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CAVALEIRO DA DINAMARCA – HISTÓRIA DE PÊRO
                    DIAS

                  Diário de Bordo

(20/nov.)

Finalmente cá estou eu a navegar por
terras desconhecidas com vista à
exploração das costas de África. Já
dobrámos o cabo bojador! É tempo agora
de ancorar o navio e negociar com aqueles
homens de pele sombria envolvidos em
mantos flutuantes e montados em
camelos, que vieram a orla da praia.

                   (...)

                              (21/nov.)

                              Como anda este navio! A brisa a
                              bater nas velas, os mastros e
                              cabos a gemerem e as florestas
                              espessas e verdes a aparcerem.

                            Vejo homens nus e negros a
                            embarcarem em pirogas. Será que
                            nós irão alcançar? Não, não
conseguirão. Estamos demasiado longe, por isso resta-nos seguir
viagem.

E eis aqui um bom lugar para parar!
(...)

(22/nov.)

Estou contente! A minha tripulação foi bem recebida. Vejo-os
todos contentes com a festa de acolhimento que tiveram. Só foi
pena não ter havido mais comunicação. Melhores dias virão.
                                (...)

(23/nov.)

Afinal estava enganado, pois o pior estava para vir.

                                        Acabei de perder um grande
                                        companheiro, Pêro Dias, um
                                        português      valente    e
                                        destemido. Se ao menos eu
                                        não tivesse ancorado a
                                        caravela nesta bela baía e
                                        não tivesse enviado os meus
                                        homens a terra para
                                        estabelecer contacto com
                                        os africanos, nada disto
teria acontecido!

Pêro Dias, num acto de coragem convenceu os seus
companheiros a deixarem-no com um batel para mais facilmente
estabelecer contacto com o grupo de negros daquela praia.
Depois mostrou presentes e esperou pela reação.

O homem que saiu da floresta com a lança, longa e fina
examinou a oferta e sorriu-lhe. Caminharam então ao encontro
um do outro e tentaram comunicar primeiro por palavras e
depois por gestos.
Tudo parecia bem até Pêro Dias convidar o negro a visitar o seu
navio.

Numa tentativa de reestabelecimento de confiança, o meu
amigo começou a cantar e a dançar seguindo-se-lhe o negro. Foi
então que Pêro Dias ergueu a sua espada a qual faiscou ao sol,
assustando o nativo, que começou a fugir. Pêro Dias tentou
agarrá-lo e explicar-lhe o sucedido, mas o negro não entendia.

Ao verem o desenrolar da situação, os meus homens ainda
tentaram remar para a praia, mas isso ainda foi pior para Pêro
Dias, já que o negro se sentiu ameaçado.

Por fim, ambos se atacaram e morreram ali mesmo.

Ainda fiquei cerca de uma hora naquela praia a chorar o triste
combate, mas nada mais podendo fazer, restou-me dar um
enterro digno ao meu companheiro.




Ana – número 1   DEZEMBRO 2009

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  • 1. CAVALEIRO DA DINAMARCA – HISTÓRIA DE PÊRO DIAS Diário de Bordo (20/nov.) Finalmente cá estou eu a navegar por terras desconhecidas com vista à exploração das costas de África. Já dobrámos o cabo bojador! É tempo agora de ancorar o navio e negociar com aqueles homens de pele sombria envolvidos em mantos flutuantes e montados em camelos, que vieram a orla da praia. (...) (21/nov.) Como anda este navio! A brisa a bater nas velas, os mastros e cabos a gemerem e as florestas espessas e verdes a aparcerem. Vejo homens nus e negros a embarcarem em pirogas. Será que nós irão alcançar? Não, não conseguirão. Estamos demasiado longe, por isso resta-nos seguir viagem. E eis aqui um bom lugar para parar!
  • 2. (...) (22/nov.) Estou contente! A minha tripulação foi bem recebida. Vejo-os todos contentes com a festa de acolhimento que tiveram. Só foi pena não ter havido mais comunicação. Melhores dias virão. (...) (23/nov.) Afinal estava enganado, pois o pior estava para vir. Acabei de perder um grande companheiro, Pêro Dias, um português valente e destemido. Se ao menos eu não tivesse ancorado a caravela nesta bela baía e não tivesse enviado os meus homens a terra para estabelecer contacto com os africanos, nada disto teria acontecido! Pêro Dias, num acto de coragem convenceu os seus companheiros a deixarem-no com um batel para mais facilmente estabelecer contacto com o grupo de negros daquela praia. Depois mostrou presentes e esperou pela reação. O homem que saiu da floresta com a lança, longa e fina examinou a oferta e sorriu-lhe. Caminharam então ao encontro um do outro e tentaram comunicar primeiro por palavras e depois por gestos.
  • 3. Tudo parecia bem até Pêro Dias convidar o negro a visitar o seu navio. Numa tentativa de reestabelecimento de confiança, o meu amigo começou a cantar e a dançar seguindo-se-lhe o negro. Foi então que Pêro Dias ergueu a sua espada a qual faiscou ao sol, assustando o nativo, que começou a fugir. Pêro Dias tentou agarrá-lo e explicar-lhe o sucedido, mas o negro não entendia. Ao verem o desenrolar da situação, os meus homens ainda tentaram remar para a praia, mas isso ainda foi pior para Pêro Dias, já que o negro se sentiu ameaçado. Por fim, ambos se atacaram e morreram ali mesmo. Ainda fiquei cerca de uma hora naquela praia a chorar o triste combate, mas nada mais podendo fazer, restou-me dar um enterro digno ao meu companheiro. Ana – número 1 DEZEMBRO 2009