O documento defende que (1) as escolas devem fornecer um "Norte magnético" de valores para orientar as crianças, (2) isso é essencial para que as crianças desenvolvam consciência e capacidade de escolha, (3) escolas "neutras" na verdade limitam a liberdade das crianças ao não fornecer uma referência para tomar decisões informadas.
A Escolha da Escola - por Fernando Adão da Fonseca
1. A Escolha da Escola
Por Fernando Adão da Fonseca
Numa sociedade como a nossa, em que a cidadania
pressupõe capacidade de intervenção e consciência cívica,
queremos educar pessoas para viverem em liberdade. É isso
que impedirá que se transformem em autómatos, sem
capacidade para entender o Mundo e a sua própria vida e,
por conseguinte, verdadeiros escravos.
Para isso, é fundamental que o Estado lhes garanta
capacidade de escolha pois nele reside, em última instância,
o exercício da liberdade.
Para poder escolher qualquer coisa, o cidadão tem de
ganhar consciência em relação às opções que se lhe colocam
e, assim, esse acto para ser vivido em pleno exige que se
possa e saiba comparar. Como é evidente, isso não se faz
sem que exista uma bitola bem definida que, em igualdade
de circunstâncias, permita aos cidadãos aferir as diferenças e
as semelhanças constantes nas propostas que lhes fazem
chegar.
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2. Em educação queremos apresentar propostas de vida. Ou
seja, queremos oferecer caminhos plenos de significado e de
valores, a partir dos quais cada um seja livre para construir o
seu percurso e projecto de vida.
Utilizando uma imagem que me parece adequada para o
efeito, a escola deve funcionar como uma espécie de
bússula, indicando o Norte e os restantes pontos cardeais.
Mas para que isso aconteça é fundamental que primeiro se
acerte a bússula, calibrando o Norte magnético, pois a partir
daí passo a ser livre para escolher o caminho que quero.
Portanto, o Estado tem de oferecer um Norte magnético às
crianças, sendo capaz de lhes facultar propostas plenas de
valores. É esse o caminho que lhes permitirá formatar a sua
consciência, de forma a que, em liberdade e com
consciência alargada em relação à sua vida, a criança e o
jovem possa decidir o que pretende fazer. Em última
instância, num futuro não muito distante, este clima de
liberdade consciente possibilita a este jovem até a
possibilidade de refutar a proposta de valores que agora lhe
fazemos.
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3. Mas tem de haver uma proposta inicial. Se não formos capazes
de lhe oferecer um Norte magnético, que o oriente na sua
formação, as pessoas transformam-se numa espécie de cata-
ventos e viram-se para onde o vento sopra…
Infelizmente é a isto que nós vamos assistindo em Portugal
actualmente. A ideia de uma escola neutra, propicia uma
neutralidade na vida que é contrária à capacidade de escolha. A
neutralidade constrange o exercício da escolha e inibe as nossas
crianças de perceberem o que as envolve e de escolherem de
forma livre e consciente o percurso que desejam fazer. Seguem a
moda, o ídolo do momento e, por isso, não são
verdadeiramente pessoas livres.
Se eu quiser criar uma sociedade em que as pessoas sejam
dóceis e comandadas pelos poderes dominantes, a melhor
opção é criar uma escola neutra, ou seja, uma escola sem
valores, sem orientação e na qual as crianças nem sequer
adquirem uma capacidade crítica.
O facto de termos uma escola que assume o seu projecto
alicerçado em valores não quer dizer que seja uma escola
fechada. Pelo contrário. Uma escola assim, oferece aos seus
alunos visões e perspectiva distintas em relação à realidade e ao
Mundo. É fundamental que essa escola indique às crianças um
Norte, explicando-lhes que também existe o Sul, o Este e o
Oeste, e que esses são caminhos diferentes e distintos que estão
no seu rol de opções para a vida.
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4. Neste nosso Mundo tecnológico e de informação plena, torna-se
fácil às crianças acederem a todos os dados que lhes permitem
conhecer as suas opções e o Norte oferecido pela escola, calibrado
por todas as informações que lhes chegam, é sinónimo de
liberdade efectiva e consciente.
A informação só por si vale pouco. Se eu não tiver capacidade de
medir o seu valor e de fazer o contraste, serve de quase nada
porque gerará decisões baseadas em pressupostos que não são os
meus e, desta forma, é inimiga da minha liberdade. É preciso que
exista uma referência sólida a partir da qual construímos as nossas
escolhas. Se não conhecêssemos o Metro, como poderíamos
compreender o que é o Quilómetro ou o Centímetro?...
Sabe-se, por isso, que não existem – porque não são possíveis – as
escolas neutras, porque é impossível educar sem transmitir valores.
Até por uma questão prática e fácil de compreender, dado a escola
ser somente um complemento da casa e da família. E se em casa e
em família a criança é educada e cresce rodeada pelos valores em
que os seus acreditam, como poderia ser possível o surgimento de
uma escola vazia que contrariasse esse edifício de valores e de
princípios em que assenta esse crescimento?
A escola neutra é hoje reconhecida internacionalmente como
sendo um mito que, acima de tudo, coloca em causa a criação de
novas gerações conscientes e críticas e, por isso, verdadeiramente
livres de escolher o seu destino e o seu trajecto de vida
A escolha da escola é essencial para que exista liberdade!
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