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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo




                              Luciana Moherdaui




                             Interfaces nômades1
            Uma proposta para orientar o fluxo noticioso na Web




                   DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO




                                    SÃO PAULO
                                     Maio, 2012




1
 Esta tese foi elaborada com o apoio do UOL (www.uol.com.br), através do Programa UOL Bolsa
Pesquisa, processo número 20080102180000.
Luciana Moherdaui




             Interfaces nômades
Uma proposta para orientar o fluxo noticioso na Web




     DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO




                   Tese apresentada à Banca Examinadora da
                   Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
                   como exigência parcial para obtenção do título
                   de Doutor em Comunicação e Semiótica na linha
                   de Pesquisa Processos de Criação nas Mídias.
                   Orientação: Rogério da Costa




                  SÃO PAULO
                      2012



                                                               2
Folha de aprovação




              Banca examinadora


              Rogério da Costa - Orientador

              Giselle Beiguelman (FAU/USP)

              Pollyana Ferrari (PUC/SP)

              Lúcia Leão (PUC/SP)

              Cícero Inácio da Silva (UFJF/MG)




                                              3
Agradecimentos


       Este trabalho ficaria sem fôlego não fossem as orientações de Giselle
Beiguelman e Rogério da Costa. Giselle por ter deixado esta jornalista e
pesquisadora voar, indefinidamente, e Rogério por aparar as arestas e torná-lo
realidade nas cerca de 300 páginas que se seguem.


       Também foram absolutamente fundamentais os apoios recebidos pela
Coordenação do Programa de Comunicação e Semiótica (COS) da PUC/SP,
(Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), pela CAPES (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), cuja Bolsa de Estudo permitiu a
realização de um projeto pessoal e profissional, o Doutorado, e pelo Programa UOL
Bolsa Pesquisa por contribuir com minha formação acadêmica.


       Tenho especial apreço pelo coletivo inteligente que colaborou amplamente
em minha pesquisa mesmo sem, às vezes, ter-se dado conta, por meio de redes
sociais ou conversas informais. Às vezes, em comentários sobre Jornalismo ou pela
leitura de posts. Um deles, especialmente feito por Leão Serva, ex-chefe no iG e
hoje meu amigo. Trata-se de uma piada contada nas redações toda a vez que surge
uma reforma gráfica: “com fio ou sem fio?”


       Explico: grosso modo, os projetos gráficos baseiam-se em uma máxima que
surgiu após a grande mudança instituída no Jornal do Brasil por Jânio de Freitas, no
final dos anos 1950: as reformas de jornal alternam-se por tirar e colocar fios. Em
junho de 1959, o jornalista, atual colunista da Folha de S.Paulo, decidiu arrancar os
fios das páginas e aumentar o tamanho das fotos no JB. Dizia que os leitores não
liam fios. Também integravam o time Odylo Costa Filho, Ferreira Gullar, Alberto
Dines e Reynaldo Jardim.


       A todos a minha gratidão, essa palavra-tudo, como diria Carlos Drummond
de Andrade (1902-1987).


                                                                                   4
“Nenhum conhecimento
precede a experiência, todos
começam por ela”
Immanuel Kant




                               5
Resumo


Esta pesquisa analisa a interface jornalística na Web, embora a conclusão possa ser
estendida a outros protocolos e aplicativos. O objetivo principal é repensar a
exibição da notícia que circula no fluxo. A migração da cultura de página estática
para a cultura de dados (BERNERS-LEE: 2009) modificou o padrão de
comunicação que vigorou no século 20. Foram incorporados à transmissão,
publicação e recepção os seguintes termos: anotar, comentar, responder, agregar,
cortar, compartilhar, download, upload, input e output (MANOVICH: 2008, p. 226).
Esta tese parte do pressuposto de que os projetos de Jornalismo para a Internet são
constituídos sob a lógica do jornal impresso, com hierarquia e diagramação em
colunas (NELSON: 2001) quando a dinâmica atual indica a implosão da página, a
perda do processo de padronização editorial. Nesse sentido, a discussão será
fundamentada a partir de noções de revezamento, agenciamento (DELEUZE;
GUATTARI, 2007, p. 180), mapa (DELEUZE; GUATTARI: 2006, p. 21-23) e teorias
do Jornalismo.


Palavras-chave: jornalismo, Internet, interface, agenciamento, tag




                                                                                 6
Abstract


This research analyzes the news on the Web interface, although the finding can be
extended to other protocols and applications (apps). The main objective is to
rethink the view of news circulating in the right flow. The migration of static page
culture to the culture data (BERNERS-LEE, 2009) changed the pattern of
communication prevailed in the 20th century. The following terms were
incorporated into the transmission, publication and reception: annotate, comment,
reply, add, cut, share, download, upload, input and output. (MANOVICH, 2008, p.
226). This thesis assumes that journalism projects for the Internet are made under
the logic of the printing press, with hierarchy and in columns (NELSON, 2001)
when the current dynamics of the implosion of the page indicates, the loss of the
standardization editorial process. In this reality, the discussion will be based from
notions of relay assemblage (DELEUZE; GUATTARI, 2007, p. 180), map (DELEUZE;
GUATTARI, 2006, p. 21-23) and theories of Journalism.


Keywords: digital journalism, interface, agency, tag




                                                                                   7
Sumário




Índice de figuras                                             PG 10
Índice de tabelas                                             PG 17


Introdução                                                    PG 18


Capítulo 1. Internet das Coisas                               PG 29
      A rede mundial de computadores                          PG 30
             Economia: a primeira bolha                       PG 35
             Tudo agora é ciberespaço                         PG 39
      Computação ubíqua                                       PG 43
             A Web não morreu                                 PG 50
             Jornalismo de Internet                           PG 53
      Bem além do papel                                       PG 59
             Design gráfico faz a diferença                   PG 63
             Metáfora como ponto de partida                   PG 68
      A interface é a mensagem                                PG 71
             Corpo informacional                              PG 74
             Agenciamentos que reconfiguram a interface       PG 77


Capítulo 2. Estética Power Point                              PG 84
      Ponto de vista jornalístico                             PG 85
             Nem toda informação é notícia                    PG 88
             A realidade pela lente do Jornalismo             PG 90
             Design de superfície, redundância e imperativo   PG 93
             Nos gadjets, um pouco além da repetição          PG 103
      Tudo é igual para todos                                 PG 106
             Como a interface mudou o Jornalismo              PG 110
             O jornal foi parar dentro do Facebook            PG 115
 Desconstruindo conceitos                                     PG 117

                                                                       8
As quatro fases do Jornalismo de Internet           PG 119
            Para analisar a interface, Foucault                 PG 129
            O que caracteriza o Jornalismo de Internet?         PG 132


Capítulo 3. Interfaces nômades                                  PG 147
      Rupturas e remediações                                    PG 148
            A Web de Ted Nelson                                 PG 153
            Por uma crítica da metáfora                         PG 156
            Uma nova linguagem visual híbrida                   PG 161
            A primeira interface de conversação                 PG 165
      Tag para desenhar                                         PG 170
            Arquitetura da informação ainda dá conta?           PG 176
            Interface como superfície                           PG 177
            A inteligência distribuída deslocou a fonte         PG 180
            A influência da arte digital                        PG 185
            Links tomam o lugar das prateleiras                 PG 189
      Notícia em rede                                           PG 195
            Twitter põe em xeque a manchete                     PG 199
            No Facebook, jornal mantém a tradição               PG 205
            O jornal como rede social                           PG 207
            A implosão da página estática                       PG 214


      Conclusão                                                 PG 223
      Bibliografia                                              PG 239
      Anexos                                                    PG 251
            Formulário de observação e ficha técnica            PG 251
            Relatório final do Programa Bolsa UOL de Pesquisa   PG 254
            Interfaces pesquisadas                              PG 258
                                  2012                          PG 258
                                  2009                          PG 273
                                  2008                          PG 288



                                                                         9
Índice de figuras


Figura 1. Mosaic, primeiro browser gráfico                                 PG 35

Figura 2. Netscape Navigator                                               PG 35

Figura 3. Receita por usuário na Internet                                  PG 38

Figura 4. Projeção da Internet das Coisas em 2020: 50 bilhões              PG 45

Figuras 5, 6. Internet das Coisas não se resume a tablets ou smartphones   PG 46

Figuras 7, 8. Após 2011, domicílios irão gerar mais tráfego na Internet    PG 46

Figura 9. Projeto Sixth Sense (MIT): usando a palma da mão para
discar um número                                                           PG 47

Figura 10. Projeto Sixth Sense (MIT) 2 : passagem aérea atualiza
status do voo                                                              PG 48

Figura 11. Projeto Sixth Sense (MIT) 3: projetor, câmera e marcadores
de cor utilizados para acessar dados                                       PG 48

Figura 12. Projeto Sixth Sense (MIT) 4: jornal impresso exibe vídeo de
noticiário ao vivo                                                         PG 49

Figura 13. Projeto Morph, da Nokia                                         PG 49

Figura 14. Pesquisa da Wired sobre uso de aplicativos                      PG 51

Figura 15. Comparação entre uso de aplicativos e consumo de Web            PG 52

Figura 16. Número de interfaces criadas na Web a cada 60 segundos          PG 53

Figuras 17, 18. Interfaces da CNN em 11 de setembro de 2001                PG 55

Figura 19. Cobertura da posse de Barack Obama no Facebook via CNN          PG 59

Figura 20. Interface da primeira página do Sunday Tribune                  PG 65

Figura 21. Primeira página do The New York Times impresso, 1860            PG 67

Figura 22. Primeira página do The New York Times, impresso 1980            PG 67

Figuras 23, 24, 25. Versões impressas das capas do caderno
de Esporte da Folha de S.Paulo durante a Copa 2006                         PG 69


                                                                               10
Figuras 26, 27, 28. Interfaces da Folha de S.Paulo na Web
durante a Copa 2006                                                   PG 70

Figura 29. Cena de Johnny Mnemonic (1995), de Robert Longo            PG 75

Figura 30. Cena de eXistenZ (1999) , de David Cronenberg              PG 76

Figura 31. Cena de Videodrome (1982), de David Cronenberg             PG 76

Figura 32. Infográfico da ComScore sobre o aumento do acesso às
redes sociais no mundo                                                PG 80

Figura 33. Infográfico do Ibope sobre acesso às redes sociais
no Brasil                                                             PG 81

Figura 34. Infográfico do Nielsen sobre tempo pelos americanos
na Internet                                                           PG 82

Figura 35. Diagramação da Folha Online entre layout Web e impresso    PG 94

Figura 36. BBC, 2008: abusa da repetição ao oferecer customização     PG 95

Figura 37. Terra, 2009: palavras repetidas na edição                  PG 95

Figura 38. Folha Online, 2008: redundância e uso de setas no espaço
tridimensional que é a Web                                            PG 96

Figura 39. Folha.com, 2011. Ainda com uso de setas, mas sem
Redundâncias                                                          PG 96

Figura 40. Estadão.com, 2008, palavras repetidas na edição            PG 97

Figura 41. Estadão.com, 2011, eliminação da redundância               PG 97

Figura 42. Globo Online, 2008, palavras repetidas na edição           PG 98

Figura 43. Globo Online, 2011, com pouca redundância                  PG 98

Figuras 44, 45. Interfaces da CNN para iPad                           PG 103

Figuras 46, 47. Interfaces da ABC News para iPad                      PG 104

Figuras 48, 49. Interfaces das redes ABC News e CNN para iPhone       PG 104

Figuras 50, 51. Interfaces da Wired para iPad                         PG 105

Figuras 52, 53. Interfaces da Wired para iPhone                       PG 105

Figura 54. Estrutura de arquitetura da informação na Web              PG 106
                                                                              11
Figura 55. Reconhecimento facial do Facebook                            PG 108

Figura 56. Primeiro blog da Web, de Tim Berners-Lee                     PG 110

Figura 57. Localização do post de Sohaib Athar via Google Maps          PG 112

Figura 58. Esquema tradicional da coleta de notícias e do seu
processamento                                                           PG 112

Figura 59. Post com anúncio da morte de Bin Laden por Keith
Urbahn, antigo chefe de gabinete de George W. Bush                      PG 112

Figura 60. Enquete no Facebook para saber quem noticiou primeiro
a morte de Amy                                                          PG 113

Figura 61. Interface do The New York Times com a notícia da morte
de Amy Whinehouse                                                       PG 114

Figura 62. Interface do Daily Mail com a notícia da morte de
Amy Whinehouse                                                          PG 114

Figura 63. Interface do Washington Post Reader no Facebook              PG 115

Figura 64. Interface do The Guardian APP no Facebook                    PG 116

Figura 65. Interfaces impressa e de Web do The Bugle Beacon             PG 119

Figuras 66, 67. Interfaces impressa e de Web da Folha de S.Paulo        PG 121

Figura 68. A apresentação da Folha Digital, exemplo de metáfora, 2009   PG 121

Figura 69. Interface da Folha.com, 2011                                 PG 123

Figura 70. Interface de O Globo na Web, 2011                            PG 123

Figura 71. Interface do Google Flip, 2011                               PG 123

Figura 72. Interface do MSNBC , 1997                                    PG 125

Figura 73. Interface do Último Segundo, 2011                            PG 125

Figura 74. Interface do Huffington Post, 2011                           PG 126

Figura 75. Mapa coletivo feito com aplicativo do Google mostra
avanço da gripe aviária                                                 PG 127

Figura 76. Twitter do jornal USA Today com informações sobre a
gripe aviária                                                           PG 128

                                                                             12
Figura 77. Mapa do Google sobre avanço da gripe aviária por região     PG 128

Figura 78. Interface do Le Monde, 1996                                 PG 133

Figura 79. Interface da BBC, 1997                                      PG 134

Figuras 80, 81. Interfaces da edição número 17 da NEO (1997),
a primeira revista em CD-ROM no Brasil                                 PG 137

Figuras 82, 83. . Interfaces da revista NEO,
edição número, 16                                                      PG 138

Figuras 84, 85, 86, 87. Interfaces da revista NEO,
edição número, 16                                                      PG 138

Figura 88. Cobertura do Estadão sobre a morte de Michael Jackson,
2007                                                                   PG 141

Figura 89. Cobertura do The New York Times sobre a morte de
Michael Jackson                                                        PG 141

Figura 90. Cobertura do Último Segundo sobre a morte de Michael
Jackson                                                                PG 142

Figuras 91, 92. Versões brasileira e inglesa de destaque em vídeo
da BBC sobre a Líbia, 2011.                                            PG 143

Figura 93. Interface da CNN sobre a Líbia, 2011                        PG 143

Figuras 94, 95. Movie Map, primeiro sistema hipermídia, desenvolvido
pelo Massachussets Institute of Tecnology                              PG 144

Figura 96. Zite, aplicativo para customizar conteúdo para iPad         PG 145

Figura 97. PointCast, primeira tecnologia push, de 1996                PG 146

Figura 98. Interface do El Pais, 1996                                  PG 150

Figura 99. Diagrama do Xanadu, sistema de hipertexto de Ted Nelson     PG 154

Figura 100. Apple 1, lançado em 1976 pela empresa de Steve Jobs        PG 158

Figura 101. Macintosh, lançado em 1984 pela Apple                      PG 158

Figura 102. Logomarca do Napster, criado por Shaw Fanning
e Sean Parker                                                          PG 159

Figura 103. Sketchpad, primeira interface de conversação, 1962         PG 167

                                                                                13
Figura 104. Caneta ótica, de Ivan Sutherland, 1965                     PG 167

Figura 105. Sistema Augment/NLS, processador baseado em
texto e mouse                                                          PG 168

Figura 106. A arquitetura Augment/NLS, de Doug Engelbart               PG 168

Figura 107. Grail, sistema de reconhecimento por gesto, de Tom Ellis   PG 169

Figura 108. Dynabook, computador pessoal para desenvolvido
para crianças por Alan Kay                                             PG 169

Figura 109. Nuvem de tags dos tópicos mais comentados da
The Economist                                                          PG 170

Figura 110. Base de dados sobre os 66 anos da bomba de Hiroshima
feita por meio da plataforma do Google Earth                           PG 172

Figura 111. Tackable, aplicativo para telefones celulares para uma rede
social fotográfica desenvolvida em parceria com San José Mercury News PG 172

Figura 112. Interface de busca em tempo real no Twitter via Google     PG 173

Figura 113. Ushahidi, plataforma de criação de mapa open source
utilizada pela BBC para mostrar os problemas causados pela greve
do metrô em Londres                                                    PG 173

Figura 114. Revisit, aplicativo para visualização em tempo real de
posts sobre temas específicos                                          PG 174

Figura 115. TimeSpace, mashup noticioso do The Washington Post,
com texto, áudio, vídeo e fotos produzidos ao redor do mundo           PG 174

Figura 116. How Twitter tracked the News of the World scandal,
termômetro do The Guardian sobre como o microblog reagiu às
denúncias de grampos contra celebridades no Reino Unido                PG 175

Figura 117. Cascade, projeto do NY Times Lab para avaliar o
comportamento dos leitores em relação ao conteúdo do jornal            PG 175

Figura 118. Esboço arquitetura de informação para interfaces           PG 177

Figura 119. Twitter da Mônica Bérgamo com notícia sobre a saída
de Fátima Bernardes da bancada do Jornal Nacional (Rede Globo)         PG 184

Figura 120. Desaparecimento das categorias, proposta por
Clay Shirky: hierarquia                                                PG 190

                                                                                14
Figura 121. Desaparecimento das categorias, proposta por
Clay Shirky: hierarquia com links                                       PG 190

Figura 122. Desaparecimento das categorias, proposta por
Clay Shirky: hierarquia com muitos links                                PG 191

Figura 123. Desaparecimento das categorias, proposta por
Clay Shirky: apenas links                                               PG 191

Figura 124. Your Life, Our Movie, de Fernando Velázquez                 PG 193

Figura 125. 10 x 10, de Jonathan Harris                                 PG 193

Figura 126. The Origin of Species, de Ben Fry                           PG 194

Figura 127. We Feel Fine, de Jonathan Harris e Sep Kamvar               PG 194

Figura 128. Proposta de uso de hashtag no Twitter, de Chris Messina     PG 195

Figura 129. Cartaz do Revolution Tools                                  PG 197

Figura 130. Cartaz do protesto thinkflickrthink                         PG 198

Figura 131. Blog do Twitter indica hashtags e perfis a serem seguidos
para obter com últimas notícias sobre o terremoto do Japão              PG 202

Figura 132. Interface de emergência do Google sobre o terremoto
do Japão                                                                PG 203

Figura 133. Mapa colaborativo com informações sobre o terremoto
do Japão                                                                PG 204

Figura 134. Twitter Stories, interface não hierárquica para criação e
narrativas por meio de hashtags                                         PG 205

Figura 135. Interface textual Social APP do The Guardian no Facebook    PG 206

Figura 136. Interface Social Reader no Facebook                         PG 207

Figura 137. Interface do HuffoPost Social News                          PG 208

Figura 138. TimesPeople, rede social de recomendação para textos do
The New York Times                                                      PG 209

Figura 139. Mashup com aplicativo do Google Maps sobre a ocupação do
Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, atualizado pelo Twitter do jornal
O Globo e dos cidadãos                                                PG 215


                                                                             15
Figura 140. Interface da Globo News ao vivo com a cobertura da
ocupação do Morro do Alemão                                           PG 215

Figura 141. Interface do UOL News com a cobertura completa da
ocupação do Morro do Alemão                                           PG 216

Figura 142. Interface do Google Search sobre a ocupação do Morro do
Alemão                                                                PG 217

Figura 143. Interface de busca em tempo real do Twitter via Google
Maps com notícias sobre o morro do Alemão                             PG 217

Figura 144. Reprodução do Google Earth com vídeos e informações
sobre o Alemão                                                        PG 218

Figura 145. Cena de A era da estupidez, de Franny Armstrong           PG 218

Figura 146. Interface do Twitter exibida no YouTube com posts sobre
os protestos no Egito                                                 PG 219




                                                                               16
Índice de tabelas


Tabela 1. Nomenclaturas                                         PG 61

Tabela 2. Computador e interface ontem e hoje                   PG 72

Tabela 3. Novo paradigma da comunicação                         PG 83

Tabela 4. Critérios de Noticiabilidade                          PG 90

Tabelas 5. Comparação entre jornalismo impresso e de Internet   PG 152

Tabela 6. Comparação entre jornalismo impresso e de Internet    PG 155

Tabela 7. Comparação entre jornalismo impresso e de Internet    PG 156

Tabela 8. Jornalismo ontem e hoje                               PG 180




                                                                        17
Introdução


    Quando o projeto2 desta tese foi elaborado, em meados de 2008, pensava-se a
World Wide Web, o protocolo multimídia da Internet, como uma página estática,
com a lógica do projeto gráfico de jornais, calcada em hierarquia3, diagramação e
colunas (NELSON: 2001), e o browser um emulador do paginador.


    Inclusive o título (Os critérios de composição no Jornalismo Digital – Em busca de
um modelo ideal de páginas noticiosas) remetia a uma clara tentativa de reordenar
a miscelânea configurada pela edição das interfaces naquele período – marcado,
sobretudo, por excesso de redundância e imperativo.


    O uso de redes sociais ainda não era tão representativo como hoje. A curva de
crescimento, principalmente do Facebook, começou a aumentar significativamente
em 2009, segundo a ComScore. Dados da empresa que mede audiência na Internet
mostra que 1,2 bilhão de pessoas acessam redes sociais em todo o mundo.


    Outra característica marcante da produção jornalística na Internet são os
portais e os chamados sites noticiosos. Steve Outing, um dos mais importantes
estudiosos do tema, definiu portal como um agregador de diversas fontes de
conteúdo, centralizados em vários destaques na “página inicial” (OUTING: 1999
apud FERRARI: 2002).


    Quem melhor mostrou a forma pela qual as interfaces foram sendo apropriadas
desde o surgimento do protocolo de Berners-Lee foi Elliot Zaret, então editor da
MSNBC, em 2000, no artigo The Theory of Portal Evolution:


              No começo, tínhamos a Web. Muita informação, vários cliques e isso parecia
              bom. Mas muito rapidamente começou a aparecer muita informação e
              ferramentas de busca foram necessárias para encontrar o conteúdo
              espalhado como em teias de aranha. E depois das ferramentas de busca

2Para ler a íntegra do projeto, ver: http://bit.ly/wwbeOs. Acesso jan. 2012.
3 O dicionário Houaiss define hierarquia como: “organização fundada sobre uma ordem de
prioridade entre os elementos de um conjunto ou sobre relações de subordinação entre os
membros de um grupo”.
                                                                                     18
vieram os diretórios e depois deles os portais, os cliques para e-commerce”
                (apud FERRARI: 2002, p. 17).


    Essa lógica de portais começa a ser questionada por esta jornalista quando há a
percepção do estrondoso interesse no consumo de notícias por meio de redes
sociais. Levantamento da Nielsen Wire já apontava, em 2010, baixa nos índices:
entre 2009 e 2010, a empresa registrou queda de 19% no tempo que os
americanos gastavam acessando portais – de 5,5% para 4,4%. Já o interesse por
redes sociais havia aumentado 43% no mesmo período – 15,8% para 22,7%4.


    No Brasil, embora o Ibope tenha mostrado em 2010 que 60% dos internautas
disseram que as redes sociais são suficientes para se manterem informados5,
afirmou um ano depois que “portais são absolutamente relevantes e são a
referência para o adulto.”


    O portal como espaço estriado, metrificado, com fronteiras delimitadas, já fora
criticado amplamente por André Lemos, professor e pesquisador da Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Para Lemos, os portais são currais porque "configuram-
se como estrutura de informação (conteúdo) que tratam as pessoas como bois
digitais forçados a passar por suas cercas para serem aprisionados em seus
calabouços interativos" (2000).


    Também contribuiu para a mudança de perspectiva desta tese o anúncio do
engenheiro britânico Tim Berners-Lee no TED (sigla em inglês para Technology,
Entertainment, Design) de 2009, um dos mais importantes eventos de tecnologia do
mundo: a migração da cultura de página para a cultura de dados.


    Se antes a proposta era analisar a composição, o design de interfaces
jornalísticas dos jornais (em sites e portais) de maior audiência no Brasil6 e no


4
  WHAT AMERICANS do online: Social media and games dominate activity. Nielsen Wire, EUA, 2
ago 2010. Disponível em: http://bit.ly/yuF8Sp. Acesso jan. 2012.
5 Ver nota 75.
6
  De acordo com dados do Instituto Ibope: Globo Notícias (G1), UOL Notícias Folha (Folha.com), Terra
Notícias, Estadão.com.br, Google News, iG News (Último Segundo), R7 Notícias, BBC, The New York
Times, Band.com.br, CNN, MSNBC, El País, The Guardian e Huffington Post.
                                                                                                 19
mundo, com base na Teoria do Jornalismo, mais especificamente o newsmaking, e
tendo como cerne a narrativa, a afirmação do pai do WWW levou a uma abordagem
completamente diferente. É óbvio que o newsmaking foi fundamental na primeira
fase da pesquisa e também para a sua conclusão.


   Igual importância tem a narrativa. Porém, essas interfaces, objeto desta
pesquisa, passaram a ser observadas sob os pontos de vista do design
informacional, da auto-organização do browser e das dinâmicas das relações que se
estabelecem nas redes sociais, principalmente Twitter e Facebook.


   Não fazia mais sentido aplicarem-se à pesquisa critérios para composição da
página, cujo modelo partia da organização das primeiras páginas dos jornais
impressos. Nem tampouco usar as nomenclaturas orientadas pela reprodução de
metáforas analógicas, como site ou homepage, por exemplo, cujo público-alvo é o
sujeito cartesiano.


   Também não mais cabia propor um modelo de página com base no ideal
kantiano, conforme designava o projeto original, algo que a razão pura exige, mas
que não é dado no campo da experiência.


   Conceito próximo ao de o matemático alemão Richard Dedekind (1831-1916),
que o definiu como um sistema algébrico que atendia a determinadas condições.
Mediante    a    sistematização,   Dedekind   preferia   enfatizar   propriedades
fundamentais dos objetos matemáticos, em oposição às suas representações
particulares.


   É verdade que quando transpostos à Web, os valores-notícia de composição
(WOLF: 2002) não fazem jus aos projetos gráficos que mudaram o Jornalismo
impresso nos anos 1960 e 1970. Alguns não alcançam sequer a metáfora de suas
versões tradicionais.


   Porém numa observação mais aprofundada feita, principalmente, a partir de
dois pontos indica que é possível rever o design informacional na Internet: arte
                                                                              20
digital e rede social (Social News e jornal como rede social). Ou seja, as interfaces,
antes estáticas, tornaram-se nômades7e implodiram o processo comunicacional
baseado na hierarquia. Esse raciocínio deu origem ao título desta tese.


    Implodir a página significa perder a padronização editorial. Essa é atualmente a
grande questão para os jornais, já que o conceito de edição está em xeque. A
informação principal não está mais na manchete, mas no buzz gerado na rede. As
pessoas não seguem mais editorias, buscam notícias por tags, hashtags8 ou em
perfis de jornalistas, cidadãos, instituições ou empresas de comunicação, entre
outros, nas redes sociais.


    As tags são também constituidoras de interfaces. Há um sem número de
exemplos na arte digital e nas redes sociais que demonstram essa possibilidade.
Outro detalhe importante é que nem tags nem hashtags podem ser editadas já uma
vez publicadas. Não há como o Jornalismo poder controlá-las.


    É curioso anotar que se fala da não linearidade do texto jornalístico na Web
desde os primeiros trabalhos publicados, na década de 1990 (sejam eles escritos
para academia ou para o mercado).


    Ao longo dos anos, importantes pesquisadores pregaram essa característica
como     uma     das   definidoras     do    WWW (assim           como     hipertextualidade,
multimidialidade, interatividade, teleação e memória, entre outras) e propuseram
formatos outros (FERRARI: 2007; SALAVERRÍA: 2005, PAUL: 2005, MCADAMS:
2005, MEADOWS: 2003; MIELNICZUK: 2003; MURRAY: 2003, MANOVICH: 2001;
DEUZE: 2001; LÉVY: 1999; LANDOW: 1995).


    Ao que se refere à narrativa, a proposta de Pollyana Ferrari, em sua tese
doutoral para a Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (USP),

7 Um nômade não tem pontos, trajetos, nem terra, embora evidentemente ele os tenha. Eles se
reterritorializam na própria desterritorialização. A terra deixa de ser terra e tende a se tornar
simples solo ou suporte (DELEUZE; GUATTARI: 2007, p. 53).
8 Tags e hashtags são etiquetas, palavras-chave utilizadas na rede para marcar conteúdo. As

hasgtags carregam o sinal sustenido # e são características do Twitter.
                                                                                              21
defende a não hierarquização da narrativa: “Na Web não há hierarquia absoluta.
Cada leitor é um agente de seleção, de bifurcação, ou de transversalidade, em
camadas rizomáticas” (2007, p. 186-187).


     Ted Nelson fizera afirmação semelhante no começo dos anos 2000 e antes do
WWW, com seu Xanadu, na década de 1960. Giselle Beiguelman corrobora essa
ideia em O livro depois do livro (2003).


     Embora haja diversas propostas para narrativas textuais e constituições de
interfaces como o Xanadu, de Nelson, o design de interface ficou relegado ao
formato jornal.


     Isso é percebido nos excelentes projetos para a Internet assinados por
empresas mundo afora, como García Media9, capitaneada por Mario García,
passando pela Case i Associats10, de Francisco Amaral, e Institute for the Future of
the Book11, comandado por Bob Stein, responsável pelo redesenho de Wired e The
New Yorker (Web e tablet). O design assemelha-se, nas palavras do pesquisador
russo Lev Manovich, a um PowerPoint com mídias distribuídas (2008, p. 45).


     De modo algum tal informação é exagero. Em 2011, os principais profissionais
dessa área participaram do LIDE2011 (Linguagem, Informação e Design
Editorial)12, entre eles, Chiquinho Amaral, que definiu o desenho do iPad para O
Estado de S.Paulo como “editado e diagramado”.


     A estética da base de dados inexistiu naquele debate nem tampouco a
importância da não diagramação e da não hierarquização empurradas pelas redes
sociais. De modo geral, conclui-se que a Web se assemelhará ao papel; os projetos
são pautados pela hierarquia, e o iPad é uma banca de revistas, ainda que sua
interface seja horizontal e vertical.

9 Para saber mais sobre a García Media, ver: http://bit.ly/wkkKs5. Acesso jan. 2012.
10 Para saber mais sobre a Case i Associats, ver: http://bit.ly/zHGRK1. Acesso jan. 2012.
11 Para saber mais sobre o Institute for the Future of the Book, ver: http://bit.ly/AogqNY. Acesso

jan. 2012.
12 Para saber mais sobre o LIDE2011, ver: http://bit.ly/xJoeKA. Acesso jan. 2012.

                                                                                               22
Mas as conclusões do LIDE2011 não chegam perto da reformulação conceitual
impulsionada pela dinâmica das redes. Talvez por uma questão mercadológica,
como afirmaram os designers Gabriel Gianordoli e Jorge Oliveira: “A Apple
descobriu que revista se compra na banca. Na banca da Apple Store!”. Para os
profissionais, “caiu o conceito de página,” conforme Berners-Lee havia previsto no
TED ao anunciar a cultura de dados.


     E as redes são um reflexo dessa mudança: operam por agenciamentos coletivos
de enunciação, orquestrados por produser/prosumer e um coletivo inteligente que
transformam a interface em um “mapa aberto, conectável em todas as suas
dimensões,     desmontável,      reversível,    suscetível    de   receber     modificações
constantemente” (DELEUZE; GUATTARI: 2006, p. 22).


     Na rede, o design é fruto de revezamento: uma tensão constante entre
informação e contrainformação (DELEUZE: 2011), poder e contrapoder
(FOUCAULT: 1999; CASTELLS: 2009)13.


     Embora, a configuração seja a de um espaço liso por excelência, sem fronteiras
delimitadas, nômades, há sempre a tentativa de estriá-lo (DELEUZE: GUATTARI:
2007, p. 80), como ocorreu recentemente com os protestos contra as leis
antipirataria (SOPA) e de propriedade intelectual (PIPA) nos Estados Unidos.


     Se aprovadas fossem, essas leis permitiriam bloquear interfaces que
supostamente violassem direitos autorais de empresas americanas, penalizando
também companhias com sede nos Estados Unidos que liberarem acesso a esses
conteúdos.


     Porém, uma crítica feita pelo governo Barack Obama14 e movimentos nas redes
sociais capitaneados por Google, Wordpress, Wikipedia, Craiglist (classificados),

13 Michel Foucault define contrapoder como ações de resistência contra aparelhos de captura
(1999, p. 30). Já para o Manuel Castells, trata-se da capacidade de um ator social resistir ou
enfrentar relações de poder institucionalizadas (2009, p. 47-49).
14 CASA BRANCA critica lei antipirataria. Link Estadão. 16 jan. 2012. Disponível em:

http://bit.ly/y09rCh. Acesso jan. 2012.
                                                                                           23
Ubuweb (base de dados de poesia sonora, escrita e visual), Flickr, Gizmodo, The
Huffington Post e Wired, entre outros15, e cidadãos mundo afora fez com que o
Congresso adiasse indefinidamente a votação dos projetos16.


     São os percursos pelos quais o Jornalismo passou – desde a publicação daquela
que é considerada a primeira tese produzida pelo alemão Tobias Peucer, em 1690,
quando foram sistematizados critérios de noticiabilidade e práticas da profissão, à
apropriação das redes sociais por esse campo da Comunicação – que interessam a
esta tese abordar.


     O objetivo é contribuir para os estudos sobre design informacional na Internet,
especificamente ao que se refere à interface da notícia que circula no fluxo cujo
tempo é atemporal (CASTELLS: 2002, p. 553-560).


     Por essa razão, o primeiro capítulo apresenta uma revisão histórica do
Jornalismo produzido na Internet desde os anos 1970, quando o The New York
Times realizou suas primeiras experiências em rede com o InfoBank, serviço de
informação com artigos do jornal. Em 1969, a BBC já havia realizado testes com
videotexto.


     A expansão da Internet das Coisas bem como o fim da ideia de ciberespaço
como um divisor entre real e virtual dão evidências consistentes da reconfiguração
da interface jornalística. A notícia pode ser acessada desde dispositivos portáteis a
uma parede envolvida por tinta digital17, sem formatos previamente definidos.
Também é passado em revista o design gráfico de jornais para um entendimento
melhor sobre a forma pela qual se dá a atual exibição de notícias na rede.



15 Para saber quem mais protestou contra o SOPA, ver: http://bit.ly/y1XTzU. Acesso jan. 2012.
16 SOPA é retirada da pauta do Congresso dos EUA. Link Estadão. 20 jan. 2012. Disponível em:
http://bit.ly/yDYpwT. Acesso jan. 2012.
17 A tecnologia da tinta digital consiste de duas camadas de esferas microscópicas – metade pretas,

metade brancas – que mudam de posição ao receberem estímulos elétricos. Como a tecnologia
dispensa a iluminação backlight e só é necessário aplicar energia para alterar a imagem, e não para
exibi-la, este sistema consome muito menos bateria do que uma tela de cristal líquido tradicional.
Para saber mais sobre tinta digital, ver: http://bit.ly/z4qwk9 e http://bit.ly/x0r4uf. Acesso jan.
2012.
                                                                                                24
Definir Jornalismo e sistematizar conceitos que correspondem à sua prática,
como newsmaking (produção de notícias), gatekeeper (seleção de notícias) e
agenda-setting (agenda de pautas), são fundamentais no segundo capítulo para
compreender como a cultura de dados modificou o padrão de comunicação que
vigorou no século 20, baseado em transmissão, publicação e recepção.


   A esse padrão foram incluídos os seguintes termos: anotar, comentar,
responder, agregar, cortar, compartilhar, remix, download, upload, input, output e
crowdsorcing. (MANOVICH: 2008, p. 226).


   Essa reconfiguração paradigmática ocorreu em termos no Jornalismo praticado
na Internet. A constituição da interface observada no final dos anos 2000 revelada
por duas pesquisas (uma feita em 2008 e a outra em 2010) aplicadas aos jornais
que compõem o corpus desta tese indica, além da vertente estruturalista,
problemas já apontados aqui: redundância, imperativo, além da não aplicação de
valor-notícia de composição, que norteia na mídia impressa o design das páginas.


      Esse raciocínio se estende ao longo dos capítulos 2 e 3. Em 2012, nova
análise mantém a mesma estrutura.


   Outras duas questões pertinentes a este trabalho sobre o Jornalismo de
Internet foram:


   1) a desconstrução de algumas características tomadas como exclusivas, como
multimidialidade e interatividade, por exemplo; 2) a não aplicação das quatro fases
estabelecidas – metáfora, Internet + metáfora; Internet + open source e JDBD
(Jornalismo Digital em Base de Dados) – por uma simples razão: na rede, o browser
é um paginador e, sendo assim, uma página em branco, diagramada em colunas e
hierarquizada.


   Portanto, não é possível observá-lo do ponto de vista da evolução (FOUCAULT:
2007, p. 28). O mais correto é uma análise cujo método se divide em: remediação -

                                                                                   25
representação de uma mídia em outra (BOLTER; GRUSIN: 2000) e media
visualization - mistura de formatos e formas (MANOVICH: 2010).


   É no terceiro capítulo que começa a tomar forma a interface da notícia que
circula no fluxo principalmente por causa dos elementos de ruptura, como
filtragem colaborativa (baseada na transferência do gosto) e recomendação
(JOHNSON: 2001, p. 143-145).


   Mais a nova linguagem visual híbrida, proposta por Lev Manovich, que leva em
conta o uso de tags, não para atomizar informação, mas com o objetivo de
aprofundá-la (2010); da crítica da criação baseada na metáfora, da falta de
vocabulário crítico específico; da importância da arte digital como parâmetro de
interface não hierarquizada; da relação com a fonte, que se deslocou especialmente
com o Wikileaks.


   Também não se pode deixar de mencionar como nomadismo, agenciamento
coletivo de enunciação e revezamento são a chave para o Jornalismo operar nas
redes sociais sem abandonar as teorias que o sustenta.


   A seguir, o escopo do projeto mostra de que maneira esta tese foi constituída
entre 2008 e 2012:


Objeto: interface jornalística


Corpus: Globo Notícias (G1), UOL Notícias Folha (Folha.com), Terra Notícias,
Estadão.com.br, Google News, iG News (Último Segundo), R7 Notícias, BBC, The New
York Times, Band.com.br, CNN, MSNBC, El País, The Guardian e Huffington Post.


Objetivos e Hipóteses


  Objetivo principal: repensar a interface da notícia que circula na Web



                                                                                26
Objetivos secundários


   1. Investigar como o avanço da tecnologia possibilita novos formatos e
      examinar que modelos têm sido gerados a partir dessas inovações.
   2. Verificar se a ativação desses potenciais (geração de novos formatos)
      depende das formas sociais das apropriações dessas tecnologias e de
      fatores como modelo de negócio ou resistência administrativa ou
      profissional/corporativa à mudança, entre outros.
   3. Averiguar os parâmetros editoriais sobre arquitetura na Web. Se os jornais
      seguem um padrão de identidade visual. Se existe algo que os diferencie.


   Hipótese central: A interface teve que se deslocar porque a produção noticiosa
está se modificando?


   Hipóteses secundárias


   1. O Jornalismo de Internet atual não consegue converter em seus interesses a
      notícia que circula nas redes sociais.
   2. A interface se auto-organiza por revezamento e agenciamento.
   3. A Social News alterou significativamente a forma pela qual a notícia é
      produzida e disseminada.
   4. A Web não é o único protocolo a permitir uma estética do banco de dados.


   Metodologia


   O método de pesquisa está sistematizado em:


        •   Pesquisa bibliográfica para ampliar o quadro referencial teórico-
            metodológico
        •   Sistematizar a historicidade dos modelos de interfaces jornalísticas
            desenvolvidas desde que surgiram as primeiras até os atuais formatos
            em uso na Internet e apresentar tendências.


                                                                                 27
•   Estudo da composição das interfaces do corpus da pesquisa por meio
    de questionário de avaliação que levou em conta os seguintes
    conceitos: alteridade (HALL: 2001); interface (JOHNSON: 2001);
    arquitetura da informação (ROSENFELD; MORVILLE: 1998);
    interatividade (MEADOWS: 2003); usabilidade (NIELSEN: 2000);
    teleação (MANOVICH: 2001); remediação (BOLTER; GRUSIN: 2000);
    semelhança e similitude (FOUCAULT: 2002; 2007); endoestética
    (GIANETTI: 2006); cultura cíbrida (BEIGUELMAN: 2004) e
    narrativas (MOHERDAUI: 2007). Tais conceitos serão definidos na p.
    99.




                                                                   28
Capítulo 1




                 “Falar em
             cibercultura é
                   negar a
                 realidade”

             Lev Manovich




                            29
Capítulo 1: Internet das Coisas


A rede mundial de computadores


          A Internet, a rede mundial de computadores, foi criada pelo governo dos
Estados Unidos em 1969 para uso militar, como proteção contra um possível
ataque russo durante a Guerra Fria. Chamada inicialmente Arpanet, começou a
funcionar em quatro computadores na Universidade da Califórnia (UCLA, sigla em
inglês)18.


          O nome Arpanet tem origem na Agência de Projetos de Pesquisa Avançada
do Departamento de Defesa dos EUA (DARPA, sigla em inglês). Depois, a rede
interligou outros centros de pesquisas e universidades. Ao se expandir para outros
países, ganhou o nome de Internet e foi apropriada em todo o mundo por indivíduos e
grupos:


                            (...) O resultado foi uma arquitetura de rede que, como queriam
                            seus inventores, não pode ser controlada a partir de nenhum
                            centro e é composta por milhares de redes de computadores
                            autônomos com inúmeras maneiras de conexão, contornando
                            barreiras eletrônicas. (...) Essa rede foi apropriada por indivíduos
                            e grupos no mundo inteiro e com todos os tipos de objetivos, bem
                            diferentes das preocupações de uma extinta Guerra Fria
                            (CASTELLS: 2002, p. 44).


          Dois anos depois, empresas jornalísticas começaram a utilizar a Internet
para distribuir informação. A inglesa BBC e o The New York Times foram os
primeiros a fazer parte dela. Ainda em 1969, a BBC iniciou testes com um novo
formato de mídia para transmitir texto e gráficos por computador: o videotexto. O
Times criou o InfoBank, serviço de informação com artigos do jornal por meio de
um sistema chamado Biennial Reporting System (BRS)19.


          A década de 1970 foi marcada por grandes inovações tecnológicas, como o
desenvolvimento do primeiro sistema de rede sem fio baseado em rádio, o

18   NEW MEDIA Timeline (1969) - Poynter. Disponível e m http://bit.ly/k39HLd. Acesso jul. 2011.
19   Para saber mais sobre o BRS, ver: http://bit.ly/kRc4kg. Acesso. Ago. 2011.
                                                                                               30
Alohanet. A IBM anunciou o computador System/370 com suporte para memória e
a Intel um processador mais veloz, 0 4004. Também chegaram ao mercado os
computadores pessoais: Altair, criado por Ed Roberts, parceiro de Bill Gates, e
Apple, de Steve Jobs e Steve Wozniak.


       Não foi diferente com o Jornalismo. O primeiro registro de uso de
computador para envio de texto ocorreu na redação da Associated Press, na
Carolina do Sul, em novembro de 1970. Na mesma década, os jornais trocaram a
produção mecânica pela computadorizada. Jornalistas passaram a criar banco de
dados, e os jornais a vendê-los.


       A imprensa começava a decretar o fim do uso da máquina de escrever. O
The Wall Street Journal iniciou a transmissão de edições via satélite e o videotexto
chegou às agências de notícias. São também do mesmo período os correios
eletrônicos e os disquetes, hoje substituídos por computação na nuvem20, entre
outros dispositivos de armazenamento de dados.


       Nos anos 1980, vieram os laptops para facilitar o trabalho dos profissionais
de imprensa, que podiam enviar suas matérias de qualquer lugar, e serviços de
linha discada para conexão à Internet, como o Bulletin Board System (BBS). Entre as
novidades estão: computador pessoal de IBM, Apple (Machintosh), Compaq,
modens, sistemas operacionais MS-DOS e Windows, Sistema de Domínio da
Internet (DNS, sigla em inglês), impressoras a laser.


       Nos jornais, foram lançadas operações de teletexto e audiotexto.


       Dez anos depois, o engenheiro britânico Tim Berners-Lee anunciou a World
Wide Web. O protocolo de Berners-Lee tornou realidade as associações entre
textos, cuja menção foi feita pela primeira vez pelo também engenheiro, mas de
origem americana, Vanevar Bush21, em, 194522:


20 Para saber mais sobre computação na nuvem, ver: http://bit.ly/pZPiNm. Acesso mar. 2012.
21 Para saber mais sobre Vanevar Bush, ver: http://bit.ly/pTYQk2. Acesso mar. 2012.
22 BUSH, V. As we may think. In: http://bit.ly/nbUKuv. Acesso mar. 2012.

                                                                                             31
O homem não pode esperar plenamente para duplicar esse
                         processo mental artificialmente, mas ele certamente deve ser
                         capaz de aprender com ele. Em pequenas coisas que ele pode até
                         melhorar, para ter em seu registro uma relativa permanência. A
                         primeira ideia, no entanto, é retirar da analogia as preocupações
                         selecionadas. Seleção por associação, em vez de indexação, pode
                         inclusive ser mecanizada. Não se pode esperar, portanto, para
                         igualar a velocidade e flexibilidade com que a mente segue uma
                         trilha associativa, mas deve ser possível ter a mente decisiva no
                         que diz respeito à permanência e clareza dos itens advindos do
                         armazenamento. Considere um dispositivo futuro para uso
                         individual, que é uma espécie de arquivo privado mecanizado e
                         biblioteca. Ele precisa de um nome, e uma moeda ao acaso, memex
                         vai nomeá-lo. A memex é um dispositivo no qual uma loja
                         individual vende seus livros, registros e comunicações e que é
                         mecanizado a fim de poder ser consultado com flexibilidade e
                         extrema velocidade (BUSH: 1945).

       Anos mais tarde, Theodor Holm Nelson ou Ted Nelson, como é conhecido o
filósofo e sociólogo americano23, cunhou o termo que denomina tais associações:
hipertexto24. É dele também hipermídia, uma espécie de extensão do hipertexto,
porém com documentos que contêm gráficos, vídeos, áudios, textos e links que se
entrelaçam na Web25.


       Aliás, uma das principais características da Web - e, talvez, a que mais bem a
defina - é o link. David Weinberger escreveu em The Hyperlinked Metaphysics of
the Web que a Web só existe por causa dos hiperlinks (2000).


       O hipertexto é também uma forma de recuperar informação. Essa noção
está presente nos estudos de Roland Barthes. Ele a chamou Lexia, unidades de
leitura ou blocos de significação (1970, p. 20).


       Em Arqueologia do Saber, Michel Foucault afirma que a ideia de referência
de uma obra à outra está diretamente relacionada à de hipertexto: “além do título,
das primeiras linhas e do ponto final, além de sua configuração interna e da forma


23 Para saber mais sobre Ted Nelson, ver: http://ted.hyperland.com. Acesso mar. 2012.
24  Hipertexto é um texto exibido no computador ou em outro dispositivo com referências
(hiperlinks) a outro texto. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Hypertext. Acesso mar.
2012.
25 O termo hipermedia é uma extensão do hipertexto que contém gráficos, áudio, vídeo, texto e

hiperlinks. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Hypermedia. Acesso mar. 2012.
                                                                                           32
que lhe dá autonomia, ele está preso em um sistema de remissões a outros livros,
outros textos, outras frases: nós em uma rede” (2007. p.26).


          O conceito de intertextualidade remete também à linkagem. Foi cunhado
por Julia Kristeva e muito utilizado por Jacques Derrida: “todo texto se constrói
como um mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de outro
texto” (KRISTEVA: 1969, p. 146).


          Embora discípulo de Vanevar Bush, Ted Nelson ponderou sobre a
necessidade de categorizar as informações para que possam mais tarde ser
recuperadas. Para Nelson, não há nada de mal em categorizar. “O problema é que
esses sistemas têm vida curta. Em poucos anos, tornam-se estúpidos” (LANDOW:
1995, p. 27).


          Entretanto, é possível categorizar e fazer associações sem que a estrutura
determine: por meio de input inteligente de dados e tags, aliados à programação.
Essa ação conjunta muda a perspectiva não só da narrativa em base de dados, mas
do design de interface. A tag é um termo ou palavra-chave associado a uma
informação para relacionar conteúdo26. O uso de tags será detalhado mais adiante.


          Nelson é hoje um dos críticos mais contundentes da Web, mais
especificamente do modo pelo qual são constituídas interfaces, navegação e links. É
do teórico americano a famosa frase: “uma interface deve ser tão simples que um
iniciante, numa emergência, não leve mais de dez segundos para entendê-la"
(tradução em inglês de “a user interface should be so simple that a beginner in an
emergency can understand it within ten seconds”).


          Para Nelson, o projeto do WWW é “limitado, os links são unidirecionais,
levam a um só lugar. Todos do mesmo jeito. O browser simula o papel, é
diagramado em colunas e é hierarquizado”. A Web, afirma o sociólogo, “é coisa do
passado, quadrada demais”.


26Para   saber mais sobre tags, ver http://bit.ly/qWlfh7. Acesso dez.2011.
                                                                                 33
(...) Não podemos esquecer que Internet e Web são coisas
                            diferentes (...). E acho todos os navegadores ruins, ultrapassados e
                            limitados. Passei a década de 90 estudando o que era possível
                            fazer para criar um sistema que substituísse a Web e aproveitasse
                            todas as possibilidades da Internet. Então, criei esse sistema novo,
                            o Xanadu Spaces, que substitui a Web (NELSON: 2007).

          O sociólogo americano propôs, antes de o protocolo surgir, o Xanadu27,
primeiro software a ter links conectados a outros documentos. O Projeto Xanadu
começou na década de 1960.


          Trata-se de um sistema de hipertexto, com uma interface inteligente de
linkagem que respeita os direitos autorais e permite uma navegação não
sequencial, por associação, como é cérebro humano. O Xanadu ainda não foi
finalizado, mas a forma pela qual foi concebido e os conceitos criados contribuíram
para o que a Web é atualmente.


          É verdade que os browsers têm limitações. Quem não se lembra dos
primeiros? E de suas interfaces? Mosaic, primeiro browser gráfico, lançado pelo
Centro Nacional de Aplicações de Super Computação (NCSA), em Champaign,
Illinois, Netscape Navigator, da Netscape, e Explorer, da Microsoft. Vieram outros
depois, como Google Chrome, Mozilla e Safari.


          E é verdade que eles também simulam o papel. Simulavam no inicio da Web
e continuam a simular, mas agora com um detalhe: são incrementados com
novidades tecnológicas. Mas a estrutura permanece a mesma.




27   A íntegra do projeto Xanadu está disponível em: http://bit.ly/snGeBH. Acesso dez. 2011.
                                                                                               34
Figura 1. Mosaic, o primeiro browser gráfico




                                         Figura 2. Netscape Navigator28


Economia: a primeira bolha


           Entretanto, não se trata apenas de uma questão técnica ou conceitual. Há
também que se considerarem fatores econômicos e culturais. Empresas operam
em uma lógica capitalista e os primeiros anos da Web foram marcados pela
primeira bolha da Internet, um processo de especulação em torno de empresas que
constituíram ou migraram seus negócios para a rede, especialmente comércio
eletrônico, de 1995 a 2000, com altos investimentos em projetos às chamadas
start-ups29.




28
     As imagens dos browsers Mosaic e Nestcape são reproduções da Wikipedia.
29
     Para saber mais sobre startups, ver http://bit.ly/ocDvQp.
                                                                                 35
O resultado foi uma vertiginosa queda na Nasdaq, bolsa de valores na qual
aquelas empresas negociavam suas ações: em 10 de março de 2000, a bolsa
registrou baixa de 4% e não parou mais de cair. As perdas alcançaram 75%.


        O lucro demorou a chegar a esses setores, e não são muitas as companhias
com balanços positivos de suas operações, à exceção de grandes players como a
Google, criada em 1998 e cuja busca o levou a lucros exorbitantes30. São também
exemplos bem-sucedidos a rede social Facebook e Groupon, serviço de venda
coletiva, entre outros.


        Há quem acredite que os serviços de venda coletiva são um dos pontos
centrais da segunda bolha da Internet porque criam problemas para seus
parceiros. De um lado, porque a maioria vende audiências fictícias. Depois, porque
as promoções pouco agregam às empresas (NASSIF: 2011).


        Por exemplo, uma pizzaria vendia pizzas a R$ 15,00. Entrava em uma
promoção e o site de compras oferecia a R$ 3,00. A pizzaria lotava, mas de um
público que, passada a promoção, dificilmente voltaria lá. Não era seu público alvo.
Esse risco está restrito à economia americana. No Brasil, projetos dessa natureza
estão sendo avaliados com uma dose a mais de realismo (IBIDEM).


        Embora a Internet seja a primeira mídia pública a ter uma economia pós-
Gutenberg (SHIRKY: 2010, p. 53), modelo de negócio nesse setor continua sendo
um ponto nevrálgico até hoje, sobretudo após o Jornalismo ter incorporado as
redes sociais em sua produção diária, cuja lógica de funcionamento opera na
contramão de portais e sites constituídos para aglomerar conteúdo.


        As redes sociais, ao contrário, pulverizam o conteúdo e reconfiguram o fazer
jornalístico, principalmente em relação aos critérios de noticiabilidade, cuja teoria
será detalhada mais adiante. Trata-se de uma relação tensionada entre espaço liso
(nômade, sem fronteiras delimitadas) e estriado (aparelho do Estado, institucional,

30 Para conhecer a história da Google, acesse: http://bit.ly/FaeZn ou http://bit.ly/mM1l0F. Acesso

jul. 2011.
                                                                                               36
metrificado e distribuído), conceitos abordados pelos filósofos franceses Gilles
Deleuze e Félix Guattari no quinto volume de Mil Platôs (2007).


       Para Deleuze e Guattari, os nômades são como máquinas de guerra, ou seja,
uma máquina de movimentação permanente no território, e os aparelhos de
captura dependem da noção de sujeitos universais. Tudo vale para todos, a regra é
absoluta, não funciona com desvio.


       Observados sob essa ótica, os portais seriam aparelhos de captura, que
operam em espaços estriados, e redes sociais como o Twitter (www.twitter.com) e
Facebook (www.facebook.com) seriam as máquinas de guerra, nômades do espaço
liso em constante tensão com aparelhos de captura.


       De novo, o que está em jogo é um modelo que dê conta dessa nova dinâmica.
Um caminho, talvez, seja a economia baseada em aplicativos já que desde 2007
vários jornais ligados à mídia tradicional fecharam ou deixaram de produzir versão
impressa. E muitos estão na Internet lutando por paywall e assinaturas.


       Em artigo para o Nieman Journalism Lab, Nicholas Carr, autor do best-seller
The Big Switch: Rewiring the World, from Edison to Google, afirmou que os
aplicativos serão o grande commodity em 201231:


                         Aplicativos prometem ser a maior força de reformulação da mídia
                         em geral e meios de comunicação, em particular durante 2012. A
                         influência será exercida diretamente – por meio de uma
                         proliferação de aplicativos mídia especializada, bem como
                         indiretamente - por meio de mudanças nas atitudes dos
                         consumidores, expectativas e hábitos de compra. Há todos os
                         tipos de implicações para os jornais, mas talvez o mais importante
                         é que a explosão app torna muito mais fácil de cobrar por notícias
                         online e outros conteúdos. Isso é verdade não apenas quando o
                         conteúdo é entregue por meio de aplicativos formais, mas também
                         quando é entregue por meio de sites tradicionais, que podem, eles
                         próprios, ser vistos pelos clientes como uma forma de app. No


31ARE NEWSPAPERS civic institutions or algorithms? Big Think, EUA, 16 jan. 2012. Disponível em:
http://bit.ly/ydfh8x. Acesso jan. 2012.


                                                                                            37
velho mundo da Web aberta, pagar por conteúdo on-line parecia
                         estranho, na melhor das hipóteses, já na pior, repugnante. No
                         novo mundo do app, pagar por conteúdo online, de repente parece
                         normal. O que é uma loja de aplicativos, a não ser uma série de
                         paywalls?


       A economia baseada em aplicativos pode apresentar bons resultados
principalmente por duas razões: a primeira delas é a segmentação, que permite
monitorar os usuários e, com isso, pensar em estratégias de marketings específicas
para eles, o que é valiosíssimo para os anunciantes.


       A outra é o fato de que, embora as pessoas queiram consumir conteúdo
grátis na Internet, estão dispostas a pagar entre US$ 0,99 e US$ 3,99 por aplicativos
na Apple Story, por exemplo. Em julho de 2011, a empresa anunciou 15 bilhões de
downloads em seu e-commerce. E pagou US$ 2,5 bilhões a desenvolvedores32.




       Figura 3. Infográfico receita por usuário - Reprodução KissMetrics




32
   EM TRÊS ANOS, loja de aplicativos da Apple atinge 15 bilhões de downloads. G1, São Paulo, 7
julh. 2011. Disponível em: http://glo.bo/yuCTpu. Acesso jan. 2012.
                                                                                           38
Tudo agora é ciberespaço


       Mas há outra questão de igual importância: o ambiente criado pela Internet.
Há, de fato, um novo ambiente? Trata-se de um mundo virtual? Ciberespaço? Seria
uma espécie de Second Life, como defendeu Ted Nelson, em 2007 à revista Época?:
“Second Life é um exemplo de inovação dos programas de interação entre homens
e máquinas. A interface em 3D é o futuro da Internet. Vai provocar uma revolução
tão grande quanto a Web”33.


       Na maioria das vezes, utilizada para definir o irreal, a palavra virtual tem
origem no latim medieval virtualis, derivado de virtus, força, potência. Na filosofia
escolástica, o virtual é o que existe em potência e não em ato. Jean Baudrillard o
definiu como o desaparecimento do real (LÉVY: 1998, p. 24,25). Paul Virilio o
chamou implosão espaço-tempo.


       Pierre Lévy o assume como um modo de ser fecundo e poderoso, que põe
em jogo processos de criação, abre futuros, perfura poços de sentido sob a
platitude da presença física imediata.


       O filósofo francês é contrário à oposição entre real e virtual. Para Lévy, o
virtual não se opõe o real, mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas
maneiras de ser diferentes. Virtual é o inapreensível enquanto real é o tangível. O
virtual não é imaginário, ele produz efeitos. O virtual é a atualização do real
(IBIDEM, p. 12, 15, 21).


       Gilles Deleuze fez uma distinção entre possível e virtual em Différence et
Répétition (1968): o possível já está todo constituído, mas permanece no limbo. O
possível se realizará sem que nada mude em sua determinação nem em sua
natureza. É um real fantasmático, latente. O possível é exatamente como o real: só
lhe falta a existência. Para Michel Serres, o virtual é a não presença.



33 A SEGUNDA vida da Internet. REVISTA ÉPOCA, São Paulo, mar. 2007. Disponível em:

http://glo.bo/jXbVu3. Acesso jun. 2011.
                                                                                  39
“A imaginação, a memória, o conhecimento, a religião, são vetores da
virtualização que nos fizeram abandonar a presença muito antes da informatização
e das redes digitais”, escreveu Pierre Lévy em O que é o virtual? (1998). Para
explicar a não presença, Lévy cita como exemplos o texto e o hipertexto:


                      (...) O senso comum faz do virtual, inapreensível, o complementar
                      do real, tangível. Essa abordagem contém uma indicação que não
                      se deve negligenciar: o virtual, com muita frequência, não está
                      presente. (...) Estará o texto aqui, no papel, ocupando uma porção
                      definida do espaço físico, ou em alguma organização abstrata que
                      se atualiza numa pluralidade de línguas, de versões, de edições, de
                      tipografias? Ora, um texto em particular passa a apresentar-se
                      como a atualização de um hipertexto de suporte informático. Este
                      último ocupa virtualmente todos os pontos da rede ao qual está
                      conectada a memória digital onde se inscreve seu código? Ele se
                      estende até cada instalação de onde poderia ser copiado em
                      alguns segundos? (LÉVY, 1998, p. 19,20).

                      Claro que é possível atribuir um endereço a um arquivo digital.
                      Mas nessa era de informações on-line, esse endereço seria de
                      qualquer modo transitório e de pouca importância.
                      Desterritorializado, presente por inteiro em cada uma de suas
                      versões, de suas cópias e de suas projeções, desprovido de inércia,
                      habitante obíquo do ciberespaço, o hipertexto contribui para aqui
                      e acolá acontecimentos de atualização textual, de navegação e de
                      leitura. Somente esses acontecimentos são verdadeiramente
                      situados. Embora necessite de suportes físicos pesados para
                      subsistir e atualizar-se, o imponderável hipertexto não possui um
                      lugar (IBIDEM).


      Essa ideia de não lugar, de não presença, também está presente na definição
de ciberespaço. Aliás, muitas vezes utilizado como sinônimo de mundo virtual ou
mundo digital. Foi o escritor Willian Gibson quem cunhou o termo em 1982 e o
publicou dois anos mais tarde em seu famoso livro Neuromancer:


                      O ciberespaço. Uma alucinação consensual vivida diariamente por
                      bilhões de operadores autorizados, em todas as nações, por
                      crianças aprendendo altos conceitos matemáticos... Uma
                      representação gráfica de dados abstraídos dos bancos de todos os
                      computadores do sistema humano. Uma complexidade
                      impensável. Linhas de luz abrangendo o não espaço; nebulosas e
                      constelações infindáveis de dados. Como marés de luzes de cidade
                      (GIBSON: 2003, p. 67-68).




                                                                                      40
Pierre Lévy utiliza a definição de Gibson em Cibercultura (1999) e a amplia:
“O ciberespaço de Gibson torna a geografia móvel da informação normalmente
invisível. O termo foi imediatamente retomado pelos usuários e criadores de redes
digitais.” E vai além:


                         Eu defino ciberespaço como o espaço de comunicação aberto pela
                         interconexão mundial de computadores e das memórias de
                         computadores. Essa definição inclui o conjunto de sistemas de
                         comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de redes
                         hertzianas e telefônicas clássicas), na medida em que transmitem
                         informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à
                         digitalização (LÉVY: 1999, p. 92).


       Em 2007, em entrevista ao jornal americano The Washington Post34, Gibson
anunciou o fim do ciberespaço. Para o escritor, agora o ciberespaço é aqui.


                         Quando escrevi Neuromancer, quase 25 anos atrás, o ciberespaço
                         estava lá, e nós estávamos aqui. Em 2007, o que não nos
                         importamos mais em chamar de ciberespaço está aqui, e aqueles
                         momentos sem conectividade, cada vez mais raros, estão lá. E aí
                         está a diferença. Não houve um amanhecer tingido de vermelho
                         em que nos levantamos, olhamos pela janela e dissemos: ‘Oh meu
                         Deus, tudo é ciberespaço agora. (WASHINGTON POST: 2007).


       O argumento de Gibson é bastante coerente. No Brasil, no início dos anos
2000, para acessar a Internet era preciso um computador, um modem e um cabo de
rede. Hoje, basta um dispositivo35 móvel (celular, tablet ou smartphones, entre
outros) com conexão sem fio. No primeiro trimestre de 2011, 24,4 milhões de
brasileiros utilizaram banda larga móvel36. Em todo o mundo, o número de pessoas
com acesso à rede tem aumentado consideravelmente.


       Em 2000, eram 250 milhões. No final de 2010, ultrapassou dois bilhões de
pessoas. Também registrou crescimento expressivo a conexão móvel. Em todo o
mundo, 940 milhões acessaram a Internet via banda larga móvel contra 550


34GARREAU, J, 2007.
35O dicionário Houaiss define dispositivo como: em máquinas, peça ou mecanismo com uma função
especial ou aparelho construído com determinado fim; engenho.
36 USO de banda larga no Brasil cresceu 138%. Último Segundo, São Paulo, 12 mai. 2011.

Disponível em http://bit.ly/jrmKWt. Acesso jan. 2012.
                                                                                          41
milhões via banda larga fixa, segundo dados da Organização das Nações Unidas
(ONU) referentes a janeiro de 201137.


        Graças à computação ubíqua (ou ubicomp, abreviação em inglês de
ubiquitous computing), a Internet implodiu a divisão real e virtual, transformando-
se em Internet of Things38 (Internet das Coisas) e jogou por terra todos esses
conceitos. O termo computação ubíqua foi cunhado por Mark Weiser em 1988
quando estava à frente do Departamento de Tecnologia do Centro de Pesquisa da
Xerox, em Palo Alto (Parc, sigla em inglês).


        Para Weiser, o futuro da tecnologia da informação é ser um utilitário, algo
como o gás e a eletricidade (KRANENBURG: 2008, p. 7). E essa realidade já faz
parte do cotidiano:


                           Computação ubíqua (muitas vezes referida como ubicomp)
                           descreve um conjunto de processos onde a tecnologia da
                           informação tem sido completamente integrada em objetos e
                           atividades do cotidiano: a tal ponto que o usuário muitas vezes
                           nem percebe ao fazê-lo. Ubicomp não é apenas uma parte de
                           nossas cidades do futuro. Seus dispositivos e serviços já estão
                           aqui. Pensar no uso de cartões pré-pagos inteligentes para o uso
                           de transportes públicos ou as etiquetas exibidas em nossos carros
                           para ajudar a regular os preços de congestionamento, ou a
                           maneira pela qual as corporações encaminham e transportam
                           mercadorias em todo o mundo. Estes sistemas irão expandir
                           geometricamente na próxima década, construindo os blocos para
                           as nossas cidades do futuro (IBIDEM).


        O escritor Americano Clay Shirky, um dos mais importantes pesquisadores
sobre cultura digital da atualidade e autor de Cultura da Participação (2010),
arrancou o termo de seu dicionário: “A ideia com a qual eu cresci, de ir a um
lugar separado do mundo real, é algo que os meus alunos não conseguem




37 NÚMERO de internautas ultrapassa 2 bilhões, afirma ONU. Interactive Advertising Bureau, São
Paulo, 27 jan. 2011. Disponível em: http://bit.ly/uQbs0E. Acesso jan. 2012.
38
   O termo Internet of things foi cunhado por Kevin Ashton em 1999. Para saber mais sobre Ashton, ver:
http://bit.ly/AdUhlj. Acesso jan. 2012.
                                                                                                   42
entender. A Internet traz a todos os lugares alguns dos enigmas da vida na
cidade grande” (2009)39.


       O russo Lev Manovich também o fez. Em entrevista a O Estado de S.Paulo em
2009 afirmou o seguinte:


                        Nos anos 90, só se falava de virtual, ciberespaço e cibercultura.
                        Éramos fascinados pelas possibilidades que os espaços digitais
                        ofereciam. O virtual, que existe à parte do real, dominou a década.
                        Agora, a Web é uma realidade para milhões, e a dose diária de
                        ciberespaço é tão grande na vida de uma pessoa que o termo não
                        faz mais muito sentido. O mundo alternativo tão falado na ficção
                        cyberpunk, nos anos 80, foi perdido. O virtual agora é doméstico.
                        Controlado por grandes marcas, tornou-se inofensivo. Nossas
                        vidas online e offline são hoje a mesma coisa. Para os acadêmicos
                        que ainda usam o termo cibercultura para falar da atualidade, eu
                        recomendo que acordem e olhem para o que existe em volta
                        deles.40


       A ideia de algo sem fronteiras, permanentemente conectado, sedimentou-
se, sobretudo com a popularização da banda larga e dos dispositivos móveis -
celulares, com funções que não se restringem somente a discar e a tirar fotos, e
tablets, cuja principal característica é a mobilidade. Esvazia-se a lógica da janela
(transparente) e espelho (reflexo) proposta por David J. Bolter e Diane Gromala em
Windows and Mirror (2003).


       Para Bolter e Gromala (p. 26, 27), o equilíbrio entre ser transparente e
reflexivo é a referência que marca a diferença entre ciberespaço e mundo real: "(...)
Nenhuma interface pode ser ou deve ser perfeitamente transparente, porque a
interface vai quebrar em algum momento, e o usuário terá que diagnosticar o
problema”. A relação janela e espelho será aprofundada mais adiante.


       Computação ubíqua




39 THIS MUCH I know. The Guardian, Londres, 15 feb. 2009. Disponível em: http://bit.ly/aBPwN.
Acesso jan. 2012.
40 “FALAR em cibercultura é negar a realidade”. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 21 ago. 2009.

Disponível em: http://bit.ly/peFS57. Acesso jan. 2012.
                                                                                          43
Hoje, o sujeito carrega a interface e acessa a informação que está no espaço
de fluxos, principal base da sociedade em rede, fundamentada em conhecimento,
com processos descentralizados e empresas reorganizadas pela economia
informacional41. O espaço de fluxos é a organização material das práticas sociais de
tempo compartilhado que funcionam por meio de fluxos (CASTELLS: 2002, p. 501).


        Por fluxos, o sociólogo Manuel Castells entende as sequências intencionais,
repetitivas e programáveis de intercâmbio e interação entre posições fisicamente
desarticuladas mantidas por atores sociais nas estruturas econômica, política e
simbólica da sociedade42.


        O espaço de fluxos pode ser descrito pela combinação de três camadas de
suportes materiais que, juntas, o constituem (IBIDEM, p. 502-505):

        a) circuito de impulsos eletrônicos (microeletrônica, telecomunicações,
processamento computacional, sistemas de transmissão e transporte em alta
velocidade – também com base em tecnologias da informação. Esse é o suporte
material de práticas simultâneas, estrategicamente cruciais na sociedade em rede);

        b) nós e centros de comunicação (localização de funções estrategicamente
importantes que constroem uma série de atividades e organizações locais em
torno de uma função chave na rede). A localização no nó conecta a localidade com
toda a rede. Os nós e os centros de comunicação seguem uma hierarquia
organizacional de acordo com seu peso relativo na rede. Mas essa hierarquia pode
mudar conforme seu peso relativo na mesma rede;

        c) organização espacial das elites gerenciais dominantes - e não da
classe -, que exercem funções direcionais em torno dos quais todo esse processo é


41 A economia global/informacional é organizada em torno de centros de controle e comando
capazes de coordenar, inovar e gerenciar as atividades interligadas das redes de empresas.
(CASTELLS: 2002, p. 469).
42 Práticas sociais dominantes são aquelas que estão embutidas nas estruturas sociais dominantes.

Estruturas dominantes são procedimentos de organizações e instituições cuja lógica interna
desempenha papel estratégico na formulação das práticas sociais e da consciência social para a
sociedade em geral (IBIDEM, p. 501).

                                                                                              44
articulado. A elite dominante informacional segue de mãos dadas com sua
capacidade de desorganizar grupos de sociedade, cujos interesses são
representados dentro da estrutura dos interesses dominantes.


        Embora ainda não seja realidade, a Internet das Coisas em pouco tempo
estará em todo o canto, disponível a toque, voz ou gesto. E quando alcançar essa
escala de conectividade, Giselle Beiguelman, diretora de redação da revista
sElecT43 e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo (FAU/USP), aposta na mudança de nomenclatura para rede mundial de
computadores, pessoas, geladeiras e tudo o mais que nos cerca:

                         Enquanto a Internet das Coisas não se impõe, a rápida evolução
                         das aplicações, que envolvem nanotecnologia, sensores e sistemas
                         de redes sem fio confirma a sua probabilidade. O uso cada vez
                         mais comum de etiquetas inteligentes baseadas em códigos de
                         barra com grande capacidade de armazenamento de informações,
                         como o QR-Code, é um indicador preciso desse processo de
                         coisificação das redes (2011).


        Pesquisa realizada pela empresa de tecnologia Cisco aponta que, desde
2008, há mais coisas conectadas a Internet do que pessoas no planeta. A estimativa
indica que em 2020 mais de 50 bilhões de coisas estejam plugadas44:




               Figura 4. Projeção da Internet das Coisas em 2020: 50 bilhões

43 O FIM do virtual. sElecT, São Paulo, 25 ago. 2011. Disponível em: http://bit.ly/unMrTs. Acesso
jan. 2012.
44 INTERNET DAS coisas: para 2020, mais de 50 bilhões de coisas conectadas à Internet, superando

o número de pessoas conectadas. Tecnoarte News, São Paulo, 18 jul. 2011. Disponível em:
http://bit.ly/pdju3e. Acesso jan. 2012.
                                                                                              45
Figuras 5 e 6. Internet das Coisas não se resume a tablets ou smartphones




Figuras 7 e 8. Após 2011, domicílios irão gerar mais tráfego na Internet




                                                                            46
Um dos exemplos mais intrigantes dessa realidade é o Sixth Sense45, do
laboratório de Pattie Maes, pesquisadora do Media Labs, do MIT, e liderado pelo
designer indiano Pranav Mistry, que o desenvolveu durante oito meses a um custo
de US$ 350. Maes e Mistry apresentaram o projeto no TED 2009 (sigla em inglês
para Technology, Entertainment, Design)46.


           No Sixth Sense, o sujeito é uma interface conectada. Ele interage com
qualquer informação por meio de gestos. “A proposta é transformar todo o mundo
em computador”, diz o indiano:


                             O protótipo integra projetor de bolso, espelho e câmera, que, em
                             formato de um colar acoplado ao tórax, são ligados a um
                             minilaptop. A câmera captura os gestos da mão, envia esses dados
                             para o laptop e um software baseado em algoritmos de visão
                             computacional rastreia e interpreta os movimentos das mãos de
                             acordo com os marcadores coloridos que o usuário deve usar nos
                             dedos (INFO EXAME: 2009).

                             Com isso, além dos proveitos acima, é possível utilizar o Sixth
                             Sense para coletar informações sobre objetos em tempo real. Por
                             exemplo, o sistema pode ser instruído com um gesto para rastrear
                             a capa de um livro e projetar dados das resenhas da Amazon.com
                             sobre ele (IBIDEM).




                     Figura 9. Usando a palma da mão para discar um número

45   Para saber mais sobre o Sixth Sense, ver: http://bit.ly/sTQbs0. Acesso jan. 2012.
46   http://bit.ly/uNNYcx. Acesso jan. 2012.
                                                                                          47
Figura 10. Passagem aérea atualiza status do voo




Figura 11. Projetor, câmera e marcadores coloridos utilizados para acessar dados




                                                                                   48
Figura 12. Jornal impresso mostra vídeo de noticiário ao vivo


          Pesquisas em computação e design recentes, como essa de Mistry, mostram
que as informações estarão integradas aos objetos cotidianos e não mais reduzidas
a dispositivos específicos como computadores de mesa e celulares (BEIGUELMAN:
2011), como o Morph, da Nokia47, dispositivo de comunicação baseado em
nanotecnologia, sensitivo, funciona por meio de toque, autolimpante, tem
superfície superhidrofóbica e captura informações sobre o meio ambiente.


          E o mais interessante: a estrutura de nanoescala eletrônica permite o
alongamento, que o transforma em vários formatos: um pequeno tablet, uma
pulseira ou um celular48.




                              Figura 13. Conceito Morph - Reprodução Nokia


47   http://bit.ly/sokmXz. Acesso jan. 2012.
48   http://bit.ly/u0Wp2v. Acesso jan. 2012.
                                                                                  49
A Web não morreu


       É sobre essa interface remodelada pela conexão ubíqua e pela Internet das
Coisas que a autora desta tese se debruça. Trata-se de compreender de que forma a
interface   reconfigura   os   conceitos    que    orientam     o   Jornalismo,    mais
especificamente o newsmaking. E a busca desse entendimento começa pela World
Wide Web. Porque foi a Web que deu expressão ao Jornalismo praticado na
Internet, cujo histórico será detalhado adiante.


       A WWW possui ao mesmo tempo características que a assemelham a um
paginador de papel e a permitem implodir a página impressa. Ao contrário do que
escreveu o editor-chefe da revista Wired, Chris Anderson, a Web não está morta e o
design de interface dos dispositivos móveis, principalmente os tablets, corrobora
esse pressuposto, ainda que os aplicativos estejam na ordem do dia.


       Em agosto de 2010, Anderson afirmou que as pessoas estão substituindo
browsers por aplicativos. Ou seja, o protocolo WWW deixa de ser o principal ponto
de navegação pela rede. Para ele, “a Internet é a verdadeira revolução tão
importante como a eletricidade”49.


                      Você acorda e verifica o seu e-mail no iPad de cabeceira - que é um
                      app. Durante café da manhã você navega no Facebook, Twitter, e
                      The New York Times - mais três apps. No caminho ao escritório,
                      você ouve um podcast no seu smartphone. Outro app. No trabalho,
                      você rola através de feeds RSS em um leitor e tem conversas Skype
                      e mensagens instantâneas. Mais aplicações. No final do dia, você
                      chega em casa, faz o jantar enquanto ouve a Pandora, joga alguns
                      jogos no Xbox Live, e assiste a um filme no serviço de streaming
                      Netflix. Você passou o dia na Internet - mas não na Web. E você não
                      está sozinho (ANDERSON: 2010).

       A conclusão do jornalista baseou-se em estudo encomendado para a Wired
segundo o qual o tráfego de dados da Internet provém de vídeos e troca de
conteúdos P2P (compartilhamento de arquivos).



49THE WEB is Dead. Long Live the Internet. Wired, EUA, 17 ago. 2010. Disponível em:
http://bit.ly/bknmCP. Acesso jan. 2012.
                                                                                      50
Outra pesquisa recente feita nos Estados Unidos comprova que os
americanos passam mais tempo conectados a aplicativos que ao WWW. Segundo a
Flurry Analytics, entre junho de 2010 e junho de 2011, as pessoas passaram 74
minutos na Web contra 81 minutos nos aplicativos. No período, o uso da Web
cresceu 16%, ante 91% dos programas50.


       Essa não foi a primeira vez que a revista americana anuncia alternativas à
Web. Em 1997, artigo intitulado “Push!” sugeria que tecnologias como PointCast e
Microsoft’s Active Desktop dariam adeus ao protocolo de Berners-Lee51: “Kiss your
browser goodbye: The radical future of media beyond the Web”52.


       Ted Nelson, o pai do hipertexto, disse algo semelhante em 2007 no
programa Roda Viva, da TV Cultura, mas não matou o WWW: “A Web não vai
desaparecer, mas outras coisas surgirão, assim como e-mail, chat, VoIP (voz sobre
IP) e Skype. São todas formas diferentes de comunicação, e haverá mais.




                   Figura 14. Pesquisa da Wired sobre uso de aplicativos




50 PEOPLE ARE spending more time in mobile apps than on the web. Business Insider, EUA, 20 jun.
2011. Disponível em: http://bit.ly/ruv6qj. Acesso jan. 2012.
51 Para saber mais sobre Tim Berners-Lee, ver. http://bit.ly/2PqQpx. Acesso jan. 2012.
52 KISS YOUR browser goodbye: The radical future of media beyond the Web. Wired, EUA, mar.

1997. Disponível em: http://bit.ly/fLCtD. Acesso jan. 2012.
                                                                                            51
Figura 15. Comparação entre uso de aplicativos e Web (Flurry)


        A julgar pelos números, a Web continuará a ser utilizada ainda por muito
tempo. Dados do Go-Gulf.com indicam que diariamente (em média) um bilhão de
novas interfaces são adicionadas ao protocolo. Um infográfico Go-Gulf publicado na
próxima página dá a dimensão do que ocorre na Web a cada 60 segundos53.


        Na realidade, se analisada do ponto de vista dos espaços liso e estriado de
Deleuze e Guattari, a interface gráfica da Internet foi constituída para ser um
espaço liso por excelência, nômade, sem fronteiras delimitadas, embora não seja
essa a prática atual.


        Entretanto, ao operar em qualquer dispositivo, o WWW tem enorme
potencial para implodir a interface tal como é configurada atualmente pelas
empresas de comunicação e se auto-organizar a partir de tags, algoritmos e
programação.




5360 SECONDS - Things that happen on internet every sixty seconds. Go-Gulf.com. Jun. 2011.
Disponível em: http://bit.ly/iRQItd. Acesso jan. 2012.
                                                                                             52
Figura 16. Número de interfaces criadas na Web a cada 60 segundos


         Jornalismo de Internet


         A Web mudou a forma pela qual o Jornalismo vinha sendo praticado até o
começo dos anos 1990. É verdade que desde a criação da Internet pelos Estados
Unidos, em 1969, já havia iniciativas isoladas como as da rede inglesa BBC e o
jornal The New York Times, que deram inicio às primeiras experiências de
transmissão de informação pela rede (ver p. 30).


         Mas o potencial do Jornalismo da rede mundial de computadores foi, de
fato, percebido quando o mundo conectou-se à rede, em 1995, para acompanhar o
atentado a um prédio do governo de Oklahoma City. O responsável pela morte de
168 pessoas, o terrorista Timothy McVeigh, foi executado em 2001 em Terre
Haute, Indiana54.


         Na época, foram incluídos na rede comunicados da Casa Branca, fotos dos
estragos, lista de vítimas e reportagens atualizadas sobre a tragédia. O serviço
Newsday, do Prodigy publicou um mapa com a localização do atentado, uma

54   MOHERDAUI, 2007.
                                                                                    53
matéria da agência Associated Press e uma descrição gráfica dos tipos de bombas
usadas em ataques terroristas55. No Brasil, a Guerra de Kosovo incluiu o país na
cobertura da rede. Na época, foi considerada a Guerra da Internet:


                             A Guerra do Golfo, no início da década, marcou o apogeu da
                             cultura televisiva. O mesmo tinha ocorrido com a Segunda Guerra
                             Mundial em relação ao rádio. Nos ataques a Bagdá, pela primeira
                             vez na história, todos os lances fundamentais do conflito
                             apareciam em tempo real na tela da TV. Podia-se acompanhar
                             cada lance da batalha, como a queda de mísseis, numa espécie de
                             mórbido videogame global. Parecia ser o desenho mais estranho e
                             requintado da guerra neste milênio. Era um engano. O atual
                             confronto no Kosovo experimentava o uso de uma efetiva e
                             moderníssima arma: a Internet. Com o avanço das tecnologias da
                             informação: habitantes de todos os recantos da Terra, de Paris a
                             Luanda, de Tóquio a Ciudad del Leste, puderam participar
                             efetivamente do conflito. À parte dos bombardeios e do
                             deslocamento de tropas, desenvolveu-se uma guerra paralela,
                             democratizada, calcada na difusão caótica de informação e
                             opinião. Qualquer pessoa podia mover seu peão nesse tabuleiro,
                             seja contando sua experiência nas regiões do conflito, seja
                             emitindo suas opiniões ou multiplicando informações. Tratava-se
                             de uma Terceira Guerra Mundial, da qual muitos podiam
                             participar sem se levantar da cadeira do escritório. Cada um
                             esperando se tornar o Davi da história. Dezenas de sites foram
                             criados especialmente para tratar dos assuntos da guerra. Ambos
                             os lados se desdobram para convencer a plateia mundial de suas
                             razões. A ideia era seduzir e arregimentar. Pede-se sempre uma
                             ação positiva de apoio (ou dinheiro) a este ou aquele lado. A
                             jovem iugoslava Lana, por exemplo, escreveu um pungente apelo
                             contra a guerra. Afirma que os sérvios estão sendo atacados
                             injustamente e prejudicados pela ‘guerra das mídias’. Num e-mail
                             que roda o planeta há dias, Lana escreve: ‘talvez estejamos
                             defendendo você. É por isso que o mundo não pode deixar a
                             verdade enterrada em crateras de mísseis Tomahawks’. Note-se
                             que mensagem é um apelo ao mundo (FALCETA JR: 1999 apud
                             MOHERDAUI: 2007, p. 33-34).


           Houve outras coberturas de enorme importância, como a divulgação, em
1998, na Web, pelo colunista de fofocas Matt Drugde56 do caso envolvendo o ex-
presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e a estagiária Monica Lewinsky. Na
época, o relatório Kenneth Starr, com detalhes do caso, derrubou milhares de
servidores em todo o mundo. A americana CNN disponibilizou na rede a íntegra



55   IBIDEM.
56   Para saber mais sobre Matt Drudge, ver: http://bit.ly/1Jxp9V. Acesso jan. 2012.
                                                                                          54
das gravações em áudio (37 fitas com 22 horas) de uma conversa entre Monica e
sua amiga Linda Tripp na qual contava sua história com Clinton57.


       A outra foi o atentado às torres gêmeas, em 2001. Conhecida como a Terça-
feira Negra - matou milhares de pessoas e paralisou o país. O ataque terrorista
também congestionou a Internet. Interfaces noticiosas chegaram a ficar fora do ar
por mais de duas horas.


       Somente nos EUA, 30 milhões de pessoas tentaram se conectar a rede para
enviar mensagens por e-mail ou programas de comunicação instantânea. Para os
padrões daquele ano, esse número representava um terço a mais do que o tráfego
normal.


       No dia anterior ao ataque, a média de tempo de conexão ficou em 5,5
segundos. No dia 11 de setembro, saltou para 12,9 segundos58. Isso fez com que a
Web voltasse à interface de seus primeiros anos: tela com fundo branco e links.
CNN, MSNBC e USA Today alteraram seus designs para facilitar a busca por
informações. A CNN, por exemplo, excluiu fotos, vídeos e áudio para reduzir o peso
da interface de 255 KB (kilobyte) para 20 KB (kilobyte)59.




             Figuras 17 e 18. Interfaces da CNN em 11 de setembro de 2001




57 MOHERDAUI, 2007, p. 64-65.
58 IBIDEM.
59 IBIDEM.

                                                                               55
Interfaces nômades - Uma proposta para orientar o fluxo noticioso na Web
Interfaces nômades - Uma proposta para orientar o fluxo noticioso na Web
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  • 1. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Luciana Moherdaui Interfaces nômades1 Uma proposta para orientar o fluxo noticioso na Web DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO SÃO PAULO Maio, 2012 1 Esta tese foi elaborada com o apoio do UOL (www.uol.com.br), através do Programa UOL Bolsa Pesquisa, processo número 20080102180000.
  • 2. Luciana Moherdaui Interfaces nômades Uma proposta para orientar o fluxo noticioso na Web DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Comunicação e Semiótica na linha de Pesquisa Processos de Criação nas Mídias. Orientação: Rogério da Costa SÃO PAULO 2012 2
  • 3. Folha de aprovação Banca examinadora Rogério da Costa - Orientador Giselle Beiguelman (FAU/USP) Pollyana Ferrari (PUC/SP) Lúcia Leão (PUC/SP) Cícero Inácio da Silva (UFJF/MG) 3
  • 4. Agradecimentos Este trabalho ficaria sem fôlego não fossem as orientações de Giselle Beiguelman e Rogério da Costa. Giselle por ter deixado esta jornalista e pesquisadora voar, indefinidamente, e Rogério por aparar as arestas e torná-lo realidade nas cerca de 300 páginas que se seguem. Também foram absolutamente fundamentais os apoios recebidos pela Coordenação do Programa de Comunicação e Semiótica (COS) da PUC/SP, (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), cuja Bolsa de Estudo permitiu a realização de um projeto pessoal e profissional, o Doutorado, e pelo Programa UOL Bolsa Pesquisa por contribuir com minha formação acadêmica. Tenho especial apreço pelo coletivo inteligente que colaborou amplamente em minha pesquisa mesmo sem, às vezes, ter-se dado conta, por meio de redes sociais ou conversas informais. Às vezes, em comentários sobre Jornalismo ou pela leitura de posts. Um deles, especialmente feito por Leão Serva, ex-chefe no iG e hoje meu amigo. Trata-se de uma piada contada nas redações toda a vez que surge uma reforma gráfica: “com fio ou sem fio?” Explico: grosso modo, os projetos gráficos baseiam-se em uma máxima que surgiu após a grande mudança instituída no Jornal do Brasil por Jânio de Freitas, no final dos anos 1950: as reformas de jornal alternam-se por tirar e colocar fios. Em junho de 1959, o jornalista, atual colunista da Folha de S.Paulo, decidiu arrancar os fios das páginas e aumentar o tamanho das fotos no JB. Dizia que os leitores não liam fios. Também integravam o time Odylo Costa Filho, Ferreira Gullar, Alberto Dines e Reynaldo Jardim. A todos a minha gratidão, essa palavra-tudo, como diria Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). 4
  • 5. “Nenhum conhecimento precede a experiência, todos começam por ela” Immanuel Kant 5
  • 6. Resumo Esta pesquisa analisa a interface jornalística na Web, embora a conclusão possa ser estendida a outros protocolos e aplicativos. O objetivo principal é repensar a exibição da notícia que circula no fluxo. A migração da cultura de página estática para a cultura de dados (BERNERS-LEE: 2009) modificou o padrão de comunicação que vigorou no século 20. Foram incorporados à transmissão, publicação e recepção os seguintes termos: anotar, comentar, responder, agregar, cortar, compartilhar, download, upload, input e output (MANOVICH: 2008, p. 226). Esta tese parte do pressuposto de que os projetos de Jornalismo para a Internet são constituídos sob a lógica do jornal impresso, com hierarquia e diagramação em colunas (NELSON: 2001) quando a dinâmica atual indica a implosão da página, a perda do processo de padronização editorial. Nesse sentido, a discussão será fundamentada a partir de noções de revezamento, agenciamento (DELEUZE; GUATTARI, 2007, p. 180), mapa (DELEUZE; GUATTARI: 2006, p. 21-23) e teorias do Jornalismo. Palavras-chave: jornalismo, Internet, interface, agenciamento, tag 6
  • 7. Abstract This research analyzes the news on the Web interface, although the finding can be extended to other protocols and applications (apps). The main objective is to rethink the view of news circulating in the right flow. The migration of static page culture to the culture data (BERNERS-LEE, 2009) changed the pattern of communication prevailed in the 20th century. The following terms were incorporated into the transmission, publication and reception: annotate, comment, reply, add, cut, share, download, upload, input and output. (MANOVICH, 2008, p. 226). This thesis assumes that journalism projects for the Internet are made under the logic of the printing press, with hierarchy and in columns (NELSON, 2001) when the current dynamics of the implosion of the page indicates, the loss of the standardization editorial process. In this reality, the discussion will be based from notions of relay assemblage (DELEUZE; GUATTARI, 2007, p. 180), map (DELEUZE; GUATTARI, 2006, p. 21-23) and theories of Journalism. Keywords: digital journalism, interface, agency, tag 7
  • 8. Sumário Índice de figuras PG 10 Índice de tabelas PG 17 Introdução PG 18 Capítulo 1. Internet das Coisas PG 29 A rede mundial de computadores PG 30 Economia: a primeira bolha PG 35 Tudo agora é ciberespaço PG 39 Computação ubíqua PG 43 A Web não morreu PG 50 Jornalismo de Internet PG 53 Bem além do papel PG 59 Design gráfico faz a diferença PG 63 Metáfora como ponto de partida PG 68 A interface é a mensagem PG 71 Corpo informacional PG 74 Agenciamentos que reconfiguram a interface PG 77 Capítulo 2. Estética Power Point PG 84 Ponto de vista jornalístico PG 85 Nem toda informação é notícia PG 88 A realidade pela lente do Jornalismo PG 90 Design de superfície, redundância e imperativo PG 93 Nos gadjets, um pouco além da repetição PG 103 Tudo é igual para todos PG 106 Como a interface mudou o Jornalismo PG 110 O jornal foi parar dentro do Facebook PG 115 Desconstruindo conceitos PG 117 8
  • 9. As quatro fases do Jornalismo de Internet PG 119 Para analisar a interface, Foucault PG 129 O que caracteriza o Jornalismo de Internet? PG 132 Capítulo 3. Interfaces nômades PG 147 Rupturas e remediações PG 148 A Web de Ted Nelson PG 153 Por uma crítica da metáfora PG 156 Uma nova linguagem visual híbrida PG 161 A primeira interface de conversação PG 165 Tag para desenhar PG 170 Arquitetura da informação ainda dá conta? PG 176 Interface como superfície PG 177 A inteligência distribuída deslocou a fonte PG 180 A influência da arte digital PG 185 Links tomam o lugar das prateleiras PG 189 Notícia em rede PG 195 Twitter põe em xeque a manchete PG 199 No Facebook, jornal mantém a tradição PG 205 O jornal como rede social PG 207 A implosão da página estática PG 214 Conclusão PG 223 Bibliografia PG 239 Anexos PG 251 Formulário de observação e ficha técnica PG 251 Relatório final do Programa Bolsa UOL de Pesquisa PG 254 Interfaces pesquisadas PG 258 2012 PG 258 2009 PG 273 2008 PG 288 9
  • 10. Índice de figuras Figura 1. Mosaic, primeiro browser gráfico PG 35 Figura 2. Netscape Navigator PG 35 Figura 3. Receita por usuário na Internet PG 38 Figura 4. Projeção da Internet das Coisas em 2020: 50 bilhões PG 45 Figuras 5, 6. Internet das Coisas não se resume a tablets ou smartphones PG 46 Figuras 7, 8. Após 2011, domicílios irão gerar mais tráfego na Internet PG 46 Figura 9. Projeto Sixth Sense (MIT): usando a palma da mão para discar um número PG 47 Figura 10. Projeto Sixth Sense (MIT) 2 : passagem aérea atualiza status do voo PG 48 Figura 11. Projeto Sixth Sense (MIT) 3: projetor, câmera e marcadores de cor utilizados para acessar dados PG 48 Figura 12. Projeto Sixth Sense (MIT) 4: jornal impresso exibe vídeo de noticiário ao vivo PG 49 Figura 13. Projeto Morph, da Nokia PG 49 Figura 14. Pesquisa da Wired sobre uso de aplicativos PG 51 Figura 15. Comparação entre uso de aplicativos e consumo de Web PG 52 Figura 16. Número de interfaces criadas na Web a cada 60 segundos PG 53 Figuras 17, 18. Interfaces da CNN em 11 de setembro de 2001 PG 55 Figura 19. Cobertura da posse de Barack Obama no Facebook via CNN PG 59 Figura 20. Interface da primeira página do Sunday Tribune PG 65 Figura 21. Primeira página do The New York Times impresso, 1860 PG 67 Figura 22. Primeira página do The New York Times, impresso 1980 PG 67 Figuras 23, 24, 25. Versões impressas das capas do caderno de Esporte da Folha de S.Paulo durante a Copa 2006 PG 69 10
  • 11. Figuras 26, 27, 28. Interfaces da Folha de S.Paulo na Web durante a Copa 2006 PG 70 Figura 29. Cena de Johnny Mnemonic (1995), de Robert Longo PG 75 Figura 30. Cena de eXistenZ (1999) , de David Cronenberg PG 76 Figura 31. Cena de Videodrome (1982), de David Cronenberg PG 76 Figura 32. Infográfico da ComScore sobre o aumento do acesso às redes sociais no mundo PG 80 Figura 33. Infográfico do Ibope sobre acesso às redes sociais no Brasil PG 81 Figura 34. Infográfico do Nielsen sobre tempo pelos americanos na Internet PG 82 Figura 35. Diagramação da Folha Online entre layout Web e impresso PG 94 Figura 36. BBC, 2008: abusa da repetição ao oferecer customização PG 95 Figura 37. Terra, 2009: palavras repetidas na edição PG 95 Figura 38. Folha Online, 2008: redundância e uso de setas no espaço tridimensional que é a Web PG 96 Figura 39. Folha.com, 2011. Ainda com uso de setas, mas sem Redundâncias PG 96 Figura 40. Estadão.com, 2008, palavras repetidas na edição PG 97 Figura 41. Estadão.com, 2011, eliminação da redundância PG 97 Figura 42. Globo Online, 2008, palavras repetidas na edição PG 98 Figura 43. Globo Online, 2011, com pouca redundância PG 98 Figuras 44, 45. Interfaces da CNN para iPad PG 103 Figuras 46, 47. Interfaces da ABC News para iPad PG 104 Figuras 48, 49. Interfaces das redes ABC News e CNN para iPhone PG 104 Figuras 50, 51. Interfaces da Wired para iPad PG 105 Figuras 52, 53. Interfaces da Wired para iPhone PG 105 Figura 54. Estrutura de arquitetura da informação na Web PG 106 11
  • 12. Figura 55. Reconhecimento facial do Facebook PG 108 Figura 56. Primeiro blog da Web, de Tim Berners-Lee PG 110 Figura 57. Localização do post de Sohaib Athar via Google Maps PG 112 Figura 58. Esquema tradicional da coleta de notícias e do seu processamento PG 112 Figura 59. Post com anúncio da morte de Bin Laden por Keith Urbahn, antigo chefe de gabinete de George W. Bush PG 112 Figura 60. Enquete no Facebook para saber quem noticiou primeiro a morte de Amy PG 113 Figura 61. Interface do The New York Times com a notícia da morte de Amy Whinehouse PG 114 Figura 62. Interface do Daily Mail com a notícia da morte de Amy Whinehouse PG 114 Figura 63. Interface do Washington Post Reader no Facebook PG 115 Figura 64. Interface do The Guardian APP no Facebook PG 116 Figura 65. Interfaces impressa e de Web do The Bugle Beacon PG 119 Figuras 66, 67. Interfaces impressa e de Web da Folha de S.Paulo PG 121 Figura 68. A apresentação da Folha Digital, exemplo de metáfora, 2009 PG 121 Figura 69. Interface da Folha.com, 2011 PG 123 Figura 70. Interface de O Globo na Web, 2011 PG 123 Figura 71. Interface do Google Flip, 2011 PG 123 Figura 72. Interface do MSNBC , 1997 PG 125 Figura 73. Interface do Último Segundo, 2011 PG 125 Figura 74. Interface do Huffington Post, 2011 PG 126 Figura 75. Mapa coletivo feito com aplicativo do Google mostra avanço da gripe aviária PG 127 Figura 76. Twitter do jornal USA Today com informações sobre a gripe aviária PG 128 12
  • 13. Figura 77. Mapa do Google sobre avanço da gripe aviária por região PG 128 Figura 78. Interface do Le Monde, 1996 PG 133 Figura 79. Interface da BBC, 1997 PG 134 Figuras 80, 81. Interfaces da edição número 17 da NEO (1997), a primeira revista em CD-ROM no Brasil PG 137 Figuras 82, 83. . Interfaces da revista NEO, edição número, 16 PG 138 Figuras 84, 85, 86, 87. Interfaces da revista NEO, edição número, 16 PG 138 Figura 88. Cobertura do Estadão sobre a morte de Michael Jackson, 2007 PG 141 Figura 89. Cobertura do The New York Times sobre a morte de Michael Jackson PG 141 Figura 90. Cobertura do Último Segundo sobre a morte de Michael Jackson PG 142 Figuras 91, 92. Versões brasileira e inglesa de destaque em vídeo da BBC sobre a Líbia, 2011. PG 143 Figura 93. Interface da CNN sobre a Líbia, 2011 PG 143 Figuras 94, 95. Movie Map, primeiro sistema hipermídia, desenvolvido pelo Massachussets Institute of Tecnology PG 144 Figura 96. Zite, aplicativo para customizar conteúdo para iPad PG 145 Figura 97. PointCast, primeira tecnologia push, de 1996 PG 146 Figura 98. Interface do El Pais, 1996 PG 150 Figura 99. Diagrama do Xanadu, sistema de hipertexto de Ted Nelson PG 154 Figura 100. Apple 1, lançado em 1976 pela empresa de Steve Jobs PG 158 Figura 101. Macintosh, lançado em 1984 pela Apple PG 158 Figura 102. Logomarca do Napster, criado por Shaw Fanning e Sean Parker PG 159 Figura 103. Sketchpad, primeira interface de conversação, 1962 PG 167 13
  • 14. Figura 104. Caneta ótica, de Ivan Sutherland, 1965 PG 167 Figura 105. Sistema Augment/NLS, processador baseado em texto e mouse PG 168 Figura 106. A arquitetura Augment/NLS, de Doug Engelbart PG 168 Figura 107. Grail, sistema de reconhecimento por gesto, de Tom Ellis PG 169 Figura 108. Dynabook, computador pessoal para desenvolvido para crianças por Alan Kay PG 169 Figura 109. Nuvem de tags dos tópicos mais comentados da The Economist PG 170 Figura 110. Base de dados sobre os 66 anos da bomba de Hiroshima feita por meio da plataforma do Google Earth PG 172 Figura 111. Tackable, aplicativo para telefones celulares para uma rede social fotográfica desenvolvida em parceria com San José Mercury News PG 172 Figura 112. Interface de busca em tempo real no Twitter via Google PG 173 Figura 113. Ushahidi, plataforma de criação de mapa open source utilizada pela BBC para mostrar os problemas causados pela greve do metrô em Londres PG 173 Figura 114. Revisit, aplicativo para visualização em tempo real de posts sobre temas específicos PG 174 Figura 115. TimeSpace, mashup noticioso do The Washington Post, com texto, áudio, vídeo e fotos produzidos ao redor do mundo PG 174 Figura 116. How Twitter tracked the News of the World scandal, termômetro do The Guardian sobre como o microblog reagiu às denúncias de grampos contra celebridades no Reino Unido PG 175 Figura 117. Cascade, projeto do NY Times Lab para avaliar o comportamento dos leitores em relação ao conteúdo do jornal PG 175 Figura 118. Esboço arquitetura de informação para interfaces PG 177 Figura 119. Twitter da Mônica Bérgamo com notícia sobre a saída de Fátima Bernardes da bancada do Jornal Nacional (Rede Globo) PG 184 Figura 120. Desaparecimento das categorias, proposta por Clay Shirky: hierarquia PG 190 14
  • 15. Figura 121. Desaparecimento das categorias, proposta por Clay Shirky: hierarquia com links PG 190 Figura 122. Desaparecimento das categorias, proposta por Clay Shirky: hierarquia com muitos links PG 191 Figura 123. Desaparecimento das categorias, proposta por Clay Shirky: apenas links PG 191 Figura 124. Your Life, Our Movie, de Fernando Velázquez PG 193 Figura 125. 10 x 10, de Jonathan Harris PG 193 Figura 126. The Origin of Species, de Ben Fry PG 194 Figura 127. We Feel Fine, de Jonathan Harris e Sep Kamvar PG 194 Figura 128. Proposta de uso de hashtag no Twitter, de Chris Messina PG 195 Figura 129. Cartaz do Revolution Tools PG 197 Figura 130. Cartaz do protesto thinkflickrthink PG 198 Figura 131. Blog do Twitter indica hashtags e perfis a serem seguidos para obter com últimas notícias sobre o terremoto do Japão PG 202 Figura 132. Interface de emergência do Google sobre o terremoto do Japão PG 203 Figura 133. Mapa colaborativo com informações sobre o terremoto do Japão PG 204 Figura 134. Twitter Stories, interface não hierárquica para criação e narrativas por meio de hashtags PG 205 Figura 135. Interface textual Social APP do The Guardian no Facebook PG 206 Figura 136. Interface Social Reader no Facebook PG 207 Figura 137. Interface do HuffoPost Social News PG 208 Figura 138. TimesPeople, rede social de recomendação para textos do The New York Times PG 209 Figura 139. Mashup com aplicativo do Google Maps sobre a ocupação do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, atualizado pelo Twitter do jornal O Globo e dos cidadãos PG 215 15
  • 16. Figura 140. Interface da Globo News ao vivo com a cobertura da ocupação do Morro do Alemão PG 215 Figura 141. Interface do UOL News com a cobertura completa da ocupação do Morro do Alemão PG 216 Figura 142. Interface do Google Search sobre a ocupação do Morro do Alemão PG 217 Figura 143. Interface de busca em tempo real do Twitter via Google Maps com notícias sobre o morro do Alemão PG 217 Figura 144. Reprodução do Google Earth com vídeos e informações sobre o Alemão PG 218 Figura 145. Cena de A era da estupidez, de Franny Armstrong PG 218 Figura 146. Interface do Twitter exibida no YouTube com posts sobre os protestos no Egito PG 219 16
  • 17. Índice de tabelas Tabela 1. Nomenclaturas PG 61 Tabela 2. Computador e interface ontem e hoje PG 72 Tabela 3. Novo paradigma da comunicação PG 83 Tabela 4. Critérios de Noticiabilidade PG 90 Tabelas 5. Comparação entre jornalismo impresso e de Internet PG 152 Tabela 6. Comparação entre jornalismo impresso e de Internet PG 155 Tabela 7. Comparação entre jornalismo impresso e de Internet PG 156 Tabela 8. Jornalismo ontem e hoje PG 180 17
  • 18. Introdução Quando o projeto2 desta tese foi elaborado, em meados de 2008, pensava-se a World Wide Web, o protocolo multimídia da Internet, como uma página estática, com a lógica do projeto gráfico de jornais, calcada em hierarquia3, diagramação e colunas (NELSON: 2001), e o browser um emulador do paginador. Inclusive o título (Os critérios de composição no Jornalismo Digital – Em busca de um modelo ideal de páginas noticiosas) remetia a uma clara tentativa de reordenar a miscelânea configurada pela edição das interfaces naquele período – marcado, sobretudo, por excesso de redundância e imperativo. O uso de redes sociais ainda não era tão representativo como hoje. A curva de crescimento, principalmente do Facebook, começou a aumentar significativamente em 2009, segundo a ComScore. Dados da empresa que mede audiência na Internet mostra que 1,2 bilhão de pessoas acessam redes sociais em todo o mundo. Outra característica marcante da produção jornalística na Internet são os portais e os chamados sites noticiosos. Steve Outing, um dos mais importantes estudiosos do tema, definiu portal como um agregador de diversas fontes de conteúdo, centralizados em vários destaques na “página inicial” (OUTING: 1999 apud FERRARI: 2002). Quem melhor mostrou a forma pela qual as interfaces foram sendo apropriadas desde o surgimento do protocolo de Berners-Lee foi Elliot Zaret, então editor da MSNBC, em 2000, no artigo The Theory of Portal Evolution: No começo, tínhamos a Web. Muita informação, vários cliques e isso parecia bom. Mas muito rapidamente começou a aparecer muita informação e ferramentas de busca foram necessárias para encontrar o conteúdo espalhado como em teias de aranha. E depois das ferramentas de busca 2Para ler a íntegra do projeto, ver: http://bit.ly/wwbeOs. Acesso jan. 2012. 3 O dicionário Houaiss define hierarquia como: “organização fundada sobre uma ordem de prioridade entre os elementos de um conjunto ou sobre relações de subordinação entre os membros de um grupo”. 18
  • 19. vieram os diretórios e depois deles os portais, os cliques para e-commerce” (apud FERRARI: 2002, p. 17). Essa lógica de portais começa a ser questionada por esta jornalista quando há a percepção do estrondoso interesse no consumo de notícias por meio de redes sociais. Levantamento da Nielsen Wire já apontava, em 2010, baixa nos índices: entre 2009 e 2010, a empresa registrou queda de 19% no tempo que os americanos gastavam acessando portais – de 5,5% para 4,4%. Já o interesse por redes sociais havia aumentado 43% no mesmo período – 15,8% para 22,7%4. No Brasil, embora o Ibope tenha mostrado em 2010 que 60% dos internautas disseram que as redes sociais são suficientes para se manterem informados5, afirmou um ano depois que “portais são absolutamente relevantes e são a referência para o adulto.” O portal como espaço estriado, metrificado, com fronteiras delimitadas, já fora criticado amplamente por André Lemos, professor e pesquisador da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Para Lemos, os portais são currais porque "configuram- se como estrutura de informação (conteúdo) que tratam as pessoas como bois digitais forçados a passar por suas cercas para serem aprisionados em seus calabouços interativos" (2000). Também contribuiu para a mudança de perspectiva desta tese o anúncio do engenheiro britânico Tim Berners-Lee no TED (sigla em inglês para Technology, Entertainment, Design) de 2009, um dos mais importantes eventos de tecnologia do mundo: a migração da cultura de página para a cultura de dados. Se antes a proposta era analisar a composição, o design de interfaces jornalísticas dos jornais (em sites e portais) de maior audiência no Brasil6 e no 4 WHAT AMERICANS do online: Social media and games dominate activity. Nielsen Wire, EUA, 2 ago 2010. Disponível em: http://bit.ly/yuF8Sp. Acesso jan. 2012. 5 Ver nota 75. 6 De acordo com dados do Instituto Ibope: Globo Notícias (G1), UOL Notícias Folha (Folha.com), Terra Notícias, Estadão.com.br, Google News, iG News (Último Segundo), R7 Notícias, BBC, The New York Times, Band.com.br, CNN, MSNBC, El País, The Guardian e Huffington Post. 19
  • 20. mundo, com base na Teoria do Jornalismo, mais especificamente o newsmaking, e tendo como cerne a narrativa, a afirmação do pai do WWW levou a uma abordagem completamente diferente. É óbvio que o newsmaking foi fundamental na primeira fase da pesquisa e também para a sua conclusão. Igual importância tem a narrativa. Porém, essas interfaces, objeto desta pesquisa, passaram a ser observadas sob os pontos de vista do design informacional, da auto-organização do browser e das dinâmicas das relações que se estabelecem nas redes sociais, principalmente Twitter e Facebook. Não fazia mais sentido aplicarem-se à pesquisa critérios para composição da página, cujo modelo partia da organização das primeiras páginas dos jornais impressos. Nem tampouco usar as nomenclaturas orientadas pela reprodução de metáforas analógicas, como site ou homepage, por exemplo, cujo público-alvo é o sujeito cartesiano. Também não mais cabia propor um modelo de página com base no ideal kantiano, conforme designava o projeto original, algo que a razão pura exige, mas que não é dado no campo da experiência. Conceito próximo ao de o matemático alemão Richard Dedekind (1831-1916), que o definiu como um sistema algébrico que atendia a determinadas condições. Mediante a sistematização, Dedekind preferia enfatizar propriedades fundamentais dos objetos matemáticos, em oposição às suas representações particulares. É verdade que quando transpostos à Web, os valores-notícia de composição (WOLF: 2002) não fazem jus aos projetos gráficos que mudaram o Jornalismo impresso nos anos 1960 e 1970. Alguns não alcançam sequer a metáfora de suas versões tradicionais. Porém numa observação mais aprofundada feita, principalmente, a partir de dois pontos indica que é possível rever o design informacional na Internet: arte 20
  • 21. digital e rede social (Social News e jornal como rede social). Ou seja, as interfaces, antes estáticas, tornaram-se nômades7e implodiram o processo comunicacional baseado na hierarquia. Esse raciocínio deu origem ao título desta tese. Implodir a página significa perder a padronização editorial. Essa é atualmente a grande questão para os jornais, já que o conceito de edição está em xeque. A informação principal não está mais na manchete, mas no buzz gerado na rede. As pessoas não seguem mais editorias, buscam notícias por tags, hashtags8 ou em perfis de jornalistas, cidadãos, instituições ou empresas de comunicação, entre outros, nas redes sociais. As tags são também constituidoras de interfaces. Há um sem número de exemplos na arte digital e nas redes sociais que demonstram essa possibilidade. Outro detalhe importante é que nem tags nem hashtags podem ser editadas já uma vez publicadas. Não há como o Jornalismo poder controlá-las. É curioso anotar que se fala da não linearidade do texto jornalístico na Web desde os primeiros trabalhos publicados, na década de 1990 (sejam eles escritos para academia ou para o mercado). Ao longo dos anos, importantes pesquisadores pregaram essa característica como uma das definidoras do WWW (assim como hipertextualidade, multimidialidade, interatividade, teleação e memória, entre outras) e propuseram formatos outros (FERRARI: 2007; SALAVERRÍA: 2005, PAUL: 2005, MCADAMS: 2005, MEADOWS: 2003; MIELNICZUK: 2003; MURRAY: 2003, MANOVICH: 2001; DEUZE: 2001; LÉVY: 1999; LANDOW: 1995). Ao que se refere à narrativa, a proposta de Pollyana Ferrari, em sua tese doutoral para a Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (USP), 7 Um nômade não tem pontos, trajetos, nem terra, embora evidentemente ele os tenha. Eles se reterritorializam na própria desterritorialização. A terra deixa de ser terra e tende a se tornar simples solo ou suporte (DELEUZE; GUATTARI: 2007, p. 53). 8 Tags e hashtags são etiquetas, palavras-chave utilizadas na rede para marcar conteúdo. As hasgtags carregam o sinal sustenido # e são características do Twitter. 21
  • 22. defende a não hierarquização da narrativa: “Na Web não há hierarquia absoluta. Cada leitor é um agente de seleção, de bifurcação, ou de transversalidade, em camadas rizomáticas” (2007, p. 186-187). Ted Nelson fizera afirmação semelhante no começo dos anos 2000 e antes do WWW, com seu Xanadu, na década de 1960. Giselle Beiguelman corrobora essa ideia em O livro depois do livro (2003). Embora haja diversas propostas para narrativas textuais e constituições de interfaces como o Xanadu, de Nelson, o design de interface ficou relegado ao formato jornal. Isso é percebido nos excelentes projetos para a Internet assinados por empresas mundo afora, como García Media9, capitaneada por Mario García, passando pela Case i Associats10, de Francisco Amaral, e Institute for the Future of the Book11, comandado por Bob Stein, responsável pelo redesenho de Wired e The New Yorker (Web e tablet). O design assemelha-se, nas palavras do pesquisador russo Lev Manovich, a um PowerPoint com mídias distribuídas (2008, p. 45). De modo algum tal informação é exagero. Em 2011, os principais profissionais dessa área participaram do LIDE2011 (Linguagem, Informação e Design Editorial)12, entre eles, Chiquinho Amaral, que definiu o desenho do iPad para O Estado de S.Paulo como “editado e diagramado”. A estética da base de dados inexistiu naquele debate nem tampouco a importância da não diagramação e da não hierarquização empurradas pelas redes sociais. De modo geral, conclui-se que a Web se assemelhará ao papel; os projetos são pautados pela hierarquia, e o iPad é uma banca de revistas, ainda que sua interface seja horizontal e vertical. 9 Para saber mais sobre a García Media, ver: http://bit.ly/wkkKs5. Acesso jan. 2012. 10 Para saber mais sobre a Case i Associats, ver: http://bit.ly/zHGRK1. Acesso jan. 2012. 11 Para saber mais sobre o Institute for the Future of the Book, ver: http://bit.ly/AogqNY. Acesso jan. 2012. 12 Para saber mais sobre o LIDE2011, ver: http://bit.ly/xJoeKA. Acesso jan. 2012. 22
  • 23. Mas as conclusões do LIDE2011 não chegam perto da reformulação conceitual impulsionada pela dinâmica das redes. Talvez por uma questão mercadológica, como afirmaram os designers Gabriel Gianordoli e Jorge Oliveira: “A Apple descobriu que revista se compra na banca. Na banca da Apple Store!”. Para os profissionais, “caiu o conceito de página,” conforme Berners-Lee havia previsto no TED ao anunciar a cultura de dados. E as redes são um reflexo dessa mudança: operam por agenciamentos coletivos de enunciação, orquestrados por produser/prosumer e um coletivo inteligente que transformam a interface em um “mapa aberto, conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente” (DELEUZE; GUATTARI: 2006, p. 22). Na rede, o design é fruto de revezamento: uma tensão constante entre informação e contrainformação (DELEUZE: 2011), poder e contrapoder (FOUCAULT: 1999; CASTELLS: 2009)13. Embora, a configuração seja a de um espaço liso por excelência, sem fronteiras delimitadas, nômades, há sempre a tentativa de estriá-lo (DELEUZE: GUATTARI: 2007, p. 80), como ocorreu recentemente com os protestos contra as leis antipirataria (SOPA) e de propriedade intelectual (PIPA) nos Estados Unidos. Se aprovadas fossem, essas leis permitiriam bloquear interfaces que supostamente violassem direitos autorais de empresas americanas, penalizando também companhias com sede nos Estados Unidos que liberarem acesso a esses conteúdos. Porém, uma crítica feita pelo governo Barack Obama14 e movimentos nas redes sociais capitaneados por Google, Wordpress, Wikipedia, Craiglist (classificados), 13 Michel Foucault define contrapoder como ações de resistência contra aparelhos de captura (1999, p. 30). Já para o Manuel Castells, trata-se da capacidade de um ator social resistir ou enfrentar relações de poder institucionalizadas (2009, p. 47-49). 14 CASA BRANCA critica lei antipirataria. Link Estadão. 16 jan. 2012. Disponível em: http://bit.ly/y09rCh. Acesso jan. 2012. 23
  • 24. Ubuweb (base de dados de poesia sonora, escrita e visual), Flickr, Gizmodo, The Huffington Post e Wired, entre outros15, e cidadãos mundo afora fez com que o Congresso adiasse indefinidamente a votação dos projetos16. São os percursos pelos quais o Jornalismo passou – desde a publicação daquela que é considerada a primeira tese produzida pelo alemão Tobias Peucer, em 1690, quando foram sistematizados critérios de noticiabilidade e práticas da profissão, à apropriação das redes sociais por esse campo da Comunicação – que interessam a esta tese abordar. O objetivo é contribuir para os estudos sobre design informacional na Internet, especificamente ao que se refere à interface da notícia que circula no fluxo cujo tempo é atemporal (CASTELLS: 2002, p. 553-560). Por essa razão, o primeiro capítulo apresenta uma revisão histórica do Jornalismo produzido na Internet desde os anos 1970, quando o The New York Times realizou suas primeiras experiências em rede com o InfoBank, serviço de informação com artigos do jornal. Em 1969, a BBC já havia realizado testes com videotexto. A expansão da Internet das Coisas bem como o fim da ideia de ciberespaço como um divisor entre real e virtual dão evidências consistentes da reconfiguração da interface jornalística. A notícia pode ser acessada desde dispositivos portáteis a uma parede envolvida por tinta digital17, sem formatos previamente definidos. Também é passado em revista o design gráfico de jornais para um entendimento melhor sobre a forma pela qual se dá a atual exibição de notícias na rede. 15 Para saber quem mais protestou contra o SOPA, ver: http://bit.ly/y1XTzU. Acesso jan. 2012. 16 SOPA é retirada da pauta do Congresso dos EUA. Link Estadão. 20 jan. 2012. Disponível em: http://bit.ly/yDYpwT. Acesso jan. 2012. 17 A tecnologia da tinta digital consiste de duas camadas de esferas microscópicas – metade pretas, metade brancas – que mudam de posição ao receberem estímulos elétricos. Como a tecnologia dispensa a iluminação backlight e só é necessário aplicar energia para alterar a imagem, e não para exibi-la, este sistema consome muito menos bateria do que uma tela de cristal líquido tradicional. Para saber mais sobre tinta digital, ver: http://bit.ly/z4qwk9 e http://bit.ly/x0r4uf. Acesso jan. 2012. 24
  • 25. Definir Jornalismo e sistematizar conceitos que correspondem à sua prática, como newsmaking (produção de notícias), gatekeeper (seleção de notícias) e agenda-setting (agenda de pautas), são fundamentais no segundo capítulo para compreender como a cultura de dados modificou o padrão de comunicação que vigorou no século 20, baseado em transmissão, publicação e recepção. A esse padrão foram incluídos os seguintes termos: anotar, comentar, responder, agregar, cortar, compartilhar, remix, download, upload, input, output e crowdsorcing. (MANOVICH: 2008, p. 226). Essa reconfiguração paradigmática ocorreu em termos no Jornalismo praticado na Internet. A constituição da interface observada no final dos anos 2000 revelada por duas pesquisas (uma feita em 2008 e a outra em 2010) aplicadas aos jornais que compõem o corpus desta tese indica, além da vertente estruturalista, problemas já apontados aqui: redundância, imperativo, além da não aplicação de valor-notícia de composição, que norteia na mídia impressa o design das páginas. Esse raciocínio se estende ao longo dos capítulos 2 e 3. Em 2012, nova análise mantém a mesma estrutura. Outras duas questões pertinentes a este trabalho sobre o Jornalismo de Internet foram: 1) a desconstrução de algumas características tomadas como exclusivas, como multimidialidade e interatividade, por exemplo; 2) a não aplicação das quatro fases estabelecidas – metáfora, Internet + metáfora; Internet + open source e JDBD (Jornalismo Digital em Base de Dados) – por uma simples razão: na rede, o browser é um paginador e, sendo assim, uma página em branco, diagramada em colunas e hierarquizada. Portanto, não é possível observá-lo do ponto de vista da evolução (FOUCAULT: 2007, p. 28). O mais correto é uma análise cujo método se divide em: remediação - 25
  • 26. representação de uma mídia em outra (BOLTER; GRUSIN: 2000) e media visualization - mistura de formatos e formas (MANOVICH: 2010). É no terceiro capítulo que começa a tomar forma a interface da notícia que circula no fluxo principalmente por causa dos elementos de ruptura, como filtragem colaborativa (baseada na transferência do gosto) e recomendação (JOHNSON: 2001, p. 143-145). Mais a nova linguagem visual híbrida, proposta por Lev Manovich, que leva em conta o uso de tags, não para atomizar informação, mas com o objetivo de aprofundá-la (2010); da crítica da criação baseada na metáfora, da falta de vocabulário crítico específico; da importância da arte digital como parâmetro de interface não hierarquizada; da relação com a fonte, que se deslocou especialmente com o Wikileaks. Também não se pode deixar de mencionar como nomadismo, agenciamento coletivo de enunciação e revezamento são a chave para o Jornalismo operar nas redes sociais sem abandonar as teorias que o sustenta. A seguir, o escopo do projeto mostra de que maneira esta tese foi constituída entre 2008 e 2012: Objeto: interface jornalística Corpus: Globo Notícias (G1), UOL Notícias Folha (Folha.com), Terra Notícias, Estadão.com.br, Google News, iG News (Último Segundo), R7 Notícias, BBC, The New York Times, Band.com.br, CNN, MSNBC, El País, The Guardian e Huffington Post. Objetivos e Hipóteses Objetivo principal: repensar a interface da notícia que circula na Web 26
  • 27. Objetivos secundários 1. Investigar como o avanço da tecnologia possibilita novos formatos e examinar que modelos têm sido gerados a partir dessas inovações. 2. Verificar se a ativação desses potenciais (geração de novos formatos) depende das formas sociais das apropriações dessas tecnologias e de fatores como modelo de negócio ou resistência administrativa ou profissional/corporativa à mudança, entre outros. 3. Averiguar os parâmetros editoriais sobre arquitetura na Web. Se os jornais seguem um padrão de identidade visual. Se existe algo que os diferencie. Hipótese central: A interface teve que se deslocar porque a produção noticiosa está se modificando? Hipóteses secundárias 1. O Jornalismo de Internet atual não consegue converter em seus interesses a notícia que circula nas redes sociais. 2. A interface se auto-organiza por revezamento e agenciamento. 3. A Social News alterou significativamente a forma pela qual a notícia é produzida e disseminada. 4. A Web não é o único protocolo a permitir uma estética do banco de dados. Metodologia O método de pesquisa está sistematizado em: • Pesquisa bibliográfica para ampliar o quadro referencial teórico- metodológico • Sistematizar a historicidade dos modelos de interfaces jornalísticas desenvolvidas desde que surgiram as primeiras até os atuais formatos em uso na Internet e apresentar tendências. 27
  • 28. Estudo da composição das interfaces do corpus da pesquisa por meio de questionário de avaliação que levou em conta os seguintes conceitos: alteridade (HALL: 2001); interface (JOHNSON: 2001); arquitetura da informação (ROSENFELD; MORVILLE: 1998); interatividade (MEADOWS: 2003); usabilidade (NIELSEN: 2000); teleação (MANOVICH: 2001); remediação (BOLTER; GRUSIN: 2000); semelhança e similitude (FOUCAULT: 2002; 2007); endoestética (GIANETTI: 2006); cultura cíbrida (BEIGUELMAN: 2004) e narrativas (MOHERDAUI: 2007). Tais conceitos serão definidos na p. 99. 28
  • 29. Capítulo 1 “Falar em cibercultura é negar a realidade” Lev Manovich 29
  • 30. Capítulo 1: Internet das Coisas A rede mundial de computadores A Internet, a rede mundial de computadores, foi criada pelo governo dos Estados Unidos em 1969 para uso militar, como proteção contra um possível ataque russo durante a Guerra Fria. Chamada inicialmente Arpanet, começou a funcionar em quatro computadores na Universidade da Califórnia (UCLA, sigla em inglês)18. O nome Arpanet tem origem na Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa dos EUA (DARPA, sigla em inglês). Depois, a rede interligou outros centros de pesquisas e universidades. Ao se expandir para outros países, ganhou o nome de Internet e foi apropriada em todo o mundo por indivíduos e grupos: (...) O resultado foi uma arquitetura de rede que, como queriam seus inventores, não pode ser controlada a partir de nenhum centro e é composta por milhares de redes de computadores autônomos com inúmeras maneiras de conexão, contornando barreiras eletrônicas. (...) Essa rede foi apropriada por indivíduos e grupos no mundo inteiro e com todos os tipos de objetivos, bem diferentes das preocupações de uma extinta Guerra Fria (CASTELLS: 2002, p. 44). Dois anos depois, empresas jornalísticas começaram a utilizar a Internet para distribuir informação. A inglesa BBC e o The New York Times foram os primeiros a fazer parte dela. Ainda em 1969, a BBC iniciou testes com um novo formato de mídia para transmitir texto e gráficos por computador: o videotexto. O Times criou o InfoBank, serviço de informação com artigos do jornal por meio de um sistema chamado Biennial Reporting System (BRS)19. A década de 1970 foi marcada por grandes inovações tecnológicas, como o desenvolvimento do primeiro sistema de rede sem fio baseado em rádio, o 18 NEW MEDIA Timeline (1969) - Poynter. Disponível e m http://bit.ly/k39HLd. Acesso jul. 2011. 19 Para saber mais sobre o BRS, ver: http://bit.ly/kRc4kg. Acesso. Ago. 2011. 30
  • 31. Alohanet. A IBM anunciou o computador System/370 com suporte para memória e a Intel um processador mais veloz, 0 4004. Também chegaram ao mercado os computadores pessoais: Altair, criado por Ed Roberts, parceiro de Bill Gates, e Apple, de Steve Jobs e Steve Wozniak. Não foi diferente com o Jornalismo. O primeiro registro de uso de computador para envio de texto ocorreu na redação da Associated Press, na Carolina do Sul, em novembro de 1970. Na mesma década, os jornais trocaram a produção mecânica pela computadorizada. Jornalistas passaram a criar banco de dados, e os jornais a vendê-los. A imprensa começava a decretar o fim do uso da máquina de escrever. O The Wall Street Journal iniciou a transmissão de edições via satélite e o videotexto chegou às agências de notícias. São também do mesmo período os correios eletrônicos e os disquetes, hoje substituídos por computação na nuvem20, entre outros dispositivos de armazenamento de dados. Nos anos 1980, vieram os laptops para facilitar o trabalho dos profissionais de imprensa, que podiam enviar suas matérias de qualquer lugar, e serviços de linha discada para conexão à Internet, como o Bulletin Board System (BBS). Entre as novidades estão: computador pessoal de IBM, Apple (Machintosh), Compaq, modens, sistemas operacionais MS-DOS e Windows, Sistema de Domínio da Internet (DNS, sigla em inglês), impressoras a laser. Nos jornais, foram lançadas operações de teletexto e audiotexto. Dez anos depois, o engenheiro britânico Tim Berners-Lee anunciou a World Wide Web. O protocolo de Berners-Lee tornou realidade as associações entre textos, cuja menção foi feita pela primeira vez pelo também engenheiro, mas de origem americana, Vanevar Bush21, em, 194522: 20 Para saber mais sobre computação na nuvem, ver: http://bit.ly/pZPiNm. Acesso mar. 2012. 21 Para saber mais sobre Vanevar Bush, ver: http://bit.ly/pTYQk2. Acesso mar. 2012. 22 BUSH, V. As we may think. In: http://bit.ly/nbUKuv. Acesso mar. 2012. 31
  • 32. O homem não pode esperar plenamente para duplicar esse processo mental artificialmente, mas ele certamente deve ser capaz de aprender com ele. Em pequenas coisas que ele pode até melhorar, para ter em seu registro uma relativa permanência. A primeira ideia, no entanto, é retirar da analogia as preocupações selecionadas. Seleção por associação, em vez de indexação, pode inclusive ser mecanizada. Não se pode esperar, portanto, para igualar a velocidade e flexibilidade com que a mente segue uma trilha associativa, mas deve ser possível ter a mente decisiva no que diz respeito à permanência e clareza dos itens advindos do armazenamento. Considere um dispositivo futuro para uso individual, que é uma espécie de arquivo privado mecanizado e biblioteca. Ele precisa de um nome, e uma moeda ao acaso, memex vai nomeá-lo. A memex é um dispositivo no qual uma loja individual vende seus livros, registros e comunicações e que é mecanizado a fim de poder ser consultado com flexibilidade e extrema velocidade (BUSH: 1945). Anos mais tarde, Theodor Holm Nelson ou Ted Nelson, como é conhecido o filósofo e sociólogo americano23, cunhou o termo que denomina tais associações: hipertexto24. É dele também hipermídia, uma espécie de extensão do hipertexto, porém com documentos que contêm gráficos, vídeos, áudios, textos e links que se entrelaçam na Web25. Aliás, uma das principais características da Web - e, talvez, a que mais bem a defina - é o link. David Weinberger escreveu em The Hyperlinked Metaphysics of the Web que a Web só existe por causa dos hiperlinks (2000). O hipertexto é também uma forma de recuperar informação. Essa noção está presente nos estudos de Roland Barthes. Ele a chamou Lexia, unidades de leitura ou blocos de significação (1970, p. 20). Em Arqueologia do Saber, Michel Foucault afirma que a ideia de referência de uma obra à outra está diretamente relacionada à de hipertexto: “além do título, das primeiras linhas e do ponto final, além de sua configuração interna e da forma 23 Para saber mais sobre Ted Nelson, ver: http://ted.hyperland.com. Acesso mar. 2012. 24 Hipertexto é um texto exibido no computador ou em outro dispositivo com referências (hiperlinks) a outro texto. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Hypertext. Acesso mar. 2012. 25 O termo hipermedia é uma extensão do hipertexto que contém gráficos, áudio, vídeo, texto e hiperlinks. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Hypermedia. Acesso mar. 2012. 32
  • 33. que lhe dá autonomia, ele está preso em um sistema de remissões a outros livros, outros textos, outras frases: nós em uma rede” (2007. p.26). O conceito de intertextualidade remete também à linkagem. Foi cunhado por Julia Kristeva e muito utilizado por Jacques Derrida: “todo texto se constrói como um mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de outro texto” (KRISTEVA: 1969, p. 146). Embora discípulo de Vanevar Bush, Ted Nelson ponderou sobre a necessidade de categorizar as informações para que possam mais tarde ser recuperadas. Para Nelson, não há nada de mal em categorizar. “O problema é que esses sistemas têm vida curta. Em poucos anos, tornam-se estúpidos” (LANDOW: 1995, p. 27). Entretanto, é possível categorizar e fazer associações sem que a estrutura determine: por meio de input inteligente de dados e tags, aliados à programação. Essa ação conjunta muda a perspectiva não só da narrativa em base de dados, mas do design de interface. A tag é um termo ou palavra-chave associado a uma informação para relacionar conteúdo26. O uso de tags será detalhado mais adiante. Nelson é hoje um dos críticos mais contundentes da Web, mais especificamente do modo pelo qual são constituídas interfaces, navegação e links. É do teórico americano a famosa frase: “uma interface deve ser tão simples que um iniciante, numa emergência, não leve mais de dez segundos para entendê-la" (tradução em inglês de “a user interface should be so simple that a beginner in an emergency can understand it within ten seconds”). Para Nelson, o projeto do WWW é “limitado, os links são unidirecionais, levam a um só lugar. Todos do mesmo jeito. O browser simula o papel, é diagramado em colunas e é hierarquizado”. A Web, afirma o sociólogo, “é coisa do passado, quadrada demais”. 26Para saber mais sobre tags, ver http://bit.ly/qWlfh7. Acesso dez.2011. 33
  • 34. (...) Não podemos esquecer que Internet e Web são coisas diferentes (...). E acho todos os navegadores ruins, ultrapassados e limitados. Passei a década de 90 estudando o que era possível fazer para criar um sistema que substituísse a Web e aproveitasse todas as possibilidades da Internet. Então, criei esse sistema novo, o Xanadu Spaces, que substitui a Web (NELSON: 2007). O sociólogo americano propôs, antes de o protocolo surgir, o Xanadu27, primeiro software a ter links conectados a outros documentos. O Projeto Xanadu começou na década de 1960. Trata-se de um sistema de hipertexto, com uma interface inteligente de linkagem que respeita os direitos autorais e permite uma navegação não sequencial, por associação, como é cérebro humano. O Xanadu ainda não foi finalizado, mas a forma pela qual foi concebido e os conceitos criados contribuíram para o que a Web é atualmente. É verdade que os browsers têm limitações. Quem não se lembra dos primeiros? E de suas interfaces? Mosaic, primeiro browser gráfico, lançado pelo Centro Nacional de Aplicações de Super Computação (NCSA), em Champaign, Illinois, Netscape Navigator, da Netscape, e Explorer, da Microsoft. Vieram outros depois, como Google Chrome, Mozilla e Safari. E é verdade que eles também simulam o papel. Simulavam no inicio da Web e continuam a simular, mas agora com um detalhe: são incrementados com novidades tecnológicas. Mas a estrutura permanece a mesma. 27 A íntegra do projeto Xanadu está disponível em: http://bit.ly/snGeBH. Acesso dez. 2011. 34
  • 35. Figura 1. Mosaic, o primeiro browser gráfico Figura 2. Netscape Navigator28 Economia: a primeira bolha Entretanto, não se trata apenas de uma questão técnica ou conceitual. Há também que se considerarem fatores econômicos e culturais. Empresas operam em uma lógica capitalista e os primeiros anos da Web foram marcados pela primeira bolha da Internet, um processo de especulação em torno de empresas que constituíram ou migraram seus negócios para a rede, especialmente comércio eletrônico, de 1995 a 2000, com altos investimentos em projetos às chamadas start-ups29. 28 As imagens dos browsers Mosaic e Nestcape são reproduções da Wikipedia. 29 Para saber mais sobre startups, ver http://bit.ly/ocDvQp. 35
  • 36. O resultado foi uma vertiginosa queda na Nasdaq, bolsa de valores na qual aquelas empresas negociavam suas ações: em 10 de março de 2000, a bolsa registrou baixa de 4% e não parou mais de cair. As perdas alcançaram 75%. O lucro demorou a chegar a esses setores, e não são muitas as companhias com balanços positivos de suas operações, à exceção de grandes players como a Google, criada em 1998 e cuja busca o levou a lucros exorbitantes30. São também exemplos bem-sucedidos a rede social Facebook e Groupon, serviço de venda coletiva, entre outros. Há quem acredite que os serviços de venda coletiva são um dos pontos centrais da segunda bolha da Internet porque criam problemas para seus parceiros. De um lado, porque a maioria vende audiências fictícias. Depois, porque as promoções pouco agregam às empresas (NASSIF: 2011). Por exemplo, uma pizzaria vendia pizzas a R$ 15,00. Entrava em uma promoção e o site de compras oferecia a R$ 3,00. A pizzaria lotava, mas de um público que, passada a promoção, dificilmente voltaria lá. Não era seu público alvo. Esse risco está restrito à economia americana. No Brasil, projetos dessa natureza estão sendo avaliados com uma dose a mais de realismo (IBIDEM). Embora a Internet seja a primeira mídia pública a ter uma economia pós- Gutenberg (SHIRKY: 2010, p. 53), modelo de negócio nesse setor continua sendo um ponto nevrálgico até hoje, sobretudo após o Jornalismo ter incorporado as redes sociais em sua produção diária, cuja lógica de funcionamento opera na contramão de portais e sites constituídos para aglomerar conteúdo. As redes sociais, ao contrário, pulverizam o conteúdo e reconfiguram o fazer jornalístico, principalmente em relação aos critérios de noticiabilidade, cuja teoria será detalhada mais adiante. Trata-se de uma relação tensionada entre espaço liso (nômade, sem fronteiras delimitadas) e estriado (aparelho do Estado, institucional, 30 Para conhecer a história da Google, acesse: http://bit.ly/FaeZn ou http://bit.ly/mM1l0F. Acesso jul. 2011. 36
  • 37. metrificado e distribuído), conceitos abordados pelos filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari no quinto volume de Mil Platôs (2007). Para Deleuze e Guattari, os nômades são como máquinas de guerra, ou seja, uma máquina de movimentação permanente no território, e os aparelhos de captura dependem da noção de sujeitos universais. Tudo vale para todos, a regra é absoluta, não funciona com desvio. Observados sob essa ótica, os portais seriam aparelhos de captura, que operam em espaços estriados, e redes sociais como o Twitter (www.twitter.com) e Facebook (www.facebook.com) seriam as máquinas de guerra, nômades do espaço liso em constante tensão com aparelhos de captura. De novo, o que está em jogo é um modelo que dê conta dessa nova dinâmica. Um caminho, talvez, seja a economia baseada em aplicativos já que desde 2007 vários jornais ligados à mídia tradicional fecharam ou deixaram de produzir versão impressa. E muitos estão na Internet lutando por paywall e assinaturas. Em artigo para o Nieman Journalism Lab, Nicholas Carr, autor do best-seller The Big Switch: Rewiring the World, from Edison to Google, afirmou que os aplicativos serão o grande commodity em 201231: Aplicativos prometem ser a maior força de reformulação da mídia em geral e meios de comunicação, em particular durante 2012. A influência será exercida diretamente – por meio de uma proliferação de aplicativos mídia especializada, bem como indiretamente - por meio de mudanças nas atitudes dos consumidores, expectativas e hábitos de compra. Há todos os tipos de implicações para os jornais, mas talvez o mais importante é que a explosão app torna muito mais fácil de cobrar por notícias online e outros conteúdos. Isso é verdade não apenas quando o conteúdo é entregue por meio de aplicativos formais, mas também quando é entregue por meio de sites tradicionais, que podem, eles próprios, ser vistos pelos clientes como uma forma de app. No 31ARE NEWSPAPERS civic institutions or algorithms? Big Think, EUA, 16 jan. 2012. Disponível em: http://bit.ly/ydfh8x. Acesso jan. 2012. 37
  • 38. velho mundo da Web aberta, pagar por conteúdo on-line parecia estranho, na melhor das hipóteses, já na pior, repugnante. No novo mundo do app, pagar por conteúdo online, de repente parece normal. O que é uma loja de aplicativos, a não ser uma série de paywalls? A economia baseada em aplicativos pode apresentar bons resultados principalmente por duas razões: a primeira delas é a segmentação, que permite monitorar os usuários e, com isso, pensar em estratégias de marketings específicas para eles, o que é valiosíssimo para os anunciantes. A outra é o fato de que, embora as pessoas queiram consumir conteúdo grátis na Internet, estão dispostas a pagar entre US$ 0,99 e US$ 3,99 por aplicativos na Apple Story, por exemplo. Em julho de 2011, a empresa anunciou 15 bilhões de downloads em seu e-commerce. E pagou US$ 2,5 bilhões a desenvolvedores32. Figura 3. Infográfico receita por usuário - Reprodução KissMetrics 32 EM TRÊS ANOS, loja de aplicativos da Apple atinge 15 bilhões de downloads. G1, São Paulo, 7 julh. 2011. Disponível em: http://glo.bo/yuCTpu. Acesso jan. 2012. 38
  • 39. Tudo agora é ciberespaço Mas há outra questão de igual importância: o ambiente criado pela Internet. Há, de fato, um novo ambiente? Trata-se de um mundo virtual? Ciberespaço? Seria uma espécie de Second Life, como defendeu Ted Nelson, em 2007 à revista Época?: “Second Life é um exemplo de inovação dos programas de interação entre homens e máquinas. A interface em 3D é o futuro da Internet. Vai provocar uma revolução tão grande quanto a Web”33. Na maioria das vezes, utilizada para definir o irreal, a palavra virtual tem origem no latim medieval virtualis, derivado de virtus, força, potência. Na filosofia escolástica, o virtual é o que existe em potência e não em ato. Jean Baudrillard o definiu como o desaparecimento do real (LÉVY: 1998, p. 24,25). Paul Virilio o chamou implosão espaço-tempo. Pierre Lévy o assume como um modo de ser fecundo e poderoso, que põe em jogo processos de criação, abre futuros, perfura poços de sentido sob a platitude da presença física imediata. O filósofo francês é contrário à oposição entre real e virtual. Para Lévy, o virtual não se opõe o real, mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes. Virtual é o inapreensível enquanto real é o tangível. O virtual não é imaginário, ele produz efeitos. O virtual é a atualização do real (IBIDEM, p. 12, 15, 21). Gilles Deleuze fez uma distinção entre possível e virtual em Différence et Répétition (1968): o possível já está todo constituído, mas permanece no limbo. O possível se realizará sem que nada mude em sua determinação nem em sua natureza. É um real fantasmático, latente. O possível é exatamente como o real: só lhe falta a existência. Para Michel Serres, o virtual é a não presença. 33 A SEGUNDA vida da Internet. REVISTA ÉPOCA, São Paulo, mar. 2007. Disponível em: http://glo.bo/jXbVu3. Acesso jun. 2011. 39
  • 40. “A imaginação, a memória, o conhecimento, a religião, são vetores da virtualização que nos fizeram abandonar a presença muito antes da informatização e das redes digitais”, escreveu Pierre Lévy em O que é o virtual? (1998). Para explicar a não presença, Lévy cita como exemplos o texto e o hipertexto: (...) O senso comum faz do virtual, inapreensível, o complementar do real, tangível. Essa abordagem contém uma indicação que não se deve negligenciar: o virtual, com muita frequência, não está presente. (...) Estará o texto aqui, no papel, ocupando uma porção definida do espaço físico, ou em alguma organização abstrata que se atualiza numa pluralidade de línguas, de versões, de edições, de tipografias? Ora, um texto em particular passa a apresentar-se como a atualização de um hipertexto de suporte informático. Este último ocupa virtualmente todos os pontos da rede ao qual está conectada a memória digital onde se inscreve seu código? Ele se estende até cada instalação de onde poderia ser copiado em alguns segundos? (LÉVY, 1998, p. 19,20). Claro que é possível atribuir um endereço a um arquivo digital. Mas nessa era de informações on-line, esse endereço seria de qualquer modo transitório e de pouca importância. Desterritorializado, presente por inteiro em cada uma de suas versões, de suas cópias e de suas projeções, desprovido de inércia, habitante obíquo do ciberespaço, o hipertexto contribui para aqui e acolá acontecimentos de atualização textual, de navegação e de leitura. Somente esses acontecimentos são verdadeiramente situados. Embora necessite de suportes físicos pesados para subsistir e atualizar-se, o imponderável hipertexto não possui um lugar (IBIDEM). Essa ideia de não lugar, de não presença, também está presente na definição de ciberespaço. Aliás, muitas vezes utilizado como sinônimo de mundo virtual ou mundo digital. Foi o escritor Willian Gibson quem cunhou o termo em 1982 e o publicou dois anos mais tarde em seu famoso livro Neuromancer: O ciberespaço. Uma alucinação consensual vivida diariamente por bilhões de operadores autorizados, em todas as nações, por crianças aprendendo altos conceitos matemáticos... Uma representação gráfica de dados abstraídos dos bancos de todos os computadores do sistema humano. Uma complexidade impensável. Linhas de luz abrangendo o não espaço; nebulosas e constelações infindáveis de dados. Como marés de luzes de cidade (GIBSON: 2003, p. 67-68). 40
  • 41. Pierre Lévy utiliza a definição de Gibson em Cibercultura (1999) e a amplia: “O ciberespaço de Gibson torna a geografia móvel da informação normalmente invisível. O termo foi imediatamente retomado pelos usuários e criadores de redes digitais.” E vai além: Eu defino ciberespaço como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das memórias de computadores. Essa definição inclui o conjunto de sistemas de comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de redes hertzianas e telefônicas clássicas), na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização (LÉVY: 1999, p. 92). Em 2007, em entrevista ao jornal americano The Washington Post34, Gibson anunciou o fim do ciberespaço. Para o escritor, agora o ciberespaço é aqui. Quando escrevi Neuromancer, quase 25 anos atrás, o ciberespaço estava lá, e nós estávamos aqui. Em 2007, o que não nos importamos mais em chamar de ciberespaço está aqui, e aqueles momentos sem conectividade, cada vez mais raros, estão lá. E aí está a diferença. Não houve um amanhecer tingido de vermelho em que nos levantamos, olhamos pela janela e dissemos: ‘Oh meu Deus, tudo é ciberespaço agora. (WASHINGTON POST: 2007). O argumento de Gibson é bastante coerente. No Brasil, no início dos anos 2000, para acessar a Internet era preciso um computador, um modem e um cabo de rede. Hoje, basta um dispositivo35 móvel (celular, tablet ou smartphones, entre outros) com conexão sem fio. No primeiro trimestre de 2011, 24,4 milhões de brasileiros utilizaram banda larga móvel36. Em todo o mundo, o número de pessoas com acesso à rede tem aumentado consideravelmente. Em 2000, eram 250 milhões. No final de 2010, ultrapassou dois bilhões de pessoas. Também registrou crescimento expressivo a conexão móvel. Em todo o mundo, 940 milhões acessaram a Internet via banda larga móvel contra 550 34GARREAU, J, 2007. 35O dicionário Houaiss define dispositivo como: em máquinas, peça ou mecanismo com uma função especial ou aparelho construído com determinado fim; engenho. 36 USO de banda larga no Brasil cresceu 138%. Último Segundo, São Paulo, 12 mai. 2011. Disponível em http://bit.ly/jrmKWt. Acesso jan. 2012. 41
  • 42. milhões via banda larga fixa, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU) referentes a janeiro de 201137. Graças à computação ubíqua (ou ubicomp, abreviação em inglês de ubiquitous computing), a Internet implodiu a divisão real e virtual, transformando- se em Internet of Things38 (Internet das Coisas) e jogou por terra todos esses conceitos. O termo computação ubíqua foi cunhado por Mark Weiser em 1988 quando estava à frente do Departamento de Tecnologia do Centro de Pesquisa da Xerox, em Palo Alto (Parc, sigla em inglês). Para Weiser, o futuro da tecnologia da informação é ser um utilitário, algo como o gás e a eletricidade (KRANENBURG: 2008, p. 7). E essa realidade já faz parte do cotidiano: Computação ubíqua (muitas vezes referida como ubicomp) descreve um conjunto de processos onde a tecnologia da informação tem sido completamente integrada em objetos e atividades do cotidiano: a tal ponto que o usuário muitas vezes nem percebe ao fazê-lo. Ubicomp não é apenas uma parte de nossas cidades do futuro. Seus dispositivos e serviços já estão aqui. Pensar no uso de cartões pré-pagos inteligentes para o uso de transportes públicos ou as etiquetas exibidas em nossos carros para ajudar a regular os preços de congestionamento, ou a maneira pela qual as corporações encaminham e transportam mercadorias em todo o mundo. Estes sistemas irão expandir geometricamente na próxima década, construindo os blocos para as nossas cidades do futuro (IBIDEM). O escritor Americano Clay Shirky, um dos mais importantes pesquisadores sobre cultura digital da atualidade e autor de Cultura da Participação (2010), arrancou o termo de seu dicionário: “A ideia com a qual eu cresci, de ir a um lugar separado do mundo real, é algo que os meus alunos não conseguem 37 NÚMERO de internautas ultrapassa 2 bilhões, afirma ONU. Interactive Advertising Bureau, São Paulo, 27 jan. 2011. Disponível em: http://bit.ly/uQbs0E. Acesso jan. 2012. 38 O termo Internet of things foi cunhado por Kevin Ashton em 1999. Para saber mais sobre Ashton, ver: http://bit.ly/AdUhlj. Acesso jan. 2012. 42
  • 43. entender. A Internet traz a todos os lugares alguns dos enigmas da vida na cidade grande” (2009)39. O russo Lev Manovich também o fez. Em entrevista a O Estado de S.Paulo em 2009 afirmou o seguinte: Nos anos 90, só se falava de virtual, ciberespaço e cibercultura. Éramos fascinados pelas possibilidades que os espaços digitais ofereciam. O virtual, que existe à parte do real, dominou a década. Agora, a Web é uma realidade para milhões, e a dose diária de ciberespaço é tão grande na vida de uma pessoa que o termo não faz mais muito sentido. O mundo alternativo tão falado na ficção cyberpunk, nos anos 80, foi perdido. O virtual agora é doméstico. Controlado por grandes marcas, tornou-se inofensivo. Nossas vidas online e offline são hoje a mesma coisa. Para os acadêmicos que ainda usam o termo cibercultura para falar da atualidade, eu recomendo que acordem e olhem para o que existe em volta deles.40 A ideia de algo sem fronteiras, permanentemente conectado, sedimentou- se, sobretudo com a popularização da banda larga e dos dispositivos móveis - celulares, com funções que não se restringem somente a discar e a tirar fotos, e tablets, cuja principal característica é a mobilidade. Esvazia-se a lógica da janela (transparente) e espelho (reflexo) proposta por David J. Bolter e Diane Gromala em Windows and Mirror (2003). Para Bolter e Gromala (p. 26, 27), o equilíbrio entre ser transparente e reflexivo é a referência que marca a diferença entre ciberespaço e mundo real: "(...) Nenhuma interface pode ser ou deve ser perfeitamente transparente, porque a interface vai quebrar em algum momento, e o usuário terá que diagnosticar o problema”. A relação janela e espelho será aprofundada mais adiante. Computação ubíqua 39 THIS MUCH I know. The Guardian, Londres, 15 feb. 2009. Disponível em: http://bit.ly/aBPwN. Acesso jan. 2012. 40 “FALAR em cibercultura é negar a realidade”. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 21 ago. 2009. Disponível em: http://bit.ly/peFS57. Acesso jan. 2012. 43
  • 44. Hoje, o sujeito carrega a interface e acessa a informação que está no espaço de fluxos, principal base da sociedade em rede, fundamentada em conhecimento, com processos descentralizados e empresas reorganizadas pela economia informacional41. O espaço de fluxos é a organização material das práticas sociais de tempo compartilhado que funcionam por meio de fluxos (CASTELLS: 2002, p. 501). Por fluxos, o sociólogo Manuel Castells entende as sequências intencionais, repetitivas e programáveis de intercâmbio e interação entre posições fisicamente desarticuladas mantidas por atores sociais nas estruturas econômica, política e simbólica da sociedade42. O espaço de fluxos pode ser descrito pela combinação de três camadas de suportes materiais que, juntas, o constituem (IBIDEM, p. 502-505): a) circuito de impulsos eletrônicos (microeletrônica, telecomunicações, processamento computacional, sistemas de transmissão e transporte em alta velocidade – também com base em tecnologias da informação. Esse é o suporte material de práticas simultâneas, estrategicamente cruciais na sociedade em rede); b) nós e centros de comunicação (localização de funções estrategicamente importantes que constroem uma série de atividades e organizações locais em torno de uma função chave na rede). A localização no nó conecta a localidade com toda a rede. Os nós e os centros de comunicação seguem uma hierarquia organizacional de acordo com seu peso relativo na rede. Mas essa hierarquia pode mudar conforme seu peso relativo na mesma rede; c) organização espacial das elites gerenciais dominantes - e não da classe -, que exercem funções direcionais em torno dos quais todo esse processo é 41 A economia global/informacional é organizada em torno de centros de controle e comando capazes de coordenar, inovar e gerenciar as atividades interligadas das redes de empresas. (CASTELLS: 2002, p. 469). 42 Práticas sociais dominantes são aquelas que estão embutidas nas estruturas sociais dominantes. Estruturas dominantes são procedimentos de organizações e instituições cuja lógica interna desempenha papel estratégico na formulação das práticas sociais e da consciência social para a sociedade em geral (IBIDEM, p. 501). 44
  • 45. articulado. A elite dominante informacional segue de mãos dadas com sua capacidade de desorganizar grupos de sociedade, cujos interesses são representados dentro da estrutura dos interesses dominantes. Embora ainda não seja realidade, a Internet das Coisas em pouco tempo estará em todo o canto, disponível a toque, voz ou gesto. E quando alcançar essa escala de conectividade, Giselle Beiguelman, diretora de redação da revista sElecT43 e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), aposta na mudança de nomenclatura para rede mundial de computadores, pessoas, geladeiras e tudo o mais que nos cerca: Enquanto a Internet das Coisas não se impõe, a rápida evolução das aplicações, que envolvem nanotecnologia, sensores e sistemas de redes sem fio confirma a sua probabilidade. O uso cada vez mais comum de etiquetas inteligentes baseadas em códigos de barra com grande capacidade de armazenamento de informações, como o QR-Code, é um indicador preciso desse processo de coisificação das redes (2011). Pesquisa realizada pela empresa de tecnologia Cisco aponta que, desde 2008, há mais coisas conectadas a Internet do que pessoas no planeta. A estimativa indica que em 2020 mais de 50 bilhões de coisas estejam plugadas44: Figura 4. Projeção da Internet das Coisas em 2020: 50 bilhões 43 O FIM do virtual. sElecT, São Paulo, 25 ago. 2011. Disponível em: http://bit.ly/unMrTs. Acesso jan. 2012. 44 INTERNET DAS coisas: para 2020, mais de 50 bilhões de coisas conectadas à Internet, superando o número de pessoas conectadas. Tecnoarte News, São Paulo, 18 jul. 2011. Disponível em: http://bit.ly/pdju3e. Acesso jan. 2012. 45
  • 46. Figuras 5 e 6. Internet das Coisas não se resume a tablets ou smartphones Figuras 7 e 8. Após 2011, domicílios irão gerar mais tráfego na Internet 46
  • 47. Um dos exemplos mais intrigantes dessa realidade é o Sixth Sense45, do laboratório de Pattie Maes, pesquisadora do Media Labs, do MIT, e liderado pelo designer indiano Pranav Mistry, que o desenvolveu durante oito meses a um custo de US$ 350. Maes e Mistry apresentaram o projeto no TED 2009 (sigla em inglês para Technology, Entertainment, Design)46. No Sixth Sense, o sujeito é uma interface conectada. Ele interage com qualquer informação por meio de gestos. “A proposta é transformar todo o mundo em computador”, diz o indiano: O protótipo integra projetor de bolso, espelho e câmera, que, em formato de um colar acoplado ao tórax, são ligados a um minilaptop. A câmera captura os gestos da mão, envia esses dados para o laptop e um software baseado em algoritmos de visão computacional rastreia e interpreta os movimentos das mãos de acordo com os marcadores coloridos que o usuário deve usar nos dedos (INFO EXAME: 2009). Com isso, além dos proveitos acima, é possível utilizar o Sixth Sense para coletar informações sobre objetos em tempo real. Por exemplo, o sistema pode ser instruído com um gesto para rastrear a capa de um livro e projetar dados das resenhas da Amazon.com sobre ele (IBIDEM). Figura 9. Usando a palma da mão para discar um número 45 Para saber mais sobre o Sixth Sense, ver: http://bit.ly/sTQbs0. Acesso jan. 2012. 46 http://bit.ly/uNNYcx. Acesso jan. 2012. 47
  • 48. Figura 10. Passagem aérea atualiza status do voo Figura 11. Projetor, câmera e marcadores coloridos utilizados para acessar dados 48
  • 49. Figura 12. Jornal impresso mostra vídeo de noticiário ao vivo Pesquisas em computação e design recentes, como essa de Mistry, mostram que as informações estarão integradas aos objetos cotidianos e não mais reduzidas a dispositivos específicos como computadores de mesa e celulares (BEIGUELMAN: 2011), como o Morph, da Nokia47, dispositivo de comunicação baseado em nanotecnologia, sensitivo, funciona por meio de toque, autolimpante, tem superfície superhidrofóbica e captura informações sobre o meio ambiente. E o mais interessante: a estrutura de nanoescala eletrônica permite o alongamento, que o transforma em vários formatos: um pequeno tablet, uma pulseira ou um celular48. Figura 13. Conceito Morph - Reprodução Nokia 47 http://bit.ly/sokmXz. Acesso jan. 2012. 48 http://bit.ly/u0Wp2v. Acesso jan. 2012. 49
  • 50. A Web não morreu É sobre essa interface remodelada pela conexão ubíqua e pela Internet das Coisas que a autora desta tese se debruça. Trata-se de compreender de que forma a interface reconfigura os conceitos que orientam o Jornalismo, mais especificamente o newsmaking. E a busca desse entendimento começa pela World Wide Web. Porque foi a Web que deu expressão ao Jornalismo praticado na Internet, cujo histórico será detalhado adiante. A WWW possui ao mesmo tempo características que a assemelham a um paginador de papel e a permitem implodir a página impressa. Ao contrário do que escreveu o editor-chefe da revista Wired, Chris Anderson, a Web não está morta e o design de interface dos dispositivos móveis, principalmente os tablets, corrobora esse pressuposto, ainda que os aplicativos estejam na ordem do dia. Em agosto de 2010, Anderson afirmou que as pessoas estão substituindo browsers por aplicativos. Ou seja, o protocolo WWW deixa de ser o principal ponto de navegação pela rede. Para ele, “a Internet é a verdadeira revolução tão importante como a eletricidade”49. Você acorda e verifica o seu e-mail no iPad de cabeceira - que é um app. Durante café da manhã você navega no Facebook, Twitter, e The New York Times - mais três apps. No caminho ao escritório, você ouve um podcast no seu smartphone. Outro app. No trabalho, você rola através de feeds RSS em um leitor e tem conversas Skype e mensagens instantâneas. Mais aplicações. No final do dia, você chega em casa, faz o jantar enquanto ouve a Pandora, joga alguns jogos no Xbox Live, e assiste a um filme no serviço de streaming Netflix. Você passou o dia na Internet - mas não na Web. E você não está sozinho (ANDERSON: 2010). A conclusão do jornalista baseou-se em estudo encomendado para a Wired segundo o qual o tráfego de dados da Internet provém de vídeos e troca de conteúdos P2P (compartilhamento de arquivos). 49THE WEB is Dead. Long Live the Internet. Wired, EUA, 17 ago. 2010. Disponível em: http://bit.ly/bknmCP. Acesso jan. 2012. 50
  • 51. Outra pesquisa recente feita nos Estados Unidos comprova que os americanos passam mais tempo conectados a aplicativos que ao WWW. Segundo a Flurry Analytics, entre junho de 2010 e junho de 2011, as pessoas passaram 74 minutos na Web contra 81 minutos nos aplicativos. No período, o uso da Web cresceu 16%, ante 91% dos programas50. Essa não foi a primeira vez que a revista americana anuncia alternativas à Web. Em 1997, artigo intitulado “Push!” sugeria que tecnologias como PointCast e Microsoft’s Active Desktop dariam adeus ao protocolo de Berners-Lee51: “Kiss your browser goodbye: The radical future of media beyond the Web”52. Ted Nelson, o pai do hipertexto, disse algo semelhante em 2007 no programa Roda Viva, da TV Cultura, mas não matou o WWW: “A Web não vai desaparecer, mas outras coisas surgirão, assim como e-mail, chat, VoIP (voz sobre IP) e Skype. São todas formas diferentes de comunicação, e haverá mais. Figura 14. Pesquisa da Wired sobre uso de aplicativos 50 PEOPLE ARE spending more time in mobile apps than on the web. Business Insider, EUA, 20 jun. 2011. Disponível em: http://bit.ly/ruv6qj. Acesso jan. 2012. 51 Para saber mais sobre Tim Berners-Lee, ver. http://bit.ly/2PqQpx. Acesso jan. 2012. 52 KISS YOUR browser goodbye: The radical future of media beyond the Web. Wired, EUA, mar. 1997. Disponível em: http://bit.ly/fLCtD. Acesso jan. 2012. 51
  • 52. Figura 15. Comparação entre uso de aplicativos e Web (Flurry) A julgar pelos números, a Web continuará a ser utilizada ainda por muito tempo. Dados do Go-Gulf.com indicam que diariamente (em média) um bilhão de novas interfaces são adicionadas ao protocolo. Um infográfico Go-Gulf publicado na próxima página dá a dimensão do que ocorre na Web a cada 60 segundos53. Na realidade, se analisada do ponto de vista dos espaços liso e estriado de Deleuze e Guattari, a interface gráfica da Internet foi constituída para ser um espaço liso por excelência, nômade, sem fronteiras delimitadas, embora não seja essa a prática atual. Entretanto, ao operar em qualquer dispositivo, o WWW tem enorme potencial para implodir a interface tal como é configurada atualmente pelas empresas de comunicação e se auto-organizar a partir de tags, algoritmos e programação. 5360 SECONDS - Things that happen on internet every sixty seconds. Go-Gulf.com. Jun. 2011. Disponível em: http://bit.ly/iRQItd. Acesso jan. 2012. 52
  • 53. Figura 16. Número de interfaces criadas na Web a cada 60 segundos Jornalismo de Internet A Web mudou a forma pela qual o Jornalismo vinha sendo praticado até o começo dos anos 1990. É verdade que desde a criação da Internet pelos Estados Unidos, em 1969, já havia iniciativas isoladas como as da rede inglesa BBC e o jornal The New York Times, que deram inicio às primeiras experiências de transmissão de informação pela rede (ver p. 30). Mas o potencial do Jornalismo da rede mundial de computadores foi, de fato, percebido quando o mundo conectou-se à rede, em 1995, para acompanhar o atentado a um prédio do governo de Oklahoma City. O responsável pela morte de 168 pessoas, o terrorista Timothy McVeigh, foi executado em 2001 em Terre Haute, Indiana54. Na época, foram incluídos na rede comunicados da Casa Branca, fotos dos estragos, lista de vítimas e reportagens atualizadas sobre a tragédia. O serviço Newsday, do Prodigy publicou um mapa com a localização do atentado, uma 54 MOHERDAUI, 2007. 53
  • 54. matéria da agência Associated Press e uma descrição gráfica dos tipos de bombas usadas em ataques terroristas55. No Brasil, a Guerra de Kosovo incluiu o país na cobertura da rede. Na época, foi considerada a Guerra da Internet: A Guerra do Golfo, no início da década, marcou o apogeu da cultura televisiva. O mesmo tinha ocorrido com a Segunda Guerra Mundial em relação ao rádio. Nos ataques a Bagdá, pela primeira vez na história, todos os lances fundamentais do conflito apareciam em tempo real na tela da TV. Podia-se acompanhar cada lance da batalha, como a queda de mísseis, numa espécie de mórbido videogame global. Parecia ser o desenho mais estranho e requintado da guerra neste milênio. Era um engano. O atual confronto no Kosovo experimentava o uso de uma efetiva e moderníssima arma: a Internet. Com o avanço das tecnologias da informação: habitantes de todos os recantos da Terra, de Paris a Luanda, de Tóquio a Ciudad del Leste, puderam participar efetivamente do conflito. À parte dos bombardeios e do deslocamento de tropas, desenvolveu-se uma guerra paralela, democratizada, calcada na difusão caótica de informação e opinião. Qualquer pessoa podia mover seu peão nesse tabuleiro, seja contando sua experiência nas regiões do conflito, seja emitindo suas opiniões ou multiplicando informações. Tratava-se de uma Terceira Guerra Mundial, da qual muitos podiam participar sem se levantar da cadeira do escritório. Cada um esperando se tornar o Davi da história. Dezenas de sites foram criados especialmente para tratar dos assuntos da guerra. Ambos os lados se desdobram para convencer a plateia mundial de suas razões. A ideia era seduzir e arregimentar. Pede-se sempre uma ação positiva de apoio (ou dinheiro) a este ou aquele lado. A jovem iugoslava Lana, por exemplo, escreveu um pungente apelo contra a guerra. Afirma que os sérvios estão sendo atacados injustamente e prejudicados pela ‘guerra das mídias’. Num e-mail que roda o planeta há dias, Lana escreve: ‘talvez estejamos defendendo você. É por isso que o mundo não pode deixar a verdade enterrada em crateras de mísseis Tomahawks’. Note-se que mensagem é um apelo ao mundo (FALCETA JR: 1999 apud MOHERDAUI: 2007, p. 33-34). Houve outras coberturas de enorme importância, como a divulgação, em 1998, na Web, pelo colunista de fofocas Matt Drugde56 do caso envolvendo o ex- presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e a estagiária Monica Lewinsky. Na época, o relatório Kenneth Starr, com detalhes do caso, derrubou milhares de servidores em todo o mundo. A americana CNN disponibilizou na rede a íntegra 55 IBIDEM. 56 Para saber mais sobre Matt Drudge, ver: http://bit.ly/1Jxp9V. Acesso jan. 2012. 54
  • 55. das gravações em áudio (37 fitas com 22 horas) de uma conversa entre Monica e sua amiga Linda Tripp na qual contava sua história com Clinton57. A outra foi o atentado às torres gêmeas, em 2001. Conhecida como a Terça- feira Negra - matou milhares de pessoas e paralisou o país. O ataque terrorista também congestionou a Internet. Interfaces noticiosas chegaram a ficar fora do ar por mais de duas horas. Somente nos EUA, 30 milhões de pessoas tentaram se conectar a rede para enviar mensagens por e-mail ou programas de comunicação instantânea. Para os padrões daquele ano, esse número representava um terço a mais do que o tráfego normal. No dia anterior ao ataque, a média de tempo de conexão ficou em 5,5 segundos. No dia 11 de setembro, saltou para 12,9 segundos58. Isso fez com que a Web voltasse à interface de seus primeiros anos: tela com fundo branco e links. CNN, MSNBC e USA Today alteraram seus designs para facilitar a busca por informações. A CNN, por exemplo, excluiu fotos, vídeos e áudio para reduzir o peso da interface de 255 KB (kilobyte) para 20 KB (kilobyte)59. Figuras 17 e 18. Interfaces da CNN em 11 de setembro de 2001 57 MOHERDAUI, 2007, p. 64-65. 58 IBIDEM. 59 IBIDEM. 55