1. Entrevista
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Podemos chamá-la de líder da extrema
direita francesa?$)UHQWH1DFLRQDO
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O atentado à redação do Charlie Hebdo,
em Paris, fortaleceu o seu movimento?
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Unidos pelo nacionalismo
NATHALIA WATKINS, DE ESTRASBURGO
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A aversão ao liberalismo e o antiamericanismo da mulher que pode se tornar a próxima
presidente da França são a prova de que a direita e a esquerda se encontram nos extremos
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ČA Rússia não é um
agressor. Foram os Estados
Unidos que criaram as
condições para o
conflito na Ucrânia”
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4. Entrevista
14 | 25 DE FEVEREIRO, 2015 | ģ
fundamentalismo islâmico e punha em
risco nossa segurança interna.
A senhora é favorita nas pesquisas de
intenção de voto para o pleito de
2017. Qual seria sua primeira medida
como presidente da França? Devolver
aos franceses seus direitos, sua sobera-
nia. Hoje, com a União Europeia (UE),
nossos direitos foram retirados. Não
controlamos nossas fronteiras. Nosso
orçamento e nossas leis são inferiores
àqueles impostos pelos tecnocratas eu-
ropeus. Quero o poder para devolvê-lo
ao povo. Para isso, pretendo organizar
um referendo sobre a saída da UE, que
é um modelo totalitário.
Que dados justificariam a saída da
França da UE? Um dos continentes
mais ricos do mundo está falido. Isso
começou com o euro. O desemprego e
a pobreza explodiram. Nossas econo-
mias estão em crise. As políticas de
austeridade criaram um sofrimento
imenso. Hoje a UE é sinônimo de guer-
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em Kosovo, a luta econômica que co-
loca os povos uns contra os outros e
elimina direitos sociais. Isso criou o
que chamo de “dumping social”, que
agora se torna também ambiental e
monetário.
O que é exatamente o “dumping so-
cial”? É a eliminação dos direitos so-
ciais locais que exacerba a concorrên-
cia entre os trabalhadores, produzindo
um efeito do qual apenas algumas
multinacionais se aproveitam.
Não foi justamente o fim dos naciona-
lismos e do protecionismo econômi-
co, dois pilares da UE, que garantiu
tantas décadas de paz na Europa?
Isso é uma grande mentira. Foi a paz
que permitiu a construção da UE, e
não o contrário.
Então o que produziu a paz, em sua
opinião? Foram a vontade das nações e
o aprendizado com os erros das guer-
ras do passado que evitaram novos
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americana. Para defenderem seus inte-
resses, os Estados Unidos mostraram-
se dispostos a lançar uma guerra no
seio da Europa depois de terem feito
o mesmo por todo o Oriente Médio.
O que a senhora acha da coalizão in-
ternacional, liderada pelos Estados
Unidos, para combater o Estado Islâ-
mico (Isis)? A França está indo atrás
dos americanos, que estão deslegitima-
dos naquela parte do mundo. Eles são
responsáveis pelo desequilíbrio da re-
gião, pela ascensão do Isis e do funda-
mentalismo islâmico. Quero a França
com uma diplomacia independente.
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cia. Isso foi perdido. Estamos submis-
sos à diplomacia americana.
Os Estados Unidos devem mandar ar-
mas aos ucranianos? Não. A Rússia
não é um agressor. Foram os Estados
Unidos que criaram as condições para
a violência na Ucrânia. São os euro-
peus que devem solucionar esse pro-
blema. Os americanos não têm nada
que fazer em nosso território.
Seria melhor que os Estados Unidos
não fizessem nada? Eles deveriam pa-
rar de tentar ser os policiais do mundo.
Se os Estados Unidos não ajudarem,
como os ucranianos poderão se de-
fender? Como não há agressão, não
há do que se defender. São os ucrania-
nos que estão bombardeando parte de
sua população civil. O resultado das
conversas diplomáticas deve incluir a
federalização da Ucrânia, mas para is-
so é preciso um compromisso de que
Kiev não se junte à Organização do
Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Isso é desejo dos americanos, que
querem, por meio da Otan, abrir fren-
tes até a fronteira russa, o que é inad-
missível para Moscou.
O papel da Otan não seria impedir ou
pelo menos retardar o expansionismo
de Putin? A Otan não tem razão de
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tica, essa entidade deveria ter sido
dissolvida. Em vez disso, ela se tor-
nou uma arma nas mãos dos Estados
Unidos. A Rússia e Vladimir Putin,
por outro lado, não têm nenhuma pre-
tensão expansionista. Só o que fazem
é responder a uma agressão dos ame-
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econômica.
O Brasil tem uma empresa energética,
a Petrobras, que, por ser estatal, vi-
rou presa da corrupção. Não é um
contrassenso defender a estatização
hoje? Acho que os governos precisam
atuar a partir de uma estratégia, mas
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tudo. É precisamente quando há pes-
soas que só pensam no próprio bolso
e põem a mão em bens do Estado que
se deve intervir.
Nicolás Maduro, na Venezuela, tam-
bém fala, a exemplo da senhora, em
defesa de interesses nacionais, mas
os resultados são desastrosos. A se-
nhora admira esse pessoal? Uma na-
ção precisa preservar sua identidade
econômica e fazer escolhas que são
do interesse do povo. Olhe só a ques-
tão da indústria do aço na França. Um
país grande como o nosso, com uma
grande indústria de armamentos, não
pode depender de uma multinacional
estrangeira e fundos de investimentos
ČNo século XX,
houve dois tipos
de totalitarismo:
o comunismo e o
nazismo. Os de hoje
são o islamismo, que
quer impor a lei
muçulmana a tudo,
e a globalização, que
reconhece apenas
a lei do comércioď
MARINE LE PEN
5. ģ|'()(9(5(,52|
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Hugo Chávez era um político de es-
querda. Qual é sua opinião sobre ele?
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Os venezuelanos que já protestaram
contra o governo julgaram de maneira
errônea o ex-presidente Chávez?3R-
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A senhora apoiou a ascensão do parti-
do de esquerda Syriza, na Grécia?
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A senhora acredita ou vê progressos
nas iniciativas de muçulmanos mode-
rados dispostos a agir com o objetivo
de conter a radicalização?8PDJUDQGH
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A senhora concorda que, no passa-
do, o período de bonança econômica
na Europa se deveu aos imigrantes?
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Deportar imigrantes é uma solução?
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DWUDWLYLGDGHGRQRVVRSDËVMXQWRÃV
SRSXODÆÔHVSREUHVTXHWÈPDLQWHQÆÅR
GHYLUSDUDFÀ
O que fazer com os filhos de imigran-
tes que foram se juntar a extremistas
na Síria e no Iraque e agora querem
retornar à França?(XRVPDQGDULDGH
YROWDDROXJDUGHRQGHYLHUDP
Como a senhora explica que judeus na
França tenham medo da ascensão da
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GRVUDGLFDLV0DVLQFRQWHVWDYHOPHQWH
WRGRVHVWDPRVQDPLUD ƒ
ČO Syriza, da Grécia,
é uma sigla totalmente
oposta à Frente
Nacional. O que eu
apoio é a vontade do
povo grego de tomar
as rédeas do próprio
destino. Defendo a
vontade de se opor
aos mandos da
União Europeiaď