O documento discute como o PT e Lula mudaram após o mensalão de 2005, tornando-se mais focados no interior pobre e nordeste do Brasil. Também analisa como Dilma está tentando reforçar a imagem do passado de Lula, mas que seus 35% de intenções de voto atuais provavelmente serão seu teto, dependendo das regiões historicamente favoráveis ao PT.
1. 1. O mensalão-2005 produziu mudanças importantes no PT e em Lula. O partido que vinha sendo
dirigido pela esquerda –dita revolucionária- passou a ser dirigido pelos sindicalistas da CUT que,
por estarem dentro das multinacionais, são sistêmicos. As medidas adotadas pós-crise de 2008
mostram isso. Lula também mudou. Despiu-se do macacão de líder sindical e colocou o chapéu
de palha de migrante nordestino e passou a usar uma comunicação religiosa, com o povo como
entidade. O PT eleitoral deixou de ser um partido urbano universitário-sindical e passou a ser o
partido do interior pobre, especialmente do Nordeste.
2. Qualquer mapa georreferenciado mostra isso. Nem Lula em 2006, nem Dilma na garupa de
Lula em 2010, se elegeriam sem o interior pobre somado à periferia social urbana. Mas numa
democracia de público, o personagem é decisivo num processo eleitoral. Nesse sentido, ele deve
representar, em sua coreografia, o eleitor que dá base à sua vitória.
3. Em 2010 Lula foi o candidato disfarçado de Dilma, a ponto de pesquisas identificarem
percepções do eleitor que Dilma era a esposa de Lula. A democracia de bens de consumo e o
crescimento do PIB pintaram o cenário eleitoral.
4. O ponto de inflexão agora é que, depois de 4 anos, Dilma não tem mais como vestir-se de Lula.
Sendo ela um quadro político urbano de esquerda, firmou essa imagem, que procura aprofundar.
Por isso vende tanto uma postura anti-ianque no episódio da espionagem. Reforça a imagem do
ex-PT e do ex-Lula, exatamente onde o PT e Lula não têm mais hegemonia eleitoral. Reforça o
passado.
5. As pesquisas atuais, uma vez georreferenciadas, mostram que os 35% de Dilma ainda
sobrevivem pelas regiões do PT e de Lula pós-mensalão-2005. Mas assim mesmo numa curva
declinante. Lula, Lula e Dilma, tiveram no primeiro turno 43% dos votos (2002, 2006, 2010).
Esses 35% de intenções de voto um ano antes da eleição, sem que os adversários tenham sua
visibilidade, com uma economia trôpega e com uma imagem outra vez urbana serão seu teto
numa campanha eleitoral.
6. Mas ainda darão para chegar –mancando- no segundo turno. E –uma vez aí- qualquer um dos
candidatos que passe para o segundo turno a vencerá, provavelmente com facilidade. Quem
duvidar que teste em pesquisa trabalhando cenários e não o passado.