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PROGRAMA BNB DE CULTURA – EDIÇÃO 2011 –
              PARCERIA BNDES
PROJETO: PANACÉIA VIAJANTE, CIRCULAÇÃO DO ESPETÁCULO
                      DOROTÉIA



                HEBE ALVES DA SILVA




            UM INTÉRPRETE DO TEMPO



                                  Artigo apresentado ao Programa BNB
                                  (Banco do Nordeste) de Cultura e ao
                                  BNDES       (Banco     Nacional    de
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                                  projeto Panacéia Viajante, Circulação
                                  do Espetáculo Dorotéia.




                       Salvador
                         2011
Um intérprete do tempo – artigo por Hebe Alves



                                    RESUMO

A troca de experiência é fator de ampliação de horizontes e o intercâmbio figura no
rol dos fatores de decisiva influência em processos de mudanças no âmbito teatral.
O conhecimento produzido por meio do contato com práticas artísticas diversas
conduz à percepção de novos modos de configuração cênica. O espaço da criação
teatral é dotado de uma força que lhe vem da própria função: o da exposição, o de
se organizar para o olhar do outro. Vale lembrar que a encenação teatral labora
sobre uma matéria muito delicada que é o ator em sua totalidade. Ele é o mediador
de um debate acerca da trajetória humana que se processa quando artistas e
técnicos, reunidos em um espaço comum, se dedicam às considerações
estimuladas pelas circunstâncias apresentadas pelo espetáculo. A diversidade de
públicos e razões da permanência do teatro como manifestação artística de
inquestionável valor para o entendimento do homem, ampara a afirmativa de que a
discussão sobre os modos de atuação do ator de teatro não se esgota. A promoção
de eventos, como oficinas de teatro e palestras, cria uma dinâmica notável no
processo de desenvolvimento artístico de uma maneira geral, tanto por meio da
diversificação de veículos de difusão de seu trabalho, quanto por intermédio de seu
engajamento em projetos de natureza artístico cultural nos quais se propõe uma
reflexão sobre dado tema ou procedimento técnico. Isto compreende um trabalho de
consequente articulação de um claro projeto de atuação e ampla compreensão dos
temas abordados a cada novo espetáculo. Como co-criador, é tarefa do ator
desenvolver uma particular percepção do texto, do desenho cênico da cena e,
também, ser capaz de integrar todos os elementos da montagem através do
entendimento da proposta cênica em construção. O ator é também seu autor.


Palavras-chave: Formação do ator; conhecimento; intercâmbio; público.
Um intérprete do tempo




      A troca de experiência é fator de ampliação de horizontes e o intercâmbio
figura no rol dos fatores de decisiva influência em processos de mudanças no âmbito
teatral. O conhecimento produzido por meio do contato com práticas artísticas
diversas, como se tem comprovado ao longo da história do teatro, conduz à
percepção de novos modos de configuração cênica. O espetáculo teatral ordena-se
a partir de determinados princípios que orientam sua criação. O encenador, porém,
ao realizar a sua escrita cênica, o faz segundo critérios pessoais, articulando os
elementos do espetáculo de um modo particular. Se, por um lado, essa escrita
reflete uma visão de mundo específica, que se traduz num estilo próprio, por outro,
remete a procedimentos comuns a uma dada linguagem artística.

      O espaço da criação teatral é dotado de uma força que lhe vem da própria
função: o da exposição, o de se organizar para o olhar do outro. Os artistas de teatro
se entregam, apaixonadamente, à tarefa de criar uma nova cena. O resultado é
processo curioso onde ocorre a moldagem de um determinado caráter e onde,
também o ator se molda. Ele se prepara para atuar apoiado em uma partitura que
lhe exige o emprego de musculatura que lhe garanta o desempenho. Vale lembrar
que a encenação teatral labora sobre uma matéria muito delicada que é o ator em
sua totalidade.

      O ator é o mediador de um debate acerca da trajetória humana que se
processa quando artistas e técnicos, reunidos em um espaço comum, se dedicam às
considerações estimuladas pelas circunstâncias apresentadas pelo espetáculo.

      A diversidade de públicos e razões da permanência do teatro como
manifestação artística de inquestionável valor para o entendimento do homem,
ampara a afirmativa de que a discussão sobre os modos de atuação do ator de
teatro não se esgota.

      Quando se assiste a um filme de uma determinada época, ou se observa
fotos de filmes ou peças, é possível identificar no trabalho do intérprete certos traços
característicos desta época. Isto porque, a elaboração da cena está diretamente
vinculada à lógica, aos princípios e valores que sustentam um padrão tornado
comum aos sujeitos de dado período histórico, configurando o que se convencionou
chamar de ar dos tempos.

      No momento atual, não é diferente. Novas realizações apresentam
configurações particulares, nas quais o desempenho do ator exibe a complexidade
da articulação dos vários elementos e dispositivos que a constituem. Então, na
elaboração de hipóteses sobre os fatores presentes em sua formação, além dos
termos técnicos que nomeiam seus recursos e dos objetos que sustentam o seu
desempenho, surgem novos conceitos na tentativa de traduzir uma nova percepção
sobre sua prática artística no cenário contemporâneo, quer em grupo ou
isoladamente.

      O processo desenvolvido para a construção de um espetáculo envolve tanto o
conhecimento teatral prévio adquirido pelo ator ao longo de sua formação
profissional, como também aquele obtido por meio da aproximação com técnicas e
princípios exigidos pelo contexto da montagem. Ou mesmo por intermédio de sua
própria curiosidade artística, que o conduz ao encontro de novas abordagens sobre
o atrativo universo das realizações cênicas. Esta atração provoca a necessidade de
intercâmbio e de contato constante com outros artistas e público em geral.

      A promoção de eventos, como oficinas de teatro e palestras, cria uma
dinâmica notável no processo de desenvolvimento artístico de uma maneira geral.
Propicia a reunião de integrantes de determinado grupo com a comunidade local,
desperta a curiosidade sobre a história da cidade e difunde o conhecimento
produzido no âmbito da arte teatral. Desta forma, ocorre a apropriação de princípios
de conhecimento técnico, fatores que promovem o crescimento pessoal e artístico
dos envolvidos, de modo a colocar no centro da discussão temas relevantes ao
trabalho do ator na atualidade.

      Nem diva, nem santo é o ator, mas um honesto e dedicado parceiro do
espectador num jogo onde o grande tento é a compreensão de si e do mundo que o
cerca. Um parceiro capaz de entranhar-se em um processo de modo a se apropriar
de cada um de seus componentes à luz de suas referências e propósitos, de forma a
se colocar com propriedade diante da questão levantada pela montagem. Quanto
maior for a relevância da proposta, mais exigirá dele e mais o proporcionará em
termos de amadurecimento e reconhecimento.
Hoje, cada vez mais, se observa que o ator busca ampliar seus horizontes,
tanto por meio da diversificação de veículos de difusão de seu trabalho, quanto por
intermédio de seu engajamento em projetos de natureza artístico cultural nos quais
se propõe uma reflexão sobre dado tema ou procedimento técnico. Colaborativo, ele
se distingue daquele a quem bastava preparar o seu papel e desempenhar
pontualmente sua função ao longo das temporadas, alheio aos percalços
enfrentados e às discussões suscitadas pela peça apresentada. Afinal, o diretor
falaria por ele. Vale notar que este comportamento atendia a exigência de uma
determinada época, onde as hierarquias estavam claramente estabelecidas e
respeitadas, e também que, de certa forma, os conflitos estavam polarizados: certo e
errado; direita e esquerda; patrão e empregado etc., o mundo do isto ou aquilo.
Neste contexto, a presença de um diretor todo-poderoso incontestável era afirmada.
Era o tempo das certezas absolutas.

      Hoje, entretanto, o que se observava é um crescente movimento de teatro de
grupo e não só o destaque das idiossincráticas individualidades artísticas daquele
período.

      Assim, o que se propõe é que se indague sobre o quanto o intérprete está
disposto a investir no enfrentamento dos desafios que envolvem a consolidação de
uma carreira na atualidade. Mas que também se deixe embalar por seus sonhos,
saiba reconhecer o seu palco e se fortaleça a cada novo encontro com o seu
público.

      Isto compreende um trabalho de consequente articulação de um claro projeto
de atuação e ampla compreensão dos temas abordados a cada novo espetáculo.
Pois que apropriação, como o termo é aqui empregado, significa desenvolver uma
particular percepção do texto, do desenho cênico da cena e, também, ser capaz de
integrar todos os elementos da montagem através do entendimento da proposta
cênica em construção, tornando-se efetivamente seu co-criador.

      Desse modo, a concepção deixa de ser uma criação isolada do diretor da qual
o ator toma parte apenas como executor de uma partitura de autoria de um outro. O
ator é também seu autor. É neste trânsito que ele perde a ilusão de que o fato de ser
dotado para a cena o torna um ser especial, mesmo se sabendo portador de certas
qualidades que diferenciam o seu desempenho. O importante é que ele reconheça
também que, para tanto, foi-lhe necessário o cultivo de uma atitude criativa,
consciente e de honesto questionamento sobre a qualidade do trabalho por ele
defendido. É a partir dessa perda de inocência sobre o movimento da engrenagem
da qual faz parte, que o ator se constitui em intérprete do seu tempo. Para tanto, é
que ele é encorajado a averiguar o caráter de suas motivações. Pois é com o olhar
construído a partir da conscientização de suas necessidades particulares e pela teia
urdida pelos sentidos, a cada comprometimento com determinado projeto, que o ator
se torna protagonista de uma história que começou antes dele e que com ele não
terminará: as histórias daqueles que descobriram o teatro como razão de ser e estar
no mundo.

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Um Intérprete do Tempo (artigo por hebe alves)

  • 1. PROGRAMA BNB DE CULTURA – EDIÇÃO 2011 – PARCERIA BNDES PROJETO: PANACÉIA VIAJANTE, CIRCULAÇÃO DO ESPETÁCULO DOROTÉIA HEBE ALVES DA SILVA UM INTÉRPRETE DO TEMPO Artigo apresentado ao Programa BNB (Banco do Nordeste) de Cultura e ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento), resultante do projeto Panacéia Viajante, Circulação do Espetáculo Dorotéia. Salvador 2011
  • 2. Um intérprete do tempo – artigo por Hebe Alves RESUMO A troca de experiência é fator de ampliação de horizontes e o intercâmbio figura no rol dos fatores de decisiva influência em processos de mudanças no âmbito teatral. O conhecimento produzido por meio do contato com práticas artísticas diversas conduz à percepção de novos modos de configuração cênica. O espaço da criação teatral é dotado de uma força que lhe vem da própria função: o da exposição, o de se organizar para o olhar do outro. Vale lembrar que a encenação teatral labora sobre uma matéria muito delicada que é o ator em sua totalidade. Ele é o mediador de um debate acerca da trajetória humana que se processa quando artistas e técnicos, reunidos em um espaço comum, se dedicam às considerações estimuladas pelas circunstâncias apresentadas pelo espetáculo. A diversidade de públicos e razões da permanência do teatro como manifestação artística de inquestionável valor para o entendimento do homem, ampara a afirmativa de que a discussão sobre os modos de atuação do ator de teatro não se esgota. A promoção de eventos, como oficinas de teatro e palestras, cria uma dinâmica notável no processo de desenvolvimento artístico de uma maneira geral, tanto por meio da diversificação de veículos de difusão de seu trabalho, quanto por intermédio de seu engajamento em projetos de natureza artístico cultural nos quais se propõe uma reflexão sobre dado tema ou procedimento técnico. Isto compreende um trabalho de consequente articulação de um claro projeto de atuação e ampla compreensão dos temas abordados a cada novo espetáculo. Como co-criador, é tarefa do ator desenvolver uma particular percepção do texto, do desenho cênico da cena e, também, ser capaz de integrar todos os elementos da montagem através do entendimento da proposta cênica em construção. O ator é também seu autor. Palavras-chave: Formação do ator; conhecimento; intercâmbio; público.
  • 3. Um intérprete do tempo A troca de experiência é fator de ampliação de horizontes e o intercâmbio figura no rol dos fatores de decisiva influência em processos de mudanças no âmbito teatral. O conhecimento produzido por meio do contato com práticas artísticas diversas, como se tem comprovado ao longo da história do teatro, conduz à percepção de novos modos de configuração cênica. O espetáculo teatral ordena-se a partir de determinados princípios que orientam sua criação. O encenador, porém, ao realizar a sua escrita cênica, o faz segundo critérios pessoais, articulando os elementos do espetáculo de um modo particular. Se, por um lado, essa escrita reflete uma visão de mundo específica, que se traduz num estilo próprio, por outro, remete a procedimentos comuns a uma dada linguagem artística. O espaço da criação teatral é dotado de uma força que lhe vem da própria função: o da exposição, o de se organizar para o olhar do outro. Os artistas de teatro se entregam, apaixonadamente, à tarefa de criar uma nova cena. O resultado é processo curioso onde ocorre a moldagem de um determinado caráter e onde, também o ator se molda. Ele se prepara para atuar apoiado em uma partitura que lhe exige o emprego de musculatura que lhe garanta o desempenho. Vale lembrar que a encenação teatral labora sobre uma matéria muito delicada que é o ator em sua totalidade. O ator é o mediador de um debate acerca da trajetória humana que se processa quando artistas e técnicos, reunidos em um espaço comum, se dedicam às considerações estimuladas pelas circunstâncias apresentadas pelo espetáculo. A diversidade de públicos e razões da permanência do teatro como manifestação artística de inquestionável valor para o entendimento do homem, ampara a afirmativa de que a discussão sobre os modos de atuação do ator de teatro não se esgota. Quando se assiste a um filme de uma determinada época, ou se observa fotos de filmes ou peças, é possível identificar no trabalho do intérprete certos traços característicos desta época. Isto porque, a elaboração da cena está diretamente vinculada à lógica, aos princípios e valores que sustentam um padrão tornado
  • 4. comum aos sujeitos de dado período histórico, configurando o que se convencionou chamar de ar dos tempos. No momento atual, não é diferente. Novas realizações apresentam configurações particulares, nas quais o desempenho do ator exibe a complexidade da articulação dos vários elementos e dispositivos que a constituem. Então, na elaboração de hipóteses sobre os fatores presentes em sua formação, além dos termos técnicos que nomeiam seus recursos e dos objetos que sustentam o seu desempenho, surgem novos conceitos na tentativa de traduzir uma nova percepção sobre sua prática artística no cenário contemporâneo, quer em grupo ou isoladamente. O processo desenvolvido para a construção de um espetáculo envolve tanto o conhecimento teatral prévio adquirido pelo ator ao longo de sua formação profissional, como também aquele obtido por meio da aproximação com técnicas e princípios exigidos pelo contexto da montagem. Ou mesmo por intermédio de sua própria curiosidade artística, que o conduz ao encontro de novas abordagens sobre o atrativo universo das realizações cênicas. Esta atração provoca a necessidade de intercâmbio e de contato constante com outros artistas e público em geral. A promoção de eventos, como oficinas de teatro e palestras, cria uma dinâmica notável no processo de desenvolvimento artístico de uma maneira geral. Propicia a reunião de integrantes de determinado grupo com a comunidade local, desperta a curiosidade sobre a história da cidade e difunde o conhecimento produzido no âmbito da arte teatral. Desta forma, ocorre a apropriação de princípios de conhecimento técnico, fatores que promovem o crescimento pessoal e artístico dos envolvidos, de modo a colocar no centro da discussão temas relevantes ao trabalho do ator na atualidade. Nem diva, nem santo é o ator, mas um honesto e dedicado parceiro do espectador num jogo onde o grande tento é a compreensão de si e do mundo que o cerca. Um parceiro capaz de entranhar-se em um processo de modo a se apropriar de cada um de seus componentes à luz de suas referências e propósitos, de forma a se colocar com propriedade diante da questão levantada pela montagem. Quanto maior for a relevância da proposta, mais exigirá dele e mais o proporcionará em termos de amadurecimento e reconhecimento.
  • 5. Hoje, cada vez mais, se observa que o ator busca ampliar seus horizontes, tanto por meio da diversificação de veículos de difusão de seu trabalho, quanto por intermédio de seu engajamento em projetos de natureza artístico cultural nos quais se propõe uma reflexão sobre dado tema ou procedimento técnico. Colaborativo, ele se distingue daquele a quem bastava preparar o seu papel e desempenhar pontualmente sua função ao longo das temporadas, alheio aos percalços enfrentados e às discussões suscitadas pela peça apresentada. Afinal, o diretor falaria por ele. Vale notar que este comportamento atendia a exigência de uma determinada época, onde as hierarquias estavam claramente estabelecidas e respeitadas, e também que, de certa forma, os conflitos estavam polarizados: certo e errado; direita e esquerda; patrão e empregado etc., o mundo do isto ou aquilo. Neste contexto, a presença de um diretor todo-poderoso incontestável era afirmada. Era o tempo das certezas absolutas. Hoje, entretanto, o que se observava é um crescente movimento de teatro de grupo e não só o destaque das idiossincráticas individualidades artísticas daquele período. Assim, o que se propõe é que se indague sobre o quanto o intérprete está disposto a investir no enfrentamento dos desafios que envolvem a consolidação de uma carreira na atualidade. Mas que também se deixe embalar por seus sonhos, saiba reconhecer o seu palco e se fortaleça a cada novo encontro com o seu público. Isto compreende um trabalho de consequente articulação de um claro projeto de atuação e ampla compreensão dos temas abordados a cada novo espetáculo. Pois que apropriação, como o termo é aqui empregado, significa desenvolver uma particular percepção do texto, do desenho cênico da cena e, também, ser capaz de integrar todos os elementos da montagem através do entendimento da proposta cênica em construção, tornando-se efetivamente seu co-criador. Desse modo, a concepção deixa de ser uma criação isolada do diretor da qual o ator toma parte apenas como executor de uma partitura de autoria de um outro. O ator é também seu autor. É neste trânsito que ele perde a ilusão de que o fato de ser dotado para a cena o torna um ser especial, mesmo se sabendo portador de certas qualidades que diferenciam o seu desempenho. O importante é que ele reconheça
  • 6. também que, para tanto, foi-lhe necessário o cultivo de uma atitude criativa, consciente e de honesto questionamento sobre a qualidade do trabalho por ele defendido. É a partir dessa perda de inocência sobre o movimento da engrenagem da qual faz parte, que o ator se constitui em intérprete do seu tempo. Para tanto, é que ele é encorajado a averiguar o caráter de suas motivações. Pois é com o olhar construído a partir da conscientização de suas necessidades particulares e pela teia urdida pelos sentidos, a cada comprometimento com determinado projeto, que o ator se torna protagonista de uma história que começou antes dele e que com ele não terminará: as histórias daqueles que descobriram o teatro como razão de ser e estar no mundo.