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Alterações Provocadas Pela Cocaína

     Os efeitos da cocaína são farmacologicamente semelhantes aos dos outros
estimulantes, porém seu uso difundido requer uma discussão separada.

      Produto natural da planta denominada coca, a cocaína tem sido usada por muitas
culturas há séculos, devido às suas propriedades psicoativas. Antes de se conhecer bem seu
elevado potencial para causar dependência, ela era amplamente usada como estimulante e
euforizante.

      É usualmente aspirada pelo nariz, mas pode ser fumada ou injetada. Para ser fumada,
o hidrocloreto de cocaína deve ser purificado na forma de base livre (freebase).

      A possibilidade de se obter uma forma cristalizada de cocaína de base livre (crack)
em quantidades pequenas e baratas nos últimos anos gerou uma epidemia de uso de crack,
com efeitos devastadores sobre a sociedade. Os grupos sócio-econômicos mais baixos
tornaram-se especialmente suscetíveis, causando uma maior decadência de regiões urbanas
pelo seu uso e crimes a ele relacionados.

      O crack é fumado, o início de sua ação é rápido e seu potencial de causar dependência
é elevado. A típica imagem de dependente anteriormente associada ao abusador de heroína
aplica-se também, atualmente, ao de crack.

     Fumar cocaína leva a um início de ação equiparável a uma injeção endovenosa, com
o mesmo potencial para causar dependência. A euforia é intensa, com risco de dependência
após uma única dose. Como as anfetaminas, a cocaína pode ser usada em "porres" com
duração de vários dias.

       Este fenômeno é parcialmente resultante dos maiores efeitos euforizantes das doses
subseqüentes (sensibilização). Durante os "porres", o abusador faz uso repetido de cocaína
até ficar exausto ou sem droga.

      A isto se segue uma crise de letargia, fome e sono prolongado, seguido por outro
"porre". Com o uso repetido, desenvolve-se tolerância aos efeitos euforizantes, anoréticos,
hipertérmicos e cardiovasculares.

      O uso endovenoso associa-se aos riscos usuais do abuso de drogas endovenosas, onde
se incluem AIDS, septicemia e trombose venosa. A aspiração crônica pode levar a rinite-
rebote, que freqüentemente é automedicada com descongestionantes nasais; ela também
leva a epistaxe e, eventualmente, a perfuração do septo nasal.

     Intoxicação por Cocaína
Pode causar inquietação, agitação, ansiedade, logorréia, fala sob pressão, ideações
paranóides, agressividade, aumento do interesse sexual, sensação de aumento da percepção,
ideações de grandeza, hiperatividade e outros sintomas maniformes.

     Os sinais físicos incluem taquicardia, hipertensão, dilatação pupilar, calafrios,
anorexia, insônia e movimentos estereotipados. A cocaína também tem sido associada a
morte súbita por complicações cardíacas e delirium.

      Os distúrbios delirantes são tipicamente paranóides. No delirium, pode haver
alucinações tácteis ou olfativas. Ele pode levar a crises epilépticas e óbito. O tratamento é
em grande parte sintomático. A agitação pode ser tratada com contenção,
benzodiazepínicos ou, se for grave (delirium ou psicose), com baixas doses de
antipsicóticos de alta potência (apenas como último recurso, pois estas medicações
diminuem o limiar epileptógeno).

     Sintomas somáticos como, por exemplo, taquicardia, hipertensão, podem ser tratados
com betabloqueadores. Avaliar a possível presença de complicações clínicas.

     Abstinência

      O sinal mais proeminente da abstinência de cocaína é a "fissura" pela droga. A
tendência ao desenvolvimento de dependência relaciona-se com a via de administração
(menor com a aspiração, maior com a injeção endovenosa ou quando é fumada na forma de
base livre).

     Os sintomas de abstinência incluem fadiga, letargia, ideações de culpa, ansiedade e
sensações de desamparo, desesperança e desvalorização. O uso crônico pode levar a
depressão, o que pode requerer tratamento com antidepressivos.

     Observar a possível presença de ideações suicidas. Os sintomas de abstinência
usualmente atingem seu pico em alguns dias, porém a síndrome (especialmente os sintomas
depressivos) podem durar até semanas.

     Fonte: Manual de Psiquiatria Clínica - 1ª Ed. - 1992.

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Alterações provocadas pela cocaína

  • 1. Alterações Provocadas Pela Cocaína Os efeitos da cocaína são farmacologicamente semelhantes aos dos outros estimulantes, porém seu uso difundido requer uma discussão separada. Produto natural da planta denominada coca, a cocaína tem sido usada por muitas culturas há séculos, devido às suas propriedades psicoativas. Antes de se conhecer bem seu elevado potencial para causar dependência, ela era amplamente usada como estimulante e euforizante. É usualmente aspirada pelo nariz, mas pode ser fumada ou injetada. Para ser fumada, o hidrocloreto de cocaína deve ser purificado na forma de base livre (freebase). A possibilidade de se obter uma forma cristalizada de cocaína de base livre (crack) em quantidades pequenas e baratas nos últimos anos gerou uma epidemia de uso de crack, com efeitos devastadores sobre a sociedade. Os grupos sócio-econômicos mais baixos tornaram-se especialmente suscetíveis, causando uma maior decadência de regiões urbanas pelo seu uso e crimes a ele relacionados. O crack é fumado, o início de sua ação é rápido e seu potencial de causar dependência é elevado. A típica imagem de dependente anteriormente associada ao abusador de heroína aplica-se também, atualmente, ao de crack. Fumar cocaína leva a um início de ação equiparável a uma injeção endovenosa, com o mesmo potencial para causar dependência. A euforia é intensa, com risco de dependência após uma única dose. Como as anfetaminas, a cocaína pode ser usada em "porres" com duração de vários dias. Este fenômeno é parcialmente resultante dos maiores efeitos euforizantes das doses subseqüentes (sensibilização). Durante os "porres", o abusador faz uso repetido de cocaína até ficar exausto ou sem droga. A isto se segue uma crise de letargia, fome e sono prolongado, seguido por outro "porre". Com o uso repetido, desenvolve-se tolerância aos efeitos euforizantes, anoréticos, hipertérmicos e cardiovasculares. O uso endovenoso associa-se aos riscos usuais do abuso de drogas endovenosas, onde se incluem AIDS, septicemia e trombose venosa. A aspiração crônica pode levar a rinite- rebote, que freqüentemente é automedicada com descongestionantes nasais; ela também leva a epistaxe e, eventualmente, a perfuração do septo nasal. Intoxicação por Cocaína
  • 2. Pode causar inquietação, agitação, ansiedade, logorréia, fala sob pressão, ideações paranóides, agressividade, aumento do interesse sexual, sensação de aumento da percepção, ideações de grandeza, hiperatividade e outros sintomas maniformes. Os sinais físicos incluem taquicardia, hipertensão, dilatação pupilar, calafrios, anorexia, insônia e movimentos estereotipados. A cocaína também tem sido associada a morte súbita por complicações cardíacas e delirium. Os distúrbios delirantes são tipicamente paranóides. No delirium, pode haver alucinações tácteis ou olfativas. Ele pode levar a crises epilépticas e óbito. O tratamento é em grande parte sintomático. A agitação pode ser tratada com contenção, benzodiazepínicos ou, se for grave (delirium ou psicose), com baixas doses de antipsicóticos de alta potência (apenas como último recurso, pois estas medicações diminuem o limiar epileptógeno). Sintomas somáticos como, por exemplo, taquicardia, hipertensão, podem ser tratados com betabloqueadores. Avaliar a possível presença de complicações clínicas. Abstinência O sinal mais proeminente da abstinência de cocaína é a "fissura" pela droga. A tendência ao desenvolvimento de dependência relaciona-se com a via de administração (menor com a aspiração, maior com a injeção endovenosa ou quando é fumada na forma de base livre). Os sintomas de abstinência incluem fadiga, letargia, ideações de culpa, ansiedade e sensações de desamparo, desesperança e desvalorização. O uso crônico pode levar a depressão, o que pode requerer tratamento com antidepressivos. Observar a possível presença de ideações suicidas. Os sintomas de abstinência usualmente atingem seu pico em alguns dias, porém a síndrome (especialmente os sintomas depressivos) podem durar até semanas. Fonte: Manual de Psiquiatria Clínica - 1ª Ed. - 1992. Copyright © 2000 eHealth Latin America