, ela é, mais uma vez questionada sobre as cartas.
Marie­Anne Lenormand encontra uma oportunidade de nos contar a origem das cartas de jogar
na sua nota número 31, referindo­se ao Abbé de Longuerue e a Jacquemin Gringonneur.
Surpreendentemente, não há uma nota sequer sobre o tarô em toda a obra!
O livro foi um evento único. Reviews apareceram no Le Nain Jaune de 20 de março de 1815 e no
Le Journal des Débats, onde Hofman, seu editor, publicou uma série de artigos em agosto e
começo de setembro de 1815. Marie­Anne Lenormand respondeu no Le Courrier de 20 de
setembro.
A volta dos Bourbons
Marie­Anne Lenormand sempre alegou ser da realeza. Não só tinha simpatia pela família real em
1793 como, é claro, previu a Restauração de 1814­15 (mas não previu os “Cem dias de
Napoleão”!). Era de se esperar que, depois de um pequeno livro celebrando o aniversário da
morte de Joséphine, ela publicou La sibylle au tombeau de Louis XVI (A sibila no túmulo de Louis
XVI, Paris, 1816), onde ela se encontra com um anjo que lhe narra a batalha de Waterloo através
de um generoso vasto relato!… Logo depois, em 1817, Les oracle sibyllins foi publicado. Esse
volumoso livro é a continuação do seu Souvenirs prophétiques e no mesmo estilo, ela tenta
provar que previu a queda de Napoleão. Nós sabemos que o imperador gostava de ler as obras
de Mlle Lenormand, mas que não acreditava na bizarra visão que tinha. Ela revela um pouco de
sua técnica e, particularmente, seu método de leitura de cartas. Ela, claramente, usa um jogo de
piquet, ex. baralho de 32 cartas. Ela cortava três vezes e dispunha as cartas em oito montes.
Então, começava a leitura. Apesar de citar as cartas que tirou para a leitura, ela não tem
problemas em descrever seus significados!
Algumas linhas à frente ela dá mais explicações: “O Rei de Espadas, junto com o 8 de ouros,
significa que um homem habilidoso parou julgamentos, se possível, o avanço de uma doença…
Felizmente, o 9 de copas, que está no topo, diz que verá, rapidamente, o fim de suas cruéis
preocupações” (pp. 151­2). Como se pode ver, seu sistema é bem simples, sem nenhuma teoria
elaborada. Uma grande revelação nos espera na página 159: O uso de cartas de tarô – escrito
tharots, na época – é, finalmente, mencionado por Mlle Lenormand. Como sempre, ela é bem
vaga: “O Louco, que estou tirando de sua mão significa que seus projetos são insustentáveis”, diz
ela (p.159). E então: “Mas eu vejo o Diabo ao lado da Morte” (p. 160). Nenhum significado é
dado, mas uma vez que o consulente bateu em sua mesa e derrubou suas “78 cartas de tharot”,
podemos supor que não foram boas notícias. Os nomes das cartas de tarô mencionadas por Mlle
Lenormand não podem ser encontradas no Grand Etteilla I, onde são chamadas,
respectivamente: Folie, Force majeure e Mortalité. Fol, Diable e Mort são nomes clássicos no tarô
de Marselha.
Outras técnicas divinatórias são mencionadas no resto do livro: économancie (ex.: previsão com
uma bacia de água fresca com folhas de louro e verbena, mais sal!), o aço eléctre (que "só tem
na Europa"), os nove pontos do livro de Thoth (sem qualquer explicação), leitura de mãos, é claro
(com uma grande nota 14), onomancia, com a clara do ovo, chumbo derretido etc. Ela lista o que
trazia consigo: “meus diferentes tharots, meu grande grimório, minhas famosas chaves [de
Salomão], Cornélius Agrippa, minhas varas gregas, meu espelho mágico, o tratado dos sonhos,
segundo Joseph, minha famosa varinha divinatória, 9 dracmas de chumbo fresco, sete pedaços
de cera…, borra de café, o anel cigano” (p. 337). Isso é, no mínimo, a parafernália de uma
feiticeira. Nenhum método cartomântico é apresentado, mas há uma descrição de como Mlle
Lenormand usa as suas varas gregas: “Pego minhas 33 varas gregas e jogo­as aqui e ali, numa
área triangular, porém tiro, com cuidado, o terrível Agamenon e seus seguidores, fazendo isso de
novo, sete vezes” (p. 196).
Em outubro, uma nova oportunidade foi dada à Mlle Lenormand para aumentar sua fama
“internacional”. Para lutar contra Napoleão, o Czar Russo, o Imperador Austríaco e o Rei da
Prússia uniram­se, em 1815, no que foi conhecido como “Sainte­Alliance”. Em outubro e
novembro de 1818 reuniu­se um congresso em Aachen para decidir o futuro da França. Marie­
Anne Lenormand decidiu ir lá por sentir sua presença necessária. Para impressionar os
monarcas a quem iria aconselhar, alugou uma carruagem, deixando Paris em grande ostentação.
Mas foi parada na fronteira pela alfândega belga. O estranho equipamento que funcionários da
alfandega encontraram na bagagem de Mlle Lenormand levantou suspeitas, então ela foi enviada
para Tournai e, então para Mons, para que se descobrisse quais eram os seus planos.
Aparentemente, nada perigoso, pois a liberaram três dias depois. Depois do congresso, foi para
Bruxelas onde, ela nos conta, foi fervorosamente recebida.
Pelo menos todos esses eventos foram assunto para um novo livro que ela própria publicaria no
ano seguinte, embora esteja datado 1818: La sibylle au congès d’Aix­la­Chapelle em 1818, sendo
seu título feito, claramente, a partir do L’observateur au congrès, ou Relation historiques et
anecdotiques du Congrès d’Alaix­la­Chapelle em 1818 (“O observador no congresso, ou
considerações históricas e pessoais do Congresso de Aachen", Paris, A. Eymery, 1818”). O
último livro foi escrito pelo jornalista Charles­Maxime de Villemarest e dá conta da tão comentada
presença de Mlle Lenormand em Aachen, descrevendo como ela, em primeira mão, espalhou
rumores e situações de pessoas bem informadas (pp.151­2). O livro da própria Mlle Lenormand,
por outro lado, é mais um guia turístico, contando como ela foi para Bélgica – sob domínio da
Holanda, então – foi parada pela alfândega e, finalmente, chegou a Achen, da qual oferece uma
descrição completa, emprestada, em grande parte, do Guide des étranger, de J.­B. de Bouge ou
Itinéraires de la ville d’Aix­la­Chapelle (Guia do estrangeiro ou Passeios na cidade de Aachen,
Bruxelas, 1806). Ela fala muito pouco sobre ter encontrado pessoas importantes lá, mas dedica
uma grande parte à descrição de um encontro com um profeta chamado Muller. Muller, tendo­a
convidado a ir à Bruxelas, possibilita que ela termine o livro com um tour pela capital belga.
Tarôs também são usados nesse livro. O índice traz um capítulo promissor intitulado Y a­t­il
quelque de philosophique dans les Tharots? (“Há algo filosófico no Tarô?”). Pelo menos iremos,
aqui, saber o que Mlle Lenormand achava do tarô. Ela nos preparou para isso: Acionando sua
“grande cabale”, ela divide suas figuras egípcias (“mês tableaux égyptiens”) em nove (p. 51). Ela
comenta que, embora um baralho pareça algo frívolo, é merecedor de atenção filosófica. Mais à
frente, ela descreve os utensílios familiares que a cercavam e menciona os tarôs, “figuras
emblemáticas e hieroglíficas” (p. 193). Depois de termos aguentado uma descrição completa de
Aachen, chegamos agora, tremendo de emoção, ao centro da contribuição de Mlle Lenormand
para a teoria do tarô. Decepcionantemente, o capítulo é somente a descrição de seu quarto no
Hôtel de Bellevue. A única frase que ela dedica ao tarô é seguinte: “mês tarots m’offrent de
singulières réflexions” (‘minhas cartas de tarô me oferecem algumas curiosas reflexões’)!
Uma das obras­primas de Mlle Lenormand foi, certamente, Mémoires historiques et secrets de
l’impératrice Joséphine, Marie­Rose Tascher de La Pagerie, première épouse de Napoleon
Bonaparte; orné de cinq gravures, portrait et fac­similé (Paris, 1820, 2 vol.), onde ela conta a vida
da primeira esposa de Napoleão. Não será surpresa se você ouvir dizer que a heroína da história
é, na realidade, Mlle Lenormand no seu papel de confidente e conselheira da imperatriz. Ela não
deixa de mencionar e destacar seus grandes méritos e visões históricas. Alguns meses antes,
um “Prospecto” da assinatura anunciava o livro, alardeando “o luxo da tipografia, as finas
gravuras”. Os compradores podiam assinar “au magasin de libraire, rue du Petit­Bourbon­St­
Sulpice, nº 1”. Essa seria a última menção da livraria de Mlle Lenormand, pois nenhum dos dois
volumes dá esse endereço. Os livros seguintes não o mostram.
Mem,óris históricas e secretas da Imperatriz Joséphine
"Memórias históricas e secretas da Imperartriz Joséphine"
Reprodução do busto da Imperatriz no www.fr.wikipedia.org
O Mémoires historiques et secrets… rapidamente levou a reações negativas. J.­M. Deschamps,
secretária particular de Joséphine, protestou com uma carta bastante sólida no Le Currier
Constitutionnel and Le Courrier Français de 8 de novembro de 1820. Na La Gazzete de France
de 4 de dezembro de 1820, Colnet mostrou que a obra era uma confusão de erros. Embora ela
tente apresentar Joséphine de forma positiva, os admiradores de Napoleão chamaram de traição.
O julgamento de Marquiset é duro: “é um romance cruel”, “quase tudo é falso na obra” e, mais,
“além desses anacronismos, o Mémoires é essencialmente a história de Napoleão sem
imaginação e equivocadamente contada”. Historiadores modernos não são menos críticos. Eles,
geralmente, tomam a obra de Mlle Lenormand sobre Joséphine como puramente um logro. Para
Pr. Jean Tulard eles são “inteiramente apócrifos”.
Apesar disso, o Mémoires historiques deve ter tido algum sucesso e pode ter sido o primeiro
best­seller publicado por Mlle Lenormand. Chegou à segunda edição aumentada com as últimas
palavras de Napoleão em Saint Helena. Sua fama cruzou fronteiras: Mémoires historiques foi
traduzido para o alemão em 1822 sob o título: Historische und geheine Denkwürdigkeiten der
Kaiserin Josephine… ersten Gemahlin Napoleon Bonaparte…, traduzido por August von
Blumröder e publicado pela Sondershausen. Finalmente, uma tradução para o inglês, feita por
Jacob M. Howard apareceu nos Estados Unidos, em 1847, em Chicago e na Filadélfia,
simultaneamente: Historical and secret memoirs of the empress Joséphine (Marie­Rose Tascher
de La Pagerie), firt wife of Napoleão Bonaparte. Translated from the French by M. Howard. Foram
reeditados várias vezes em 1848, 1850, 1852, 1854 e mais tarde, até a virada do século.
Parece que Mlle Lenormand se sentiu humilhada com a reação sarcástica da imprensa
parisiense. Em 25 de fevereiro de 1821 ela deixou Paris e se estabeleceu em Bruxelas. Os
clientes vieram, rapidamente, consultar seus oráculos. Mas a polícia foi igualmente rápida em
prendê­la e Mlle Lenormand foi detida em 18 de abril de 1821. Após prestar depoimentos e
passar por revistas, ela foi indiciada por fraude e levada a julgamento em Louvain. Em 7 de junho
ela foi sentenciada a 1 ano de prisão e multada em 3 florins. Ela entrou com recurso contra a
sentença, sendo novamente levada a julgamento perante a corte de Bruxelas. A sentença de
prisão foi retirada e Mlle Lenormand multada em 15 francos que se recusou a pagar. Livre, Mlle
Lenormand deixou Bruxelas em 15 de agosto de 1821.
Toda essa história deu origem a um novo livro. Souvenirs de la Belgique foi publicado em 1822,
“à Paris, chez l’auteur, rue de Tournon, nº 5, et MM. les principaux libraire de la capitale”. Marie­
Anne Lenormand conta­nos duas memórias de “100 dias de má sorte”, aos quais acrescenta
suas “notas históricas e políticas”. O livro foi ilustrado com um retrato da autora em sua prisão em
Bruxelas. Como nas obras anteriores, há notas de rodapé e finais; há, até mesmo, notas de
rodapé para as notas finais! As 415 páginas são salpicadas com lições de história, digressões de
fatos, e citações em francês, latim e até inglês (sem qualquer referência). É uma narrativa
fantasiosa do que aconteceu do começo ao fim. No seu obsessivo desejo de provar que estava
certa, ela anexa 80 páginas de documentos autênticos (declarações de testemunhas, minutas de
audiências, memorandos que foram publicados em defesa de sua posição).
Todas as “vítimas” mencionaram cartas comuns e de tarô usadas para previsões. Como em seu
Sibylle au congrès d’Aix­la­chapelle, Mlle Lenormand evita responder perguntas diretas sobre o
tarô. No capítulo intitulado Mon interrogatoire (“Meu interrogatório”), onde ela reporta perguntas e
respostas à sua maneira, um consulente pergunta: “O que esses tharots, que parecem ter
hieróglifos, significam?” (p.39). Mas sua reposta tem a ver com quiromancia!
De volta a Paris, Marie­Anne Lenormand dedicou­se a escrever uma pilha de livros, os quais
aparecem em várias listas em suas obras publicadas. Em outubro de 1824, logo após a morte de
Louis XVIII, ela publicou uma visão do “anjo protetor da França no túmulo de Louis XVIII”, no qual
previu um longo e feliz reinado de Carlos X – que foi deposto pela Revolução de 1830. A morte
do Czar Alexander I, em 1825 inspirou um novo canto na obra de Catherine II em seu túmulo. Ela
oferece uma assinatura de quarenta e quatro obras adicionais suas, entre as quais foram
anunciados, mas nunca apareceram, suas próprias memórias e livros sobre o filho de Joséphine,
Eugène de Beauharnais e sobre a Rainha Guilhermina.
De acordo com Dicta Dimitriadis, Mlle Lenormand viajou para Londres, de novo, em 1822 e
juntou­se a uma sociedade chamada “Membros of Mercurii” e chegou a dirigir uma revista
intitulada “The Straggling astrologers of the 19th century”, em 1824. Tudo isso é contradito por
uma carta de Mlle Lenormand em 20 de janeiro de 1823 para Messrs. Truttel e Würtz,
comerciantes de livros, em Paris, negociando a venda de três dúzias de cópias de seu
“Souvenirs de la Belgique” por 178 francos e esperando aumentar os negócios com eles durante
“esse ano, 1823”. É difícil imaginar como ela poderia viver em Londres entre 1822 e 1824,
quando estava publicando seu Souvenirs de la Belgique (1822), em Paris, e então, L’ange
protecteur de la France ao tombeau de Louis XVIII (1824)! Como era de se esperar, ela nunca
fez alusão a essas maravilhosas aventuras em suas publicações posteriores.
Seus últimos anos
Depois da Revolução de julho de 1830, um monarca novo, mais liberal, ocupou o trono francês.
Contrariamente às suas previsões, seis anos antes, Carlos X foi expulso da França e seu primo
Louis­Philippe se tornou rei da França. Marie­Anne Lenormand era monarquista, mas parece ter
sido apoiadora dos antigos Bourbons. Sua fama estava minguando, também, apesar do apoio de
Guizot, um dos mais influentes ministros do governo e Émelie de Girardin, uma dos principais
nomes da imprensa. Ela, também, converteu Narcisse­Honoré Cellier du Fayel, um próspero
advogado que queria encontrar­se com a “charlatã”. Cellier du Fayel foi convencido por seus
oráculos e, em pouco tempo, tornou­se seu confidente e biógrafo.
Na sua Biografia de 1843, Francis Girault nos conta como, em 1835, chegou à sala de consulta
de Mlle Lenormand uma mulher velha e pobre, desconhecida por ela. A mulher confessou ser a
viúva de Fouquier­Tinville, o sinistro promotor público da Revolução Francesa que foi
guilhotinado em 1795. Claro que ela teve muito o que falar e seus escritos secretos eram de
grande interesse para a sibila. Mas essa vem a ser outra farsa: como lembra Alfred Marquiset,
Mme Fourquier­Tinville morrera sete anos antes!
A veia literária de Marie­Anne Lenormand ainda não tinha se esgotado. Entre 1831 e 1833,
quatro últimos livros foram lançados pela sua "fábrica" e muitos outros foram anunciados.
Publicado em janeiro de 1831 e dedicado, L’ombre de Henri IV au palais d’Orléans (“A sombra de
Henri IV no palácio de Orleans [ex.: o Palais­Royal]”.) uma mistura chata de visões, diálogos e
aulas de histórias e notas de rodapé para mostrar o quão precisa era a sua previsão de eventos
de 20­22 de dezembro e que deveriam ter aparecido em 20 de dezembro de 1830. Se tivessem,
poderíamos, finalmente, ter testado as extraordinárias profecias de Olivarius, de 1542. Philippe­
Dieudonné­Noël Olivarius, ela nos conta em suas notas de rodapé (2), página 16, escreveu 919
previsões até 1982. Ela se orgulha de ter comprado esse único manuscrito que foi caçado “em
todas as bibliotecas”. O próprio Papa maravilhou­se. Cinco livros são reproduzidos em L’ombre
de Henri IV (pp. 18­28), com notas explicando o significado de “algumas velhas expressões
francesas”.
Lenormand na prisão
Essa não foi a primeira vez que Mlle Lenormand falou sobre esse mago desconhecido. Ela já
tinha publicado uma de suas previsões em 1820, no “Mémoires historiques et secrets…”. De
acordo com ela, é Napoleão quem é mencionado na profecia de Olivárius para Marie­Anne em
1814. Mais livros foram publicados nos próximos livros: um em “Le petit homme rouge au
château des Tulieries” (julho, 1831), outro em “Manifeste des dieux sur les affaires de France”
(janeiro, 1832) e os livros 8 a 10 foram apresentados no último livro publicado por Mlle
Lenormand, “Arrêt suprême des dieux de l’Olympe”, data em 28 de fevereiro de 1833.
O ridículo “estilo literário antigo” dos textos de Olivarius é tão obviamente forjado que Alfred
Marquiset dedicou um apêndice inteiro para revelar esse “attrape­nigaud” (charlatanismo,
impostura). Ele não só mostra que não há qualquer verdade nas afirmações de Lenormand, mas
que o logro foi desenvolvido por outros escritores. Henri Dujardin, L’oracle pour 1840 (Paris,
1839), diz que conhece três pessoas chamadas Olivarius, das quais, um deixou um livro, “Petri
Joannis Olivarii Valentini de prophetia et spiritu profético liber”, publicado em Basel, em 1543, a
ser encontrado na Biblioteca Real sob inventário número Z 985. Você se surpreenderia se
ouvisse que essa referência é falsa? Um dos outros dois Olivarius foi Philipe­Dieudonné­Noël,
cujo texto é, atualmente, apresentado como um livro publicado em 1544 e intitulado “Prévisions
d’un solitaire”, e um terceiro escreveu o celebrado “Prophétie d’Orval” (outra profecia forjada que
foi publicada pela primeira vez no Journal des villes et des campagnes de 20 de junho de 1839).
Eugène Bareste deu mais crédito ao Olivarius em seu popular “Prophéties: La fin des temps,
avec une notice”, do qual foram publicadas quatro edições, em 1840.
Le petit homme rouge au château des Tuileries; La vérité à Holy­Rood; Prédictions etc ("O
pequeno homem vermelho no castelo de Tuileries"; "A Verdade em Holy­Rood"; "Previsões” etc),
publicados em julho de 1831, introduzem um novo profeta: o Petit Homme Rouge (O Pequeno
Homem Vermelho). Em 1831, Marie­Anne Lenormand nos conta que uma velha e curvada
mulher apareceu no castelo de Tuileries laçando maldições contra os Bourbons. Ela era a
encarnação da República de 1793. O Petit Homme Rouge estava lá e replicou. Sua longa fala
revelou que era o organizador de todos os eventos passados desde 1789. Por que Louis XVI
perdeu o trono? Porque Blondinet (“loiro”), por entendermos ser esse seu nome, decidiu que o rei
não mais poderia reinar. Quem protegeu Napoleão? O pequeno homem vermelho, é claro! Os
leitores dos Oráculos Sibilinos de Mlle Lenormand repararam que o pequeno homem vermelho
tinha sido mencionado na obra (p.340).
De fato, Marie­Anne Lenormand não inventou o Petit Homme Rouge. Provavelmente, ela teve a
ideia a partir de um curto folheto contra Napoleão, publicado em 1814 e intitulado “Le petit
homme rouge”. As seis páginas descrevem a última assembleia de Napoleão encontrando­se
nas Tuilleries e a chegada de um pequeno homem vermelho, um gênio aterrorizante, um ‘homem
de fogo’, cujo contato queimava quem o tocava. Essa criatura infernal estava lá para levar
Napoleão para o Inferno. O Petit Homme Rouge fez outra aparição algum tempo depois do livro
de Mlle Lenormand. Messrs de Pixérécourt, Brazier e Carmouche escreveram uma peça com o
mesmo nome: Le petit homme rouge, folie­féerie romantique em quatre actes et vaudevilles,
imitée du genre anglais (Vaudeville de quatro atos loucos e extravagantes, em estilo inglês),
apresentada no Théâtre de la Gaieté, em março de 1832. A música era de Alexandre Piccini.
Aventuras foram publicadas, anonimamente, em 1843 sob o título Memoirs et prophéties du petit
homme rouge, par une sybille [sic], depuis la Saint­Barthélemy jusqu’à la nuit des temps. Como
veremos mais tarde, Paul Christian iria ressuscitá­lo num livro publicado em 1863: L’homme
rouge des Tuileries.
Novas revelações e previsões foram publicadas em 1832 com o Manifeste des dieux sur les
affaires de France: apparition de S.A.R. la feue Mme la duchesse douairière d'Orléans (Marie­
Louise­Adélaïde de Bourbon­Pentièvre), descendante de Louis XIV à son fils Louis­Philippe Ier,
roi des Français, Révélations (Manifesto dos deuses sobre os negócios franceses: aparição de
S.A.R a última viúva de Orléans, descendente de Luis XIV, para seu filho Louis­Philippe I, Rei da
França. Revelações), publicado em 21 de janeiro de 1832 por Mlle Lenormand, “editeur­libraire” e
Dondey Duprey père et fils, que foram os tipógrafos de parceiros de Mlle Lenormand desde 1824.
Embora amparados por mais páginas das profecias de Olivarius, essas recomendações foram
publicadas em fevereiro de 1833 sob o título Arrêt suprême des dieux de l’Olympe em faveur de
Mme la duchesse de Berry et de son filleul le duc d’Aumale d’Orleans (Henri Eugène­Philippe­
Louis).(Decreto supremo dos deuses do olimpo em afilhado, duque de Aumale­Orléans...) “Essa
pequena brochura [ela nos avisa na contracapa da folha de rosto] foi anunciada para 19 de
novembro de 1832. Amigos não oficiais me fizeram retirar a promessa de adiar essa publicação
até 28 de fevereiro de 1833. “Já basta, disse um deles, que você foi capaz de prever o
nascimento do Duque de Bordeaux, o nobre heroísmo de sua mãe”. É certo: Mme a Duquesa de
Berry será resgatada de Blaye”.
Marie­Caroline, Duquesa de Berry tentou incitar algumas províncias contra Louis­Philippe, em
1832; ela foi detida e presa em Blaye, perto de Bourdeaux. Porém, uma vez mais Mlle
Lenormand não previu o fim burlesco dessa ventura fadada ao fracasso. Ela não soube que a
duquesa estava, secretamente, grávida – não de seu marido legítimo, uma vez que o Duque de
Berry tinha sido assassinado em 1820. Em 1833, alguns meses após o livro ser publicado, a
Duquesa de Berry deu a luz a uma filha inesperada que escandalizou muitas pessoas e
desacreditou a causa Legitimista por muitos anos. Poderia, muito bem, ter desacreditado Mlle
Lenormand uma vez que esse seria o seu último livro.
Todavia, muitos outros escritos estavam sendo preparados. Na lista onde registra seus trabalhos
publicados, Marie­Anne Lenormand anuncia alguns novos livros por vir: “Les mystères de Blaye”,
“Jeanne d’Arc au Louvre”, com o horóscopo da Duquesa de Berry, “La sibylle à Londres”, “Louise
Wilhelmine de Prusse, ou les infortunes d’une grande reine”, com o qual já nos deparamos,
“Anecdotes historiques, politiques, etc. sur la reine d’Angleterre” (Caroline­Amélie­Elisabeth de
Brunswick); “Particularités secretes sur la princese Caroline d’Anglaterre, première épouse de
S.A.R. le prince de Saxe­Cobourg”, o qual jamais nos consolaremos de ter perdido, e, por último
o há muito esperado “Mémoires historiques, politiques, souvenirs, confessions, correspondances
secretes de Mlle Lenormand”, cujos dez volumes, infelizmente nunca apareceram.
O renome de Mlle Lenormand, embora, provavelmente, em declínio, ainda chamava a atenção
de alguns leitores da sorte. Em 1838, uma Mlle Brunet distribuía panfletos onde se apresentava
como discípula de Mlle Lenormand. Marie­Anne manifestou­se, imediatamente, na la Gazzete
des Tribunaux, lembrando seus leitores que ela não tinha alunos. Então, foi um simples adepto
que publicou, em 1842, Le rèvèlateur du destin ou Livre merveilleux des bramines, pour connaître
le présent, le passé et l’avenir, par um apdete de Mlle Lenormand (“O revelador do destino, ou o
Maravilhoso livro dos Brâmanes, de forma a saber o presente, passado e futuro, por um adepto
de Mlle Lenormand"). Uma simples coleção de oráculos no catálogo da Bibliothèque Nationale
atribuída a Aguste Martres
O fim chegou em 25 de junho de 1843. Marie­Anne Lenormand faleceu em seu apartamento na
rue de la Santé. Seu funeral, em 27 de junho, foi extraordinário. A igreja foi coberta com enfeites,
o carro fúnebre foi puxado por quatro cavalos enfeitados e seguido por cem pessoas! Não restam
dúvidas que essa cerimônia barroca foi cuidadosamente preparada. Foi um acontecimento
importante no mundo da adivinhação: a terra tremeu e tudo saiu do lugar. A jogada de Mlle
Lenormand reviveu o interesse em sua carreira e deu aos jornais boas razões para crônicas
sarcásticas. Um longo artigo, por Jules Jain, apareceu no sério Journal des Débats (de julho de
1843), outro por Léo Lespès, no seu concorrente Le Constitutionnel (suplemente de 16 de julho).
Le Charivari, Le Globe e, pelo menos, outros três publicaram artigos sobre sua vida. Antes de
julho acabar, foram publicadas biografias que analisamos no começo do capítulo. A lenda se
cristalizou e um exército de “alunos”, “adeptos” ou discípulos foram rápidos em se rivalizar.
A sucessão de Mlle Lenormand
O único herdeiro dos bens de Mlle Lenormand foi o seu sobrinho de 37 anos, Michel­Alexandre
Hugo, um segundo tenente da infantaria, filho de sua irmã mais nova, Marthe­Sophie. Sua
fortuna foi estimada em 500.000 francos, mas, na verdade, eram somente 120.000, dos quais
perto de 80.000 foram deixados como heranças pessoais e mais em várias reivindicações
concedidas pelo tribunal. Na edição de 16 de julho, o jornal parisiense Le Charivari publicou um
pequeno artigo sobre a sucessão de Mlle Lenormand, concluindo que ela não tinha nenhum
sucessor (a), porém um grande número de senhoras leitoras da sorte dividiriam a sucessão entre
si. O artigo mostra espanto com o número de profissionais, então, atuando em Paris, que
estabelecia em cerca de 50, que divulgavam seus serviços nos jornais e quem presumia serem
todas mulheres. Ele escolhe três para descrever separadamente. A primeira, Mme Clément,
descrevia os anúncios como “uma encantadora adivinha cuja jovem reputação se equiparava à
de Mlle Lenormand”.
Que ela alegava ter previsto o futuro de Marie­Louise, segunda Imperatriz de Napoleão e de sua
própria queda, isso já sabemos; se assim fosse, ela não poderia ser tão jovem. Ela se
especializou em previsões, por meio de cartas, de desastres grandes e pequenos, vestia manto
preto e capuz vermelho e viveu, segundo o artigo, no andar térreo sob um notário. Infelizmente,
não é dado o seu endereço, mas em 25 de julho, um mês depois da morte de Mlle Lenormand,
Mme Clément reivindicou a sucessão instalando­se no mesmo apartamento térreo na rue de
Tournon, 5, onde a famosa sibila fez suas consultas por muitos anos. Em seu livro, publicado
alguns anos mais tarde, Mlle Lelièvre nos conta como o sobrinho de Mlle Lenormand,
encontrando entre suas coisas, uma carta escrita a ela por Mlle Lelièvre, com bons comentários
acerca do destinatário, escreveu para lhe oferecer uso do apartamento e seu conteúdo; ele
ofereceu, também, convencer os clientes de sua tia a serem transferidos para ela, dizendo que
seria a única capaz de ser sua sucessora. Mlle Lelièvre recusou, sabendo que precisava de mais
estudos e consciente de que nem o apartamento de Mlle Lenormand, nem a sua mobília lhe
concederiam o talento requisitado. De olho em Mme Clément, ela declara que consideraria isso
puro charlatanismo. Evidentemente, o tenente Alexandre Hugo, então, descobriu Mme Clément e
fez­lhe a mesma oferta, que foi prontamente aceita.
As duas outras senhoras descritas pelo Charivari foram Mme Albin e Mme Melchior, ambas tendo
a borra de café como seu oráculo de preferência. Mme Albin era especializada em consultas para
previsão de casamentos, heranças e outros eventos felizes. Mlle Melchior era idosa e dedicava
as manhãs às tarefas domésticas, deixando o fim da tarde para fazer encorajantes previsões por
20 sous a consulta, para sua pobre clientela.
Antes de julho de 1843 terminar, a editora Lange­Lévy publicou La sibylle du XIXe siècle, de
Flamel, já mencionado. Num prefácio, o editor, escrevendo sob o nome de A. Gallus, esclareceu
que, após quarenta e oito horas da morte da sibila, ele recebeu um pequeno caixão de um
remente anônimo. A carta que o acompanhava dizia que, alguns meses antes, Mlle Lenormand,
de quem ele era um amigo próximo, confiou­lhe o caixão, instruindo­lhe a publicar as profecias
manuscritas contida nele após sua morte. Gallus, revelando a crença de que o remetente era um
dos executores testamentários de Mlle Lenormand, explica que publicaria essas grandes
profecias de forma célere. Ele não pondera porque um executor procederia de forma tão
clandestina, nem revela os passos que deu para verificar a autenticidade do manuscrito, mesmo
pela comparação de caligrafia. Ao invés disso, ele convidou Hortensius Flamel, “o célebre autor
de Le Livre rouge”, para escrever um comentário.
A publicação, como um todo, traz os sinais de uma farsa. Flamel pode, possivelmente, ter feito,
ele mesmo, as profecias; mais provavelmente ele pode ter sido colocado como um cúmplice. As
profecias, duas por página, variam em precisão, uma vez que são muito vagas ou muito obscuras
para se provarem erradas. Que o reino se tornaria um Império, pela segunda vez, se provou
correto em poucos anos; que as pessoas viajariam pelo ar demorou mais ainda para se verificar.
Que a Suíça seria invadida por todos os lados e deixaria de existir, em pouco tempo, foi um tiro
fora do alvo; igualmente que a Cruz substituiria o Corão em Constantinopla.
O breve comentário de Flamel é superficial e composto, em grande parte, por generalidades.
“Certas pessoas possuem o poder de prever o futuro, e Mlle Lenormand o tinha em alto nível;
suas previsões eram invariavelmente precisas”. Que comentário mais claro poderia ser feito
sobre profecias já, totalmente, explícitas? Só o último parágrafo do comentário revela um motivo
a mais para a publicação. “Quando ouvimos falar da morte de Mlle Lenormand, nos perguntamos
se uma nova estrela brilharia nos céus proféticos para substituir a que acabara de perecer.
Olhamos e um raio luminoso nos alcançou. Como Arquimedes, o que introduz as ciências
ocultas, eu gritei, “Eureca”. Mme Clément é a nova perita que erguerá, para nós, os véus que
cobrem o futuro”. É de se duvidar que Flamel tivesse o menor interesse no assunto, mas o editor
estava, certamente, interessado em reforçar a alegação de Mme Clément à sucessão. O
comentário de Flamel é seguido por uma biografia de Mlle Lenormand, anônima, que verificamos
ter sido baseada na carta de Alboise de Pujol para o Le Tam­Tam, publicada um mês antes. A
partir dela, ficamos sabendo que ela começava suas consultas perguntando para o consulente
detalhes pessoais, incluindo sua data de nascimento, as iniciais de seu nome de batismo e local
de nascimento, sua cor, animal e flor favoritos e o animal que mais detestava. Também tomamos
ciência das variedades técnicas divinatórias das quais se valia. No meio da biografia, é colocada
uma breve menção a Mme Clément: “Não nos esqueçamos de dizer que já nesse tempo, uma
sibila igualmente famosa, uma estrela dos céus proféticos, proferia seus oráculos e leituras do
futuro. Na Alemanha, Mme Clément previu o futuro de grandeza da Imperatriz Marie­Louise”. A
repetição da frase sobre a nova estrela, sugere que Flamel teve alguma participação na
composição da biografia, que termina com mais um elogio a Mme Clément: “A última sibila não
está morta. Aqui está outra que surge, não menos ilustre, não menos formidável: é a pitonisa de
Delfos, é Mme Clément. Seu tripé está erguido, seu livro do destino, aberto; suas cartas, prontas.
A ela pertence o reino do futuro.”
“Nunca vimos Mme Clément”, continua o autor, “mas ouvimos muito a seu respeito; e o que
ouvimos foi tão extraordinário que seria preciso um volume inteiro para contar… É na caverna da
sibila falecida, na mesma casa onde Mlle Lenormand viveu que a profetisa do momento faz suas
maravilhosas previsões. O passado é de Mlle Lenormand”, conclui seu biógrafo, “o futuro
pertence a essa estrela profética, Mme Clément. Assim com as sibilas, como com os reis: a sibila
morreu, vida longa à sibila”.
Os louvores extravagantes de Mme Clément podem sugerir algum grau de conluio entre o
tenente Hugo e os autores dessa ilegítima obra pós­morte, uma vez que o sucesso de Mme
Clément seria importante para Hugo como beneficiário do aluguel. A suspeita pode ser
equivocada; e a motivação para a vasta promoção de Mme Clément permanece obscura.
Pouco depois, no mesmo ano, foi publicada a biografia de Mlle Lenormand por Francis Girault
plagiada de várias fontes. Girault publicou como apêndice algumas ligações com Alexandre
Hugo. Primeiro, uma carta datada de 22 de julho de Hugo para os editores, Breteau e Pichery,
referindo­se ao livro de Flamel, denunciando as profecias com os mais fortes termos como
“falaciosas” – um julgamento com o qual Du Bois, posteriormente, concordou – e acusando
Breteau e Pichery de publicá­las. Os editores acusados, evidentemente, não viram razão para
resposta, mas Girault respondeu, entregando o manuscrito de sua biografia a Hugo, na rue de
Tournon, 5, negando qualquer responsabilidade pelo livro de Flamel da sua parte ou de Messrs
Breatrau e Pichery. Em sua resposta de 29 de julho, Hugo se desculpou por sua falsa acusação
e aceitou a obra de Girault como a biografia oficial de sua tia.
Mlle. Lenormand na leitura das cartas
Mlle. Lenormand não preparou sucessoras
Ilustração e legenda adicionada pelo editor do site Clube do Tarô
A esperança de Mme Clément em se tornar tão famosa quanto Mlle Lenormand foi frustrada e se
Lange­Lévy esperava que ela publicasse, com eles, algum livro que escrevera, frustraram­se
também, por ela tê­los publicado por sua conta. Em 1844 ela produziu um livreto de 64 páginas,
Le Corbeau sanglant, ou l’Avenir dévoilé (“O Corvo Sangrento, ou o Futuro Revelado”). O título
se refere, explica Mme Clément, à técnica divinatória romana de examinar as entranhas de um
corvo. A capa traz o endereço da autora, como própria editora, e como “a casa ocupada por Mlle
Lenormand, rue de Tournon, 5”. O frontispício é uma gravura litografada de Mme Clément, uma
bela senhora usando um cocar de aparência Asteca, do qual seu cabelo cai em cachos. O
método divinatório que explica segue diretamente a tradição de Etteilla, as cartas que usava
sendo as do jeu égyptien ou de Thot (o tarô de Etteilla numerado de 1 ao Louco, com 78 cartas).
Ela afirma ser clara ao explicar seu sistema, mas não consegue. A tiragem é simples: as treze
primeiras cartas são viradas e lidas, então dezenove e, finalmente, vinte e uma. As cartas lidas,
são, a cada momento, devolvidas ao maço que é reembaralhado antes de ser tirado o próximo
conjunto de cartas. É dada uma lista se significados das 78 cartas, baseada em Etteilla, porém,
sem qualquer referência à sua posição invertida. Embora o instrumento seja o baralho de Etteilla,
o coração de Mme Clément está na astrologia. As cartas numeradas do naipe de ouros são
identificadas com símbolos “cabalísticos” dos planetas, a cabeça e cauda do dragão e a parte da
fortuna, aos quais são associadas 12 previsões de acordo com as 12 “casas” (signos) zodiacais
em que estiverem. Mme Clément, volta, na segunda parte do livro, ao que acredita ser mais
interessante para o público, um horóscopo para homens e mulheres de acordo com o mês que
nasceram, seguido de uma descrição de vários temperamentos (fleumático, sanguíneo etc) e de
como ler a personalidade pelas características físicas.
Certamente não há, aqui, uma grande sibila: somente uma praticante inexperiente.
Em 1852, Mme Clément publicou outro livreto, Le Flambeau de l’avenir (“A Tocha do futuro”), do
mesmo tamanho, ainda da rue de Tournon, 5, denominado “a antiga livraria de Mlle Lenormand”.
Abaixo do nome da autora está inscrito algo meio patético: “a sucessora de Mlle Lenormand”. A
mesma gravura de Mme Clément meio borrada, forma o frontispício. É interessante ressaltar que
Mme Clément usa, repetidamente, o termo de Etteilla “cartomancia” e, embora o livro seja
supostamente sobre a técnica de “cartomancia”, não há virtualmente nada nele sobre o uso de
cartas. Tal inconsequência só leva à suspeita de que a pobre senhora não está em seu juízo
perfeito. Sob o “sistema” principal ela diz que se deve, primeiro, perguntar ao consulente para
que se conheçam detalhes pessoais do mesmo como o que gosta e o que não gosta (a prática
atribuída à Mlle Lenormand). Ela passa, imediatamente para o segundo “sistema”, que não é
sistema nenhum além de um discurso confuso sobre a astrologia e as virtudes cardinais,
aludindo às obras do “grande Thot”. Ela termina com citações históricas de previsões acertadas.
Em 1847 havia um livro interessante publicado, fora do meio literário cartomântico: Justifications
des sciences divinatoires (“Justificativas das ciências divinatórias”) por Mlle A. Lelièvre. O
catálogo da Bibliothèque Nacionale apresenta o nome do autor como um pseudônimo de Marc­
François Guillois, mas essa atribuição é, praticamente, um absurdo. Pseudônimos ou supostos
pseudônimos são, para bibliotecários, como atribuições de obras de arte a artistas individuais são
para historiadores da arte: eles os investigam religiosamente, mas, quando não há evidências
sólidas, eles irão se valer do mais inconsistente fundamento para uma identificação. Guillois foi o
autor de textos políticos publicados em 1795, 1797, 1801, 1816 e 1831; não há motivos para que
se suspeite dele como autor de obras sobre artes divinatórias em 1847. Além disso, não é
apenas uma questão de pseudônimo. O livro de Mlle Lelièvre é dedicado à condessa Marie
d’Adhémard com expressões da mais profunda gratidão por sua ajuda e amizade, contendo um
amplo conteúdo autobiográfico, dando nomes a várias pessoas como Monsieur Saint­Prix, que,
em 1830 tomou­a como aluna no Théâtre­Français e tratou­a como uma filha (p.49). O livro seria
completamente inútil se tudo isso fosse fictício, mas o endereço da autora está impresso na
capa, de forma que seria fácil identificar qualquer farsa. Não há motivo para não aceitar Mlle
Lelièvre, como um escritor posteriormente o fez, como uma sibila genuína escrevendo sob seu
próprio nome.
A maior preocupação do livro é recontar como Mlle Lelièvre veio, em 1840, a adotar a profissão
de leitora da sorte. Embora Mme Clément em momento algum seja mencionada, denegrir suas
alegações de ser a sucessora de Mlle Lenormand é, claramente, algo secundário. A autora conta
(p.66) como uma amiga sua pede à Mlle Lenormand para tomar Mlle Lelièvre como sua pupila,
mas Mlle Lenormand responde dizendo que não tem alunos. Entretanto, ela permite que Mlle
Lelièvre tire as cartas em sua presença. Numa nota de rodapé, Mlle Lelièvre diz, “Tenho diante
de mim uma carta tirada por uma certa senhora” – certamente, Mme Clément – “afirmando ser
ela a única discípula de Mlle Lenormand. Ela é, meramente, a única a ter reivindicado o título
com o intuito de enganar as pessoas. Essa senhora não é mais discípula de Lenormand que eu
e, talvez, menos”. Já foi dito como, após a morte de Mlle Lenormand, seu sobrinho ofereceu o
apartamento de sua tia à Mlle Lelièvre e ela rejeitou a proposta. O livro foi reeditado no ano
seguinte com um novo título Prophéties de la nouvelle sibylle. Não é apropriado, uma vez que o
livro não contém profecias, mas é obviamente feito para conter a alegação implícita de ser a
verdadeira sucessora de Mlle Lenormand; ela descreve, ingenuamente, como sonhou que Mlle
Lenormand lhe disse “Você me substituirá e seu nome fará o meu ser esquecido”.
Mlle Lelièvre praticava quiromancia e cartomancia, a última tanto com baralho comum, como com
os tarôs egípcios de Etteilla. Seu livro não contém nenhuma instrução para essas artes, depois
de uma longa seção autobiográfica, ele consiste em uma série de casos falando sobre previsões
bem­sucedidas, efetuadas por várias técnicas divinatórias. A seção de cartomancia repete as
fantasias contidas no livro de Frédéric de la Grange, Le grand livre du destin que foi publicado
dois anos antes sobre a história da arte. Marie Ambruget e Fiasson aparecem na obra, como na
obra de la Grange. Sua história sobre o Duque de Orleans, Mariette e Brivazac, é atribuída a
“memórias secretas”. Mlle Lenormand, estamos seguros disso, tinha o livro de Thot sempre sob
seus olhos; nesse caso, Mlle Lelièvre a imita.
De acordo com Éloïse Mozzani, Mlle Lelièvre morreu em 1849. É muito difícil dizer que tanto ela
quanto Mme Clément provaram ser a real sucessora de Mlle Lenormand. Outas cartomantes
fizeram similares alegações com fundamentos menos consistentes. Mme Lacombe, que morreu
em 1846, trabalhava no número 1 da rue Boucher, estabeleceu­se ocupando o lugar de Mlle
Lenormand, enquanto em 1848, Mme Morel divulgava­se numa publicidade impressa como
“amiga íntima e discípula de Mlle Lenormand”, o que nunca foi. Entretanto, não nos surpreende
que em 1854, Mme Eugénie Bonnejoy Pérignon revelou a escolha de Mlle Lenormand de um
sucessor, concedido após sua morte, e que deveria ser provado que não seria nenhuma das
senhoras que se afirmavam como tal, mas um homem. Ele era Edmond; porém sua história está
reservada para o próximo capítulo.
Mlle Lenormand era, realmente, uma “cartomante”?
Marie­Anne Lenormand constantemente se denominava sibila ou “profetisa” (pythonisse) e
costumava sustentar seus livros em suas visões e profecias. Quando se permitia falar sobre suas
técnicas divinatórias ela evocava um impressionante catálogo de instrumentos mágicos: o
espelho flamejante de Luca Gaurico, as trinta e três varas gregas, a “cabale de 99 de Zoroastre”,
alguns grimórios, uma varinha divinatória, seus preciosos talismãs, o aço électre, as chaves de
Salomão, o anel cigano, a(s) flecha(s) de Abaris, uma lupa mágica etc. As cartas não foram
esquecidas, mas não foram, obviamente, colocadas em primeiro lugar. Tarô, sempre escrito
como tharots, não é frequentemente mencionado. Quando elas o usam, é como os outros
instrumentos, de forma confusa e nebulosa, geralmente, qualificada como “misterioso”, “mágico”
etc., o que lhe permite manter tudo muito vago.
Entretanto, vários relatos – registros policiais e publicações literárias – revelam que ela usava
tarôs e cartas comuns como todos os “tireuses de cartes”. Os documentos que foram usados
para acusá­la em Bruxelas, em 1821, e que ela obsequiosamente reproduz no final do seu
Souvenirs de la Belgique, dizem todos que ela recebia seus clientes com cartas comuns e
tharots, dependendo do que pudessem pagar.
Cartas de jogar usuais no século 19 na Europa
Exemplo de cartas de jogar na Europa, durante o século 19, utilizáveis por Mlle. Lenormand.
Ilustração das cartas e legendas adicionadas pelo site Clube do Tarô.
No seu L’hermite de la chaussée d’Antin (Paris, 1813), Victor Étienner Jouy explica como ela
operava: “passado, presente e futuro serão expostos juntos sob seus olhos graças a um simples
baralho. Entretanto, devo dizer que essas cartas são muito maiores que as outras, decoradas
com hieróglifos tarotées em forme d’hiéroglyphes]. A feiticeira as embaralha, meditando de forma
edificante, e as combina através das habilidosas combinações de Etteilla”. Outro relato
inesperado é dado pelo Barão Karl August von Malchus (1770­1840). Embora sendo um
economista e estar longe de acreditar em leitura da sorte, Malchus consultou Marie­Anne
Lenormand entre 1810 e 1814. Se suas memórias, que foram publicadas pela primeira vez no
Die Geheimwissenschaften de Carl Kieserwetter (Leipzig, 1895) não foram forjadas, temos aqui
uma ótima descrição do ritual da sibila.
Malchus confirma que ela começa com perguntas para extrair detalhes pessoais do consulente e,
então, começa a jogar as cartas. Por estar familiarizado com diferentes padrões de cartas como
eram usadas nos países de língua alemã, Karl August von Malchus ficou impressionado com o
número de cartas usados por Mlle Lenormand e oferece uma descrição detalhada delas.
Tarokkarten, alle deutsche Karten [“cartas normais alemãs” antigas, por exemplo, com naipes
alemães], Whistkarten [significando, provavelmente, cartas francesas modernas], Karten mit
Himmels­körperen bezeichnet [“cartas com corpos celestes”], mit nekromantischen Figuren etc. A
sibila insistia em que se cortasse com a mão esquerda e, surpreendentemente, misturava cartas
de baralho diferentes! Por exemplo, 25 cartas de um baralho de tarô, 6 de outro, 10 de um
terceiro. “Ela separava as cartas escolhidas e as dispunha na mesa de acordo com uma ordem
específica; todas as cartas de cima eram colocadas ao lado”. Ela continuava com a leitura de
mãos.
Pode causar surpresa o relato de “corpos celestes” e “figuras necromânticas”, por ser algo
parecido com o que observamos no “Grand jeu de Mlle Lenormand”. Como Malchus morreu em
1840, não pode ter visto o “Grand jeu” que só foi publicado em 1845. Porém, muitos tipos de
cartas divinatórias foram publicadas, somente em 1845 e muitos tipos de cartas divinatórias
foram produzidas desde o começo do século XIX. A maioria continha alegorias emprestadas do
Grand Etteilla. Um baralho chamado “Petit Necromancien” foi produzido por Robert em cerca de
1810.
Podemos considerar Lenormand uma seguidora de Etteilla? A reposta é não. Não só o seu
método é simples e vago, como seu uso constante de um baralho de 32 cartas indica que ela não
seguia Etteilla. Suas alusões ao tarô são tardias (nenhuma antes de 1817), sendo esquivas e
nada claras. Vimos que ela não usava o Grand Etteilla uma vez que as três cartas que cita em
“Les Oracle Sibyllins”, em 1817, não apresentam nomes típicos que Etteilla lhes atribuía, mas sim
os que são atribuídos ao tarô de Marselha. Outro fato notório é Mlle Lenormand nunca menciona
Etteilla em nenhum de seus livros! Contudo, alude a Moult, Nostradamus, Cagliostro, a quem
dedica longas notas, Nicolas Flamel, o Conde de Saint­Germain e Mesmer, sem falar de pessoas
“mais sérias” como Lavater ou Gaal. Não há uma só palavra sobre Etteilla ou seus discípulos,
nenhuma alusão às suas teorias. Court de Gebelin também não é mencionado.
Entre as 248 notas de seu Souvenirs prophétiques (1814), ela tem uma nota sobre Hermes a
quem lista com outros “cabalistas” [!] na página 268. Sua nota nº238 (pp. 582­3) dá,
simplesmente, uma breve apresentação de numerologia, porém é referida como “Science des
Signes”. Provavelmente, o que se pretende aqui é o opus magnum de D’Odoucet, mas é
impossível de se verificar se a citação pertence a algum dos três volumes. Há uma enigmática
alusão ao Livro de Thot em Les oracles sibyllins (p.176): Mlle Lenormand diz que ela segue par
les dix­neuf points du livre de Thot (“pelos dezenove pontos do Livro de Thot”) para a qual não dá
qualquer explicação. E, vimos que V.­E. Jouy, descrevendo negativamente suas atuações
negativamente, alude às “habilidosas combinações de Etteilla”. Mas isso é, provavelmente,
alguma confusão feita pelo escritor.
O nome de Mlle Lenormand também está ligado a um baralho cartomântico especialmente
projetado, o Grand Jeu de Mlle Lenormand, ainda editado pela Grimaud, a principal produtora de
cartas. Baseado num baralho de 52 cartas, ele inclui duas cartas extras representando um
homem e uma mulher, significadores dos consulentes. Como Prof. Detlef Hoffmann observou, as
cartas não seguem nenhum sistema identificável, sendo assim, “um dos complicados baralhos
divinatórios”. Cada uma das 52 cartas mostra uma cena central (“grand sujet”) cercado por
símbolos diferentes. No canto superior esquerdo, há uma miniatura de uma carta normal, no
canto direito superior, uma letra aparece com um tema geomântico abaixo; entre eles há uma
constelação celeste. Na parte esquerda inferior duas figuras são separadas por uma flor.
O Grand Jeu Lenormand
Cartas do "Grand Jeu", mais um jogo associado à cartomante Lenormand
Ilustração e legenda adicionadas pelo site Clube do Tarô.
Esse baralho de cartas “astro­mitológico­herméticas” apareceu pela primeira vez, dois anos
depois da morte de Lenormand. Era vendido com uma coleção de 5 livros sob o título genérico
de Grand jeu de sociètè et pratiques secretes de Mlle Lenormand (“O grande jogo da sociedade e
práticas secretas de Mlle Lenormand”), por Mme la comtesse de.... O editor dá seu endereço –
mas não o seu nome – como 46 rue Vivienne.
O primeiro volume, Explication et application des cartes astro­mythol­hermétiques, avec de
nombreux exercices sur les fleurs, les animaux et d’um double dictionnaire de fleurs
emblématiques, é uma explicação das cartas com muitos exercícios de flores, animais, cores e
talismãs, junto com um tratado de geomancia e um dicionário de flores emblemáticas. Sua capa
promete “um baralho de 54 cartas coloridas”. Uma publicidade colocada no fim do terceiro
volume diz que as cartas foram impressas em litografia colorida por Engelmann e Graf, a célebre
companhia que introduziu a litografia na França e foi pioneira na sua aplicação com cores, da
qual esse livro está entre seus primeiros exemplares.
A coleção continua com a parte 2: Astrologie ancienne et moderne contenant toutes les tables
nécessaires pour dresser toutes sortes de thème, en quel lieu et pour quel que ce soit; suivi d’um
traté des nombres cabalistiques (“Astrologia antiga e moderna contendo todas as tabelas
necessárias para desenhar todos os tipos de mapas em qualquer lugar, para qualquer um,
seguida de um tratado sobre números cabalísticos”). Parte 3: Traité complet de chiromancie
ancienne et moderne; suivi d’um petit traité de physiognomonie et craniologie, d’aprés Lavater et
Gall (“Tratado completo de quiramancia antiga e moderna; seguido por um pequeno tratado sob
fisiognomonia e craniologia, segundo Lavater e Gall”), publicado atualmente “au dépôt du Grand
jeu de société”. Parte 4: Le jeu de la fortune, ou response des dieux, déesses, demi­dieux et
héros de l’antiquité aux questions qui leur sont adressées sur les destinées humaines (“O jogo da
sorte ou resposta dos deuses, deusas, semideuses e heróis da antiguidade para questões às
quais são perguntados sobre destinos humanos”). Parte 5: Les oracles de douze sibylles, ou
solutions par les nombres aux questions proposées (“Oráculos das doze sibilas, ou soluções para
perguntas propostas por números”), todos publicados em 1845.
Essa “obra imensa”, “bem escrita e arranjada”, é, supostamente para ser colecionada pela
“femme d’esprit”, de quem o nome deve permanecer oculto. As explicações das cartas são vagas
reminiscências do Petit Etteilla, mas atribuem vários significados para diferentes assuntos. Em
qualquer caso, eles não correspondem à menor alusão encontrada nos escritos de Mlle
Lenormand. Além disso, é claro que ela usava um baralho de 32 cartas. Os volumes seguintes
trazem indícios óbvios de uma obra apócrifa: nem seu estilo nem sua terminologia tem qualquer
relação com qualquer tema de Mlle Lenormand. O volume 1 foi reeditado por Breteau em 1865.
Era vendido com a nova edição das cartas “astro­mitológicas­heméticas”, impressas em litografia
de crayon por Bertatus e coloridas à mão.
O Grand jeu de Mlle Lenormand fez surgir uma cópia adiantada: por volta de 1850 a editora de J.
F. Aug. Reiff publicou um baralho de 55 cartas cujos títulos das cartas têm a marca Wahsage­
Karten der berühmten Mlle Lenormand (“Cartas divinatórias de Mlle Lenormand”). As cartas são
arranjadas de forma diferente: a cena central está na parte inferior da carta e figuras pequenas
aparecem no centro. As constelações foram omitidas.
Baralhos mais recentes surgiram por volta de 1850 sob o nome de “Petit Lenormand”. Sua
composição de 36 cartas aponta para países germânicos ao invés da França, onde tal
composição não era usual desde o século XVII; sua iconografia simples não tem nada a ver com
o “Grand jeu de Mlle Lenormand” nem com os métodos de leitura de cartas próprios de Mlle
Lenormand. As miniaturas de cartas que, por vezes, substituem as marcas francesas na parte
central superiora, mostram padrões de naipes típicos da Alemanha e França. Cada carte tem
somente um símbolo: um anel, um navio, um coração etc. Fabricantes de carta alemães,
austríacos e, até mesmo, belgas e suíços fabricavam e ainda fabricam esses “Petit Lenormands”.
Incrivelmente, esse tipo de cartas nunca foi produzido na França.
Jogo de Kaspar
Cartas do "Jogo da Esperança" de J. Kaspar Hechtel, impressas em Nuremberg,
no final do séc. XVII. Todas as ilustrações do posterior "Petit Lenormand"
já estão presentes neste jogo: o Cavaleiro, o Navio, a Casa, o Urso, o Anel, etc.
Veja mais detalhes em O Jogo da Esperança, um jogo que virou oráculo
Ilustração e legenda adicionadas pelo site Clube do Tarô. Fonte : www.lenormand­museum.de.
Detlef Hoffman mostrou que seu protótipo pode ter, claramente, vindo de um lindo baralho de
cartas peculiares chamado Das Spiel der Hofnung ­ Le jeu de l’esperance (“O jogo da
esperança”), publicado por volta de 1800 por G.P.J. Bieling de Nuremberg. Surpreendentemente,
ele não é um baralho divinatório, mas um jogo de tabuleiro! O folheto que o acompanha [Das
Spiel der Hofnung (sic), mit einer neuen Figurenkarten von 36 illum. Blättern. Zwite verbesserte
Auflage], ex. O jogo da esperança, com novas cartas ilustradas (feitas) de 36 iluminuras. A
segunda edição, ampliada, descreve as regras: as cartas devem ser arranjadas para formar um
quadrado de 36x36 em ordem numérica. Dois dados são usados e cada jogador move seu peão
de acordo com os dados até a trigésima sexta carta. Como nos jogos de tabuleiro, há casas que
de sorte e azar. Todavia, nas últimas linhas do texto dizem que “com as mesmas cartas pode­se
fazer um divertido jogo de adivinhação”. É um sistema simples de pergunta/resposta usando
somente 32 cartas dispostas em 8 fileiras de 4 cartas. As cartas são gravadas e belamente
coloridas à mão. Cada uma possui duas cartas em miniatura: uma de naipes alemães
conhecidos como “padrão Ansbach” e o a outra do assim chamado “padrão bávaro­parisiense”
(naipes franceses). Os símbolos e números são os mesmos nos baralhos posteriores.
* * *
No final, a carreira de Mlle Lenormand provou ser muito bem­sucedida. Seu moderno senso de
publicidade e seu uso da mídia do momento – livros circunstanciais, artigos da imprensa, mesmo
os adversos, sem falar da grandiosidade de seu funeral – concederam­lhe fama universal. A
única coisa que lhe interessava era deixar seu nome para posteridade. Nenhuma teoria ou
mensagem. Ela não criou ou inspirou a criação de qualquer baralho de cartas divinatórias.
Escreveu muitos livros, porém, todos focados em suas visões e encontros históricos. Ela mal
sabia o que era o tarô e nunca mencionou Court de Gebelin, Etteilla ou seus seguidores. Mas os
anos não eclipsaram seu nome: ela permanece a maior cartomante de todos os tempos.
Contato com o tradutor:
Alexsander Lepletier: www.lenormando.blogspot.com
Informações retiradas do website: http://www.clubedotaro.com.br/
Os Naipes
Os Naipes ajudam a complementar sua leitura, então é importante, utilizá-los, nesse tópico,
estaremos abordando o significado e as palavras chaves de cada Naipe, é importante que o
Oraculista, esteja sempre pesquisando e estudando sobre os naipes, afim de estar aumentando
seu vocabulário e palavras chaves, trazendo consigo, mais informações para trazer ao seu
consulente, uma tiragem mais precisa.
Paus: Fogo - Criatividade, agir, espiritual, energia, força, Animo, inspiração, Pai (gerador)
Espadas: Ar - Racional, teórico, pensador, inteligente (teórico), poder da fala, maturidade,
equilíbrio - Principio masculino e feminino
Ouros : Terra - TUDO que for material, realização, esforço, estudo, inteligência e prática.
Copas: água - Tudo ligado a sentimentos, criação artística, amores e afetos, prazeres e paixões,
sentimentos profundo, mistico, sensibilidade
A corte
Toda a corte ligada ao rei é sinal de Poder, ação, iniciativa
Rei de espadas - intelecto e justiça, comunicação, visualização e planejamento
Rei paus - coragem, empreendedor, ação dinâmica
Rei de ouros - determinação, materialização de tudo que deseja
Rei de copas - Autoritarismo, responsabilidade, generosidade, carisma e magnetismo
Rainha - está sempre ligado ao lado feminino/emoções e sentimento
Rainha de espadas - Mulher de ação, racional, poderosa, desapegada e libertadora
Rainha de paus- Praticidade, inteligência e reservada, assertiva e intensa, firme de muitas vezes
dura demais, verdades ditas de maneiras duras e que precisam ser aceitas, sem desculpas.
Rainha de copas - Proteção/acolhimento, sentimentalista e intuitiva, compaixão, perdão
Rainha de ouros - afetiva porém muito prática e pés firmes no chão, Autoritária, independente,
materialista
Valete está sempre ligada a jovialidade, liberdade, coragem, independência
Valete de espadas - falta de experiencia mas sabe se comunicar muito bem, tem bom jogo de
cintura, sabe usar as palavras
Valete de Paus- Coragem, impulsivo, firme em suas escolhas, extremamente determinado
Valete de copas- Conciliados, idealista, sem compromissos, liberto a fazer o que gosta, sem
amarras.
Valete de ouros - Negócios, empreendimentos, quer ter sua própria independência, sem
amarras
Naipes (Obs: Lenormand exclui 2/3/4 e 5)
Espadas
ÁS- Desenvolvimento progressivo, inteligência, coragem, precisão e clareza
6- ligado a atividades mentais, empreendimentos, ideias que renovem o seu mental, indecisões,
falta de iniciativa (ter iniciativa)
7- entendimento, altruísmo, "jogo de cintura", coragem
8- evolução interior, olhar para dentro de si
9- Se livrar de amarras, apego, falso julgamento, angustias
10- Equilíbrio e harmonia de seus sentimentos, infortúnios, dificuldades (não permanente, mas
ciclo lento)
Paus
ÁS- energia material, a fim de realizações - Criatividade, virilidade, dinheiro
6- Disciplinar instintos e impulsos - agir com cuidado
7- Sucesso através de seus atos, autoconfiança, determinação
8- preguiça, nova fase, novo ciclo, boa energia porem precisa vencer seu abatimento e
passividade mental.
9- Saber o momento de tomar suas decisões, astucia, flexibilidade, saber vencer seus obstáculos
10- força de vontade, saber defender tudo aquilo que você conquistou, descontrole, opressão,
disfarce, alto controle.
Ouros
ÁS- Saber expressar tudo aquilo que você quer de maneira espontânea, equilíbrio, exito, felicidade,
vitalidade, cuidado com o orgulho e ego
6- equilíbrio interior, compartilhar, generosidade, bondade, saber dar sem receber nada em
troca, e/ou ser grato por tudo que recebeu.
7- equilíbrio interior a fim de harmonizar-se e tornar-se alguém melhor, sabedoria, se abrir,
saber tomar decisões.
8- portas se abriram, a fim de ter o inicio de um novo ciclo (em todos os sentidos seja negativo
ou positivo), saber os seus caminhos
9- Se renovar, autossuficiência, sucessos
10- Se especializar, esforço intelectual - pois isso ajuda o nosso desenvolvimento em todos os
sentidos- sábio experiente
Copas
ÁS- Realização, saber olhar intimamente seu interior, alegria
6- meditar sobre o que está lhe ocorrendo, tomar medidas, não olhar para trás.
7- força, hora de criar suas raízes, colha seus frutos, saber que o que você cultivou pode ser
repassado
8- abandonar sua passividade focar no emocional, saber olhar interiormente, aceitar que certas
coisas precisam ser mudadas, apego
9- Você em harmonia com o mundo, novos horizontes se abrindo, concretização de projetos e
sonhos
10- Ser fiel a si mesmo, relações (em todos os sentido) feliz e harmonioso.
Significado das cartas e suas palavras chaves
É muito importante que o oraculista entenda o significado de cada carta, de seus símbolos, e
esteja sempre ampliando suas palavras chaves (que podem variar de acordo com a escola
aprendida de cada tutor), as palavras chaves e significados aqui atribuídos, foram descritos pelas
minhas guias espirituais, Pomba Gira Rainha Cigana da estrada e Cigana Esmeralda.
1- O Cavaleiro - noticias a caminho, qualquer tipo de noticia, esta chegando em um período
rápido de tempo.
Palavras Chave : Desenvolvimento Positivo, Progresso, acontecimento rápido
2 - Trevo - Boa sorte em todos os sentidos. Você pode apostar naquilo que você quer executar, seja o
que for.
Palavras Chave: Alegria, Boa sorte, alegria de viver
3 - Navio - Chegada de viagem, chegada de qualquer coisa em um espaço longo de tempo, e isso
também poderá ser uma coisa demorada, mas que chegará ao seu destino.
Palavras Chave: Viagem, Negócios (internacional ou fora da sua cidade), esperança
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  • 1.
  • 2. Como Trabalhar no dia a dia Baralho ou Tarot? Tarot é o nome que se dá ao tradicional Tarot contendo 78 cartas. Porém em algumas regiões da França e com alguns tutores mais antigos é muito comum, serem chamados "Tarot Lenormand", pois acredita-se que qualquer instrumento divinatório com cartas seja designado "Tarot". Então perdoem me os mais tradicionais, quando refiro-me ao baralho como Tarot, é apenas um costume que tive com os tutores nesses anos. Respeito ao óraculo Devemos inicialmente, ter em mente que o baralho é um método de autoajuda, e não devemos profaná-lo, fazendo a ele, perguntas irrelevantes ou de futilidades, um bom exemplo disso é "devo trair meu marido", está pergunta profana o baralho, pois é algo que você deve decidir por si, dentro da sua moral e costumes. O Baralho é um bom conselheiro, mas não devemos ficar escravizados de seus conselhos, devemos sempre lembrar, que seu uso terapêutico, o ajuda a ter mais firmeza em suas decisões, mas ele não deve ser o mestre de sua vida e tomar as decisões que cabem a ti, tomá-las Lembre-se de respeitá-lo e agradecê-lo ao fim de cada consulta ou auto-consulta, mantê-lo limpo e bem guardado.
  • 3. Respeito a outros oraculistas Devemos ser cientes que, cada oraculista, muitas vezes vê em de outras escolas, e métodos de aprendizado, não existe certo ou errado, "Verdadeiro/Real método", e sim aquele que cada um aprendeu, e funciona para si e seus demais (Pois o oráculo, sempre ira funcionar, independente de cada escola seguida), lembre-se de respeitar seus colegas oraculistas, e pegar deles, aquilo que lhe for útil e coerente. Concentração e Corte do Baralho É importante que você, esteja relaxado no momento em que for fazer um atendimento, ou uma leitura para um consulente, lembre-se, sua energia influência na leitura, então, não faça a leitura irritado ou com pressa. Tenha o seu método de relaxamento, uma respiração, um chá, uma reza, meditação, o que mais lhe é agradável fazer, para conectar-se ao divino e sentir-se em paz, para ai sim, iniciar o seu trabalho junto ao baralho. O Corte É importante sempre embaralhar muito bem o baralho antes de iniciar uma leitura, o corte deve ser feito da maneira que você achar melhor, não existe maneira certa de onde tirar as cartas para iniciar uma tiragem, você pode pegar do meio do baralho, em cima, em baixo, sequencial, a resposta será dada independente da ordem de tiragem do baralho.
  • 4. As cartas devem ser dispostas com seus símbolos abaixados, sendo revelados apenas no momento que você começar a leitura. Seu consulente deve fazer o corte e embaralhamento, e o cartomante deverá organizar as cartas na disposição correta de cada método de tiragem, dentro da ordem de tiragem do consulente. Como perguntar ao baralho As perguntas devem ser simples e concisas, não precisam vir de uma história que vem da infância do consulente , até o momento atual, precisam ser objetivas, então temos como exemplo "Devo procurar uma mudança de emprego, dentro de 2 meses" "Ficarei desempregado?" "Estou noiva, e estamos tendo problemas financeiros, nosso casamento ira ocorrer neste ano ainda?" Etc... Fique sempre muito claro, que é importante, que o consulente lhe passe informações, pois isso ajuda na melhor interpretação das cartas, por exemplo, se o consulente procura um novo trabalho, é importante saber se ele está tendo dificuldades nesse trabalho atual. Se a pessoa procura um novo amor, se ela já está em um relacionamento ou "rolo"... O Oraculista não é um "adivinho", precisamos de informações para poder sim, darmos uma melhor resposta baseado nas cartas que
  • 5. teremos em nossas mãos. O que evitar? Você, como oraculista, deve ter o bom senso de saber dizer ao seu consulente o que não se deve perguntar, pois determinadas coisas, não são parte do direito sair dizendo as pessoas, como por exemplo, uma pergunta sobre morte, não lhe cabe o direito de responder algo que está na mão do criador, então tenha em mente, que perguntas sobre Morte Traição Desejo de vingança (do seu consulente para com os outros) Devem ser banidas, pois, traição necessita de diálogo, uma pessoa, que está em um relacionamento, aonde acontece esse tipo de dúvida, deve ser resolvido dentro de sua casa, com diálogo, se isso não ocorre, a pessoa já tem problemas graves o suficiente para que você lhe responda algo, que lhe traga mais, e que novamente não lhe é de seu direito. Não invente, não adicione informações que você não sabe, apenas para criar clientela, isso a longo e a curto prazo, lhe gera apenas carga astral a qual você não tem necessidade alguma de ter. Seja verdadeiro, e responda apenas aquilo que você realmente saiba e que esteja descrito no baralho. Um fundamento muito importante na Bruxaria é, aquilo que fazemos de mal, volta x 7 a nós mesmos, então, saiba realmente o que a pergunta que você está respondendo, é realmente necessária,
  • 6. dentro das leis do criador, e se lhe cabem o direito de respondê-la É muito importante que não façamos um desserviço aos oráculos, que a muito são ridicularizados, respeitando-o e trazendo como resposta coisas verdadeiras, e não invencionices para termos status como grandes oraculistas, o trabalho do oráculo é auxiliar, e não criar falsas esperanças, afim de deixar-nos famosos. Limpeza do Baralho Normalmente, é comum, termos 2 baralhos, uma para a /o consulente em geral, e o nosso pessoal. O nosso Baralho pessoal, após consagrado, é imantado com nossa energia a cada vez que o utilizamos, o deixando cada vez mais sintonizados com nós mesmos, ele é normalmente utilizado apenas por nós, sem que ninguém mais o utilize. Agora, quando nós utilizamos o baralho para trabalhos com consulente diversa, é muito importante limpar o baralho, a fim que não tenha energias demais acumuladas nele, essa limpeza deve ser feita de uma maneira muito simples, um copo com sal grosso e água, deixe seu baralho (completo, fora da caixa) em cima desse copo (cuidado para não deixar seu baralho cair nele! ), e você deve pedir que a força daqueles elementos (água e o sal), limpem seu baralho e descarreguem toda a energia dos consulentes que ali podem ter acumuladas. Deixe de um dia para o outro, se você quiser, deixe uma vela branca próximo (cuidado para não atear fogo em nada), pedindo que a chama da vela ajude a purificar aquela limpeza. Meu costume, é de fazer isso uma vez por semana, mas você deve
  • 7. fazer quando sentir necessidade. Luciana Kluki Artista plástica e Terapeuta alternativa. Estudou Petit Lenormand e Tarot tradicional na França e no Brasil, com variados Tutores e métodos. Aprendeu que o mais importante do oráculo, é respeitar o método de cada um, entendendo que, tudo que é guiado pelo Lenormand, ira funcionar, inevitavelmente, a energia do oraculo nunca "da um ponto sem nó" Faço consultas com Petit Lenormand, via skype, caso tenha interesse, você pode entrar em contato comigo, via Facebook : https://www.facebook.com/carrocacigana Ou pelo e-mail : lucianakluki@gmail.com Curso: Petit Lenormand (Baralho Cigano) Eadeptus http://eadeptus.com.br/
  • 8.
  • 9. Método Francês Ferradura 7 Cartas - Tiradas aleatoriamente pelo consulente Devem ser dispostas pelo oraculista da forma descrita acima, deverão ser tiradas de uma única vez, a qualquer ordem de embaralhamento feito pelo consulente. Essa tirada pode ser feita para perguntas com validade de até 6 meses ao máximo. A leitura deve ser feita da seguinte maneira Carta número 1 - Momento atual do consulente Carta número 2 - Momento da pergunta, o exato momento em que o consulente está lhe consultando Carta número 3 - Elementos que levaram a evolução do motivo da pergunta Carta número 4 - Conselho do baralho para resolução da questão Carta número 5 - Como o consulente deve agir sobre sua pergunta Carta número 6 - Obstáculos (seja você mesmo, ou terceiros) e/ou adversidades que podem surgir no trajeto
  • 10. Carta número 7 - Vitória final, como será o desfecho da pergunta 2 Triângulos
  • 11. 7 Cartas, devem ser dispostas pelo oraculista da forma descrita acima, deverão ser tiradas de uma única vez, a qualquer ordem de embaralhamento feito pelo consulente. A validade dessa pergunta pode ser determinada pelo consulente, por exemplo 3 meses, 6 meses, 12 meses. Deverá ser lida da seguinte maneira: Em sua ordem numérica, partindo de baixo para cima, mas iniciando sempre de carta número 1 Carta número 1 - Representa o seu consulente, quem ele é. as cartas inferiores - 5-6-7 - São as cartas desfavoráveis ao consulente, lembre-se, toda a leitura deve ser feita, correlacionando com a carta número que representa o seu consulente então teremos Cartas desfavoráveis as consulente, baseado em sua pergunta 5 - 6 - 7 São cartas negativas, momento que o consulente precisa pensar em seus obstáculos (que podem ser internos ou externos) O Triangulo superior (Cartas 2-3-4) São as cartas favoráveis o que o consulente tem para reverter sua atual situação. LEMBRE-SE essa tirada deve ser feita, como a ordem descrita (disposição de cartas, seguindo a numeração de sua ordem) MÉTODO BRASILEIRO
  • 12. 3 cartas Passado/Presente/Futuro Baralho deve ser embaralhado pelo consulente e o mesmo, deve dispor as cartas na ordem mais relevante, as perguntas, podem ser feitas para períodos de até 12 meses. Deve ser lido, primeiramente Carta número 1 - Baseando se no passado, tendo como base a pergunta do consulente Carta número 2 - Presente, o momento atual ao qual ele se refere em sua pergunta Carta número 3 - O que pode mudar em sua atual/passada situação Pergunta e Resposta
  • 13. Baseando em 3 cartas que se correlacionam, você deverá encontrar uma única resposta ao seu consulente Baralho deve ser embaralhado pelo consulente e o mesmo, deve dispor as cartas na ordem mais relevante, as perguntas, podem ser feitas para períodos de até 12 meses. Baseando-se na ordem que o consulente predispôs as cartas, o oraculista, ira ler e interpretar as cartas, trazendo uma resposta para a pergunta do consulente. 4 Cartas Baseando-se em 3 cartas + 1 para conselho para trazer a ajuda ao consulente
  • 14. O consulente ira fazer sua pergunta, e dispor de 3 cartas em cima da mesa, o oraculista ira responder sua leitura diante das 3 cartas que estão dispostas, e ao terminar essa leitura, devera então pedir o conselho do baralho, onde nosso consulente, ira pegar mais uma carta do baralho, e dispor a mesa, essa quarta carta, ira ser lida como um conselho do baralho, para a "solução" da pergunta feita pelo consulente. Luciana Kluki Artista plástica e Terapeuta alternativa. Estudou Petit Lenormand e Tarot tradicional na França e no Brasil, com variados Tutores e métodos. Aprendeu que o mais importante do oráculo, é respeitar o método de cada um, entendendo que, tudo que é guiado pelo Lenormand, ira funcionar, inevitável mente, a energia do oráculo nunca "da um ponto sem nó" Faço consultas com Petit Lenormand, via skype, caso tenha interesse, você pode entrar em contato comigo, via Facebook : https://www.facebook.com/carrocacigana Ou pelo e-mail : lucianakluki@gmail.com Curso: Petit Lenormand (Baralho Cigano) Eadeptus http://eadeptus.com.br/
  • 15. Mlle Lenormand: Profetisa ou feiticeira? Ronald Decker, Thierry Depaulis e Michael Dummet Gostaria de partilhar com todos os estudantes, profissionais, pesquisadores e apaixonados, a tradução do capítulo 6, Mlle Lenormand: Prophet or Sorcerer? do livro A Wicked Pack of Cards ­ The Orignis of the Occult Tarot, de Ronald Decker, Thierry Depaulis e Michael Dummet ­ St. Martin’s Press – New York – 1996, três das maiores referências mundiais na história das cartas. O texto é a biografia mais completa e fidedigna de Mlle. Lenormand, trazendo informações importantes sobre sua vida, sua forma de trabalho e as ferramentas que utilizava no seu ofício, bem como a relação de seu nome com baralhos como o Grand Jeu, Petit Lenormand e outros. Esse texto é muito importante para compreendermos a história do baralho Petiit Lenormand e até que ponto ele, realmente, estaria ou não, ligado à Mlle Lenormand. Além disso, teremos a oportunidade de conhecer a vida da Sibila dos Salões e de como construiu a sua imagem e fama através de inteligentes e ousadas formas de marketing pessoal, valendo­se de plágios e inverdades, tornando difícil separar de si, a realidade da fantasia. De qualquer forma, sua fama é inegável: foi a mais célebre e famosa cartomante da história! Tradução e apresentação de Alexsander Lepletier Mademoiselle Lenormand “Mlle Lenormand, a célebre mística francesa, marcou profundamente a história, de forma que a mera referência à sua passagem seria supérflua. Basta dizer que foi Mlle. Lenormand que previu para Napoleão sua fenomenal ascensão e sua posterior queda repentina. Mlle Lenormand foi uma das grandes profetisas vivas, tendo sido reconhecida pela nobreza da Europa.” É dessa forma que um baralho de 52 cartas, fabricado pela The United States Playing Card Company of Cinccinati, chamado Gypsy Witch, é apresentado em seu folheto. O nome de Mlle Lenormand é, provavelmente, mais conhecido que o de Etteilla e seus discípulos. Não só foi a vidente mais popular das primeiras décadas do século XIX, como se mantém como a adivinha mais célebre de todos os tempos. Sua popularidade parece dever­se bastante aos seus escritos, nos quais diz ter estado com pessoas famosas e ter ser tornado a confidente da Imperatriz Josefina, de quem publicou as alegadas “memórias secretas”. Embora sejam praticamente esquecidos hoje em dia, Mlle. Lenormand escreveu quatorze livros, nenhum sobre suas teorias do Tarô ou métodos de cartomancia, e sim sobre sua carreira e suas ligações com pessoas importantes. Sua preocupação não era a de popularizar uma teoria ou sistema práticos, mas propagar a crença em seus poderes como uma sibila. Senhorita Lenormand
  • 16. Retrato de Marie­Anne Lenormand Apesar disso, seu nome ainda é associado a um estranho conjunto de cartas, o Grand Jeu de Mlle. Lenormand, ainda produzido pela Grimaud, a principal empresa francesa fabricante de cartas. Embora esse baralho, bastante popular, tenha 54 cartas, sendo 52 cartas “normais” e duas figuras extras, ele tem sido confundido, algumas vezes, com um baralho de Tarô, como deixam claro os títulos de dois livros recentes: Le Tarot de Mlle Lenormand (Paris, 1989), de Dicta e Françoise, e Votre Personalité Révélée par Le Tarot de Mlle Lenormand (Paris, 1992) de Carole Sédillot. O mesmo acontece com uma derivação da tradição Lenormand, o “Petit Lenormand”. Nesse caso, o baralho é composto de 36 cartas e ainda é produzido no países germânicos, onde parece ser uma especialidade local. É fácil compreender que o Grand Jeu de Mlle. Lenormand e seus primos alemães não têm relação alguma com o tarô. Que os últimos não têm nada a ver com Mlle. Lenormand será claramente explicado e mostraremos que a sibila não era tão interessada em previsões através de cartas. Marie­Anne Lenormand (1772­1843) é, finalmente, a figura mais proeminente de uma época que assistiu os últimos magos fora de moda darem lugar aos modernos oraculistas que parecem ter proliferado sob o reinado de Napoleão (1804­15). O começo de Mademoiselle Lenormand Apesar de clamar às “altas ciências”, a primeira principal ocupação de Etteilla, que era prever o futuro com as cartas, teve suas raízes na sociedade francesa. Embora uma lei punisse “pessoas fizessem da adivinhação e prognósticos ou interpretação de sonhos” seu ofício, Paris estava cheia de cartomantes durante os primeiros anos do século XIX. Uma notícia de 1804 diz: “A polícia repreende leitores de cartas (“ tireurs de cartes”) em vão, pois surgem novos todos os dias.” Os arquivos de polícia revelam muitas dessas pessoas a quem Éloïse Mozzani evidencia num dos mais bem documentados capítulos de seu livro (Mozzani, 1988, capítulo XV, Les tireurs des cartes sous Napoléon). Cidadão “Irénée” anunciava, em 1802, que ele continuava a ler cartas, oferecendo explorar o passado, descrever o presente e prever o futuro graças aos seus estudo da arte da Necromancia. Ele tinha, ainda, segredos exclusivos, como ler a clara de um ovo e a borra do café, além vender água­de­colônia. Detido, Irénée confessou se chamar Bonier.
  • 17. Outra busca policial feita no apartamento de uma mulher chamada Gilbert, no mesmo, ano, revelou que ela possuía três baralhos, incluindo um que se chamava “Thot”’. Um homem chamado Lyonnais predizia o futuro na rue de Bucy. Quando a polícia chegou, apreendeu “dois baralhos contendo figuras estranhas, cada um”. Madame Lacoste, a mulher Grangou, o cidadão Meyer, Mademoiselle Virignie, os Somonets, Madame Lebrun, a viúva Chevalier, sob o pseudônimo de “Madame Renard” – Madame Raposa – são somente alguns poucos nomes dentre os muitos praticantes citados por Mozzani que foram detidos e presos por curtos períodos pela polícia durante os anos de 1801­9. Mlle Lenormand era exatamente do mesmo tipo, exceto por ter escrito muitos livros. Isso fez uma grande diferença. Embora tenha enchido seus livros com episódios de sua vida e as pessoas com quem encontrou e, embora muitas obras tenham sido publicadas ao longo de sua carreira (há, pelo menos, seis biografias, sem mencionarmos notas em dicionários), não é fácil delinear a vida real de Mlle Lenormand. Muitas de suas afirmações são ilegítimas, muitas de suas biografias são forjadas, reconhecidas ou não. Logo após sua morte em 1843, três livros foram publicados. O primeiro deles, La Sibylle de XIXe siècle, consiste no que pretende serem profecias feitas pela própria Mlle Lenormand, escrito pouco antes de sua morte, com um comentário sobre elas e uma pequena biografia da autora (a biografia é anônima). O autor do comentário intitula­se Hortensius Flamel, um pseudônimo, obviamente. O nome Flamel é claramente emprestado do célebre suposto alquimista do século XVI, Nicolas Flamel, mas o primeiro nome soa estranho. A identidade de Hortensius Flamel tem sido sujeita a muita discussão; devemos deixar nossas considerações sobre o assunto até o próximo capítulo. Parágrafos inteiros da biografia, incluídos no livro, são repetições, palavra por palavra, de uma carta anteriormente publicada numa revista semanal chamada Le Tam­Tam (nº 29 de 9­15 de julho de 1843). Essa carta foi enviada ao editor por um senhor chamado Monsieur Alboise e alega ser baseada em documentos não publicados vindos de Alençon, local de nascimento da sibila. Alboise – Jules­Édouard Alboise (ou Alboize) du (ou de) Pujol (1805­54) – foi um colaborador permanente da revista, como é indicado na página principal. Ele era um dramaturgo, administrador de teatro, autor (sempre como colaborador) de pobres vaudevilles e superficiais romances de época. De acordo com a nota sobre “Lenormand” no Nouvelle Biographie Génerale (Vol. 29, 1859), Alboise du Pujol era um parente de Mlle Lenormand, que teria casado com sua sobrinha e herdado papéis particulares a partir dos quais planejava publicar um “Memorial”. Porém, sua morte, como foi dito, impediu­o de realizar o projeto. Logo após, em 1843, Francis Girauld, um poeta obscuro, publicou Mademoiselle Lenormand: sa biographie, ses prédictions extraordinaires, ao qual ele adicionou uma “introdução filosófica nas ciências ocultas”, apresentando a história da adivinhação, leitura de mãos, cartomancia com os Tarôs Egípcios e o Jogo de Picket “como explicado pelas profetisas do século XIX”. A capa alega que é a única biografia “oficial”. A introdução e explicação da cartomancia com o Tarô são plagiados de Julia Orsini, Le Grand Etteilla ou l’art de tirer les cartes, publicados em Lille em 1838, enquanto a biografia é amplamente derivada de “La Sibylle du XIXe siècle” para os primeiros anos e dos escritos de Mlle Lenormand. Ainda no mesmo ano, uma voz cética foi erguida por Louis Du Bois num folheto de 20 páginas intitulado De Mademoiselle Lenormand et de ses deux biographies, récemment publiées (“Sobre Mlle Lenormand e suas duas biografias recentemente publicadas”, Paris 1843). Baseado no livro de Girault, o autor ataca, impiedosamente, a veracidade de Mlle Lenormand e suas afirmações de ter feito profecias acertadas, sem oferecer evidências sólidas. Du Bois, que se denominava bibliotecário da École centrale de l’Órne (i.e. o departamento do qual Alençon é a capital), abre seu panfleto declarando que Marie­Anne Lenormand não nasceu em 1772, como afirmado, tanto por Girault, como em La sibylle de XIXe siècle, mas a 16 de setembro de 1768, porém, mais uma vez, sem citar qualquer evidência. Dois anos depois, Narcisse­Honoré Cellier du Fayel, “professeur à l’Àthénée royal, directeur du
  • 18. jornal Le génie des Femmes,publicou La vérité sur Mademoiselle Lenormand (Cellier du Fayel, 1845), contando como conheceu Mlle Lenormand em seus últimos anos. Embora, primeiramente cético, foi convencido pelos seus talentos, tornando­se um amigo íntimo. Sua descrição é mais plausível que as anteriores e soa honesta a maioria das vezes. Logo apareceram biografias em dicionários como o Dictionnaire des sciences occultes de Abbé Migne, (1855), no Nouvelle Biographie Générale depuis les temps plus reculés jusqu’à nos jours (Vol. 29, 1859) de Firmin­Didot, e na nova edição de Biographie Universelle Ancienne et Moderne (Vol. 24, c.1860), de Michaud. Elas refletem opiniões muito diferentes: as ferozes notas de Collin de Plancy são equilibradas pela biografia mais complacente assinada por L. Boyeldieu d’Auvigny no dicionário de Lecanu. Porém, Lecanu, ansioso por mostrar distanciamento, acrescentou comentários críticos. A Nouvelle Biographie oferece uma nota favorável pela Ed. de Manne, mas a Biographie universelle é duramente crítica sob a caneta de Du Bois. Mademoiselle (Senhorita) Lenormand A Senhorita (Mlle.) Lenormand, além da prática da cartomancia, publicou vários livros. Outra parte não tão grandiosa foi pesquisada, em 1911, por Alfred Marquiset em seu La célèbre Mademoiselle Lenormand. Marquiset é bastante sarcástico, mas bem divertido. Porém, seu livro é o mais bem documentado até agora. Ele usou arquivos policiais bem como dedicatórias e manuscritos. O livro mais recente sobre Mlle Lenormand, Mademoiselle Lenormand: la reine de la voyance (1990), de Dicta Dimitriads, não traz informações reais, sendo fortemente romanceado e usando, ainda, as mesmas histórias confusas e supersticiosas como fizeram Flamel, Girauld e outros, de forma a apresentar sua heroína de forma bajuladora. Não é surpresa que a biografia de Marquiset não seja nem mencionada! Marie­Anne Lenormand nasceu em Alençon, na Normandia, em 27 de Maio de 1772. Até mesmo sua chegada ao mundo é cercada de controvérsia. Como vimos, um de seus muitos biógrafos mantém que ela nasceu a 16 de setembro de 1768. Algumas décadas mais tarde, Ed. de Manne apresentou a sua data completa de nascimento, contradizendo Du Bois. Pesquisas recentes nos livros paroquiais de Alençon confirmaram que Marie­Anne­Adelaïde Lenormand nasceu e foi batizada no mesmo dia, 27 de maio de 1772. Seu pai, Jean­Louis­Antoine Lenormand era um comerciante de tecidos e morreu no ano seguinte. Sua mãe, Marie­Anne Gilbert, com quem Jean­Louis Lenormand casara em 1767, teve outro marido em 1774, Isaac Rosay–Desfontaines. Infelizmente, ela faleceu em 1777, deixando Marie­Anne órfã aos 5 anos de idade. Isaac Rosay casou­se de novo e mais outra vez em 1779, pois a segunda faleceu. Dessa forma, Marie­Anne Lenormand era uma estranha para os seus pais legais. De acordo com a carta de Alboise para a Le Tam­Tam, reproduzida por Flamel e Girauld. Marie­ Anne deixou Alençon, indo para Paris, Não é certo se ela se juntou ao seu padrasto, Isaac Rosay­Desfountaines, que tinha se estabelecido lá e aberto uma loja na rue du Colombier, ou outro comerciante – talvez com a indicação de Isaac – ou, ainda, se ela foi simplesmente atraída pela capital e saiu sem planos. Uma vez em Paris, é dito que reencontrou um conterrâneo, Jacques­René Hébert, que se tornaria famoso entre 1790 e 1794 com o seu Le Père Duchese, o mais bruto e violento jornal do período revolucionário. Ela se apaixonou por ele? Não há nada certo, mas não é provável que tenham sido amantes uma vez que a última confidente de Mlle Lenormand, N.­H. Cellier du Fayel, revela que ela morreu “em sua pureza natural de nascimento”. Nada muito confiável pode ser estabelecido sobre os anos seguintes. De acordo com Dimitriadis, que não só confia em Flamel e Giraud, mas acrescenta muitos detalhes ainda desconhecidos, Marie­Anne Lenormand estava vivendo em precárias condições quando decidiu deixar Paris para ir para Londres e visitar o célebre Dr. Gaal, com quem se encontrou em setembro de 1789. Entretanto, Du Bois e Cellier apontaram que Gaal não só era desconhecido naquela época, como nem tinha deixado sua terra natal, a Alemanha. Além disso, ele não tinha exposto em francês suas pesquisas sobre crânios até 1808. Mesmo sendo uma profetisa, não seria razoável que a jovem Mlle Lenormand tenha ouvido falar das teorias de Gaal em 1789! Também é uma
  • 19. extravagante superstição que ela tenha viajado sozinha para outro país aos dezessete anos. Marie­Anne Lenormand nos diz que em 1793 ela era secretária de Monsieur d’Amerval de la Saussotte. Numa longa nota nos seus Souvenirs prophétiques d’une sibylle, ela explica como d’Amerval de La Saussotte, um opositor da realeza, planejou ajudar a rainha Marie­Antoinette a escapar da prisão. Marie­Anne se juntou ao plano, mas somente teve sucesso em encontrar­se com a rainha na prisão. Maria Antonieta, ela conta, tinha um baralho para ler a sorte. Infelizmente, como mostra Alfred Marquiset, tudo nessa história é uma farsa. Mlle Lenormand usou a moldura de um caso real – o “Caso dos Cravos” – e, simplesmente, mudou os nomes, colocando o seu no lugar de um homem chamado Gonse e acrescentando alguns detalhes. A seguir, encontramos Marie­Anne sendo detida na companhia de François Flammermont e Louise Gilbert. De acordo com um documento arquivado reproduzido por Cellier du Fayel em 1845, eles foram sentenciados à prisão e multados em 10 livres no dia 20 de Floréal do ano II (9 de maio de 1794) por serem “diseurs de bonne fortune” (leitores da sorte). O ato menciona que eles usavam “convites” e “cartas”. Todavia, Alfred Marquiset mostrou dúvidas quanto a esse documento que foi publicado somente em 1845 e “deve ter vindo direto da fábrica Lenormand”. No seu livro de 1814, Mlle Lenormand queixou­se de ter sido presa “sob o terrível sistema do Terror” (ou seja, 1794); mas ela explica a sua estadia na prisão por “ter pregado uma contrarrevolução”! A primeira evidência documentada que temos de Mlle Lenormand é nada mais que um jornal diário chamado Le mot à l’orreille, ou le Don Quichotte des dames (“A palavra no ouvido, ou Don Quixote das senhoras”), cuja primeira edição apareceu no dia 11º Vendémiaire, ano VI (2 de outubro de 1797). Era uma gazeta simples, cheia de humor e notícias do Conseil des Cinq­Cents (Parlamento). A única alusão à divinação é a “previsão” do tempo na sua quinta edição. Le mot à l’oreille não parece ter tido muito sucesso: depois de oito edições, Mlle Lenormand desistiu. Todavia, é interessante ler que ela é “editora­proprietária” – na verdade ela se coloca como ‘rédactrice’, o que nos leva a crer que ela escreveu todos os artigos ­ e que seu endereço seja “1153 rue de Tournon, Faubourg Saint­Germain”. É provável que esse seja o atual nº 5 da mesma rua. Embora a rue de Tournon não tenha mudado desde aqueles dias — muitos dos edifícios são do final do século XVIII — a numeração atual só foi introduzida em 1805. Antes disso, eram usados sistemas diferentes baseados em todo o distrito envolvendo números altos. É verdade que Jacques­René Hérbert tinha seu negócio lá até 1792. Foi inferido que Marie­Anne Lenormand foi a sucessora de Herbert em sua loja, mas não temos indícios reais de sua situação durante a revolução. Cellier du Fayel cita que ela só se estabeleceu em 1799 (embora saibamos que ela já havia se estabelecido lá desde 1797), acrescentando que o número 1153 rue de Tournon se tornaria o número 9. Para Marquiset, ela viveu no número 9 “por volta de 1798”, mudando­se depois para o número 5. Mas, numa carta que Mlle Lenormand enviou à Imperatriz no dia 28 de novembro de 1804, ela ainda dá o endereço como “rue de Tournon nº 1153, fabourg Saint­Germain”. A situação se torna complicada com o arranjo das premissas: nº 5 e nº 7 de um prédio com três lojas e uma entrada principal. Uma vez numerado ‘5’, a localização na rue de Tournon permaneceria o endereço da célebre sibila até seus últimos dias. Lenormand e Robespierre Lenormand atende Robespierre, um dos líderes da Revolução Frances (1789­1799) Já era Mlle Lenormand popular? Não há evidências, a não ser em seus próprios escritos. Ela realmente leu a sorte para o conde de Provença, que se tornaria o Rei Luís XVIII, bem como para Mirabeau, general Hoche, Camille Desmoulins, Danton, Saint­Just, Marat, Barras, Robespierre, Talleyrand, o ator Talma e, por último, mas não pior, Joséphine de Beauharnais? Louis du Bois demonstrou que isso seria logicamente impossível para muitos deles, já em 1843. Cellier du Flamel duvidou de qualquer celebridade. Para ele, Marie­Anne Lenormand viveu humildemente até 1800.
  • 20. Alfred Marquiset ofereceu uma boa reconstrução hipotética da ascensão de Mlle Lenormand: “O primeiro lugar em que fez suas tentativas foi nos barcos das lavadeiras, sempre apaixonadas uma “necromancia”. Por alguns centavos elas a alimentava com maravilhosas esperanças e elas não resistiriam a contar aos seus clientes tais maravilhas. Passo a passo, ela chegou aos comerciantes, então à burguesia e às mulheres do mundo através de suas criadas. Daí até a alta sociedade só era preciso mais um passo. Encontrando­se com pessoas de alto nível, Mlle Lenormand aprimorou sua educação preocupando­se com o conhecimento específico que precisaria para o seu ofício. Desenvolvendo sua astúcia normanda, ela pôde arrumar relações secretas em todos os lugares e deslumbrar, frequentemente, com suas revelações, tendo pago para isso de seu próprio bolso”. A vidente de Joséphine No dia 2 de maio de 1801, Marie­Anne Lenormand foi convidada a ir até La Malmaison, a residência de Joséphine de Beauharnais, numa aldeia a oeste de Paris. Marie­Josèphe­Rose Tascher de La Pagerie, a primeira esposa de Napoleão Bonaparte, nasceu na Ilha da Martinica em 1763. Ela se casou com Alexandre de Beauharais em 1779, então, depois da morte de Beharnais em 1794, casou com Bonaparte em 1796. Como o convite foi anônimo, Mlle Lenormand não tinha a menor ideia de quem encontraria. Foi pela sua arte da quiromancia que ela identificou Joséphine – a quem, aparentemente, não reconhecera, apesar dos seus primeiros contatos durante o Terror. Não somente estava ela diante da esposa do primeiro cônsul, como o próprio Napoleão Bonaparte estava lá. O único problema é que nossa única fonte disso é o próprio livro de Mlle Lenormand, “Les Oracle sibyllins…” de 1817. Lenormand e Josephine Lenormand faz pevisões para Josephine, esposa de Napoleão Bonaparte É incerto que ela tenha mesmo se tornado parte das relações de Joséphine, uma vez que Alfred Marquiset cita um cartão­postal de 28 de novembro de 1804 na qual Mlle Lenormand dirige­se à Imperatriz como uma “sybille [sic para sybille] française”, “implorando humildemente à Sua Majestade Imperial para em sua bondade conceder­lhe um grande favor: o 'livro do destino’ disse­lhe ‘que receberia um pequeno trabalho de sua digníssima pessoa”. Mais uma vez, é difícil separar o que é verdade e o que pura invenção. Mademoiselle Ducrest, que visitava Joséphine de Beauharnais frequentemente, concorda que ela tinha inclinações para superstições e adivinhação. Alfred Marquiset também se refere à Duquesa d’Abramtès e à ‘Mademoiselle Avrillon’, ambas dando evidência de que Josephine teria consultado Mlle Lenormand, diretamente ou através de um mensageiro. Todavia, historiadores provaram que as duas últimas foram forjadas como muitas outras memórias no período Napoleônico. O que é óbvio é que Marie­Anne Lenormand se aproveitou bastante da situação. Não só contou sobre seus alegados encontros com Joséphine com riqueza de detalhes em muitos de seus livros, como ainda publicou Mémoires Historiques et secrets de l’imperatrice Joséphine, Marie­Rose Tascher de La Pagerie, em duas edições, 1820 e 1827, orgulhando­se de ter sido confidente e conselheira de Joséphine. Relatos mais sérios evidenciam grandes contrastes. Um documento policial relata: “há multidões na Lenormand, a famosa leitora de cartas da rue de Tournon”, e acrescenta que Metternich, o estadista austríaco, então embaixador em Paris, visitou­a em 1808. Jacques­Barthélémy Salgues, no seu Des erreurs et des préjugés répandus dans la société (“Dos erros e preconceitos na sociedade”) foi forçado a confessar que “longas filas de carruagens” esperavam em frente à “famosa senhorita L.R.”, significando Lenormand. Então, Mlle Lenormand estava em voga e rica. Parece que ela comprou uma casa de campo em Migneaux (perto de Poissy, Yvelines), por volta de 1802 e, provavelmente, mais tarde, um apartamento na rue de la Santé, em Paris. Talleyrand, Mme de Staël e Talma podem tê­la consultado. Mas há um lado negro. No seu L’hermite de la chausée d’Antin, Victor­Étienne Jouy conta: “Há uma sibila moderna em Paris cuja reputação e sustento se baseiam somente na credulidade
  • 21. infantil das mulheres da melhor sociedade…”, “é no centro de Paris, na rue de Tournon, no enigmático letreiro do Bureau de Correspondence générale”. Os arquivos policiais revelam que ela era constantemente detida e presa. Em dezembro de 1803 ela foi mandada para a prisão no “Madelonnetes” por sua “sala de estar ser um antro de conspiradores”. Os relatos policiais multiplicaram. Em setembro de 1804 conta­se que “Mlle Lenormand, que reside na rue de Tournon engana tolos todos os dias”. O grande assunto de 1809 foi o divórcio de Napoleão de Joséphine. Mlle Lenormand foi detida em 15 de dezembro como consta nos relatórios policiais. “A mulher Normand [sic], que ganha a vida lendo a sorte, foi presa. Quase todo o tribunal costumava consultá­la sobre atualidades. Ela fez horóscopos para as pessoas mais importantes e ganhava mais de 20.000 francos por ano com o ofício”. Mas temos outra testemunha: a própria Marie­Anne Lenormand. Ela usou um livro de 602 páginas (Les souvenirs prophétiques d’une sibylle…), publicado em 1814, para nos dizer porquê e como ela foi para cadeia por alguns dias em 1809. Ela foi interrogada sobre seus clientes, técnicas e previsões e, então, liberada. A verdadeira razão da sua detenção, ela conta, foi por ter previsto o divórcio de Napoleão de Joséphine e tentado impedi­lo. Desde então, a polícia pareceu deixá­la em paz. Lenormand recebe ordem de prisão A cartomante Lenomand recebeu várias ordens de prisão Em 1812­13, Mlle Lenormand tinha uma livraria na rue du Petit­Lion­Saint­Sulpice (ou Petit­ Bourbon­Saint­Sulpice, a rua próxima, depois da Tournon), que deve ter comprado de um antigo livreiro, Fréchet, em cerca de 1810. Foi nesse endereço que ela publicou seus primeiros livros. Le souvenirs prophétiques foi publicado “à Paris, chez l’autir, rue de Tournon, nº 5, et à son magasin de librairie, rue du Petit­Bourbon­St­Sulpice, nº1 ("pode ser adquirido com o autor,… e em sua livraria… "). O livro foi editado por Lenormant, um editor que não tem qualquer relação com Marie­Anne. A gravura mostra a chegada dos policiais na sala de consultas de Mlle Lenormand. Um prefácio (Petit avant­tout) apresenta o livro que é organizado como uma história sequencial: primeiro, Ma vision, então Le réveil ("O despertar"), Le depart, ("A partida"), Premier interrogatoire ("Primeiro interrogatório"), Deuxième interrogatoire, seguido pelos onze dias de sua prisão, algumas “reflexões”, “uma palavra no ouvido”, o “billet doux”, uma viagem ao inferno, uma Description de l’île d’Elbe e, por último, mas não menos importante, algumas 282 páginas de notas! Como podem imaginar, não precisamos resumir esse livro sufocante cujo propósito era mostrar o quão brilhante ela se comportou e o quão ridícula foi à polícia e, é claro, promover sua arte e previsões. Nesse fluxo de situações falsas e digressões históricas, ainda assim conseguimos pegar algumas das técnicas divinatórias da sibila. Em “Le rèveil” (pp.8­9) ela lista alguns de seus instrumentos, os quais explica em generosas notas: O espelho flamejante de Luca Gaurico, as trinta e três varetas gregas, sua “cabale de 99 de Zoroastre”, sem mencionar seus grimórios, sua varinha divinatória, seu precioso talismã… Mas a primeira pergunta dos policiais é sobre leitura de cartas: “Vou faites le cartes (26)?” (“Você lê as cartas?”). Na sua resposta ela lhe oferece uma leitura. Mas a promissora nota 26 é decepcionante. Estranhamente, Mlle Lenormand insere um conto popular conhecido como “A história de Grenadier Richard”, onde um soldado assiste uma missa com um baralho de cartas na mão e, quando repreendido, explica que cada carta tem um significado bíblico. No segundo interrogatório, ela é, mais uma vez questionada sobre as cartas. Marie­Anne Lenormand encontra uma oportunidade de nos contar a origem das cartas de jogar na sua nota número 31, referindo­se ao Abbé de Longuerue e a Jacquemin Gringonneur. Surpreendentemente, não há uma nota sequer sobre o tarô em toda a obra! O livro foi um evento único. Reviews apareceram no Le Nain Jaune de 20 de março de 1815 e no Le Journal des Débats, onde Hofman, seu editor, publicou uma série de artigos em agosto e começo de setembro de 1815. Marie­Anne Lenormand respondeu no Le Courrier de 20 de setembro.
  • 22. A volta dos Bourbons Marie­Anne Lenormand sempre alegou ser da realeza. Não só tinha simpatia pela família real em 1793 como, é claro, previu a Restauração de 1814­15 (mas não previu os “Cem dias de Napoleão”!). Era de se esperar que, depois de um pequeno livro celebrando o aniversário da morte de Joséphine, ela publicou La sibylle au tombeau de Louis XVI (A sibila no túmulo de Louis XVI, Paris, 1816), onde ela se encontra com um anjo que lhe narra a batalha de Waterloo através de um generoso vasto relato!… Logo depois, em 1817, Les oracle sibyllins foi publicado. Esse volumoso livro é a continuação do seu Souvenirs prophétiques e no mesmo estilo, ela tenta provar que previu a queda de Napoleão. Nós sabemos que o imperador gostava de ler as obras de Mlle Lenormand, mas que não acreditava na bizarra visão que tinha. Ela revela um pouco de sua técnica e, particularmente, seu método de leitura de cartas. Ela, claramente, usa um jogo de piquet, ex. baralho de 32 cartas. Ela cortava três vezes e dispunha as cartas em oito montes. Então, começava a leitura. Apesar de citar as cartas que tirou para a leitura, ela não tem problemas em descrever seus significados! Algumas linhas à frente ela dá mais explicações: “O Rei de Espadas, junto com o 8 de ouros, significa que um homem habilidoso parou julgamentos, se possível, o avanço de uma doença… Felizmente, o 9 de copas, que está no topo, diz que verá, rapidamente, o fim de suas cruéis preocupações” (pp. 151­2). Como se pode ver, seu sistema é bem simples, sem nenhuma teoria elaborada. Uma grande revelação nos espera na página 159: O uso de cartas de tarô – escrito tharots, na época – é, finalmente, mencionado por Mlle Lenormand. Como sempre, ela é bem vaga: “O Louco, que estou tirando de sua mão significa que seus projetos são insustentáveis”, diz ela (p.159). E então: “Mas eu vejo o Diabo ao lado da Morte” (p. 160). Nenhum significado é dado, mas uma vez que o consulente bateu em sua mesa e derrubou suas “78 cartas de tharot”, podemos supor que não foram boas notícias. Os nomes das cartas de tarô mencionadas por Mlle Lenormand não podem ser encontradas no Grand Etteilla I, onde são chamadas, respectivamente: Folie, Force majeure e Mortalité. Fol, Diable e Mort são nomes clássicos no tarô de Marselha. Outras técnicas divinatórias são mencionadas no resto do livro: économancie (ex.: previsão com uma bacia de água fresca com folhas de louro e verbena, mais sal!), o aço eléctre (que "só tem na Europa"), os nove pontos do livro de Thoth (sem qualquer explicação), leitura de mãos, é claro (com uma grande nota 14), onomancia, com a clara do ovo, chumbo derretido etc. Ela lista o que trazia consigo: “meus diferentes tharots, meu grande grimório, minhas famosas chaves [de Salomão], Cornélius Agrippa, minhas varas gregas, meu espelho mágico, o tratado dos sonhos, segundo Joseph, minha famosa varinha divinatória, 9 dracmas de chumbo fresco, sete pedaços de cera…, borra de café, o anel cigano” (p. 337). Isso é, no mínimo, a parafernália de uma feiticeira. Nenhum método cartomântico é apresentado, mas há uma descrição de como Mlle Lenormand usa as suas varas gregas: “Pego minhas 33 varas gregas e jogo­as aqui e ali, numa área triangular, porém tiro, com cuidado, o terrível Agamenon e seus seguidores, fazendo isso de novo, sete vezes” (p. 196). Em outubro, uma nova oportunidade foi dada à Mlle Lenormand para aumentar sua fama “internacional”. Para lutar contra Napoleão, o Czar Russo, o Imperador Austríaco e o Rei da Prússia uniram­se, em 1815, no que foi conhecido como “Sainte­Alliance”. Em outubro e novembro de 1818 reuniu­se um congresso em Aachen para decidir o futuro da França. Marie­ Anne Lenormand decidiu ir lá por sentir sua presença necessária. Para impressionar os monarcas a quem iria aconselhar, alugou uma carruagem, deixando Paris em grande ostentação. Mas foi parada na fronteira pela alfândega belga. O estranho equipamento que funcionários da alfandega encontraram na bagagem de Mlle Lenormand levantou suspeitas, então ela foi enviada para Tournai e, então para Mons, para que se descobrisse quais eram os seus planos. Aparentemente, nada perigoso, pois a liberaram três dias depois. Depois do congresso, foi para Bruxelas onde, ela nos conta, foi fervorosamente recebida. Pelo menos todos esses eventos foram assunto para um novo livro que ela própria publicaria no ano seguinte, embora esteja datado 1818: La sibylle au congès d’Aix­la­Chapelle em 1818, sendo
  • 23. seu título feito, claramente, a partir do L’observateur au congrès, ou Relation historiques et anecdotiques du Congrès d’Alaix­la­Chapelle em 1818 (“O observador no congresso, ou considerações históricas e pessoais do Congresso de Aachen", Paris, A. Eymery, 1818”). O último livro foi escrito pelo jornalista Charles­Maxime de Villemarest e dá conta da tão comentada presença de Mlle Lenormand em Aachen, descrevendo como ela, em primeira mão, espalhou rumores e situações de pessoas bem informadas (pp.151­2). O livro da própria Mlle Lenormand, por outro lado, é mais um guia turístico, contando como ela foi para Bélgica – sob domínio da Holanda, então – foi parada pela alfândega e, finalmente, chegou a Achen, da qual oferece uma descrição completa, emprestada, em grande parte, do Guide des étranger, de J.­B. de Bouge ou Itinéraires de la ville d’Aix­la­Chapelle (Guia do estrangeiro ou Passeios na cidade de Aachen, Bruxelas, 1806). Ela fala muito pouco sobre ter encontrado pessoas importantes lá, mas dedica uma grande parte à descrição de um encontro com um profeta chamado Muller. Muller, tendo­a convidado a ir à Bruxelas, possibilita que ela termine o livro com um tour pela capital belga. Tarôs também são usados nesse livro. O índice traz um capítulo promissor intitulado Y a­t­il quelque de philosophique dans les Tharots? (“Há algo filosófico no Tarô?”). Pelo menos iremos, aqui, saber o que Mlle Lenormand achava do tarô. Ela nos preparou para isso: Acionando sua “grande cabale”, ela divide suas figuras egípcias (“mês tableaux égyptiens”) em nove (p. 51). Ela comenta que, embora um baralho pareça algo frívolo, é merecedor de atenção filosófica. Mais à frente, ela descreve os utensílios familiares que a cercavam e menciona os tarôs, “figuras emblemáticas e hieroglíficas” (p. 193). Depois de termos aguentado uma descrição completa de Aachen, chegamos agora, tremendo de emoção, ao centro da contribuição de Mlle Lenormand para a teoria do tarô. Decepcionantemente, o capítulo é somente a descrição de seu quarto no Hôtel de Bellevue. A única frase que ela dedica ao tarô é seguinte: “mês tarots m’offrent de singulières réflexions” (‘minhas cartas de tarô me oferecem algumas curiosas reflexões’)! Uma das obras­primas de Mlle Lenormand foi, certamente, Mémoires historiques et secrets de l’impératrice Joséphine, Marie­Rose Tascher de La Pagerie, première épouse de Napoleon Bonaparte; orné de cinq gravures, portrait et fac­similé (Paris, 1820, 2 vol.), onde ela conta a vida da primeira esposa de Napoleão. Não será surpresa se você ouvir dizer que a heroína da história é, na realidade, Mlle Lenormand no seu papel de confidente e conselheira da imperatriz. Ela não deixa de mencionar e destacar seus grandes méritos e visões históricas. Alguns meses antes, um “Prospecto” da assinatura anunciava o livro, alardeando “o luxo da tipografia, as finas gravuras”. Os compradores podiam assinar “au magasin de libraire, rue du Petit­Bourbon­St­ Sulpice, nº 1”. Essa seria a última menção da livraria de Mlle Lenormand, pois nenhum dos dois volumes dá esse endereço. Os livros seguintes não o mostram. Mem,óris históricas e secretas da Imperatriz Joséphine "Memórias históricas e secretas da Imperartriz Joséphine" Reprodução do busto da Imperatriz no www.fr.wikipedia.org O Mémoires historiques et secrets… rapidamente levou a reações negativas. J.­M. Deschamps, secretária particular de Joséphine, protestou com uma carta bastante sólida no Le Currier Constitutionnel and Le Courrier Français de 8 de novembro de 1820. Na La Gazzete de France de 4 de dezembro de 1820, Colnet mostrou que a obra era uma confusão de erros. Embora ela tente apresentar Joséphine de forma positiva, os admiradores de Napoleão chamaram de traição. O julgamento de Marquiset é duro: “é um romance cruel”, “quase tudo é falso na obra” e, mais, “além desses anacronismos, o Mémoires é essencialmente a história de Napoleão sem imaginação e equivocadamente contada”. Historiadores modernos não são menos críticos. Eles, geralmente, tomam a obra de Mlle Lenormand sobre Joséphine como puramente um logro. Para Pr. Jean Tulard eles são “inteiramente apócrifos”. Apesar disso, o Mémoires historiques deve ter tido algum sucesso e pode ter sido o primeiro best­seller publicado por Mlle Lenormand. Chegou à segunda edição aumentada com as últimas palavras de Napoleão em Saint Helena. Sua fama cruzou fronteiras: Mémoires historiques foi traduzido para o alemão em 1822 sob o título: Historische und geheine Denkwürdigkeiten der
  • 24. Kaiserin Josephine… ersten Gemahlin Napoleon Bonaparte…, traduzido por August von Blumröder e publicado pela Sondershausen. Finalmente, uma tradução para o inglês, feita por Jacob M. Howard apareceu nos Estados Unidos, em 1847, em Chicago e na Filadélfia, simultaneamente: Historical and secret memoirs of the empress Joséphine (Marie­Rose Tascher de La Pagerie), firt wife of Napoleão Bonaparte. Translated from the French by M. Howard. Foram reeditados várias vezes em 1848, 1850, 1852, 1854 e mais tarde, até a virada do século. Parece que Mlle Lenormand se sentiu humilhada com a reação sarcástica da imprensa parisiense. Em 25 de fevereiro de 1821 ela deixou Paris e se estabeleceu em Bruxelas. Os clientes vieram, rapidamente, consultar seus oráculos. Mas a polícia foi igualmente rápida em prendê­la e Mlle Lenormand foi detida em 18 de abril de 1821. Após prestar depoimentos e passar por revistas, ela foi indiciada por fraude e levada a julgamento em Louvain. Em 7 de junho ela foi sentenciada a 1 ano de prisão e multada em 3 florins. Ela entrou com recurso contra a sentença, sendo novamente levada a julgamento perante a corte de Bruxelas. A sentença de prisão foi retirada e Mlle Lenormand multada em 15 francos que se recusou a pagar. Livre, Mlle Lenormand deixou Bruxelas em 15 de agosto de 1821. Toda essa história deu origem a um novo livro. Souvenirs de la Belgique foi publicado em 1822, “à Paris, chez l’auteur, rue de Tournon, nº 5, et MM. les principaux libraire de la capitale”. Marie­ Anne Lenormand conta­nos duas memórias de “100 dias de má sorte”, aos quais acrescenta suas “notas históricas e políticas”. O livro foi ilustrado com um retrato da autora em sua prisão em Bruxelas. Como nas obras anteriores, há notas de rodapé e finais; há, até mesmo, notas de rodapé para as notas finais! As 415 páginas são salpicadas com lições de história, digressões de fatos, e citações em francês, latim e até inglês (sem qualquer referência). É uma narrativa fantasiosa do que aconteceu do começo ao fim. No seu obsessivo desejo de provar que estava certa, ela anexa 80 páginas de documentos autênticos (declarações de testemunhas, minutas de audiências, memorandos que foram publicados em defesa de sua posição). Todas as “vítimas” mencionaram cartas comuns e de tarô usadas para previsões. Como em seu Sibylle au congrès d’Aix­la­chapelle, Mlle Lenormand evita responder perguntas diretas sobre o tarô. No capítulo intitulado Mon interrogatoire (“Meu interrogatório”), onde ela reporta perguntas e respostas à sua maneira, um consulente pergunta: “O que esses tharots, que parecem ter hieróglifos, significam?” (p.39). Mas sua reposta tem a ver com quiromancia! De volta a Paris, Marie­Anne Lenormand dedicou­se a escrever uma pilha de livros, os quais aparecem em várias listas em suas obras publicadas. Em outubro de 1824, logo após a morte de Louis XVIII, ela publicou uma visão do “anjo protetor da França no túmulo de Louis XVIII”, no qual previu um longo e feliz reinado de Carlos X – que foi deposto pela Revolução de 1830. A morte do Czar Alexander I, em 1825 inspirou um novo canto na obra de Catherine II em seu túmulo. Ela oferece uma assinatura de quarenta e quatro obras adicionais suas, entre as quais foram anunciados, mas nunca apareceram, suas próprias memórias e livros sobre o filho de Joséphine, Eugène de Beauharnais e sobre a Rainha Guilhermina. De acordo com Dicta Dimitriadis, Mlle Lenormand viajou para Londres, de novo, em 1822 e juntou­se a uma sociedade chamada “Membros of Mercurii” e chegou a dirigir uma revista intitulada “The Straggling astrologers of the 19th century”, em 1824. Tudo isso é contradito por uma carta de Mlle Lenormand em 20 de janeiro de 1823 para Messrs. Truttel e Würtz, comerciantes de livros, em Paris, negociando a venda de três dúzias de cópias de seu “Souvenirs de la Belgique” por 178 francos e esperando aumentar os negócios com eles durante “esse ano, 1823”. É difícil imaginar como ela poderia viver em Londres entre 1822 e 1824, quando estava publicando seu Souvenirs de la Belgique (1822), em Paris, e então, L’ange protecteur de la France ao tombeau de Louis XVIII (1824)! Como era de se esperar, ela nunca fez alusão a essas maravilhosas aventuras em suas publicações posteriores. Seus últimos anos Depois da Revolução de julho de 1830, um monarca novo, mais liberal, ocupou o trono francês. Contrariamente às suas previsões, seis anos antes, Carlos X foi expulso da França e seu primo
  • 25. Louis­Philippe se tornou rei da França. Marie­Anne Lenormand era monarquista, mas parece ter sido apoiadora dos antigos Bourbons. Sua fama estava minguando, também, apesar do apoio de Guizot, um dos mais influentes ministros do governo e Émelie de Girardin, uma dos principais nomes da imprensa. Ela, também, converteu Narcisse­Honoré Cellier du Fayel, um próspero advogado que queria encontrar­se com a “charlatã”. Cellier du Fayel foi convencido por seus oráculos e, em pouco tempo, tornou­se seu confidente e biógrafo. Na sua Biografia de 1843, Francis Girault nos conta como, em 1835, chegou à sala de consulta de Mlle Lenormand uma mulher velha e pobre, desconhecida por ela. A mulher confessou ser a viúva de Fouquier­Tinville, o sinistro promotor público da Revolução Francesa que foi guilhotinado em 1795. Claro que ela teve muito o que falar e seus escritos secretos eram de grande interesse para a sibila. Mas essa vem a ser outra farsa: como lembra Alfred Marquiset, Mme Fourquier­Tinville morrera sete anos antes! A veia literária de Marie­Anne Lenormand ainda não tinha se esgotado. Entre 1831 e 1833, quatro últimos livros foram lançados pela sua "fábrica" e muitos outros foram anunciados. Publicado em janeiro de 1831 e dedicado, L’ombre de Henri IV au palais d’Orléans (“A sombra de Henri IV no palácio de Orleans [ex.: o Palais­Royal]”.) uma mistura chata de visões, diálogos e aulas de histórias e notas de rodapé para mostrar o quão precisa era a sua previsão de eventos de 20­22 de dezembro e que deveriam ter aparecido em 20 de dezembro de 1830. Se tivessem, poderíamos, finalmente, ter testado as extraordinárias profecias de Olivarius, de 1542. Philippe­ Dieudonné­Noël Olivarius, ela nos conta em suas notas de rodapé (2), página 16, escreveu 919 previsões até 1982. Ela se orgulha de ter comprado esse único manuscrito que foi caçado “em todas as bibliotecas”. O próprio Papa maravilhou­se. Cinco livros são reproduzidos em L’ombre de Henri IV (pp. 18­28), com notas explicando o significado de “algumas velhas expressões francesas”. Lenormand na prisão Essa não foi a primeira vez que Mlle Lenormand falou sobre esse mago desconhecido. Ela já tinha publicado uma de suas previsões em 1820, no “Mémoires historiques et secrets…”. De acordo com ela, é Napoleão quem é mencionado na profecia de Olivárius para Marie­Anne em 1814. Mais livros foram publicados nos próximos livros: um em “Le petit homme rouge au château des Tulieries” (julho, 1831), outro em “Manifeste des dieux sur les affaires de France” (janeiro, 1832) e os livros 8 a 10 foram apresentados no último livro publicado por Mlle Lenormand, “Arrêt suprême des dieux de l’Olympe”, data em 28 de fevereiro de 1833. O ridículo “estilo literário antigo” dos textos de Olivarius é tão obviamente forjado que Alfred Marquiset dedicou um apêndice inteiro para revelar esse “attrape­nigaud” (charlatanismo, impostura). Ele não só mostra que não há qualquer verdade nas afirmações de Lenormand, mas que o logro foi desenvolvido por outros escritores. Henri Dujardin, L’oracle pour 1840 (Paris, 1839), diz que conhece três pessoas chamadas Olivarius, das quais, um deixou um livro, “Petri Joannis Olivarii Valentini de prophetia et spiritu profético liber”, publicado em Basel, em 1543, a ser encontrado na Biblioteca Real sob inventário número Z 985. Você se surpreenderia se ouvisse que essa referência é falsa? Um dos outros dois Olivarius foi Philipe­Dieudonné­Noël, cujo texto é, atualmente, apresentado como um livro publicado em 1544 e intitulado “Prévisions d’un solitaire”, e um terceiro escreveu o celebrado “Prophétie d’Orval” (outra profecia forjada que foi publicada pela primeira vez no Journal des villes et des campagnes de 20 de junho de 1839). Eugène Bareste deu mais crédito ao Olivarius em seu popular “Prophéties: La fin des temps, avec une notice”, do qual foram publicadas quatro edições, em 1840. Le petit homme rouge au château des Tuileries; La vérité à Holy­Rood; Prédictions etc ("O pequeno homem vermelho no castelo de Tuileries"; "A Verdade em Holy­Rood"; "Previsões” etc), publicados em julho de 1831, introduzem um novo profeta: o Petit Homme Rouge (O Pequeno Homem Vermelho). Em 1831, Marie­Anne Lenormand nos conta que uma velha e curvada mulher apareceu no castelo de Tuileries laçando maldições contra os Bourbons. Ela era a encarnação da República de 1793. O Petit Homme Rouge estava lá e replicou. Sua longa fala
  • 26. revelou que era o organizador de todos os eventos passados desde 1789. Por que Louis XVI perdeu o trono? Porque Blondinet (“loiro”), por entendermos ser esse seu nome, decidiu que o rei não mais poderia reinar. Quem protegeu Napoleão? O pequeno homem vermelho, é claro! Os leitores dos Oráculos Sibilinos de Mlle Lenormand repararam que o pequeno homem vermelho tinha sido mencionado na obra (p.340). De fato, Marie­Anne Lenormand não inventou o Petit Homme Rouge. Provavelmente, ela teve a ideia a partir de um curto folheto contra Napoleão, publicado em 1814 e intitulado “Le petit homme rouge”. As seis páginas descrevem a última assembleia de Napoleão encontrando­se nas Tuilleries e a chegada de um pequeno homem vermelho, um gênio aterrorizante, um ‘homem de fogo’, cujo contato queimava quem o tocava. Essa criatura infernal estava lá para levar Napoleão para o Inferno. O Petit Homme Rouge fez outra aparição algum tempo depois do livro de Mlle Lenormand. Messrs de Pixérécourt, Brazier e Carmouche escreveram uma peça com o mesmo nome: Le petit homme rouge, folie­féerie romantique em quatre actes et vaudevilles, imitée du genre anglais (Vaudeville de quatro atos loucos e extravagantes, em estilo inglês), apresentada no Théâtre de la Gaieté, em março de 1832. A música era de Alexandre Piccini. Aventuras foram publicadas, anonimamente, em 1843 sob o título Memoirs et prophéties du petit homme rouge, par une sybille [sic], depuis la Saint­Barthélemy jusqu’à la nuit des temps. Como veremos mais tarde, Paul Christian iria ressuscitá­lo num livro publicado em 1863: L’homme rouge des Tuileries. Novas revelações e previsões foram publicadas em 1832 com o Manifeste des dieux sur les affaires de France: apparition de S.A.R. la feue Mme la duchesse douairière d'Orléans (Marie­ Louise­Adélaïde de Bourbon­Pentièvre), descendante de Louis XIV à son fils Louis­Philippe Ier, roi des Français, Révélations (Manifesto dos deuses sobre os negócios franceses: aparição de S.A.R a última viúva de Orléans, descendente de Luis XIV, para seu filho Louis­Philippe I, Rei da França. Revelações), publicado em 21 de janeiro de 1832 por Mlle Lenormand, “editeur­libraire” e Dondey Duprey père et fils, que foram os tipógrafos de parceiros de Mlle Lenormand desde 1824. Embora amparados por mais páginas das profecias de Olivarius, essas recomendações foram publicadas em fevereiro de 1833 sob o título Arrêt suprême des dieux de l’Olympe em faveur de Mme la duchesse de Berry et de son filleul le duc d’Aumale d’Orleans (Henri Eugène­Philippe­ Louis).(Decreto supremo dos deuses do olimpo em afilhado, duque de Aumale­Orléans...) “Essa pequena brochura [ela nos avisa na contracapa da folha de rosto] foi anunciada para 19 de novembro de 1832. Amigos não oficiais me fizeram retirar a promessa de adiar essa publicação até 28 de fevereiro de 1833. “Já basta, disse um deles, que você foi capaz de prever o nascimento do Duque de Bordeaux, o nobre heroísmo de sua mãe”. É certo: Mme a Duquesa de Berry será resgatada de Blaye”. Marie­Caroline, Duquesa de Berry tentou incitar algumas províncias contra Louis­Philippe, em 1832; ela foi detida e presa em Blaye, perto de Bourdeaux. Porém, uma vez mais Mlle Lenormand não previu o fim burlesco dessa ventura fadada ao fracasso. Ela não soube que a duquesa estava, secretamente, grávida – não de seu marido legítimo, uma vez que o Duque de Berry tinha sido assassinado em 1820. Em 1833, alguns meses após o livro ser publicado, a Duquesa de Berry deu a luz a uma filha inesperada que escandalizou muitas pessoas e desacreditou a causa Legitimista por muitos anos. Poderia, muito bem, ter desacreditado Mlle Lenormand uma vez que esse seria o seu último livro. Todavia, muitos outros escritos estavam sendo preparados. Na lista onde registra seus trabalhos publicados, Marie­Anne Lenormand anuncia alguns novos livros por vir: “Les mystères de Blaye”, “Jeanne d’Arc au Louvre”, com o horóscopo da Duquesa de Berry, “La sibylle à Londres”, “Louise Wilhelmine de Prusse, ou les infortunes d’une grande reine”, com o qual já nos deparamos, “Anecdotes historiques, politiques, etc. sur la reine d’Angleterre” (Caroline­Amélie­Elisabeth de Brunswick); “Particularités secretes sur la princese Caroline d’Anglaterre, première épouse de S.A.R. le prince de Saxe­Cobourg”, o qual jamais nos consolaremos de ter perdido, e, por último o há muito esperado “Mémoires historiques, politiques, souvenirs, confessions, correspondances secretes de Mlle Lenormand”, cujos dez volumes, infelizmente nunca apareceram.
  • 27. O renome de Mlle Lenormand, embora, provavelmente, em declínio, ainda chamava a atenção de alguns leitores da sorte. Em 1838, uma Mlle Brunet distribuía panfletos onde se apresentava como discípula de Mlle Lenormand. Marie­Anne manifestou­se, imediatamente, na la Gazzete des Tribunaux, lembrando seus leitores que ela não tinha alunos. Então, foi um simples adepto que publicou, em 1842, Le rèvèlateur du destin ou Livre merveilleux des bramines, pour connaître le présent, le passé et l’avenir, par um apdete de Mlle Lenormand (“O revelador do destino, ou o Maravilhoso livro dos Brâmanes, de forma a saber o presente, passado e futuro, por um adepto de Mlle Lenormand"). Uma simples coleção de oráculos no catálogo da Bibliothèque Nationale atribuída a Aguste Martres O fim chegou em 25 de junho de 1843. Marie­Anne Lenormand faleceu em seu apartamento na rue de la Santé. Seu funeral, em 27 de junho, foi extraordinário. A igreja foi coberta com enfeites, o carro fúnebre foi puxado por quatro cavalos enfeitados e seguido por cem pessoas! Não restam dúvidas que essa cerimônia barroca foi cuidadosamente preparada. Foi um acontecimento importante no mundo da adivinhação: a terra tremeu e tudo saiu do lugar. A jogada de Mlle Lenormand reviveu o interesse em sua carreira e deu aos jornais boas razões para crônicas sarcásticas. Um longo artigo, por Jules Jain, apareceu no sério Journal des Débats (de julho de 1843), outro por Léo Lespès, no seu concorrente Le Constitutionnel (suplemente de 16 de julho). Le Charivari, Le Globe e, pelo menos, outros três publicaram artigos sobre sua vida. Antes de julho acabar, foram publicadas biografias que analisamos no começo do capítulo. A lenda se cristalizou e um exército de “alunos”, “adeptos” ou discípulos foram rápidos em se rivalizar. A sucessão de Mlle Lenormand O único herdeiro dos bens de Mlle Lenormand foi o seu sobrinho de 37 anos, Michel­Alexandre Hugo, um segundo tenente da infantaria, filho de sua irmã mais nova, Marthe­Sophie. Sua fortuna foi estimada em 500.000 francos, mas, na verdade, eram somente 120.000, dos quais perto de 80.000 foram deixados como heranças pessoais e mais em várias reivindicações concedidas pelo tribunal. Na edição de 16 de julho, o jornal parisiense Le Charivari publicou um pequeno artigo sobre a sucessão de Mlle Lenormand, concluindo que ela não tinha nenhum sucessor (a), porém um grande número de senhoras leitoras da sorte dividiriam a sucessão entre si. O artigo mostra espanto com o número de profissionais, então, atuando em Paris, que estabelecia em cerca de 50, que divulgavam seus serviços nos jornais e quem presumia serem todas mulheres. Ele escolhe três para descrever separadamente. A primeira, Mme Clément, descrevia os anúncios como “uma encantadora adivinha cuja jovem reputação se equiparava à de Mlle Lenormand”. Que ela alegava ter previsto o futuro de Marie­Louise, segunda Imperatriz de Napoleão e de sua própria queda, isso já sabemos; se assim fosse, ela não poderia ser tão jovem. Ela se especializou em previsões, por meio de cartas, de desastres grandes e pequenos, vestia manto preto e capuz vermelho e viveu, segundo o artigo, no andar térreo sob um notário. Infelizmente, não é dado o seu endereço, mas em 25 de julho, um mês depois da morte de Mlle Lenormand, Mme Clément reivindicou a sucessão instalando­se no mesmo apartamento térreo na rue de Tournon, 5, onde a famosa sibila fez suas consultas por muitos anos. Em seu livro, publicado alguns anos mais tarde, Mlle Lelièvre nos conta como o sobrinho de Mlle Lenormand, encontrando entre suas coisas, uma carta escrita a ela por Mlle Lelièvre, com bons comentários acerca do destinatário, escreveu para lhe oferecer uso do apartamento e seu conteúdo; ele ofereceu, também, convencer os clientes de sua tia a serem transferidos para ela, dizendo que seria a única capaz de ser sua sucessora. Mlle Lelièvre recusou, sabendo que precisava de mais estudos e consciente de que nem o apartamento de Mlle Lenormand, nem a sua mobília lhe concederiam o talento requisitado. De olho em Mme Clément, ela declara que consideraria isso puro charlatanismo. Evidentemente, o tenente Alexandre Hugo, então, descobriu Mme Clément e fez­lhe a mesma oferta, que foi prontamente aceita. As duas outras senhoras descritas pelo Charivari foram Mme Albin e Mme Melchior, ambas tendo a borra de café como seu oráculo de preferência. Mme Albin era especializada em consultas para previsão de casamentos, heranças e outros eventos felizes. Mlle Melchior era idosa e dedicava
  • 28. as manhãs às tarefas domésticas, deixando o fim da tarde para fazer encorajantes previsões por 20 sous a consulta, para sua pobre clientela. Antes de julho de 1843 terminar, a editora Lange­Lévy publicou La sibylle du XIXe siècle, de Flamel, já mencionado. Num prefácio, o editor, escrevendo sob o nome de A. Gallus, esclareceu que, após quarenta e oito horas da morte da sibila, ele recebeu um pequeno caixão de um remente anônimo. A carta que o acompanhava dizia que, alguns meses antes, Mlle Lenormand, de quem ele era um amigo próximo, confiou­lhe o caixão, instruindo­lhe a publicar as profecias manuscritas contida nele após sua morte. Gallus, revelando a crença de que o remetente era um dos executores testamentários de Mlle Lenormand, explica que publicaria essas grandes profecias de forma célere. Ele não pondera porque um executor procederia de forma tão clandestina, nem revela os passos que deu para verificar a autenticidade do manuscrito, mesmo pela comparação de caligrafia. Ao invés disso, ele convidou Hortensius Flamel, “o célebre autor de Le Livre rouge”, para escrever um comentário. A publicação, como um todo, traz os sinais de uma farsa. Flamel pode, possivelmente, ter feito, ele mesmo, as profecias; mais provavelmente ele pode ter sido colocado como um cúmplice. As profecias, duas por página, variam em precisão, uma vez que são muito vagas ou muito obscuras para se provarem erradas. Que o reino se tornaria um Império, pela segunda vez, se provou correto em poucos anos; que as pessoas viajariam pelo ar demorou mais ainda para se verificar. Que a Suíça seria invadida por todos os lados e deixaria de existir, em pouco tempo, foi um tiro fora do alvo; igualmente que a Cruz substituiria o Corão em Constantinopla. O breve comentário de Flamel é superficial e composto, em grande parte, por generalidades. “Certas pessoas possuem o poder de prever o futuro, e Mlle Lenormand o tinha em alto nível; suas previsões eram invariavelmente precisas”. Que comentário mais claro poderia ser feito sobre profecias já, totalmente, explícitas? Só o último parágrafo do comentário revela um motivo a mais para a publicação. “Quando ouvimos falar da morte de Mlle Lenormand, nos perguntamos se uma nova estrela brilharia nos céus proféticos para substituir a que acabara de perecer. Olhamos e um raio luminoso nos alcançou. Como Arquimedes, o que introduz as ciências ocultas, eu gritei, “Eureca”. Mme Clément é a nova perita que erguerá, para nós, os véus que cobrem o futuro”. É de se duvidar que Flamel tivesse o menor interesse no assunto, mas o editor estava, certamente, interessado em reforçar a alegação de Mme Clément à sucessão. O comentário de Flamel é seguido por uma biografia de Mlle Lenormand, anônima, que verificamos ter sido baseada na carta de Alboise de Pujol para o Le Tam­Tam, publicada um mês antes. A partir dela, ficamos sabendo que ela começava suas consultas perguntando para o consulente detalhes pessoais, incluindo sua data de nascimento, as iniciais de seu nome de batismo e local de nascimento, sua cor, animal e flor favoritos e o animal que mais detestava. Também tomamos ciência das variedades técnicas divinatórias das quais se valia. No meio da biografia, é colocada uma breve menção a Mme Clément: “Não nos esqueçamos de dizer que já nesse tempo, uma sibila igualmente famosa, uma estrela dos céus proféticos, proferia seus oráculos e leituras do futuro. Na Alemanha, Mme Clément previu o futuro de grandeza da Imperatriz Marie­Louise”. A repetição da frase sobre a nova estrela, sugere que Flamel teve alguma participação na composição da biografia, que termina com mais um elogio a Mme Clément: “A última sibila não está morta. Aqui está outra que surge, não menos ilustre, não menos formidável: é a pitonisa de Delfos, é Mme Clément. Seu tripé está erguido, seu livro do destino, aberto; suas cartas, prontas. A ela pertence o reino do futuro.” “Nunca vimos Mme Clément”, continua o autor, “mas ouvimos muito a seu respeito; e o que ouvimos foi tão extraordinário que seria preciso um volume inteiro para contar… É na caverna da sibila falecida, na mesma casa onde Mlle Lenormand viveu que a profetisa do momento faz suas maravilhosas previsões. O passado é de Mlle Lenormand”, conclui seu biógrafo, “o futuro pertence a essa estrela profética, Mme Clément. Assim com as sibilas, como com os reis: a sibila morreu, vida longa à sibila”. Os louvores extravagantes de Mme Clément podem sugerir algum grau de conluio entre o tenente Hugo e os autores dessa ilegítima obra pós­morte, uma vez que o sucesso de Mme
  • 29. Clément seria importante para Hugo como beneficiário do aluguel. A suspeita pode ser equivocada; e a motivação para a vasta promoção de Mme Clément permanece obscura. Pouco depois, no mesmo ano, foi publicada a biografia de Mlle Lenormand por Francis Girault plagiada de várias fontes. Girault publicou como apêndice algumas ligações com Alexandre Hugo. Primeiro, uma carta datada de 22 de julho de Hugo para os editores, Breteau e Pichery, referindo­se ao livro de Flamel, denunciando as profecias com os mais fortes termos como “falaciosas” – um julgamento com o qual Du Bois, posteriormente, concordou – e acusando Breteau e Pichery de publicá­las. Os editores acusados, evidentemente, não viram razão para resposta, mas Girault respondeu, entregando o manuscrito de sua biografia a Hugo, na rue de Tournon, 5, negando qualquer responsabilidade pelo livro de Flamel da sua parte ou de Messrs Breatrau e Pichery. Em sua resposta de 29 de julho, Hugo se desculpou por sua falsa acusação e aceitou a obra de Girault como a biografia oficial de sua tia. Mlle. Lenormand na leitura das cartas Mlle. Lenormand não preparou sucessoras Ilustração e legenda adicionada pelo editor do site Clube do Tarô A esperança de Mme Clément em se tornar tão famosa quanto Mlle Lenormand foi frustrada e se Lange­Lévy esperava que ela publicasse, com eles, algum livro que escrevera, frustraram­se também, por ela tê­los publicado por sua conta. Em 1844 ela produziu um livreto de 64 páginas, Le Corbeau sanglant, ou l’Avenir dévoilé (“O Corvo Sangrento, ou o Futuro Revelado”). O título se refere, explica Mme Clément, à técnica divinatória romana de examinar as entranhas de um corvo. A capa traz o endereço da autora, como própria editora, e como “a casa ocupada por Mlle Lenormand, rue de Tournon, 5”. O frontispício é uma gravura litografada de Mme Clément, uma bela senhora usando um cocar de aparência Asteca, do qual seu cabelo cai em cachos. O método divinatório que explica segue diretamente a tradição de Etteilla, as cartas que usava sendo as do jeu égyptien ou de Thot (o tarô de Etteilla numerado de 1 ao Louco, com 78 cartas). Ela afirma ser clara ao explicar seu sistema, mas não consegue. A tiragem é simples: as treze primeiras cartas são viradas e lidas, então dezenove e, finalmente, vinte e uma. As cartas lidas, são, a cada momento, devolvidas ao maço que é reembaralhado antes de ser tirado o próximo conjunto de cartas. É dada uma lista se significados das 78 cartas, baseada em Etteilla, porém, sem qualquer referência à sua posição invertida. Embora o instrumento seja o baralho de Etteilla, o coração de Mme Clément está na astrologia. As cartas numeradas do naipe de ouros são
  • 30. identificadas com símbolos “cabalísticos” dos planetas, a cabeça e cauda do dragão e a parte da fortuna, aos quais são associadas 12 previsões de acordo com as 12 “casas” (signos) zodiacais em que estiverem. Mme Clément, volta, na segunda parte do livro, ao que acredita ser mais interessante para o público, um horóscopo para homens e mulheres de acordo com o mês que nasceram, seguido de uma descrição de vários temperamentos (fleumático, sanguíneo etc) e de como ler a personalidade pelas características físicas. Certamente não há, aqui, uma grande sibila: somente uma praticante inexperiente. Em 1852, Mme Clément publicou outro livreto, Le Flambeau de l’avenir (“A Tocha do futuro”), do mesmo tamanho, ainda da rue de Tournon, 5, denominado “a antiga livraria de Mlle Lenormand”. Abaixo do nome da autora está inscrito algo meio patético: “a sucessora de Mlle Lenormand”. A mesma gravura de Mme Clément meio borrada, forma o frontispício. É interessante ressaltar que Mme Clément usa, repetidamente, o termo de Etteilla “cartomancia” e, embora o livro seja supostamente sobre a técnica de “cartomancia”, não há virtualmente nada nele sobre o uso de cartas. Tal inconsequência só leva à suspeita de que a pobre senhora não está em seu juízo perfeito. Sob o “sistema” principal ela diz que se deve, primeiro, perguntar ao consulente para que se conheçam detalhes pessoais do mesmo como o que gosta e o que não gosta (a prática atribuída à Mlle Lenormand). Ela passa, imediatamente para o segundo “sistema”, que não é sistema nenhum além de um discurso confuso sobre a astrologia e as virtudes cardinais, aludindo às obras do “grande Thot”. Ela termina com citações históricas de previsões acertadas. Em 1847 havia um livro interessante publicado, fora do meio literário cartomântico: Justifications des sciences divinatoires (“Justificativas das ciências divinatórias”) por Mlle A. Lelièvre. O catálogo da Bibliothèque Nacionale apresenta o nome do autor como um pseudônimo de Marc­ François Guillois, mas essa atribuição é, praticamente, um absurdo. Pseudônimos ou supostos pseudônimos são, para bibliotecários, como atribuições de obras de arte a artistas individuais são para historiadores da arte: eles os investigam religiosamente, mas, quando não há evidências sólidas, eles irão se valer do mais inconsistente fundamento para uma identificação. Guillois foi o autor de textos políticos publicados em 1795, 1797, 1801, 1816 e 1831; não há motivos para que se suspeite dele como autor de obras sobre artes divinatórias em 1847. Além disso, não é apenas uma questão de pseudônimo. O livro de Mlle Lelièvre é dedicado à condessa Marie d’Adhémard com expressões da mais profunda gratidão por sua ajuda e amizade, contendo um amplo conteúdo autobiográfico, dando nomes a várias pessoas como Monsieur Saint­Prix, que, em 1830 tomou­a como aluna no Théâtre­Français e tratou­a como uma filha (p.49). O livro seria completamente inútil se tudo isso fosse fictício, mas o endereço da autora está impresso na capa, de forma que seria fácil identificar qualquer farsa. Não há motivo para não aceitar Mlle Lelièvre, como um escritor posteriormente o fez, como uma sibila genuína escrevendo sob seu próprio nome. A maior preocupação do livro é recontar como Mlle Lelièvre veio, em 1840, a adotar a profissão de leitora da sorte. Embora Mme Clément em momento algum seja mencionada, denegrir suas alegações de ser a sucessora de Mlle Lenormand é, claramente, algo secundário. A autora conta (p.66) como uma amiga sua pede à Mlle Lenormand para tomar Mlle Lelièvre como sua pupila, mas Mlle Lenormand responde dizendo que não tem alunos. Entretanto, ela permite que Mlle Lelièvre tire as cartas em sua presença. Numa nota de rodapé, Mlle Lelièvre diz, “Tenho diante de mim uma carta tirada por uma certa senhora” – certamente, Mme Clément – “afirmando ser ela a única discípula de Mlle Lenormand. Ela é, meramente, a única a ter reivindicado o título com o intuito de enganar as pessoas. Essa senhora não é mais discípula de Lenormand que eu e, talvez, menos”. Já foi dito como, após a morte de Mlle Lenormand, seu sobrinho ofereceu o apartamento de sua tia à Mlle Lelièvre e ela rejeitou a proposta. O livro foi reeditado no ano seguinte com um novo título Prophéties de la nouvelle sibylle. Não é apropriado, uma vez que o livro não contém profecias, mas é obviamente feito para conter a alegação implícita de ser a verdadeira sucessora de Mlle Lenormand; ela descreve, ingenuamente, como sonhou que Mlle Lenormand lhe disse “Você me substituirá e seu nome fará o meu ser esquecido”. Mlle Lelièvre praticava quiromancia e cartomancia, a última tanto com baralho comum, como com
  • 31. os tarôs egípcios de Etteilla. Seu livro não contém nenhuma instrução para essas artes, depois de uma longa seção autobiográfica, ele consiste em uma série de casos falando sobre previsões bem­sucedidas, efetuadas por várias técnicas divinatórias. A seção de cartomancia repete as fantasias contidas no livro de Frédéric de la Grange, Le grand livre du destin que foi publicado dois anos antes sobre a história da arte. Marie Ambruget e Fiasson aparecem na obra, como na obra de la Grange. Sua história sobre o Duque de Orleans, Mariette e Brivazac, é atribuída a “memórias secretas”. Mlle Lenormand, estamos seguros disso, tinha o livro de Thot sempre sob seus olhos; nesse caso, Mlle Lelièvre a imita. De acordo com Éloïse Mozzani, Mlle Lelièvre morreu em 1849. É muito difícil dizer que tanto ela quanto Mme Clément provaram ser a real sucessora de Mlle Lenormand. Outas cartomantes fizeram similares alegações com fundamentos menos consistentes. Mme Lacombe, que morreu em 1846, trabalhava no número 1 da rue Boucher, estabeleceu­se ocupando o lugar de Mlle Lenormand, enquanto em 1848, Mme Morel divulgava­se numa publicidade impressa como “amiga íntima e discípula de Mlle Lenormand”, o que nunca foi. Entretanto, não nos surpreende que em 1854, Mme Eugénie Bonnejoy Pérignon revelou a escolha de Mlle Lenormand de um sucessor, concedido após sua morte, e que deveria ser provado que não seria nenhuma das senhoras que se afirmavam como tal, mas um homem. Ele era Edmond; porém sua história está reservada para o próximo capítulo. Mlle Lenormand era, realmente, uma “cartomante”? Marie­Anne Lenormand constantemente se denominava sibila ou “profetisa” (pythonisse) e costumava sustentar seus livros em suas visões e profecias. Quando se permitia falar sobre suas técnicas divinatórias ela evocava um impressionante catálogo de instrumentos mágicos: o espelho flamejante de Luca Gaurico, as trinta e três varas gregas, a “cabale de 99 de Zoroastre”, alguns grimórios, uma varinha divinatória, seus preciosos talismãs, o aço électre, as chaves de Salomão, o anel cigano, a(s) flecha(s) de Abaris, uma lupa mágica etc. As cartas não foram esquecidas, mas não foram, obviamente, colocadas em primeiro lugar. Tarô, sempre escrito como tharots, não é frequentemente mencionado. Quando elas o usam, é como os outros instrumentos, de forma confusa e nebulosa, geralmente, qualificada como “misterioso”, “mágico” etc., o que lhe permite manter tudo muito vago. Entretanto, vários relatos – registros policiais e publicações literárias – revelam que ela usava tarôs e cartas comuns como todos os “tireuses de cartes”. Os documentos que foram usados para acusá­la em Bruxelas, em 1821, e que ela obsequiosamente reproduz no final do seu Souvenirs de la Belgique, dizem todos que ela recebia seus clientes com cartas comuns e tharots, dependendo do que pudessem pagar. Cartas de jogar usuais no século 19 na Europa
  • 32. Exemplo de cartas de jogar na Europa, durante o século 19, utilizáveis por Mlle. Lenormand. Ilustração das cartas e legendas adicionadas pelo site Clube do Tarô. No seu L’hermite de la chaussée d’Antin (Paris, 1813), Victor Étienner Jouy explica como ela operava: “passado, presente e futuro serão expostos juntos sob seus olhos graças a um simples baralho. Entretanto, devo dizer que essas cartas são muito maiores que as outras, decoradas com hieróglifos tarotées em forme d’hiéroglyphes]. A feiticeira as embaralha, meditando de forma edificante, e as combina através das habilidosas combinações de Etteilla”. Outro relato inesperado é dado pelo Barão Karl August von Malchus (1770­1840). Embora sendo um economista e estar longe de acreditar em leitura da sorte, Malchus consultou Marie­Anne Lenormand entre 1810 e 1814. Se suas memórias, que foram publicadas pela primeira vez no Die Geheimwissenschaften de Carl Kieserwetter (Leipzig, 1895) não foram forjadas, temos aqui uma ótima descrição do ritual da sibila. Malchus confirma que ela começa com perguntas para extrair detalhes pessoais do consulente e, então, começa a jogar as cartas. Por estar familiarizado com diferentes padrões de cartas como eram usadas nos países de língua alemã, Karl August von Malchus ficou impressionado com o número de cartas usados por Mlle Lenormand e oferece uma descrição detalhada delas. Tarokkarten, alle deutsche Karten [“cartas normais alemãs” antigas, por exemplo, com naipes alemães], Whistkarten [significando, provavelmente, cartas francesas modernas], Karten mit Himmels­körperen bezeichnet [“cartas com corpos celestes”], mit nekromantischen Figuren etc. A sibila insistia em que se cortasse com a mão esquerda e, surpreendentemente, misturava cartas de baralho diferentes! Por exemplo, 25 cartas de um baralho de tarô, 6 de outro, 10 de um terceiro. “Ela separava as cartas escolhidas e as dispunha na mesa de acordo com uma ordem específica; todas as cartas de cima eram colocadas ao lado”. Ela continuava com a leitura de mãos.
  • 33. Pode causar surpresa o relato de “corpos celestes” e “figuras necromânticas”, por ser algo parecido com o que observamos no “Grand jeu de Mlle Lenormand”. Como Malchus morreu em 1840, não pode ter visto o “Grand jeu” que só foi publicado em 1845. Porém, muitos tipos de cartas divinatórias foram publicadas, somente em 1845 e muitos tipos de cartas divinatórias foram produzidas desde o começo do século XIX. A maioria continha alegorias emprestadas do Grand Etteilla. Um baralho chamado “Petit Necromancien” foi produzido por Robert em cerca de 1810. Podemos considerar Lenormand uma seguidora de Etteilla? A reposta é não. Não só o seu método é simples e vago, como seu uso constante de um baralho de 32 cartas indica que ela não seguia Etteilla. Suas alusões ao tarô são tardias (nenhuma antes de 1817), sendo esquivas e nada claras. Vimos que ela não usava o Grand Etteilla uma vez que as três cartas que cita em “Les Oracle Sibyllins”, em 1817, não apresentam nomes típicos que Etteilla lhes atribuía, mas sim os que são atribuídos ao tarô de Marselha. Outro fato notório é Mlle Lenormand nunca menciona Etteilla em nenhum de seus livros! Contudo, alude a Moult, Nostradamus, Cagliostro, a quem dedica longas notas, Nicolas Flamel, o Conde de Saint­Germain e Mesmer, sem falar de pessoas “mais sérias” como Lavater ou Gaal. Não há uma só palavra sobre Etteilla ou seus discípulos, nenhuma alusão às suas teorias. Court de Gebelin também não é mencionado. Entre as 248 notas de seu Souvenirs prophétiques (1814), ela tem uma nota sobre Hermes a quem lista com outros “cabalistas” [!] na página 268. Sua nota nº238 (pp. 582­3) dá, simplesmente, uma breve apresentação de numerologia, porém é referida como “Science des Signes”. Provavelmente, o que se pretende aqui é o opus magnum de D’Odoucet, mas é impossível de se verificar se a citação pertence a algum dos três volumes. Há uma enigmática alusão ao Livro de Thot em Les oracles sibyllins (p.176): Mlle Lenormand diz que ela segue par les dix­neuf points du livre de Thot (“pelos dezenove pontos do Livro de Thot”) para a qual não dá qualquer explicação. E, vimos que V.­E. Jouy, descrevendo negativamente suas atuações negativamente, alude às “habilidosas combinações de Etteilla”. Mas isso é, provavelmente, alguma confusão feita pelo escritor. O nome de Mlle Lenormand também está ligado a um baralho cartomântico especialmente projetado, o Grand Jeu de Mlle Lenormand, ainda editado pela Grimaud, a principal produtora de cartas. Baseado num baralho de 52 cartas, ele inclui duas cartas extras representando um homem e uma mulher, significadores dos consulentes. Como Prof. Detlef Hoffmann observou, as cartas não seguem nenhum sistema identificável, sendo assim, “um dos complicados baralhos divinatórios”. Cada uma das 52 cartas mostra uma cena central (“grand sujet”) cercado por símbolos diferentes. No canto superior esquerdo, há uma miniatura de uma carta normal, no canto direito superior, uma letra aparece com um tema geomântico abaixo; entre eles há uma constelação celeste. Na parte esquerda inferior duas figuras são separadas por uma flor. O Grand Jeu Lenormand
  • 34. Cartas do "Grand Jeu", mais um jogo associado à cartomante Lenormand Ilustração e legenda adicionadas pelo site Clube do Tarô. Esse baralho de cartas “astro­mitológico­herméticas” apareceu pela primeira vez, dois anos depois da morte de Lenormand. Era vendido com uma coleção de 5 livros sob o título genérico de Grand jeu de sociètè et pratiques secretes de Mlle Lenormand (“O grande jogo da sociedade e práticas secretas de Mlle Lenormand”), por Mme la comtesse de.... O editor dá seu endereço – mas não o seu nome – como 46 rue Vivienne. O primeiro volume, Explication et application des cartes astro­mythol­hermétiques, avec de nombreux exercices sur les fleurs, les animaux et d’um double dictionnaire de fleurs emblématiques, é uma explicação das cartas com muitos exercícios de flores, animais, cores e talismãs, junto com um tratado de geomancia e um dicionário de flores emblemáticas. Sua capa promete “um baralho de 54 cartas coloridas”. Uma publicidade colocada no fim do terceiro volume diz que as cartas foram impressas em litografia colorida por Engelmann e Graf, a célebre companhia que introduziu a litografia na França e foi pioneira na sua aplicação com cores, da qual esse livro está entre seus primeiros exemplares. A coleção continua com a parte 2: Astrologie ancienne et moderne contenant toutes les tables nécessaires pour dresser toutes sortes de thème, en quel lieu et pour quel que ce soit; suivi d’um traté des nombres cabalistiques (“Astrologia antiga e moderna contendo todas as tabelas necessárias para desenhar todos os tipos de mapas em qualquer lugar, para qualquer um, seguida de um tratado sobre números cabalísticos”). Parte 3: Traité complet de chiromancie ancienne et moderne; suivi d’um petit traité de physiognomonie et craniologie, d’aprés Lavater et Gall (“Tratado completo de quiramancia antiga e moderna; seguido por um pequeno tratado sob fisiognomonia e craniologia, segundo Lavater e Gall”), publicado atualmente “au dépôt du Grand jeu de société”. Parte 4: Le jeu de la fortune, ou response des dieux, déesses, demi­dieux et héros de l’antiquité aux questions qui leur sont adressées sur les destinées humaines (“O jogo da sorte ou resposta dos deuses, deusas, semideuses e heróis da antiguidade para questões às quais são perguntados sobre destinos humanos”). Parte 5: Les oracles de douze sibylles, ou solutions par les nombres aux questions proposées (“Oráculos das doze sibilas, ou soluções para perguntas propostas por números”), todos publicados em 1845. Essa “obra imensa”, “bem escrita e arranjada”, é, supostamente para ser colecionada pela “femme d’esprit”, de quem o nome deve permanecer oculto. As explicações das cartas são vagas reminiscências do Petit Etteilla, mas atribuem vários significados para diferentes assuntos. Em qualquer caso, eles não correspondem à menor alusão encontrada nos escritos de Mlle Lenormand. Além disso, é claro que ela usava um baralho de 32 cartas. Os volumes seguintes trazem indícios óbvios de uma obra apócrifa: nem seu estilo nem sua terminologia tem qualquer relação com qualquer tema de Mlle Lenormand. O volume 1 foi reeditado por Breteau em 1865. Era vendido com a nova edição das cartas “astro­mitológicas­heméticas”, impressas em litografia de crayon por Bertatus e coloridas à mão. O Grand jeu de Mlle Lenormand fez surgir uma cópia adiantada: por volta de 1850 a editora de J. F. Aug. Reiff publicou um baralho de 55 cartas cujos títulos das cartas têm a marca Wahsage­ Karten der berühmten Mlle Lenormand (“Cartas divinatórias de Mlle Lenormand”). As cartas são arranjadas de forma diferente: a cena central está na parte inferior da carta e figuras pequenas aparecem no centro. As constelações foram omitidas. Baralhos mais recentes surgiram por volta de 1850 sob o nome de “Petit Lenormand”. Sua composição de 36 cartas aponta para países germânicos ao invés da França, onde tal composição não era usual desde o século XVII; sua iconografia simples não tem nada a ver com o “Grand jeu de Mlle Lenormand” nem com os métodos de leitura de cartas próprios de Mlle Lenormand. As miniaturas de cartas que, por vezes, substituem as marcas francesas na parte central superiora, mostram padrões de naipes típicos da Alemanha e França. Cada carte tem
  • 35. somente um símbolo: um anel, um navio, um coração etc. Fabricantes de carta alemães, austríacos e, até mesmo, belgas e suíços fabricavam e ainda fabricam esses “Petit Lenormands”. Incrivelmente, esse tipo de cartas nunca foi produzido na França. Jogo de Kaspar Cartas do "Jogo da Esperança" de J. Kaspar Hechtel, impressas em Nuremberg, no final do séc. XVII. Todas as ilustrações do posterior "Petit Lenormand" já estão presentes neste jogo: o Cavaleiro, o Navio, a Casa, o Urso, o Anel, etc. Veja mais detalhes em O Jogo da Esperança, um jogo que virou oráculo Ilustração e legenda adicionadas pelo site Clube do Tarô. Fonte : www.lenormand­museum.de. Detlef Hoffman mostrou que seu protótipo pode ter, claramente, vindo de um lindo baralho de cartas peculiares chamado Das Spiel der Hofnung ­ Le jeu de l’esperance (“O jogo da esperança”), publicado por volta de 1800 por G.P.J. Bieling de Nuremberg. Surpreendentemente, ele não é um baralho divinatório, mas um jogo de tabuleiro! O folheto que o acompanha [Das Spiel der Hofnung (sic), mit einer neuen Figurenkarten von 36 illum. Blättern. Zwite verbesserte Auflage], ex. O jogo da esperança, com novas cartas ilustradas (feitas) de 36 iluminuras. A segunda edição, ampliada, descreve as regras: as cartas devem ser arranjadas para formar um quadrado de 36x36 em ordem numérica. Dois dados são usados e cada jogador move seu peão de acordo com os dados até a trigésima sexta carta. Como nos jogos de tabuleiro, há casas que de sorte e azar. Todavia, nas últimas linhas do texto dizem que “com as mesmas cartas pode­se fazer um divertido jogo de adivinhação”. É um sistema simples de pergunta/resposta usando somente 32 cartas dispostas em 8 fileiras de 4 cartas. As cartas são gravadas e belamente coloridas à mão. Cada uma possui duas cartas em miniatura: uma de naipes alemães conhecidos como “padrão Ansbach” e o a outra do assim chamado “padrão bávaro­parisiense” (naipes franceses). Os símbolos e números são os mesmos nos baralhos posteriores. * * * No final, a carreira de Mlle Lenormand provou ser muito bem­sucedida. Seu moderno senso de publicidade e seu uso da mídia do momento – livros circunstanciais, artigos da imprensa, mesmo os adversos, sem falar da grandiosidade de seu funeral – concederam­lhe fama universal. A única coisa que lhe interessava era deixar seu nome para posteridade. Nenhuma teoria ou mensagem. Ela não criou ou inspirou a criação de qualquer baralho de cartas divinatórias. Escreveu muitos livros, porém, todos focados em suas visões e encontros históricos. Ela mal sabia o que era o tarô e nunca mencionou Court de Gebelin, Etteilla ou seus seguidores. Mas os
  • 36. anos não eclipsaram seu nome: ela permanece a maior cartomante de todos os tempos. Contato com o tradutor: Alexsander Lepletier: www.lenormando.blogspot.com Informações retiradas do website: http://www.clubedotaro.com.br/
  • 37. Os Naipes Os Naipes ajudam a complementar sua leitura, então é importante, utilizá-los, nesse tópico, estaremos abordando o significado e as palavras chaves de cada Naipe, é importante que o Oraculista, esteja sempre pesquisando e estudando sobre os naipes, afim de estar aumentando seu vocabulário e palavras chaves, trazendo consigo, mais informações para trazer ao seu consulente, uma tiragem mais precisa. Paus: Fogo - Criatividade, agir, espiritual, energia, força, Animo, inspiração, Pai (gerador) Espadas: Ar - Racional, teórico, pensador, inteligente (teórico), poder da fala, maturidade, equilíbrio - Principio masculino e feminino Ouros : Terra - TUDO que for material, realização, esforço, estudo, inteligência e prática. Copas: água - Tudo ligado a sentimentos, criação artística, amores e afetos, prazeres e paixões, sentimentos profundo, mistico, sensibilidade A corte Toda a corte ligada ao rei é sinal de Poder, ação, iniciativa Rei de espadas - intelecto e justiça, comunicação, visualização e planejamento Rei paus - coragem, empreendedor, ação dinâmica Rei de ouros - determinação, materialização de tudo que deseja
  • 38. Rei de copas - Autoritarismo, responsabilidade, generosidade, carisma e magnetismo Rainha - está sempre ligado ao lado feminino/emoções e sentimento Rainha de espadas - Mulher de ação, racional, poderosa, desapegada e libertadora Rainha de paus- Praticidade, inteligência e reservada, assertiva e intensa, firme de muitas vezes dura demais, verdades ditas de maneiras duras e que precisam ser aceitas, sem desculpas. Rainha de copas - Proteção/acolhimento, sentimentalista e intuitiva, compaixão, perdão Rainha de ouros - afetiva porém muito prática e pés firmes no chão, Autoritária, independente, materialista Valete está sempre ligada a jovialidade, liberdade, coragem, independência Valete de espadas - falta de experiencia mas sabe se comunicar muito bem, tem bom jogo de cintura, sabe usar as palavras Valete de Paus- Coragem, impulsivo, firme em suas escolhas, extremamente determinado Valete de copas- Conciliados, idealista, sem compromissos, liberto a fazer o que gosta, sem amarras. Valete de ouros - Negócios, empreendimentos, quer ter sua própria independência, sem amarras Naipes (Obs: Lenormand exclui 2/3/4 e 5) Espadas
  • 39. ÁS- Desenvolvimento progressivo, inteligência, coragem, precisão e clareza 6- ligado a atividades mentais, empreendimentos, ideias que renovem o seu mental, indecisões, falta de iniciativa (ter iniciativa) 7- entendimento, altruísmo, "jogo de cintura", coragem 8- evolução interior, olhar para dentro de si 9- Se livrar de amarras, apego, falso julgamento, angustias 10- Equilíbrio e harmonia de seus sentimentos, infortúnios, dificuldades (não permanente, mas ciclo lento) Paus ÁS- energia material, a fim de realizações - Criatividade, virilidade, dinheiro 6- Disciplinar instintos e impulsos - agir com cuidado 7- Sucesso através de seus atos, autoconfiança, determinação 8- preguiça, nova fase, novo ciclo, boa energia porem precisa vencer seu abatimento e passividade mental. 9- Saber o momento de tomar suas decisões, astucia, flexibilidade, saber vencer seus obstáculos 10- força de vontade, saber defender tudo aquilo que você conquistou, descontrole, opressão, disfarce, alto controle.
  • 40. Ouros ÁS- Saber expressar tudo aquilo que você quer de maneira espontânea, equilíbrio, exito, felicidade, vitalidade, cuidado com o orgulho e ego 6- equilíbrio interior, compartilhar, generosidade, bondade, saber dar sem receber nada em troca, e/ou ser grato por tudo que recebeu. 7- equilíbrio interior a fim de harmonizar-se e tornar-se alguém melhor, sabedoria, se abrir, saber tomar decisões. 8- portas se abriram, a fim de ter o inicio de um novo ciclo (em todos os sentidos seja negativo ou positivo), saber os seus caminhos 9- Se renovar, autossuficiência, sucessos 10- Se especializar, esforço intelectual - pois isso ajuda o nosso desenvolvimento em todos os sentidos- sábio experiente Copas
  • 41. ÁS- Realização, saber olhar intimamente seu interior, alegria 6- meditar sobre o que está lhe ocorrendo, tomar medidas, não olhar para trás. 7- força, hora de criar suas raízes, colha seus frutos, saber que o que você cultivou pode ser repassado 8- abandonar sua passividade focar no emocional, saber olhar interiormente, aceitar que certas coisas precisam ser mudadas, apego 9- Você em harmonia com o mundo, novos horizontes se abrindo, concretização de projetos e sonhos 10- Ser fiel a si mesmo, relações (em todos os sentido) feliz e harmonioso.
  • 42. Significado das cartas e suas palavras chaves É muito importante que o oraculista entenda o significado de cada carta, de seus símbolos, e esteja sempre ampliando suas palavras chaves (que podem variar de acordo com a escola aprendida de cada tutor), as palavras chaves e significados aqui atribuídos, foram descritos pelas minhas guias espirituais, Pomba Gira Rainha Cigana da estrada e Cigana Esmeralda. 1- O Cavaleiro - noticias a caminho, qualquer tipo de noticia, esta chegando em um período rápido de tempo. Palavras Chave : Desenvolvimento Positivo, Progresso, acontecimento rápido
  • 43. 2 - Trevo - Boa sorte em todos os sentidos. Você pode apostar naquilo que você quer executar, seja o que for. Palavras Chave: Alegria, Boa sorte, alegria de viver 3 - Navio - Chegada de viagem, chegada de qualquer coisa em um espaço longo de tempo, e isso também poderá ser uma coisa demorada, mas que chegará ao seu destino. Palavras Chave: Viagem, Negócios (internacional ou fora da sua cidade), esperança