O documento descreve a história do uso da tecnologia no ensino de línguas estrangeiras, desde a invenção da escrita até o uso atual da internet. Ele destaca como cada nova tecnologia como livros, fonógrafos, televisão e computadores foi inicialmente recebida com ceticismo por educadores, mas eventualmente se tornou normalizada.
O Uso da Tecnologia no Ensino de Línguas Estrangeiras: breve retrospectiva
1. O USO DA TECNOLOGIA
NO ENSINO DE LÍNGUAS
ESTRANGEIRAS:
breve retrospectiva histórica.
Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva
(UFMG/CNPq/FAPEMIG)
2. O homem está irremediavelmente preso às
ferramentas tecnológicas em uma relação
dialética entre adesão e a crítica ao novo.
O sistema educacional sempre se viu
pressionado pela tecnologia, do livro ao
computador, e faz parte de sua história um
movimento recorrente de rejeição, inserção e
normalização.
3. A tecnologia da escrita
No princípio os textos
eram registrados no
volumen, um rolo de
folhas de papiro. Fig. 1Volumen
No século I a.c., Júlio
César dobrou uma
folha de papiro em
“páginas” individuais, o
que levou a criação do
códex.
Fig. 2 Folha de um Códex
4. A invenção da imprensa por Gutemberg foi a
primeira grande revolução tecnológica na
história da cultura humana.
O livro sofreu os mesmos problemas que
hoje são trazidos pela introdução do
computador em nossa sociedade.
O estado e a igreja impunha ao códex a
censura, cuja prática foi transferida aos livros
ao longo dos séculos.
O livro didático também sofreu censura por
motivos políticos ou econômicos.
5. As tecnologias no ensino de línguas
A primeira notícia que se tem do uso do livro pelo aprendiz
data de 1578, com a publicação de uma gramática do
hebraico pelo Cardeal Bellarmine.
O primeiro livro com imagens foi o Orbis Sensualium Pictus,
de Comenius, na realidade, um livro de vocabulário ilustrado,
publicado em 1658 para a educação infantil.
6. Comenius, que defendia o uso do livro na
sala de aula, havia educadores como
Lambert Sauver que propunham sua
proibição.
A função do livro seria a de preparar os
alunos para as aulas e deveria, portanto, ser
usado apenas em casa.
7. Tecnologias de áudio e vídeo
Uma grande inovação
tecnológica foi a reprodução
de som e vídeo.
Na medida em que as
máquinas se tornavam mais
sofisticadas, os professores
reagiam e se sentiam
Fig. 4 Fonógrafo
ameaçados com medo de
perder seu trabalho e seu
status.
8. A grande revolução no ensino de línguas começou
com a invenção do fonógrafo por Thomas Edson,
em 1878
Com a inovação tecnológica de gravação e
reprodução de som, foi possível levar para a sala de
aula material gravado, reproduzindo amostras de
fala de falantes nativos.
O ensino começa a focar a língua falada, sem,
contudo, ignorar as descrições sintáticas.
9. Registra-se que The International
Correspondence Schools of Scranton foi
responsável pelo primeiro material didático
gravado, em 1902 e 1903.
Em 1930, os estúdios de Walt Disney
produziram cartoons para o ensino de inglês
básico, dando início ao uso de filmes para o
ensino de línguas.
10. O gravador de fita magnética, na década de 40,
permitiu que os alunos gravassem suas leituras e
exercícios de repetição e avaliassem seu
desempenho.
O apogeu do material gravado aconteceu com a
criação dos laboratórios no final dos anos 50.
Os laboratórios não tiveram muito sucesso e seu
fracasso pode ser atribuído a rigidez das
instalações e também aos princípios lingüísticos e
de aprendizagem que lhe davam suporte.
11. Outra tecnologia de áudio é o rádio, mas como ele
se caracteriza pela transmissão em tempo real, nem
sempre era ou é possível a adaptação aos horários
dos programas e, como conseqüência, a tecnologia
exerceu pouca ou nenhuma influência no ambiente
escolar.
No entanto, o rádio teve impacto na educação a
distância devido ao seu longo alcance.
12. A Televisão, inventada em 1926 por John
Baird, tem canais educativos que costumam
veicular cursos de línguas, mas assim como
o rádio, não atingem o ambiente escolar.
No entanto, fora do ambiente escolar
tradicional, grandes projetos de ensino de
línguas acontecem.
Na sala de aula da escola regular, a televisão
toma nova dimensão quando é usada para a
visualização de vídeos.
13. O Computador
O computador surgiu para atender aos
interesses do governo americano.
Preocupado com a guerra fria, o governo
criou, através do Departamento de Defesa
dos Estados Unidos.
Assim como o livro, o computador foi
encolhendo e deixou de ocupar salas inteiras
para a habitar as pastas e mochilas das
classes média e alta.
14. O ensino de línguas mediado por
computador teve inicio com o projeto PLATO
(Programmed Logic for Automatic Teaching
Operations), em 1960, na Universidade de
Illinois.
Na década de 80, surgiram no Brasil os
primeiros computadores pessoais (PCs). Na
Inglaterra, apareciam os programas de
reconstrução de texto, como o Storyboard e
Adam&Eve, que só se tornaram conhecidos
no Brasil na década de 90.
15. O programa Adam&Eve permite que o professor
use qualquer texto e o software faz a análise do
vocabulário com base em dados de freqüência de
palavras, indicando seu nível de dificuldade. O
programa cria, também, exercícios de lacuna.
Mesmo com toda a discussão, iniciada na década
de 70, sobre a abordagem comunicativa, esses
recursos computadorizados continuavam
enfatizando as questões formais.
O acesso à rede mundial de computadores, no
Brasil, aconteceu em 1991 com a criação da Rede
Nacional de Pesquisa (RNP) pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
16. O acesso público só teve início em 1994,
com as provedoras particulares, e, em 1997,
chega a WWW nos moldes que conhecemos
hoje.
Surgiram novas formas de comunicação e os
aprendizes de línguas estrangeiras puderam,
ter acesso a páginas da Internet e interagir
com falantes das línguas por meio de email,
listas de discussão e fóruns.
17. Um das primeiras páginas com material
gratuito para alunos e estudantes foi a ESL
Cafe,criada por David Sperling, com auxílio
de colaboradores, em 1995.
No século 21, a Internet entra em uma nova
fase, conhecida como web 2. O usuário deixa
de ser mero consumidor de conteúdo e
passa também a produtor.
18. Surgem as redes de relacionamentos como o
Orkut, os blogs, os repositórios de vídeos
como o YouTube e até uma enciclopédia
mundial feita pelos usuários da Internet no
mundo inteiro, a Wikipédia.
Os recursos da web 2 oferecem ao aprendiz
tecnologia que lhe permite, efetivamente,usar
a língua em experiências diversificadas de
comunicação.
19. Rumo à normalização
Para Pennington (1996), a socialização dos
computadores e seu uso na educação
podem ser descritos em 7 fases.
2. Na fase um, os computadores foram
usados para cálculos matemáticos por um
grupo de cientistas de elite.
3. Na dois, o acesso foi dado a professores e
alunos de instituições de prestígio.
20. 1. A fase três dá início ao acesso a toda a
esfera educacional, incluindo as escolas
públicas.
2. A fase quatro transforma o computador em
objeto de massa, atingindo a classe média
e tornando o acesso aos computadores
universal.
3. Na cinco, os educadores se apoderam do
computador e as máquinas se tornam cada
vez mais parte das práticas pedagógicas.
21. 1. Na seis, as crianças se tornam digitalmente
letradas.
2. Fase sete, há acesso universal não apenas
às informações, mas também às pessoas.
22. Bax (2003, p.24-25) propõe sete estágios
até a normalização das atividades de
ensino de línguas mediadas por
computador.
3. No primeiro estágio aparecem os primeiros
adeptos e alguns poucos professores e
escolas adotam a tecnologia por
curiosidade
23. 1. No segundo, a maioria das pessoas ignora a
tecnologia ou demonstra ceticismo.
2. No terceiro, as pessoas experimentam a
tecnologia, mas rejeitam o novo frente aos
primeiros obstáculos.
3. No quarto, tentam outra vez porque alguém os
convence que a tecnologia funciona e aí
conseguem ver vantagens relativas.
4. No quinto, mais pessoas começam a usar a nova
ferramenta, mas ainda existe medo ou
expectativas exageradas.
5. No seis, a tecnologia passa a ser vista como algo
normal.
24. 1. No sétimo, integra-se em nossas vidas e se torna
invisível, normalizada.
Em alguns lugares a tecnologia já se torna
invisível, mas na maioria dos contextos ainda
existe uma tensão entre a adesão e a rejeição.
No que concerne o ensino de línguas estrangeiras
em universidades, especialmente o inglês, as
experiências se dividem em três tipos: extensão,
atividades curriculares e projetos opcionais.
25. O computador já está plenamente integrado
no ensino de línguas de algumas instituições
e muitos professores já adotam material
didático acompanhado por CD-Roms. Já é
possível observar uma mudança gradual de
muitos que rejeitaram por princípio as
inovações trazidas pelo computador e pela
Internet, apesar de que essa tecnologia
continuar a ser vista por uns como cura
milagrosa e por outros como algo a ser
temido.