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joão josé reis
flávio dos santos gomes
marcus j. m. de carvalho


O alufá Rufino
Tráfico, escravidão e liberdade no Atlântico
Negro (c. 1822-c. 1853)
Copyright © 2010 by João José Reis, Flávio dos Santos Gomes e Marcus J. M. de Carvalho

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em
vigor no Brasil em 2009.
Capa
Mariana Newlands
Fotos de capa
Detalhe de São Salvador da Baía de Todos os Santos: Vista panorâmica (c. 1835-7), Emeric
Essex Vidal, aquarela/ Sermão de casamento de alufá Rufino, Arquivo Nacional
Mapas
Sonia Vaz
Preparação
Carlos Alberto Bárbaro
Índices
Luciano Marchiori
Revisão
Valquíria Della Pozza
Erika Nakahata



Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

     Reis, João José
          O alufá Rufino: tráfico, escravidão e liberdade no Atlântico
     Negro (c. 1822-c. 1853) / João José Reis, Flávio dos Santos Gomes,
     Marcus J. M. de Carvalho. — São Paulo : Companhia das Letras,
     2010.

           ISBN   978-85-359-1736-9

           1. Africanos - Brasil - História 2. Escravidão - Brasil - História 3.
           Escravos - Comércio - Brasil - História 4. Maria, Rufino José I.
           Gomes, Flávio dos Santos. II. Carvalho, Marcus J. M. de III. Título.

10-08448                                                              CDD-981


Índice para catálogo sistemático:
1. Brasil : Tráfico, escravidão e liberdade : História Social              981




[2010]
Todos os direitos desta edição reservados à
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Telefone (11) 3707-3500
Fax (11) 3707-3501
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Sumário




Abreviaturas ..........................................................................        7
Prefácio ..................................................................................    9

PARTE I
 1. A África de Rufino ...........................................................             15
 2. Escravo na Bahia ..............................................................           24
 3. Escravo em Porto Alegre .................................................                 40
 4. Farrapos e alforria ...........................................................           60
 5. Liberto no Rio de Janeiro ................................................                68
 6. O Rio com medo..............................................................              83

PARTE II
 7. Rufino no tráfico .............................................................            99
 8. Luanda, capital negreira d’Angola ..................................                      116
 9. Preparando a Ermelinda ..................................................                 126
10. Os patrões de Rufino .......................................................              146
11. Passageiros, carregadores e carga ....................................                    165
12. A Ermelinda ao mar .........................................................              178
13. Equipment Act ..................................................................           190
14. Serra Leoa ........................................................................        207
15. Entre akus e malês ...........................................................             228
16. O julgamento da Ermelinda ............................................                     241
17. Jogo sujo...........................................................................       258
18. De novo ao mar ...............................................................             267

PARTE III
19. Contando o prejuízo........................................................                279
20. O Recife de Rufino ...........................................................             290
21. Homem de fé e feitiço ......................................................               305
22. Tempos tensos no Recife de Rufino ................................                         320
23. Liberado ...........................................................................       328
24. Os malês do Recife e uma polêmica doutrinária ............                                 337

Epílogo ...................................................................................    335
Anexos ...................................................................................     361
Agradecimentos ....................................................................            385
Notas ......................................................................................   389
Fontes e referências bibliográficas ........................................                   445
Crédito das imagens ..............................................................             467
Índice onomástico .................................................................            469
Índice remissivo.....................................................................          475
Abreviaturas




ACMS     Arquivo da Cúria Metropolitana de Salvador
AHNA     Arquivo Histórico Nacional de Angola
AHI      Arquivo Histórico do Itamaraty
AHRS     Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul
AHU      Arquivo Histórico Ultramarino
AMM      Arquivo do Memorial da Medicina Brasileira
AMS      Arquivo Municipal de Salvador
AN       Arquivo Nacional
ANTT     Arquivo Nacional da Torre do Tombo
APEBa    Arquivo Público do Estado da Bahia
APEJE    Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano
APERGS   Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul
APERJ    Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro
ASCM     Arquivo da Santa Casa de Misericórdia da Bahia
HCPP     House of Commons Parliamentary Papers
IAHGP    Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico
         de Pernambuco
LNT      Livro de Notas do Tabelião

                                                          7
MJPE       Memorial de Justiça de Pernambuco
NAGB       National Archives of Great Britain
TSTD       The Trans-Atlantic Slave Trade Database




       8
parte i
Estamos continuamente com o pé sobre um furacão.
   Diário do Rio de Janeiro, 1o de outubro de 1836
1. A África de Rufino




     Rufino disse ser filho do reino de Oyó, provavelmente sua
capital Oyó Ilê, onde nasceu no início do século XIX. Oyó destacou-
-se como um dos Estados mais poderosos da região interior do
golfo de Benim, chegando a controlar durante largo período no
século XVIII e início do XIX a maioria dos reinos localizados em
território iorubá. Além disso, submeteu os reinos de Daomé a
oeste, Borgu ao norte e Nupe a nordeste, que se tornariam seus
tributários. Oyó dominava importantes rotas de comércio de
escravos que vinham do interior até portos dos golfos de Benim e
de Biafra. Parte importante do poderio militar de Oyó, com desta-
que para sua cavalaria, ímpar na região, vinha dos recursos obtidos
de sua ativa participação no tráfico de gente.
     No alvorecer do século XIX, Oyó já enfrentava alguns desafios à
sua hegemonia na região. Daomé e Nupe lutavam para sair da sua
órbita de influência e, mais importante, o reino foi abalado por dis-
sensões internas. Em torno de 1796, um guerreiro chamado Afonjá,
o are-ona-kakanfo (ou comandante em chefe do Exército provincial
de Oyó), se rebelou contra o recém-empossado alafin (rei de Oyó)

                                                             15
sob alegação de que esse cargo lhe cabia por mérito e direito de linha-
gem. Afonjá, além de importante chefe militar, era o líder político
(ou baálè) da cidade de Ilorin, que ficava a sudeste de Oyó Ilê.
      Sediado em Ilorin, Afonjá resistiu à autoridade do alafin
durante duas décadas e, em 1817, decidiu jogar uma cartada deci-
siva ao incitar uma grande rebelião escrava em Oyó. Pois esse
poderoso reino, além de promover o tráfico de escravos, era destes
grande consumidor, ou seja, tratava-se de um Estado traficante à
testa de uma sociedade escravista. A maioria dos escravos de Oyó
vinha de territórios situados ao norte do reino, e entre eles a maior
parte era haussá e muçulmana. Os povos de língua haussá ocupa-
vam vasto território situado no norte da atual Nigéria, e ali um
Estado muçulmano — o califado de Sokoto — foi formado em
torno de 1809 sob a liderança dos fulânis, importante grupo étni-
co presente na região, obstinados devotos do Islã e responsáveis
por um jihad iniciado em 1804.
      Liderado por Usuman Dan Fodio — homem letrado, autor de
eruditas obras religiosas, também poeta —, o jihad representou
uma virada radical na história dos haussás e povos vizinhos.
Inicialmente, a guerra santa teve como alvo principal os chefes
haussás, acusados de oprimir os bons muçulmanos e de tolerar um
estilo de islamismo sincretizado com a religião “pagã” local. Muitos
adeptos desta, todavia, lutaram ao lado dos guerreiros do jihad com
vistas a se verem livres de lideranças políticas amiúde tirânicas. Os
haussás escravizados em Oyó eram principalmente vítimas desse
conflito político-religioso que revolucionou a região, um movimen-
to sobretudo de reforma muçulmana, de muçulmanos ortodoxos
contra outros, acusados de relaxados, que no entanto evoluiu para
uma guerra de expansão por todo o território haussá e para além de
suas fronteiras, inclusive o país iorubá de Rufino. A revolta dos
escravos haussás de Oyó, em 1817, marcaria o início da penetração
muçulmana em larga escala entre os iorubás.

     16
a região dos conflitos na áfrica dos malês

                                                 ADAR


  ZABERMA                                                       GOBIR                                                                                              KANEM
                         AREWA
                                                                    Alkalawa                            Daura                                        Lago Chad
                                                                                   Katsina
                                                                   Rio




               Rio
                                                          Sokoto
                          ZAMFARA
                                                                            Soko
                                                                                 to                                                                                                          áfrica
                                                      Gwandu                                     Kano                             BORNO
                                Ní                                                                                                                               Kusseri
                                     ger

                                                                                                                                                                            BAGIRMI
                                  C         A L I F A D O                                                        D E
                                                                                                Zaria                            MANDARA                                Rio


                                                                                                                                                             Rio
   GURMA                                                                                                                                                                       Chari
                          G W A N D U                                                                                                               Marua
                                                                                                                                                                   Lo

                                                                                                                   Bauchi
                                                                                                                                                                     go


                                                                                 na
                                                                                                                                                                        n


                                                      Kontagora
                                                                                                                                                                      e



                                                                              du
                                                                            Ka
                                                  Bussa                 o
                                                                   Ri
                      Nikki

                               Kaiama
                                                            S       O K O T O
                                                      NUP E                                                               HAMMARUWA
                                Oyó Ilê                                                                                       (MURI)   Yola
                                                        Raba
                               (Velha Oyo)
                                                                                                                          enue
                                             Ilorin                                                                              A D A M A WA
                                                                                                                    Rio B
                         Ago Oja
                      (Nova Oyó)      IJESA                                                                      JUKUN
DAOMÉ                           Ijaye                                                                              Wukari




                                                                                               A
                     Ibadan                 N                                 IGALA
                                      D A         E K ITI
           K E TU               I B A                                                                   TIV
                                           Ife
                    Abeokuta




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Os cativos haussás eram empregados em diversos setores da
economia de Oyó, mas se destacavam no papel de pastores. Suas
habilidades como veterinários os tornavam mão de obra funda-
mental no cuidado dos cavalos utilizados para fins militares pelo
poderoso reino. Assim, os escravos haussás dos iorubás desempe-
nhavam função relevante na economia política da região, e ao se
rebelarem causaram impacto desastroso e decisivo sobre Oyó. Eles
teriam sido encorajados a abandonar em massa seus senhores por
um mestre muçulmano, conhecido por Alimi entre os iorubás,
homem livre da etnia fulâni, formado na ideologia do jihad, a quem
o alafin permitira que pregasse nos domínios de Oyó, sem perceber
que promovia sua própria desgraça. Mas quando a revolta aconte-
ceu, em 1817, Alimi já vivia em Ilorin e seu apelo aos escravos haus-
sás aconteceu em resposta a sugestões de Afonjá. A aliança entre
Afonjá e os muçulmanos haussás ajudou a acelerar a trajetória já
declinante do antigo e poderoso império de Oyó. No rastro da
revolta escrava de 1817 se seguiram guerras civis uma atrás da outra,
com consequências destruidoras, ao longo de mais de duas décadas.
As vítimas desses conflitos abarrotaram os portos do tráfico e os
porões dos navios que atravessavam sem descanso o Atlântico.1
      Rufino, então, cresceu num período tumultuado de sua terra
natal. E no seio de uma família que ele declarou ser muçulmana. Os
muçulmanos iorubás chamavam-se ìmàle, de cuja expressão deriva
o termo malê usado no Brasil. Rufino afirmou ter começado a
aprender o árabe, a língua do Islã, em Oyó, e que seu próprio pai
seria alufá, “uma espécie de padre e mestre de escola, que além do
ensino de preceitos religiosos exerce outros misteres”, segundo a
justa definição do autor anônimo publicado pelo Jornal do
Commercio.2 Entretanto, os nomes que deu para seus pais não eram
islâmicos, mas iorubás. Seu pai se chamava Ocochê (ou Ocoxé,
Okose), que poderia significar coisas distintas, como “criança deso-
     .
bediente” ou “portador e guardião do oxé”, sendo oxé o machado

     18
duplo, símbolo maior do orixá Xangô. Esta era a divindade mais
importante no panteão religioso de Oyó, estreitamente ligada às
suas linhagens reais mas também amplamente difundida no seio do
povo comum. Se Ocochê tinha esse significado, o pai de Rufino
pode ter sido devoto, talvez até sacerdote de Xangô, e não alufá. Mas
é também possível que a família paterna de Rufino fosse devota de
Xangô e o pai tivesse mais tarde se convertido ao islamismo. Quanto
ao nome da mãe, Bixoumi, pudemos levantar pelo menos três pos-
sibilidades: “ela é como Exu”, a conhecida divindade mensageira e
dona das encruzilhadas; ou “nascida para me guardar e proteger”;
ou ainda “nascida na água”.3
      É possível que Rufino tivesse preferido informar à polícia os
nomes tradicionais de seus pais por um costume dos muçulmanos
de sua terra, que mantinham os nomes étnicos, mesmo quando os
tinham também islâmicos. Na Bahia de 1835, por exemplo, muitos
malês presos após o famoso levante eram conhecidos por seus
nomes iorubás: Ajayi, Alade, Aliyu, Dada, Licutan, Ojo e outros.4
O próprio Rufino, sob interrogatório dezoito anos depois, exceto
talvez numa assinatura ainda perdida, não se identificou com seu
nome muçulmano, Abuncare, de que só sabemos devido a uma
nota no jornal pernambucano Correio Mercantil, cujo autor man-
tivera contato com o africano na prisão e escreveu: “chamado aqui
Rufino e em sua terra Abuncare”.5
      Na primeira metade do século XIX, residia em Oyó uma con-
siderável, embora minoritária, população muçulmana, formada
por imigrantes livres e escravizados do norte (principalmente
haussás), além do grupo ìmàle nativo. Sabe-se que existia uma
comunidade muçulmana iorubá em Oyó, desde pelo menos o
final do século XVII, que convivia pacificamente com os adeptos da
religião dos orixás, incluindo os governantes do reino. Narram
fontes orais que o próprio alafin teria sob sua responsabilidade
confirmar a liderança malê local. Muçulmanos que bem ou mal

                                                             19
escreviam o árabe, tanto iorubás quanto estrangeiros, ganhavam a
vida a produzir e vender amuletos contendo passagens do Corão e
outros escritos devocionais, que eram considerados objetos com
extraordinária força protetora. Mesmo os alafins prezavam carre-
gar esses patuás na guerra e na paz.
      Mas, depois da revolta de 1817, tornou-se tensa a convivência
entre a minoria muçulmana e a maioria devota dos orixás em
Oyó. Os malês, convocados por certo Solagberu, um próspero
comerciante iorubá, decidiram abandonar as dependências de
Oyó em grande número e se juntaram aos rebeldes em Ilorin para
fugir da perseguição do alafin. Este, incitado por sacerdotes de
orixá, passara a ver os muçulmanos em geral, mesmo seus patrí-
cios iorubás, como adversários políticos reais ou potenciais.
      As forças reunidas em Ilorin vieram a ser formadas, de um
lado, por muçulmanos de origem iorubá, haussá e fulâni, e, de
outro, por gente adepta de orixá, que constituía a maioria dos
habitantes da região. Ilorin estava tão profundamente identificada
com seu líder que era conhecida como a cidade de Afonjá. Este,
apesar da crescente influência dos muçulmanos em suas hostes,
jamais se converteu ao islamismo, mantendo em sua casa altares
bem cuidados de orixás, com provável destaque de Xangô, para
desgosto dos muçulmanos, em particular de seu aliado Alimi, que
tinha esperanças de ver o poderoso senhor de guerra abraçar o
Islã. Alianças tão díspares não podiam ser desprovidas de tensões.
Conflitos entre muçulmanos e adeptos da religião local repetiam-
-se no cotidiano de Ilorin. Em torno de 1823-4, segundo as contas
de Robin Law, os muçulmanos fulânis e haussás se levantaram
contra Afonjá e o mataram. Com esse golpe, Ilorin passaria a ser
governada por estrangeiros devotos de Alá, os quais, no entanto,
inicialmente respeitaram seus aliados locais, devotos de orixá,
reservando para eles um lugar no conselho de governo do agora
emirado de Ilorin.

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O alufá rufino

  • 1. joão josé reis flávio dos santos gomes marcus j. m. de carvalho O alufá Rufino Tráfico, escravidão e liberdade no Atlântico Negro (c. 1822-c. 1853)
  • 2. Copyright © 2010 by João José Reis, Flávio dos Santos Gomes e Marcus J. M. de Carvalho Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009. Capa Mariana Newlands Fotos de capa Detalhe de São Salvador da Baía de Todos os Santos: Vista panorâmica (c. 1835-7), Emeric Essex Vidal, aquarela/ Sermão de casamento de alufá Rufino, Arquivo Nacional Mapas Sonia Vaz Preparação Carlos Alberto Bárbaro Índices Luciano Marchiori Revisão Valquíria Della Pozza Erika Nakahata Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Reis, João José O alufá Rufino: tráfico, escravidão e liberdade no Atlântico Negro (c. 1822-c. 1853) / João José Reis, Flávio dos Santos Gomes, Marcus J. M. de Carvalho. — São Paulo : Companhia das Letras, 2010. ISBN 978-85-359-1736-9 1. Africanos - Brasil - História 2. Escravidão - Brasil - História 3. Escravos - Comércio - Brasil - História 4. Maria, Rufino José I. Gomes, Flávio dos Santos. II. Carvalho, Marcus J. M. de III. Título. 10-08448 CDD-981 Índice para catálogo sistemático: 1. Brasil : Tráfico, escravidão e liberdade : História Social 981 [2010] Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA SCHWARCZ LTDA. Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32 04532-002 — São Paulo — SP Telefone (11) 3707-3500 Fax (11) 3707-3501 www.companhiadasletras.com.br
  • 3. Sumário Abreviaturas .......................................................................... 7 Prefácio .................................................................................. 9 PARTE I 1. A África de Rufino ........................................................... 15 2. Escravo na Bahia .............................................................. 24 3. Escravo em Porto Alegre ................................................. 40 4. Farrapos e alforria ........................................................... 60 5. Liberto no Rio de Janeiro ................................................ 68 6. O Rio com medo.............................................................. 83 PARTE II 7. Rufino no tráfico ............................................................. 99 8. Luanda, capital negreira d’Angola .................................. 116 9. Preparando a Ermelinda .................................................. 126 10. Os patrões de Rufino ....................................................... 146 11. Passageiros, carregadores e carga .................................... 165 12. A Ermelinda ao mar ......................................................... 178
  • 4. 13. Equipment Act .................................................................. 190 14. Serra Leoa ........................................................................ 207 15. Entre akus e malês ........................................................... 228 16. O julgamento da Ermelinda ............................................ 241 17. Jogo sujo........................................................................... 258 18. De novo ao mar ............................................................... 267 PARTE III 19. Contando o prejuízo........................................................ 279 20. O Recife de Rufino ........................................................... 290 21. Homem de fé e feitiço ...................................................... 305 22. Tempos tensos no Recife de Rufino ................................ 320 23. Liberado ........................................................................... 328 24. Os malês do Recife e uma polêmica doutrinária ............ 337 Epílogo ................................................................................... 335 Anexos ................................................................................... 361 Agradecimentos .................................................................... 385 Notas ...................................................................................... 389 Fontes e referências bibliográficas ........................................ 445 Crédito das imagens .............................................................. 467 Índice onomástico ................................................................. 469 Índice remissivo..................................................................... 475
  • 5. Abreviaturas ACMS Arquivo da Cúria Metropolitana de Salvador AHNA Arquivo Histórico Nacional de Angola AHI Arquivo Histórico do Itamaraty AHRS Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul AHU Arquivo Histórico Ultramarino AMM Arquivo do Memorial da Medicina Brasileira AMS Arquivo Municipal de Salvador AN Arquivo Nacional ANTT Arquivo Nacional da Torre do Tombo APEBa Arquivo Público do Estado da Bahia APEJE Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano APERGS Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul APERJ Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro ASCM Arquivo da Santa Casa de Misericórdia da Bahia HCPP House of Commons Parliamentary Papers IAHGP Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco LNT Livro de Notas do Tabelião 7
  • 6. MJPE Memorial de Justiça de Pernambuco NAGB National Archives of Great Britain TSTD The Trans-Atlantic Slave Trade Database 8
  • 7. parte i Estamos continuamente com o pé sobre um furacão. Diário do Rio de Janeiro, 1o de outubro de 1836
  • 8. 1. A África de Rufino Rufino disse ser filho do reino de Oyó, provavelmente sua capital Oyó Ilê, onde nasceu no início do século XIX. Oyó destacou- -se como um dos Estados mais poderosos da região interior do golfo de Benim, chegando a controlar durante largo período no século XVIII e início do XIX a maioria dos reinos localizados em território iorubá. Além disso, submeteu os reinos de Daomé a oeste, Borgu ao norte e Nupe a nordeste, que se tornariam seus tributários. Oyó dominava importantes rotas de comércio de escravos que vinham do interior até portos dos golfos de Benim e de Biafra. Parte importante do poderio militar de Oyó, com desta- que para sua cavalaria, ímpar na região, vinha dos recursos obtidos de sua ativa participação no tráfico de gente. No alvorecer do século XIX, Oyó já enfrentava alguns desafios à sua hegemonia na região. Daomé e Nupe lutavam para sair da sua órbita de influência e, mais importante, o reino foi abalado por dis- sensões internas. Em torno de 1796, um guerreiro chamado Afonjá, o are-ona-kakanfo (ou comandante em chefe do Exército provincial de Oyó), se rebelou contra o recém-empossado alafin (rei de Oyó) 15
  • 9. sob alegação de que esse cargo lhe cabia por mérito e direito de linha- gem. Afonjá, além de importante chefe militar, era o líder político (ou baálè) da cidade de Ilorin, que ficava a sudeste de Oyó Ilê. Sediado em Ilorin, Afonjá resistiu à autoridade do alafin durante duas décadas e, em 1817, decidiu jogar uma cartada deci- siva ao incitar uma grande rebelião escrava em Oyó. Pois esse poderoso reino, além de promover o tráfico de escravos, era destes grande consumidor, ou seja, tratava-se de um Estado traficante à testa de uma sociedade escravista. A maioria dos escravos de Oyó vinha de territórios situados ao norte do reino, e entre eles a maior parte era haussá e muçulmana. Os povos de língua haussá ocupa- vam vasto território situado no norte da atual Nigéria, e ali um Estado muçulmano — o califado de Sokoto — foi formado em torno de 1809 sob a liderança dos fulânis, importante grupo étni- co presente na região, obstinados devotos do Islã e responsáveis por um jihad iniciado em 1804. Liderado por Usuman Dan Fodio — homem letrado, autor de eruditas obras religiosas, também poeta —, o jihad representou uma virada radical na história dos haussás e povos vizinhos. Inicialmente, a guerra santa teve como alvo principal os chefes haussás, acusados de oprimir os bons muçulmanos e de tolerar um estilo de islamismo sincretizado com a religião “pagã” local. Muitos adeptos desta, todavia, lutaram ao lado dos guerreiros do jihad com vistas a se verem livres de lideranças políticas amiúde tirânicas. Os haussás escravizados em Oyó eram principalmente vítimas desse conflito político-religioso que revolucionou a região, um movimen- to sobretudo de reforma muçulmana, de muçulmanos ortodoxos contra outros, acusados de relaxados, que no entanto evoluiu para uma guerra de expansão por todo o território haussá e para além de suas fronteiras, inclusive o país iorubá de Rufino. A revolta dos escravos haussás de Oyó, em 1817, marcaria o início da penetração muçulmana em larga escala entre os iorubás. 16
  • 10. a região dos conflitos na áfrica dos malês ADAR ZABERMA GOBIR KANEM AREWA Alkalawa Daura Lago Chad Katsina Rio Rio Sokoto ZAMFARA Soko to áfrica Gwandu Kano BORNO Ní Kusseri ger BAGIRMI C A L I F A D O D E Zaria MANDARA Rio Rio GURMA Chari G W A N D U Marua Lo Bauchi go na n Kontagora e du Ka Bussa o Ri Nikki Kaiama S O K O T O NUP E HAMMARUWA Oyó Ilê (MURI) Yola Raba (Velha Oyo) enue Ilorin A D A M A WA Rio B Ago Oja (Nova Oyó) IJESA JUKUN DAOMÉ Ijaye Wukari A Ibadan N IGALA D A E K ITI K E TU I B A TIV Ife Abeokuta IDOM E G B A IJ E B U B E NIM Badagri Ljebu-Ode Benim Tibati m Uidá Porto Lagos Rio gu Asaba Novo oO Cross Ri WA R R I IB O Warri IB IB IO Fronteiras aproximadas, meados do século xix Golfo de Benim I JAW Bonny 0 200 400 600 km Fernando Po
  • 11. Os cativos haussás eram empregados em diversos setores da economia de Oyó, mas se destacavam no papel de pastores. Suas habilidades como veterinários os tornavam mão de obra funda- mental no cuidado dos cavalos utilizados para fins militares pelo poderoso reino. Assim, os escravos haussás dos iorubás desempe- nhavam função relevante na economia política da região, e ao se rebelarem causaram impacto desastroso e decisivo sobre Oyó. Eles teriam sido encorajados a abandonar em massa seus senhores por um mestre muçulmano, conhecido por Alimi entre os iorubás, homem livre da etnia fulâni, formado na ideologia do jihad, a quem o alafin permitira que pregasse nos domínios de Oyó, sem perceber que promovia sua própria desgraça. Mas quando a revolta aconte- ceu, em 1817, Alimi já vivia em Ilorin e seu apelo aos escravos haus- sás aconteceu em resposta a sugestões de Afonjá. A aliança entre Afonjá e os muçulmanos haussás ajudou a acelerar a trajetória já declinante do antigo e poderoso império de Oyó. No rastro da revolta escrava de 1817 se seguiram guerras civis uma atrás da outra, com consequências destruidoras, ao longo de mais de duas décadas. As vítimas desses conflitos abarrotaram os portos do tráfico e os porões dos navios que atravessavam sem descanso o Atlântico.1 Rufino, então, cresceu num período tumultuado de sua terra natal. E no seio de uma família que ele declarou ser muçulmana. Os muçulmanos iorubás chamavam-se ìmàle, de cuja expressão deriva o termo malê usado no Brasil. Rufino afirmou ter começado a aprender o árabe, a língua do Islã, em Oyó, e que seu próprio pai seria alufá, “uma espécie de padre e mestre de escola, que além do ensino de preceitos religiosos exerce outros misteres”, segundo a justa definição do autor anônimo publicado pelo Jornal do Commercio.2 Entretanto, os nomes que deu para seus pais não eram islâmicos, mas iorubás. Seu pai se chamava Ocochê (ou Ocoxé, Okose), que poderia significar coisas distintas, como “criança deso- . bediente” ou “portador e guardião do oxé”, sendo oxé o machado 18
  • 12. duplo, símbolo maior do orixá Xangô. Esta era a divindade mais importante no panteão religioso de Oyó, estreitamente ligada às suas linhagens reais mas também amplamente difundida no seio do povo comum. Se Ocochê tinha esse significado, o pai de Rufino pode ter sido devoto, talvez até sacerdote de Xangô, e não alufá. Mas é também possível que a família paterna de Rufino fosse devota de Xangô e o pai tivesse mais tarde se convertido ao islamismo. Quanto ao nome da mãe, Bixoumi, pudemos levantar pelo menos três pos- sibilidades: “ela é como Exu”, a conhecida divindade mensageira e dona das encruzilhadas; ou “nascida para me guardar e proteger”; ou ainda “nascida na água”.3 É possível que Rufino tivesse preferido informar à polícia os nomes tradicionais de seus pais por um costume dos muçulmanos de sua terra, que mantinham os nomes étnicos, mesmo quando os tinham também islâmicos. Na Bahia de 1835, por exemplo, muitos malês presos após o famoso levante eram conhecidos por seus nomes iorubás: Ajayi, Alade, Aliyu, Dada, Licutan, Ojo e outros.4 O próprio Rufino, sob interrogatório dezoito anos depois, exceto talvez numa assinatura ainda perdida, não se identificou com seu nome muçulmano, Abuncare, de que só sabemos devido a uma nota no jornal pernambucano Correio Mercantil, cujo autor man- tivera contato com o africano na prisão e escreveu: “chamado aqui Rufino e em sua terra Abuncare”.5 Na primeira metade do século XIX, residia em Oyó uma con- siderável, embora minoritária, população muçulmana, formada por imigrantes livres e escravizados do norte (principalmente haussás), além do grupo ìmàle nativo. Sabe-se que existia uma comunidade muçulmana iorubá em Oyó, desde pelo menos o final do século XVII, que convivia pacificamente com os adeptos da religião dos orixás, incluindo os governantes do reino. Narram fontes orais que o próprio alafin teria sob sua responsabilidade confirmar a liderança malê local. Muçulmanos que bem ou mal 19
  • 13. escreviam o árabe, tanto iorubás quanto estrangeiros, ganhavam a vida a produzir e vender amuletos contendo passagens do Corão e outros escritos devocionais, que eram considerados objetos com extraordinária força protetora. Mesmo os alafins prezavam carre- gar esses patuás na guerra e na paz. Mas, depois da revolta de 1817, tornou-se tensa a convivência entre a minoria muçulmana e a maioria devota dos orixás em Oyó. Os malês, convocados por certo Solagberu, um próspero comerciante iorubá, decidiram abandonar as dependências de Oyó em grande número e se juntaram aos rebeldes em Ilorin para fugir da perseguição do alafin. Este, incitado por sacerdotes de orixá, passara a ver os muçulmanos em geral, mesmo seus patrí- cios iorubás, como adversários políticos reais ou potenciais. As forças reunidas em Ilorin vieram a ser formadas, de um lado, por muçulmanos de origem iorubá, haussá e fulâni, e, de outro, por gente adepta de orixá, que constituía a maioria dos habitantes da região. Ilorin estava tão profundamente identificada com seu líder que era conhecida como a cidade de Afonjá. Este, apesar da crescente influência dos muçulmanos em suas hostes, jamais se converteu ao islamismo, mantendo em sua casa altares bem cuidados de orixás, com provável destaque de Xangô, para desgosto dos muçulmanos, em particular de seu aliado Alimi, que tinha esperanças de ver o poderoso senhor de guerra abraçar o Islã. Alianças tão díspares não podiam ser desprovidas de tensões. Conflitos entre muçulmanos e adeptos da religião local repetiam- -se no cotidiano de Ilorin. Em torno de 1823-4, segundo as contas de Robin Law, os muçulmanos fulânis e haussás se levantaram contra Afonjá e o mataram. Com esse golpe, Ilorin passaria a ser governada por estrangeiros devotos de Alá, os quais, no entanto, inicialmente respeitaram seus aliados locais, devotos de orixá, reservando para eles um lugar no conselho de governo do agora emirado de Ilorin. 20