Lucas sofre um acidente e entra em coma. Seus pais aguardam notícias ansiosos no hospital. Sebastião, pai de Lucas, é um homem descrente que discute com sua esposa Lúcia sobre a fé. O médico informa que Lucas pode não resistir e só Deus pode salvá-lo, aumentando a raiva de Sebastião. À noite, ele sai desesperado e conhece um homem cego que conta como Deus o salvou, tentando confortar Sebastião.
4. A vida é cheia de mistérios que intrigam nossas
mentes curiosas. Dentre as tantas dúvidas o fato de
como tudo pode acontecer tão rápido, tão de repente.
Estamos bem e em um segundo já não estamos mais.
São coisas da vida.
5. Lucas sofreu um forte impacto, que o jogou ao longe,
causando além de um enorme susto naqueles que a tudo
assistiram, o seu estado de coma. Entre os médicos a
incógnita: sobreviveria?
Os pais e a tia do garoto aguardavam em uma sala especial
do hospital notícias da tão querida criança, seus corações
aflitos temiam que o pior viesse acontecer. Abraçada a uma
bíblia, Lúcia se sentara em uma das poltronas enquanto
chorava angustiadamente e, de olhos fechados, elevava os
seus pensamentos Àquele em quem confiava.
6. — Não perca o seu tempo com orações à coisas criadas pelo imaginário do povo –
Sebastião estava revoltado com o que acontecera, nunca imaginou passar por um
momento tão difícil em sua vida.
— Não são simples coisas, é o Deus que para tudo tem solução – Lúcia não hesitou
em defender a sua fé.
— Acredita mesmo nesses contos de fada? – o magnata tomou o Livro Sagrado das
mãos da esposa, lançando-o grosseiramente ao chão -. Tudo o que existe aqui
qualquer escritor poderia inventar, tudo não passa de ilusão! Como pode uma mulher
como você acreditar em contos?
— Se fossem simples contos não poderia balançar o coração dos que os lêem, não
fariam sentido na história humana! Se não passassem de contos não sobreviveriam há
anos sem sofrer desgaste, sem cair no esquecimento – pegando o livro do chão a
mulher concluiu: — Se não passasse de mentiras esse não seria o livro mais influente
em todo o mundo, não traria nele o caminho para uma vida plena e feliz!
— Tão plena e feliz que hoje a colocou em sua situação sem igual – Adelaide, irmã
do descrente homem, se manifestou -. Também acreditei nesse tal Deus, dediquei a
minha vida em agradá-Lo desde que tomei conhecimento da sua hipotética
existência. Ele tirou de mim as coisas que eu amava, isto é, se realmente existe! Por
isso não tenha tanta fé da forma como mostra, não se cegue dessa maneira, se esse
Deus existe Ele é ruim, Ele é terrível! Você corre grandes riscos de perder alguém
que tanto ama, suas orações não são remédio para ninguém!
7. Lúcia nada respondeu, seria
inútil continuar aquela
discussão em uma hora tão
doída, apenas não deixou
que as dúvidas a cercassem,
sabia que pela fé os antigos
alcançaram testemunho, que
também pela fé muitos
experimentaram escárnios,
açoites e até cadeias e
prisões.
8. Em dado momento o médico responsável pela situação do menino
Lucas foi até a família, em seu rosto o aspecto não era bom.
— O garoto ainda está em coma, a hemorragia foi crucial na sua
fragilidade e não sabemos ainda quanto tempo ele pode resistir.
Descontrolado, Sebastião segurou o médico pelos braços e fez sua
súplica:
— Eu pago quanto for preciso, mas salve o meu filho, faça-o
acordar!
— Não há nada que eu possa fazer, não mais – afastando-se
daquele homem o médico terminou: — Só Deus pode salvá-lo.
9. — Deus não pode nada! – o magnata levantou a voz em um surto de raiva — Se
pudesse, se realmente existisse e se preocupasse conosco teria, de alguma forma,
evitado tudo isso. Teria evitado que meu sobrinho e cunhado se fossem. Teria
evitado muita coisa ruim em nossas vidas.
— Há tempo para todo o propósito debaixo do céu: há tempo de nascer, e tempo de
morrer – sem mais dizer palavra alguma o médico encerrou a discussão, precisava
continuar o seu trabalho.
— Diga ao seu amigo imaginário que eu o odeio – dizendo aquelas palavras com
frieza para a esposa Sebastião saiu dali, sem rumo, sem direção, sem saber o que
fazer.
10. Já era noite, as estrelas mostravam o seu espetáculo e a lua irradiava o seu brilho.
Aflito, angustiado, Sebastião saiu pelas ruas da capital do Rio de Janeiro sem saber a
quem recorrer, naquela hora ele percebeu que a sua capacidade sempre fora ilimitada, e
não infinita como pensava.
Os primeiros passos, os primeiros tombos, os primeiros sorrisos, as primeiras
gargalhadas, as primeiras palavras, as primeiras travessuras, tudo passou pela mente do
empresário como flashes da infância do seu amado filho, que crescera, vinha dando
cada vez mais motivos para orgulho, se destacava pela beleza e educação e tinha como
sonho mudar o mundo através das histórias que escrevia, mas para o entristecido
homem tudo tinha o seu fim decretado.
11. Sentado em um banco da cidade maravilhosa o magnata deixou que as sentidas
lágrimas caíssem de seus olhos enquanto uma tribulação o sufocava: perder o
filho seria como perder a vida. Logo um senhor surgiu, sentando-se ao lado de
Sebastião perguntou:
— Incomodo?
— Fique a vontade – o empresário tentou disfarçar a voz de choro.
— Gosta de observar o Cristo Redentor? – como alguém que enxergava aquele
cego apontou para a admirada estátua, de braços abertos, que até então passara
despercebida pelo aflito homem.
— Sim – o magnata mentiu, aos poucos seus olhos fitavam o enorme
monumento —. Como consegue saber que está perante ela?
— Foi exatamente aqui que perdi minha visão – o senhor respondeu dando um
sorriso —. Agradeço a Deus todos os dias por esse milagre.
— A fé torna as pessoas idiotas — Sebastião zombou —. Como pode agradecer
por uma desgraça?!
12. — Eu poderia ter perdido a vida – a seriedade daquele
senhor espantou o influente homem -. Poderia ter
perdido a oportunidade de criar uma família com a
minha esposa, de ouvir um eu te amo dos meus filhos,
mas Deus apenas tirou a minha visão, foi bondoso sem
que eu merecesse... Eu era um incrédulo, blasfemava
contra aqueles que apregoavam o amor de Deus, mas
sonhava com o meu futuro brilhante, acreditava que
seria capaz até mesmo de ir contra a morte. Em uma
bela noite, sentado nesse mesmo banco, fui vítima de
bala perdida, a qual poderia ter ceifado os meus sonhos,
mas Aquele que ama a todos nós me deu a oportunidade
de me arrepender e O seguir.
— Se Deus existisse o mundo poderia ser melhor.
— Se Deus não existisse o mundo também não
existiria...
— Meu filho está morrendo no hospital, uma criança!
Que Deus é esse que gosta de ver o sofrimento? Que é
capaz de tirar um filho dos seus próprios pais? – o choro
amargurado voltou naquele empresário -. Se Ele existe
está nem aí para mim.
13. — Se importa tanto com você que está usando
uma inocente criança para aproximá-lo Dele!