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Tiragem: 44021                       Pág: 34

                                                                                                                            País: Portugal                       Cores: Cor

                                                                                                                            Period.: Diária                      Área: 27,07 x 29,83 cm²

   ID: 47019867                                                   06-04-2013                                                Âmbito: Informação Geral             Corte: 1 de 3




Fotografia
Viagem a Portugal
Começou por ser uma encomenda do Governo de Salazar, mas viria a tornar-se num momento
marcante na alteração do paradigma da arquitectura portuguesa a meio do século XX. Olhado
agora à distância de meio século, o Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa mostra-se também
como um sinal de renovação na história da fotografia portuguesa
                                       pelo regime, este foi um trabalho          acabar o curso na Faculdade de Belas      provocado pelas areias empurradas            O comissário e professor da His-
Sérgio C. Andrade                      fundamental para o que viria a ser         Artes de Lisboa.                          pelos ventos”, descreve António Me-       tória da Fotografia na Universidade
                                       um novo paradigma para a arquitec-           António Menéres, com a mesma            néres, em depoimento via email...         Nova de Lisboa nota que, na primei-




“     I
             sto não é uma exposi-     tura portuguesa, uma base sobre a          idade, trabalhou na Zona 1 — Região          Keil do Amaral e Fernando Távora       ra metade do século XX, esta arte
             ção de arquitectura.”     qual toda uma nova geração de ar-          Norte, sob a orientação de Fernando       — recorda Silva Dias — sintetizaram       “praticamente não sofreu a influên-
             Este podia ser o texto    quitectos foi construindo o(s) seu(s)      Távora (que tinha sido seu professor      assim o resultado perante os res-         cia dos movimentos modernistas, ou
             de um aviso à entrada     modernismo(s).                             nas Belas Artes do Porto e em cujo        ponsáveis do Estado Novo: “Há uma         então, nos anos 1930-40, tivemos um
             da exposição de fo-          O Inquérito foi realizado sob a coor-   atelier já trabalhava) e com outro jo-    superação das bases materiais”, ou        modernismo sem vanguarda”. Num
             tografia Território co-    denação de Francisco Keil do Amaral        vem, Rui Pimentel.                        seja, a partir de materiais pobres —      meio cultural “bastante conserva-
             mum, inaugurada na        por seis equipas de três arquitectos         Menéres, o mais novo membro             granito, xisto, madeira... —, as pesso-   dor e limitado”, quase circunscrito à
             quarta-feira na galeria   cada, distribuídas por outras tantas       da equipa de 18, confirma a má re-         as conseguiam construir casas com         “fotografia amadora de salão, muito
             da Fundação EDP, no       regiões do país com as suas câma-          acção de Salazar ao resultado do          grande coerência”, diz.                   moldada pelo legado do naturalismo
             Porto. Mas é preciso      ras fotográficas ao ombro. Francisco        Inquérito — que custou 500 contos            Foi esta realidade que ficou regis-     pictórico”, as fotografias realizadas
falar de arquitectura e recuar no      Silva Dias e António Menéres, dois         (cerca de 185 mil euros aos preços        tada num espólio de dez mil fotogra-      pelos arquitectos do Inquérito “trou-
tempo para entender aquilo que a       dos poucos sobreviventes da equi-          actuais), retirados do Fundo de De-       fias, de onde foram seleccionadas as       xeram um olhar mais frio, directo e
tornou possível.                       pa de 18 arquitectos-fotógrafos que        semprego. “Os governantes estavam         três centenas publicadas na primeira      despojado”, muito próximo já “da
  Em meados da década de 1950, o       entraram nessa “grande aventura”,          convencidos de que iríamos ‘fazer’        edição do livro em 1961. Para a actual    frente humanista que tem os seus
Governo do Estado Novo incumbiu        recordam ter usado, respectivamen-         um catálogo mostrando a casa por-         exposição Território comum, foram         ecos no realismo poético em França
o Sindicato Nacional dos Arquitec-     te, uma Rolleiflex e uma Agfa.              tuguesa a construir em cada uma das       utilizadas cerca de cinco mil imagens,    e no neo-realismo em Itália”.
tos de proceder ao levantamento da        “O Salazar e, principalmente, o mi-     regiões”, relata. Ao contrário, o que     a partir do trabalho de inventariação        A centena de imagens que cons-
arquitectura das diferentes regiões    nistro das Obras Públicas, Arantes de      resultou do trabalho de campo mos-        que a Ordem dos Arquitectos (com          titui a exposição Território comum,
do país, na procura de um mode-        Oliveira, esperavam que confirmás-          trou “o que eram as respostas das         o fotógrafo José Manuel Costa Alves)      continua Sérgio Mah, “leva-nos a per-
lo normativo que lhe permitisse        semos a existência de uma casa por-        populações aos problemas postos no        iniciou aquando do 50.º aniversário       ceber que há uma dimensão criati-
identificar “a casa portuguesa”, à      tuguesa”, recorda Silva Dias, que fez      mundo rural, cujo dia-a-dia era con-      da publicação do Inquérito (e que po-     va, de exploração da fotogenia e das
imagem dos ideários nacionalistas      equipa com Nuno Teotónio Pereira           sequência natural do seu trabalho e       de ser consultado em www.oapix.           ressonâncias estéticas da imagem,
que tinham sido cultivados em Es-      e António Pinto de Freitas no levan-       da sua economia”. “A arquitectura do      org.pt).                                  que foram utilizadas de uma forma
panha, Itália e Alemanha, sob os       tamento da Zona 4 — Região Oeste,          milho, entre o Douro e Minho, exigia                                                muito livre e muito espontânea” por
regimes ditatoriais anteriores à II    Vale do Tejo e Península de Setúbal.       as eiras, os espigueiros, os sequeiros,   Renovação da fotografia                    aquele grupo de arquitectos. “O que
Guerra Mundial.                        “Esse objectivo não foi correspon-         enquanto no Alentejo as monocul-          Sérgio Mah (n. Moçambique, 1970),         vemos nesta exposição é essa aven-
  Daqui nasceu o Inquérito à Arqui-    dido. Não havia uma arquitectura           turas tinham uma outra exigência,         comissário da exposição, nota que         tura da autonomia do fotográfico, da
tectura Regional Portuguesa, leva-     nacional, mas uma reacção muito            os chamados montes alentejanos, e         se “este espólio é fundamental pa-        possibilidade de desenvolver uma
do a cabo entre 1955 e 57 e editado    espontânea das populações às con-          na Costa Nova, em Mira, na pesca          ra pensar a história da arquitectura      fotografia que tem um compromisso
em livro em 1961 (teria depois três    dições do lugar onde viviam”, diz o        de xávega os pescadores habitavam         portuguesa, ele é também o sinto-         profissional, mas ao mesmo tempo
novas edições). Mesmo não ten-         arquitecto, agora com 82 anos, mas         em casas de madeira, construídas so-      ma de uma renovação na história           havia uma liberdade para que os fo-
do obtido os resultados desejados      que na altura era um jovem ainda a         bre pilares, evitando o assoreamento      da fotografia portuguesa”.                 tógrafos se entregassem ao jogo das
Tiragem: 44021                     Pág: 35

                                                                                               País: Portugal                     Cores: Cor

                                                                                               Period.: Diária                    Área: 26,65 x 29,83 cm²

ID: 47019867                                    06-04-2013                                     Âmbito: Informação Geral           Corte: 2 de 3
               FOTOS: ORDEM DOS ARQUITECTOS




                                              Reguengos      formas, da composição, da variação      MoMA de Nova Iorque, em 1955”, es-       “A fotografia era, para nós, um
                                              de Monsaraz,   dos pontos de vista.”                   creve Sérgio Mah no jornal-catálogo    instrumento de análise, como o
                                              Évora (foto       Francisco Silva Dias confirma que,    que acompanha Território comum         desenho e a escrita. Mas havia uma
                                              acima)         de facto, “a fotografia fazia parte da   (e que tem ainda textos de José Ma-    certa poética. Nós cuidávamos da
                                                             cultura” dos arquitectos da época,      nuel dos Santos, da Fundação EDP,      luz e do enquadramento”, confir-
                                              À esquerda,    que, por outro lado, tinham Por-        de João Belo Rodeia, da Ordem dos      ma Silva Dias, que actualmente já
                                              de cima para   tugal, o Mediterrâneo e o Atlântico     Arquitectos, e do arquitecto João      não fotografa — “a minha máquina
                                              baixo:         (1945), do geógrafo Orlando Ribeiro,    Manuel Santa Rita).                    avariou, e as novas já não me in-
                                              Alandroal,     como “livro de cabeceira”. E Antó-         Na visita em que guiou o PÚBLICO    teressam tanto” —, mas escreve e
                                              Évora;         nio Menéres tinha-se mesmo inicia-      à exposição ainda em montagem na       pinta, além de fazer parte da As-
                                              Portimão,      do na fotografia ainda criança, tendo    galeria da EDP, o comissário disse     sembleia Municipal de Lisboa.
                                              Faro;          à data do Inquérito já assumido esse    que a sua preocupação foi “tratar as     António Menéres continua a
                                              Fundão,        “vício” e registado, por exemplo, o     imagens caso a caso”, e olhá-las na    fotografar e a expor o seu vasto
                                              Castelo        quotidiano do porto de Leixões e de     sua “qualidade estética, para além     espólio pessoal em diferentes lu-
                                              Branco;        Leça da Palmeira.                       da sua relevância temática”.           gares, desde que há quatro anos
                                              Póvoa de          Esses anos 1950 eram o tempo            São cem, todas quadradas e com      foi convidado a mostrar a arquitec-
                                              Lanhoso,       em que outros arquitectos, como         a mesma dimensão (36x36cm),            tura popular portuguesa no Ceará,
                                              Braga          Victor Palla e Costa Martins — que      identificadas apenas com referên-       no Brasil. Neste fim-de-semana,
                                                             em 1959 iriam editar esse álbum         cia ao lugar e ao distrito. Não há     tem duas exposições no Alto Mi-
                                                             fundamental para a fotografia por-       autores. “O Inquérito foi um tra-      nho, em Ponte da Barca e em Ar-
                                                             tuguesa, Lisboa, Cidade Triste e Ale-   balho colectivo”, nota Sérgio Mah.     cos de Valdevez, onde mostra Ar-
                                                             gre —, mas também Sena da Silva ou      “Eles não estavam a preparar uma       quitectura popular e memória do
                                                             Carlos Calvet, se distinguiam “por      exposição de arte. Percebemos          tempo e do património construído,
                                                             uma prática fotográfica de índole        que os arquitectos procuram fazer      que acompanhou o programa do
                                                             neo-realista sintonizada com os ecos    imagens interessantes, mas nun-        Colóquio Internacional de Arqui-
                                                             da vocação humanista consagrada         ca comprometendo o objectivo           tectura Popular que hoje termina
                                                             pela célebre exposição fotográfica       principal, que era tornar o terri-     nesta última vila do interior mi-
                                                             The Family of Man, organizada pelo      tório legível através da imagem”.      nhoto.
Tiragem: 44021             Pág: 56

                                                 País: Portugal             Cores: Cor

                                                 Period.: Diária            Área: 10,20 x 3,47 cm²

ID: 47019867           06-04-2013                Âmbito: Informação Geral   Corte: 3 de 3

               Viagem fotográfica
               a Portugal através
               da arquitectura
               O Inquérito à Arquitectura
               Regional é sinal de renovação
               na história da fotografia p34/35

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A renovação da arquitetura e fotografia portuguesas através do Inquérito à Arquitetura Regional

  • 1. Tiragem: 44021 Pág: 34 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 27,07 x 29,83 cm² ID: 47019867 06-04-2013 Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 3 Fotografia Viagem a Portugal Começou por ser uma encomenda do Governo de Salazar, mas viria a tornar-se num momento marcante na alteração do paradigma da arquitectura portuguesa a meio do século XX. Olhado agora à distância de meio século, o Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa mostra-se também como um sinal de renovação na história da fotografia portuguesa pelo regime, este foi um trabalho acabar o curso na Faculdade de Belas provocado pelas areias empurradas O comissário e professor da His- Sérgio C. Andrade fundamental para o que viria a ser Artes de Lisboa. pelos ventos”, descreve António Me- tória da Fotografia na Universidade um novo paradigma para a arquitec- António Menéres, com a mesma néres, em depoimento via email... Nova de Lisboa nota que, na primei- “ I sto não é uma exposi- tura portuguesa, uma base sobre a idade, trabalhou na Zona 1 — Região Keil do Amaral e Fernando Távora ra metade do século XX, esta arte ção de arquitectura.” qual toda uma nova geração de ar- Norte, sob a orientação de Fernando — recorda Silva Dias — sintetizaram “praticamente não sofreu a influên- Este podia ser o texto quitectos foi construindo o(s) seu(s) Távora (que tinha sido seu professor assim o resultado perante os res- cia dos movimentos modernistas, ou de um aviso à entrada modernismo(s). nas Belas Artes do Porto e em cujo ponsáveis do Estado Novo: “Há uma então, nos anos 1930-40, tivemos um da exposição de fo- O Inquérito foi realizado sob a coor- atelier já trabalhava) e com outro jo- superação das bases materiais”, ou modernismo sem vanguarda”. Num tografia Território co- denação de Francisco Keil do Amaral vem, Rui Pimentel. seja, a partir de materiais pobres — meio cultural “bastante conserva- mum, inaugurada na por seis equipas de três arquitectos Menéres, o mais novo membro granito, xisto, madeira... —, as pesso- dor e limitado”, quase circunscrito à quarta-feira na galeria cada, distribuídas por outras tantas da equipa de 18, confirma a má re- as conseguiam construir casas com “fotografia amadora de salão, muito da Fundação EDP, no regiões do país com as suas câma- acção de Salazar ao resultado do grande coerência”, diz. moldada pelo legado do naturalismo Porto. Mas é preciso ras fotográficas ao ombro. Francisco Inquérito — que custou 500 contos Foi esta realidade que ficou regis- pictórico”, as fotografias realizadas falar de arquitectura e recuar no Silva Dias e António Menéres, dois (cerca de 185 mil euros aos preços tada num espólio de dez mil fotogra- pelos arquitectos do Inquérito “trou- tempo para entender aquilo que a dos poucos sobreviventes da equi- actuais), retirados do Fundo de De- fias, de onde foram seleccionadas as xeram um olhar mais frio, directo e tornou possível. pa de 18 arquitectos-fotógrafos que semprego. “Os governantes estavam três centenas publicadas na primeira despojado”, muito próximo já “da Em meados da década de 1950, o entraram nessa “grande aventura”, convencidos de que iríamos ‘fazer’ edição do livro em 1961. Para a actual frente humanista que tem os seus Governo do Estado Novo incumbiu recordam ter usado, respectivamen- um catálogo mostrando a casa por- exposição Território comum, foram ecos no realismo poético em França o Sindicato Nacional dos Arquitec- te, uma Rolleiflex e uma Agfa. tuguesa a construir em cada uma das utilizadas cerca de cinco mil imagens, e no neo-realismo em Itália”. tos de proceder ao levantamento da “O Salazar e, principalmente, o mi- regiões”, relata. Ao contrário, o que a partir do trabalho de inventariação A centena de imagens que cons- arquitectura das diferentes regiões nistro das Obras Públicas, Arantes de resultou do trabalho de campo mos- que a Ordem dos Arquitectos (com titui a exposição Território comum, do país, na procura de um mode- Oliveira, esperavam que confirmás- trou “o que eram as respostas das o fotógrafo José Manuel Costa Alves) continua Sérgio Mah, “leva-nos a per- lo normativo que lhe permitisse semos a existência de uma casa por- populações aos problemas postos no iniciou aquando do 50.º aniversário ceber que há uma dimensão criati- identificar “a casa portuguesa”, à tuguesa”, recorda Silva Dias, que fez mundo rural, cujo dia-a-dia era con- da publicação do Inquérito (e que po- va, de exploração da fotogenia e das imagem dos ideários nacionalistas equipa com Nuno Teotónio Pereira sequência natural do seu trabalho e de ser consultado em www.oapix. ressonâncias estéticas da imagem, que tinham sido cultivados em Es- e António Pinto de Freitas no levan- da sua economia”. “A arquitectura do org.pt). que foram utilizadas de uma forma panha, Itália e Alemanha, sob os tamento da Zona 4 — Região Oeste, milho, entre o Douro e Minho, exigia muito livre e muito espontânea” por regimes ditatoriais anteriores à II Vale do Tejo e Península de Setúbal. as eiras, os espigueiros, os sequeiros, Renovação da fotografia aquele grupo de arquitectos. “O que Guerra Mundial. “Esse objectivo não foi correspon- enquanto no Alentejo as monocul- Sérgio Mah (n. Moçambique, 1970), vemos nesta exposição é essa aven- Daqui nasceu o Inquérito à Arqui- dido. Não havia uma arquitectura turas tinham uma outra exigência, comissário da exposição, nota que tura da autonomia do fotográfico, da tectura Regional Portuguesa, leva- nacional, mas uma reacção muito os chamados montes alentejanos, e se “este espólio é fundamental pa- possibilidade de desenvolver uma do a cabo entre 1955 e 57 e editado espontânea das populações às con- na Costa Nova, em Mira, na pesca ra pensar a história da arquitectura fotografia que tem um compromisso em livro em 1961 (teria depois três dições do lugar onde viviam”, diz o de xávega os pescadores habitavam portuguesa, ele é também o sinto- profissional, mas ao mesmo tempo novas edições). Mesmo não ten- arquitecto, agora com 82 anos, mas em casas de madeira, construídas so- ma de uma renovação na história havia uma liberdade para que os fo- do obtido os resultados desejados que na altura era um jovem ainda a bre pilares, evitando o assoreamento da fotografia portuguesa”. tógrafos se entregassem ao jogo das
  • 2. Tiragem: 44021 Pág: 35 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 26,65 x 29,83 cm² ID: 47019867 06-04-2013 Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 3 FOTOS: ORDEM DOS ARQUITECTOS Reguengos formas, da composição, da variação MoMA de Nova Iorque, em 1955”, es- “A fotografia era, para nós, um de Monsaraz, dos pontos de vista.” creve Sérgio Mah no jornal-catálogo instrumento de análise, como o Évora (foto Francisco Silva Dias confirma que, que acompanha Território comum desenho e a escrita. Mas havia uma acima) de facto, “a fotografia fazia parte da (e que tem ainda textos de José Ma- certa poética. Nós cuidávamos da cultura” dos arquitectos da época, nuel dos Santos, da Fundação EDP, luz e do enquadramento”, confir- À esquerda, que, por outro lado, tinham Por- de João Belo Rodeia, da Ordem dos ma Silva Dias, que actualmente já de cima para tugal, o Mediterrâneo e o Atlântico Arquitectos, e do arquitecto João não fotografa — “a minha máquina baixo: (1945), do geógrafo Orlando Ribeiro, Manuel Santa Rita). avariou, e as novas já não me in- Alandroal, como “livro de cabeceira”. E Antó- Na visita em que guiou o PÚBLICO teressam tanto” —, mas escreve e Évora; nio Menéres tinha-se mesmo inicia- à exposição ainda em montagem na pinta, além de fazer parte da As- Portimão, do na fotografia ainda criança, tendo galeria da EDP, o comissário disse sembleia Municipal de Lisboa. Faro; à data do Inquérito já assumido esse que a sua preocupação foi “tratar as António Menéres continua a Fundão, “vício” e registado, por exemplo, o imagens caso a caso”, e olhá-las na fotografar e a expor o seu vasto Castelo quotidiano do porto de Leixões e de sua “qualidade estética, para além espólio pessoal em diferentes lu- Branco; Leça da Palmeira. da sua relevância temática”. gares, desde que há quatro anos Póvoa de Esses anos 1950 eram o tempo São cem, todas quadradas e com foi convidado a mostrar a arquitec- Lanhoso, em que outros arquitectos, como a mesma dimensão (36x36cm), tura popular portuguesa no Ceará, Braga Victor Palla e Costa Martins — que identificadas apenas com referên- no Brasil. Neste fim-de-semana, em 1959 iriam editar esse álbum cia ao lugar e ao distrito. Não há tem duas exposições no Alto Mi- fundamental para a fotografia por- autores. “O Inquérito foi um tra- nho, em Ponte da Barca e em Ar- tuguesa, Lisboa, Cidade Triste e Ale- balho colectivo”, nota Sérgio Mah. cos de Valdevez, onde mostra Ar- gre —, mas também Sena da Silva ou “Eles não estavam a preparar uma quitectura popular e memória do Carlos Calvet, se distinguiam “por exposição de arte. Percebemos tempo e do património construído, uma prática fotográfica de índole que os arquitectos procuram fazer que acompanhou o programa do neo-realista sintonizada com os ecos imagens interessantes, mas nun- Colóquio Internacional de Arqui- da vocação humanista consagrada ca comprometendo o objectivo tectura Popular que hoje termina pela célebre exposição fotográfica principal, que era tornar o terri- nesta última vila do interior mi- The Family of Man, organizada pelo tório legível através da imagem”. nhoto.
  • 3. Tiragem: 44021 Pág: 56 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 10,20 x 3,47 cm² ID: 47019867 06-04-2013 Âmbito: Informação Geral Corte: 3 de 3 Viagem fotográfica a Portugal através da arquitectura O Inquérito à Arquitectura Regional é sinal de renovação na história da fotografia p34/35