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16 17
• Internacional •
PERSPECTIVAS DO
SETOR LÁCTEO
NO MERCADO
INTERNACIONAL
O BRASIL E O MUNDO
APÓS O EMBARGO RUSSO
A PRODUTOS LÁCTEOS, E
AS CONSEQUÊNCIAS NO
COMÉRCIO EXTERIOR
Bernhard J. Smid*
NOVEMBRO/DEZEMBRO 2015
O
ano de 2014 foi especialmente dinâmico
para o setor lácteo brasileiro, que teve
um crescimento significativo de ven-
das ao exterior em comparação com os
anos anteriores. Este aumento deve-se
a condições favoráveis para a produção
de leite, sobretudo no que se refere a condições cli-
máticas adequadas, baixo custo dos insumos e preços
internacionais favoráveis. Entretanto, 2014 também
foi marcado por decisivas mudanças políticas interna-
cionais, que influenciaram diretamente o comércio de
lácteos.
No segundo semestre de 2014, o setor teve im-
portantes ocorrências, como o embargo da Rússia a
produtos da União Europeia, Estados Unidos, Austrá-
lia, Canadá e Noruega. Este aspecto é extremamente
relevante, uma vez que a Nova Zelândia e a União Eu-
ropeia são os principais produtores do setor, responsá-
veis por quase 50% do comércio internacional
– os Estados Unidos, com cerca de 15% das
exportações, estão em terceiro. Na outra pon-
ta, no que se refere às importações, a China e
a Rússia têm sido os principais compradores.
O embargo russo, assim, acarretou em
significativas mudanças comerciais. A produ-
ção dos tradicionais exportadores para o país
precisou ser absorvida pelo mercado local, re-
sultando na redução do valor do produto a fim
de estimular o consumo. Alternativamente,
os principais produtores tiveram que buscar
outras alternativas, como ampliar as vendas
a outros mercados.
É importante destacar que o embargo
russo “sacolejou” os preços internacionais e
desequilibrou o mercado global. Na Europa,
até antes do embargo russo, o preço médio
do leite por 100 quilos era de 36,97 (US$
41,46); e, em julho de 2015, caiu para 29,70
(US$ 33,31).
No que se refere à Rússia, o embargo
fez com que o país buscasse outros forne-
cedores de lácteos. Assim, o Brasil foi visto
como possível solução dos problemas. Entre-
tanto, as primeiras vendas brasileiras para os
russos aconteceram somente no fim do ano,
uma vez que as plantas nacionais precisavam
cumprir às exigências fitossanitárias locais.
Havia, ainda, a necessidade de conhecer de-
talhes da demanda desse mercado, além de
realizar as primeiras transações comerciais.
O mercado russo é, sem dúvida, uma
oportunidade para a ampliação das exporta-
ções brasileiras. Porém, quando se analisa
estrategicamente, há a necessidade de con-
siderar-se algumas variáveis. A principal, nesse caso, é
o questionamento de até quando haverá o embargo. E,
consequentemente, se as empresas brasileiras que estão
exportando à Rússia terão futuramente de competir com
os produtos dos países embargados.
Ao se fazer uma análise estratégica quanto a po-
tenciais mercados externos, há de considerar-se também
a evolução das importações de cada país, além de as-
pectos de grande relevância e que frequentemente são
menosprezados, como acordos bilaterais, tendências de
consumo e logística.
Para a elaboração de uma estratégia de médio e
longo prazos, as empresas brasileiras precisam conside-
rar as características de diversos países. Considerando
este aspecto, no que se refere às importações de lácteos,
a Ásia e o Oriente Médio são regiões de grande destaque.
Há, assim, uma crescente demanda na China, Irã, Indo-
nésia e Filipinas, apesar da recente retração das compras
18 19
• Internacional •
chinesas, que pode ser considerada temporária. Também mere-
cem atenção os mercados de Arábia Saudita, Emirados Árabes
Unidos, Japão, Singapura, Malásia e Tailândia. Fora do eixo Ásia-
-Oriente Médio, Argélia, África do Sul e Gana são potenciais mer-
cados estratégicos.
Apesar do crescimento da população mundial, a produção
de leite deverá cair ligeiramente até 2024, segundo a OCDE (Or-
ganização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Es-
tima-se, ainda, que 75% do aumento da produção ocorrerá em pa-
íses em desenvolvimento, mas, ao invés da elevação de rebanhos,
projeta-se o crescimento da produtividade. Em comparação com
a década anterior, esse aumento é uma mudança de paradigma,
uma vez que a expansão ocorrida no passado consistia, basica-
mente, na ampliação do rebanho leiteiro.
Observando o contexto internacional, a Índia deve ser a
maior produtora de leite em 2024. Já o Brasil, mesmo com o au-
mento de produção, estará em 7º lugar, atrás de Rússia, Paquis-
tão, China, EUA, Índia e União Europeia.
Segundo as expectativas internacionais, é estimada uma
expansão do comércio de lácteos até 2024. A OCDE, por exem-
plo, projeta crescimento anual do consumo de manteiga (1,6%),
queijo (2,2%), leite em pó desnatado (2,8%) e leite em pó integral
(2,4%). Entre os exportadores, Estados Unidos, União Europeia,
Nova Zelândia e Austrália deverão ser responsáveis, juntos, pela
exportação de 73% do queijo, 80% do leite em pó integral, 85% da
manteiga e 87% do leite em pó desnatado.
// LEITE EM PÓ
INTEGRAL
A importação de leite em pó
integral teve alguns destaques nos
últimos anos: China, Argélia e Emira-
dos Árabes Unidos. Ao analisar estes
países, buscando incrementar as ex-
portações brasileiras, há de conside-
rar-se alguns aspectos importantes:
1. a influência de políticas gover-
namentais / estrutura política do país;
2. a existência de acordos bila-
terais entre os países importadores
e exportadores, que refletem direta-
mente no preço do produto comercia-
lizado;
3. a identificação dos principais
países produtores e a sua evolução no
comércio internacional;
4. a potencialidade de outros mer-
cados próximos aos mercados-alvo;
5. a logística necessária para a
concretização das vendas;
6. os aspectos culturais e religio-
sos que podem refletir no consumo.
No caso da China, apesar de
ser produtor de lácteos, o país tem
tido uma crescente demanda. Nos
próximos anos, estima-se que ele
continuará a ser o principal compra-
dor mundial, porém, a taxas bem mais
modestas do que em comparação à úl-
tima década.
É importante destacar que o
produto lácteo chinês não é conside-
rado de grande qualidade, fazendo
com que o importado seja bem acei-
to. Entretanto, estima-se que ocorra a
reestruturação do setor, possibilitan-
do uma redução da demanda chinesa
pelo produto estrangeiro.
Em relação às oportunidades
de exportação brasileira à China, é importante observar que
ela possui um acordo comercial com a Nova Zelândia, o que
facilita as negociações entre as empresas dos dois países.
Adicionalmente, em termos logísticos, a proximidade entre
eles é um fator favorável ao se comparar com o Brasil.
Localizada em uma região inóspita para a produção
de lácteos, a Argélia compra uma quantidade significativa
para suprir sua demanda. Em termos comerciais, é preciso
considerar seus elos históricos e culturais com a França, re-
sultando na proximidade comercial entre os dois países. É
importante destacar, ainda, sua estrutura política, tradicio-
nalmente fechada às relações internacionais. Mas, aos pou-
cos, vem ocorrendo uma abertura internacional.
Os Emirados Árabes Unidos, por sua vez, apresentam
uma estrutura extremamente favorável ao comércio interna-
cional, o que faz com que seja um hub para outros países da
região. Seu governo, por exemplo, tem um claro posiciona-
mento favorável ao comércio e à atração de novos negócios,
enquanto a grande internacionalidade de sua população fa-
cilita a entrada dos importados.
Outros países de destaque na importação de leite em
pó são: Singapura, Omã, Sri Lanka, Indonésia, Filipinas e
Nigéria. No caso do Brasil, que historicamente tem sido um
importador do produto, estima-se que as compras sejam
significativamente diminuídas em detrimento da crescen-
te produção doméstica, elevada por programas voltados ao
produtor rural.
No que se refere aos principais produtores de leite em
pó integral, a exportação tem sido liderada pela Nova Ze-
lândia, cujo volume deve continuar crescendo nos próximos
anos. Entretanto, segundo estimativas da FAO, a participa-
ção deve cair consideravelmente na Europa, que enfocará
outros produtos, e na Argentina, devido à queda na produ-
ção. Segundo a OCDE, até 2024, a Nova Zelândia será res-
ponsável por 56% do mercado internacional de leite em pó
integral.
// LEITE EM PÓ DESNATADO
A expectativa futura é de crescimento na comerciali-
zação internacional do leite em pó desnatado. Apesar das
variações recentes quanto aos principais importadores, a
tendência é de que os mercados continuem a crescer na
Estimativa da produção de leite no período de 2012-2014 e 2024
União Europeia
Índia
Estados Unidos
China
Paquistão
Federação Rússia
Brasil
Nova Zelandia
Turquia
Ucrânia
México
Argentina
Austrália
Canadá
Japão
Colômbia
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225
Mt
2013-14 2024
Source: OECD/FAO (2015), “OECD-FAO Agricultural Outlook”, OECD Agriculture statistics (database), http://
dx.doi.org/10.1787/agr-outl-data-en. – StatLink: http:/dx.doi.org/10.1787/888933229531
NOVEMBRO/DEZEMBRO 2015
20 21
• Internacional •
China, México, Indonésia, Rússia, Argélia, Filipinas e
Malásia. Em menor ritmo, há também a expectativa de
aumento para Vietnã, Arábia Saudita, Egito, Tailândia e
Singapura.
Aproximadamente 70% do leite em pó desnatado
vendido no mundo é proveniente dos Estados Unidos,
Europa e Nova Zelândia. Entretanto, destaca-se o rápi-
do crescimento da Índia. Para 2024, as projeções indicam
que Estados Unidos e União Europeia serão responsáveis
por, respectivamente, 32% e 30% das exportações. Já a
principal demanda virá de países em desenvolvimento.
// MANTEIGA
A demanda internacional por manteiga é tradicio-
nalmente proveniente de Rússia (o maior consumidor
mundial), sudoeste da Ásia e Oriente Médio (Arábia Sau-
dita e Irã). A China também tem comprado consideráveis
quantidades, da mesma forma como outros produtos lác-
teos, mas essa demanda tem oscilado.
A Nova Zelândia é o principal exportador mundial
de manteiga. Em segundo lugar está a União Europeia,
que tanto importa como exporta. Antes do embargo, as
importações provenientes da Rússia equivaliam a aproxi-
madamente 25% do total negociado pela UE, que migrou
suas vendas para o Oriente Médio e o norte da África,
com um aumento de quase 70%. É importante notar que,
antes do embargo, os Estados Unidos eram o principal
fornecedor de manteiga para essas regiões.
Já a Rússia tem aumentado sua produção local, o
que deve levar futuramente a um declínio de suas im-
portações. Por outro lado, estima-se o aumento de com-
pra por China, Arábia Saudita e Egito. De acordo com a
OCDE, a Nova Zelândia deverá continuar como líder mun-
dial na exportação de manteiga, correspondendo a 48%
do mercado em 2024, embora projete-se um incremento
da participação de outros países.
// QUEIJOS
Aproximadamente 40% da demanda internacional
de queijos é proveniente de Rússia, Japão, Estados Uni-
dos e Arábia Saudita. Com o embargo russo em 2014, po-
rém, o mercado sofreu significativa alteração.
Até meados de 2014, a União Europeia
era responsável por suprir 33% da demanda
internacional (excluindo deste total o volume
de queijos negociado entre os países do pró-
prio bloco). Apenas para a Rússia, a UE res-
pondia por um terço das vendas. Com o início
do embargo, no entanto, a produção inicial-
mente destinada aos queijos foi transferida
para leite em pó e manteiga.
Ainda assim, até 2024, a OCDE estima
que a União Europeia será responsável por
38% das exportações de queijo. Desta forma,
as vendas europeias devem crescer aproxi-
madamente 4% ao ano, seguidas pelas de Es-
tados Unidos (3,5%), Austrália (3,4%) e Nova
Zelândia (2,4%).
Há, ainda, uma tendência de que o con-
sumo de queijo aumente, principalmente nos
países em desenvolvimento, a uma média de
3,6% ao ano. A expectativa nos países desen-
volvidos é de um crescimento inferior, corres-
pondendo a cerca de 0,4% ao ano até 2024.
// O EMBARGO E O BRASIL
Com o embargo russo, estimava-se que
a Rússia substituiria a demanda de produtos
lácteos por países menos tradicionais. Nesta
categoria, enquadravam-se Brasil e Índia. Po-
rém, apesar de terem ocorrido vendas, as ne-
gociações não refletiram a expectativa gerada.
As minguadas exportações brasileiras
para a Rússia são, sem dúvida, um sinal de
alerta, tanto para as autoridades governa-
mentais que estão promovendo a inserção
dos produtos lácteos no exterior, quanto às
associações que representam os interesses
dos produtores e exportadores. Mesmo com a
possibilidade de vender a um novo mercado,
e com o diferencial de estar sem a concorrên-
cia dos principais produtores mundiais, as
exportações brasileiras estão muito abaixo
do esperado.
Fica, então, a pergunta: onde é que as
entidades e profissionais do setor estão fa-
lhando?
Sem dúvida, houve toda uma buro-
cracia para adequar as plantas produtoras
às exigências russas, o que fez com que as
primeiras exportações ocorressem somente
no final de 2014. Porém, as vendas em 2015
não decolaram. É notória a necessidade de
trabalhar as oportunidades externas de for-
ma responsável e cuidadosa, estudando as
demandas e os hábitos da população, o mer-
cado local e a identificação de possíveis par-
ceiros. Sem isso, por melhor que sejam, as
oportunidades podem não render resultados
concretos.
Exportações de produtos lácteos para a Rússia
provenientes do Brasil
Produtos
2014 2015 (jan a out)
Valor
FOB
Volu-
me
Valor
FOB
Volume
Manteiga 3.070.982 838.400 387.030 182.000
Queijos
fundidos
0 0 802.428 176.529
Queijo
Roquefort
0 0 162.659 27.523
Queijo de massa
semi-dura
0 0 30.898 4.640
Fonte: Aliceweb, MDIC. Compilação: O Autor
No Oriente Médio, o destaque quanto
às exportações brasileiras é o creme de lei-
te (concentrado e adocicado), que tem sido
vendido particularmente à Arábia Saudita,
Emirados Árabes, Kuwait e Omã. Destes, é
notório o crescimento à Arábia Saudita e a
contínua expansão ao Catar.
Exportações de produtos lácteos para o Oriente Médio
provenientes do Brasil
Produto / País 2010 2011 2012 2013 2014
2015
(jan - out)
Arábia
Saudita
1.502.562 1.174.388 7.745.036 11.766.950 11.993.788 10.178.756
Barein 392.171 459.633 484.006 567.566 566.165 460.433
Catar 526.240 668.947 707.531 814.057 1.020.671 722.764
Kuwait 1.486.390 1.568.672 1.296.250 1.476.582 1.842.967 1.258.489
UAE 1.748.023 2.255.264 2.072.451 2.625.918 2.691.049 2.404.941
Iraque 35.514 0 0 0 0 0
Jordâ-
nia
343.676 426.738 0 78.990 36.180 0
Líbano 1.490.549 0 0 450.600 0 0
Omã 397.465 427.153 617.611 512.691 715.992 581.312
Síria 829.181 789.611 0 0 0 0
Fonte: Aliceweb, MDIC. Compilação: O Autor
Cremesdeleite(concentradoeadocicado)
Ainda no Oriente Médio, observa-se uma signifi-
cativa retração na presença da manteiga brasileira, não
ocorrendo exportação em 2015 (até outubro), apesar das
vendas em 2014 terem alcançado o montante de US$
3.737.827,00. Apesar das vendas do Brasil à região terem
sido sempre marcadas pela volatilidade, a significativa
retração é um provável reflexo da maior participação do
produto europeu, que buscou no Oriente Médio uma al-
ternativa após o embargo russo.
Exportações de produtos lácteos para o Oriente
Médio provenientes do Brasil
Produto /
País
2010 2011 2012 2013 2014
2015
(Jan - out)
Arábia
Saudita
268.335 676.676 0 0 400.000 0
Barein 47.765 0 0 0 1.250.830 0
Catar 161.122 0 86.667 0 94.371 0
Kuwait 1.648.545 1.429.986 144.247 103.674 585.117 0
UAE 200.000 0 0 0 491.165 0
Iêmen 2.001.163 231.687 415.275 182.923 839.466 0
Jordânia 279.725 82.800 0 0 76.878 0
Fonte: Aliceweb, MDIC. Compilação: O Autor
Manteiga
NOVEMBRO/DEZEMBRO 2015
22 23
• Internacional •
A África é um mercado promissor para os produ-
tos brasileiros, particularmente para o leite condensado,
que tem aumentado a penetração em diversos países. Um
exemplo é Angola, que tem sido um importante compra-
dor. Entretanto, houve retração dos principais produtos
É necessário destacar que, no comér-
cio exterior, não se deve vender de forma
negligente, ou seja, sem continuidade anual.
Deve-se organizar-se de maneira estrutura-
da e promover os produtos no mercado-alvo,
ampliando visibilidade e alavancando novas
oportunidades. Esse trabalho bem estrutura-
do é o que está faltando para o Brasil crescer
nas vendas externas, afinal, se não é realiza-
do marketing e promoção comercial, quem
vai comprar um produto desconhecido em
um mercado atendido por outros produtos de
boa qualidade e de reconhecimento interna-
cional? É necessário, assim, um trabalho bem
estruturado para que o Brasil seja competiti-
vo no mercado internacional.
comercializados internacionalmente: leite
em pó e manteiga. Também na África veri-
fica-se o aumento da presença dos produtos
europeus e, consequentemente, a retração
dos brasileiros.
Exportações de produtos lácteos para a África provenientes do Brasil
Produto / País 2010 2011 2012 2013 2014
2015
(Jan - out)
Leite em
Pó Integral
Angola 331.535 24.524 4.299 6.731 191.773 64.214
Argélia 8.431.800 4.306.500 0 0 32.683.550 0
Congo 0 0 0 0 124.300 0
Costa do Marfim 0 0 0 0 492.000 0
Egito 0 0 0 0 3.910.000 0
Guiné Equatorial 285.464 594.573 397.524 549.133 310.233 55.128
Moçambique 174.000 0 0 300 0 0
Nigéria 0 0 0 0 245.000 0
Senegal 940.317 0 0 0 229.514 0
Leite
condensado
Angola 10.540.140 10.221.747 10.237.740 9.985.689 10.697.526 9.691.084
Argélia 231.318 45.471 0 0 0 0
Cabo Verde 28.714 4.686 0 0 0 32.053
Benin 0 0 0 0 46.842 0
Egito 0 0 0 0 232.414 130.117
Guiné Equatorial 2.083.960 3.497.341 2.160.801 1.117.217 194.897 184.796
Líbia 0 0 0 88.102 567.660 619.048
Maurício 199.161 363.588 261.457 353.704 344.580 46.116
África do Sul 0 58.200 96.768 93.744 0 0
Togo 0 0 0 0 0 139.866
Tunísia 2.009.841 2.444.574 1.770.590 1.888.891 1.827.194 743.975
Angola 0 0 0 16.162 2.095 2.340
Costa do Marfim 0 0 0 0 210.000 0
Egito 5.713.258 330.970 742.753 0 7.870.387 1.828.119
Marrocos 1.443.530 856.582 192.528 0 0 0
Butter Oil Argélia 0 4.169.700 814.411 578.295 6.475.073 0
Queijo
Mussarela
Angola 304.764 286.519 643.392 597.104 565.728 345.914
Gana 312.029 665.257 470.753 486.144 809.741 280.562
Requeijão Angola 165.329 15.226 110.502 10.053 30.608 19.715
Queijos
ralados
Angola 1.609 995 1.901 0 0 0
Cabo Verde 0 0 0 0 1.788 936
Queijos
fundido
Angola 0 0 6.479 2.547 2.911 0
Queijo
roquefort
Angola 0 0 0 0 1.124 0
Queijos massa
dura
Angola 8.857 7.407 19.523 22.733 32.049 30.932
Queijos massa
semi-dura
Angola 807.304 634.489 368.056 346.241 389.648 95.444
Queijos
massa macia
Angola 23.954 19.657 96.824 87.880 67.947 0
Doce de Leite Angola 4.368 10.439 481 3.292 12.479 9.724
Fonte: Aliceweb, MDIC. Compilação: O Autor
* Bernhard J. Smid, profissional da área de
comércio exterior, é consultor sênior na área de pro-
moção comercial internacional, prospecção e de-
senvolvimento de novos mercados, representação
de interesses setoriais e empresariais. Atua como
diretor comercial internacional na empresa Allinkd.
Academicamente, é graduado em comércio exterior,
possui mestrado em negócios internacionais pela
Munich Business School (Alemanha) e MBA em co-
mércio exterior e negociações internacionais pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV). Residente em Bra-
sília, Bernhard pode ser contatado nos telefones (61)
9229-5099 ou (61) 3053-0275, eMails: bsmid@allinkd.
com ou bernhardsmid@yahoo.de. LinkedIn: https://
br.linkedin.com/in/bsmid
NOVEMBRO/DEZEMBRO 2015

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Perspectivas do Setor Lácteo no Mercado Internacional. Consequências do Embargo Russo no comércio exterior.

  • 1. 16 17 • Internacional • PERSPECTIVAS DO SETOR LÁCTEO NO MERCADO INTERNACIONAL O BRASIL E O MUNDO APÓS O EMBARGO RUSSO A PRODUTOS LÁCTEOS, E AS CONSEQUÊNCIAS NO COMÉRCIO EXTERIOR Bernhard J. Smid* NOVEMBRO/DEZEMBRO 2015 O ano de 2014 foi especialmente dinâmico para o setor lácteo brasileiro, que teve um crescimento significativo de ven- das ao exterior em comparação com os anos anteriores. Este aumento deve-se a condições favoráveis para a produção de leite, sobretudo no que se refere a condições cli- máticas adequadas, baixo custo dos insumos e preços internacionais favoráveis. Entretanto, 2014 também foi marcado por decisivas mudanças políticas interna- cionais, que influenciaram diretamente o comércio de lácteos. No segundo semestre de 2014, o setor teve im- portantes ocorrências, como o embargo da Rússia a produtos da União Europeia, Estados Unidos, Austrá- lia, Canadá e Noruega. Este aspecto é extremamente relevante, uma vez que a Nova Zelândia e a União Eu- ropeia são os principais produtores do setor, responsá- veis por quase 50% do comércio internacional – os Estados Unidos, com cerca de 15% das exportações, estão em terceiro. Na outra pon- ta, no que se refere às importações, a China e a Rússia têm sido os principais compradores. O embargo russo, assim, acarretou em significativas mudanças comerciais. A produ- ção dos tradicionais exportadores para o país precisou ser absorvida pelo mercado local, re- sultando na redução do valor do produto a fim de estimular o consumo. Alternativamente, os principais produtores tiveram que buscar outras alternativas, como ampliar as vendas a outros mercados. É importante destacar que o embargo russo “sacolejou” os preços internacionais e desequilibrou o mercado global. Na Europa, até antes do embargo russo, o preço médio do leite por 100 quilos era de 36,97 (US$ 41,46); e, em julho de 2015, caiu para 29,70 (US$ 33,31). No que se refere à Rússia, o embargo fez com que o país buscasse outros forne- cedores de lácteos. Assim, o Brasil foi visto como possível solução dos problemas. Entre- tanto, as primeiras vendas brasileiras para os russos aconteceram somente no fim do ano, uma vez que as plantas nacionais precisavam cumprir às exigências fitossanitárias locais. Havia, ainda, a necessidade de conhecer de- talhes da demanda desse mercado, além de realizar as primeiras transações comerciais. O mercado russo é, sem dúvida, uma oportunidade para a ampliação das exporta- ções brasileiras. Porém, quando se analisa estrategicamente, há a necessidade de con- siderar-se algumas variáveis. A principal, nesse caso, é o questionamento de até quando haverá o embargo. E, consequentemente, se as empresas brasileiras que estão exportando à Rússia terão futuramente de competir com os produtos dos países embargados. Ao se fazer uma análise estratégica quanto a po- tenciais mercados externos, há de considerar-se também a evolução das importações de cada país, além de as- pectos de grande relevância e que frequentemente são menosprezados, como acordos bilaterais, tendências de consumo e logística. Para a elaboração de uma estratégia de médio e longo prazos, as empresas brasileiras precisam conside- rar as características de diversos países. Considerando este aspecto, no que se refere às importações de lácteos, a Ásia e o Oriente Médio são regiões de grande destaque. Há, assim, uma crescente demanda na China, Irã, Indo- nésia e Filipinas, apesar da recente retração das compras
  • 2. 18 19 • Internacional • chinesas, que pode ser considerada temporária. Também mere- cem atenção os mercados de Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Japão, Singapura, Malásia e Tailândia. Fora do eixo Ásia- -Oriente Médio, Argélia, África do Sul e Gana são potenciais mer- cados estratégicos. Apesar do crescimento da população mundial, a produção de leite deverá cair ligeiramente até 2024, segundo a OCDE (Or- ganização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Es- tima-se, ainda, que 75% do aumento da produção ocorrerá em pa- íses em desenvolvimento, mas, ao invés da elevação de rebanhos, projeta-se o crescimento da produtividade. Em comparação com a década anterior, esse aumento é uma mudança de paradigma, uma vez que a expansão ocorrida no passado consistia, basica- mente, na ampliação do rebanho leiteiro. Observando o contexto internacional, a Índia deve ser a maior produtora de leite em 2024. Já o Brasil, mesmo com o au- mento de produção, estará em 7º lugar, atrás de Rússia, Paquis- tão, China, EUA, Índia e União Europeia. Segundo as expectativas internacionais, é estimada uma expansão do comércio de lácteos até 2024. A OCDE, por exem- plo, projeta crescimento anual do consumo de manteiga (1,6%), queijo (2,2%), leite em pó desnatado (2,8%) e leite em pó integral (2,4%). Entre os exportadores, Estados Unidos, União Europeia, Nova Zelândia e Austrália deverão ser responsáveis, juntos, pela exportação de 73% do queijo, 80% do leite em pó integral, 85% da manteiga e 87% do leite em pó desnatado. // LEITE EM PÓ INTEGRAL A importação de leite em pó integral teve alguns destaques nos últimos anos: China, Argélia e Emira- dos Árabes Unidos. Ao analisar estes países, buscando incrementar as ex- portações brasileiras, há de conside- rar-se alguns aspectos importantes: 1. a influência de políticas gover- namentais / estrutura política do país; 2. a existência de acordos bila- terais entre os países importadores e exportadores, que refletem direta- mente no preço do produto comercia- lizado; 3. a identificação dos principais países produtores e a sua evolução no comércio internacional; 4. a potencialidade de outros mer- cados próximos aos mercados-alvo; 5. a logística necessária para a concretização das vendas; 6. os aspectos culturais e religio- sos que podem refletir no consumo. No caso da China, apesar de ser produtor de lácteos, o país tem tido uma crescente demanda. Nos próximos anos, estima-se que ele continuará a ser o principal compra- dor mundial, porém, a taxas bem mais modestas do que em comparação à úl- tima década. É importante destacar que o produto lácteo chinês não é conside- rado de grande qualidade, fazendo com que o importado seja bem acei- to. Entretanto, estima-se que ocorra a reestruturação do setor, possibilitan- do uma redução da demanda chinesa pelo produto estrangeiro. Em relação às oportunidades de exportação brasileira à China, é importante observar que ela possui um acordo comercial com a Nova Zelândia, o que facilita as negociações entre as empresas dos dois países. Adicionalmente, em termos logísticos, a proximidade entre eles é um fator favorável ao se comparar com o Brasil. Localizada em uma região inóspita para a produção de lácteos, a Argélia compra uma quantidade significativa para suprir sua demanda. Em termos comerciais, é preciso considerar seus elos históricos e culturais com a França, re- sultando na proximidade comercial entre os dois países. É importante destacar, ainda, sua estrutura política, tradicio- nalmente fechada às relações internacionais. Mas, aos pou- cos, vem ocorrendo uma abertura internacional. Os Emirados Árabes Unidos, por sua vez, apresentam uma estrutura extremamente favorável ao comércio interna- cional, o que faz com que seja um hub para outros países da região. Seu governo, por exemplo, tem um claro posiciona- mento favorável ao comércio e à atração de novos negócios, enquanto a grande internacionalidade de sua população fa- cilita a entrada dos importados. Outros países de destaque na importação de leite em pó são: Singapura, Omã, Sri Lanka, Indonésia, Filipinas e Nigéria. No caso do Brasil, que historicamente tem sido um importador do produto, estima-se que as compras sejam significativamente diminuídas em detrimento da crescen- te produção doméstica, elevada por programas voltados ao produtor rural. No que se refere aos principais produtores de leite em pó integral, a exportação tem sido liderada pela Nova Ze- lândia, cujo volume deve continuar crescendo nos próximos anos. Entretanto, segundo estimativas da FAO, a participa- ção deve cair consideravelmente na Europa, que enfocará outros produtos, e na Argentina, devido à queda na produ- ção. Segundo a OCDE, até 2024, a Nova Zelândia será res- ponsável por 56% do mercado internacional de leite em pó integral. // LEITE EM PÓ DESNATADO A expectativa futura é de crescimento na comerciali- zação internacional do leite em pó desnatado. Apesar das variações recentes quanto aos principais importadores, a tendência é de que os mercados continuem a crescer na Estimativa da produção de leite no período de 2012-2014 e 2024 União Europeia Índia Estados Unidos China Paquistão Federação Rússia Brasil Nova Zelandia Turquia Ucrânia México Argentina Austrália Canadá Japão Colômbia 0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 Mt 2013-14 2024 Source: OECD/FAO (2015), “OECD-FAO Agricultural Outlook”, OECD Agriculture statistics (database), http:// dx.doi.org/10.1787/agr-outl-data-en. – StatLink: http:/dx.doi.org/10.1787/888933229531 NOVEMBRO/DEZEMBRO 2015
  • 3. 20 21 • Internacional • China, México, Indonésia, Rússia, Argélia, Filipinas e Malásia. Em menor ritmo, há também a expectativa de aumento para Vietnã, Arábia Saudita, Egito, Tailândia e Singapura. Aproximadamente 70% do leite em pó desnatado vendido no mundo é proveniente dos Estados Unidos, Europa e Nova Zelândia. Entretanto, destaca-se o rápi- do crescimento da Índia. Para 2024, as projeções indicam que Estados Unidos e União Europeia serão responsáveis por, respectivamente, 32% e 30% das exportações. Já a principal demanda virá de países em desenvolvimento. // MANTEIGA A demanda internacional por manteiga é tradicio- nalmente proveniente de Rússia (o maior consumidor mundial), sudoeste da Ásia e Oriente Médio (Arábia Sau- dita e Irã). A China também tem comprado consideráveis quantidades, da mesma forma como outros produtos lác- teos, mas essa demanda tem oscilado. A Nova Zelândia é o principal exportador mundial de manteiga. Em segundo lugar está a União Europeia, que tanto importa como exporta. Antes do embargo, as importações provenientes da Rússia equivaliam a aproxi- madamente 25% do total negociado pela UE, que migrou suas vendas para o Oriente Médio e o norte da África, com um aumento de quase 70%. É importante notar que, antes do embargo, os Estados Unidos eram o principal fornecedor de manteiga para essas regiões. Já a Rússia tem aumentado sua produção local, o que deve levar futuramente a um declínio de suas im- portações. Por outro lado, estima-se o aumento de com- pra por China, Arábia Saudita e Egito. De acordo com a OCDE, a Nova Zelândia deverá continuar como líder mun- dial na exportação de manteiga, correspondendo a 48% do mercado em 2024, embora projete-se um incremento da participação de outros países. // QUEIJOS Aproximadamente 40% da demanda internacional de queijos é proveniente de Rússia, Japão, Estados Uni- dos e Arábia Saudita. Com o embargo russo em 2014, po- rém, o mercado sofreu significativa alteração. Até meados de 2014, a União Europeia era responsável por suprir 33% da demanda internacional (excluindo deste total o volume de queijos negociado entre os países do pró- prio bloco). Apenas para a Rússia, a UE res- pondia por um terço das vendas. Com o início do embargo, no entanto, a produção inicial- mente destinada aos queijos foi transferida para leite em pó e manteiga. Ainda assim, até 2024, a OCDE estima que a União Europeia será responsável por 38% das exportações de queijo. Desta forma, as vendas europeias devem crescer aproxi- madamente 4% ao ano, seguidas pelas de Es- tados Unidos (3,5%), Austrália (3,4%) e Nova Zelândia (2,4%). Há, ainda, uma tendência de que o con- sumo de queijo aumente, principalmente nos países em desenvolvimento, a uma média de 3,6% ao ano. A expectativa nos países desen- volvidos é de um crescimento inferior, corres- pondendo a cerca de 0,4% ao ano até 2024. // O EMBARGO E O BRASIL Com o embargo russo, estimava-se que a Rússia substituiria a demanda de produtos lácteos por países menos tradicionais. Nesta categoria, enquadravam-se Brasil e Índia. Po- rém, apesar de terem ocorrido vendas, as ne- gociações não refletiram a expectativa gerada. As minguadas exportações brasileiras para a Rússia são, sem dúvida, um sinal de alerta, tanto para as autoridades governa- mentais que estão promovendo a inserção dos produtos lácteos no exterior, quanto às associações que representam os interesses dos produtores e exportadores. Mesmo com a possibilidade de vender a um novo mercado, e com o diferencial de estar sem a concorrên- cia dos principais produtores mundiais, as exportações brasileiras estão muito abaixo do esperado. Fica, então, a pergunta: onde é que as entidades e profissionais do setor estão fa- lhando? Sem dúvida, houve toda uma buro- cracia para adequar as plantas produtoras às exigências russas, o que fez com que as primeiras exportações ocorressem somente no final de 2014. Porém, as vendas em 2015 não decolaram. É notória a necessidade de trabalhar as oportunidades externas de for- ma responsável e cuidadosa, estudando as demandas e os hábitos da população, o mer- cado local e a identificação de possíveis par- ceiros. Sem isso, por melhor que sejam, as oportunidades podem não render resultados concretos. Exportações de produtos lácteos para a Rússia provenientes do Brasil Produtos 2014 2015 (jan a out) Valor FOB Volu- me Valor FOB Volume Manteiga 3.070.982 838.400 387.030 182.000 Queijos fundidos 0 0 802.428 176.529 Queijo Roquefort 0 0 162.659 27.523 Queijo de massa semi-dura 0 0 30.898 4.640 Fonte: Aliceweb, MDIC. Compilação: O Autor No Oriente Médio, o destaque quanto às exportações brasileiras é o creme de lei- te (concentrado e adocicado), que tem sido vendido particularmente à Arábia Saudita, Emirados Árabes, Kuwait e Omã. Destes, é notório o crescimento à Arábia Saudita e a contínua expansão ao Catar. Exportações de produtos lácteos para o Oriente Médio provenientes do Brasil Produto / País 2010 2011 2012 2013 2014 2015 (jan - out) Arábia Saudita 1.502.562 1.174.388 7.745.036 11.766.950 11.993.788 10.178.756 Barein 392.171 459.633 484.006 567.566 566.165 460.433 Catar 526.240 668.947 707.531 814.057 1.020.671 722.764 Kuwait 1.486.390 1.568.672 1.296.250 1.476.582 1.842.967 1.258.489 UAE 1.748.023 2.255.264 2.072.451 2.625.918 2.691.049 2.404.941 Iraque 35.514 0 0 0 0 0 Jordâ- nia 343.676 426.738 0 78.990 36.180 0 Líbano 1.490.549 0 0 450.600 0 0 Omã 397.465 427.153 617.611 512.691 715.992 581.312 Síria 829.181 789.611 0 0 0 0 Fonte: Aliceweb, MDIC. Compilação: O Autor Cremesdeleite(concentradoeadocicado) Ainda no Oriente Médio, observa-se uma signifi- cativa retração na presença da manteiga brasileira, não ocorrendo exportação em 2015 (até outubro), apesar das vendas em 2014 terem alcançado o montante de US$ 3.737.827,00. Apesar das vendas do Brasil à região terem sido sempre marcadas pela volatilidade, a significativa retração é um provável reflexo da maior participação do produto europeu, que buscou no Oriente Médio uma al- ternativa após o embargo russo. Exportações de produtos lácteos para o Oriente Médio provenientes do Brasil Produto / País 2010 2011 2012 2013 2014 2015 (Jan - out) Arábia Saudita 268.335 676.676 0 0 400.000 0 Barein 47.765 0 0 0 1.250.830 0 Catar 161.122 0 86.667 0 94.371 0 Kuwait 1.648.545 1.429.986 144.247 103.674 585.117 0 UAE 200.000 0 0 0 491.165 0 Iêmen 2.001.163 231.687 415.275 182.923 839.466 0 Jordânia 279.725 82.800 0 0 76.878 0 Fonte: Aliceweb, MDIC. Compilação: O Autor Manteiga NOVEMBRO/DEZEMBRO 2015
  • 4. 22 23 • Internacional • A África é um mercado promissor para os produ- tos brasileiros, particularmente para o leite condensado, que tem aumentado a penetração em diversos países. Um exemplo é Angola, que tem sido um importante compra- dor. Entretanto, houve retração dos principais produtos É necessário destacar que, no comér- cio exterior, não se deve vender de forma negligente, ou seja, sem continuidade anual. Deve-se organizar-se de maneira estrutura- da e promover os produtos no mercado-alvo, ampliando visibilidade e alavancando novas oportunidades. Esse trabalho bem estrutura- do é o que está faltando para o Brasil crescer nas vendas externas, afinal, se não é realiza- do marketing e promoção comercial, quem vai comprar um produto desconhecido em um mercado atendido por outros produtos de boa qualidade e de reconhecimento interna- cional? É necessário, assim, um trabalho bem estruturado para que o Brasil seja competiti- vo no mercado internacional. comercializados internacionalmente: leite em pó e manteiga. Também na África veri- fica-se o aumento da presença dos produtos europeus e, consequentemente, a retração dos brasileiros. Exportações de produtos lácteos para a África provenientes do Brasil Produto / País 2010 2011 2012 2013 2014 2015 (Jan - out) Leite em Pó Integral Angola 331.535 24.524 4.299 6.731 191.773 64.214 Argélia 8.431.800 4.306.500 0 0 32.683.550 0 Congo 0 0 0 0 124.300 0 Costa do Marfim 0 0 0 0 492.000 0 Egito 0 0 0 0 3.910.000 0 Guiné Equatorial 285.464 594.573 397.524 549.133 310.233 55.128 Moçambique 174.000 0 0 300 0 0 Nigéria 0 0 0 0 245.000 0 Senegal 940.317 0 0 0 229.514 0 Leite condensado Angola 10.540.140 10.221.747 10.237.740 9.985.689 10.697.526 9.691.084 Argélia 231.318 45.471 0 0 0 0 Cabo Verde 28.714 4.686 0 0 0 32.053 Benin 0 0 0 0 46.842 0 Egito 0 0 0 0 232.414 130.117 Guiné Equatorial 2.083.960 3.497.341 2.160.801 1.117.217 194.897 184.796 Líbia 0 0 0 88.102 567.660 619.048 Maurício 199.161 363.588 261.457 353.704 344.580 46.116 África do Sul 0 58.200 96.768 93.744 0 0 Togo 0 0 0 0 0 139.866 Tunísia 2.009.841 2.444.574 1.770.590 1.888.891 1.827.194 743.975 Angola 0 0 0 16.162 2.095 2.340 Costa do Marfim 0 0 0 0 210.000 0 Egito 5.713.258 330.970 742.753 0 7.870.387 1.828.119 Marrocos 1.443.530 856.582 192.528 0 0 0 Butter Oil Argélia 0 4.169.700 814.411 578.295 6.475.073 0 Queijo Mussarela Angola 304.764 286.519 643.392 597.104 565.728 345.914 Gana 312.029 665.257 470.753 486.144 809.741 280.562 Requeijão Angola 165.329 15.226 110.502 10.053 30.608 19.715 Queijos ralados Angola 1.609 995 1.901 0 0 0 Cabo Verde 0 0 0 0 1.788 936 Queijos fundido Angola 0 0 6.479 2.547 2.911 0 Queijo roquefort Angola 0 0 0 0 1.124 0 Queijos massa dura Angola 8.857 7.407 19.523 22.733 32.049 30.932 Queijos massa semi-dura Angola 807.304 634.489 368.056 346.241 389.648 95.444 Queijos massa macia Angola 23.954 19.657 96.824 87.880 67.947 0 Doce de Leite Angola 4.368 10.439 481 3.292 12.479 9.724 Fonte: Aliceweb, MDIC. Compilação: O Autor * Bernhard J. Smid, profissional da área de comércio exterior, é consultor sênior na área de pro- moção comercial internacional, prospecção e de- senvolvimento de novos mercados, representação de interesses setoriais e empresariais. Atua como diretor comercial internacional na empresa Allinkd. Academicamente, é graduado em comércio exterior, possui mestrado em negócios internacionais pela Munich Business School (Alemanha) e MBA em co- mércio exterior e negociações internacionais pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Residente em Bra- sília, Bernhard pode ser contatado nos telefones (61) 9229-5099 ou (61) 3053-0275, eMails: bsmid@allinkd. com ou bernhardsmid@yahoo.de. LinkedIn: https:// br.linkedin.com/in/bsmid NOVEMBRO/DEZEMBRO 2015