DESAFIOS DO JORNALISMO DE CIÊNCIA | Como comunicar ciência com qualidade?
1. DESAFIOS DO JORNALISMO DE
DESAFIOS DA DIVULGAÇÃO
CIENTÍFICA HOJE
I Simpósio de Divulgação
Científica ICB-UFRJ – 2014
Alicia Ivanissevich
Revista Ciência Hoje
CIÊNCIA
Como comunicar ciência
com qualidade?
Embrapa- Comunicação da
Ciência – 2014
Alicia Ivanissevich
Revista Ciência Hoje
2. É clara a necessidade de ampliar cada vez mais a
cultura científica na sociedade.
Desafios da divulgação hoje
Difundir o conhecimento
•Contribui para formar uma consciência crítica
•Permite aumentar a participação das pessoas nas decisões e
políticas públicas
•Facilita a implementação de mudanças estratégicas na sociedade.
3. Como divulgar cciiêênncciiaa ccoomm
qquuaalliiddaaddee??
Meios de comunicação: caminho
mais rápido e eficaz para
aproximar a ciência do público.
• Brasil: mais de 96% dos domicílios
têm ao menos 1 televisão
• Há 270 milhões de celulares no
país
• 86 milhões de brasileiros usam a
internet em casa ou no trabalho, e
52,5 milhões usam a rede pelo
celular
4. Como divulgar cciiêênncciiaa ccoomm
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• Os mundos da
ciência e da
comunicação são
díspares, têm
normas,
linguagens,
hábitos e objetivos
diferentes.
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Cientistas trabalham com
uma metodologia própria,
que envolve proposição de
hipóteses, observação,
experimentação, verificação
de resultados e formulação
de teorias.
Suas pesquisas devem ser
avaliadas por seus pares e
publicadas em revistas
especializadas. É um
trabalho complexo, preciso,
lento, que pode levar anos
para ser concluído.
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• Jornalistas funcionam com
outra lógica. Precisam transmitir
conceitos muitas vezes
obscuros de forma clara,
concisa, direta, numa
linguagem compreensível por
grande número de pessoas.
• Usam manchetes e imagens
para chamar a atenção e
despertar a curiosidade do
público.
• Seu trabalho exige agilidade,
transparência, qualidade, apelo
e simplicidade.
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• Enquanto os pesquisadores tratam de mostrar
para a sociedade que postulados científicos
são provisórios e que o que move a ciência
são dúvidas e perguntas, os meios de
comunicação oferecem – de forma sedutora –
respostas conclusivas: do tipo ‘preto ou
branco’, ‘bom ou ruim’, ‘seguro ou perigoso’.
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Dada a natureza tão desigual desses dois
mundos, enfrentamentos entre jornalistas e
cientistas são inevitáveis.
Jornalistas querem entender em poucos
minutos o trabalho que cientistas levaram
anos para desenvolver.
Pretendem resumir em poucas palavras
conceitos complexos, que exigem
explicações prévias detalhadas. Usam
artifícios sutis, oferecem promessas,
distribuem advertências.
Existe aí um verdadeiro
choque cultural.
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• A relação entre cientistas
e jornalistas não é
pacífica nem confortável.
Existe aí um atrito
constante, porque
comunicar ciência para a
sociedade é
inevitavelmente um
processo de
simplificação, o que
pode ser muito perigoso
e, às vezes, inadequado.
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É possível então comunicar
ciência de forma prudente,
sem alarme, com
responsabilidade?
Existe uma tensão útil na
relação entre mídia e
comunidade científica, que, se
bem administrada, pode ser
proveitosa para ambas as
partes. E a sociedade pode se
beneficiar com os resultados.
11. Como divulgar cciiêênncciiaa ccoomm
qquuaalliiddaaddee?? • Divulgação científica
Contar histórias sobre as
conquistas do maravilhoso
mundo da ciência, explicando a
relevância das descobertas
científicas, exaltando os
resultados e seus benefícios.
Centros de pesquisa relações
públicas? Marketing?
• Jornalismo de ciência
Mostrar as vulnerabilidades da
ciência: experimentos mal
conduzidos, fracassos, conflitos
de interesses, dados forjados,
fraudes, plágios etc.
Ter espírito crítico e vigilante.
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Evolução da cobertura de ciência
Período entre guerras
Produção científica começa a ganhar destaque
nos meios de comunicação, sobretudo após a
Segunda Guerra Mundial.
Importante revolução no desenvolvimento
científico e tecnológico: de armamentos,
vacinas e medicamentos a satélites, foguetes,
computadores, materiais e técnicas de
transmissão de dados.
Formação de entidades de profissionais de
divulgação científica
• National Association of Science Writers (1934)
• Association of British Science Writers (1947)
• International Science Writers Association
(1967)
13. Como divulgar cciiêênncciiaa ccoomm
qquuaalliiddaaddee??
Evolução da cobertura de ciência
Décadas de 1970 e 1980
Expansão da cobertura de ciência pelos meios
de comunicação.
Diversas revistas de divulgação, seções
específicas em jornais e programas de rádio e
TV são criados ao redor do mundo – inclusive
no Brasil.
Passam a ser narradas não só as grandes
conquistas da ciência e tecnologia como
também suas implicações na saúde, na
sociedade e no ambiente.
Jornalistas e comunicadores começam a
introduzir uma visão crítica em seus artigos e
programas, abandonando a ênfase no
‘maravilhoso’ mundo da ciência e na até então
inquestionável atividade dos pesquisadores.
14. Como divulgar ciência ccoomm qquuaalliiddaaddee??
Evolução da cobertura de ciência
Décadas de 1970 e 1980 no Brasil
• Criada a ABJC (1977).
• Começam a aparecer jornalistas com
formação mais específica, voltada para
esse tipo de cobertura.
• Lançadas revistas: Revista Brasileira de
Tecnologia (1970), Ciência Ilustrada (1981),
Ciência Hoje (1982), Horizonte Geográfico
(1987) e Superinteressante (1987).
• Surgem editorias de ciência nos principais
jornais: Jornal do Brasil, O Globo, Folha de
S. Paulo, Estado de S. Paulo, Jornal do
Commercio, Correio Brasiliense etc.
• Vão ao ar programas regulares de ciência
de rádio e televisão, como o Globo Ciência
e o Estação Ciência (TV Manchete).
15. Como divulgar ciência ccoomm qquuaalliiddaaddee??
Evolução da cobertura de ciência
Década de 1990 no Brasil
Mais lançamentos editoriais: revistas Nova
Ciência (1990), Globo Ciência/Galileu
(1991) e Pesquisa Fapesp (1995).
Surgem cadernos de Ecologia, Ciência e
Saúde nos principais jornais e programas
ligados a Ciência e Meio Ambiente em TV
por assinatura.
Aparecem os primeiros sites de ciência.
16. Como divulgar ciência ccoomm qquuaalliiddaaddee??
Evolução da cobertura de ciência
A partir de 2000 no Brasil
A produção científica cresce de modo significativo:
de centenas de artigos/anuais nos anos 70 para
centenas de milhares/ano hoje.
Multiplicam-se as iniciativas de divulgação: novas
revistas, como National Geographic Brasil (2000) e
Scientific American Brasil (2002); programas de TV
por assinatura, rádios universitárias, blogues,
podcasts, vídeos, chats, inúmeras abordagens em
redes sociais, livros e e-books de ciência.
17. Como divulgar ciência ccoomm qquuaalliiddaaddee??
Como fazer a diferença?
Com o grande volume de
informação disponível, nos
diversos formatos e abordagens,
como fisgar o público?
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CCoommoo ffaazzeerr aa ddiiffeerreennççaa??
Qualidade e técnica
• Dominar a técnica é fundamental, mas não
suficiente. Velocidade será importante, mas
só terá validade com correção: não adianta
dar a informação antes, se ela estiver errada.
• Qualidade será o diferencial: checar
informações antes de apresentá-las e falar e
escrever de forma a se fazer entender.
• Fugir da ‘pasteurização’, em que a notícia é
tratada sempre a partir dos mesmos
enfoques. É importante não apenas mostrar
os resultados de sucesso, mas também o
processo de produção da ciência, com seus
erros e acertos.
• Evitar notas superficiais sobre estudos pouco
significativos e preferir matérias
investigativas, narrativas e interpretativas.
19. Como divulgar cciiêênncciiaa ccoomm
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CCoommoo ffaazzeerr aa ddiiffeerreennççaa??
Credibilidade
Dado o excesso de publicações,
sobreviverão apenas aquelas com
alto grau de credibilidade entre o
público: responsabilidade ética;
rigor na apuração, sem distorcer
dados, sem ocultar fatos, sem criar
falsas esperanças com matérias
sensacionalistas; uso de fontes
fidedignas; busca em fontes
primárias; consulta a especialistas
com reconhecida produção
científica.
20. Como divulgar cciiêênncciiaa ccoomm
qquuaalliiddaaddee?? CCoommoo ffaazzeerr aa ddiiffeerreennççaa??
Pensamento crítico
Dúvida – sempre presente. O mundo do
conhecimento se constrói com questionamentos.
A ciência não é a dona da verdade. Ela é feita de
histórias de sucessos e fracassos, contradições e
polêmicas.
Jornalistas são parceiros na expansão da cultura
científica. Mas não são intermediários acríticos da
difusão das políticas de ciência, tecnologia e
inovação, nem fantoches a serviço dos que
produzem o conhecimento científico.
O pensamento crítico e a vigilância da produção
científica fará a diferença entre os bons jornalistas e
as pessoas que apenas distribuem informação.
21. Como divulgar cciiêênncciiaa ccoomm
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Pensamento crítico / Ressalva (erros e fraudes)
• Neutrinos com velocidade maior que a da
luz (o que violaria a Teoria da relatividade)
Cabo com defeito
• Telescópio Bicep2 (Antártida): ondas
gravitacionais (perturbações no chamado espaço-tempo)
Efeito causado pela poeira interestelar da Via Láctea
• Bebê do Mississipi (livre do vírus da Aids)
Novos exames: bebê ainda é portador do HIV
• Células-tronco sob estresse (evitaria a destruição
de embriões)
fraude
Todos os estudos passaram por consultores
identificação de erros e fraudes é impossível para
jornalistas Ligar o ‘desconfiômetro’
22. Como divulgar cciiêênncciiaa ccoomm
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Humanização
A humanização nas notícias de ciência
serve de contraponto a um mundo
em que predominam as relações
mediadas pela tecnologia.
Usado com bom senso e na medida
certa, o humor ajuda a quebrar o
gelo e a aridez dos temas
científicos.
Histórias e depoimentos enriquecem e
humanizam a ciência e o cientista
23. Como divulgar cciiêênncciiaa ccoomm
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Criatividade e personalidade
Todos os recursos imagéticos,
sonoros, interativos, de animação
devem ser usados com imaginação.
Jornalismo de ciência não é
simplificação ou tradução de
linguagem, mas um ato criativo: a
partir de metáforas, imagens e
interpretações, cria-se um novo
universo.
Antes de tudo, é preciso ser um bom
contador de histórias.
O texto meramente informativo cederá
espaço à interpretação, ao
comentário e à opinião: sobreviverá
o jornalismo de ciência com
personalidade.
24. Como divulgar cciiêênncciiaa ccoomm
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Transparência
É a chamada nova objetividade
(tomar partido, não fingir ser
imparcial, deixar claros interesses
próprios e das fontes, ser preciso
com opinião)
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Novos desafios
•Conteúdo confiável,
simples, claro, crítico e de
qualidade já não é
suficiente.
•Devemos ser capazes
de surpreender e
emocionar o público.
26. Como divulgar cciiêênncciiaa ccoomm
qquuaalliiddaaddee??
Sabemos que o aprendizado
e a apreensão da informação
ocorrem de forma natural
quando se baseiam em
experiências sensoriais:
prazer, tristeza, angústia,
raiva, paixão são mais
facilmente guardados na
memória.
Por isso, terão mais efeito os
textos capazes de tocar
nossos sentidos e despertar
nossa curiosidade, como
acontece com a literatura, a
arte, a música, a dança.
27. Como divulgar cciiêênncciiaa ccoomm
qquuaalliiddaaddee??
Acredito que com essa
abordagem mais sensitiva – que
inclua a emoção – as pessoas
se tornarão mais permeáveis à
ciência e não apenas poderão
como provavelmente também
desejarão participar dessa
aventura que é o conhecimento.
E é então quando ocorre a
verdadeira transformação do
leitor – da sociedade:
impregnados dessa nova
sensibilidade, as pessoas
poderão mudar e escolher seu
olhar sobre o mundo.