1. Alterações Provocadas Pela Cocaína
Os efeitos da cocaína são farmacologicamente semelhantes aos dos outros
estimulantes, porém seu uso difundido requer uma discussão separada.
Produto natural da planta denominada coca, a cocaína tem sido usada por muitas
culturas há séculos, devido às suas propriedades psicoativas. Antes de se conhecer bem seu
elevado potencial para causar dependência, ela era amplamente usada como estimulante e
euforizante.
É usualmente aspirada pelo nariz, mas pode ser fumada ou injetada. Para ser fumada,
o hidrocloreto de cocaína deve ser purificado na forma de base livre (freebase).
A possibilidade de se obter uma forma cristalizada de cocaína de base livre (crack)
em quantidades pequenas e baratas nos últimos anos gerou uma epidemia de uso de crack,
com efeitos devastadores sobre a sociedade. Os grupos sócio-econômicos mais baixos
tornaram-se especialmente suscetíveis, causando uma maior decadência de regiões urbanas
pelo seu uso e crimes a ele relacionados.
O crack é fumado, o início de sua ação é rápido e seu potencial de causar dependência
é elevado. A típica imagem de dependente anteriormente associada ao abusador de heroína
aplica-se também, atualmente, ao de crack.
Fumar cocaína leva a um início de ação equiparável a uma injeção endovenosa, com
o mesmo potencial para causar dependência. A euforia é intensa, com risco de dependência
após uma única dose. Como as anfetaminas, a cocaína pode ser usada em "porres" com
duração de vários dias.
Este fenômeno é parcialmente resultante dos maiores efeitos euforizantes das doses
subseqüentes (sensibilização). Durante os "porres", o abusador faz uso repetido de cocaína
até ficar exausto ou sem droga.
A isto se segue uma crise de letargia, fome e sono prolongado, seguido por outro
"porre". Com o uso repetido, desenvolve-se tolerância aos efeitos euforizantes, anoréticos,
hipertérmicos e cardiovasculares.
O uso endovenoso associa-se aos riscos usuais do abuso de drogas endovenosas, onde
se incluem AIDS, septicemia e trombose venosa. A aspiração crônica pode levar a rinite-
rebote, que freqüentemente é automedicada com descongestionantes nasais; ela também
leva a epistaxe e, eventualmente, a perfuração do septo nasal.
Intoxicação por Cocaína