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DIFERENTES ABORDAGENS EM TERAPIA DE CASAL:
UMA ARTICULAÇÃO POSSíVEL?
TEREZINIIA FERES-CARNEIRO (I)
Pontiffcia Universidade Católica do Rio deJaneiro
DEMANDA E INDICAÇÃO EM TERAPIA DE CA.s:li
ocompromisso da terapia é com a promoção da saúde emocional dos
~mbros do casalenãocom a manutenção ou a ruptura do casamento. A rigidez
@aesterllOtipia quase sempre caracterizam a patologia, enquanto a flexibilidade e
apossibilidade de mudança apontam paraa saúde. Em algum! casos, a mudança
de um. dos membros do casal em terapia, ou da interação conjugal, leva i1 ruptura
do casamento. Em outros, é a rigidez e a impossibilidade de mudar que levam a tal
ruptura.
A terapia de casal pode serconsiderada comourn caso particular de tera-
pia familiar. As indicações de terapia de casal, para LeJnaire (1982), estãosobretu-
do relacionadas a certos tipos de funcionamento conjugal onde as codificações
tomaram-se mais complexas entre os cônjuges que, ou funcionam de um modo
simbi6ticoou fusional, ou, ao contrário, defendem-se intensamente de rudoque
poderia ser uma ameaça de funcionamento simbiótico ou fusional. J:: o que leva
om:aspessoas a brigarem e a ficarem agressivas a partir do momento emque expe-
rimentam ternura ou desejo de felicidade fusional ou regressiva. Para estas pes50-
as aparentemente tão ~individualizadas", trata-se de formações reativas muito
marcadas
Neuburger (1988), ao discurtir a questão da especificidade da abordagem
terapêutica - individual, familiar ou de casal ressalta que não se pode falar de tal
especificidade, sem se falar de especificidade da demanda. Para ele, a demanda é
coostituida de elementos entre os quaiol figuram o sofrimento, o sintoma e a queixa.
Na clfnica de casais constata-se um sofrimento referido especificamente ao casal,
sintomas conjugais e uma queixa centrada nos problemas do casaL
Lemalre(l987} mostraoomoa escolha entre terapia individual e terapia de
casalnão é sempre evidente. Há os que demandam terapia de casal para escapar a
• Doptode PUooIogioo
Rua Cal. G6. Monlmo, 8 _bloro D _ opto. 24m
22290-()!Kl-Riodo JoNliro·RJ
um questionamento pe8wal individual e, neste caso, o terapeuta deve encaminhá-
los a terapias individuais. Mas, inver5amente, muitos terapeutas desconhecem
ainda o çaminho dlnko que a terapia de casal pode abrir para o tratamento de
pessoasma1 individualizadas. Diantedasdisfunções individuais, que estão rela-
donadas a um dima simbi6tko entre os ç6njuges, os terapeutas, muitas vezes,
indkam terapias individuais oomosoluçãopuaeste problema. Isto signifkarom-
preend.er mal o sentido da oolusão inçonsdente que presidiu à fundação do asaI.
PoriSID, muitas das terapias individuais são interrompidas prematuramente.
Muitas vezes, é apenas no casal que alguns sujeilo§ podem metabolisar um
çerto número de suas tendêndas arcaiças e regressivas, que ficariam sem vir à
tona, podendo se exprimir apenas de maneira patol6gka ou associaI. Diante do
çasal, o díniço tem um ac:esso privilegiado a uma mobilização psfquica individu-
aI, que fkaria inaçessfvel.
Para Eiguer (1984), a terapia de casal representa. muitas vezes, uma de-
manda de um segundo e último ritual de casamento. Assim,o terapeuta de casal
estaria çoJoçado, pebl dinjuges, mais perto da lei do que do dese;o. Para este autor,
as problemas ccujugais estão situados em re1açãoaos dois universos pessoais dos
parceiros, à parte que não quer admitir a especificidade da outra. Seriaum combate
entre dois narci.!;ismos individuais.
Villi (1978) ressalta queoresultado mais importante da terapia de casal é
o oonhedmento da temática fundamental do conflito ooIusivo vivido pelos o::ônju-
ges. Os paro::eitos. antes, emsuas pos;ições polarizadas, acreditam que não tinham
nada emcomum. A terapia vai mostrar que, comsell5 problemas, estionomesmo
barco. O que antes oonsideravam que os separava é agora oque os une. O objelivo
é não tornar os temas fundamentais colusivos ineficazes, mas levar o casal a um
equilfbrio livre e flexível. São as posturas extreIrul5 rígidas, nas quais os cáljuges
se fixam, que tomam a relação menos saudável. Se vividos com flexibilidade, os
temas da colusão se OOlwertem em enriquecimento redprooo.
Em Féres-Cameiro (1980), ressaltamos a relação entre sintomas apl"l!Senta-
dos por crianças e dificuldades existentes nas relações estabelecidas pelos seus
pais, sobretudo enquanto çasais. Para propiciar um dima familiar adequado ao
desenvolvimento sadio das crianças é preciso que os pais funcionem como o mode-
Iode uma relaçãohomem-muher gratificante.
Neste estudo, relatamos nossa experiência díniça no tratamento de oito
casais de classe média, durante um perfododedois an.ao!.O tempomédiodeaten-
dimento foi de oito meses, variando entre três meses nomínimo e 1 ano e 8 meses no
máximo. Cada casal foi atendido em sessões de urna horade duração. Seis casais
tiveram duas sessões semanais e dois çasais apenas urna sessão por semana. A
análise d08 dados clínicos obtidos através do tratamento dos oito casais mostra
que embora cinco deles tenham vindo ao consultório busc:ar ajuda para seus filhos,
que estavam com problemas de comportamento, tais problemas eram uma coose-
qü~ das perturbações e dU'l conflitos existentes na relação do casal. Em apenas
dois dos casos, os filhos precisaram ser vistos em sessões de avaliação familiar; e,
em apenas um caso, um filho precisou ser posteriormente encaminhado para
psicoterapia. O trabalho realizado ~ deixa concluir que na maioria das vezes os
distúrbios de comportamento apresentados pelas crianças encontram suas ra[zes
na relação dos pais e que, quase sempre, é suficiente uma intervenção ao ruvel do
casal para que haja uma remissão de grande parte dos sintomas apresentados
pelos filhos.
ABORDAGENS SlsrJ:MlCAS OU COMUNICACIONAlS EM TERAPIA DE
CASAL
Diferentemente da teoria psicanalítica,que teve suas ra{7.esnoirúciodeste
séçulo, as teorias que influenciaram as fonnulaç6es te6ricas dos autares das esco-
las sistêmicas em terapia de famllia e de casal desenvolveram-se na segunda meta-
dedo século. Em 1948, Wiener publicou o livro Cybamtics e, nadécada seguinte
várias ciências começam a enfatizar os sistemas homeostáticos com processos de
retroalimentação (mecanismos defaodmck) que tomam os sistemrul auto-<:orretiv05.
Noinkioda dt'lcadade50, Bertalanffy (Bertalanffy, 1973) desenvolve a Teoria Ce-
nl dOI! Sistemas que, juntamente coma Cibernética e a Teoria da Comunicação,
muito influenciaram os desenvolvimentos te6rico-témioo.o; da terapia sist@micade
famfliaedecasal.
Os sistemas interacionais são conceituados como dois ou mais comuni-
cantesno proces!KJ dedefirúção da natureza de suas relaçOO (Fére:s-Cameiro, 1983).
Osistema familiar e o sistema conjugai são vistos como um circuito de feedback
negativo, constantemente regulado, na medida em que tendem a preservar seus
padrões establecidos de interação, buscando sempre um equilíbrio, que é mantido
pelas regras de interaçãofamiliar ou conjugal.
Os axiomas básicos da teoria da comunicação são apresentados por
Watzlowick d a/. (1973), que discutem os efeitos comportamentais da comunicação
humana. Para estes autores, todooomportamentonuma situaçãointeracilXlal tem
valor de mensagem, ou seja, é comunicação. Outro axioma importante é o de que
qualquer comunicação implica um envolvimento e, como conseqüência, define a
relação. Para BateSOll d ~l. (1956), essas duas operações constituem, respectiva-
mente, 06 ruveis de relatoe de ordem presente/! em qualquer comunicação. Quando
estes dois rúveis secontradilem, temos um paradoxo. Batesone o grupo que com
ele trabalhava lU Hospital de leterllllOS de PaloAlto,numa pesquisa sobrecomu-
nicação e esquizofrenia, desenvolvem o conceito de duplo vfnculo, ou seja, um
padrão comunicacional repetitivo presente com freqMncia significativa nas fanú-
lias com pacientes esquizofrí!ni.cos. o, estudos de Batl!$On (1935) deram origem l
caracterização d.. comunicação por Wab;lawicl< ri aI. (1973) como simétrica ou
complementar, a partir de nllações baseadas na igualdade ou na diferenciação.
Tanto os comportamentos complementares romoos simétriC05 podem ser apropri-
ados, dependendo doccntexto emque se colocam. O problema surge quando uma
relação.se cristaliza numa destas classes, tomando-se rigidamente simétrica ou
complementar.
A família eo casal são visl:oll comosislemasequilibrados eoque mantém
este equilíbrio são as regras do funcionamento familiar e conjugal. Quando, por
algum motivo, estas regras são quebradas, entram em ação meta-regras para nlsta-
beJeceroequihbrio perdido.
A terapia desenvolvida a partirdesteenfoqueenfatiza a mudança nosiste-
ma familiar ecaljugal pela reorganizaçãodacomunicaçãoentreOl5 membrOl5. Não
se trata de trazer conteúdos reprimidos à consciência. O passado é abandonado
como questão central pois o foco de atenção é o modo de comunicação das pessoas
nomomentoatual.
Os terapeutas comunicaciona.is seabstêmde fazer interpretações na medi-
da em que assumem que novas experiências· no sentido de um novo comporta-
mentoque provoque modificação no sistema familiar ou caljugal- é que geram
mudanças. Neste sentido, são usadas prescrições nas sessões terapêuticas para
mudar 015 padrões de comunicação e prescrições fora das sessões com o objetivo de
encora}ar uma gama mais ampla de comportamentos comunicacionais no sistema
familiar e conjugal. Há uma concentração no problema presente e o comportamen-
to sintomático é visto como uma resposta adequada ao comportamento comunica-
tivoqueoprovocou.
Nas abordagens sislêmicas desta.caremOl5 a escolaestratégica deJay Haley
eaesccilaestruhlraldeSalvadorMinuchin.
ESCOLA ESTRATÉGICA
Para iialey (1979), o que caracteriza o sistema familiar e o sistema caljugal
é a lula pelo poder. O termo "estratégico" é utilizado porele para descnlver qual-
quer terapia em queo terapeuta realiza ativamente intervenções para resolver o
problema. Para que uma terapia seja bem sucedida é preciso que come<:eadequa-
damente.1510é, através da negociação de um problema solucionável e da descober-
ta da situação 50cial e familiar que o mantm.
Ao discutir o conceito de Ndiretivas terapêuticasN, Hall!)' (1973) fala. da
influência que sofreu do trabalho de Milton Erickson. Asdiretivas ou tarefas pro-
postas l farrúlia ou ao casal têm,. em primeiro lugar, o objetivo de fazer com que as
pessoas se comportem diferentemente e, como resultado, tenham experiências suo.
jetivas diferentes. Em segundo lugar, as diretivas são w;adas para intensificar o
reIacionamerJtocomo terapeuta.E, finalmente, têrno oo;envodeobterinfonnações
sobre~ paciente; e sobreoomo responderão à5 mudanças desejadas.
A escola estratégica é também identificada com o traballmde WeaklllJld,
Fish, Watzlawicke Bodin que, em 1974, publicar..m o artigo Brieflherapy:focusd
problm. r.solutio", onde apresentam as idéias fundamentais de seu trabalho, isto é,
focalium interaçõcs comportamentais observáveis no presente e intervêem
deliberadamente para alterar o sistema em andamento. Para estes autores, a brevi-
dade não é uma meta em si. embora traga vantagens práticas e E.'COl1ômicas; mas o
que postulam é que estabelecer limites de tempono tratamento tem influência posi-
tiva tanto no terapeuta comono paciente
Os teóricos da escola estratégica apresentam alguns principias fundamen-
tais doseu traballm terapêutico: 1) a orientação franca para o sintoma; 2) a visão
dos prublemas cumu dificuld~des de interação; 3) a visãu dos problemas como
uma super-ênfase ou uma sub-ênfase nas dificuldades do viver cotidiano; 4) a
busca de resolução dos problemas através da substituição dos padrões de compor-
Iarneflto;5) a utilizaçãude meios que podem parecer ilógicos para promovermu-
danças; 6) o "pensar pequeno" focaliumdo o sintoma; 7) a adação de uma aborda-
gem pmgmáticana terapia: abordam-se as interações e os porquês são evitadas.
oprincipal teórico da e:'ioCola estrutural éSalvador Minuchin para quema
famlIiaéwnsislemae ocasal umsub-sistemaquese definememEunçãodos limites
deuma organização hlerárquica. O sistema familiar diferencia-se e executa suas
funções através de seus sub-sistemas.
As fronteiras de um sub-sistema são lI5 regras que defmem quem participa
eoomo participa de cada sub-sistema, epara que o funcionamento da famflia seja
4dequado, elas devem ser nítidas. Em algumas famllias tais fronteiras são muito
rlgidas e emoutras muito difusas. Estes dois extremos de funcionamento das fron-
teiras são classificados respectivamente como "desligado" e como "aglutinado" e
indicam áreas de possíveis patologias (Féres-<:ameiro, 1983).
A terapia estrutural de fanúlia édefmida por Minuchin (1982) corno sendo
wna terapia de ação para modificar o p1l!5ente e não para explorar ou interpretar o
passado. O objetivo da intervenção do terapeuta é o sistema familiar ao qual ele se
une, utilizando-se II si mesmo para transformá-lo. MudllJldo a posição dos mem-
brI~da lamflia uu do CMal !'lO~istema, o terapeuta modifica as exigências subjeti-
vudecadamembro.
Para Minuchin, a transformação do sistema familiar ou do $ÍStema conju-
gal inclui três passos importante~: o terapeuta deve unir-se à famma ou ao casal,
r"".. "'" hicologi. (1994J.N' 2
desempenhando o papel de líder; deve descobrir e avaliar a estrutura familiar ou
CCIljUgal; e deve criar cirCUl'!ltãncias que permitam a trandormação desta estrutu-
ra. Neste processo de reestruturação, o terapeuta então age tanto como "diretor"
quanto como "aror" no drama familiar.Como "diretor",ele cria Cená.ri05, coreogra·
fi~, dá realce a temas e leva os membros da !amma ou do casal a improvisarem;
como "aror", ele atua promovendo alianças ecoalizões, criando, fortalecendo ou
enfraquecendo fronteiras, sempre tentando colocar desafios aos quais os memhr05
da fanúl.ia ou do casal devem se "acomodar" para, com isto, "descristalizar" pa-
drões transacionais desadaptativ05.
As mudanças terapêuticali na escola estruturalsão provocadas pelas cha-
madas operações reestruturadoras. Minuchin (1982) descreve as seguintes opera-
ções de reestruturação: 1) efetivaçiiode padrões transacionais; 2) delinútaçiio de
fronteiras;3) esçaionamentodeestresse;4) distribuiçãodeta~;5) utilização d05
sintomas; 6) manipulação dohumor;7) apoio ou orientação.
ABORDAGENS PSlCANALfTlCAS OU PSICODINÂMICAS EM TERAPIA
DE CASAL
Nas abordagens psicanalfticas ou psicodinâmicas das terapias de famflia
ede casal h;§ uma ênfa!e no passado, na história, tanto como causa de um sintoma
quanto como meio de modificá-h. Para os te6rico!; destas abordagens, 05 sintomas
apresentados peJos membros da famflia ou do casalsão decorrl!ncias de experii!n-
cias passadas que foram reprimidas fora da coosciêllcia. Na maior parte das vezes,
portanto, o método terapêutico utilizado éo interpretativoe os tratamentos são de
mais longa duração.
Diferentes autores podem ser agrupados nas escolas psicanalíticas ou
psicodinâmicas em terapia familiar e de casal. Destacaremos as propostas de Lily
Pincus e Ouistopher Olree de Alberto Eiguer e André Ruffiot.
OCONTRATO SECRETO 00 CASAMEN7V:PINCUSEDARE
Pincus e Dare (1981) baseiamseu estudosobre o casamento em princípios
geraisque são maneiras deencarar qualquer rclaci<namento. O primeiro deles é de
que ll8 motivaçõe8 que levam as pessoas ao casamento, sustentam suas perturba-
ções e lhes dão qualidades particulares são, em grande parte, inconscientes. Tais
motivações podem ser mantidas fora da CI".lIUCÍfucia de modo que sua existência
seja percebida somente indiretamente. Portanto, para estes autores, raramente é
p<J6Slvelsabe" questionando diretam.ente, qualquer razão convincente do porquê
da escolha do parceiro, ou qual a natureza do casamento.
Os processos de projeçãoqueocorrem em todo tipo de relaciooamento são
especialmente poderosos nas relações que ~ laços emocionais mais fortes. O
casamento ofert'Ce, portanto, um campo particularmente feml aos mecanismos
prc;etiVOli. Na escolha original do parceiro, a projeçiojosa um papel muito impor-
tante na medida em que um se encontra apto e desejoso de a~itar e Muar, pelo
menos em parte, algo daquilo que o outro necessita projetar nele.
Tais esoolha.s podem ter aspectos profundamente terapêuticos se cada um
dos parceiros conseguir constatarnooutroaqueles aspectos desi mesmo que não
conseguiu desenvolver. O usada projeçãono casamento niioéapenas uma tenta-
tiva de livrar-se de sentimentos indesejados ou de alguns aspectos dOM/f. Porque
agorasào vividos pela pessoa amada, tais sentimentos podem perder um pouco da
ansiedade que (l)!;tumavam produzir e, com o tempo, podematé pareceraceitáveis
para retomar ao Il!lf. As vezes,$eJtimenta'l ou aspectos do Sllfpodemser aceitos no
parceiro mas não podem ser expressados diretamente pelo sujeito.
Por outro lado, a mes.m.adinimicaque levou à escolha originaL na tentati-
va de resolver ansiedades, pode conduzir o cual a um círculo vicioso: o parceiro
quep~ aspectos temerosos desi mesmonooutro podedis!lOciar-se, cada vez
mais, f~ando assim o outro a expressá-los de maneira exacerbada e o resultado é
wnawnentode ansiedade para ambos_
O segundoprinctpio que norteia a abordagem de Pincus e Dare, tanto no
casamento como na.s relações humanas em geral, é que nos relacicnamentos dura-
douros, considerados importantes pelos participantes, hli geralmente uma
complementariedadedas necessidades, anseios e medos que fazem parte da vida a
dois. Este prindpio é baseado no primeiro na medida em que deixa daro que o
acordo que mantém a complementariedadeéinconsciente e, geralmente, implica
também o uso da pr~eçio.
O terceiro prindpioque norteia a abordagem destes autores sobre a relação
<mjugaL é adeque muitos dos anseios e medos incon.scientesque fazem parte do
-cootrato secreto" do casamento provêm. principalmente, das relacionamentos da
infincia. Isto significa que todas as pessoas tendem a padrões repetitivos de relaci-
onamento, que sio motivados pela persistência dos desetos numa fonna de fanta-
$ia inoonsciente e derivados da forma como as primeiras necessidades foram satis-
feitas. Nocasamento, muitas vezes, oas~ repetitivo da seqüênciada escolha é
literal, como por exemplo, quando uma mulher cuja inUncia foi prejudicada por
um pai alcoólatra acaba casando-se com um alcoólatra, divorcia-se dele e nova-
menlll repete a 6ih.laçio.
O quarto e último princípio, descrito por est~ autores, 4! o de que estes
padrões repetitivos de relacionamento 5ãosobretudoderivadosda ~emquea
criança5edliconta da intensidade dos seus anseios em relaçio~ pai.!, ao mesmo
tempo em que reconhece que estes lormamum casal do qual ela é excluída, ou seja,.
da vivàlcia do Complexode &iipo.
A abordagem terapêutica com Ci5ais proposta por estes autores leva em
conta, ao longo de todo o processo terapêutico, o resgate da histórica de cada
cônjuge e da história da relação conjugal norteada pela consideração dos quatro
princfpiosacimadescritos.
TERAPIA PSICANALlTlCA DE CAMIS: RUFFlOTE E/GUER.
André Ruffiot e Alberto Eiguersão os principais representantes da aborda-
gem psicanalfticlI de fam1li& e de casal também chamada de abordagem grupalista.
Os desenvolvimentos teóricos propostos por Bim (1965). Anzieu (1975) e Kaiis (1976)
para os grupos terapêuticos são aplicados pelos grupalistas à clfnica do grupo fami-
liar e do grupo COlljugal, emsiderando que o funcionamento psíquico inconsciente
destes grupos apresenta peculiaridades que os distingue do funcionamento do indi·
VÍd~
Para os grupalistas, o casal é ooncebido como uma estrutura com caracteris·
ticas próprias e intcraçõcs peculiares Soem desconsiderar as particularidades dos
indivfduos que o compõem. Se, por um lado, o cônjuge funciona como um suporte
real para oob;eto interno e nele são depositados os aspectos nardsicos do sujeito, por
outro, ele nào é um objeto passivo e seu funcionamento tem conseqüências na rela-
ção.
Ruffiot (1981) postula o calCeito de aparelho psíquico familiar que Soe edifica
na zona psfquica oI:&ura, indiferenciada, d06 diferentes mt!ffihros do grupo familiar
e ressalta que a terapia familiarpsicanalftica trata tal aparelho e nãoos psiquismos
individuais.
Eiguer (1984) identifica três organizadores da vida arojugal inoonsciente: a
escolha de objeto roo momento da instalaçio da relação amorosa, o eu conjugal e os
fantasmas partilhados pelos membros do casal.
O primeiro organizador, a escolhado parceiro, é articulado ao complexo de
&J.ipode cada ~uge e tem um valorSoemelhante aodas formações deoompromisso
ÍflsaIlscÍente, comoo sintoma ou o lapso. P<&ui, portanto, uma função defensiva e
cOfltribui paraa ecOf1OmÍa libidinal.
O segundo organizador, o eu conjugal, é formado pela consonância dos
vfnculos nardsicos e compostos por representações compartilhadas pelos cônjuges
que levam a um ideal de ego conjunto. Ele é responsável pelo sentimento de
pertalcimento, pelaformação de uma "peIeronjunta"naexpres.sãocriada porAnrieu
(1975).
O terceiro organizador, a in~rfantasmatização, é definido =0o PDf1to de
encontro dos fantasmas individuais, próximos por seu (".(Iteúdo, que organizam os
vínculos Iibidinais e os vfnculos nardsiOO5 do casal.
A proposta da terapia psicanalftica de casal éa de tratarcOfljuntamente os
dr;js paroeiros, como um todo, através da relação tnlnsfereoc:ial. Neste traoolhoRuffiot
(1981) privilegia as produções imaginárias infonnando a famI1ia ou o casal, desde o
infcio do processo terapêutico, da importância de relatar seus scrthos nas sessões
com o objetivo de tomar conscientes os vínculos que os unem e de retomar a
interfantasmatização psíquica. Desde a primeira entrevista tamblS,méenunciadaa
regra da associação livre que aciona mecanismos regressivos pennitindo percebero
funcionamento do aparelho psíquico dogrupo familiar ou OOI1.juga1.
A terapia psicanalftica de casal tem. portanto, como objeto de trabalho o
inconsciente conjugal, mundo fantasrnátioo compartilhado, assim como afetes, ten-
sões e defesas comuns, Um de sew principais objetivos é a percepção das forças
iru:x:nscientes que originaram a relação, provocaram a escolha amoll)6a e contribuí-
ram para os atuais conflitos do casal. O trabalho clfnico pretende, a partir daf, resta-
belecer a circulação fantasmática e instaurar um novo equilibrio entre os vincuJos
l'IIl'ÓSÍooseoqetais.k:tambo'!rn.propostadaterapiare:l.u2irasidentifialçõespn::;etivas,
transformando não dites em palavras, e restituindo a cada. cônjuge o que fora depo-
sitadono outro, para que a relação deixe de ser, assim.. um sintoma das patologias
individuais.
A ARTICULAÇÃO DE DIFERENTES ABORDAGENS
EmF~(1991),l"I!5saltamosqueadicotmniaquedivideocampo
das terapias de farnllia e de casal- o modo de pensar sistémico e o modo de pensar
psicanalrtico - é, às vezes, tomada rigidamente por alguns autores considerados
puristas de cada uma destas abordagens e que tal rigidez, ao invés de avançar a
produção teórica na área e os desenvolvimentos técnicos decorrentes desta produ-
ção, acaba por criar impasses te6rioo-téOlicos a partir de uma polêmica que pode
ser,muitasvezes,ccnsideradafalsa.
Após 23anO!! de trabalho clínico e de pesquisa com fanúlias e casais, mar-
cados, em alguns momentos, por influências predominantemente sistémicas e, ef!!
outros, por influências predominantemente psicanalfticas, temos buscado, nos
últimos anos, refletir sobre a possibilidade de articulação, tanto ao TÚvel teórico
quanto ao nivel prático, das contribuições destes enfoques.
Como vimO!! anteriormente, podemos distinguir na terapia familiar e de
casal dois grandes enfoques: o interacional sistfunicoe o grupalista analftico. Al-
guns terapeutas propõem um trabalho numa abordagem sistémica pura, como
Haley (1979),enquantooutros pretendem trabalhar numa abordagem psicanalíti-
ca sem nenhum suporte sistêmico, como Ruffiot (1981) e Eiguer (1984). Há,. entre-
tanto, autores que tentam fazer uma síntese destas duas abordagens, no trabalho
com farnflias e casais, como1.emaire (1982.. 1984) e NicoIlÓ(2j.
(2) Nicoll6. A. M. (1'188). ~j r1ntir1rwr IkrA~In!, Nowll.lTu o,-mlqwt "''''' rJ~~ eI U
Fo..iU•• Roma: Mimoo.
~ nesta possibilidade de sSntese, de articulação dos dois enfaque~, que
estamos sobretudo interessados. Às vezes, falta a algumas abordagalS psicanalíti-
cas conceber a família como uma unidade sistémica. indivisível.A terapia familiar
e de casal não ~ a terapia dos individuos que compõem a fam11ia ou o casal, nem
tampouco a terapia do indivíduo em presença da farrúlia ou docasa. ~ essencial
estudar a articulação entre o indivíduo e seu grupo familiar e cOI1jugallevandoem
conta as descobertas mais significativas das abordagenssistêmicas sem se tomar
prisioneirodas teorias.
Na ~rspectiva sistémica, há uma preocupaçãocomo comportamento e a
busca de modificá-lo, oque leva a wnadesatençãoem relação aos processos psf-
quicos subjacentes, enquanto na perspectiva psicanalftica há uma preocupação
em expressar os desejos inconscientes que estão na origem d8 disfunção familiar e
CUljUgal.
Mas estas duas concepções teóricas -e as práticas delas decorrentes - são
obrigadas, uma e outra, a partir da comItalaçãode que o grupo familiar ou o seu
subgrupo fundador - o casal- são grupos organizados, auto-regulados, com uma
linguagem própria, regras próprias de funciooamentoe mitos próprioo.
Nicoll6fala de um "rigorelásticoH
, quer dizer, de uma atitude que requer
nas disciplinas psicológicas, a intuição, a subjetividade do observador que são
insubstihúveis para oconhecirnento, quanclodiscutea possibilidadede articula-
ção dos dois enfaques em terapia familiar ede casal.
Lemaire (1984) ressalta a necessidade de uma trlplice chavede leitura, no
trabalho com famSlia e casal, que passa pelo intra-psíquico, pelo sistémico-
interacional e pelo social. Para ele, o mio, por exemplo, de o terapeuta conjugal
compreender psicanaliticamente os fenômenos inconscientes das identificações
projetivas, que estão na base da colusão nardsica do casal, não deve impossibilitá-
lo de lançar mão de desenvolvimento te6rico-técnicos das teorias sistêmicas. Ele
pode, ao mesmo, tempo trabalhar sobre a comunicação, as expressões paradoxais,
o:s duplo-vínculos etc, sem estar impedido de levar em conta procesSU5 arcaiCO/!
inconscientes que estão em jogodesde o estabelecimentoda relação amorosa.
Dependendo do tipo de demanda familiar econjugal, pode-se escolher um
referencial de compreensão mais sistémico ou mais psicanalítico. ~ importante
esoolher um quadro de pensamento mas estenãodeve ser rígido. A visão sistêmica
ea visão psicanalítica não se excluem mutuamente.
Não se trata de 8firmar que um modelo ~ melhor que o outro ou que um
grupo de«!m a !Kllução, mas de poder atender a esta ou aquela família, a este ou
aquele casal, na abordagem terapêutica que melhor se adapte ao seu estilo e à sua
estruturapsioo16gica.
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Diferentes abordagens em terapia de casal

  • 1. DIFERENTES ABORDAGENS EM TERAPIA DE CASAL: UMA ARTICULAÇÃO POSSíVEL? TEREZINIIA FERES-CARNEIRO (I) Pontiffcia Universidade Católica do Rio deJaneiro DEMANDA E INDICAÇÃO EM TERAPIA DE CA.s:li ocompromisso da terapia é com a promoção da saúde emocional dos ~mbros do casalenãocom a manutenção ou a ruptura do casamento. A rigidez @aesterllOtipia quase sempre caracterizam a patologia, enquanto a flexibilidade e apossibilidade de mudança apontam paraa saúde. Em algum! casos, a mudança de um. dos membros do casal em terapia, ou da interação conjugal, leva i1 ruptura do casamento. Em outros, é a rigidez e a impossibilidade de mudar que levam a tal ruptura. A terapia de casal pode serconsiderada comourn caso particular de tera- pia familiar. As indicações de terapia de casal, para LeJnaire (1982), estãosobretu- do relacionadas a certos tipos de funcionamento conjugal onde as codificações tomaram-se mais complexas entre os cônjuges que, ou funcionam de um modo simbi6ticoou fusional, ou, ao contrário, defendem-se intensamente de rudoque poderia ser uma ameaça de funcionamento simbiótico ou fusional. J:: o que leva om:aspessoas a brigarem e a ficarem agressivas a partir do momento emque expe- rimentam ternura ou desejo de felicidade fusional ou regressiva. Para estas pes50- as aparentemente tão ~individualizadas", trata-se de formações reativas muito marcadas Neuburger (1988), ao discurtir a questão da especificidade da abordagem terapêutica - individual, familiar ou de casal ressalta que não se pode falar de tal especificidade, sem se falar de especificidade da demanda. Para ele, a demanda é coostituida de elementos entre os quaiol figuram o sofrimento, o sintoma e a queixa. Na clfnica de casais constata-se um sofrimento referido especificamente ao casal, sintomas conjugais e uma queixa centrada nos problemas do casaL Lemalre(l987} mostraoomoa escolha entre terapia individual e terapia de casalnão é sempre evidente. Há os que demandam terapia de casal para escapar a • Doptode PUooIogioo Rua Cal. G6. Monlmo, 8 _bloro D _ opto. 24m 22290-()!Kl-Riodo JoNliro·RJ
  • 2. um questionamento pe8wal individual e, neste caso, o terapeuta deve encaminhá- los a terapias individuais. Mas, inver5amente, muitos terapeutas desconhecem ainda o çaminho dlnko que a terapia de casal pode abrir para o tratamento de pessoasma1 individualizadas. Diantedasdisfunções individuais, que estão rela- donadas a um dima simbi6tko entre os ç6njuges, os terapeutas, muitas vezes, indkam terapias individuais oomosoluçãopuaeste problema. Isto signifkarom- preend.er mal o sentido da oolusão inçonsdente que presidiu à fundação do asaI. PoriSID, muitas das terapias individuais são interrompidas prematuramente. Muitas vezes, é apenas no casal que alguns sujeilo§ podem metabolisar um çerto número de suas tendêndas arcaiças e regressivas, que ficariam sem vir à tona, podendo se exprimir apenas de maneira patol6gka ou associaI. Diante do çasal, o díniço tem um ac:esso privilegiado a uma mobilização psfquica individu- aI, que fkaria inaçessfvel. Para Eiguer (1984), a terapia de casal representa. muitas vezes, uma de- manda de um segundo e último ritual de casamento. Assim,o terapeuta de casal estaria çoJoçado, pebl dinjuges, mais perto da lei do que do dese;o. Para este autor, as problemas ccujugais estão situados em re1açãoaos dois universos pessoais dos parceiros, à parte que não quer admitir a especificidade da outra. Seriaum combate entre dois narci.!;ismos individuais. Villi (1978) ressalta queoresultado mais importante da terapia de casal é o oonhedmento da temática fundamental do conflito ooIusivo vivido pelos o::ônju- ges. Os paro::eitos. antes, emsuas pos;ições polarizadas, acreditam que não tinham nada emcomum. A terapia vai mostrar que, comsell5 problemas, estionomesmo barco. O que antes oonsideravam que os separava é agora oque os une. O objelivo é não tornar os temas fundamentais colusivos ineficazes, mas levar o casal a um equilfbrio livre e flexível. São as posturas extreIrul5 rígidas, nas quais os cáljuges se fixam, que tomam a relação menos saudável. Se vividos com flexibilidade, os temas da colusão se OOlwertem em enriquecimento redprooo. Em Féres-Cameiro (1980), ressaltamos a relação entre sintomas apl"l!Senta- dos por crianças e dificuldades existentes nas relações estabelecidas pelos seus pais, sobretudo enquanto çasais. Para propiciar um dima familiar adequado ao desenvolvimento sadio das crianças é preciso que os pais funcionem como o mode- Iode uma relaçãohomem-muher gratificante. Neste estudo, relatamos nossa experiência díniça no tratamento de oito casais de classe média, durante um perfododedois an.ao!.O tempomédiodeaten- dimento foi de oito meses, variando entre três meses nomínimo e 1 ano e 8 meses no máximo. Cada casal foi atendido em sessões de urna horade duração. Seis casais tiveram duas sessões semanais e dois çasais apenas urna sessão por semana. A análise d08 dados clínicos obtidos através do tratamento dos oito casais mostra que embora cinco deles tenham vindo ao consultório busc:ar ajuda para seus filhos,
  • 3. que estavam com problemas de comportamento, tais problemas eram uma coose- qü~ das perturbações e dU'l conflitos existentes na relação do casal. Em apenas dois dos casos, os filhos precisaram ser vistos em sessões de avaliação familiar; e, em apenas um caso, um filho precisou ser posteriormente encaminhado para psicoterapia. O trabalho realizado ~ deixa concluir que na maioria das vezes os distúrbios de comportamento apresentados pelas crianças encontram suas ra[zes na relação dos pais e que, quase sempre, é suficiente uma intervenção ao ruvel do casal para que haja uma remissão de grande parte dos sintomas apresentados pelos filhos. ABORDAGENS SlsrJ:MlCAS OU COMUNICACIONAlS EM TERAPIA DE CASAL Diferentemente da teoria psicanalítica,que teve suas ra{7.esnoirúciodeste séçulo, as teorias que influenciaram as fonnulaç6es te6ricas dos autares das esco- las sistêmicas em terapia de famllia e de casal desenvolveram-se na segunda meta- dedo século. Em 1948, Wiener publicou o livro Cybamtics e, nadécada seguinte várias ciências começam a enfatizar os sistemas homeostáticos com processos de retroalimentação (mecanismos defaodmck) que tomam os sistemrul auto-<:orretiv05. Noinkioda dt'lcadade50, Bertalanffy (Bertalanffy, 1973) desenvolve a Teoria Ce- nl dOI! Sistemas que, juntamente coma Cibernética e a Teoria da Comunicação, muito influenciaram os desenvolvimentos te6rico-témioo.o; da terapia sist@micade famfliaedecasal. Os sistemas interacionais são conceituados como dois ou mais comuni- cantesno proces!KJ dedefirúção da natureza de suas relaçOO (Fére:s-Cameiro, 1983). Osistema familiar e o sistema conjugai são vistos como um circuito de feedback negativo, constantemente regulado, na medida em que tendem a preservar seus padrões establecidos de interação, buscando sempre um equilíbrio, que é mantido pelas regras de interaçãofamiliar ou conjugal. Os axiomas básicos da teoria da comunicação são apresentados por Watzlowick d a/. (1973), que discutem os efeitos comportamentais da comunicação humana. Para estes autores, todooomportamentonuma situaçãointeracilXlal tem valor de mensagem, ou seja, é comunicação. Outro axioma importante é o de que qualquer comunicação implica um envolvimento e, como conseqüência, define a relação. Para BateSOll d ~l. (1956), essas duas operações constituem, respectiva- mente, 06 ruveis de relatoe de ordem presente/! em qualquer comunicação. Quando estes dois rúveis secontradilem, temos um paradoxo. Batesone o grupo que com ele trabalhava lU Hospital de leterllllOS de PaloAlto,numa pesquisa sobrecomu- nicação e esquizofrenia, desenvolvem o conceito de duplo vfnculo, ou seja, um padrão comunicacional repetitivo presente com freqMncia significativa nas fanú-
  • 4. lias com pacientes esquizofrí!ni.cos. o, estudos de Batl!$On (1935) deram origem l caracterização d.. comunicação por Wab;lawicl< ri aI. (1973) como simétrica ou complementar, a partir de nllações baseadas na igualdade ou na diferenciação. Tanto os comportamentos complementares romoos simétriC05 podem ser apropri- ados, dependendo doccntexto emque se colocam. O problema surge quando uma relação.se cristaliza numa destas classes, tomando-se rigidamente simétrica ou complementar. A família eo casal são visl:oll comosislemasequilibrados eoque mantém este equilíbrio são as regras do funcionamento familiar e conjugal. Quando, por algum motivo, estas regras são quebradas, entram em ação meta-regras para nlsta- beJeceroequihbrio perdido. A terapia desenvolvida a partirdesteenfoqueenfatiza a mudança nosiste- ma familiar ecaljugal pela reorganizaçãodacomunicaçãoentreOl5 membrOl5. Não se trata de trazer conteúdos reprimidos à consciência. O passado é abandonado como questão central pois o foco de atenção é o modo de comunicação das pessoas nomomentoatual. Os terapeutas comunicaciona.is seabstêmde fazer interpretações na medi- da em que assumem que novas experiências· no sentido de um novo comporta- mentoque provoque modificação no sistema familiar ou caljugal- é que geram mudanças. Neste sentido, são usadas prescrições nas sessões terapêuticas para mudar 015 padrões de comunicação e prescrições fora das sessões com o objetivo de encora}ar uma gama mais ampla de comportamentos comunicacionais no sistema familiar e conjugal. Há uma concentração no problema presente e o comportamen- to sintomático é visto como uma resposta adequada ao comportamento comunica- tivoqueoprovocou. Nas abordagens sislêmicas desta.caremOl5 a escolaestratégica deJay Haley eaesccilaestruhlraldeSalvadorMinuchin. ESCOLA ESTRATÉGICA Para iialey (1979), o que caracteriza o sistema familiar e o sistema caljugal é a lula pelo poder. O termo "estratégico" é utilizado porele para descnlver qual- quer terapia em queo terapeuta realiza ativamente intervenções para resolver o problema. Para que uma terapia seja bem sucedida é preciso que come<:eadequa- damente.1510é, através da negociação de um problema solucionável e da descober- ta da situação 50cial e familiar que o mantm. Ao discutir o conceito de Ndiretivas terapêuticasN, Hall!)' (1973) fala. da influência que sofreu do trabalho de Milton Erickson. Asdiretivas ou tarefas pro- postas l farrúlia ou ao casal têm,. em primeiro lugar, o objetivo de fazer com que as pessoas se comportem diferentemente e, como resultado, tenham experiências suo.
  • 5. jetivas diferentes. Em segundo lugar, as diretivas são w;adas para intensificar o reIacionamerJtocomo terapeuta.E, finalmente, têrno oo;envodeobterinfonnações sobre~ paciente; e sobreoomo responderão à5 mudanças desejadas. A escola estratégica é também identificada com o traballmde WeaklllJld, Fish, Watzlawicke Bodin que, em 1974, publicar..m o artigo Brieflherapy:focusd problm. r.solutio", onde apresentam as idéias fundamentais de seu trabalho, isto é, focalium interaçõcs comportamentais observáveis no presente e intervêem deliberadamente para alterar o sistema em andamento. Para estes autores, a brevi- dade não é uma meta em si. embora traga vantagens práticas e E.'COl1ômicas; mas o que postulam é que estabelecer limites de tempono tratamento tem influência posi- tiva tanto no terapeuta comono paciente Os teóricos da escola estratégica apresentam alguns principias fundamen- tais doseu traballm terapêutico: 1) a orientação franca para o sintoma; 2) a visão dos prublemas cumu dificuld~des de interação; 3) a visãu dos problemas como uma super-ênfase ou uma sub-ênfase nas dificuldades do viver cotidiano; 4) a busca de resolução dos problemas através da substituição dos padrões de compor- Iarneflto;5) a utilizaçãude meios que podem parecer ilógicos para promovermu- danças; 6) o "pensar pequeno" focaliumdo o sintoma; 7) a adação de uma aborda- gem pmgmáticana terapia: abordam-se as interações e os porquês são evitadas. oprincipal teórico da e:'ioCola estrutural éSalvador Minuchin para quema famlIiaéwnsislemae ocasal umsub-sistemaquese definememEunçãodos limites deuma organização hlerárquica. O sistema familiar diferencia-se e executa suas funções através de seus sub-sistemas. As fronteiras de um sub-sistema são lI5 regras que defmem quem participa eoomo participa de cada sub-sistema, epara que o funcionamento da famflia seja 4dequado, elas devem ser nítidas. Em algumas famllias tais fronteiras são muito rlgidas e emoutras muito difusas. Estes dois extremos de funcionamento das fron- teiras são classificados respectivamente como "desligado" e como "aglutinado" e indicam áreas de possíveis patologias (Féres-<:ameiro, 1983). A terapia estrutural de fanúlia édefmida por Minuchin (1982) corno sendo wna terapia de ação para modificar o p1l!5ente e não para explorar ou interpretar o passado. O objetivo da intervenção do terapeuta é o sistema familiar ao qual ele se une, utilizando-se II si mesmo para transformá-lo. MudllJldo a posição dos mem- brI~da lamflia uu do CMal !'lO~istema, o terapeuta modifica as exigências subjeti- vudecadamembro. Para Minuchin, a transformação do sistema familiar ou do $ÍStema conju- gal inclui três passos importante~: o terapeuta deve unir-se à famma ou ao casal, r"".. "'" hicologi. (1994J.N' 2
  • 6. desempenhando o papel de líder; deve descobrir e avaliar a estrutura familiar ou CCIljUgal; e deve criar cirCUl'!ltãncias que permitam a trandormação desta estrutu- ra. Neste processo de reestruturação, o terapeuta então age tanto como "diretor" quanto como "aror" no drama familiar.Como "diretor",ele cria Cená.ri05, coreogra· fi~, dá realce a temas e leva os membros da !amma ou do casal a improvisarem; como "aror", ele atua promovendo alianças ecoalizões, criando, fortalecendo ou enfraquecendo fronteiras, sempre tentando colocar desafios aos quais os memhr05 da fanúl.ia ou do casal devem se "acomodar" para, com isto, "descristalizar" pa- drões transacionais desadaptativ05. As mudanças terapêuticali na escola estruturalsão provocadas pelas cha- madas operações reestruturadoras. Minuchin (1982) descreve as seguintes opera- ções de reestruturação: 1) efetivaçiiode padrões transacionais; 2) delinútaçiio de fronteiras;3) esçaionamentodeestresse;4) distribuiçãodeta~;5) utilização d05 sintomas; 6) manipulação dohumor;7) apoio ou orientação. ABORDAGENS PSlCANALfTlCAS OU PSICODINÂMICAS EM TERAPIA DE CASAL Nas abordagens psicanalfticas ou psicodinâmicas das terapias de famflia ede casal h;§ uma ênfa!e no passado, na história, tanto como causa de um sintoma quanto como meio de modificá-h. Para os te6rico!; destas abordagens, 05 sintomas apresentados peJos membros da famflia ou do casalsão decorrl!ncias de experii!n- cias passadas que foram reprimidas fora da coosciêllcia. Na maior parte das vezes, portanto, o método terapêutico utilizado éo interpretativoe os tratamentos são de mais longa duração. Diferentes autores podem ser agrupados nas escolas psicanalíticas ou psicodinâmicas em terapia familiar e de casal. Destacaremos as propostas de Lily Pincus e Ouistopher Olree de Alberto Eiguer e André Ruffiot. OCONTRATO SECRETO 00 CASAMEN7V:PINCUSEDARE Pincus e Dare (1981) baseiamseu estudosobre o casamento em princípios geraisque são maneiras deencarar qualquer rclaci<namento. O primeiro deles é de que ll8 motivaçõe8 que levam as pessoas ao casamento, sustentam suas perturba- ções e lhes dão qualidades particulares são, em grande parte, inconscientes. Tais motivações podem ser mantidas fora da CI".lIUCÍfucia de modo que sua existência seja percebida somente indiretamente. Portanto, para estes autores, raramente é p<J6Slvelsabe" questionando diretam.ente, qualquer razão convincente do porquê da escolha do parceiro, ou qual a natureza do casamento. Os processos de projeçãoqueocorrem em todo tipo de relaciooamento são especialmente poderosos nas relações que ~ laços emocionais mais fortes. O
  • 7. casamento ofert'Ce, portanto, um campo particularmente feml aos mecanismos prc;etiVOli. Na escolha original do parceiro, a projeçiojosa um papel muito impor- tante na medida em que um se encontra apto e desejoso de a~itar e Muar, pelo menos em parte, algo daquilo que o outro necessita projetar nele. Tais esoolha.s podem ter aspectos profundamente terapêuticos se cada um dos parceiros conseguir constatarnooutroaqueles aspectos desi mesmo que não conseguiu desenvolver. O usada projeçãono casamento niioéapenas uma tenta- tiva de livrar-se de sentimentos indesejados ou de alguns aspectos dOM/f. Porque agorasào vividos pela pessoa amada, tais sentimentos podem perder um pouco da ansiedade que (l)!;tumavam produzir e, com o tempo, podematé pareceraceitáveis para retomar ao Il!lf. As vezes,$eJtimenta'l ou aspectos do Sllfpodemser aceitos no parceiro mas não podem ser expressados diretamente pelo sujeito. Por outro lado, a mes.m.adinimicaque levou à escolha originaL na tentati- va de resolver ansiedades, pode conduzir o cual a um círculo vicioso: o parceiro quep~ aspectos temerosos desi mesmonooutro podedis!lOciar-se, cada vez mais, f~ando assim o outro a expressá-los de maneira exacerbada e o resultado é wnawnentode ansiedade para ambos_ O segundoprinctpio que norteia a abordagem de Pincus e Dare, tanto no casamento como na.s relações humanas em geral, é que nos relacicnamentos dura- douros, considerados importantes pelos participantes, hli geralmente uma complementariedadedas necessidades, anseios e medos que fazem parte da vida a dois. Este prindpio é baseado no primeiro na medida em que deixa daro que o acordo que mantém a complementariedadeéinconsciente e, geralmente, implica também o uso da pr~eçio. O terceiro prindpioque norteia a abordagem destes autores sobre a relação <mjugaL é adeque muitos dos anseios e medos incon.scientesque fazem parte do -cootrato secreto" do casamento provêm. principalmente, das relacionamentos da infincia. Isto significa que todas as pessoas tendem a padrões repetitivos de relaci- onamento, que sio motivados pela persistência dos desetos numa fonna de fanta- $ia inoonsciente e derivados da forma como as primeiras necessidades foram satis- feitas. Nocasamento, muitas vezes, oas~ repetitivo da seqüênciada escolha é literal, como por exemplo, quando uma mulher cuja inUncia foi prejudicada por um pai alcoólatra acaba casando-se com um alcoólatra, divorcia-se dele e nova- menlll repete a 6ih.laçio. O quarto e último princípio, descrito por est~ autores, 4! o de que estes padrões repetitivos de relacionamento 5ãosobretudoderivadosda ~emquea criança5edliconta da intensidade dos seus anseios em relaçio~ pai.!, ao mesmo tempo em que reconhece que estes lormamum casal do qual ela é excluída, ou seja,. da vivàlcia do Complexode &iipo. A abordagem terapêutica com Ci5ais proposta por estes autores leva em
  • 8. conta, ao longo de todo o processo terapêutico, o resgate da histórica de cada cônjuge e da história da relação conjugal norteada pela consideração dos quatro princfpiosacimadescritos. TERAPIA PSICANALlTlCA DE CAMIS: RUFFlOTE E/GUER. André Ruffiot e Alberto Eiguersão os principais representantes da aborda- gem psicanalfticlI de fam1li& e de casal também chamada de abordagem grupalista. Os desenvolvimentos teóricos propostos por Bim (1965). Anzieu (1975) e Kaiis (1976) para os grupos terapêuticos são aplicados pelos grupalistas à clfnica do grupo fami- liar e do grupo COlljugal, emsiderando que o funcionamento psíquico inconsciente destes grupos apresenta peculiaridades que os distingue do funcionamento do indi· VÍd~ Para os grupalistas, o casal é ooncebido como uma estrutura com caracteris· ticas próprias e intcraçõcs peculiares Soem desconsiderar as particularidades dos indivfduos que o compõem. Se, por um lado, o cônjuge funciona como um suporte real para oob;eto interno e nele são depositados os aspectos nardsicos do sujeito, por outro, ele nào é um objeto passivo e seu funcionamento tem conseqüências na rela- ção. Ruffiot (1981) postula o calCeito de aparelho psíquico familiar que Soe edifica na zona psfquica oI:&ura, indiferenciada, d06 diferentes mt!ffihros do grupo familiar e ressalta que a terapia familiarpsicanalftica trata tal aparelho e nãoos psiquismos individuais. Eiguer (1984) identifica três organizadores da vida arojugal inoonsciente: a escolha de objeto roo momento da instalaçio da relação amorosa, o eu conjugal e os fantasmas partilhados pelos membros do casal. O primeiro organizador, a escolhado parceiro, é articulado ao complexo de &J.ipode cada ~uge e tem um valorSoemelhante aodas formações deoompromisso ÍflsaIlscÍente, comoo sintoma ou o lapso. P<&ui, portanto, uma função defensiva e cOfltribui paraa ecOf1OmÍa libidinal. O segundo organizador, o eu conjugal, é formado pela consonância dos vfnculos nardsicos e compostos por representações compartilhadas pelos cônjuges que levam a um ideal de ego conjunto. Ele é responsável pelo sentimento de pertalcimento, pelaformação de uma "peIeronjunta"naexpres.sãocriada porAnrieu (1975). O terceiro organizador, a in~rfantasmatização, é definido =0o PDf1to de encontro dos fantasmas individuais, próximos por seu (".(Iteúdo, que organizam os vínculos Iibidinais e os vfnculos nardsiOO5 do casal. A proposta da terapia psicanalftica de casal éa de tratarcOfljuntamente os dr;js paroeiros, como um todo, através da relação tnlnsfereoc:ial. Neste traoolhoRuffiot (1981) privilegia as produções imaginárias infonnando a famI1ia ou o casal, desde o
  • 9. infcio do processo terapêutico, da importância de relatar seus scrthos nas sessões com o objetivo de tomar conscientes os vínculos que os unem e de retomar a interfantasmatização psíquica. Desde a primeira entrevista tamblS,méenunciadaa regra da associação livre que aciona mecanismos regressivos pennitindo percebero funcionamento do aparelho psíquico dogrupo familiar ou OOI1.juga1. A terapia psicanalftica de casal tem. portanto, como objeto de trabalho o inconsciente conjugal, mundo fantasrnátioo compartilhado, assim como afetes, ten- sões e defesas comuns, Um de sew principais objetivos é a percepção das forças iru:x:nscientes que originaram a relação, provocaram a escolha amoll)6a e contribuí- ram para os atuais conflitos do casal. O trabalho clfnico pretende, a partir daf, resta- belecer a circulação fantasmática e instaurar um novo equilibrio entre os vincuJos l'IIl'ÓSÍooseoqetais.k:tambo'!rn.propostadaterapiare:l.u2irasidentifialçõespn::;etivas, transformando não dites em palavras, e restituindo a cada. cônjuge o que fora depo- sitadono outro, para que a relação deixe de ser, assim.. um sintoma das patologias individuais. A ARTICULAÇÃO DE DIFERENTES ABORDAGENS EmF~(1991),l"I!5saltamosqueadicotmniaquedivideocampo das terapias de farnllia e de casal- o modo de pensar sistémico e o modo de pensar psicanalrtico - é, às vezes, tomada rigidamente por alguns autores considerados puristas de cada uma destas abordagens e que tal rigidez, ao invés de avançar a produção teórica na área e os desenvolvimentos técnicos decorrentes desta produ- ção, acaba por criar impasses te6rioo-téOlicos a partir de uma polêmica que pode ser,muitasvezes,ccnsideradafalsa. Após 23anO!! de trabalho clínico e de pesquisa com fanúlias e casais, mar- cados, em alguns momentos, por influências predominantemente sistémicas e, ef!! outros, por influências predominantemente psicanalfticas, temos buscado, nos últimos anos, refletir sobre a possibilidade de articulação, tanto ao TÚvel teórico quanto ao nivel prático, das contribuições destes enfoques. Como vimO!! anteriormente, podemos distinguir na terapia familiar e de casal dois grandes enfoques: o interacional sistfunicoe o grupalista analftico. Al- guns terapeutas propõem um trabalho numa abordagem sistémica pura, como Haley (1979),enquantooutros pretendem trabalhar numa abordagem psicanalíti- ca sem nenhum suporte sistêmico, como Ruffiot (1981) e Eiguer (1984). Há,. entre- tanto, autores que tentam fazer uma síntese destas duas abordagens, no trabalho com farnflias e casais, como1.emaire (1982.. 1984) e NicoIlÓ(2j. (2) Nicoll6. A. M. (1'188). ~j r1ntir1rwr IkrA~In!, Nowll.lTu o,-mlqwt "''''' rJ~~ eI U Fo..iU•• Roma: Mimoo.
  • 10. ~ nesta possibilidade de sSntese, de articulação dos dois enfaque~, que estamos sobretudo interessados. Às vezes, falta a algumas abordagalS psicanalíti- cas conceber a família como uma unidade sistémica. indivisível.A terapia familiar e de casal não ~ a terapia dos individuos que compõem a fam11ia ou o casal, nem tampouco a terapia do indivíduo em presença da farrúlia ou docasa. ~ essencial estudar a articulação entre o indivíduo e seu grupo familiar e cOI1jugallevandoem conta as descobertas mais significativas das abordagenssistêmicas sem se tomar prisioneirodas teorias. Na ~rspectiva sistémica, há uma preocupaçãocomo comportamento e a busca de modificá-lo, oque leva a wnadesatençãoem relação aos processos psf- quicos subjacentes, enquanto na perspectiva psicanalftica há uma preocupação em expressar os desejos inconscientes que estão na origem d8 disfunção familiar e CUljUgal. Mas estas duas concepções teóricas -e as práticas delas decorrentes - são obrigadas, uma e outra, a partir da comItalaçãode que o grupo familiar ou o seu subgrupo fundador - o casal- são grupos organizados, auto-regulados, com uma linguagem própria, regras próprias de funciooamentoe mitos próprioo. Nicoll6fala de um "rigorelásticoH , quer dizer, de uma atitude que requer nas disciplinas psicológicas, a intuição, a subjetividade do observador que são insubstihúveis para oconhecirnento, quanclodiscutea possibilidadede articula- ção dos dois enfaques em terapia familiar ede casal. Lemaire (1984) ressalta a necessidade de uma trlplice chavede leitura, no trabalho com famSlia e casal, que passa pelo intra-psíquico, pelo sistémico- interacional e pelo social. Para ele, o mio, por exemplo, de o terapeuta conjugal compreender psicanaliticamente os fenômenos inconscientes das identificações projetivas, que estão na base da colusão nardsica do casal, não deve impossibilitá- lo de lançar mão de desenvolvimento te6rico-técnicos das teorias sistêmicas. Ele pode, ao mesmo, tempo trabalhar sobre a comunicação, as expressões paradoxais, o:s duplo-vínculos etc, sem estar impedido de levar em conta procesSU5 arcaiCO/! inconscientes que estão em jogodesde o estabelecimentoda relação amorosa. Dependendo do tipo de demanda familiar econjugal, pode-se escolher um referencial de compreensão mais sistémico ou mais psicanalítico. ~ importante esoolher um quadro de pensamento mas estenãodeve ser rígido. A visão sistêmica ea visão psicanalítica não se excluem mutuamente. Não se trata de 8firmar que um modelo ~ melhor que o outro ou que um grupo de«!m a !Kllução, mas de poder atender a esta ou aquela família, a este ou aquele casal, na abordagem terapêutica que melhor se adapte ao seu estilo e à sua estruturapsioo16gica.
  • 11. Referincias Bibliográficu Anziortu,O.(I97.5).LtG,.,..,.tfrr_~·I.p.rio:D.tnod Bat....,n, C. (193.5). Cultur. ~onttlct and och.iomog."""ÍI. MIm. 35, 178-183. BoI..on, C.; j.~bon, O.; H.I.y, I.• Wukl.nd, I. (1956). Toward • Iheory of ochi~oph",nio. Bt/rJ>l1ioTlll~,1,2.51-264. &rtalanffy, L. V. (1973). To..... Gmrl"" 5"1....... Rio do janeiro: Vozeo Bion.W.R.(I965).R«/wrcIIa".,.leoPtfill~t1.~t"".rtId",.P."-'PUf. Eiguu,A.(1984).u.ThIl"pioPsyd.ollllitÚfl'luCourl•. P.ri.:Dunod f~.rn.;ro,T.(1980).P.icot~ropi.doca..I:.noI.ç'oconjugol ••uur.p""lIlt.çl'>oono comporl""",nlod.. filhoo...."I"ÍI>o. lI...ilt"'" <k P:<kolcgü.,32 (4),51-61. FoI.....c..meiro, T.(l983).r.mll":Di<lgndltico.T,,",pir.Riodo)aneiro:Zohor. F&'-c..nlliro. T. (1991). Terapia flmiti.r: oo....id.raÇÕM oobr. p<>Nibitidade de articular di/&. ",nt",HÚoqu... N."" Ptrrp<cti"" 5istlmi<o,19.21 Holey, J. (1973). Unwm.."" n.-py. til. P>yd!irttic Th:iI~ rifM,1t"" Erl<bo1I. New Yerk: Nort<>n Holey, J. (1979). P:<kottnpi. Fo..iJio•. BeloHorizont.:!ntertiVlOlO K..... R. (1976). L'A"".",IJ P:<yc~o-Gro"".1. P.N: Dunod. amair., j.(1982).n.'..piofamilialo.t "'''"pi. d. couplo: ronvergenc.otdiv...gon"... DIolo- gw:.-.dItrdludini<Jwodoodologiqua ..... l<a>vpl<t1/ofomul<,75.2I-4ll ..eInaino.I.(1n7).1Mropi.d.coupl• .tpc.t-mod...ru".Diologw:...."..,.",..d;,.,iquat1""""clo~ Monudin, S. (1982). r.mU.." r~"n~o. n-.Umtnlo. Porto Alegre: M. M6d.iCll. N<luburg...,R.(I988).L'I""",,",,,/.w..I<C...pl.t1I.r.maJ•. Paril:ESF. Pin<us. LoDar.,C.(1981)."'ko4i>lolm"'d.r.,.,rn..PortoAlegre:Art... M6di",o Rulliol, A. (1981). Úl n.hwpitF.",il..l. Psydl.....lilÚfW.PariI: Dunod. Wo.t-..Jowick,P.;fI:eovin,I·H.;jIlckson,.O.(1913).Pr.gm4tiud.C...dip'loHw""'..... RiodoJaneUo: w••lJond,I.H.Fi.h,R.;Watzlawick,.P.• Bodin.A.(1974).Bri.fU,"'.pyfo«..-J.probhu" ......lution.F.mi1yProa..,113141-16R Wienm,N. (11148). Cybtmtfi<J. New 'rOflcWiley. WiUi, /. (1978). Lo Po~ Hwm....: ReI.d6tt y C01IfIid•. Madrid: Edici<>nM Morat..