O documento discute a sub-representação de negros em posições de liderança no futebol brasileiro. Apesar de negros serem comumente jogadores, eles raramente ocupam cargos de treinador ou gerente. O artigo entrevista o treinador Jorge Luís Andrade da Silva, que acredita que enfrenta dificuldades em encontrar um novo emprego devido ao racismo.
1. 6
FIM DE JO GO
PARA O RACISMO
ESPECIAL CONS CI ÊNCIA N EGRA
Negro em campo
é regra, mas no
comando, exceção
ANDRÉ UZÊDA E MAÍRA AZEVEDO
A miudeza de um colar e um
chocolate são símbolos fortes
para traduzir a luta por afirmação racial nos primórdios do futebol brasileiro. A conquista de
lugar no campo foi ampliada,
mas para cargos de comando a
luta persiste.
O personagem para começar
a contar essa história é Leônidas
da Silva, que, de acusado pelo
furto de uma joia, virou referência de arte no futebol a ponto
de dar nome a um chocolate
fino: Diamante Negro, uma gostosa ironia com a acusação.
Em 1932, quando o esporte
ainda era regido pelas regras do
amadorismo, Leônidas da Silva,
BARREIRA Dentre os 20 clubes que formam a elite do futebol brasileiro há
apenas dois sob o comando técnico de afrodescendentes: Bahia e Flamengo
Márcia Feitosa/ Vipcomm/ 5.3.2010
ENTREVISTA Jorge Luís Andrade da Silva
DUVIDAM DA CAPACIDADE DE UM NEGRO
PARA TRABALHAR COMO TREINADOR
em 2009 e ganhar o título.
Como jogador, Jorge Luís Andrade da Silva, 56 anos, ficou conhecido
pela precisão e elegância dos passes. Em 2009, era auxiliar no
Flamengo quando teve que assumir o comando após a demissão
do técnico Cuca. Após uma vitória contra o Santos, o Flamengo sob
o comando de Andrade fez uma arrancada histórica e conquistou o
Campeonato Brasileiro. Com seis títulos nacionais – cinco como
jogador e um como técnico–, além de campeão da Libertadores da
América e de um Mundial de Clubes, Andrade está há um ano e seis
meses desempregado. O motivo, segundo ele, é o racismo.
CLEIDIANA RAMOS
Você está há quanto tempo sem
treinar um time?
Um ano e meio.
Você tem uma extensa experiência como jogador e também como
técnico, afinal foi campeão em
2009 com o clube mais popular do
País, que é o Flamengo. A dificuldade é por conta do racismo?
Não tenho nenhuma dúvida.
Como jogadores os negros
são até bem vistos, mas na
hora de assumir o comando
de um clube aí aparecem as
dificuldades. Duvidam da capacidade de um negro como
treinador e quando está trabalhando ele é, certamente,
Você fez um trabalho que era
difícil no Flamengo. O grupo tinha jogadores consagrados,
mas com vários problemas técnicos e também políticos.
Eu sabia do potencial dos jogadores e aliei o que pensava
como esquema tático a muita
conversa para que, no caso de
alguns, recuperassem a confiança e no caso de outros
percebessem o talento que
carregavam. O resultado foi o
título para o Flamengo depois
de 17 anos.
bem mais cobrado.
Como foi a sua preparação para
passar da condição de jogador a
treinador?
As pessoas, geralmente, pensam que eu caí de paraquedas
no Flamengo e que meu papel
era administrar crises. Não é
assim. Eu fiz cursos e me preparei. Como técnico comecei
no CFZ, ao lado de Zico, onde
treinei a base, juniores e o
profissional na segunda divisão do Campeonato Carioca.
Tive uma passagem na Seleção Brasileira treinando o
Sub-17. O grupo foi campeão
sul-americano. No Flamengo
fui auxiliar de 11 técnicos até
assumir o comando do time
Em 2010 você foi demitido do
Flamengo ou quis sair?
Fui demitido com 76% de
aproveitamento somando a
disputa do Estadual e da Libertadores da América.
Após a saída do Flamengo onde
você trabalhou?
Fiz dez ou 12 jogos com o
Brasiliense (na série B); três
pelo Paysandu e treinei o Boa
Vista no Estadual do Rio de
Janeiro por sete jogos. De lá
para cá é um ano e meio sem
trabalhar. Será que meu currículo não é suficiente para ter
uma nova chance quando os
treinadores entram e saem do
comando dos clubes?
EXCLUSÃO NA
ARBITRAGEM
Raul Spinassé / Ag. A TARDE
ESPERA PARA
ASCENSÃO
O Bahia é o
segundo time
onde Cristóvão
Borges atua
como
treinador
Até agora
nenhum
árbitro negro
do Brasil
apitou uma
Copa
CAMISA
COMEMORATIVA
O Vasco lançou
este ano
uma camisa
comemorativa da
sua luta contra
o racismo
SALVADOR QUARTA-FEIRA 20/11/2013
Andrade aponta
racismo como
causa do seu
desemprego
então no Bonsucesso do Riode
Janeiro, virou alvo de uma campanha difamatória.
Sua presença em campo era
acompanhada pela vaia das arquibancadas, o coro de reprovação dos times rivais e ataques
implacáveis dos jornais.
Segundo narra o jornalista
Mário Filho, no clássico O Negro
no Futebol Brasileiro (1947),
uma mulher da alta sociedade
carioca acusou o jogador, então
com 18 anos, de ter furtado um
colar que ela possuía.
Leônidas virou peça de chacota dos adversários, passando a
conviver com os brados impiedosos de “olha o colar”, “preto
sem-vergonha” e “negro sujo”.
O Bonsucesso chegou a pagar