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Nº 0
30 Janeiro de 2012
Preço: 100 Escudos
Concorrência traz maiores desafios
“ O Associativismo não é
o forte dos Cabo- verdia-
nos”.
pág.3
“Não temos, nenhum acor-
do com o vosso governo ...”
Lin Xiao Ying
pág.4
Quando surgiu a gravidez
houve a necessidade de
trabalhar.
pág. 13
Grande Entrevista
Entrevista
“ O mercado caiu e muito,
devido a falta de fiscaliza-
ção e também da crise que
está a ocorrer no mundo”.
pág.8
2ORabidante:10deJaneirode2012 EDITORIAL
MELHORES CONDIÇÕES DE VIDA
O comércio é principal fonte de ren-
dimento do país. Quando se fala no
comércio no sucupira pensa-se logo
no vestuário e no calçado. Mas na
realidade o mercado apresenta di-
versificações de sectores.
O centro comercial do sucupira da
cidade da Praia é considerado o
maior mercado do arquipélago. Os
rabidantes do mercado são pessoas
poucas instruídas, com idade com-
preendida entre os 16 aos 60 anos, e
na sua maioria são mulheres chefes
de famílias que batalham para o
próprio sustento. A busca pelo “gan-
ha-pão” começa desde o amanhecer
até ao pôr-do-sol. O mercado é con-
siderado uma segunda casa pelos
rabidantes.
Há muito que os chineses estão
nesse ramo de comércio, no país e
não eram vistos como uma concor-
rência, porque mesmo com a forte
presença no sector, o mercado do
sucupira nunca deixou de ser pro-
curado. Porém de uns anos para cá
devido a crise o mercado sofreu uma
forte queda de venda. As opiniões
dos próprios rabidantes divergem-
se entre eles. Enquanto uns respon-
sabiliza a queda de venda aos chin-
eses, outros aponta-o a crise.
Sendo assim, o”O Rabidanti” saiu a
rua da capital para saber as opiniões
dos cidadãos a cerca dessa prob-
lemática. O facto é que a nossa re-
vista durante toda a recolha, apurou
que estes novos investidores troux-
eram benefícios, tanto para a sua
população como para a economia
do país.
Assim, de acordo com os dados re-
colhidos, vamos fornecer informa-
ções aos públicos com intuito de
fazer-lhes conhecerem os dois lados
envolvidos (chineses versus rabi-
dante), na nossa1ª edição da Revista
o “O Rabidanti”.
Ângela Santos
O QUE DIZ A LEI?De acordo com o Decreto-Lei nº
21/2011 de 7 de Março.
A
lei diz que, os serviços são
o mais importante sector
da ecónoma nacional em
termos económicos e de emprego
e tem registado um maior desen-
volvimento nos últimos anos. Ou
seja diante dessas circunstâncias, o
governo ciente de que um merca-
do competitivo e a eliminação dos
entraves ao seu desenvolvimento
são fundamentais para promover o
crescimento económico e a criação
de emprego, vem propugnando pela
liberdade de estabelecimento dos
serviços no território nacional, em
ordem à contribuição para a expan-
são e crescimento deste sector. Tam-
bém a lei diz no artigo 3º da lei nº 49/
VII/2009, de 30 de Dezembro que o
presente diploma visa em desenvol-
vimento do princípios de livre esta-
belecimento em consonância com
os compromissos advenientes da
adesão de Cabo Verde à organização
mundial do comercio concretamente
de acordo geral sobre o comercio de
serviços, assegurar que os regimes
jurídicos aplicáveis ao sector dos
serviços respeitem a liberdade do
direito de estabelecimento e da livre
prestação de serviços ao estabelecer
um conjunto de princípios gerais
aplicáveis ao procedimentos que
regulamentam o acesso e exercício
das actividades de serviços, através
de um adequado equilíbrio entre a
abertura do mercado e a preserva-
ção dos serviços públicos, dos dire-
itos sócias e da protecção reforçada
dos destinatários dos serviços.
Ainda é de se lembrar, o artigo 11º
(âmbito territorial e limitação de
permissão administrativas) em que
a lei diz. 1 - As permissões admin-
istrativas concebidas pelos serviços
da administração directa e indi-
recta do estado devem permitir ao
prestador de serviços o exercício
da sua actividade de serviço
em todo o território nacional.
2- Quando o regime de permissão
administrativa de uma actividade
assim o exija, o prestador de serviço
deve informar a autoridade admin-
istrativa competente, através do
balcão único, da criação de sucur-
sais, filias, agências ou escritórios.
Ana Brandão
3
ORabidante:10deJaneirode2012
Mulheres fazendo renda Foto:
Ana Brandão
Pedicure
Foto: Ana Brandão
Vendedeira Ambulante
Foto: Ana Brandão
Clientes
Foto: Ana Brandão
Vendedeira Ambulante
Foto: Ana Brandão
Vendedeira Ambulante
Foto: Ângela Santos
Clientes
Foto: Ângela Santos
FOTO REPORTAGEM
4ORabidante:10deJaneirode2012
“ Falta de fiscalização!”
Mamadou Trouré Vice – Presidente da As-
sociação dos Rabidantes do Sucupira
Mamadou Trouré, é Nigeriano
residente em Cabo verde cidade da
Praia há 22 anos. Comerciante em
sucupira há mais de uma década e
meio, mostra sua preocupação no
que tange ao comércio no Sucu-
pira».
Segundo, o nosso entrevistado a má
fiscalização dos órgãos competentes
deste sector, é o grande responsável
pela falta de venda neste mercado.
Ainda Mamadou diz que há muito
que os “Chineses” entraram
neste comércio no país. E que até
uns dois anos atrás estes não repre-
sentavam muita ameaça
para eles como está agora;
«Os “Chineses”começaram a fazer-
nos concorrência a partir do mo-
mento que perceberam que o país
não tem controlo, ou melhor não
possui uma lei que vigia este tipo de
comércio. “A partir daí começaram
a frequentar
os mesmos mercados que nós e ain-
da a copiar os nossos produtos”».
Cita Trouré.
Nosso entrevistado deixa
transparecer que apesar de
existir uma “Associação
dos Rabidantes”,
essa não é bem aceite por
todos ali devido
a várias razões que o
próprio diz não vale a pena
mencionar. Ainda na sua
opinião o associativismo
não é o forte dos cabo-
verdianos e isto tem preju-
dicado a classe. No início
que me integrei na Associação,
ela contava com vinte membros,
fectivos e mais de três dezenas de
apoiantes sem contar com os outros
rabidantes
que participavam nas actividades re-
alizadas. Hoje em dia nem o próprio
Presidente aparece para inteirar dos
factos ocorridos. Na qualidade de
vice-presidente, devo dizer-vos que
muitas vezes quando a classe passa
por momentos tensos os problemas
muitas vezes são resolvidos com in-
dividualidade.
O orgulho dos rabidantes é maior
que qualquer conforto, palavras do
vice-presidente da associação dos
rabidantes.
Mamadou não poupa criticas aos
colegas sobre “a desunião” entre os
rabidantes que de uma certa forma
tem sufocado o mercado. Faz-se
reuniões da associação não com-
parece uma dúzia de colegas cabo-
verdianos, e por este motivo, não
vale a pena continuarmos com a as-
sociação, afirma o rabidante
um pouco indignado.
Apesar de possuírem qualidades
no produto a queixa pela falta
de procura é enorme. A dias que
nem dinheiro para o transporte se
vende. Hoje nem nas épocas festi-
vas procura-
se o sucupira como antes.
Embora se fala na crise, o facto é
que o medo de perder o sustento é
cada vez mais a preocupação dos
rabidantes.
Quando o “O Rabidante”, quis
saber se a associação já se reuniu
alguma vez para tratar
desse tema, de concorrência dos
chineses, a resposta do inquerido
é “nunca”! «Faz-se os comentários,
mas na hora de colocar
os pingos nos ís ninguém aparece, e
começa aquele furdunço,
quem está a sentir lesado
que vá procurar o seu direito.
O entrevistado apela à participação
activa dos colegas e aponta que “A
união faz a força”.
«Os“Chineses”começaram
a fazer-nos concorrência
a partir do momento que
perceberam que o país não
tem controlo, ou melhor
não possui uma lei que vi-
gia este tipo de comércio.
“Apartirdaícomeçaramafre-
quentar os mesmos mercados
que nós e ainda a copiar
os nossos produtos”»
Ana Brandão
Grande Entrevista
Foto: Ângela Santos
5
ORabidante:10deJaneirode2012
Ficha Técnica
Rabidante Foto: Ângela Santos
Vendedeira Ambulante Foto: Ângela Santos
Pedicure Ambulante Foto: Ana
Brandão
Rabidante
Foto: Ângela Santos
Cabeleleiras no sucupira
Foto: Ângela Santos
Rabidante fazendo renda Foto:
Ângela Santos
Foto Reportagem
Reporteres:
Ana Brandão e Ângela Santos
Edição e Paginação:
Ângela Santos e Ana Brandão
Imprissão: Multicópia
Tiragem: 1
6
chinesa, está em Cabo Verde há
7 anos, comercianteproprietária
de duas lojas, uma em Achada San-
to António e outra em descida Terra
Branca.
Lin defende a sua classe, desmentin-
do
aos “boatos” de que eles não pagam
alfândega, e de ter qualquer pro-
tecção do governo. Porém a com-
erciante explica-nos o que faz com
que os Rabidantes do Sucupira ten-
ham essa visão.
«O que leva os Rabidantes do Sucu-
pira a pensar que temos protecção
do governo, é o seguinte, nós somos
muitos e estamos mais bem orga-
nizado e preparado do que eles, ad-
mito sermos uma concorrência forte
face aos Rabidantes do Sucupira.
Mas o que acontece é que nós quan-
do vamos, ou mandamos exportar
de qualquer país para Cabo verde
organizamos em grupo e alugamos
contentores dos navios por um preço
mais acessível devido a quantidade
de que alugamos e com isso ex-
portamos mais;
também na hora
de compra o que
estamos a fazer
é tentar satis-
fazer o mercado
cabo-verdiano.
Não só ven-
demos produtos
da china, mas
o facto é que
quando vamos
por exemplo ao
Brasil compramos qualquer produto
em grande quantidade o que faz nos
ganhar um desconto bem mais baixa
do que dos Rabidantes
do Sucupira por isso
a vendemos mais em
conta. Agora gostaria
de deixar aqui bem cla-
ro que nós os comerci-
antes “Chineses”não
temos, nenhum acordo
com o vosso governo,
estamos aqui como in-
vestidores e pagamos
as nossas despesas
como qualquer um»,
frisa Lin. Enquanto, os
Rabidantes do Sucu-
pira, atribui a respons-
abilidade da aderência
de venda ao governo e
a concorrência, Ying,
culpa a classe de serem
os próprios origina-
dores, desta crise uma
vez que esses não se encontram bem
organizados, e ainda de serem pes-
soas egoístas. Aponta que a único
objectivo dos Rabidantes
do Sucupira é ganhar dinheiro,
e de muitas vezes exagerarem nos
preços, não pensando na verdadeira
situação financeira do pais.
Assim como os Rabidantes do
Sucupira, a comerciante chinesa,
também afirma que o momento é
de crise, salientando que antes tinha
3 empregada em cada uma da sua
loja, mas hoje só tem uma com ela e
a irmã que está a frente da outra loja
tem dois empregados sem contar
com o marido da mesma. «Uma vez
quando cá cheguei e até dois anos
atrás eu vendia muito e às vezes
tomava uma refeição porque não
dava tempo, mas hoje como podem
ver estou com loja vazio e a tempo
até para ler um livro ou ver um
filme, mas nem por isso vou acusar
as outras lojas, temos de consolar
com “kau mau pa tudo lado». Cita
Ying.
ORabidante:10deJaneirode2012
Chineses & Rabidantes
PONTO DE VISTA
Lin Xiao Ying Foto:Ana Brandão
7
ORabidante:10deJaneirode2012
Elisabete Barros, de 34 anos, pai e mãe de uma filha
de 6 anos “diz-nos” que hoje ela tornou-se ra-
bidanteambulantegraçasaos“chineses”.Com
quase a mesma idade da filha de experiência
noramo“Bety”comoelaprefereserchamada.
Elisabete Barros Foto: Ana Brandão
ORabidante – Como é que surgiu
esta profissão?
Elisabete Barros – Quando surgiu
a gravidez surgiu a necessidade de
trabalhar, e foi aí que com pouca
economia
que tinha fui comprar nas lojas dos
chineses no plateau para vender em
outros pontos como Tira-chapéu,
Fundo Cobom, ASA e etc., no inicio
dava mais lucro,
porque os fregueses não tinham
tempo para deslocarem
ao plateau, comprava em mim e out-
ras colegas depois com abertura de
lojas nesses pontos começamos
a perder a nossa clientela, porque já
não precisavam
deslocar, mas com a pratica comecei
a ver que existem
outras necessidades dos fregueses,
a qualidade, foi então que pulei dos
chineses para o “iá” (roupas usadas,
provenientes dos estados Unidos da
América).
Apósterdeixadodevendergrande
parte dos produtos
chineses, para vender outros
produtos, como é que você vê os
chineses?
Ainda vendo, mas vendo mais o iá!
E não tenho
razões de queixa para com os chin-
eses, porque a qualidade do produto
é diferente.
Como estão a decorrer a vendas?
Razoável, há dias que se vende e
outros não, mas dá para continuar.
O momento inspira compreensão,
não há dinheiro. As pessoas querem
comprar mas no entanto tem outras
prioridades.
Na qualidade de rabidante ambu-
lante quais os benefícios
e as desvantagens que os chineses
trouxeram?
A meu ver os “chineses” trouxeram
muita alegria aos cabo-verdianos,
em vários aspectos: por exemplo
uma família numerosa hoje desde
que haja mínima condição todos
pode se vestir ou calçar e por um
preço inferior, e não só eles combat-
eram a prostituição e o vandalismo.
Quanto as desvantagens penso que
os rabidantes do sucupira são de
uma forma geral os mais prejudica-
dos porque estavam acostumados a
“matar”com o preço e também en-
tendo as suas posições como pais de
famílias. Mas devemos ver as coisas
por duas faces. Ângela Santos
8ORabidante:10deJaneirode2012
Foto: Ângela Santos Rabidante de Sucupira
Foto: Ângela Santos Comerciante: Chinês
9
ORabidante:10deJaneirode2012
A concorrência sempre foi
interpretada ao pé da letra.
Assim como, tudo na vida,
tem um lado positivo e outro
negativo,aconcorrênciatam-
bém tem esses dois lados.
Quem beneficia com a con-
corrência são os clientes, a
medidaqueelavaiaumentan-
do os preços dos produtos ou
dos serviços vão diminuindo
e sendo, Cabo Verde um país
onde o rendimento é baixo,
qualquer concorrência é
bem aceite. A parte positiva é
que os chineses diminuíram
o desemprego, aumentou
os números de rabidantes,
trouxe mas oportunidade a
famílias numerosas de se ve-
stirem melhor.
O lado negativo é que esses
investidores a partir do mo-
mento que entraram no país,
fez com que os rabidantes de
sucupira perdessem vários
clientes. Essa perda é negati-
vo uma vez são sustento dess-
es rabidantes. Ainda na se-
quência dos acontecimentos
é de salientar que no meu ver
a queda de venda no merca-
do sucupira tem muito a ver
com a entrada dos chineses.
Se formos ver o arquipélago
sempre viveu em situações
económicas pouco favorável,
mas mesmo assim o mercado
sucupira sempre vendeu.
O factor dessa discorda sem-
pre foi o preço. Mas o que
a população nunca parou
para ver é que, ao contrário
dos chineses que vendem
má qualidade por um preço
baixo, os rabidantes de sucu-
pira vendem ao custo elevado
devido a boa qualidade.
Ana Brandão
As duas Faces
Artigo de Opinião
10ORabidante:10deJaneirode2012
Já lá vão os tempos áureos da sucu-
pira. Me lembro como se fosse hoje,
era mais ou menos na mesma época
do (Natal) há três anos atrás quando
vim estudar na Capital que lá es-
tive
para comprar uma sandália. E
o tempo era outro parecia com
o festival da Gamboa «cheia de
agitação, movimentação de cen-
tenas de pessoas onde um pisava
no “calo” do outro, o mau cheiro
de suor, encontro de amigos que
a muito não avistava entre outras
coisas que não vou mencionar
devido a limitação de espaço»;
Mas hoje nesta mesma época lá
voltei de novo e desta vez não para
comprar sapato … foi a passeio mes-
mo, saber das novidades etc. Minha
gente deparei com um silêncio em
termos de tudo que um dia por ali
tinha avistado, e pelo incrível que
pareça, por um instante coloquei-me
no lugar dos rabidantes e a primeira
sensação que tive é de me perguntar
a mim mesma, o que será de nós que
sustentamos a casa com venda?
Depois, de algum minutinhos de-
brucei-me sobre uma frisa de parede
e pus a falar com uma conhecida que
ali vende “Fátima” que assim como
eu encontrava debruçada na mesma
parede, perguntei-lhe: Fátima agora
é assim?
Ela me respondeu minha filha
se não fosse essa distracção de car-
ros a subir e a descer penso que, nós
éramos muitos que já tinha deixado
o sucupira, agora somos rabidantes
e rabidantes um a olhar para cara do
outro; me despedi, dizendo aiai e
fui, mais para cima onde um grupo
de rabidantes se divertia jogando
cartas.
Confesso que em parte, aquela
tranquilidade me deixou contente,
mas vendo as caras tristes dos rabi-
dantes me fizeram sentir uma angús-
tia, ao lembrar que aquela tristeza
de uma certa forma tinha a ver com
o sustento de muitas famílias; por
instante senti vontade chorar, mas
não o fiz, coloquei a minha fé e pus
a orar no meio da caminhada pedin-
do a Deus com coração que fizesse
aqueles pais venderem alguma coi-
sa para não desanimarem; o incrível
é ver que estes rabidantes também
ajudam outras pessoas a ganharem
o sustento, não pude deixar de ver
e admirar alguns garotos a rolarem
os bidões, a car-
regar aquelas
caixas grandes,
outros a cobrirem
os espinhos em
forma de tecto
onde mais tarde
se não cobridas o
sol batia, e tudo
isso era feito me-
diante um custo
que os meus ou-
vidos apurado não pude deixar de
ouvir.
A curiosidade de observar, fez
com que eu permanecesse ali mais
do que o tempo previsto, aí em ter-
mos de produto circulava de tudo
um pouco, ou seja este lugar é uma
casa de sustento, durante tempo que
ali fiquei pude ver de tudo um pou-
Um dia no Sucupira
“Confesso que em parte, aquela tran-
quilidade me deixou contente, mas
vendo as caras tristes dos rabidantes
me fizeram sentir uma angústia, ao
lembrar que aquela tristeza de uma
certa forma tinha a ver com o sustento
de muitas famílias...”
Crónica
Foto: Ângela Santos
11
co (em termos de produtos, ora car-
ne, ora peixe, torresmo, sumo, bo-
los, panelas, milho etc.), mas o que
indignou não era a falta de higiene
dos alimentos que vinham cheia de
moscas mas, sim quando vin-
ha uma criança a fazer aquele
serviço, tenho filho, e na ci-
dade o que se ouve todos os
dias é a onda de violência e
me perguntava como é que os
pais podem ser tão irresponsáveis a
ponto de mandar uma criança vend-
er naquele sitio
onde na maior parte das vezes os
frequentadores são (ladrões, usuári-
os de droga, marginais, pedófilos
entre outros) isso mexeu comigo;
e em 1ª oportunidade que tive, fa-
lei com uma menina de 9 anos, que
vendia água, e ela me contou coisas
inacreditáveis (…), depois
levei ela para uma barraca onde jun-
tas almoçamos e também aproveitei
para descansar as minhas pernas que
já não aguentava.
Fartos, me despedi dela, e con-
tinuei a minha caminhada cheia de
disposição, mais para cima para o
lado do parque 5 de Julho meus ol-
hos avistaram duas situações, que
me deixaram
sem chão, uma menina de menor fa-
zia “sexo” com um idoso em pleno
dia e quem por ali passava podia
ver e no outro lado mesmo próximo
dois rapazes e um homem drogava
e de onde eu estava podia sen-
tir aquele cheiro forte vindo em
minha direcção;
Agora pergunto aonde estão
esses pais, que não são mere-
cedores desse lindo nome! na
casa, segundo a pequenina a espera
do fruto dessa exploração para mais
tarde irem fazer o proveito…
… Continuei com a minha oração,
meu Deus enquanto uns mostram-
se triste por não conseguir ganhar o
pão dos filhos, outros nem aí estão.
“Agora pergunto aonde estão
esses pais, que não são mere-
cedores desse lindo nome!”
Ana Brandão
ORabidante:10deJaneirode2012
12ORabidante:10deJaneirode2012
Vany Aguenes, maiense residente
na capital, 22anos, esta entrada dos
“chineses” foi a melhor coisa que
podia ter acontecido. «Nunca se viu
os jovens bem vestido como agora e
não só hoje mesmo na minha ilha há
essa probalidade de se vestir melhor
mesmo que seja por um preço mais
caro mas, é mais em conta que antes
que só tínhamos o sucupira». Sou a
favor dessa entrada dos chineses.
A CONCORÊNCIA É BOA OU NÃO?
O “O Rabidante” recolheu algumas opiniões, sobre o assunto e de acordo com os entrevistados
pode-se ver que as ideias aproximam uma da outra.
Joana Monteiro, de 37 anos é Li-
cenciada em matemática, mãe de
família diz que apesar de não usar
os produtos dos chineses devido ao
facto de possuir pais emigrantes, é a
favor dos chineses. A mesma realça
que nem todos têm possibilidade de
comprar no sucupira. “gossi quem
ki ka biste é pamode é ka kré”.
Ivá Semedo, de 26 anos, solteira mãe
de um filho, empregada de uma loja
chinesa, diz ter conquistado a sua
independência com a oportunidade
que lhe foi concebidapelos chineses.
Para Semedo a patroa e os cole-
gas são geradores de emprego;
Eaindafrisaquenaqualidadedemãe
(sustentadoradoprópriolar),entende
arevoltadosRabidantesdoSucupira.
Zeca Lopes, um jovem de 26 ano pai
de família, proprietário de uma bar-
racadeCDs.Oschinesesdiminuíram
a venda dos rabidantes do sucupira.
Mas combateu muito desemprego,
há muitos jovens que estavam a faz-
er horrores por aí que hoje, são fun-
cionários dos chineses, sou a favor
dessa concorrência. Além disso ain-
da ajudam muitas familias carren-
ciadas, que não tem um rendimento
mensal, favoravel ao seu sustento.
Vany Evora, estudante de 20 anos,
na minha opinião os chineses vier-
am tarde. Sou a favor dessa entrada
porque os rabidantes do sucupira ex-
ageram muitas vezes nos preços. E
não eles mesmo compram dos chin-
eses e não tem que reclamar, porque
também são clientes dos chinases,
mas pede aos mesmos que reflictam,
vendo a outra parte posi-
tiva, que não sejam egoístas
A VOZ DO CIDADÃO
13
ORabidante:10deJaneirode2012
Concorrência aumenta
número de Rabidantes Am-
bulantes
Ao que tudo indica os rabidantes
ambulantes sempre existiram,
mesmo antes da entrada dos chi-
neses no país. Só que com essa
entrada, surgiram novos e isso fez
com que a concorrência se ampli-
asse, dificultando aos rabidantes
do sucupira. Estes dizem prejudica-
dos uma vez que os chineses, lhes ti-
raram a maior clientela os rabidantes
ambulantes não só locais também os
de demais Ilhas. Afirmando
que antes eles eram os fornecedores
dos rabidantes
ambulantes. Ainda a classe que se
diz prejudicada, menciona o facto
de os rabidantes ambulantes vend-
erem produtos que eles têm, como
é o caso de (calcinhas, sutiãs, chine-
los etc.) no próprio sucupira, sem
pagar nenhum tostão, enquanto eles
pagam 8.160$00 todos os meses.
Situação de crise
Até esta, neste ano de 2011, Graça,
realça que a procura tem sido ra-
zoável em relação aos anos anteri-
ores. “Verifica-se que existem cli-
entes, aparentemente, vê-se que tem
capacidade
financeira mas,
que querem poupar
porque não sabe do
dia de amanhã. Pro-
curam qualidade
mas querem gastar
menos”. Mesmo os
chineses apontam o
período como des-
favorável para o
negócio. Lin lamen-
ta os tempos atrás e
diz que ao contrário
de antigamente, nas
épocas festivas e
não só, nem tempo
tinha para fazer
uma refeição com
conforto,
hoje com menos de uma semana
para as grandes festividades
que é o Natal um dos períodos que
mais se vende nas lojas, há tempo
até para ler livro, ou falar no tele-
fone sem pressa. “O que os rabi-
dantes cabo-verdianos precisam
entender é que não há dinheiro e
aceitar a crise”, cita Lin.
A semelhança de Lin os rabidantes
do sucupira enquanto
esperamosclientes,tambémbuscam
formas de passar o tempo, enquanto
uns jogam cartas, outros optam por
ver televisão, ouvir musica, por a
conversa em dia, tirar uma sexta, ou
até mesmo limitar-se a sentar
a porta das barracas, sem fazer nada,
apenas a olhar
o movimento das pessoas que por
ali passam, muitas vezes sem sequer
olhar para os produtos que vendem.
Com ou sem crise, o facto é que os
poderes de compra dos cabo-verd-
ianos já não é o que era antes, o que
afecta tanto os rabidantes do sucu-
pira como para os que lhes
fazem concorrência.
A todos o que resta é dividir
o mercado, visto que cada
um apresenta características
próprias, o que faz com que
aja também públicos específi-
cos, e esperar por tempos melhores
“os rabidantes ambulantes
sempreexistiram,mesmoantes
daentradadoschinesesnopaís.”
Foto: Ângela Santos
Ângela Santos
14ORabidante10deJaneirode2012
Apesar da crise registada nos últi-
mos anos em Cabo Verde, assistiu-se
a uma forte expansão do mercado de
vestuáriosedeprodutosdogénero.A
proliferação de lojas e comercializa-
ção destes produtos gerou uma satu-
raçãodomercadomas,apesardacon-
corrência, há rabidantes que afirmam
queonegócioaindaestádeboasaúde.
A proliferação e a saturação do comércio
O sucupira é considerado um dos
maiores mercados de vestuário da
cidade da Praia. Com cerca de mais
de um mil rabidantes. Com diver-
sidades de sectores de comércio,
ainda o mercado conta, com out-
ras actividades como,lavagem
de automóveis, câmbios etc. O
mercado é visto como uma ver-
dadeira fonte
de rendimento.
AentradadosChi-
neses no mercado
do sector de
vestuários no
país aconteceu
por volta dos
anos noventa.
Apesar de se
tratar de uma
forte concorrência, estes só vi-
eram ser considerados como tal,
alguns anos atrás quando estes
começaram a importar de outros
mercados. Os rabidantes realçam
sentir-selesados,comafrequentação
destes no mesmo mercado que eles.
Hoje em dia as lojas dos chineses
devendasdosprodutosdevestuárioe
do género estão espalhados um pou-
co por todo arquipélago com forte
presença na cidade da Praia, capi-
tal do Pais, onde se regista o maior
fluxo de negócios. Só no plateau
existe aproximadamente meia cen-
tena dessas lojas de vestuários dos
chineses. Elas são tantas que muitas
vezes pode se sair de um e entrar
no outro sem mesmo caminhar dois
passos. A distância mais longe de
um para o outro não chega a uma
dezena de metro. Nelas, é possível
encontrar todo tipo de produtos, e
com custo
a c e s s í v e l
a todos
bolsos. O
que não é
o caso dos
rabidantes
de sucupira.
De acor-
do com as
i n f o r m a -
ções obtidas s preços variam
conforme a qualidade e a maté-
ria-prima. Há lojas dos chineses
que vendem boas qualidades assim
como o do sucupira, mas por um
preço mais baixo. Segundo Lin isso
acontece, não porque não pagam as
alfandegas como cita os rabidantes
mas, sim, porque com-
pram em grande quantidade.
Como sobreviver a concor-
rência
Segundo Maria da Graça San-
tos, de 39 anos, casada natu-
ral de Nossa Senhora da Gra-
ça residente em Palmarejo,
(Dá) como ela prefere ser chamada,
com mais de duas décadas de profis-
são rabidante do sucupira, a solução
no mercado tão saturado é a diver-
sificação da oferta, aposta na quali-
dade e diferenciação dos produtos.
Dá realça “ o mercado caiu e
muito, devido a falta de fiscalização
e também da crise que está a ocor-
rer no mundo”. Ainda na sequência
dos acontecimentos a nossa ent-
“Se formos ver os chineses
ajudou e muito o nosso país. E não
só graças a eles hoje as pessoas
da nossa terra vestem melhor, ...”
Grande Reportagem
Foto: Ângela Santos
15
ORabidante:10deJaneirode2012
-revistada afirma que a concorrência
pela parte dos chineses assim como
tudo na vida tem o seu lado positivo
e negativo. “Se formos ver os chin-
eses ajudou e muito o nosso país.E
não só graças a
eles hoje as pes-
soas da nossa terra
vestem melhor, e
não digo em ter-
mos de qualidade
porque a própria
economia de
maioria dos famil-
iares da cidade da
Praia é baixa, mas
se antes os pais da-
vam aos filhos só uma sandália hoje
podem dar mais do que um. O lado
negativo é o facto de eles serem
uma concorrência. E com a entrada
deles, os nossos lucros di-
minuíram e muito, mas ainda
dá para o sustento pelo menos
no meu caso”, palavras de Dá.
Má organização dos rabi-
dantes
Ao que tudo indica, de acor-
do com as informações
recolhidas os rabidantes do sucupira
se encontra mal organiza-
dos face aos chineses.
Embora essa classe possua
uma Associação, é de notar
que a relação entre membros e os
demais rabidantes não são boas.
Várias são as razões que estão na
base desse desacerto. Uns mencio-
nam o egoísmo, a inveja, outros as
razões políticas, desinteresse mes-
mo, como causas dessa abnegação.
Ainda para alguns entrevistados,
como é o caso de Manuel de Pina
de 49 anos, vendedor no mer-
cado de sucupira o melhor a se
fazer para melhor organizar-se é
harmonizar-se uns com os outros.
O mesmo realça que a un-
ião faz a força e que todos
ali deviam se entender uns com
os outros, porque todos estão na
busca do sustento para a família.
Ao contrário dos chineses que se
organizem em grupos para im-
portar, os rabidantes do sucupira
mostramestarmuitodesorganizados.
Perfil dos rabidantes do
sucupira
Os rabidantes são na maio-
ria jovens com idade compreen-
dida entre os 16 a 60 anos. Na
maior parte do sexo feminino,
são mães solteiras em busca do
próprio sustento da família. Pes-
soas de baixo nível de escolaridade,
mas com prática no comércio. Os
rabidantes mais antigos que ali se
encontram têm mais de três dé-
cadas de exercício da função e os
mais novos com mínimo de cinco
anos. São indivíduos com uma
vida estável, proprietários de im-
óveis, automóveis e outro negócios.
“Os rabidantes são na maioria
jovens com idade compreendida
entreos16a60anos.Namaiorparte
do sexo feminino, são mães soltei-
ras em busca do próprio sustento
da família...”
Foto: Ângela Santos
Ana Brandão
Jornal O RABIDANTE - EDIÇAÕ Nº0

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  • 1. Nº 0 30 Janeiro de 2012 Preço: 100 Escudos Concorrência traz maiores desafios “ O Associativismo não é o forte dos Cabo- verdia- nos”. pág.3 “Não temos, nenhum acor- do com o vosso governo ...” Lin Xiao Ying pág.4 Quando surgiu a gravidez houve a necessidade de trabalhar. pág. 13 Grande Entrevista Entrevista “ O mercado caiu e muito, devido a falta de fiscaliza- ção e também da crise que está a ocorrer no mundo”. pág.8
  • 2. 2ORabidante:10deJaneirode2012 EDITORIAL MELHORES CONDIÇÕES DE VIDA O comércio é principal fonte de ren- dimento do país. Quando se fala no comércio no sucupira pensa-se logo no vestuário e no calçado. Mas na realidade o mercado apresenta di- versificações de sectores. O centro comercial do sucupira da cidade da Praia é considerado o maior mercado do arquipélago. Os rabidantes do mercado são pessoas poucas instruídas, com idade com- preendida entre os 16 aos 60 anos, e na sua maioria são mulheres chefes de famílias que batalham para o próprio sustento. A busca pelo “gan- ha-pão” começa desde o amanhecer até ao pôr-do-sol. O mercado é con- siderado uma segunda casa pelos rabidantes. Há muito que os chineses estão nesse ramo de comércio, no país e não eram vistos como uma concor- rência, porque mesmo com a forte presença no sector, o mercado do sucupira nunca deixou de ser pro- curado. Porém de uns anos para cá devido a crise o mercado sofreu uma forte queda de venda. As opiniões dos próprios rabidantes divergem- se entre eles. Enquanto uns respon- sabiliza a queda de venda aos chin- eses, outros aponta-o a crise. Sendo assim, o”O Rabidanti” saiu a rua da capital para saber as opiniões dos cidadãos a cerca dessa prob- lemática. O facto é que a nossa re- vista durante toda a recolha, apurou que estes novos investidores troux- eram benefícios, tanto para a sua população como para a economia do país. Assim, de acordo com os dados re- colhidos, vamos fornecer informa- ções aos públicos com intuito de fazer-lhes conhecerem os dois lados envolvidos (chineses versus rabi- dante), na nossa1ª edição da Revista o “O Rabidanti”. Ângela Santos O QUE DIZ A LEI?De acordo com o Decreto-Lei nº 21/2011 de 7 de Março. A lei diz que, os serviços são o mais importante sector da ecónoma nacional em termos económicos e de emprego e tem registado um maior desen- volvimento nos últimos anos. Ou seja diante dessas circunstâncias, o governo ciente de que um merca- do competitivo e a eliminação dos entraves ao seu desenvolvimento são fundamentais para promover o crescimento económico e a criação de emprego, vem propugnando pela liberdade de estabelecimento dos serviços no território nacional, em ordem à contribuição para a expan- são e crescimento deste sector. Tam- bém a lei diz no artigo 3º da lei nº 49/ VII/2009, de 30 de Dezembro que o presente diploma visa em desenvol- vimento do princípios de livre esta- belecimento em consonância com os compromissos advenientes da adesão de Cabo Verde à organização mundial do comercio concretamente de acordo geral sobre o comercio de serviços, assegurar que os regimes jurídicos aplicáveis ao sector dos serviços respeitem a liberdade do direito de estabelecimento e da livre prestação de serviços ao estabelecer um conjunto de princípios gerais aplicáveis ao procedimentos que regulamentam o acesso e exercício das actividades de serviços, através de um adequado equilíbrio entre a abertura do mercado e a preserva- ção dos serviços públicos, dos dire- itos sócias e da protecção reforçada dos destinatários dos serviços. Ainda é de se lembrar, o artigo 11º (âmbito territorial e limitação de permissão administrativas) em que a lei diz. 1 - As permissões admin- istrativas concebidas pelos serviços da administração directa e indi- recta do estado devem permitir ao prestador de serviços o exercício da sua actividade de serviço em todo o território nacional. 2- Quando o regime de permissão administrativa de uma actividade assim o exija, o prestador de serviço deve informar a autoridade admin- istrativa competente, através do balcão único, da criação de sucur- sais, filias, agências ou escritórios. Ana Brandão
  • 3. 3 ORabidante:10deJaneirode2012 Mulheres fazendo renda Foto: Ana Brandão Pedicure Foto: Ana Brandão Vendedeira Ambulante Foto: Ana Brandão Clientes Foto: Ana Brandão Vendedeira Ambulante Foto: Ana Brandão Vendedeira Ambulante Foto: Ângela Santos Clientes Foto: Ângela Santos FOTO REPORTAGEM
  • 4. 4ORabidante:10deJaneirode2012 “ Falta de fiscalização!” Mamadou Trouré Vice – Presidente da As- sociação dos Rabidantes do Sucupira Mamadou Trouré, é Nigeriano residente em Cabo verde cidade da Praia há 22 anos. Comerciante em sucupira há mais de uma década e meio, mostra sua preocupação no que tange ao comércio no Sucu- pira». Segundo, o nosso entrevistado a má fiscalização dos órgãos competentes deste sector, é o grande responsável pela falta de venda neste mercado. Ainda Mamadou diz que há muito que os “Chineses” entraram neste comércio no país. E que até uns dois anos atrás estes não repre- sentavam muita ameaça para eles como está agora; «Os “Chineses”começaram a fazer- nos concorrência a partir do mo- mento que perceberam que o país não tem controlo, ou melhor não possui uma lei que vigia este tipo de comércio. “A partir daí começaram a frequentar os mesmos mercados que nós e ain- da a copiar os nossos produtos”». Cita Trouré. Nosso entrevistado deixa transparecer que apesar de existir uma “Associação dos Rabidantes”, essa não é bem aceite por todos ali devido a várias razões que o próprio diz não vale a pena mencionar. Ainda na sua opinião o associativismo não é o forte dos cabo- verdianos e isto tem preju- dicado a classe. No início que me integrei na Associação, ela contava com vinte membros, fectivos e mais de três dezenas de apoiantes sem contar com os outros rabidantes que participavam nas actividades re- alizadas. Hoje em dia nem o próprio Presidente aparece para inteirar dos factos ocorridos. Na qualidade de vice-presidente, devo dizer-vos que muitas vezes quando a classe passa por momentos tensos os problemas muitas vezes são resolvidos com in- dividualidade. O orgulho dos rabidantes é maior que qualquer conforto, palavras do vice-presidente da associação dos rabidantes. Mamadou não poupa criticas aos colegas sobre “a desunião” entre os rabidantes que de uma certa forma tem sufocado o mercado. Faz-se reuniões da associação não com- parece uma dúzia de colegas cabo- verdianos, e por este motivo, não vale a pena continuarmos com a as- sociação, afirma o rabidante um pouco indignado. Apesar de possuírem qualidades no produto a queixa pela falta de procura é enorme. A dias que nem dinheiro para o transporte se vende. Hoje nem nas épocas festi- vas procura- se o sucupira como antes. Embora se fala na crise, o facto é que o medo de perder o sustento é cada vez mais a preocupação dos rabidantes. Quando o “O Rabidante”, quis saber se a associação já se reuniu alguma vez para tratar desse tema, de concorrência dos chineses, a resposta do inquerido é “nunca”! «Faz-se os comentários, mas na hora de colocar os pingos nos ís ninguém aparece, e começa aquele furdunço, quem está a sentir lesado que vá procurar o seu direito. O entrevistado apela à participação activa dos colegas e aponta que “A união faz a força”. «Os“Chineses”começaram a fazer-nos concorrência a partir do momento que perceberam que o país não tem controlo, ou melhor não possui uma lei que vi- gia este tipo de comércio. “Apartirdaícomeçaramafre- quentar os mesmos mercados que nós e ainda a copiar os nossos produtos”» Ana Brandão Grande Entrevista Foto: Ângela Santos
  • 5. 5 ORabidante:10deJaneirode2012 Ficha Técnica Rabidante Foto: Ângela Santos Vendedeira Ambulante Foto: Ângela Santos Pedicure Ambulante Foto: Ana Brandão Rabidante Foto: Ângela Santos Cabeleleiras no sucupira Foto: Ângela Santos Rabidante fazendo renda Foto: Ângela Santos Foto Reportagem Reporteres: Ana Brandão e Ângela Santos Edição e Paginação: Ângela Santos e Ana Brandão Imprissão: Multicópia Tiragem: 1
  • 6. 6 chinesa, está em Cabo Verde há 7 anos, comercianteproprietária de duas lojas, uma em Achada San- to António e outra em descida Terra Branca. Lin defende a sua classe, desmentin- do aos “boatos” de que eles não pagam alfândega, e de ter qualquer pro- tecção do governo. Porém a com- erciante explica-nos o que faz com que os Rabidantes do Sucupira ten- ham essa visão. «O que leva os Rabidantes do Sucu- pira a pensar que temos protecção do governo, é o seguinte, nós somos muitos e estamos mais bem orga- nizado e preparado do que eles, ad- mito sermos uma concorrência forte face aos Rabidantes do Sucupira. Mas o que acontece é que nós quan- do vamos, ou mandamos exportar de qualquer país para Cabo verde organizamos em grupo e alugamos contentores dos navios por um preço mais acessível devido a quantidade de que alugamos e com isso ex- portamos mais; também na hora de compra o que estamos a fazer é tentar satis- fazer o mercado cabo-verdiano. Não só ven- demos produtos da china, mas o facto é que quando vamos por exemplo ao Brasil compramos qualquer produto em grande quantidade o que faz nos ganhar um desconto bem mais baixa do que dos Rabidantes do Sucupira por isso a vendemos mais em conta. Agora gostaria de deixar aqui bem cla- ro que nós os comerci- antes “Chineses”não temos, nenhum acordo com o vosso governo, estamos aqui como in- vestidores e pagamos as nossas despesas como qualquer um», frisa Lin. Enquanto, os Rabidantes do Sucu- pira, atribui a respons- abilidade da aderência de venda ao governo e a concorrência, Ying, culpa a classe de serem os próprios origina- dores, desta crise uma vez que esses não se encontram bem organizados, e ainda de serem pes- soas egoístas. Aponta que a único objectivo dos Rabidantes do Sucupira é ganhar dinheiro, e de muitas vezes exagerarem nos preços, não pensando na verdadeira situação financeira do pais. Assim como os Rabidantes do Sucupira, a comerciante chinesa, também afirma que o momento é de crise, salientando que antes tinha 3 empregada em cada uma da sua loja, mas hoje só tem uma com ela e a irmã que está a frente da outra loja tem dois empregados sem contar com o marido da mesma. «Uma vez quando cá cheguei e até dois anos atrás eu vendia muito e às vezes tomava uma refeição porque não dava tempo, mas hoje como podem ver estou com loja vazio e a tempo até para ler um livro ou ver um filme, mas nem por isso vou acusar as outras lojas, temos de consolar com “kau mau pa tudo lado». Cita Ying. ORabidante:10deJaneirode2012 Chineses & Rabidantes PONTO DE VISTA Lin Xiao Ying Foto:Ana Brandão
  • 7. 7 ORabidante:10deJaneirode2012 Elisabete Barros, de 34 anos, pai e mãe de uma filha de 6 anos “diz-nos” que hoje ela tornou-se ra- bidanteambulantegraçasaos“chineses”.Com quase a mesma idade da filha de experiência noramo“Bety”comoelaprefereserchamada. Elisabete Barros Foto: Ana Brandão ORabidante – Como é que surgiu esta profissão? Elisabete Barros – Quando surgiu a gravidez surgiu a necessidade de trabalhar, e foi aí que com pouca economia que tinha fui comprar nas lojas dos chineses no plateau para vender em outros pontos como Tira-chapéu, Fundo Cobom, ASA e etc., no inicio dava mais lucro, porque os fregueses não tinham tempo para deslocarem ao plateau, comprava em mim e out- ras colegas depois com abertura de lojas nesses pontos começamos a perder a nossa clientela, porque já não precisavam deslocar, mas com a pratica comecei a ver que existem outras necessidades dos fregueses, a qualidade, foi então que pulei dos chineses para o “iá” (roupas usadas, provenientes dos estados Unidos da América). Apósterdeixadodevendergrande parte dos produtos chineses, para vender outros produtos, como é que você vê os chineses? Ainda vendo, mas vendo mais o iá! E não tenho razões de queixa para com os chin- eses, porque a qualidade do produto é diferente. Como estão a decorrer a vendas? Razoável, há dias que se vende e outros não, mas dá para continuar. O momento inspira compreensão, não há dinheiro. As pessoas querem comprar mas no entanto tem outras prioridades. Na qualidade de rabidante ambu- lante quais os benefícios e as desvantagens que os chineses trouxeram? A meu ver os “chineses” trouxeram muita alegria aos cabo-verdianos, em vários aspectos: por exemplo uma família numerosa hoje desde que haja mínima condição todos pode se vestir ou calçar e por um preço inferior, e não só eles combat- eram a prostituição e o vandalismo. Quanto as desvantagens penso que os rabidantes do sucupira são de uma forma geral os mais prejudica- dos porque estavam acostumados a “matar”com o preço e também en- tendo as suas posições como pais de famílias. Mas devemos ver as coisas por duas faces. Ângela Santos
  • 8. 8ORabidante:10deJaneirode2012 Foto: Ângela Santos Rabidante de Sucupira Foto: Ângela Santos Comerciante: Chinês
  • 9. 9 ORabidante:10deJaneirode2012 A concorrência sempre foi interpretada ao pé da letra. Assim como, tudo na vida, tem um lado positivo e outro negativo,aconcorrênciatam- bém tem esses dois lados. Quem beneficia com a con- corrência são os clientes, a medidaqueelavaiaumentan- do os preços dos produtos ou dos serviços vão diminuindo e sendo, Cabo Verde um país onde o rendimento é baixo, qualquer concorrência é bem aceite. A parte positiva é que os chineses diminuíram o desemprego, aumentou os números de rabidantes, trouxe mas oportunidade a famílias numerosas de se ve- stirem melhor. O lado negativo é que esses investidores a partir do mo- mento que entraram no país, fez com que os rabidantes de sucupira perdessem vários clientes. Essa perda é negati- vo uma vez são sustento dess- es rabidantes. Ainda na se- quência dos acontecimentos é de salientar que no meu ver a queda de venda no merca- do sucupira tem muito a ver com a entrada dos chineses. Se formos ver o arquipélago sempre viveu em situações económicas pouco favorável, mas mesmo assim o mercado sucupira sempre vendeu. O factor dessa discorda sem- pre foi o preço. Mas o que a população nunca parou para ver é que, ao contrário dos chineses que vendem má qualidade por um preço baixo, os rabidantes de sucu- pira vendem ao custo elevado devido a boa qualidade. Ana Brandão As duas Faces Artigo de Opinião
  • 10. 10ORabidante:10deJaneirode2012 Já lá vão os tempos áureos da sucu- pira. Me lembro como se fosse hoje, era mais ou menos na mesma época do (Natal) há três anos atrás quando vim estudar na Capital que lá es- tive para comprar uma sandália. E o tempo era outro parecia com o festival da Gamboa «cheia de agitação, movimentação de cen- tenas de pessoas onde um pisava no “calo” do outro, o mau cheiro de suor, encontro de amigos que a muito não avistava entre outras coisas que não vou mencionar devido a limitação de espaço»; Mas hoje nesta mesma época lá voltei de novo e desta vez não para comprar sapato … foi a passeio mes- mo, saber das novidades etc. Minha gente deparei com um silêncio em termos de tudo que um dia por ali tinha avistado, e pelo incrível que pareça, por um instante coloquei-me no lugar dos rabidantes e a primeira sensação que tive é de me perguntar a mim mesma, o que será de nós que sustentamos a casa com venda? Depois, de algum minutinhos de- brucei-me sobre uma frisa de parede e pus a falar com uma conhecida que ali vende “Fátima” que assim como eu encontrava debruçada na mesma parede, perguntei-lhe: Fátima agora é assim? Ela me respondeu minha filha se não fosse essa distracção de car- ros a subir e a descer penso que, nós éramos muitos que já tinha deixado o sucupira, agora somos rabidantes e rabidantes um a olhar para cara do outro; me despedi, dizendo aiai e fui, mais para cima onde um grupo de rabidantes se divertia jogando cartas. Confesso que em parte, aquela tranquilidade me deixou contente, mas vendo as caras tristes dos rabi- dantes me fizeram sentir uma angús- tia, ao lembrar que aquela tristeza de uma certa forma tinha a ver com o sustento de muitas famílias; por instante senti vontade chorar, mas não o fiz, coloquei a minha fé e pus a orar no meio da caminhada pedin- do a Deus com coração que fizesse aqueles pais venderem alguma coi- sa para não desanimarem; o incrível é ver que estes rabidantes também ajudam outras pessoas a ganharem o sustento, não pude deixar de ver e admirar alguns garotos a rolarem os bidões, a car- regar aquelas caixas grandes, outros a cobrirem os espinhos em forma de tecto onde mais tarde se não cobridas o sol batia, e tudo isso era feito me- diante um custo que os meus ou- vidos apurado não pude deixar de ouvir. A curiosidade de observar, fez com que eu permanecesse ali mais do que o tempo previsto, aí em ter- mos de produto circulava de tudo um pouco, ou seja este lugar é uma casa de sustento, durante tempo que ali fiquei pude ver de tudo um pou- Um dia no Sucupira “Confesso que em parte, aquela tran- quilidade me deixou contente, mas vendo as caras tristes dos rabidantes me fizeram sentir uma angústia, ao lembrar que aquela tristeza de uma certa forma tinha a ver com o sustento de muitas famílias...” Crónica Foto: Ângela Santos
  • 11. 11 co (em termos de produtos, ora car- ne, ora peixe, torresmo, sumo, bo- los, panelas, milho etc.), mas o que indignou não era a falta de higiene dos alimentos que vinham cheia de moscas mas, sim quando vin- ha uma criança a fazer aquele serviço, tenho filho, e na ci- dade o que se ouve todos os dias é a onda de violência e me perguntava como é que os pais podem ser tão irresponsáveis a ponto de mandar uma criança vend- er naquele sitio onde na maior parte das vezes os frequentadores são (ladrões, usuári- os de droga, marginais, pedófilos entre outros) isso mexeu comigo; e em 1ª oportunidade que tive, fa- lei com uma menina de 9 anos, que vendia água, e ela me contou coisas inacreditáveis (…), depois levei ela para uma barraca onde jun- tas almoçamos e também aproveitei para descansar as minhas pernas que já não aguentava. Fartos, me despedi dela, e con- tinuei a minha caminhada cheia de disposição, mais para cima para o lado do parque 5 de Julho meus ol- hos avistaram duas situações, que me deixaram sem chão, uma menina de menor fa- zia “sexo” com um idoso em pleno dia e quem por ali passava podia ver e no outro lado mesmo próximo dois rapazes e um homem drogava e de onde eu estava podia sen- tir aquele cheiro forte vindo em minha direcção; Agora pergunto aonde estão esses pais, que não são mere- cedores desse lindo nome! na casa, segundo a pequenina a espera do fruto dessa exploração para mais tarde irem fazer o proveito… … Continuei com a minha oração, meu Deus enquanto uns mostram- se triste por não conseguir ganhar o pão dos filhos, outros nem aí estão. “Agora pergunto aonde estão esses pais, que não são mere- cedores desse lindo nome!” Ana Brandão ORabidante:10deJaneirode2012
  • 12. 12ORabidante:10deJaneirode2012 Vany Aguenes, maiense residente na capital, 22anos, esta entrada dos “chineses” foi a melhor coisa que podia ter acontecido. «Nunca se viu os jovens bem vestido como agora e não só hoje mesmo na minha ilha há essa probalidade de se vestir melhor mesmo que seja por um preço mais caro mas, é mais em conta que antes que só tínhamos o sucupira». Sou a favor dessa entrada dos chineses. A CONCORÊNCIA É BOA OU NÃO? O “O Rabidante” recolheu algumas opiniões, sobre o assunto e de acordo com os entrevistados pode-se ver que as ideias aproximam uma da outra. Joana Monteiro, de 37 anos é Li- cenciada em matemática, mãe de família diz que apesar de não usar os produtos dos chineses devido ao facto de possuir pais emigrantes, é a favor dos chineses. A mesma realça que nem todos têm possibilidade de comprar no sucupira. “gossi quem ki ka biste é pamode é ka kré”. Ivá Semedo, de 26 anos, solteira mãe de um filho, empregada de uma loja chinesa, diz ter conquistado a sua independência com a oportunidade que lhe foi concebidapelos chineses. Para Semedo a patroa e os cole- gas são geradores de emprego; Eaindafrisaquenaqualidadedemãe (sustentadoradoprópriolar),entende arevoltadosRabidantesdoSucupira. Zeca Lopes, um jovem de 26 ano pai de família, proprietário de uma bar- racadeCDs.Oschinesesdiminuíram a venda dos rabidantes do sucupira. Mas combateu muito desemprego, há muitos jovens que estavam a faz- er horrores por aí que hoje, são fun- cionários dos chineses, sou a favor dessa concorrência. Além disso ain- da ajudam muitas familias carren- ciadas, que não tem um rendimento mensal, favoravel ao seu sustento. Vany Evora, estudante de 20 anos, na minha opinião os chineses vier- am tarde. Sou a favor dessa entrada porque os rabidantes do sucupira ex- ageram muitas vezes nos preços. E não eles mesmo compram dos chin- eses e não tem que reclamar, porque também são clientes dos chinases, mas pede aos mesmos que reflictam, vendo a outra parte posi- tiva, que não sejam egoístas A VOZ DO CIDADÃO
  • 13. 13 ORabidante:10deJaneirode2012 Concorrência aumenta número de Rabidantes Am- bulantes Ao que tudo indica os rabidantes ambulantes sempre existiram, mesmo antes da entrada dos chi- neses no país. Só que com essa entrada, surgiram novos e isso fez com que a concorrência se ampli- asse, dificultando aos rabidantes do sucupira. Estes dizem prejudica- dos uma vez que os chineses, lhes ti- raram a maior clientela os rabidantes ambulantes não só locais também os de demais Ilhas. Afirmando que antes eles eram os fornecedores dos rabidantes ambulantes. Ainda a classe que se diz prejudicada, menciona o facto de os rabidantes ambulantes vend- erem produtos que eles têm, como é o caso de (calcinhas, sutiãs, chine- los etc.) no próprio sucupira, sem pagar nenhum tostão, enquanto eles pagam 8.160$00 todos os meses. Situação de crise Até esta, neste ano de 2011, Graça, realça que a procura tem sido ra- zoável em relação aos anos anteri- ores. “Verifica-se que existem cli- entes, aparentemente, vê-se que tem capacidade financeira mas, que querem poupar porque não sabe do dia de amanhã. Pro- curam qualidade mas querem gastar menos”. Mesmo os chineses apontam o período como des- favorável para o negócio. Lin lamen- ta os tempos atrás e diz que ao contrário de antigamente, nas épocas festivas e não só, nem tempo tinha para fazer uma refeição com conforto, hoje com menos de uma semana para as grandes festividades que é o Natal um dos períodos que mais se vende nas lojas, há tempo até para ler livro, ou falar no tele- fone sem pressa. “O que os rabi- dantes cabo-verdianos precisam entender é que não há dinheiro e aceitar a crise”, cita Lin. A semelhança de Lin os rabidantes do sucupira enquanto esperamosclientes,tambémbuscam formas de passar o tempo, enquanto uns jogam cartas, outros optam por ver televisão, ouvir musica, por a conversa em dia, tirar uma sexta, ou até mesmo limitar-se a sentar a porta das barracas, sem fazer nada, apenas a olhar o movimento das pessoas que por ali passam, muitas vezes sem sequer olhar para os produtos que vendem. Com ou sem crise, o facto é que os poderes de compra dos cabo-verd- ianos já não é o que era antes, o que afecta tanto os rabidantes do sucu- pira como para os que lhes fazem concorrência. A todos o que resta é dividir o mercado, visto que cada um apresenta características próprias, o que faz com que aja também públicos específi- cos, e esperar por tempos melhores “os rabidantes ambulantes sempreexistiram,mesmoantes daentradadoschinesesnopaís.” Foto: Ângela Santos Ângela Santos
  • 14. 14ORabidante10deJaneirode2012 Apesar da crise registada nos últi- mos anos em Cabo Verde, assistiu-se a uma forte expansão do mercado de vestuáriosedeprodutosdogénero.A proliferação de lojas e comercializa- ção destes produtos gerou uma satu- raçãodomercadomas,apesardacon- corrência, há rabidantes que afirmam queonegócioaindaestádeboasaúde. A proliferação e a saturação do comércio O sucupira é considerado um dos maiores mercados de vestuário da cidade da Praia. Com cerca de mais de um mil rabidantes. Com diver- sidades de sectores de comércio, ainda o mercado conta, com out- ras actividades como,lavagem de automóveis, câmbios etc. O mercado é visto como uma ver- dadeira fonte de rendimento. AentradadosChi- neses no mercado do sector de vestuários no país aconteceu por volta dos anos noventa. Apesar de se tratar de uma forte concorrência, estes só vi- eram ser considerados como tal, alguns anos atrás quando estes começaram a importar de outros mercados. Os rabidantes realçam sentir-selesados,comafrequentação destes no mesmo mercado que eles. Hoje em dia as lojas dos chineses devendasdosprodutosdevestuárioe do género estão espalhados um pou- co por todo arquipélago com forte presença na cidade da Praia, capi- tal do Pais, onde se regista o maior fluxo de negócios. Só no plateau existe aproximadamente meia cen- tena dessas lojas de vestuários dos chineses. Elas são tantas que muitas vezes pode se sair de um e entrar no outro sem mesmo caminhar dois passos. A distância mais longe de um para o outro não chega a uma dezena de metro. Nelas, é possível encontrar todo tipo de produtos, e com custo a c e s s í v e l a todos bolsos. O que não é o caso dos rabidantes de sucupira. De acor- do com as i n f o r m a - ções obtidas s preços variam conforme a qualidade e a maté- ria-prima. Há lojas dos chineses que vendem boas qualidades assim como o do sucupira, mas por um preço mais baixo. Segundo Lin isso acontece, não porque não pagam as alfandegas como cita os rabidantes mas, sim, porque com- pram em grande quantidade. Como sobreviver a concor- rência Segundo Maria da Graça San- tos, de 39 anos, casada natu- ral de Nossa Senhora da Gra- ça residente em Palmarejo, (Dá) como ela prefere ser chamada, com mais de duas décadas de profis- são rabidante do sucupira, a solução no mercado tão saturado é a diver- sificação da oferta, aposta na quali- dade e diferenciação dos produtos. Dá realça “ o mercado caiu e muito, devido a falta de fiscalização e também da crise que está a ocor- rer no mundo”. Ainda na sequência dos acontecimentos a nossa ent- “Se formos ver os chineses ajudou e muito o nosso país. E não só graças a eles hoje as pessoas da nossa terra vestem melhor, ...” Grande Reportagem Foto: Ângela Santos
  • 15. 15 ORabidante:10deJaneirode2012 -revistada afirma que a concorrência pela parte dos chineses assim como tudo na vida tem o seu lado positivo e negativo. “Se formos ver os chin- eses ajudou e muito o nosso país.E não só graças a eles hoje as pes- soas da nossa terra vestem melhor, e não digo em ter- mos de qualidade porque a própria economia de maioria dos famil- iares da cidade da Praia é baixa, mas se antes os pais da- vam aos filhos só uma sandália hoje podem dar mais do que um. O lado negativo é o facto de eles serem uma concorrência. E com a entrada deles, os nossos lucros di- minuíram e muito, mas ainda dá para o sustento pelo menos no meu caso”, palavras de Dá. Má organização dos rabi- dantes Ao que tudo indica, de acor- do com as informações recolhidas os rabidantes do sucupira se encontra mal organiza- dos face aos chineses. Embora essa classe possua uma Associação, é de notar que a relação entre membros e os demais rabidantes não são boas. Várias são as razões que estão na base desse desacerto. Uns mencio- nam o egoísmo, a inveja, outros as razões políticas, desinteresse mes- mo, como causas dessa abnegação. Ainda para alguns entrevistados, como é o caso de Manuel de Pina de 49 anos, vendedor no mer- cado de sucupira o melhor a se fazer para melhor organizar-se é harmonizar-se uns com os outros. O mesmo realça que a un- ião faz a força e que todos ali deviam se entender uns com os outros, porque todos estão na busca do sustento para a família. Ao contrário dos chineses que se organizem em grupos para im- portar, os rabidantes do sucupira mostramestarmuitodesorganizados. Perfil dos rabidantes do sucupira Os rabidantes são na maio- ria jovens com idade compreen- dida entre os 16 a 60 anos. Na maior parte do sexo feminino, são mães solteiras em busca do próprio sustento da família. Pes- soas de baixo nível de escolaridade, mas com prática no comércio. Os rabidantes mais antigos que ali se encontram têm mais de três dé- cadas de exercício da função e os mais novos com mínimo de cinco anos. São indivíduos com uma vida estável, proprietários de im- óveis, automóveis e outro negócios. “Os rabidantes são na maioria jovens com idade compreendida entreos16a60anos.Namaiorparte do sexo feminino, são mães soltei- ras em busca do próprio sustento da família...” Foto: Ângela Santos Ana Brandão