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REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20
Intervenção terapêutica ocupacional - Doença de Alzheimer 463
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Palavras-chave:
Terapia
Ocupacional.
Doença de
Alzheimer.
Cognição. Idoso.
Abordagem cognitiva na intervenção terapêutica
ocupacional com indivíduos com Doença de Alzheimer
Cognitive approach in occupational therapeutic intervention with individuals
affected by Alzheimer’s disease
Suzana Elisa Sedrez Corrêa*
Derivan Brito da Silva*
Resumo
A doença de Alzheimer compromete progressivamente, em razão da
neurodegeneração, a integração cognitiva e os componentes cognitivos de
desempenho, levando ao comprometimento das áreas de desempenho (ativi-
dades de vida diária, atividades de trabalho e produtivas, e atividades de
lazer ou diversão) nos contextos em que o indivíduo está inserido, gerando
déficit no desempenho ocupacional. Assim, o objetivo deste trabalho é evi-
denciar, através da revisão bibliográfica, a importância da intervenção tera-
pêutica ocupacional com indivíduos com doença de Alzheimer, utilizando
uma abordagem cognitiva, que vise à manutenção das habilidades cognitivas
do indivíduo com doença de Alzheimer para um desempenho ocupacional
competente pelo maior período de tempo. Observa-se a relação direta entre
processo de envelhecimento, doença de Alzheimer e desempenho
ocupacional. Nesse contexto, o terapeuta ocupacional é inserido no trata-
mento do indivíduo com doença de Alzheimer, pois tem meios para abordar
os componentes afetados pela doença, através de um processo terapêutico
estruturado. Ao final, conclui-se que as intervenções cognitivas no estágio
inicial são utilizadas para organizar as atividades do cotidiano do indivíduo
com doença de Alzheimer e, consequentemente, promover melhor qualida-
de de vida.
*
Universidade Federal do Paraná, Curso de Terapia Ocupacional. Coordenação.
Rua Pe. Camargo, 280, 3º and, Alto da Glória
80060-240 – Curitiba, PR, Brasil
Correspondência / Correspondence
Suzana Elisa Sedrez Corrêa
E-mail: suzanaelisa_to@hotmail.com
464464464464464 REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(3):463-474
REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20
Key words:
Occupational
Therapy. Alzheimer
Disease. Cognition.
Aged.
Abstract
Due to neurological degeneration, Alzheimer’s disease gradually affects the
cognitive abilities. Subsequently, this compromises the occupational
performance in all areas: self-care, productivity and leisure. This paper
presents the results of a literature review with respect to the importance of
occupational therapy interventions using cognitive approach with individuals
with Alzheimer’s disease, concerninfg maintenance of cognitive abilities
and occupational performance of individuals affected by Alzheimer’s
disease. It underlines the direct relationship between the process of aging,
Alzheimer’s disease and occupational performance. Within this context,
the role of the occupational therapist includes the use of various approaches
to address the affected occupational performance components. The authors
conclude that a cognitive approach can effectively be used to organise the
activities of daily living of individuals in the early stages of Alzheimer’s
Disease and to promote a better quality of life.
INTRODUÇÃO
O indivíduo idoso vivencia transforma-
ções biológicas, físicas, psicológicas e soci-
ais ocasionadas pelo processo gradual, irre-
versível, progressivo, inevitável e universal
de envelhecimento, definido como envelhe-
cimento primário. Somado a isto, o indiví-
duo com doença de Alzheimer passa por
um processo patológico de envelhecimen-
to, definido como envelhecimento secundá-
rio, no qual ocorre degeneração do sistema
nervoso central, resultando na perda pro-
gressiva das habilidades cognitivas.1,2
Por ser a perda cognitiva um dos princi-
pais fatores relacionado à redução do desem-
penho ocupacional do indivíduo com do-
ença de Alzheimer, o objetivo deste artigo
é apresentar a intervenção terapêutica ocu-
pacional com indivíduos com doença de
Alzheimer, com enfoque na manutenção
das habilidades cognitivas no estágio inicial
da doença. Para tanto, apresenta-se os aspec-
tos da velhice e da doença de Alzheimer, a
fundamentação terapêutica ocupacional
para a intervenção proposta e a intervenção
propriamente dita.
MATERIAL E MÉTODO
Paralevantamentodeestudospublicados
sobre o tema da pesquisa, adotou-se como
critério de inclusão a revisão bibliográfica
delivros,artigosderevistaseartigosembase
de dados, publicados no período de 1998 a
2006. Foram consultadas as bases de dados
Bireme, SciELO e OTseeker. Do resultado
do levantamento, foram selecionados e agre-
gados os dados e informações sobre os com-
prometimentoscognitivosmanifestadosnos
indivíduos portadores de doença de Alzhei-
mer e das intervenções cognitivas, como
REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20
Intervenção terapêutica ocupacional - Doença de Alzheimer 465
forma de manter as habilidades cognitivas
desses indivíduos. Outras formas de inter-
venção e pesquisas anteriores a 1998 foram
excluídas da pesquisa.
VELHICE E DOENÇA DE ALZHEIMER
Segundo a Organização Mundial da Saú-
de,3
a definição de idoso inicia aos 65 anos
de idade nos países desenvolvidos, e aos 60
anos nos países em desenvolvimento. No
Brasil, de acordo com o Estatuto do Idoso,
as pessoas com idade igual ou superior a 60
anos são reconhecidas como idosas.4,5,6
NoBrasil,houveumcrescimentoexpres-
sivo da expectativa de vida, levando ao au-
mento do número de idosos.4
Mas este cres-
cimento não vem sendo acompanhado por
uma melhor qualidade de vida, principal-
mente em decorrência da alta incidência
de doenças, destacando-se as de natureza
crônica, como a doença de Alzheimer.7
Esta, apesar de se manifestar a partir dos
50 anos de idade, aumenta significativa-
mente sua incidência ao longo dos anos,
caracterizando-se, portanto, como uma
doença da velhice.1
Na estimativa do Ministério da Saúde,
de 600 mil a 1 millhão dos brasileiros apre-
sentam a doença de Alzheimer. Em todo
mundo, 15 milhões de pessoas têm a doen-
ça de Alzheimer.8
Com o aumento da ex-
pectativa de vida, estima-se que em 2040 o
número de indivíduos com demência, não
somente Alzheimer, será de 81,1 milhões.9
A doença de Alzheimer é uma doença
neurológica degenerativa, lenta e progressi-
va.5
O indivíduo atingido por ela apresenta
progressiva perturbação de múltiplas fun-
ções cognitivas, incluindo memória, aten-
ção e aprendizado, pensamento, orientação,
compreensão, cálculo, linguagem e julga-
mento. O comprometimento das funções
cognitivas é comumente acompanhado, e
ocasionalmenteprecedido,pordeterioração
do controle emocional, comportamento
socialoumotivação.8
Estescomprometimen-
tos levam à alteração do desempenho ocu-
pacional do indivíduo com doença de
Alzheimer.10
Assim, para compreensão do
impacto da doença de Alzheimer na funcio-
nalidade, faz-se necessário abordar o pro-
cesso do envelhecimento cognitivo.
A teoria de mecanismos de ganhos e perdas é
uma das teorias que embasam a compreen-
são do processo de envelhecimento cogniti-
vo. Esta teoria se baseia no fato de que per-
das ocorrem desde o nascimento e que, no
percurso da vida, inclusive na velhice, es-
tabelece-se uma proporção entre perdas,
ganhos e funções mantidas.11
Há complexa interação das diferentes
funções cognitivas, sendo que na velhice
consideram-se ganhos uma função cogniti-
va que: melhora com a idade; mantém-se,
apesar do envelhecimento; tem um peque-
no declínio se comparada com outra; for-
ma-se a partir de novas estratégias cogniti-
vas para suprir dificuldades em outras fun-
ções. Além disso, a teoria de mecanismos
de ganhos e perdas considera também as
466466466466466 REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(3):463-474
REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20
perdas, acreditando haver uma proporção
estabelecida entre perdas, ganhos e funções
mantidas, sendo considerada uma teoria
otimista comparando-se às teorias que fo-
calizam apenas perdas. Conclui-se que a teo-
riademecanismosdeganhoseperdasémais
realista e consegue abordar a complexidade
do envelhecimento cognitivo.11
Deriva desta teoria a abordagem de ganhos
em função de perdas. Esta abordagem é bastante
conhecida em terapias com indivíduos com
lesões cerebrais. Baseia-se em ganhos para
suprir as dificuldades que surgem gradati-
vamente nos processos demenciais, focali-
zando ganhos específicos. Esses ganhos se
referem a uma nova aquisição ou a uma di-
ferente forma de desenvolver determinada
tarefa. Pode ocorrer através de níveis orgâ-
nicos, com o acontecimento do fenômeno
da plasticidade, no qual áreas cerebrais as-
sumem funções de outras áreas lesadas ou
ineficazes; ou em nível cognitivo, que en-
volve a utilização de diferentes estratégias,
comoestratégiasdecompensação,desenvol-
vimento da expertise e a formação de am-
bientes colaborativos.11
Esclarece-se que:11
• as estratégias de compensação são no-
vas técnicas utilizadas para realizar ta-
refas antigas;
• o desenvolvimento da expertise é a ex-
periência e o conhecimento avançado
que o indivíduo adquire ao longo dos
anos para realizar determinada ativida-
de, servindo como facilitadora para que
o indivíduo realize uma atividade;
• a formação de ambientes colabo-
rativos é a utilização de estratégias que
facilitem a linguagem e comunicação do
indivíduo em seu meio, por exemplo,
dicas e interações dialógicas.
A abordagem de ganhos em função de
perdas, derivada da teoria de mecanismos
de ganhos e perdas, parece ser a mais pro-
missora, pois acredita na capacidade do ido-
so para elaborar novas estratégias adaptati-
vas às suas dificuldades e permite elaborar
um programa de intervenção para o declí-
nio cognitivo patológico.11
A partir das elucidações acerca do indi-
víduo com doença de Alzheimer e os as-
pectos a ele inerentes, será apresentada a
fundamentação para a intervenção propos-
ta neste artigo.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA PARA A
INTERVENÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL
COM INDIVÍDUOS COM DOENÇA DE
ALZHEIMER
A intervenção terapêutica ocupacional,
em seus contextos de saúde e sociedade,
pressupõe um saber teórico-prático, orga-
nizando um modo específico de interven-
ção mediante o qual confirma ou contesta
este saber.12
A terapia ocupacional mostra-se ineren-
te à ocupação humana. A busca pelo signi-
REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20
Intervenção terapêutica ocupacional - Doença de Alzheimer 467
ficado da ocupação humana direcionou os
primeiros princípios teóricos da profissão,13
que foram descritos em três considerações:9
• a primeira é que os humanos foram co-
nhecidos como possuidores de uma
natureza ocupacional;
• a segunda, que a doença foi vista como
sendo um potencial para interromper
ou romper a ocupação;
• a última, que a ocupação foi reconhecida
como um organizador natural do com-
portamento humano, que poderia ser
usada terapeuticamente para refazer ou
reorganizar o comportamento cotidiano.
De acordo com esses pressupostos, iden-
tifica-se que o indivíduo com doença de
Alzheimer tem sua essência ocupacional
rompida pelos sintomas trazidos por esta,
podendo, no seu estágio inicial, ser utiliza-
da a ocupação para reorganizar o compor-
tamento cotidiano.
Esta ocupação, inerente à pessoa e ao
ambiente no qual está inserida, caracteriza
o desempenho ocupacional. Nessa perspec-
tiva,esclarece-sequeoselementosdodesem-
penho ocupacional são as áreas, os compo-
nentes e os contextos de desempenho.14,15
As áreas de desempenho são “amplas catego-
rias de atividade humana, que fazem parte,
tipicamente, da vida cotidiana”, subdivida
em: atividades de vida diária, atividades de
trabalho e produtivas, e atividades de lazer
ou de diversão.
Os componentes de desempenho são compre-
endidos como “capacidades humanas fun-
damentais que – em graus variados e em
diferentes combinações – são necessárias
para o engajamento bem-sucedido nas áre-
as de desempenho”. Estes componentes es-
tão divididos em sensório-motor, integra-
ção cognitiva e componentes cognitivos,
habilidades psicossociais e componentes
psicológicos.
Os contextos de desempenho caraterizam-se
como “situações ou fatores que influenciam
o engajamento da pessoa nas áreas de de-
sempenho desejadas e/ou necessárias”,
consistindo estes em aspectos temporais e
ambiente.
A adequada relação entre áreas, contex-
tos e componentes de desempenho deter-
minamosucessododesempenhoocupacio-
nal, sendo este sucesso a preocupação final
da intervenção terapêutica ocupacional.16
Este sucesso é caracterizado como “perfor-
mance ocupacional competente”, a qual
depende da interação complexa entre o in-
divíduo, o ambiente e as coisas que ele faz.17
Acrescenta-se que um equilíbrio adequado
nodesempenhoocupacionaléessencialpara
a saúde.15
“Déficit, doença ou lesão que afete qual-
quer componente de desempenho pode le-
var a uma falha na integração dos subsiste-
mascomponentesdedesempenho,e,assim,
resultar em falha ou distúrbio nas áreas de
desempenho”.15
A inabilidade para engajar
ocupações e a incapacidade de realizar ati-
468468468468468 REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(3):463-474
REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20
vidades diárias comuns que o indivíduo
quer ou necessita fazer, define a “disfunção
ocupacional”.17
Dessa maneira, a doença de Alzheimer
leva a déficits nos componentes de desem-
penho ocupacional, o que por sua vez leva
àdeterioraçãoemáreasdedesempenhoocu-
pacional, nos contextos do desempenho
ocupacional em que são realizadas.18
Con-
siderando que estes estejam afetados, o in-
divíduocomdoençadeAlzheimerapresenta
uma disfunção ocupacional, justificando a
intervenção do terapeuta ocupacional.
Essa intervenção tem sido extremamen-
te diversificada, quanto às técnicas e teorias
adotadas,emfunçãodasfinalidadesdospro-
gramaseserviçosquearequisitam.Asdiver-
sificações de posturas e ações significam, na
verdade, as possibilidades de adequações de
seus instrumentais em relação às finalidades
dos programas e serviços, e das políticas so-
ciais que os engendram e que, privilegiando
determinados conceitos de Homem, Saúde
e Doença, imprimem determinados mode-
lostecnológicosnaassistência.12
A partir dessa caracterização, cabe apre-
sentar as perspectivas filosóficas que dão
origem às diferentes técnicas e teorias ado-
tadas para a intervenção do terapeuta ocu-
pacional,paramelhorcompreensãodaabor-
dagem proposta neste trabalho.
Existem duas diferentes perspectivas fi-
losóficas: a visão reducionista e a visão ho-
lística.17,19
Essas perspectivas filosóficas fun-
damentam as várias teorias concernentes à
natureza dos seres humanos e seus ambien-
tes, inclusive as diversas teorias em terapia
ocupacional.
A visãoholística defende que o mundo per-
cebido é indivisível, considerando que o
todo é maior que a soma das partes, onde
os elementos (abstratos e concretos) não
podem ser compreendidos isoladamente.
Considera a experiência individual, em sua
relação com outros e com o ambiente.
A visãoreducionistadefendeabuscadacom-
preensão da natureza a partir das partes, sob
uma visão objetiva e utilitária da realidade
concreta. Estudando os componentes, as
funções e as estruturas das partes, o todo
pode ser compreendido.
Essas visões de mundo são denomina-
das como paradigmas da terapia ocupacio-
nal, pois todos os outros modelos ou estru-
turas de referência utilizados pelos terapeu-
tas ocupacionais podem ser vistos encaixa-
dos nestas visões.17,19
Este artigo embasa-se
na visão reducionista.
Apresentam-se, assim, os Modelos de
ProcessodeTerapiaOcupacionalHumanis-
ta, Positivista e Materialista Histórico.20
O
Modelo de Processo Humanista desenvol-
ve-se na inexistência de padrões preestabe-
lecidos, sendo o cliente que determina os
caminhos a percorrer no processo terapêu-
tico ocupacional, o que torna a relação te-
rapêutica o centro deste processo; o Positi-
vista visualiza o homem e a sociedade do
ponto de vista da doença, o que caracteriza
um processo terapêutico claro e definido,
REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20
Intervenção terapêutica ocupacional - Doença de Alzheimer 469
com uma estrutura rígida de procedimen-
tos; e o Modelo de Processo Materialista
Histórico é por definição criativo, transfor-
mador, questionador do contexto em que se
efetiva, possibilitando a melhoria da quali-
dade de vida dos indivíduos “pela constru-
ção de um saber-fazer inserido nas práticas,
nasrelaçõesenasexperiênciasdocotidiano”.12
Desses modelos, é proposta a utilização
do Modelo de Processo Positivista, pois este
tem como foco principal tratar a doença,
seguindo, para tanto, uma estrutura rígida
de procedimentos.12
Tal estrutura se confi-
gura num encadeamento de etapas distintas
elogicamenteordenadas:encaminhamento,
entrevistainicial,avaliação,planejamentode
programa de tratamento, tratamento
propriamente dito, reavaliações e alta.12
A estrutura rígida proposta pelo Mo-
delo de Processo Positivista pode ser vis-
ta como possível para a intervenção com
indivíduos com doença de Alzheimer em
estágio inicial, pois focaliza o processo te-
rapêutico a partir dos sintomas apresen-
tados pelo indivíduo, de acordo com as
etapas descritas. No tratamento dos indi-
víduos com doença de Alzheimer, estas
etapas são seguidas conforme o modelo
propõe. Vista a característica progressiva
da doença, as etapas de reavaliação, de pla-
nejamento do programa de tratamento e
de tratamento propriamente dito são rea-
lizadas a cada sinal de evolução ou invo-
lução do indivíduo, pois os objetivos da
intervenção alteram de acordo com o qua-
dro apresentado pelo indivíduo.
Partindo do Modelo de Processo Posi-
tivista, diversas estruturas de intervenção
podem ser vistas como encaixadas e deriva-
das deste, seguindo a filosofia reducionista.
As estruturas de referência “formam um
grupo de conceitos, definições, postulados
e princípios internamente consistentes e
inter-relacionados que propicia uma descri-
ção sistemática e a prescrição para uma inte-
ração do profissional com seu domínio de
interesse. Isto [...] serve como guia para suas
açõesemrelaçãoaosobjetoshumanosenão-
humanos”.21
Assim, as estruturas de referên-
cia são organizadas, em primárias e em apli-
cadas17
(à prática terapêutica ocupacional).
As estruturas primárias de referência
(EPR)utilizam-sedasciênciasbásicas,exem-
plificando-se a fisiologia, a psicologia e a
educação, como conhecimento emprestado
para fundamentar as teorias que se aplicam
à prática em terapia ocupacional. Dessa for-
ma, a ciência básica psicológica deu origem
à EPR psicológica. A elucidação desta se
faz necessária para compreender a aborda-
gem proposta neste artigo.17
A EPR psicológica baseia-se nos estudos
científicos do comportamento e dos proces-
sos mentais, associados à neurofisiologia. A
partir disso, tenta compreender o compor-
tamento,odesenvolvimentohumano,osas-
pectospsicológicosdaaprendizagemeacog-
nição. Além disso, tenta entender o desen-
volvimento da identidade pessoal e persona-
lidade, papeis humanos e relações, e o com-
portamento das pessoas em grupos.17
470470470470470 REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(3):463-474
REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20
Considerando esses aspectos, a EPR psi-
cológica embasou o surgimento de várias
estruturas aplicadas à prática terapêutica
ocupacional, dentre as quais está a cogniti-
va, que pode ser utilizada para a interven-
ção com indivíduos em estágio inicial da
doença de Alzheimer.
Conforme abordado anteriormente,
tem-se que a doença de Alzheimer, por seu
processo degenerativo, altera os componen-
tesdedesempenho,atingindoprincipalmen-
te a integração cognitiva e os componentes
cognitivos. Para intervir na integração cog-
nitiva e nos componentes cognitivos, a es-
trutura aplicada de referência cognitiva se
faz adequada, pois aborda as capacidades de
informação do cérebro, sendo empregada
majoritariamente quando se considera a
disfunção cognitiva adquirida, sendo uma
delas as condições cerebrais degenerativas,
como as demências.17
Neste aspecto, o indi-
víduo com doença de Alzheimer poderá se
beneficiar desta estrutura de intervenção,
favorecendo sua integração cognitiva e seus
componentes cognitivos e, consequente-
mente, suas áreas de desempenho nos con-
textos de desempenho que o indivíduo vi-
vencia.
Noentanto,éimportanteressaltaraexis-
tência e validade de outras intervenções
multidisciplinares, como o uso da medica-
ção, a reabilitação neuropsicológica (RN),
que inclui a intervenção cognitiva, e o gru-
po informativo, com os pacientes, os fami-
liares e os cuidadores. Tanto o uso da medi-
cação como a RN têm apresentado resulta-
dos positivos, como a melhora das funções
cognitivasedodesempenhonarealizaçãodas
atividadesdevidadiária(AVD).8
Ainterven-
çãocognitivapeloterapeutaocupacionalfaz
parte do trabalho multidisciplinar com o
indivíduo com doença de Alzheimer.
Baseada nos fundamentos apresentados,
a revisão de literatura mostra possível a in-
tervenção cognitiva do terapeuta ocupacio-
nal com indivíduos com doença de Alzhei-
mer, a qual será descrita a seguir.
INTERVENÇÃO COGNITIVA DO TERAPEUTA
OCUPACIONAL COM INDIVÍDUOS COM
DOENÇA DE ALZHEIMER
A doença de Alzheimer é progressiva e
de um prognóstico difícil, com expectati-
vas de melhoras limitadas. No entanto, as
intervenções cognitivas podem organizar as
atividades do paciente, promovendo uma
melhor qualidade de vida.22
A base para a intervenção cognitiva é a
crença na capacidade de regeneração do cé-
rebro,conhecidacomoplasticidadecerebral.
Caracterizada como uma mudança adapta-
tiva na estrutura e funções do sistema ner-
voso, a plasticidade é um suporte orgânico
à recuperação cognitiva, melhorando o dé-
ficit causado pela patologia.20
Neste contex-
to, acrescenta-se que a intervenção cogniti-
va serve como caminho para lentificar o
processo degenerativo no estágio inicial,
sobretudo em interação com estratégias
medicamentosas.20
REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20
Intervenção terapêutica ocupacional - Doença de Alzheimer 471
Esta intervenção cognitiva pode ser rea-
lizada de forma individualizada ou em gru-
po. As duas formas complementam-se. En-
quanto a terapia individual permite direcio-
nar o tratamento conforme a necessidade
do paciente, a terapia em grupo proporcio-
na um contato entre os pacientes, o que fa-
vorece habilidades comunicativas e a que-
bra da monotonia. Dessa forma, o uso com-
binado de intervenções individual e grupal
é recomendado para obter sucesso mais
amplo no tratamento.20
Independentemente da forma de inter-
venção, o paciente deverá passar pelos pro-
cessos de avaliação, terapia propriamente
dita e alta, equivalendo-se com o modelo
de processo positivista apresentado ante-
riormente. O processo de avaliação é de sig-
nificativa importância, pois permite ao te-
rapeuta ocupacional ter ciência de quais
componentes estão deficitários e quais es-
tão preservados, possibilitando decidir em
que direção o tratamento será realizado.20
Os processos de avaliação permitem
ainda monitorar a progressão da doença
de Alzheimer e avaliar o nível de benefí-
cio das intervenções.23
A partir disso, o
terapeuta ocupacional poderá intervir
para abordar a relação entre processos fa-
lhos, preservados e estratégias compensa-
tórias. Essas intervenções são possíveis em
pacientes com prejuízos cognitivos de le-
ves a moderados, pois estes ainda possu-
em a capacidade de aprendizagem e po-
dem beneficiar-se de estratégias para com-
pensar a perda das habilidades.20
Dessa forma, e lembrando que a ocupa-
ção humana é o foco da intervenção do te-
rapeuta ocupacional, ressalta-se a importân-
cia de manter preservada pelo maior tempo
possível a integridade da ocupação, através
da realização de atividades, pois:23
• o fazer, a ação, o agir, são necessidades
de todo ser humano;
• reverter o processo da doença ainda não
é possível, mas o fato de o paciente rea-
lizar atividades estimula-o a usar suas
capacidades remanescentes e o ajuda a
mantê-las; é um trabalho de prevenção
e manutenção;
• a atividade é um meio para a comunica-
ção verbal e não-verbal;
• a realização de atividades terapêuticas
ocupacionais favorece a qualidade de
vida, uma vez que permite sua realiza-
ção dentro dos limites de autonomia e
independência do indivíduo;
• a atividade dá um sentido de identida-
de, de prazer, ajuda a preservar a digni-
dade da pessoa.
Para que a realização de atividades cum-
pra seu papel terapêutico com os indivídu-
os com doença de Alzheimer, as atividades
devem ser simplificadas, fragmentadas em
pequenas tarefas, repetitivas, rotineiras, fa-
miliares e adaptadas na medida em que as
habilidades do cliente vão diminuindo.23
Ressalta-se, ainda, a importância de o tera-
peuta ocupacional perceber e correlacionar
a perda cognitiva com o declínio das habili-
472472472472472 REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(3):463-474
REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20
dades funcionais, abordando a realização
das atividades de vida diária, atividades de
trabalho e produtivas, e atividades de lazer
ou de diversão.23
AevoluçãodadoençadeAlzheimerpode
ser retardada e estratégias de intervenção
cognitiva podem melhorar a qualidade de
vida, a autonomia funcional e o estado afe-
tivo dos pacientes e seus familiares.20
Por-
tanto, define-se que o papel do profissional
que atua com indivíduos com doença de
Alzheimer está em melhorar a qualidade de
vida e o bem-estar deste, acreditando que
se pode reconstruir o que estiver alterado,
compensar o que foi perdido, utilizando o
que estiver conservado.24
Dessaforma,cabeaoterapeutaocupacio-
nalempenhar-senaprevençãodoagravamen-
to progressivo dos principais sintomas cog-
nitivos, visando à otimização da qualidade
de vida do indivíduo com doença de
Alzheimer, contando, para isto, além da
contribuição de outros profissionais, com
a participação direta no tratamento tanto
do próprio paciente, como da família e/ou
do cuidador e da comunidade.
Assim, apesar de o processo terapêutico
apresentado neste trabalho se basear no
modelo de processo positivista, o qual en-
foca o paciente e sua doença, o envolvimen-
to familiar/social no tratamento e a busca
porumambienteacolhedorfazemcomque
o terapeuta ocupacional aborde também
estes aspectos, utilizando a visão humanista
como complementar. Dessa forma, o pro-
cesso terapêutico estará centrado não so-
mente na doença, mas também na relação
estabelecida entre o indivíduo com doença
de Alzheimer, sua rede de suporte e o tera-
peuta ocupacional.
CONCLUSÃO
A partir da revisão bibliográfica realiza-
da, foi possível correlacionar a teoria e a
práticadaintervençãoterapêuticaocupacio-
nal junto aos indivíduos com doença de
Alzheimer, com um enfoque sobre os as-
pectos cognitivos, pois estes aspectos que
principalmentesãogradativamenteafetados
nesta doença e levam ao comprometimento
do desempenho ocupacional competente.
Por fim, ressalta-se a importância da in-
tervenção terapêutica ocupacional com in-
divíduos com doença de Alzheimer na ma-
nutençãodaintegraçãocognitivaedoscom-
ponentescognitivos.Aalteraçãodestescom-
ponentes de desempenho afeta as áreas de
desempenho nos contextos de desempenho
em que o indivíduo está inserido. A inter-
venção direta nesses componentes estimula
a utilização dos mesmos, favorecendo o
desempenho ocupacional competente e,
portanto, a independência do indivíduo
com doença de Alzheimer.
Deve-se considerar que, como a doen-
ça de Alzheimer é progressiva, a interven-
ção cognitiva não deterá o avanço da do-
ença, apenas fará com que o indivíduo
mantenha seu nível mais elevado de habi-
lidades e funcionamento por um maior
período de tempo.
REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20
Intervenção terapêutica ocupacional - Doença de Alzheimer 473
Ao longo deste trabalho, a revisão de
literatura mostrou válida a utilização da
visão reducionista aplicando-se o modelo
de processo positivista, visto ser esta es-
truturada para a intervenção na integra-
ção cognitiva e nos componentes cogniti-
vos. No entanto, o envolvimento da rede
de suporte do indivíduo com doença de
Alzheimer é inerente ao processo terapêu-
tico ocupacional. Dessa forma, percebe-
se a possibilidade e a necessidade de utili-
zação do Modelo de Processo Humanis-
ta para a mesma clientela, o que possibili-
tará a visão holística das experiências in-
dividuais em relação com os outros e com
o ambiente.
REFERÊNCIAS
1 Papalia DE, Olds SW. Terceira idade e o
fim da vida. In: Papalia DE, Olds SW.
Desenvolvimento Humano. Porto Alegre:
Artes Médicas Sul; 2000. p. 489-554.
2 Trentini CM, Xavier FMF, Fleck MPA.
Qualidade de vida em idosos. In: Parente
MAMP. Cognição e envelhecimento.
Porto Alegre: Artmed; 2006. p. 19-29.
3 Organização Mundial de Saúde.
Envelhecimento ativo: uma política de
saúde. Brasília: Organização Pan-
Americana de Saúde; 2005.
4 Motta MP, Ferrari MAC. Intervenção
terapêutico-ocupacional junto a
indivíduos com comprometimento no
processo de envelhecimento. In: De Carlo
MMRP; Luzo MCM, orgs. Terapia
Ocupacional: reabilitação física e
contextos hospitalares. São Paulo: Roca;
2004.p.293-303.
5 Zimerman GI. Velhice: aspectos
biopsicossociais. Porto Alegre: Artmed;
2005.
6 Lei 10.741 Estatuto do Idoso 2003 out 1.
Pub DO 1(1), [2003 out 1].
7 Avila R, Miotto EC. Funções executivas
no envelhecimento normal e na doença de
Alzheimer. J Bras Psiquiatr 2003 jan-fev
[acesso em: 2006 jun 11]; p.53-63.
Disponível em: URL: <http://
www.bireme.org >.
8 Brasil. Ministério da Saúde. Mal de
Alzheimer atinge 6% dos idosos
brasileiros. Disponível em: URL: <http:/
/portal.saude.gov.br/>.
9 Associação Brasileira de Alzheimer.
Relatório informa que demência vai
quadruplicar. [acesso em: 2006 set
24]Disponível em: URL: <http://
www.abraz.org.br>.
10 Grieve J. Neuropsicologia em terapia
ocupacional: exame da percepção e
cognição. São Paulo: Santos; 2005.
11 Parente MAMP, Wagner GP. Teorias
abrangentes sobre envelhecimento
Cognitivo. In: Parente MAMP, editor, et
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Alegre: Artmed; 2006. Cap. 2.
12 Medeiros MHR. Terapia Ocupacional:
um enfoque epistemológico e social. São
Carlos: EdUFSCAR; 2003.
13 Francisco BR. Terapia ocupacional. 2. ed.
Campinas: Papirus; 2001.
14 Neistadt ME, Crepeau EB. Introdução à
terapia ocupacional. In: Neistadt ME,
Crepeau EB, orgs. Terapia ocupacional –
Willard & Spackman. 9. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p.3-9.
474474474474474 REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(3):463-474
REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20
15 Pedretti LW, Early MB. Desempenho
ocupacional e modelos de prática
para disfunção física. In: Pedretti LW,
Early MB, orgs.Terapia ocupacional:
capacidades práticas para as
disfunções físicas. São Paulo: Roca;
2005. Cap.1.
16 American Occupational Therapy
Association - AOTA. Terminologia
uniforme para a terapia ocupacional. In:
Neistadt ME, Crepeau EB, orgs. Terapia
ocupacional – Willard & Spackman. 9. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002.
Apêndice F.
17 Hagedorn R. Fundamentos para a prática
em terapia ocupacional. São Paulo: Roca;
2003.
18 Glogoski C. Doença de Alzheimer. In:
Pedretti LW, Early MB, orgs. Terapia
ocupacional: capacidades práticas para as
disfunções físicas. São Paulo: Roca; 2005.
p.742-51.
19 Hagedorn R. Fundamentos para a prática em
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20 Holderbaum CS, et al. A intervenção
cognitiva para pacientes portadores de
demência do tipo Alzheimer. In: Parente
MAMP, et al. Cognição e envelhecimento.
Porto Alegre: Artmed; 2006. Cap.16.
21 Reed KL. Teoria e estrutura de referência.
In: Neistadt ME, Crepeau EB, orgs.
Terapia Ocupacional – Willard &
Spackman. 9. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2002. p. 485-7.
22 Parente MAMP, et al. Cognição e
envelhecimento.PortoAlegre:Artmed;2006.
23 Ferrari MACF. A terapia ocupacional na
reabilitação do portador de Alzheimer.
MundodaSaúde2001out-dez;25(4):p.425-29.
24 Camara VD, et al. Atendimento
interdisciplinar a pacientes com demência
e seus cuidadores. Arquivos de Geriatria e
Gerontologia 1998; 2(1): p.11-21.
Recebido: 17/7/2007
Revisado: 28/5/2008
Revisado: 14/10/2008
Aprovado: 11/3/2009

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Abordagem cognitiva alzheimer t.o

  • 1. REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Intervenção terapêutica ocupacional - Doença de Alzheimer 463 AAAAARTIGORTIGORTIGORTIGORTIGODEDEDEDEDERRRRREVISÃOEVISÃOEVISÃOEVISÃOEVISÃO/////RRRRREVIEWEVIEWEVIEWEVIEWEVIEWAAAAARTICLERTICLERTICLERTICLERTICLE Palavras-chave: Terapia Ocupacional. Doença de Alzheimer. Cognição. Idoso. Abordagem cognitiva na intervenção terapêutica ocupacional com indivíduos com Doença de Alzheimer Cognitive approach in occupational therapeutic intervention with individuals affected by Alzheimer’s disease Suzana Elisa Sedrez Corrêa* Derivan Brito da Silva* Resumo A doença de Alzheimer compromete progressivamente, em razão da neurodegeneração, a integração cognitiva e os componentes cognitivos de desempenho, levando ao comprometimento das áreas de desempenho (ativi- dades de vida diária, atividades de trabalho e produtivas, e atividades de lazer ou diversão) nos contextos em que o indivíduo está inserido, gerando déficit no desempenho ocupacional. Assim, o objetivo deste trabalho é evi- denciar, através da revisão bibliográfica, a importância da intervenção tera- pêutica ocupacional com indivíduos com doença de Alzheimer, utilizando uma abordagem cognitiva, que vise à manutenção das habilidades cognitivas do indivíduo com doença de Alzheimer para um desempenho ocupacional competente pelo maior período de tempo. Observa-se a relação direta entre processo de envelhecimento, doença de Alzheimer e desempenho ocupacional. Nesse contexto, o terapeuta ocupacional é inserido no trata- mento do indivíduo com doença de Alzheimer, pois tem meios para abordar os componentes afetados pela doença, através de um processo terapêutico estruturado. Ao final, conclui-se que as intervenções cognitivas no estágio inicial são utilizadas para organizar as atividades do cotidiano do indivíduo com doença de Alzheimer e, consequentemente, promover melhor qualida- de de vida. * Universidade Federal do Paraná, Curso de Terapia Ocupacional. Coordenação. Rua Pe. Camargo, 280, 3º and, Alto da Glória 80060-240 – Curitiba, PR, Brasil Correspondência / Correspondence Suzana Elisa Sedrez Corrêa E-mail: suzanaelisa_to@hotmail.com
  • 2. 464464464464464 REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(3):463-474 REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Key words: Occupational Therapy. Alzheimer Disease. Cognition. Aged. Abstract Due to neurological degeneration, Alzheimer’s disease gradually affects the cognitive abilities. Subsequently, this compromises the occupational performance in all areas: self-care, productivity and leisure. This paper presents the results of a literature review with respect to the importance of occupational therapy interventions using cognitive approach with individuals with Alzheimer’s disease, concerninfg maintenance of cognitive abilities and occupational performance of individuals affected by Alzheimer’s disease. It underlines the direct relationship between the process of aging, Alzheimer’s disease and occupational performance. Within this context, the role of the occupational therapist includes the use of various approaches to address the affected occupational performance components. The authors conclude that a cognitive approach can effectively be used to organise the activities of daily living of individuals in the early stages of Alzheimer’s Disease and to promote a better quality of life. INTRODUÇÃO O indivíduo idoso vivencia transforma- ções biológicas, físicas, psicológicas e soci- ais ocasionadas pelo processo gradual, irre- versível, progressivo, inevitável e universal de envelhecimento, definido como envelhe- cimento primário. Somado a isto, o indiví- duo com doença de Alzheimer passa por um processo patológico de envelhecimen- to, definido como envelhecimento secundá- rio, no qual ocorre degeneração do sistema nervoso central, resultando na perda pro- gressiva das habilidades cognitivas.1,2 Por ser a perda cognitiva um dos princi- pais fatores relacionado à redução do desem- penho ocupacional do indivíduo com do- ença de Alzheimer, o objetivo deste artigo é apresentar a intervenção terapêutica ocu- pacional com indivíduos com doença de Alzheimer, com enfoque na manutenção das habilidades cognitivas no estágio inicial da doença. Para tanto, apresenta-se os aspec- tos da velhice e da doença de Alzheimer, a fundamentação terapêutica ocupacional para a intervenção proposta e a intervenção propriamente dita. MATERIAL E MÉTODO Paralevantamentodeestudospublicados sobre o tema da pesquisa, adotou-se como critério de inclusão a revisão bibliográfica delivros,artigosderevistaseartigosembase de dados, publicados no período de 1998 a 2006. Foram consultadas as bases de dados Bireme, SciELO e OTseeker. Do resultado do levantamento, foram selecionados e agre- gados os dados e informações sobre os com- prometimentoscognitivosmanifestadosnos indivíduos portadores de doença de Alzhei- mer e das intervenções cognitivas, como
  • 3. REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Intervenção terapêutica ocupacional - Doença de Alzheimer 465 forma de manter as habilidades cognitivas desses indivíduos. Outras formas de inter- venção e pesquisas anteriores a 1998 foram excluídas da pesquisa. VELHICE E DOENÇA DE ALZHEIMER Segundo a Organização Mundial da Saú- de,3 a definição de idoso inicia aos 65 anos de idade nos países desenvolvidos, e aos 60 anos nos países em desenvolvimento. No Brasil, de acordo com o Estatuto do Idoso, as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos são reconhecidas como idosas.4,5,6 NoBrasil,houveumcrescimentoexpres- sivo da expectativa de vida, levando ao au- mento do número de idosos.4 Mas este cres- cimento não vem sendo acompanhado por uma melhor qualidade de vida, principal- mente em decorrência da alta incidência de doenças, destacando-se as de natureza crônica, como a doença de Alzheimer.7 Esta, apesar de se manifestar a partir dos 50 anos de idade, aumenta significativa- mente sua incidência ao longo dos anos, caracterizando-se, portanto, como uma doença da velhice.1 Na estimativa do Ministério da Saúde, de 600 mil a 1 millhão dos brasileiros apre- sentam a doença de Alzheimer. Em todo mundo, 15 milhões de pessoas têm a doen- ça de Alzheimer.8 Com o aumento da ex- pectativa de vida, estima-se que em 2040 o número de indivíduos com demência, não somente Alzheimer, será de 81,1 milhões.9 A doença de Alzheimer é uma doença neurológica degenerativa, lenta e progressi- va.5 O indivíduo atingido por ela apresenta progressiva perturbação de múltiplas fun- ções cognitivas, incluindo memória, aten- ção e aprendizado, pensamento, orientação, compreensão, cálculo, linguagem e julga- mento. O comprometimento das funções cognitivas é comumente acompanhado, e ocasionalmenteprecedido,pordeterioração do controle emocional, comportamento socialoumotivação.8 Estescomprometimen- tos levam à alteração do desempenho ocu- pacional do indivíduo com doença de Alzheimer.10 Assim, para compreensão do impacto da doença de Alzheimer na funcio- nalidade, faz-se necessário abordar o pro- cesso do envelhecimento cognitivo. A teoria de mecanismos de ganhos e perdas é uma das teorias que embasam a compreen- são do processo de envelhecimento cogniti- vo. Esta teoria se baseia no fato de que per- das ocorrem desde o nascimento e que, no percurso da vida, inclusive na velhice, es- tabelece-se uma proporção entre perdas, ganhos e funções mantidas.11 Há complexa interação das diferentes funções cognitivas, sendo que na velhice consideram-se ganhos uma função cogniti- va que: melhora com a idade; mantém-se, apesar do envelhecimento; tem um peque- no declínio se comparada com outra; for- ma-se a partir de novas estratégias cogniti- vas para suprir dificuldades em outras fun- ções. Além disso, a teoria de mecanismos de ganhos e perdas considera também as
  • 4. 466466466466466 REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(3):463-474 REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 perdas, acreditando haver uma proporção estabelecida entre perdas, ganhos e funções mantidas, sendo considerada uma teoria otimista comparando-se às teorias que fo- calizam apenas perdas. Conclui-se que a teo- riademecanismosdeganhoseperdasémais realista e consegue abordar a complexidade do envelhecimento cognitivo.11 Deriva desta teoria a abordagem de ganhos em função de perdas. Esta abordagem é bastante conhecida em terapias com indivíduos com lesões cerebrais. Baseia-se em ganhos para suprir as dificuldades que surgem gradati- vamente nos processos demenciais, focali- zando ganhos específicos. Esses ganhos se referem a uma nova aquisição ou a uma di- ferente forma de desenvolver determinada tarefa. Pode ocorrer através de níveis orgâ- nicos, com o acontecimento do fenômeno da plasticidade, no qual áreas cerebrais as- sumem funções de outras áreas lesadas ou ineficazes; ou em nível cognitivo, que en- volve a utilização de diferentes estratégias, comoestratégiasdecompensação,desenvol- vimento da expertise e a formação de am- bientes colaborativos.11 Esclarece-se que:11 • as estratégias de compensação são no- vas técnicas utilizadas para realizar ta- refas antigas; • o desenvolvimento da expertise é a ex- periência e o conhecimento avançado que o indivíduo adquire ao longo dos anos para realizar determinada ativida- de, servindo como facilitadora para que o indivíduo realize uma atividade; • a formação de ambientes colabo- rativos é a utilização de estratégias que facilitem a linguagem e comunicação do indivíduo em seu meio, por exemplo, dicas e interações dialógicas. A abordagem de ganhos em função de perdas, derivada da teoria de mecanismos de ganhos e perdas, parece ser a mais pro- missora, pois acredita na capacidade do ido- so para elaborar novas estratégias adaptati- vas às suas dificuldades e permite elaborar um programa de intervenção para o declí- nio cognitivo patológico.11 A partir das elucidações acerca do indi- víduo com doença de Alzheimer e os as- pectos a ele inerentes, será apresentada a fundamentação para a intervenção propos- ta neste artigo. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA PARA A INTERVENÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL COM INDIVÍDUOS COM DOENÇA DE ALZHEIMER A intervenção terapêutica ocupacional, em seus contextos de saúde e sociedade, pressupõe um saber teórico-prático, orga- nizando um modo específico de interven- ção mediante o qual confirma ou contesta este saber.12 A terapia ocupacional mostra-se ineren- te à ocupação humana. A busca pelo signi-
  • 5. REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Intervenção terapêutica ocupacional - Doença de Alzheimer 467 ficado da ocupação humana direcionou os primeiros princípios teóricos da profissão,13 que foram descritos em três considerações:9 • a primeira é que os humanos foram co- nhecidos como possuidores de uma natureza ocupacional; • a segunda, que a doença foi vista como sendo um potencial para interromper ou romper a ocupação; • a última, que a ocupação foi reconhecida como um organizador natural do com- portamento humano, que poderia ser usada terapeuticamente para refazer ou reorganizar o comportamento cotidiano. De acordo com esses pressupostos, iden- tifica-se que o indivíduo com doença de Alzheimer tem sua essência ocupacional rompida pelos sintomas trazidos por esta, podendo, no seu estágio inicial, ser utiliza- da a ocupação para reorganizar o compor- tamento cotidiano. Esta ocupação, inerente à pessoa e ao ambiente no qual está inserida, caracteriza o desempenho ocupacional. Nessa perspec- tiva,esclarece-sequeoselementosdodesem- penho ocupacional são as áreas, os compo- nentes e os contextos de desempenho.14,15 As áreas de desempenho são “amplas catego- rias de atividade humana, que fazem parte, tipicamente, da vida cotidiana”, subdivida em: atividades de vida diária, atividades de trabalho e produtivas, e atividades de lazer ou de diversão. Os componentes de desempenho são compre- endidos como “capacidades humanas fun- damentais que – em graus variados e em diferentes combinações – são necessárias para o engajamento bem-sucedido nas áre- as de desempenho”. Estes componentes es- tão divididos em sensório-motor, integra- ção cognitiva e componentes cognitivos, habilidades psicossociais e componentes psicológicos. Os contextos de desempenho caraterizam-se como “situações ou fatores que influenciam o engajamento da pessoa nas áreas de de- sempenho desejadas e/ou necessárias”, consistindo estes em aspectos temporais e ambiente. A adequada relação entre áreas, contex- tos e componentes de desempenho deter- minamosucessododesempenhoocupacio- nal, sendo este sucesso a preocupação final da intervenção terapêutica ocupacional.16 Este sucesso é caracterizado como “perfor- mance ocupacional competente”, a qual depende da interação complexa entre o in- divíduo, o ambiente e as coisas que ele faz.17 Acrescenta-se que um equilíbrio adequado nodesempenhoocupacionaléessencialpara a saúde.15 “Déficit, doença ou lesão que afete qual- quer componente de desempenho pode le- var a uma falha na integração dos subsiste- mascomponentesdedesempenho,e,assim, resultar em falha ou distúrbio nas áreas de desempenho”.15 A inabilidade para engajar ocupações e a incapacidade de realizar ati-
  • 6. 468468468468468 REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(3):463-474 REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 vidades diárias comuns que o indivíduo quer ou necessita fazer, define a “disfunção ocupacional”.17 Dessa maneira, a doença de Alzheimer leva a déficits nos componentes de desem- penho ocupacional, o que por sua vez leva àdeterioraçãoemáreasdedesempenhoocu- pacional, nos contextos do desempenho ocupacional em que são realizadas.18 Con- siderando que estes estejam afetados, o in- divíduocomdoençadeAlzheimerapresenta uma disfunção ocupacional, justificando a intervenção do terapeuta ocupacional. Essa intervenção tem sido extremamen- te diversificada, quanto às técnicas e teorias adotadas,emfunçãodasfinalidadesdospro- gramaseserviçosquearequisitam.Asdiver- sificações de posturas e ações significam, na verdade, as possibilidades de adequações de seus instrumentais em relação às finalidades dos programas e serviços, e das políticas so- ciais que os engendram e que, privilegiando determinados conceitos de Homem, Saúde e Doença, imprimem determinados mode- lostecnológicosnaassistência.12 A partir dessa caracterização, cabe apre- sentar as perspectivas filosóficas que dão origem às diferentes técnicas e teorias ado- tadas para a intervenção do terapeuta ocu- pacional,paramelhorcompreensãodaabor- dagem proposta neste trabalho. Existem duas diferentes perspectivas fi- losóficas: a visão reducionista e a visão ho- lística.17,19 Essas perspectivas filosóficas fun- damentam as várias teorias concernentes à natureza dos seres humanos e seus ambien- tes, inclusive as diversas teorias em terapia ocupacional. A visãoholística defende que o mundo per- cebido é indivisível, considerando que o todo é maior que a soma das partes, onde os elementos (abstratos e concretos) não podem ser compreendidos isoladamente. Considera a experiência individual, em sua relação com outros e com o ambiente. A visãoreducionistadefendeabuscadacom- preensão da natureza a partir das partes, sob uma visão objetiva e utilitária da realidade concreta. Estudando os componentes, as funções e as estruturas das partes, o todo pode ser compreendido. Essas visões de mundo são denomina- das como paradigmas da terapia ocupacio- nal, pois todos os outros modelos ou estru- turas de referência utilizados pelos terapeu- tas ocupacionais podem ser vistos encaixa- dos nestas visões.17,19 Este artigo embasa-se na visão reducionista. Apresentam-se, assim, os Modelos de ProcessodeTerapiaOcupacionalHumanis- ta, Positivista e Materialista Histórico.20 O Modelo de Processo Humanista desenvol- ve-se na inexistência de padrões preestabe- lecidos, sendo o cliente que determina os caminhos a percorrer no processo terapêu- tico ocupacional, o que torna a relação te- rapêutica o centro deste processo; o Positi- vista visualiza o homem e a sociedade do ponto de vista da doença, o que caracteriza um processo terapêutico claro e definido,
  • 7. REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Intervenção terapêutica ocupacional - Doença de Alzheimer 469 com uma estrutura rígida de procedimen- tos; e o Modelo de Processo Materialista Histórico é por definição criativo, transfor- mador, questionador do contexto em que se efetiva, possibilitando a melhoria da quali- dade de vida dos indivíduos “pela constru- ção de um saber-fazer inserido nas práticas, nasrelaçõesenasexperiênciasdocotidiano”.12 Desses modelos, é proposta a utilização do Modelo de Processo Positivista, pois este tem como foco principal tratar a doença, seguindo, para tanto, uma estrutura rígida de procedimentos.12 Tal estrutura se confi- gura num encadeamento de etapas distintas elogicamenteordenadas:encaminhamento, entrevistainicial,avaliação,planejamentode programa de tratamento, tratamento propriamente dito, reavaliações e alta.12 A estrutura rígida proposta pelo Mo- delo de Processo Positivista pode ser vis- ta como possível para a intervenção com indivíduos com doença de Alzheimer em estágio inicial, pois focaliza o processo te- rapêutico a partir dos sintomas apresen- tados pelo indivíduo, de acordo com as etapas descritas. No tratamento dos indi- víduos com doença de Alzheimer, estas etapas são seguidas conforme o modelo propõe. Vista a característica progressiva da doença, as etapas de reavaliação, de pla- nejamento do programa de tratamento e de tratamento propriamente dito são rea- lizadas a cada sinal de evolução ou invo- lução do indivíduo, pois os objetivos da intervenção alteram de acordo com o qua- dro apresentado pelo indivíduo. Partindo do Modelo de Processo Posi- tivista, diversas estruturas de intervenção podem ser vistas como encaixadas e deriva- das deste, seguindo a filosofia reducionista. As estruturas de referência “formam um grupo de conceitos, definições, postulados e princípios internamente consistentes e inter-relacionados que propicia uma descri- ção sistemática e a prescrição para uma inte- ração do profissional com seu domínio de interesse. Isto [...] serve como guia para suas açõesemrelaçãoaosobjetoshumanosenão- humanos”.21 Assim, as estruturas de referên- cia são organizadas, em primárias e em apli- cadas17 (à prática terapêutica ocupacional). As estruturas primárias de referência (EPR)utilizam-sedasciênciasbásicas,exem- plificando-se a fisiologia, a psicologia e a educação, como conhecimento emprestado para fundamentar as teorias que se aplicam à prática em terapia ocupacional. Dessa for- ma, a ciência básica psicológica deu origem à EPR psicológica. A elucidação desta se faz necessária para compreender a aborda- gem proposta neste artigo.17 A EPR psicológica baseia-se nos estudos científicos do comportamento e dos proces- sos mentais, associados à neurofisiologia. A partir disso, tenta compreender o compor- tamento,odesenvolvimentohumano,osas- pectospsicológicosdaaprendizagemeacog- nição. Além disso, tenta entender o desen- volvimento da identidade pessoal e persona- lidade, papeis humanos e relações, e o com- portamento das pessoas em grupos.17
  • 8. 470470470470470 REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(3):463-474 REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Considerando esses aspectos, a EPR psi- cológica embasou o surgimento de várias estruturas aplicadas à prática terapêutica ocupacional, dentre as quais está a cogniti- va, que pode ser utilizada para a interven- ção com indivíduos em estágio inicial da doença de Alzheimer. Conforme abordado anteriormente, tem-se que a doença de Alzheimer, por seu processo degenerativo, altera os componen- tesdedesempenho,atingindoprincipalmen- te a integração cognitiva e os componentes cognitivos. Para intervir na integração cog- nitiva e nos componentes cognitivos, a es- trutura aplicada de referência cognitiva se faz adequada, pois aborda as capacidades de informação do cérebro, sendo empregada majoritariamente quando se considera a disfunção cognitiva adquirida, sendo uma delas as condições cerebrais degenerativas, como as demências.17 Neste aspecto, o indi- víduo com doença de Alzheimer poderá se beneficiar desta estrutura de intervenção, favorecendo sua integração cognitiva e seus componentes cognitivos e, consequente- mente, suas áreas de desempenho nos con- textos de desempenho que o indivíduo vi- vencia. Noentanto,éimportanteressaltaraexis- tência e validade de outras intervenções multidisciplinares, como o uso da medica- ção, a reabilitação neuropsicológica (RN), que inclui a intervenção cognitiva, e o gru- po informativo, com os pacientes, os fami- liares e os cuidadores. Tanto o uso da medi- cação como a RN têm apresentado resulta- dos positivos, como a melhora das funções cognitivasedodesempenhonarealizaçãodas atividadesdevidadiária(AVD).8 Ainterven- çãocognitivapeloterapeutaocupacionalfaz parte do trabalho multidisciplinar com o indivíduo com doença de Alzheimer. Baseada nos fundamentos apresentados, a revisão de literatura mostra possível a in- tervenção cognitiva do terapeuta ocupacio- nal com indivíduos com doença de Alzhei- mer, a qual será descrita a seguir. INTERVENÇÃO COGNITIVA DO TERAPEUTA OCUPACIONAL COM INDIVÍDUOS COM DOENÇA DE ALZHEIMER A doença de Alzheimer é progressiva e de um prognóstico difícil, com expectati- vas de melhoras limitadas. No entanto, as intervenções cognitivas podem organizar as atividades do paciente, promovendo uma melhor qualidade de vida.22 A base para a intervenção cognitiva é a crença na capacidade de regeneração do cé- rebro,conhecidacomoplasticidadecerebral. Caracterizada como uma mudança adapta- tiva na estrutura e funções do sistema ner- voso, a plasticidade é um suporte orgânico à recuperação cognitiva, melhorando o dé- ficit causado pela patologia.20 Neste contex- to, acrescenta-se que a intervenção cogniti- va serve como caminho para lentificar o processo degenerativo no estágio inicial, sobretudo em interação com estratégias medicamentosas.20
  • 9. REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Intervenção terapêutica ocupacional - Doença de Alzheimer 471 Esta intervenção cognitiva pode ser rea- lizada de forma individualizada ou em gru- po. As duas formas complementam-se. En- quanto a terapia individual permite direcio- nar o tratamento conforme a necessidade do paciente, a terapia em grupo proporcio- na um contato entre os pacientes, o que fa- vorece habilidades comunicativas e a que- bra da monotonia. Dessa forma, o uso com- binado de intervenções individual e grupal é recomendado para obter sucesso mais amplo no tratamento.20 Independentemente da forma de inter- venção, o paciente deverá passar pelos pro- cessos de avaliação, terapia propriamente dita e alta, equivalendo-se com o modelo de processo positivista apresentado ante- riormente. O processo de avaliação é de sig- nificativa importância, pois permite ao te- rapeuta ocupacional ter ciência de quais componentes estão deficitários e quais es- tão preservados, possibilitando decidir em que direção o tratamento será realizado.20 Os processos de avaliação permitem ainda monitorar a progressão da doença de Alzheimer e avaliar o nível de benefí- cio das intervenções.23 A partir disso, o terapeuta ocupacional poderá intervir para abordar a relação entre processos fa- lhos, preservados e estratégias compensa- tórias. Essas intervenções são possíveis em pacientes com prejuízos cognitivos de le- ves a moderados, pois estes ainda possu- em a capacidade de aprendizagem e po- dem beneficiar-se de estratégias para com- pensar a perda das habilidades.20 Dessa forma, e lembrando que a ocupa- ção humana é o foco da intervenção do te- rapeuta ocupacional, ressalta-se a importân- cia de manter preservada pelo maior tempo possível a integridade da ocupação, através da realização de atividades, pois:23 • o fazer, a ação, o agir, são necessidades de todo ser humano; • reverter o processo da doença ainda não é possível, mas o fato de o paciente rea- lizar atividades estimula-o a usar suas capacidades remanescentes e o ajuda a mantê-las; é um trabalho de prevenção e manutenção; • a atividade é um meio para a comunica- ção verbal e não-verbal; • a realização de atividades terapêuticas ocupacionais favorece a qualidade de vida, uma vez que permite sua realiza- ção dentro dos limites de autonomia e independência do indivíduo; • a atividade dá um sentido de identida- de, de prazer, ajuda a preservar a digni- dade da pessoa. Para que a realização de atividades cum- pra seu papel terapêutico com os indivídu- os com doença de Alzheimer, as atividades devem ser simplificadas, fragmentadas em pequenas tarefas, repetitivas, rotineiras, fa- miliares e adaptadas na medida em que as habilidades do cliente vão diminuindo.23 Ressalta-se, ainda, a importância de o tera- peuta ocupacional perceber e correlacionar a perda cognitiva com o declínio das habili-
  • 10. 472472472472472 REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(3):463-474 REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 dades funcionais, abordando a realização das atividades de vida diária, atividades de trabalho e produtivas, e atividades de lazer ou de diversão.23 AevoluçãodadoençadeAlzheimerpode ser retardada e estratégias de intervenção cognitiva podem melhorar a qualidade de vida, a autonomia funcional e o estado afe- tivo dos pacientes e seus familiares.20 Por- tanto, define-se que o papel do profissional que atua com indivíduos com doença de Alzheimer está em melhorar a qualidade de vida e o bem-estar deste, acreditando que se pode reconstruir o que estiver alterado, compensar o que foi perdido, utilizando o que estiver conservado.24 Dessaforma,cabeaoterapeutaocupacio- nalempenhar-senaprevençãodoagravamen- to progressivo dos principais sintomas cog- nitivos, visando à otimização da qualidade de vida do indivíduo com doença de Alzheimer, contando, para isto, além da contribuição de outros profissionais, com a participação direta no tratamento tanto do próprio paciente, como da família e/ou do cuidador e da comunidade. Assim, apesar de o processo terapêutico apresentado neste trabalho se basear no modelo de processo positivista, o qual en- foca o paciente e sua doença, o envolvimen- to familiar/social no tratamento e a busca porumambienteacolhedorfazemcomque o terapeuta ocupacional aborde também estes aspectos, utilizando a visão humanista como complementar. Dessa forma, o pro- cesso terapêutico estará centrado não so- mente na doença, mas também na relação estabelecida entre o indivíduo com doença de Alzheimer, sua rede de suporte e o tera- peuta ocupacional. CONCLUSÃO A partir da revisão bibliográfica realiza- da, foi possível correlacionar a teoria e a práticadaintervençãoterapêuticaocupacio- nal junto aos indivíduos com doença de Alzheimer, com um enfoque sobre os as- pectos cognitivos, pois estes aspectos que principalmentesãogradativamenteafetados nesta doença e levam ao comprometimento do desempenho ocupacional competente. Por fim, ressalta-se a importância da in- tervenção terapêutica ocupacional com in- divíduos com doença de Alzheimer na ma- nutençãodaintegraçãocognitivaedoscom- ponentescognitivos.Aalteraçãodestescom- ponentes de desempenho afeta as áreas de desempenho nos contextos de desempenho em que o indivíduo está inserido. A inter- venção direta nesses componentes estimula a utilização dos mesmos, favorecendo o desempenho ocupacional competente e, portanto, a independência do indivíduo com doença de Alzheimer. Deve-se considerar que, como a doen- ça de Alzheimer é progressiva, a interven- ção cognitiva não deterá o avanço da do- ença, apenas fará com que o indivíduo mantenha seu nível mais elevado de habi- lidades e funcionamento por um maior período de tempo.
  • 11. REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 Intervenção terapêutica ocupacional - Doença de Alzheimer 473 Ao longo deste trabalho, a revisão de literatura mostrou válida a utilização da visão reducionista aplicando-se o modelo de processo positivista, visto ser esta es- truturada para a intervenção na integra- ção cognitiva e nos componentes cogniti- vos. No entanto, o envolvimento da rede de suporte do indivíduo com doença de Alzheimer é inerente ao processo terapêu- tico ocupacional. Dessa forma, percebe- se a possibilidade e a necessidade de utili- zação do Modelo de Processo Humanis- ta para a mesma clientela, o que possibili- tará a visão holística das experiências in- dividuais em relação com os outros e com o ambiente. REFERÊNCIAS 1 Papalia DE, Olds SW. Terceira idade e o fim da vida. In: Papalia DE, Olds SW. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 2000. p. 489-554. 2 Trentini CM, Xavier FMF, Fleck MPA. Qualidade de vida em idosos. In: Parente MAMP. Cognição e envelhecimento. Porto Alegre: Artmed; 2006. p. 19-29. 3 Organização Mundial de Saúde. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan- Americana de Saúde; 2005. 4 Motta MP, Ferrari MAC. Intervenção terapêutico-ocupacional junto a indivíduos com comprometimento no processo de envelhecimento. In: De Carlo MMRP; Luzo MCM, orgs. Terapia Ocupacional: reabilitação física e contextos hospitalares. São Paulo: Roca; 2004.p.293-303. 5 Zimerman GI. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: Artmed; 2005. 6 Lei 10.741 Estatuto do Idoso 2003 out 1. Pub DO 1(1), [2003 out 1]. 7 Avila R, Miotto EC. Funções executivas no envelhecimento normal e na doença de Alzheimer. J Bras Psiquiatr 2003 jan-fev [acesso em: 2006 jun 11]; p.53-63. Disponível em: URL: <http:// www.bireme.org >. 8 Brasil. Ministério da Saúde. Mal de Alzheimer atinge 6% dos idosos brasileiros. Disponível em: URL: <http:/ /portal.saude.gov.br/>. 9 Associação Brasileira de Alzheimer. Relatório informa que demência vai quadruplicar. [acesso em: 2006 set 24]Disponível em: URL: <http:// www.abraz.org.br>. 10 Grieve J. Neuropsicologia em terapia ocupacional: exame da percepção e cognição. São Paulo: Santos; 2005. 11 Parente MAMP, Wagner GP. Teorias abrangentes sobre envelhecimento Cognitivo. In: Parente MAMP, editor, et al. Cognição e envelhecimento. Porto Alegre: Artmed; 2006. Cap. 2. 12 Medeiros MHR. Terapia Ocupacional: um enfoque epistemológico e social. São Carlos: EdUFSCAR; 2003. 13 Francisco BR. Terapia ocupacional. 2. ed. Campinas: Papirus; 2001. 14 Neistadt ME, Crepeau EB. Introdução à terapia ocupacional. In: Neistadt ME, Crepeau EB, orgs. Terapia ocupacional – Willard & Spackman. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p.3-9.
  • 12. 474474474474474 REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., 2009; 12(3):463-474 REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20 15 Pedretti LW, Early MB. Desempenho ocupacional e modelos de prática para disfunção física. In: Pedretti LW, Early MB, orgs.Terapia ocupacional: capacidades práticas para as disfunções físicas. São Paulo: Roca; 2005. Cap.1. 16 American Occupational Therapy Association - AOTA. Terminologia uniforme para a terapia ocupacional. In: Neistadt ME, Crepeau EB, orgs. Terapia ocupacional – Willard & Spackman. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. Apêndice F. 17 Hagedorn R. Fundamentos para a prática em terapia ocupacional. São Paulo: Roca; 2003. 18 Glogoski C. Doença de Alzheimer. In: Pedretti LW, Early MB, orgs. Terapia ocupacional: capacidades práticas para as disfunções físicas. São Paulo: Roca; 2005. p.742-51. 19 Hagedorn R. Fundamentos para a prática em terapia ocupacional. São Paulo: Roca; 1999. 20 Holderbaum CS, et al. A intervenção cognitiva para pacientes portadores de demência do tipo Alzheimer. In: Parente MAMP, et al. Cognição e envelhecimento. Porto Alegre: Artmed; 2006. Cap.16. 21 Reed KL. Teoria e estrutura de referência. In: Neistadt ME, Crepeau EB, orgs. Terapia Ocupacional – Willard & Spackman. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p. 485-7. 22 Parente MAMP, et al. Cognição e envelhecimento.PortoAlegre:Artmed;2006. 23 Ferrari MACF. A terapia ocupacional na reabilitação do portador de Alzheimer. MundodaSaúde2001out-dez;25(4):p.425-29. 24 Camara VD, et al. Atendimento interdisciplinar a pacientes com demência e seus cuidadores. Arquivos de Geriatria e Gerontologia 1998; 2(1): p.11-21. Recebido: 17/7/2007 Revisado: 28/5/2008 Revisado: 14/10/2008 Aprovado: 11/3/2009