SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Baixar para ler offline
Em pílulas
Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                               36
                  (Corresponde à introdução ao Capítulo 7,
              intitulado Alterando a estrutura das sociosferas)




Aqui estamos, engatinhando pelas frestas
entre as paredes da Igreja, do Estado,
da Escola e da Empresa,
todos os monolitos paranóicos.
Hakim Bey em Caos (1984)



O melhor da religião é que ela produz hereges.
Ernst Bloch em O ateísmo no cristianismo (1968)
Os que continuam aprisionados no mundo único dos séculos passados
ainda não lograram perceber o que está em gestação neste período.
A revelia dos cegos “líderes mundiais” e além da compreensão dos
analistas de governos e corporações, grandes movimentos
subterrâneos estão em curso neste momento. De modo molecular,
distribuído e conectado de sorte a formar um feixe intenso de fluxos
– fluzz –, estão se articulando e se expressando glocalmente
experiências inovadoras que tendem a alterar na raiz a estrutura e a
dinâmica das sociosferas. Eis alguns exemplos fulcrais do que está
emergindo:

      Não-Escolas: comunidades de aprendizagem (homescooling e,
      sobretudo, communityschooling, cada vez mais na linha de
      unschooling) em rede, sem currículo e sem professor e aluno.

      Não-Igrejas: formas pós-religiosas de espiritualidade, livres
      das ordenações das burocracias sacerdotais.

      Não-Partidos: redes de interação política (pública) exercitando
      a democracia local na base da sociedade e no cotidiano dos
      cidadãos.

      Não-Estados-nações: cidades inovadoras – como redes de
      comunidades – que assumem a governança do seu próprio
      desenvolvimento em rota de autonomia crescente em relação
      aos governos centrais que tinham-nas por seus domínios.


      Não-Empresas-hierárquicas:   redes   de stakeholders   –
      demarcadas do meio por membranas (permeáveis ao fluxo) e
      não pode paredes opacas – como novas comunidades de
      negócios do mundo que já se anuncia.




                              2
Fascinante! Escolas, igrejas, partidos, Estados, empresas hierárquicas:
construímos tais instituições – que continuam reproduzindo o velho mundo;
sim, são elas que fazem isso – como artifícios para escapar da interação,
para ficar do “lado de fora” do abismo, para nos proteger do caos...

As escolas (e o ensino) tentam nos proteger da experiência da livre
aprendizagem. As igrejas (e as religiões) tentam nos proteger da
experiência de deus. Os partidos (e as corporações) tentam nos proteger
das experiências da política (pública) feitas pelas pessoas no seu cotidiano.
Os Estados tentam nos proteger das experiências glocais (de localismo
cosmopolita). E as empresas (hierárquicas) tentam nos proteger da
experiência de empreender.

Por isso que escolas são igrejas, igrejas são partidos, partidos são
corporações que geram Estados, que também são corporações, que viram
religiões, que reproduzem igrejas, que se comportam como partidos...
Porque, no fundo, é tudo a mesma coisa: artifícios para proteger as pessoas
da experiência de fluzz! (Não é a toa que todas essas instituições
hierárquicas exigem “monogamia” dos que querem manter capturados,
como se dissessem: “- Você é meu! Nada de transar com estranhos”).

Uma vez desconstituídos tais arranjos feitos para conter, contorcer e
aprisionar fluxos, disciplinando a interação, uma vez corrompidos os scripts
dos programas verticalizadores que rodam nessas máquinas (e que, na
verdade, as constituem), o velho mundo único se esboroa.

Isso está acontecendo. Não-escolas, não-igrejas, não-partidos, não-
Estados-nações e não-empresas-hierárquicas começam a florescer. Com tal
florescimento, a estrutura e a dinâmica das sociosferas estão sendo
radicalmente alteradas neste momento, mas não por formidáveis revoluções
épicas e grandes reformas conduzidas por extraordinários líderes heróicos,
senão por pequenas experiências, singelas, líricas, vividas por pessoas
comuns! Aquelas mesmas experiências de interação das quais fomos
poupados. É como se tudo tivesse sido feito para que não
experimentássemos padrões de interação diferentes dos que deveriam ser
replicados. Mas nós começamos a experimentar. E “aqui estamos – como
escreveu Hakim Bey (1984) – engatinhando pelas frestas entre as paredes
da Igreja, do Estado, da Escola e da Empresa, todos os monolitos
paranóicos”.




                                     3

Mais conteúdo relacionado

Destaque

INDIVIDUALISMO Y MODERNIDAD LÍQUIDA Y DESILUSIÓN HIPERMODERNA: DE BAUMAN A SL...
INDIVIDUALISMO Y MODERNIDAD LÍQUIDA Y DESILUSIÓN HIPERMODERNA: DE BAUMAN A SL...INDIVIDUALISMO Y MODERNIDAD LÍQUIDA Y DESILUSIÓN HIPERMODERNA: DE BAUMAN A SL...
INDIVIDUALISMO Y MODERNIDAD LÍQUIDA Y DESILUSIÓN HIPERMODERNA: DE BAUMAN A SL...Adolfo Vasquez Rocca
 
LÍQUIDA Y TERRORISMO HIPERMODERNO; DE BAUMAN A SLOTERDIJK
LÍQUIDA Y TERRORISMO HIPERMODERNO; DE BAUMAN A SLOTERDIJKLÍQUIDA Y TERRORISMO HIPERMODERNO; DE BAUMAN A SLOTERDIJK
LÍQUIDA Y TERRORISMO HIPERMODERNO; DE BAUMAN A SLOTERDIJKAdolfo Vasquez Rocca
 
caricaturas?
caricaturas?caricaturas?
caricaturas?charls666
 
Grupo 5 tableros de virutas,lsl,plasticos y escorias
Grupo 5 tableros de virutas,lsl,plasticos y escoriasGrupo 5 tableros de virutas,lsl,plasticos y escorias
Grupo 5 tableros de virutas,lsl,plasticos y escoriasTania Zuñagua Valda
 
Textos de apoio_1_e_2
Textos de apoio_1_e_2Textos de apoio_1_e_2
Textos de apoio_1_e_2LUIS ABREU
 
Catarina, Bruno e Manuel - Automóvel e Lâmpada
Catarina, Bruno e Manuel - Automóvel e LâmpadaCatarina, Bruno e Manuel - Automóvel e Lâmpada
Catarina, Bruno e Manuel - Automóvel e Lâmpadariscas
 
Aco 1830-2007-tp[1]
Aco 1830-2007-tp[1]Aco 1830-2007-tp[1]
Aco 1830-2007-tp[1]Angelo Rigon
 
Angel quinapanta web 2.0
Angel quinapanta web 2.0Angel quinapanta web 2.0
Angel quinapanta web 2.0aquinapanta
 
Unidad 2 antecedentes históricos de las computadoras
Unidad 2 antecedentes históricos de las computadorasUnidad 2 antecedentes históricos de las computadoras
Unidad 2 antecedentes históricos de las computadorasSonia Aparicio
 
Edital Restaurante Popular
Edital Restaurante PopularEdital Restaurante Popular
Edital Restaurante PopularAngelo Rigon
 
Material complementar capitalismoxsocialismo
Material complementar capitalismoxsocialismoMaterial complementar capitalismoxsocialismo
Material complementar capitalismoxsocialismoLUIS ABREU
 
Palestra Unichristus - Como iniciar uma Startup
Palestra Unichristus - Como iniciar uma StartupPalestra Unichristus - Como iniciar uma Startup
Palestra Unichristus - Como iniciar uma StartupLucas Cavalcante
 
Didáctica por Cristina Taipe
Didáctica  por Cristina TaipeDidáctica  por Cristina Taipe
Didáctica por Cristina Taipekristaipe
 

Destaque (20)

INDIVIDUALISMO Y MODERNIDAD LÍQUIDA Y DESILUSIÓN HIPERMODERNA: DE BAUMAN A SL...
INDIVIDUALISMO Y MODERNIDAD LÍQUIDA Y DESILUSIÓN HIPERMODERNA: DE BAUMAN A SL...INDIVIDUALISMO Y MODERNIDAD LÍQUIDA Y DESILUSIÓN HIPERMODERNA: DE BAUMAN A SL...
INDIVIDUALISMO Y MODERNIDAD LÍQUIDA Y DESILUSIÓN HIPERMODERNA: DE BAUMAN A SL...
 
ReforçO Do Estado
ReforçO Do EstadoReforçO Do Estado
ReforçO Do Estado
 
LÍQUIDA Y TERRORISMO HIPERMODERNO; DE BAUMAN A SLOTERDIJK
LÍQUIDA Y TERRORISMO HIPERMODERNO; DE BAUMAN A SLOTERDIJKLÍQUIDA Y TERRORISMO HIPERMODERNO; DE BAUMAN A SLOTERDIJK
LÍQUIDA Y TERRORISMO HIPERMODERNO; DE BAUMAN A SLOTERDIJK
 
Manuel
ManuelManuel
Manuel
 
Execercici 11
Execercici 11Execercici 11
Execercici 11
 
caricaturas?
caricaturas?caricaturas?
caricaturas?
 
Metodos de busq
Metodos de busqMetodos de busq
Metodos de busq
 
Grupo 5 tableros de virutas,lsl,plasticos y escorias
Grupo 5 tableros de virutas,lsl,plasticos y escoriasGrupo 5 tableros de virutas,lsl,plasticos y escorias
Grupo 5 tableros de virutas,lsl,plasticos y escorias
 
Vamos passear no bosque
Vamos passear no bosqueVamos passear no bosque
Vamos passear no bosque
 
Textos de apoio_1_e_2
Textos de apoio_1_e_2Textos de apoio_1_e_2
Textos de apoio_1_e_2
 
Catarina, Bruno e Manuel - Automóvel e Lâmpada
Catarina, Bruno e Manuel - Automóvel e LâmpadaCatarina, Bruno e Manuel - Automóvel e Lâmpada
Catarina, Bruno e Manuel - Automóvel e Lâmpada
 
Aco 1830-2007-tp[1]
Aco 1830-2007-tp[1]Aco 1830-2007-tp[1]
Aco 1830-2007-tp[1]
 
Angel quinapanta web 2.0
Angel quinapanta web 2.0Angel quinapanta web 2.0
Angel quinapanta web 2.0
 
Unidad 2 antecedentes históricos de las computadoras
Unidad 2 antecedentes históricos de las computadorasUnidad 2 antecedentes históricos de las computadoras
Unidad 2 antecedentes históricos de las computadoras
 
Edital Restaurante Popular
Edital Restaurante PopularEdital Restaurante Popular
Edital Restaurante Popular
 
A charca (27.4.2011)
A charca (27.4.2011)A charca (27.4.2011)
A charca (27.4.2011)
 
Material complementar capitalismoxsocialismo
Material complementar capitalismoxsocialismoMaterial complementar capitalismoxsocialismo
Material complementar capitalismoxsocialismo
 
Palestra Unichristus - Como iniciar uma Startup
Palestra Unichristus - Como iniciar uma StartupPalestra Unichristus - Como iniciar uma Startup
Palestra Unichristus - Como iniciar uma Startup
 
Conheça me
Conheça meConheça me
Conheça me
 
Didáctica por Cristina Taipe
Didáctica  por Cristina TaipeDidáctica  por Cristina Taipe
Didáctica por Cristina Taipe
 

Semelhante a Fluzz pilulas 36 (20)

Fluzz & Estado
Fluzz & EstadoFluzz & Estado
Fluzz & Estado
 
Fluzz capítulo 7
Fluzz capítulo 7Fluzz capítulo 7
Fluzz capítulo 7
 
Não-Escolas
Não-EscolasNão-Escolas
Não-Escolas
 
Série FLUZZ Volume 4 NÃO-ESCOLAS
Série FLUZZ Volume 4 NÃO-ESCOLAS Série FLUZZ Volume 4 NÃO-ESCOLAS
Série FLUZZ Volume 4 NÃO-ESCOLAS
 
Fluzz | Versão Preliminar Integral
Fluzz | Versão Preliminar IntegralFluzz | Versão Preliminar Integral
Fluzz | Versão Preliminar Integral
 
FRANCO, Augusto - Fluzz e Partido
FRANCO, Augusto - Fluzz e PartidoFRANCO, Augusto - Fluzz e Partido
FRANCO, Augusto - Fluzz e Partido
 
Série FLUZZ Volume 5 SEM RELIGIÃO E SEM IGREJA
Série FLUZZ Volume 5 SEM RELIGIÃO E SEM IGREJASérie FLUZZ Volume 5 SEM RELIGIÃO E SEM IGREJA
Série FLUZZ Volume 5 SEM RELIGIÃO E SEM IGREJA
 
Série FLUZZ Volume 6 A NOVA POLÍTICA
Série FLUZZ Volume 6 A NOVA POLÍTICASérie FLUZZ Volume 6 A NOVA POLÍTICA
Série FLUZZ Volume 6 A NOVA POLÍTICA
 
A publicização da política
A publicização da políticaA publicização da política
A publicização da política
 
Fluzz & Partido
Fluzz & PartidoFluzz & Partido
Fluzz & Partido
 
Fluzz pilulas 44
Fluzz pilulas 44Fluzz pilulas 44
Fluzz pilulas 44
 
Fluzz & Igreja
Fluzz & IgrejaFluzz & Igreja
Fluzz & Igreja
 
Homem cultura sociedade u1
Homem cultura sociedade u1Homem cultura sociedade u1
Homem cultura sociedade u1
 
Livro unico
Livro unicoLivro unico
Livro unico
 
Sem Religião e Sem Igreja
Sem Religião e Sem IgrejaSem Religião e Sem Igreja
Sem Religião e Sem Igreja
 
Fluzz início capítulo 0
Fluzz início capítulo 0Fluzz início capítulo 0
Fluzz início capítulo 0
 
ELES JÁ ESTÃO ENTRE NÓS
ELES JÁ ESTÃO ENTRE NÓSELES JÁ ESTÃO ENTRE NÓS
ELES JÁ ESTÃO ENTRE NÓS
 
Fluzz pilulas 56
Fluzz pilulas 56Fluzz pilulas 56
Fluzz pilulas 56
 
Janine salvaro: Tribalização
Janine salvaro: TribalizaçãoJanine salvaro: Tribalização
Janine salvaro: Tribalização
 
Sociologia geral
Sociologia geralSociologia geral
Sociologia geral
 

Mais de augustodefranco .

Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democraciaFranco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democraciaaugustodefranco .
 
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilFranco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilaugustodefranco .
 
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaA democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaaugustodefranco .
 
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeAlgumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeaugustodefranco .
 
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA augustodefranco .
 
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...augustodefranco .
 
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...augustodefranco .
 
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMAaugustodefranco .
 
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialNunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialaugustodefranco .
 
Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?augustodefranco .
 
Quando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaQuando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaaugustodefranco .
 
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John DeweyDemocracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Deweyaugustodefranco .
 
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELARELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELAaugustodefranco .
 
Diálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesDiálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesaugustodefranco .
 

Mais de augustodefranco . (20)

Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democraciaFranco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
 
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilFranco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
 
Hiérarchie
Hiérarchie Hiérarchie
Hiérarchie
 
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaA democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
 
JERARQUIA
JERARQUIAJERARQUIA
JERARQUIA
 
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeAlgumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
 
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISEAS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
 
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
 
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
 
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
 
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
 
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialNunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
 
Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?
 
Quando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaQuando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democracia
 
100 DIAS DE VERÃO
100 DIAS DE VERÃO100 DIAS DE VERÃO
100 DIAS DE VERÃO
 
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John DeweyDemocracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
 
MULTIVERSIDADE NA ESCOLA
MULTIVERSIDADE NA ESCOLAMULTIVERSIDADE NA ESCOLA
MULTIVERSIDADE NA ESCOLA
 
DEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
DEMOCRACIA E REDES SOCIAISDEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
DEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
 
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELARELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
 
Diálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesDiálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantes
 

Fluzz pilulas 36

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 36 (Corresponde à introdução ao Capítulo 7, intitulado Alterando a estrutura das sociosferas) Aqui estamos, engatinhando pelas frestas entre as paredes da Igreja, do Estado, da Escola e da Empresa, todos os monolitos paranóicos. Hakim Bey em Caos (1984) O melhor da religião é que ela produz hereges. Ernst Bloch em O ateísmo no cristianismo (1968)
  • 2. Os que continuam aprisionados no mundo único dos séculos passados ainda não lograram perceber o que está em gestação neste período. A revelia dos cegos “líderes mundiais” e além da compreensão dos analistas de governos e corporações, grandes movimentos subterrâneos estão em curso neste momento. De modo molecular, distribuído e conectado de sorte a formar um feixe intenso de fluxos – fluzz –, estão se articulando e se expressando glocalmente experiências inovadoras que tendem a alterar na raiz a estrutura e a dinâmica das sociosferas. Eis alguns exemplos fulcrais do que está emergindo: Não-Escolas: comunidades de aprendizagem (homescooling e, sobretudo, communityschooling, cada vez mais na linha de unschooling) em rede, sem currículo e sem professor e aluno. Não-Igrejas: formas pós-religiosas de espiritualidade, livres das ordenações das burocracias sacerdotais. Não-Partidos: redes de interação política (pública) exercitando a democracia local na base da sociedade e no cotidiano dos cidadãos. Não-Estados-nações: cidades inovadoras – como redes de comunidades – que assumem a governança do seu próprio desenvolvimento em rota de autonomia crescente em relação aos governos centrais que tinham-nas por seus domínios. Não-Empresas-hierárquicas: redes de stakeholders – demarcadas do meio por membranas (permeáveis ao fluxo) e não pode paredes opacas – como novas comunidades de negócios do mundo que já se anuncia. 2
  • 3. Fascinante! Escolas, igrejas, partidos, Estados, empresas hierárquicas: construímos tais instituições – que continuam reproduzindo o velho mundo; sim, são elas que fazem isso – como artifícios para escapar da interação, para ficar do “lado de fora” do abismo, para nos proteger do caos... As escolas (e o ensino) tentam nos proteger da experiência da livre aprendizagem. As igrejas (e as religiões) tentam nos proteger da experiência de deus. Os partidos (e as corporações) tentam nos proteger das experiências da política (pública) feitas pelas pessoas no seu cotidiano. Os Estados tentam nos proteger das experiências glocais (de localismo cosmopolita). E as empresas (hierárquicas) tentam nos proteger da experiência de empreender. Por isso que escolas são igrejas, igrejas são partidos, partidos são corporações que geram Estados, que também são corporações, que viram religiões, que reproduzem igrejas, que se comportam como partidos... Porque, no fundo, é tudo a mesma coisa: artifícios para proteger as pessoas da experiência de fluzz! (Não é a toa que todas essas instituições hierárquicas exigem “monogamia” dos que querem manter capturados, como se dissessem: “- Você é meu! Nada de transar com estranhos”). Uma vez desconstituídos tais arranjos feitos para conter, contorcer e aprisionar fluxos, disciplinando a interação, uma vez corrompidos os scripts dos programas verticalizadores que rodam nessas máquinas (e que, na verdade, as constituem), o velho mundo único se esboroa. Isso está acontecendo. Não-escolas, não-igrejas, não-partidos, não- Estados-nações e não-empresas-hierárquicas começam a florescer. Com tal florescimento, a estrutura e a dinâmica das sociosferas estão sendo radicalmente alteradas neste momento, mas não por formidáveis revoluções épicas e grandes reformas conduzidas por extraordinários líderes heróicos, senão por pequenas experiências, singelas, líricas, vividas por pessoas comuns! Aquelas mesmas experiências de interação das quais fomos poupados. É como se tudo tivesse sido feito para que não experimentássemos padrões de interação diferentes dos que deveriam ser replicados. Mas nós começamos a experimentar. E “aqui estamos – como escreveu Hakim Bey (1984) – engatinhando pelas frestas entre as paredes da Igreja, do Estado, da Escola e da Empresa, todos os monolitos paranóicos”. 3