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Para entender a importância
dos jogos no aprendizado da
criança
Até seis ou sete anos, aproximadamente, a criança funciona com base no pensamento pré-lógico, de forma
bastante singular. Em sua pesquisa, Piaget interessa-se pelas operações lógicas em relação às “categorias” principais
de a inteligência usa para se adaptar ao mundo: causalidade, substância, classificação, espaço, tempo etc.
Inicialmente, a criança não consegue distinguir o mundo externo do seu eu.
A lógica desenvolve-se em função da socialização do pensamento.
Enquanto a criança pensa que todos pensam como ela, não procura argumentar, nem verificar suas afirmações.
Seu egocentrismo não permite que ela chegue a uma objetividade.
Muitas vezes, isto a faz reagir com raiva quando os adultos não a compreendem.
O que é realismo nominal?
Observa-se que a criança, em torno dos cinco anos, imagina que a palavra é parte integrante do objeto, isto é, faz
parte da essência da coisa. É o que chamamos de realismo nominal.
Vaso Bola Boneca Caminhão
O pensamento mágico
A criança apresenta, também, o pensamento mágico,
que a leva a imaginar que pode dominar seus desejos através do pensamento.
Para ir à casa da minha prima terei que pisar
só nas pedras pretas da calçada.
Desta forma minha prima estará em casa.
Um pouco mais sobre o pensamento mágico
A crença é um produto do desejo.
Essa característica pode ser observada no sujeito obsessivo, que acredita que é suficiente pensar em alguma coisa
para que isto se produza, ou que precisa de isolantes para evitar que aconteça.
A criança, voltada para si, pensa que sua vontade, seu desejo são muito fortes, sendo causadores dos fenômenos.
A criança pode ainda, pensar o contrário do que deseja e supor que a sorte leia seus pensamentos
para fazer fracassar seus desejos.
Estou com tanta
raiva da minha mãe
que queria que ela
morresse ...
Não deveria ter
pensado nisso porque
pode ser que isso
ocorra por minha
causa ...
Realidade X Fantasia
É comum, nessa fase, a criança confundir a realidade com a fantasia o que provoca muitos medos,
levando-a ao desenvolvimento de rituais que a protejam de seus medos.
Vou colocar todas as
pontas do lençol por
baixo do colchão
para evitar que o
monstro entre ...
Preciso encontrar uma
pedrinha preta para
levar à escola para que o
professor Fabricio não
peça minha tarefa ...
O realismo implica uma indiferenciação
das relações lógicas e das relações causais.
As frustrações
Observa-se, ainda, alto grau de frustração quando a criança elabora projetos que não consegue levar a cabo, de
acordo com a qualidade imaginada. O pensamento mágico cria a ilusão de que é só desejar, e seu projeto realiza-se.
A distinção entre o pensamento e o mundo exterior não é inata na criança, mas lentamente construída.
Inicialmente, todo o universo é passível de estar em comunicação com o eu e obedecer a ele,
já que o ponto de vista próprio é o único a existir.
A criança acredita que todos pensam como ela.
Daí vem a ausência da relatividade, a falta de necessidade de provar, pois não precisa convencer.
O egocentrismo na linguagem infantil implica a ausência da necessidade, por parte da criança,
de explicar aquilo que diz por ter certeza de estar sendo entendida.
A idade dos por quês
Esta é a razão dos muitos “porquês” das crianças nessa época; frequentemente, estes são difíceis de responder,
pois nem sequer admitem uma resposta lógica.
Por quê há um só rio em nossa cidade?
Por quê sim.
Porquê os rios brotam da terra pequeninos, e vão se espalhando em várias
direções e o único que veio para nossa cidade é este que você conhece.
Não tô entendendo nada ...
Você sabe por quê há só um rio em nossa cidade?
Porque cada cidade deve ter seu rio.
No caso do adulto a criança se dispersou pois a resposta excede seu egocentrismo.
No entanto, em relação à outra criança, um raciocínio particular a deixou satisfeita.
A forma como a criança coloca suas perguntas mostra seu pensamento,
que vai do particular ao particular, isto é, uma transdução.
Legal.
Para Refletir
1) Até qual idade a criança deveria apresentar um pensamento pré-lógico?
2) Qual a principal característica que a criança apresenta que a impede de avançar para o pensamento lógico?
3) O quê Piaget entende por realismo nominal?
4) Dê um exemplo daquilo que Piaget entende por “pensamento mágico”?
5) Uma criança relatou à professora que, quando seu pai chega em casa embriagado, ela sempre conta carneirinhos
para que não haja briga em sua casa. Qual interpretação você daria, com base na teoria piagetiana, a este
acontecimento?
6) Uma criança estava tendo uma crise de birra enquanto seus pais, com muito calma, tentavam explicar o porquê do
ocorrido. Como você interpreta esta situação, segundo os preceitos lógicos piagetianos?
7) Numa determinada fase de seu aprendizado as crianças formulam diversas perguntas. Por quê algumas destas não
se convencem com a explicação correta dada pela professora, mas aceitam sem questionar a explicação infundada
de seus colegas?

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Importância dos jogos na aprendizagem infantil

  • 1. Para entender a importância dos jogos no aprendizado da criança
  • 2. Até seis ou sete anos, aproximadamente, a criança funciona com base no pensamento pré-lógico, de forma bastante singular. Em sua pesquisa, Piaget interessa-se pelas operações lógicas em relação às “categorias” principais de a inteligência usa para se adaptar ao mundo: causalidade, substância, classificação, espaço, tempo etc. Inicialmente, a criança não consegue distinguir o mundo externo do seu eu. A lógica desenvolve-se em função da socialização do pensamento. Enquanto a criança pensa que todos pensam como ela, não procura argumentar, nem verificar suas afirmações. Seu egocentrismo não permite que ela chegue a uma objetividade. Muitas vezes, isto a faz reagir com raiva quando os adultos não a compreendem.
  • 3. O que é realismo nominal? Observa-se que a criança, em torno dos cinco anos, imagina que a palavra é parte integrante do objeto, isto é, faz parte da essência da coisa. É o que chamamos de realismo nominal. Vaso Bola Boneca Caminhão
  • 4. O pensamento mágico A criança apresenta, também, o pensamento mágico, que a leva a imaginar que pode dominar seus desejos através do pensamento. Para ir à casa da minha prima terei que pisar só nas pedras pretas da calçada. Desta forma minha prima estará em casa.
  • 5. Um pouco mais sobre o pensamento mágico A crença é um produto do desejo. Essa característica pode ser observada no sujeito obsessivo, que acredita que é suficiente pensar em alguma coisa para que isto se produza, ou que precisa de isolantes para evitar que aconteça. A criança, voltada para si, pensa que sua vontade, seu desejo são muito fortes, sendo causadores dos fenômenos. A criança pode ainda, pensar o contrário do que deseja e supor que a sorte leia seus pensamentos para fazer fracassar seus desejos. Estou com tanta raiva da minha mãe que queria que ela morresse ... Não deveria ter pensado nisso porque pode ser que isso ocorra por minha causa ...
  • 6. Realidade X Fantasia É comum, nessa fase, a criança confundir a realidade com a fantasia o que provoca muitos medos, levando-a ao desenvolvimento de rituais que a protejam de seus medos. Vou colocar todas as pontas do lençol por baixo do colchão para evitar que o monstro entre ... Preciso encontrar uma pedrinha preta para levar à escola para que o professor Fabricio não peça minha tarefa ... O realismo implica uma indiferenciação das relações lógicas e das relações causais.
  • 7. As frustrações Observa-se, ainda, alto grau de frustração quando a criança elabora projetos que não consegue levar a cabo, de acordo com a qualidade imaginada. O pensamento mágico cria a ilusão de que é só desejar, e seu projeto realiza-se. A distinção entre o pensamento e o mundo exterior não é inata na criança, mas lentamente construída. Inicialmente, todo o universo é passível de estar em comunicação com o eu e obedecer a ele, já que o ponto de vista próprio é o único a existir. A criança acredita que todos pensam como ela. Daí vem a ausência da relatividade, a falta de necessidade de provar, pois não precisa convencer. O egocentrismo na linguagem infantil implica a ausência da necessidade, por parte da criança, de explicar aquilo que diz por ter certeza de estar sendo entendida.
  • 8. A idade dos por quês Esta é a razão dos muitos “porquês” das crianças nessa época; frequentemente, estes são difíceis de responder, pois nem sequer admitem uma resposta lógica. Por quê há um só rio em nossa cidade? Por quê sim. Porquê os rios brotam da terra pequeninos, e vão se espalhando em várias direções e o único que veio para nossa cidade é este que você conhece. Não tô entendendo nada ... Você sabe por quê há só um rio em nossa cidade? Porque cada cidade deve ter seu rio. No caso do adulto a criança se dispersou pois a resposta excede seu egocentrismo. No entanto, em relação à outra criança, um raciocínio particular a deixou satisfeita. A forma como a criança coloca suas perguntas mostra seu pensamento, que vai do particular ao particular, isto é, uma transdução. Legal.
  • 9. Para Refletir 1) Até qual idade a criança deveria apresentar um pensamento pré-lógico? 2) Qual a principal característica que a criança apresenta que a impede de avançar para o pensamento lógico? 3) O quê Piaget entende por realismo nominal? 4) Dê um exemplo daquilo que Piaget entende por “pensamento mágico”? 5) Uma criança relatou à professora que, quando seu pai chega em casa embriagado, ela sempre conta carneirinhos para que não haja briga em sua casa. Qual interpretação você daria, com base na teoria piagetiana, a este acontecimento? 6) Uma criança estava tendo uma crise de birra enquanto seus pais, com muito calma, tentavam explicar o porquê do ocorrido. Como você interpreta esta situação, segundo os preceitos lógicos piagetianos? 7) Numa determinada fase de seu aprendizado as crianças formulam diversas perguntas. Por quê algumas destas não se convencem com a explicação correta dada pela professora, mas aceitam sem questionar a explicação infundada de seus colegas?