1. Boneca de Sal
Existia uma pequena boneca de sal que sempre perguntava:
— Quem sou? De onde vim? Para onde vou?
A cada pergunta, sempre obtinha a mesma resposta:
— Vieste do mar. És feita de sal.
Como nunca conhecera o mar, pois morava distante dele, teve a curiosidade de saber o que ele
era. Começou a busca incessante em direção às suas origens.
Perguntando a todos que encontrava onde ficava o mar, foi aos poucos se aproximando dele.
De repente, inspirando profundamente, sentiu um odor igual ao seu pairando no ar.
Imediatamente concluiu que se era feita de sal e no mar tinha sal, ela estava próxima do seu
objetivo.
Continuou a sua jornada em direção ao cheiro que cada vez ficava mais forte até que finalmente
avistou o mar. Diante de tão exuberante maravilha, exclamou:
— Como é grande o mar! Como é lindo o mar!
Após momentos de êxtase verificou que não podia ficar ali, parada, apenas observando a
maravilha que despontava sob seu olhar.
Caminhou em direção a ele, cada vez mais extasiada diante de tamanha grandeza, até que,
chegando à praia, sentou-se sobre as alvas areias e lá ficou, meditando sobre o vai-e-vem das
marés, o quebrar das ondas, o bailado das gaivotas sobre as águas crespas pela brisa quente, bem
como o cair do Sol por detrás da imensidão verde, de um lado, e o nascer da Lua, de outro.
— Só isto é o mar? Gostaria de conhecer mais, sentir, tocar, aprender a controlá-lo!
2. Melancólica quando as estrelas salpicaram de raios multicoloridos a massa branca das espumas das
ondas, passou a se perguntar se o mar era somente aquilo que se descortinava diante de seus olhos.
Absorvida em seus próprios pensamentos, foi dando seus primeiros passos em direção a água, até
tocar no mar pela primeira vez.
— Como o mar é refrescante, envolvente!
Continuou a caminhar de encontro às ondas, não percebendo que seus pés começavam a se dissolver,
já que era uma boneca de sal.
Sempre extasiada, prosseguiu.
— Isto é o mar! Agora começo a compreendê-lo!
Já com a água na altura do pescoço, e não percebendo que continuava a se dissolver misturando-se
com as águas, verificou:
— O mar é imenso! Como transmite paz! Se também sou feita de sal e o sal vem do mar,
eu sou igual ao mar. Agora começo a entender o que é o mar!
Quando a água atingiu a altura dos olhos, quase que explodindo num misto de alegria e
perplexidade, a boneca pensou:
— Agora eu compreendo a natureza do mar. Eu sou o mar!
— Preciso voltar e contar a todos o que vi, pois agora eu sei quem sou e de onde vim...
Serena I
Que a paz inunde seu ser...
serenamente...