Acredito que a nossa vida é como uma bela canção. Bela em melodia, harmonia e letra. Saiba, porém que o brilho e a dinâmica que a tornam viva, dependerá exclusivamente da forma que o musicista a executar, obedecendo ainda rigorosamente o critério da escrita musical do compositor.
1. A canção da meia noite.
A praça estava lotada de pessoas que queriam
ouvir e confirmar se realmente era verdade
que aquela orquestra tocava magnificamente a
ponto de fazer os corações chorarem de
alegria e amor produzindo paz profunda. Pelo
menos era o que pensava aquele sujeito franzino de óculos de grau com meio sorriso no rosto,
sentado na sétima fileira, pois ansiava ouvir uma canção repleta de brilho, força e poder. Por volta
da meia noite, sob a luz da lua cheia, a orquestra celeste se prepara fazer sua última apresentação. O
maestro supremo, com seu diapasão dourado dá o tom para a execução da sinfonia do amor, “A
canção da meia noite”. Com sua batuta, faz o sinal de início da música majestosa e assim, um a um
os musicistas começam a tocar a sua parte melódica que intercalada com os outros instrumentos
completam uma harmonia perfeita, encantando até o coração mais fechado que estava na plateia, ou
seja, daquele jovem com um coração amargurado, cheio de dores pelas atrocidades da vida.
A força contida em cada movimento, a suavidade da sonoridade, a perfeição dos sons, a
execução dos instrumentos, o interagir de cada músico e o direcionamento demonstrado pelo
maestro, fez aquele jovem perceber que a vida é bela e precisa ser encarada assim como uma
sinfonia com movimentos rápidos e lentos, com tonalidades altas e baixas, com sons fortes e fracos,
com leveza, sutileza, brilho e cor. Acreditou que ele era mais forte do que imaginava. Por fim, o
maestro vai ao microfone, agradece a presença de todos e diz: Deixe a canção de Deus inundar seu
coração e mudar a sua vida. Ali, naquele lugar, o jovem suspira suave e em seu espírito faz uma
oração: Senhor Deus do puro amor, acalanta meu coração e transforma meu lamento em gozo e me
enche de alegria. Naquela noite sentiu uma força tão grande que sua vida nunca mais foi a mesma.
Acredite. Ninguém por mais forte que pareça, é capaz de enfrentar seus medos, problemas,
dilemas e adversidades estando sozinho. Nessas horas, um colega, um amigo, um familiar, um
profissional, ou até mesmo alguém que você nem conhece, pode te estender a mão, tal como fez o
bom samaritano e ajudá-lo a encontrar uma solução ou o caminho certo a seguir. Certo é que, nas
noites mais traiçoeiras e densas, Deus se faz presente e você pode entoar sua canção de livramento e
vitória, pois Ele está sempre pronto a ouvir cada linha melódica, cada frase escrita, cada sentimento
que brota de uma oração genuína e de um coração contrito, livrando-o de todos os males.
Três exemplos sobre a canção da meia noite encontradas na Bíblia me fascinam:
1- Depois de serem açoitados, julgados por uma multidão de pessoas por causa do amor e da
fé que viviam em Cristo, cercados de dores e presos num tronco pelos pés e envoltos de
adversidades, Paulo e Silas, como bons amigos, não se curvaram aos sentimentos e ao medo voraz,
entretanto decidiram confiar plenamente na ajuda do Senhor e assim, a meia noite resolveram cantar
com as forças que ainda restavam. Tal música foi tão poderosa que o seu efeito foi devastador e
impactante envolvendo todos os que estavam com eles. Deus quebrou os grilhões e correntes e
abriu as portas das selas daquele lugar e os livrou de forma sobrenatural. Deus age no meio dos
momentos mais difíceis de maneira inexplicável, apenas creia. (Atos 16)
2- A canção da meia noite, por meio de som de sopro, trouxe livramento ao povo de Deus
quando viviam como escravos no Egito e depois desse grande feito foram libertados por Faraó para
servirem e adorarem ao Senhor em Canaã, a terra prometida ao seu povo. (Êxodo 11: 4- 7)
3- Na calada da meia noite, cerca de 100 homens, fortes, guerreiros e destemidos tocaram
suas trombetas conforme o Senhor da canção ordenara e produziram um som estarrecedor,
libertador. Assim, Gideão, iniciou sua batalha contra o povo de Midiã e com brados de júbilos a
vitória lhes foi concedida. (Juízes 7:19)
Acredito que a nossa vida é como uma bela canção. Bela em melodia, harmonia e letra.
Saiba, porém que o brilho e a dinâmica que a tornam viva, dependerá exclusivamente da forma que
o musicista a executar, obedecendo ainda rigorosamente o critério da escrita musical do compositor.
O sentimento deve estar contido nela de tal forma que todos que a ouvirem serão levados a crer que
estão dentro da própria música. Experimente entoar a canção que te leva mais perto de Deus.
Raimundo Soares de Andrade. Escritor, formado em Música pela UFPR, Curitiba PR, 2001