Neste subsídio você encontrará abordagens acerca do jugo desigual; santificação e arrependimento; como suplemento para a Lição 08 de Escola Bíblica Dominical da CPAD do 1º Trimestre de 2010. Aqui a jovem Carolina Souza Silva esboça, junto com o Ev. Valter Borges, a necessidade da real pureza em nossas vidas para vermos a Deus. Bons estudos!
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Igreja Evangélica Assembléia de Deus - Ministério de SBCampo
EXORTAÇÃO À SANTIFICAÇÃO
Carolina Souza Silva1
Valter Borges dos Santos2
Resumo
O subsídio desta semana (Lição 8 – 1º Trirmestre de 2010 - de 21/02/2010) da Revista
“Lições Bíblicas” de Jovens e Adultos, que está abordando o tema “Eu, de muito boa vontade,
gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas”, (um estudo na 2ª epístola de Paulo aos
Coríntios), traz o assunto da santidade, com o título “Exortação à Santidade”. O texto áureo
desta lição está registrado em 2ª Co 7.1, que diz “Ora, amados, pois que temos tais
promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a
santificação no temor de Deus”. O comentarista, Pr. Elienai Cabral, extraiu do texto base (2
Co 6.14-18; 7.1, 8-10), a seguinte verdade prática “Através de uma vida de santificação e
pureza, o crente separa-se das paixões mundanas, dedicando-se sacrificialmente ao serviço
de nosso Senhor Jesus Cristo”. Com isto, este subsídio procurará abordar exaustivamente,
sem querer ser a última palavra no assunto, mas com o objetivo de auxiliar, o tema
Santificação. Assim, a finalidade deste subsídio é “compreender o que levou Paulo a buscar a
reconciliação e a comunhão com os coríntios; conscientizar-se a respeito da importância de se
ter uma vida santificada; e, explicar o porquê de Paulo ter reiterado seu amor para com os
coríntios”.3 Bons estudos!!!
Palavras-Chaves: Jugo Desigual; Santificação; Arrependimento
Introdução
Nesta lição Paulo orienta aos coríntios para que tenham uma vida de santificação,
separada de tudo que possa contaminá-los, atrapalhar sua comunhão com Deus e impedi-los
de serem filhos legítimos. O apóstolo discorre sobre o assunto, fazendo alusões ao texto do
AT, bem como aos ensinos do Mestre por excelência, o Senhor Jesus, mostrando aos coríntios
1
Colaboradora, Superintendente da EBD – AD Thelma, Pós-graduada em Letras pela UMESP, Professora do
Estado no Ensino Médio em São Paulo. E-mail: carolinaslv@ig.com.br
2
Evangelista, Pastor da AD Thelma, Professor da FATEBENE – Faculdade Teológica de Ensino Bíblico e
Evangélico. Bacharelando em Teologia e em Sociologia pela UMESP. E-mail: valtergislene@uol.com.br
3
LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 1º Trimestre de 2010. CPAD, 2010. 57 p.
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que a santificação não é uma opção, mas uma condição para que pudessem ter uma vida plena
em Cristo.
Também nesta lição, observa-se que o apóstolo demonstra sua alegria ao receber de
Tito a notícia de que suas palavras haviam provocado efeito satisfatório, ou seja,
arrependimento naqueles que haviam se voltado contra seu ministério. Apesar de Paulo ser
severo em suas palavras não deixa de demonstrar seu amor por aqueles crentes, buscando
desta forma, reaver a comunhão com os cristãos de Corinto. Assim temos a preocupação do
apóstolo na orientação da incompatibilidade entre luz e trevas; exortando, assim, à
santificação, principiando pelo arrependimento.
Jugo Desigual
No versículo 14 de 2 Coríntios 6, encontra-se uma advertência de Paulo “Não vos
prendais a um jugo desigual com os infiéis;...”, quando adverte ao povo desta forma, não está
dizendo que eles não poderiam ter amizade com os incrédulos, mas que deveriam evitar
algumas associações que poderiam comprometer a integridade de suas vidas com Deus. Isto
porque seria impossível tal proibição, pois o mesmo afirma que se fosse assim teriam que sair
do mundo e pode se entender que não é este o propósito de Deus. Paulo condena alguns
relacionamentos íntimos que comprometeriam a vida cristã, como: o casamento do crente e do
incrédulo; no casamento há a necessidade dos cônjuges serem ajudadores um do outro, deve
haver uma intensa harmonia para que tenha êxito esta associação, e, isto, se torna impossível,
principalmente quando as convicções religiosas são diferentes.
Outra forma de associação a que se refere o apóstolo, talvez seja uma associação
comercial mais íntima4, pois se entende que o filho de Deus deve associar-se a um filho de
Deus e não a um incrédulo, pois a propensão deste último prejudicar o outro é bem maior do
que aquele influenciar este.
É possível que Paulo, proibisse certo grau de amizade entre os coríntios cristãos e os
não cristãos, por conta do paganismo daquela cidade. Todos conhecem a história da cidade de
Corinto e sabem que a idolatria imperava conduzindo o povo a imoralidade, e o cristão tendo
um amigo incrédulo, expondo sua intimidade a ele está propenso a manchar sua vida de
comunhão com Deus.
Quando Paulo introduz esta secção, ao informar que “...jamais vos coloqueis em jugo
desigual com os descrentes” (KING JAMES, 2007), ele está orientando os problemas que
podem surgir da incompatibilidade entre o sagrado e o profano. A expressão “jugo desigual”
(grego, ginesthe heterozygountes) contém a idéia de alguém estar num jugo desnivelado. O
verbo heterozygeo encontra-se apenas aqui em todo o Novo Testamento, mas é empregado na
LXX (Septuginta) em Levítico 19.19, como parte da proibição de colocar animais diferentes
sob o mesmo jugo.5 A proibição de “lavrar” com animais diferentes sob o mesmo jugo (não
4
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, 1995.
5
KRUSE, Colin G. The Second Epistle of Paul to the Corinthians – An Introducion and Comentary. Tradução
de Oswaldo Ramos. Revisão Liege Marucci, João Guimarães, Theófilo Vieira. Coordenação editorial e de
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havendo, porém, o verbo heterozugeo) encontra-se em Deuteronômio 22.10. Paulo emprega
uma linguagem que lembra essas proibições ao exortar seus leitores a que não entrem em
“sociedades” com os incrédulos. À luz do que se segue (VV. 15-16), parece que [participação
em práticas cultuais pagãs] é a hipótese mais provável, na qual Paulo enfatiza. Todos nós
carecemos de discernimento para enfim saber definir o que é de Deus e o que não o é. Paulo
faz isso através de cinco perguntas retóricas que nos fazem arrazoar, analiticamente, acerca da
incoerente maneira de viver dos coríntios. Ele apela ao intelecto e à razoabilidade da
coerência, que “enfatizam a necessidade de atender a esta exortação”.6 Veja:
“Jamais vos coloqueis em jugo desigual com os descrentes. Pois o
que há de comum entre a justiça e a injustiça? Ou que comunhão
pode ter a luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e Belial?
Que parceria pode se estabelecer entre o crente e o incrédulo? E que
acordo pode existir entre o templo de Deus e os ídolos? Porquanto
somos santuário do Deus vivo. Como declarou o próprio Senhor:
‘Habitarei neles e entre eles caminharei, serei o seu Deus e eles serão
o meu povo!’.” (2 Co 6.14-16)7
Paulo tem bem firme o significado e os desdobramentos a que as expressões:
“comum”, “comunhão”, “harmonia”, “parceria”, e “acordo”, estão sujeitas. São todos
sinônimos do que a Bíblia afirma como “aliança”, “testamento”, “pacto”. Normalmente temos
[ou possibilidade de] associação com alguém com quem há afinidade, com pontos comuns e
acordados. Entretanto, não existe contrato entre pessoas que não se entendem nos assuntos
principais e pertinentes ao mesmo.
Para clarear um pouco o assunto, escolhemos o termo “acordo” para exemplificar os
desdobramentos dos problemas resultantes das aproximações entre o sagrado e o profano.
Segundo o dicionário Michaelis, a expressão “acordo”, significa “harmonia de vistas”;
“concordância”, “concórdia”, “conformidade”, “convênio”, “tratado”, “pacto”, ”ajuste”,
“combinação”, “concordância de vontades para determinado fim”. O dicionário também,
afirma o contrário, ou seja, o antônimo que é “desacordo”, ”desarmonia”, “divergência”,
“controvérsia”, “irreflexão”.8
Ter acordo com alguém é estar em conformidade, em convênio, em concordância de
vontades. Nas questões religiosas não há como existir comunhão entre crentes e incrédulos,
pois que comunhão pode haver entre Cristo e Belial? Os propósitos de cada um deles são
totalmente distintos, dessa forma, não pode haver associação religiosa entre pessoas com
convicções de fé diferentes.
produção: Vera Villar. SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, 1994. 145 p.. (Série Cultura
Bíblica). Nota do autor: “Segundo o texto hebraico de Levítico 19.19, em que se baseiam as versões em
português, é proibido cruzas (acasalar) diferentes espécies de animais. Não se trata de proibição de colocá-los
sob o mesmo jugo.
6
Idem, 145 p.
7
BÍBLIA. Português. Novo Testamento King James – Edição de Estudo. Tradução King James Atualizada
(KJA). São Paulo, Abba Press, 2007. Grifos meus.
8
WEISZFLOG, Walter. Michaelis - Moderno Dicionário de Língua Portuguesa. Editora Melhoramentos. São
Paulo, 1998-2007. Disponível em http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=acordo, acessado em 18/02/2010, às 21h43.
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A estrutura desta passagem é a seguinte:
“Ela consiste de: (a) uma exortação introdutória para que os crentes
não formem equipes desparceiradas com incrédulos (6.14ª); (b)
cinco perguntas retóricas que enfatizam a necessidade de atender a
esta exortação (6.14b-16ª); (c) uma afirmação do relacionamento
singular dos crentes com Deus (6.16b); (d) várias citações do Antigo
Testamento que salientam os privilégios decorrentes deste
relacionamento e reiteram o conteúdo da exortação (6.16c-18); e, (e)
um chamado para que os coríntios se purifiquem, deixem o pecado e
sigam a perfeita santidade”9
As cinco perguntas dizem respeito às práticas cultuais e diferenças religiosas. Veja os
contrastes que Paulo enfatiza: justiça e iniqüidade; luz com as trevas; Cristo e Belial
(Maligno).
“Em Colossenses 1.12-14, Paulo delineia a salvação como sendo o
livramento dos crentes do domínio das trevas e transporte para o
reino do Filho de Deus, onde compartilham a herança dos santos em
luz. Portanto, os que foram transferidos para o reino de Cristo, o
reino da luz, e, não podem manter comunhão com Satanás e o
domínio das trevas. Em 1 Coríntios 10.14-22, Paulo refere-se à
participação em cultos pagãos como sendo comunhão com os
demônios, pelo que sua pergunta, Que harmonia entre Cristo e o
Maligno (algumas versões em português trazem ‘Belial’),
provavelmente reflete sua preocupação quanto ao mesmo problema.
Neste caso, a quarta pergunta retórica de Paulo, que união do crente
com o incrédulo?, seria interpretada com mais acerto em relação ao
culto pagão; isto significaria que a chamada para a separação,
ressoada na passagem toda, relaciona-se não aos contatos do dia-a-
dia com os incrédulos (cf. 1 Co 5.9-10), mas ao problema do culto
pagão. Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Esta
pergunta final, com sua figura de linguagem sobre cultos, oferece
um pouco mais de apoio ao ponto de vista segundo o qual as
primeiras perguntas reforçam a exortação para que os crentes não
tenham nenhum relacionamento com o culto pagão. Quando Paulo
fala aqui do santuário de Deus, a figura de linguagem no pano de
fundo refere-se ao santuário de Jerusalém, mas na aplicação
imediata, trata-se da comunidade cristã como templo de Deus. Isto
se confirma pela afirmação de Paulo na parte final do versículo
16b).”10
Tendo enfatizado a incompatibilidade entre “templo de Deus” e os ídolos (v. 16ª),
Paulo, com esta afirmação, mostra por que a comunidade cristã não se deve envolver em
cultos pagãos: os crentes constituem o santuário do Deus vivo. No texto bíblico a palavra
9
KRUSE, Colin G. The Second Epistle of Paul to the Corinthians – An Introducion and Comentary. Tradução
de Oswaldo Ramos. Revisão Liege Marucci, João Guimarães, Theófilo Vieira. Coordenação editorial e de
produção: Vera Villar. SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, 1994. 145 p.. (Série Cultura
Bíblica).
10
Idem. 146-147 p
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separação implica em dois sentidos: separação de tudo quanto é contrário a mente de Deus; e
para o próprio Deus. O Senhor Deus não pode abençoar ou usar alguém que esteja associado
ao mal. O jugo desigual entende-se por qualquer coisa que une um filho de Deus e um
incrédulo em um propósito único11.
O resultado de se separar do mundo para Deus é o direito da filiação totalmente
outorgado ao fiel, a plena comunhão, adoração e um trabalho que gera frutos duradouros (II
Co 6. 17,18; Hb 13.13-15; II Tm 2.21). A não separação vai gerar automaticamente a perda
dos elementos citados anteriormente.
A expressão “jugo desigual”, provavelmente o apóstolo a tomou do texto em Dt 22.10,
onde Deus orienta a respeito das combinações de animais que seriam proibidas nos variados
serviços da nação judaica. Metaforicamente Paulo a usa para expressar o pensamento que está
sendo abordado aqui. Quando o apóstolo usa este termo não está ensinando que o cristão é um
ser superior ao incrédulo, mas foca na diferença que o cristão deve fazer conscientemente em
suas escolhas quanto às associações das quais fará parte.
A separação do cristão deve se dar com uma atitude de consagração a Deus (Sl 4.3; II
Co 6.17). Quando o cristão como igreja toma esta atitude, a mesma assume as qualidades de
gloriosa, sem mancha alguma e perfeita. (Ef 5. 26,27). Aquele que se recusa a separar-se
totalmente para Deus está fadado a uma vida vazia, sem a presença de Deus, sem crescimento.
Na sequencia do versículo citado no início deste texto encontram-se algumas
indagações de Paulo aos coríntios, das quais serão analisadas algumas palavras. “...que
sociedade12 tem a justiça com a injustiça?...”. No original grego a palavra sociedade é
“metoche” que significa “partilha”, “participação”. A retidão, que é inerente ao caráter
essencial de Deus, delegada aos crentes não pode de forma alguma estar associada a injustiça
ou iniqüidade. A retidão é característica daquele que foi aceito por Cristo e está sendo
transformado pelo Espírito Santo em sua carreira cristã.
“...E que comunhão tem a luz com as trevas?” O termo “luz” é diretamente remetido a
outra característica de Deus, segundo Jo 1.5, Deus é a própria luz e nEle não há treva alguma,
ainda em I Tm 6.16, lê-se que Deus “habita em luz inacessível”. O termo “comunhão” no
original grego é “koinonia”, que significa “associação”, “companheirismo”, “relação íntima”,
conforme citado anteriormente: casamento de incrédulos e crentes, associações comerciais,
associações religiosas. A expressão luz denota a natureza da habitação de Deus, lugar onde
qualquer ser ou homem imperfeito pode estar; e também o caráter santo de Deus onde não se
encontra falha alguma.
“Cristo é a luz mais resplendente que um ser humano pode
contemplar; e mesmo assim foi necessário que o Filho de Deus
viesse até nós em formas sombreadas, em que a sua glória e
magnificência apenas ocasionalmente podem ser percebidas. Mas os
seus ensinamentos iluminaram a vereda do princípio ao fim, até ao
trono de Deus. Ele veio a fim de iluminar aos homens. E os seres
humanos que são realmente iluminados assimilam a natureza dessa
“luz” que é Cristo, não sendo meramente iluminados. Eles também
11
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, 1995.
12
Grifo meu
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se tornam “luzes”, isto é, participam totalmente da perfeita
santidade de Deus.”13
“E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?”
Concórdia aqui, de acordo com o original grego “sumphonesis” é entendida como
“harmonia”, musicalmente a palavra é usada para denotar a combinação dos sons. Pensando
em combinação, o que há de comum entre Cristo e o maligno? Obviamente, nada há de
comum entre os dois. O que pode haver de comum entre o crente e o incrédulo, entre o fiel e o
infiel? O cristão deveria pensar, desejar as coisas que vem de Deus; já o incrédulo tem sua
mente, seus desejos relacionados às coisas terrenas, portanto há uma disparidade,
incompatibilidade, entre ideais, o que tornaria uma comunhão aqui improvável.
“E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do
Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e
eles serão o meu povo.” O pensamento defendido aqui neste texto é o mesmo que se encontra
no texto de I Co 6, quando Paulo censura a imoralidade que está totalmente relacionada com a
idolatria abordada em I Co 8. “Ligação” no grego é “sugkatathesis”, que quer dizer “união”,
“acordo”. O templo de Deus e um templo pagão têm padrões totalmente divergentes, o que
não proporciona nenhum tipo de comunhão entre dois mundos totalmente diversos. Isto
implica em que um cristão não tem como dar atenção aos dois (Lc 16.13). O cristão deve
dedicar-se a Deus consagrando sua vida tendo plena consciência de que é templo do Espírito
Santo, e um templo não pode servir a dois deuses.
Na segunda parte do versículo em questão temos uma promessa àqueles que se
separarem para Deus. Há a afirmação de um relacionamento especial com Deus, o
companheirismo do Senhor Deus para com aqueles que são fiéis.
Santificação
Depois que nos faz “nascer” de novo em Jesus, o Espírito continua operando em nós a
fim de moldar-nos mais e mais à imagem de Cristo, com quem ele nos uniu. Este processo de
renovação e transformação moral é chamado santificação.14 Segundo Milne, “o fato de que as
Escrituras utilizam dois termos para descrever o crescimento do povo de Deus em
santidade... enfatizam a impossibilidade de separar a renovação e a transformação moral
que se segue” (MILNE, 1996). A justificação, portanto, não “pode ser separada da
santificação (o processo vitalício da transformação moral à imagem de Cristo).”15
O centro da santificação é a união com Cristo. Deus nos uniu ao seu Filho. Segundo o
texto usado como referência neste estudo, a separação do mal implica em algumas questões,
as quais são listadas a seguir:
- Separação do mundo quanto ao desejo, motivo e ato, no sentido ético, que diverge do
sistema corrompido deste mundo; e, separação entre crentes e crentes, principalmente
13
CHAPLIN, R.N., 1995 (grifo meu)
14
MILNE, Bruce. Know the Truth. Título em português “Estudando as Doutrinas da Bíblia”. Tradução de Neyd
Siqueira. Revisão Rosa Maria Ferreira. ABU Editora S/C, 5ª ed. 1996. 199 p.
15
Idem. 199 p.
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dos falsos mestres, que, segundo o apóstolo Paulo, são vasos para desonra (II Tim.
2.20, 21).
- A separação não é do contato com o mal, no mundo ou na igreja, e, sim, da
cumplicidade e da conformidade com o mundo (Jo 17.15; II Co 6. 14-18; Gal. 6.1; Rm
12.1).
Em Hb 12.14, encontra-se a afirmação de que sem a santificação ninguém verá o
Senhor. Portanto, a santificação não é uma opção àqueles que querem agradar a Deus, mas um
compromisso. A santificação “é a fruição da justificação, e não algo dela separado”. Desde
o AT vê-se que o Senhor Deus deseja que todo aquele de dele se aproxima seja santo assim
como Ele o é (Lv 11.45; Gn 17.1), bem como no NT se encontram as mesmas ordenanças (Hb
12.14; Jo 17.17; Hb 13.12; II Tm 2.21).
No versículo 18, como já foi citado, encontra-se a recompensa por se santificar para
Deus: o direito da filiação, ou seja, o direito de participar da própria divindade do Senhor
Deus como filhos, conforme Cristo dela participava (II PE 1.4; Rm 8. 16,17,29). Isto só será
possível quando se tiver uma vida verdadeiramente santificada, caso contrário, jamais alguém
poderá participar desta benção gloriosa. Sermos filhos de Deus!!!
Essa promessa é para nós uma inspiração ou mais que isso, um real motivo interior
movido pelo poder do Espírito Santo. Em II PE 1.4, nota-se que Deus nos chamou para sua
glória, e as promessas vinculadas a isso, são muito profundas e preciosíssimas. Por meio delas
pode-se fugir da corrupção mundana e assim pode-se participar da natureza divina. Isto
significa que nossa glória é medida em termos de filiação; pois a salvação, de acordo com
importante ponto de vista, consiste de filiação (Jo 1.12, Rm 8.29). Faz-se necessário que todo
cristão leve estas promessas muito a sério, pois assim como Cristo se tornou homem, sujeito a
tudo, mas sem pecado, também este se permanecer fiel será como Cristo também, no sentido
literal mesmo, não metafórico do termo (Jo 17.21-23).
No capítulo 7 versículo 1, quando Paulo fala da contaminação do corpo e do espírito,
está fazendo
“um ataque ao conceito gnóstico que dizia que o espírito humano é
puro, mas que a carne é totalmente corrupta, sendo esta a sede do
princípio pecaminoso, e que não seria passível de purificação ou
redenção. Pelo contrário, Paulo diz que o princípio do pecado é
profundo, corrompendo tanto o corpo quanto a alma, o ser inteiro do
homem, a sua porção essencial. Por conseguinte, a redenção deve ser
um ato radical da parte de Deus, porquanto a queda no pecado foi
profunda e extensa”.16
Ao analisar a expressão “...aperfeiçoando a santificação no temor do Senhor”, pode-
se pensar que talvez por si mesmo o homem possa dar conta de seus pecados. Ainda que o
homem fosse totalmente purificado de seus pecados ainda isto não seria suficiente, é
necessário que se dispa do velho homem e se revista do novo homem, que é segundo a
16
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, 1995.
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imagem de Cristo, que compartilha de sua natureza, seu amor, sua justiça, sua bondade, sua
longanimidade, de sua graça, enfim, de tudo quanto o Senhor é moralmente. No entanto, isto é
uma operação do Espírito Santo, não podendo resultar dos esforços humanos, ainda que haja a
necessidade da cooperação da livre vontade humana. (Rm 3.21-26). Quando Paulo usa a
expressão “no temor do Senhor”, não deseja que seu leitor tenha medo de Deus, mas pode-se
entender o sentido mais adequado para esta expressão como um respeito profundo, “confiança
reverente, com abominação contra o mal”.
Mas qual a santificação que Deus espera de cada um de nós? Jesus expressou o grau
de santidade na qual o cristão precisa cultivar. A resposta está registrada em Mateus 5.20, que
diz “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo
nenhum entrareis no Reino dos céus.” (ARC). Outras versões trazem “... se a vossa justiça
não exercer”; outras “... não ultrapassar”; ainda, “... não superar”; “... não exceder”. Ou
seja, parafraseando: “Se a vossa justiça não tiver uma qualidade superior”.
Em Mateus 5.18-19, Jesus não veio facilitar as coisas para nós, ou aliviar as exigências
sobre nós impostas. O propósito da vinda de Jesus foi o de capacitar-nos a observar a lei17, e
não o de revogá-la, como alguns opositores de Cristo imaginavam e de que o acusavam. Jesus
enfatiza no que consiste a lei e, também, que devemos ser-lhe obedientes (Mateus 5.19). Há
uma espécie de divisão da lei em 2 categorias: (a) Diz respeito às nossas relações com o
Senhor; (b) Diz respeito às nossas relações com o próximo.
Há uma pequena diferença quanto à importância. Nossas relações com Deus revestem-
se de maior importância que as relações com o próximo. Veja a resposta de Jesus em Mateus
22.37-40. Se a lei é importante (não segundo os fariseus e escribas, que formaram uma
codificação que, acabava por distorcer as verdadeiras Escrituras Sagradas), e, se Jesus veio
capacitar-nos a cumpri-la. O que é essa lei? Essa lei corresponde a doutrina bíblica da
santidade.
Segundo Lloyd-Jones “a santidade não é experiência, mas guardar e cumprir a lei de
Deus”18, expressa no Sermão do Monte. A experiência ajuda, mas não recebemos santidade e
santificação com meras experiências. A santidade é algo que pomos em prática na nossa vida
diária. Consiste em honrar e guardarmos a lei, conforme fez Jesus. Ser santo equivale a ser
semelhante a Ele. A santidade está intimamente relacionada à lei. É nesse ponto que os
escribas e fariseus entram em cena, pois pareciam ser os homens mais santificados que então
havia. Entretanto, Jesus foi capaz de demonstrar, com grande clareza, que aqueles religiosos
eram deficientes no campo da justiça e da santidade. Isso ocorria com eles principalmente
porque compreendiam e interpretavam erroneamente a lei, mui tragicamente para eles.
17
NOTA DO AUTOR: Lei aqui se refere à parte moral do AT, que diz respeito ao relacionamento do cristão
com Deus e o próximo: santificação. Pois, Jesus cumpriu toda a Lei, e a parte primordial que cabia somente a
Ele, foi o cumprimento da lei dos holocaustos e sacrifícios. A lei judicial, dizia respeito à nação de Israel.
Cabendo a cada um de nós, agora, compartilhar no relacionamento com Deus, depois de nascer de novo, a
relação moral, espiritual, no que tange à separação das coisas mundanas, e a separação para junto de Deus, que
está explícito no Sermão do Monte.
18
JONES, Martyn Lloyd. Estudos no Sermão do Monte [Studies in the Sermon on the Mount]. São José dos
Campos – SP: FIEL, 1992.
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Depois de Jesus definir seu ministério, as palavras do verso 20 de Mateus 5, deve ter
soado extremamente surpreendentes e chocantes para os homens e as mulheres a quem elas
foram dirigidas. É como se Jesus dissesse: “Não imaginem que vim facilitar as coisas,
tornando menos severas as exigências da lei. Bem pelo contrário, estou aqui para dizer a
vocês que a menos que a retidão de vocês exceda em muito a dos escribas e fariseus, não há
diferença alguma de que vocês possam entrar no reino dos céus, nem mesmo como o menos
de seus cidadãos”19
Ora, que significam essas palavras? Escribas e fariseus, eram os elementos mais
destacados da nação judaica. Os escribas passavam a vida ensinando e expondo a lei; eram as
grandes autoridades sobre assuntos da lei de Deus. Dedicavam toda a sua vida ao estudo e à
prática da lei. Mais que qualquer outro grupo de pessoas, eles podiam reivindicar a posição de
estarem bem envolvidos na lei. Eles preparavam cópias da lei, exercendo o máximo cuidado
nesse trabalho. A vida deles era gasta inteiramente em torno da lei, e, por esse motivo, todos
lhes davam grande atenção.
Os fariseus, eram homens que tinham se notabilizado por sua pretensa piedade.
Fariseu significa separatista, se separavam dos outros, pois formularam um código sobre os
atos cerimoniais vinculados à lei, um código ainda mais rígido do que a própria lei de Moisés.
Haviam criado regras e regulamentos atinentes à vida e à conduta que, quanto à sua
severidade, ultrapassavam a qualquer coisa ordenada pelas Escrituras do Antigo Testamento.
Na comparação entre o fariseu e o publicano que foram orar no templo, o fariseu
dissera que costumava jejuar duas vezes por semana. Não há nenhuma ordenança que os
homens jejuam duas vezes por semana. O AT recomendava apenas 1 jejum anual. Os
religiosos elaboravam seus próprios sistemas, e ordenavam ao povo a fazerem o mesmo. Foi
com medidas como esta que eles formularam um código extremamente severo de moral e
conduta, por conta disso, o povo pensava que os escribas e os fariseus eram os grandes
paradigmas da virtude.
O homem comum refletia consigo mesmo: “Ah! Não tenho a menos esperança de
algum dia chegar a ser tão bom quanto os escribas e fariseus!! São extraordinários; vivem
apenas para serem santos e consagrados. Essa é a profissão deles, vivem somente para
cumprir seu objetivo e alvo religioso, moral e espiritual”.20
Porém, eis que Jesus aparece e anuncia aos seus ouvintes que a menos que a justiça
deles ultrapassasse em muito a dos escribas e fariseus, sob hipótese nenhuma poderia entrar
no reino dos céus!!! Encontramos duas questões vitais a considerar: (a) Qual é o nosso
conceito a respeito da santidade e da santificação? (b) Que idéia fazemos do homem
religioso? (c) Que pensamos sobre como deve ser um crente? Nosso Senhor estabelece aqui a
questão como um postulado, asseverando a retidão do crente – e mesmo do menor de todos os
crentes – deve exceder a dos escribas e fariseus. Analisemos a nossa própria profissão de fé
cristã, à luz dessa análise feita por Jesus Cristo. A razão que nos evangelhos há tanto espaço
criticando os escribas e fariseus é que Ele (Jesus) sabia que o povo comum dependia tanto dos
19
JONES, Martyn Lloyd. Estudos no Sermão do Monte [Studies in the Sermon on the Mount]. São José dos
Campos – SP: FIEL, 1992.
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Idem.
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escribas e fariseus, bem como dos seus ensinamentos. Jesus queria demonstrar quão vazio e
oco era o ensino daqueles homens, para então poder apresentar ao povo a doutrina verdadeira.
Isso é o que o Senhor faz através de palavras.
Qual a religião praticada pelos fariseus a fim de detectarmos os seus defeitos e
verificarmos o que ela exigia dos homens? A maneira de fazer isso é dedicar a estudar o
quadro do fariseu e publicano que foram ao templo orar. Colocou-se de pé, em lugar
proeminente, de onde se pôs a agradecer a Deus por não ser igual aos demais homens,
especialmente por não ser igual ao publicano. Em seguida, o fariseu começou a alegar certas
coisas sobre si mesmo: (a) Não era extorsionário, nem injusto, nem adúltero, muito menos era
como aquele publicano. Essas declarações concordavam com a realidade dos fatos. Eles
tinham suas características modalidades de justiça externa: (a) Jejuavam 2 vezes por semana;
(b) Pagavam a Deus e à Sua causa o dízimo de tudo quanto possuíam; (c) Davam dízimo de
tudo quanto tinham, incluindo suas ervas úteis, como a hortelã, o endro e o cominho. (d)
Além disso, eram altamente religiosos, extremamente meticulosos na observância de certos
ritos e cerimônias religiosas. Tudo isso era real no tocante aos fariseus. Eles não somente
assim diziam, mas também agiam desse modo. Mas, a religiosidade deles provocava muita
indignação no Senhor Jesus.21
Em Mateus 23, temos suas tremendas denúncias contra os escribas e fariseus,
denúncias vazadas na forma de “ais”; e ali veremos a essência mesma das acusações
revelatórias de nosso Senhor contra aquela gente, bem como a essência da crítica justa que
Ele fazia acerca de toda a atitude deles para com Deus e para com a religião. Foi em face de
todas essas razões que Ele disse: “... se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e
fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”.
Essa é uma das mais sérias e importantes questões que podemos considerar juntos. Há
uma real e terrível possibilidade que nos deixemos enganar e iludir. Os fariseus e escribas
foram denunciados como hipócritas, hipócritas inconscientes, e imaginavam que tudo ia bem
com eles. Não notavam sua hipocrisia, e pensavam que tudo ia bem com eles. Todavia,
ninguém pode ler ar Escrituras sem ser constantemente relembrado desse terrível perigo. Há
possibilidades de dependermos de coisas distorcidas, de descansarmos sobre coisas que
apenas dizem respeito à verdadeira adoração, ao invés de assumirmos a posição de adoradores
autênticos. Aqueles que dentre nós que não somente se afirmam evangélicos, mas que
também se ufanam de ser chamados tais, facilmente podem tornar-se culpados dessas
atitudes.22
Os fariseus eram acusados, fundamentalmente, de uma religiosidade inteiramente
externa e formal ao invés de ser uma religião do coração. (Lucas 16.15). É possível que nos
mostremos altamente regulares em nossa freqüência à casa de Deus, apesar disso sermos
invejosos e despeitados com os outros. Era isso que Jesus denunciava no caso dos fariseus. E
a menos que nossa justiça exceda em muito a essas exigências religiosas meramente externas,
jamais pertenceremos ao reino de Deus. Reino de Deus envolve diretamente o coração; não
21
JONES, Martyn Lloyd. Estudos no Sermão do Monte [Studies in the Sermon on the Mount]. São José dos
Campos – SP: FIEL, 1992.
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Idem.
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consiste meramente em atos externos, porque o fator que realmente importa é aquilo que eu
sou por dentro. Alguém disse que a melhor definição de religião é essa: “Religião é aquilo que
um homem faz com a sua própria solidão”. Isto é, se você quiser saber o que realmente é,
poderá encontrar a resposta quando estiver sozinho com os seus pensamentos, desejos e
imaginações. O que conta é aquilo que pensamos de nós mesmos. Quão cuidadosos nos
mostramos naquilo que dizemos aos outros! Porém, que pensamos de nós mesmos? O que um
homem faz quando está sozinho, isso é o que tem real importância. As coisas que se agitam
em nosso interior, que estão ocultas no mundo externo porque temos vergonha delas, essas
são as coisas que, em última análise, proclamam o que somos.23
A segunda acusação feita por Jesus contra os escribas e fariseus é que eles obviamente
preocupavam-se mais com os aspectos cerimoniais do que com as realidades morais; e isso,
como é natural, sempre será um corolário daquela primeira acusação. Aquela gente mostrava-
se cuidadosa quanto ao exterior; eram minuciosos no lavar as mãos ou às cerimônias da lei.
Obstante, não demonstravam cuidado algum no caso da porção moral da lei.
Outra característica religiosa dos fariseus é que a devoção deles consistia em regras e
normas ditadas por homens, com base em certas concessões que eles tinham feito uns aos
outros, mas que, na realidade, violavam a lei que pretendiam estar observando. Os fariseus
atuavam de conformidade com as suas próprias tradições, e a maioria dessas regras
tradicionais nada mais era do que mui astutas e sutis maneiras de se evadirem dos
mandamentos da lei.
Os fariseus só se interessavam por eles mesmos e por sua própria forma de justiça,
conforme facilmente se percebia. E como resultado, eles ficavam satisfeitos com eles
próprios. O objetivo final dos fariseus não era glorificar a Deus, mas a si mesmos. Quando
executavam as normas de sua religião, na realidade só estavam pensando em si mesmos e no
cumprimento dos seus deveres religiosos, e não na glória e honra de Deus. Os fariseus eram
satisfeitos com eles mesmos, concentrando-se em suas próprias realizações, nunca no seu
relacionamento com Deus. A nossa grande dificuldade é que nunca olhamos para nós
mesmos, conforme somos vistos por Deus: jamais nos lembramos do caráter, da pessoa e da
natureza de Deus. A nossa religião consiste em certo número de coisas que havíamos
resolvido por em execução: e então, tendo feito isso, pensamos que está tudo muito bem.
Entre nós, manifesta-se a presunção, a lisonja prestada a nós mesmos e a auto-satisfação.24
Isso leva-nos a considerar a lamentável e trágica atitude dos fariseus para com seus
semelhantes. A condenação mais severa contra os fariseus é que, em sua vida diária, exibiam
total ausência daquelas atitudes delineadas nas bem-aventuranças. Essa é a mais notável
diferença entre os fariseus e os crentes no Senhor Jesus.
O crente é uma pessoa na vida de quem são exemplificadas as bem-aventuranças. O
crente é “humilde de espírito”; é “manso”; é “misericordioso”. Ele não fica satisfeito consigo
mesmo quanto terminou de cumprir algum dever. Não, pois “tem fome e sede de justiça”.
Anela por ser alguém parecido com Cristo. Dentro dele agita-se uma profunda falta de
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JONES, Martyn Lloyd. Estudos no Sermão do Monte [Studies in the Sermon on the Mount]. São José dos
Campos – SP: FIEL, 1992.
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satisfação consigo mesmo. Esse é o teste através do qual deveríamos provar-nos a nós
mesmos.
Em última análise, nosso Senhor condenou os fariseus por haverem fracassado
completamente na observância da lei. Os fariseus, disse o Senhor, pagam o dízimo da hortelã,
do endro e do cominho (pois imaginam que as coisas materiais, por serem mais importantes
aos homens é o que Deus se importa: mas, não é!!), mas esquecem-se e ignoram as questões
mais graves da lei, que são o amor a Deus e o amor ao próximo. Contudo o amor a Deus e ao
próximo é o centro da religião, o propósito mesmo da nossa adoração. Deus quer que O
amemos de todo o coração, de toda nossa alma, de todas as forças e de toda a mente, e
também que amemos o próximo como a nós mesmos.25
A prova da nossa santidade é o nosso relacionamento com Deus, é a nossa atitude para
com Ele, é o nosso amor a Ele. Como você se sairia em um teste dessa natureza? Ser santo
não envolve apenas o evitar determinadas coisas, e nem mesmo o não pensar sobre certas
coisas; mas envolve a atitude final do coração do homem para com aquele Deus amoroso e
santo, e, em segundo lugar, a atitude do homem para com os seus semelhantes, homens e
mulheres.
A grande falha dos fariseus é que eles se interessavam pelos detalhes, e não pelos
princípios básicos; estavam mais interessados nas ações do que nos motivos; estavam mais
interessados em FAZER do que em SER. Significa que Cristo está habilitando em mim, e que
o Espírito Santo está comigo. O homem que nasceu do alto, que dispõe da natureza divina em
seu interior, é o homem justo, cuja justiça excede em muito a dos escribas e fariseus. Tal
homem não está mais vivendo para si próprio, visando somente as suas próprias realizações; e
nem é mais um indivíduo justo em seu próprio conceito, satisfazendo consigo mesmo. Antes,
tornou-se pobre de espírito, manso e misericordioso, alguém que tem fome e sede de justiça,
alguém que se tornou um pacificador. O coração desse homem está sendo purificado. Ele ama
a Deus, posto que mui imerecidamente, mas ama a Deus; e o seu anelo é contribuir para a
honra e a glória do Senhor. O seu desejo é glorificar a Deus, bem como observar, honrar e
cumprir a Sua lei.26
Arrependimento
Finalmente, no capítulo 7 e versículo 10, temos “Porque a tristeza segundo Deus
opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do
mundo opera a morte”. Não pode haver salvação se não houver arrependimento, sem
arrependimento não há conversão e não há regeneração. Se não há regeneração, não há
santificação, e como foi dito anteriormente, o texto bíblico é claro que “sem a santificação
ninguém verá o Senhor”, ou seja, sem santificação não há glorificação, não há a participação
da natureza de Cristo.
25
JONES, Martyn Lloyd. Estudos no Sermão do Monte [Studies in the Sermon on the Mount]. São José dos
Campos – SP: FIEL, 1992.
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Idem
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O homem deve abandonar realmente o pecado para que haja verdadeira conversão,
não há outra forma para que isso ocorra. Claro está também que um homem por si só não é
capaz de tornar-se santo. Essa é uma operação divina por intermédio de seu Espírito Santo,
porém o homem deve se arrepender segundo a vontade divina para que alcance a salvação,
porque o arrependimento genuíno produzirá profunda tristeza por ter sido ingrato quanto à
graça de Deus, por ter desobedecido aos preceitos divinos, esta tristeza profunda gerada por
Deus leva o homem ao arrependimento que por fim gerará vida, ou seja, a salvação (Ef 2. 1-
10).
“A salvação não inclui meramente o perdão dos pecados e a mudança de endereço
para os lugares celestiais, e, sim, uma completa transformação do ser segundo a imagem de
Cristo, tanto em seu aspecto moral quanto em seu aspecto metafísico, em que o indivíduo vem
a participar finalmente da natureza divina”.27
“... a tristeza do mundo opera a morte”, esta afirmação mostra que a tristeza natural
por um fracasso, por algo que deu errado, por uma catástrofe, não gera arrependimento. Um
exemplo: Judas Iscariotes sentiu remorso e deu cabo da própria vida. A tristeza que sentiu não
foi suficiente para gerar arrependimento genuíno e gerar vida, ocorreu justamente o oposto,
gerou a morte, pois não deu o próximo passo na qual o arrependimento leva: o pedir perdão.
A humilhação e a tristeza segundo Deus são necessárias para que haja arrependimento e estas
duas coisas vem de Deus, que é o “doador da graça” salvadora (Ef 1. 3 – 14; 2.8).
Conclusão
Jesus através do apóstolo Paulo nos orienta a que, se estivermos em jugo desigual,
precisamos buscar arrependimento e trilhar o caminho da santificação. Por isso sua incisiva
exortação. Deus é santo e deseja que todos aqueles que o buscam se santifiquem, com o fim
de serem recebidos por Ele, em Cristo Jesus. Os coríntios não tinham discernimento em
distinguir o sagrado do profano, e isso estava causando grandes prejuízos espirituais a eles.
Deus requer pureza de seu povo! Enfatizamos aqui a dedicação de Paulo, ele ora, por toda
igreja, independente dos seus leitores. Regristamos, aqui, a oração de Paulo pelos crentes de
Éfeso, que Deus em Cristo possa abençoar sua vida de forma especial, segundo a boa, perfeita
e soberana vontade de Deus:
“... para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória,
vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno
conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para
saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da
glória da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu
poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu
poder; o qual exerceu Ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os
mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima
de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome
que se possa referir não só no presente século, mas também no
27
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, 1995.
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vindouro. E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser cabeça
sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude
daquele que a tudo enche em todas as coisas”. (Efésios 1. 17-23)
Referências
BÍBLIA. Português. Novo Testamento King James – Edição de Estudo. Tradução King James
Atualizada (KJA). São Paulo, Abba Press, 2007. Grifos meus.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo,
1995.
JONES, Martyn Lloyd. Estudos no Sermão do Monte [Studies in the Sermon on the Mount].
São José dos Campos – SP: FIEL, 1992
KRUSE, Colin G. The Second Epistle of Paul to the Corinthians – An Introducion and
Comentary. Tradução de Oswaldo Ramos. Revisão Liege Marucci, João Guimarães, Theófilo
Vieira. Coordenação editorial e de produção: Vera Villar. SOCIEDADE RELIGIOSA
EDIÇÕES VIDA NOVA, 1994. 145 p.. (Série Cultura Bíblica).
MILNE, Bruce. Know the Truth. Título em português “Estudando as Doutrinas da Bíblia”.
Tradução de Neyd Siqueira. Revisão Rosa Maria Ferreira. ABU Editora S/C, 5ª ed. 1996.
WEISZFLOG, Walter. Michaelis - Moderno Dicionário de Língua Portuguesa. Editora
Melhoramentos. São Paulo, 1998-2007. Disponível em http://michaelis.uol.com.br/mo-
derno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=acordo, acessado em
18/02/2010, às 21h43.
São Bernardo do Campo, 19 de fevereiro de 2010.
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