2. Flávia Obino Corrêa Werle
Banco de dados digital e se apresenta em um texto produzido a seja, entendendo que um objeto ci-
documentação de insti- partir da abordagem de arquivos e de entífico é um sistema de relações in-
tuições escolares memórias, cujo vetor epistemológico tencionalmente construído, e que a
interrogante e problematizador emerge história das instituições escolares é
Roberto DaMatta, ao discutir a for- do pesquisador que dialoga com e a igualmente um objeto construído,
ma como nos referimos à “nossa casa”, partir da teoria e de documentos e fon- acentuamos, juntamente com Mogar-
destaca a importância das operações tes diversas. Os textos que produzem ro (2005), que para tanto é necessá-
de contraste e oposição com outros abordagens da história de instituições rio cruzar as informações de diferen-
domínios e espaços: “o espaço defi- constituem-se como enunciação de tes tipos de documentos, estabele-
nido pela casa pode aumentar ou di- identidade da escola, como versões da cendo um diálogo de complementari-
minuir, de acordo com a outra unidade história institucional (Werle, 2004) as dade e articulação entre variadas fon-
que surge como foco de oposição ou quais podem ser produzidas por pes- tes de informação.
de contraste, [seja a rua, seja a cidade, quisadores bem como pelos diferentes
atores da instituição – alunos, profes- Um objeto de investigação, por mais
o país] [...] Tudo [...] depende do ou-
sores, administradores – e outros pú- parcial e parcelar que seja, não pode
tro termo que está sendo implícita ou
blicos. ser definido e construído senão em
explicitamente contrastado” (DaMat- função de uma problemática teórica
ta, 1987, p. 16). Acentua que estas Assim, o pesquisador, no esforço
que permita submeter a um sistemáti-
operações, junto com uma outra ope- de fazer de uma instituição escolar um co exame todos os aspectos da reali-
ração lógica – o englobamento, “na objeto epistêmico, pela explicitação do dade postos em relação pelos proble-
qual um elemento é capaz de totalizar conjunto de relações e pela adoção mas que lhe são colocados (Bourdieu,
o outro em certas situações específi- de um enfoque de discussão – “a plu- 1990, p. 54).
cas” (DaMatta, 1987, p. 17) –, permi- ralidade das leituras doravante possí-
tem variações, combinações, segmen- veis causa incômodos nem sempre Muitos níveis de análise, planos
tações na discussão do fenômeno em confessados” (Nóvoa, 1998, p. 43) –, de segmentação e de englobamento
estudo. No estudo das instituições apresenta-a sob um determinado as- podem, portanto, ser adotados na
educativas, estes planos de segmen- pecto e, assim fazendo, depara-se com abordagem histórica das instituições
tação e de englobamento parecem um nível de tensão, qual seja o que se escolares. Depoimentos e memórias
também estar presentes. equilibra e debate entre a totalização e de atores em diferentes momentos
A história das instituições escola- uma visão interpretativa parcelar. históricos possibilitam explicar o per-
res é um objeto científico construído a Construir um objeto de reflexão curso da instituição na “perspectiva
partir de relações teóricas compreensi- implica delimitar unidades de concep- experiencial que situa os indivíduos
vas sobre a escola, suas inter-relações ção pelas quais se evidenciam rela- no centro da história sociocultural”
a com entidade mantenedora, com as ções entre fenômenos os quais, sob (Nóvoa, 1998, p. 46). É sempre possí-
demais escolas, com a cidade e com outro recorte, não teriam visibilida- vel que novas produções, criativas
instâncias do sistema educativo, so- de. Assim, a instituição como objeto leituras e releituras de acontecimen-
bre os processos de gestão e base científico de estudo historiográfico, tos institucionais sejam construídas,
material nela empreendidos, bem como de práticas pedagógicas e de gestão, de forma que, ao serem contrastadas
acerca de relações sociais, das práti- é um sistema de relações expressa- com as políticas da época, com pro-
cas pedagógicas e das representações mente construído que ora é registra- cessos históricos anteriores ou pos-
de seus atores. É uma história apresen- do pelo fragmento e focalização de teriores, produzem diferentes aborda-
tada através de sínteses, interpretações aspectos específicos da vida esco- gens ou planos de segmentação da
e processos de análise renovadamen- lar, ora é referido numa perspectiva instituição e dos acontecimentos que
te articulados que produzem uma plu- de integração – que não significa de a cercaram e constituíram. Documen-
ralidade de visões acerca da institui- consenso – com ênfase na contextu- tos produzidos por atores da escola
ção. É uma história que traz sempre a alização e visão global. A expressão, planejando caminhos, definindo ob-
possibilidade de retomada interrogan- na forma de englobamento e/ou frag- jetivos e metas podem ser analisados
te do passado, dos sentidos que lhe mentação, deste conjunto de relações em combinação com dados de pro-
foram e que podem ser atribuídos, é decorre, especialmente, do quadro cura, matrícula, aprovação, permitin-
uma narrativa aberta à apresentação de teórico adotado, bem como do tensi- do uma visão mais ampla da institui-
112 novas dimensões de processos de ges- onamento e dinâmica dos diferentes ção em seus projetos e realizações.
tão, de ações e de novas faces da iden- momentos históricos e da maior ou Indícios de acontecimentos registra-
tidade da instituição. É uma história que menor disponibilidade de fontes. Ou dos em documentos produzidos na
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3. CD-ROM como apoio na pesquisa sobre a identidade e a história institucional
instituição podem dar a ver um seg- zenamento em um CD-ROM de do- nologias a serem utilizados. Ressalta
mento da história institucional. É pos- cumentos de instituições escolares que a salvaguarda de documentos
sível também enfocar os diferentes transpostos para a forma digital e as envolve a possibilidade de transpô-
arranjos estruturais que ocorreram ao interveniências desta tecnologia na los para suportes alternativos com
longo do tempo, analisando compa- renovação e na multiplicação de pos- apoio de tecnologias avançadas.
rativamente o olhar de personagens sibilidades de disseminação da his-
externos ou de atores institucionais; tória institucional. asumida la natural caducidad de los
analisar a base material em diferentes suportes documentales, la conserva-
momentos e fases de ampliação e de Arquivos e preservação ción de los testimonios escritos pasa
necesariamente por su reprografiado
remodelação pelas quais o prédio documental
en suportes alternativos que garanti-
passou; discutir a história das insti- cen, al menos, que el caudal informati-
tuições a partir da memória dos alu- Os arquivos guardam a memória vo de los documentos sobrevivirá ‘ad
nos que nela se formaram ou a partir social, resquícios de comportamentos futuram rei memoriam’. En este sen-
dos alunos que em determinado mo- individuais, de realizações coletivas e tido, la combinación de tecnologías
mento foram dela excluídos; consi- institucionais. Os arquivos instituci- analógicas y digitales permitirá vincu-
derar a cultura escolar decorrente de onais são constituídos e desenvolvi- lar la conservación del documento ori-
propostas de currículo e de progra- ginal y la difusión sin límites de sus
dos seguindo o ritmo dos aconteci-
contenidos lo que, al fin y al cabo, es
mas de ensino, as festas, comemora- mentos históricos e o funcionamento la simbiosis perfecta del ejercicio ar-
ções e os ritos de admissão e titula- das instituições, sejam elas eclesiásti- chivistico (Romero, 2004, p. 10-11).
ção captados em fotos, convites e cas, civis, militares ou educativas.
reportagens de jornais da época. To- Para Romero (2004, p. 12ss.), a prá- Romero destaca que é importante
dos estes são elementos constituti- tica de arquivamento exige decisões combinar a conservação de documen-
vos da história das instituições es- quanto a instalações, conservação, tos originais com as tecnologias di-
colares que explicitam suas diversas descarte, volume de material, acesso gitais para que as informações conti-
faces e que, a partir de variadas pers- e, no momento atual, transposição das nos mesmos tenham sua difusão
pectivas de análise, podem produzir para suportes alternativos. alargada.
narrativas de diferentes níveis, com- As ações de conservação envol- Os arquivos tradicionais implicam
paráveis aos planos de segmentação vem decisões acerca da estrutura, lo- uma organização capaz de indicar o
e de englobamento referidos por Da calização, distribuição, depósito, se- local em que cada tipo de documento
Matta. Cada enfoque é uma tentativa gurança e mobiliário necessário para se situa, onde estão depositados e os
de expressão da história da institui- o arquivamento e guarda de documen- módulos, caixas ou pacotes em que se
ção e, ao mesmo tempo, cada um apre- tos. Quanto à sua instalação interes- encontram, o que exige um registro de
senta um plano de segmentação acer- sa a organização, a estrutura física do tipo cartográfico do local em que os
ca da mesma, uma versão. fundo documental, a tipologia materi- mesmos estão depositados. Em outras
É com esta compreensão da histó- al e o suporte dos documentos, bem palavras, “todo o documento que no
ria das instituições escolares, e que como o provimento, não apenas de está identificado y localizado no exis-
sua construção se dá no tensiona- instalações, mas de ações que visem te, es decir, la localización y la identifi-
mento de níveis de segmentação e identificar os materiais arquivados cación son la principal garantía de
de englobamento, que refletimos so- objetivando seu fácil acesso. É o va- conservación” (Romero, 2004, p. 18).
bre as tecnologias digitais como al- lor das informações contidas nos do- Por outro lado, o espaço físico insti-
ternativa de preservação de docu- cumentos que definirá sua conserva- tucional para guarda de documentos
mentos e ampliação das possibilida- ção ou descarte. Por outro lado, há é finito, enquanto que, ao contrário, a
des de revisitação das marcas da vida que controlar ingressos e transferên- produção documental é progressiva.
institucional. Dentro desta perspec- cias de documentos, bem como a sa- Assim, é fundamental o estabeleci-
tiva de história de instituições esco- nidade dos mesmos, mantendo-os pre- mento de práticas de eliminação e, se
lares, as tecnologias digitais podem servados, afastados de umidade, li- necessário, a substituição dos supor-
ser evocadas para instituir uma outra vres de insetos e, se necessário, pro- tes originais para a salvaguarda da
forma de manter os documentos, am- vendo sua restauração. Importante informação institucional relevante.
pliando as possibilidades de revisi- destacar que, para este autor, a con-
tação, reescrita e reinvenção da his- servação documental no século XXI A reprografía digital aporta [...] al 113
tória institucional. Este texto discute é, fundamentalmente, preservação, o mundo de la conservación considera-
as possibilidades e limites do arma- que incide nos procedimentos e tec- bles beneficios, amén de conectar con
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4. Flávia Obino Corrêa Werle
un medio de difusión a escala univer- vos das instituições escolares, em na Diretoria Nacional de Educação,
sal, fácil manejo y ágil consulta, redu- geral, não se constituem como um do Ministério da Educação e Saúde
ce la utilización de originales y la re- conjunto organizado de documentos Pública. Tal registro exigia prévia ve-
prografía por medios agresivos (Ro- produzidos, recebidos e acumulados rificação da regularidade legal da
mero, 2004, p. 20). pelo estabelecimento para futuras vida escolar dos alunos, com o que
consultas. as listas de pontos de exames e as
Portanto, as novas tecnologias provas escritas, consideradas de
surgem como alternativas de identi- Ainda que as instituições escolares grande valor, não podiam ser incine-
ficação, localização e de conserva- disponham de uma memória escrita, radas nem destruídas, exigindo cui-
ção de documentos, com a vantagem ela encontra-se dispersa em vários dadoso arquivamento e catalogação
de maior facilidade de democratiza- espaços e os arquivos nem sempre
de parte das escolas. Constatamos
ção do acesso. têm constituído para as comunidades
escolares um referente regular, cuja que, progressivamente, o tempo de
informação possa ser utilizada em guarda de documentos que atestam
Arquivos de escolas ações pedagógicas realizadas ao lon-
vários momentos da racionalidade
educativa e da (re)invenção do quoti- go da permanência dos alunos na
A fonte documental para empre- diano (Magalhães, 2001, p. 11). escola foi sendo reduzido de 60 para
ender a história de instituições es- 20 anos e depois para 10 anos, sen-
colares encontra-se, primeiramente, Se utilizássemos as proposições do a contagem estipulada a partir da
nos arquivos dos próprios estabele- de Romero também para os arquivos titulação dos alunos concluintes.
cimentos de ensino e, em segundo de escolas, esses deveriam organi- Nos anos noventa foi definitivamen-
lugar, em arquivos das mantenedo- zar-se por tipologia de materiais, os te eliminada a exigência de guarda
ras e dos órgãos da estrutura hierár- documentos deveriam ser indexados de provas, listas de presença e diári-
quica dos sistemas de ensino. Nos para facilitar o seu acesso e deveria os de classe.
estabelecimentos de ensino situam- ocorrer uma ação consciente de ges- Atualmente, no Brasil como em
se fatos relativos à vida dos alunos tão do arquivo, avaliando a nova outros países, a
os quais, escriturados por meio de documentação que deixa de ser ati-
registros regulares e autênticos, as- va para o cotidiano da escola, de [...] documentação conservada fica
seguram a sua identificação indivi- modo a incorporá-la no acervo do- reduzida a um mínimo que permita
dual e a recuperação de informações cumental, o qual deve ser disposto justificarem a qualquer momento a
referentes à vida pessoal e profissi- em móveis e estantes adequadas e habilitação dos alunos e fazer jus, ain-
da que de forma redutora, ao cumpri-
onal, importantes para o avanço na localizado para facilitar acesso e con-
mento dos princípios legais sobre
carreira profissional, para a compro- sulta. A existência de documentos funcionamento das instituições edu-
vação da formação escolar. Outros não significa que tenhamos um ar- cativas. Como se em um qualquer
dois importantes focos de registro, quivo. Um arquivo implica organiza- momento uma força social, política
entretanto, devem ser acrescidos ao ção, identificação e possibilidade de ou tão-somente fiscalizadora, pudes-
da escrituração da vida escolar dos localização facilitada de documentos. se investir pelo interior das escolas,
alunos, quais sejam, os da vida dos Atualmente as orientações dos pondo em questão a integridade orgâ-
sistemas de ensino quanto aos ar- nica e a forma como os responsáveis
professores e os do próprio estabe-
cumpriram os requisitos legais (bási-
lecimento. quivos escolares se voltam para a
cos) de funcionamento. [...] É por
A legislação brasileira refere os preservação de documentos compro- conseqüência uma lógica de fora para
arquivos escolares como um conjun- batórios. Esta discussão foi detalha- dentro que tem presidido à conserva-
to ordenado de papéis, guardados da em Werle (2002) quando revisa- ção dos materiais escolares. (Maga-
com condições de segurança e orga- mos pareceres referentes a normas lhães, 2001, p. 13).
nização, classificados de modo a fa- de escrituração, arquivo, registros e
cilitar a localização e consulta, que incineração de material escolar. Na Assim, progressivamente, os ar-
documentam e comprovam os fatos década de trinta do século XX, por quivos escolares estão sendo redu-
escolares. Entretanto, embora reco- exemplo, conforme Decreto 24.439 de zidos, eliminados pela incidência de
nhecida a importância destes arqui- 21 de junho de 1934, para que os di- lógicas variadas. A lógica burocráti-
vos, não há nas escolas ações efeti- plomas e certificados de conclusão ca que valoriza o documento estrita-
114 vas e continuadas de instalação, de curso expedidos pelos estabele- mente comprobatório e a lógica mo-
conservação e acessibilidade da do- cimentos de ensino produzissem efei- dernizante que apaga e desvaloriza
cumentação institucional. Os arqui- tos legais, deveriam ser registrados as marcas do passado.
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5. CD-ROM como apoio na pesquisa sobre a identidade e a história institucional
Digitalização e acesso a trabalhar, produzir novas interpreta- mentos históricos da própria escola;
documentos da história ções, se reapropriar e reconhecer a his- poucas têm uma sala de memória ou
institucional tória institucional de diferentes manei- um museu da história institucional.
ras e em diferentes épocas e em varia- No Rio de Janeiro, Ribeiro (1992, p.
Pesquisas realizadas em escolas dos níveis de englobamento e segmen- 48), ao realizar um diagnóstico dos ar-
acerca da história institucional1 têm iden- tação. A posse individual de documen- quivos privados da cidade, relata que
tificado certas práticas de guarda e ar- tos da instituição como prática, mes- encontrou escolas que haviam criado
mazenamento de documentos institu- mo que mantendo a localização dos pequenos museus realizando exposi-
cionais. A documentação escrita, quan- documentos no prédio escolar, priva a ções sobre a sua história e dos bairros
do preservada, por ser muitas vezes própria instituição de utilizar sua his- em que se situavam, mas que não havia
única, sem outras cópias ou exempla- tória como componente inspirador da a mesma preocupação com os arqui-
res, encontra-se em lugar inacessível proposta educativa e restringe as pos- vos escolares. Registra que ora a docu-
ou acessível a poucos dentre os mem- sibilidades de seus atuais colaborado- mentação estava dispersa, ora confu-
bros da comunidade escolar ou da co- res compreenderem seu desenvolvi- samente organizada, misturando-se
munidade externa. Muitas vezes são mento e percurso. documentos de registro de pessoal com
documentos embrulhados em papel Nas instituições escolares, inexis- os de ordem financeira, com os de as-
pardo, amarrados com cordão em forma te a prática de “arranjo” documental, sociações, com os da mantenedora e
de pacotes e armazenados em armários, este entendido como um processo com registros da vida escolar dos alu-
ali esquecidos, passando muitos anos racional de organização em fundos, nos. Não apenas a falta de critério para
sem serem manuseados, ou estão em séries ou itens documentais, ou seja, a organização de arquivos, mas a pre-
pastas, documentos encadernados, não há práticas de organização de valência dada à preservação de docu-
guardados em locais em geral desco- documentos por categorias amplas. mentos aos quais é atribuído um “valor
nhecidos aos responsáveis e profes- Ao contrário, nas escolas encontra- comprobatório” faz com que muitos fa-
sores daquela instituição. Fotos são se a tendência de coleção de docu- tos institucionais sejam desconsidera-
encontradas em envelopes, pacotes e mentos como um conjunto de materi- dos em seu valor e que seja eliminada a
muito raramente em álbuns, sem data, ais sem relação orgânica entre si, ale- documentação a eles referente. Assim,
sem identificação do evento ou local e atoriamente acumulados. Não há ín- uma concepção formalista de manter
das pessoas fotografadas. dices descritivos desses documentos, evidências confirmadoras de atos da
Discutindo o papel dos gestores na permanecendo sob a guarda, humo- administração superior da instituição
preservação da história institucional res, boa-vontade de pessoas que por prevalece como critério de decisão
(Werle, 2001, 2004), afirmamos que, por eles zelam ou os ignoram. Ou seja, não quanto à preservação e guarda de do-
vezes, acontecimentos institucionais havendo uma ação institucional so- cumentação de instituições escolares.
registrados em livros, mensagens, re- bre os documentos, o que ocorre é a Nas instituições estudadas duran-
latórios, ofícios, fotos, correm o risco sua dispersão (Nunes, 1992, p. 43). te o desenvolvimento dos projetos de
de serem tratados como pertencentes Há escolas em que a documenta- pesquisa referidos, confirmamos as
não à instituição mas à pessoa ou pes- ção institucional está acessível a práticas discutidas por Ribeiro, pois,
soas que cuidam dos arquivos, livros quem justificadamente solicitar, não muitas vezes, foram erigidos como
e guardados. Esta atitude de posse e se verificando um sentido de posse documentos passíveis de conserva-
exclusividade impossibilita que a his- individual. Entretanto, por haver, em ção aqueles ligados à hierarquia do sis-
tória institucional seja revisada e reto- geral, exemplares únicos da docu- tema de ensino, não sendo incomum
mada, de diferentes formas e em cada mentação, e como seu manuseio encontrar pastas com pareceres e nor-
momento histórico, pelos alunos, pro- pode prejudicar a documentação que mas do Conselho Estadual de Educa-
fessores, administradores e pela soci- com o tempo vai ser tornando frágil, ção, do Conselho Federal de Educa-
edade local. A comunidade escolar desgastada, seu acesso é restrito, ção e outros organismos da hierarquia
apenas conhece sinopses breves e in- mas não embargado. Por outro lado, dos sistemas e os que a legislação re-
cansavelmente repetidas da história mesmo em escolas que possuem fere como “fatos escolares” mais do
institucional, sem que possa se acer- pouco mais do que “resíduos docu- que documentos que possam, efetiva-
car dos documentos e registros origi- mentais”, não há práticas de exposi- mente, informar acerca das relações co-
nais, de forma que muitos possam re- ções para a comunidade de docu- tidianas, das rupturas dos processos
115
1
Refiro-me a projetos de pesquisa submetidos ao CNPq, designados “Escola Complementar: práticas e instituições” e “História de instituições escolares:
escolas de formação de professores”.
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6. Flávia Obino Corrêa Werle
de formação e de controle específicos como subsídio para a discussão de esmaecem e o papel amarelece. O do-
àquela instituição. Com isso, muitos novos encaminhamentos para o pro- cumento de papel continua receben-
elementos são descartados como des- jeto pedagógico, como forma de com- do interferências em seu suporte; é tem-
providos de valor informativo, impos- preensão acerca de como os proces- poralizado, desgastado por um tempo
sibilitando seu uso para fins científi- sos institucionais, as políticas e os que age sobre a matéria que o consti-
cos, culturais e históricos (Ribeiro, procedimentos administrativos fo- tui, provocando envelhecimento e de-
1992, p. 56). ram sendo construídos. terioração. Assim, ele é progressiva-
A pesquisa histórica atual, entre- As vantagens de digitalização de mente fragilizado, a não ser que ocorra
tanto, tende a constituir em objetos documentos escolares são muitas, em uma ação intencional de recuperação
de estudo elementos relacionais, especial, se acompanhadas de grava- e de preservação. Um documento di-
menos formais, não apenas compro- ção em CD-ROM. O CD-ROM como gitalizado é um outro documento, “des-
batórios, superando a valorização suporte de documentos institucionais figurado”.
restrita a documentos que privilegi- possibilita a multiplicação de cópias,
am uma visão hierárquica, de cima o acesso de diferentes públicos, a vi- [...] a forma mais perceptível do tem-
ou de feitos políticos acionados por sualização e consulta de seu conteú- po como mudança, do trabalho do tem-
autoridades dos sistemas educati- do em diferentes espaços, a preser- po, está no envelhecimento, resultado
vos. Esta tendência exige atenção e vação dos documentos originais que das afecções da matéria sob a ação do
não precisam ser mais manuseados tempo. É assim que uma tela pintada
cuidado na preservação de documen-
envelhece, seus pigmentos se alteram.
tos e um alargamento deste conceito diretamente. Portanto, a digitalização
É assim que as cores de uma fotografia
para além do seu valor de prova da de documentos históricos e sua gra-
irremediavelmente mudarão, especial-
vida escolar dos alunos. vação em CD-ROM possibilitam a pre- mente se a foto ficar exposta a uma
servação, a socialização e o acesso a luz muito intensa. Enfim, não há ma-
Digitalização documental seus conteúdos de forma mais ampli- téria que possa resistir à corrosão do
e histórica institucional ada, saindo dos fardos de papel par- tempo. Uma vez que toda a imagem
do e do fundo dos armários. existe em algum tipo de suporte, não
Embora a digitalização seja uma há intervenção do tempo. Contudo,
Entendendo com Negroponte
estratégia de “preservação” e ampli- um certo nível de exceção deve ser
(1995, p. 19-20) que “digitalizar um aberto para o infografia, pois devido
sinal é extrair dele amostras que, se ação das possibilidades de consulta
à estocagem numérica e ao caráter
colhidas a pequenos intervalos, po- documental, ela produz um documen- imaterial, pura luminescência fugidia,
dem ser utilizadas para produzir uma to diferente do original em sua natu- essa imagem não fica mais fisicamen-
réplica aparentemente perfeita daque- reza, pois adquire a natureza de ob- te exposta à erosão do tempo (Santa-
le sinal”, temos desenvolvido pro- jeto virtual, como diz Minutti, citado ella e Nöth, 1998, p. 82).
cedimentos de digitalização de do- por Valente (2005, p. 188). O docu-
cumentos de instituições escolares. mento digitalizado que toma a forma Embora o colorido, as manchas do
Fotografias, imagens, documentos de objeto virtual passa a apresentar- tempo e a caligrafia possam ser reti-
escritos – manuscritos, datilografa- se com as características de ser: con- dos no processo de digitalização, há
dos, impressos – têm recebido este gelado, desfigurado e manuseável. perdas importantes nas característi-
tratamento com a finalidade de se- O documento originário, quando cas do documento original. Ao digi-
rem disponibilizados, para a comuni- digitalizado, está “congelado”, pois o talizá-lo, perdem-se o odor, a textura,
dade escolar, em suportes tecnolo- tempo continua interferindo, envelhe- a dimensão, o volume e o peso do
gicamente mais avançados. cendo o suporte do documento primi- documento. A impressão táctil que se
A digitalização torna o documen- tivo, mas não mais atinge da mesma obtém pelo manuseio direto do docu-
to acessível a muitas pessoas, pois a forma o digitalizado. Se houve um mo- mento não é alcançada quando este é
escola pode transpô-los em CD- mento em que ocorreu uma quase equi- digitalizado. Sua percepção apenas se
ROM, em seu site na internet, em in- valência entre o original e sua digitali- dá pelo sentido da visão, enquanto
tranet. Por outro lado, o material as- zação, esse assemelhamento pode ser que, o documento real, impressiona o
sim apresentado pode ser utilizado perdido principalmente devido ao pro- táctil e o olfativo, além do visual.
para o desenvolvimento de objeti- cesso irreversível de envelhecimento A digitalização torna o documen-
vos formativos junto a alunos2, bem do documento primitivo cujas cores to uma imagem, unificando seu con-
116
2
Ribeiro (1992, p. 47-64) apresenta também exemplos e argumentos neste sentido.
Educação Unisinos
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7. CD-ROM como apoio na pesquisa sobre a identidade e a história institucional
teúdo e forma num todo. Digitar o 2000; Lombardi, 2000; Amorin, 2000, possa servir a vários objetivos, en-
documento, ao contrário, o fragmen- Vidal e Moraes, s.d.; Stephanou, saiamos sua classificação, conside-
ta pois, em processador de texto e 2002; Tambara e Arriada, 2004; Pinhei- rando a riqueza dos contextos de
em outro software, ele pode ser pes- ro e Cury, 2004; Miguel e Martin, 2004; produção, ou seja, se foram materi-
quisado em palavras, torna-se de- Bastos et al., 2004; Vidal, 2000). Ino- ais produzidos pela própria institui-
componível. Digitar o documento vadora é a experiência do grupo de ção para racionalizar o seu funciona-
preserva seu conteúdo, mas o desfi- pesquisa vinculado à Pós-Graduação mento ou emitidos por agências a ela
gura profundamente ao deslocar con- em Educação da Universidade Fede- externas (Tabela 1).
teúdo e suporte. ral do Mato Grosso, que constituiu Quanto ao suporte e forma, depa-
O documento, quando digitaliza- um Banco de Vozes de diretores, ins- ramo-nos com grande variedade,
do, adquire uma característica nova: petores escolares, ex-professores, ex- embora não grande quantidade, in-
é possível “manuseá-lo”, pode-se alunos e ex-funcionários de institui- cluindo documentos textuais, imagé-
interferir nele, pois sua condição di- ções escolares da região (Siqueira, ticos, sonoros e audiovisuais. Entre-
gital o mantém permanentemente 2005), utilizando também a prática de tanto, embora algumas das escolas
suscetível a modificações pelos mes- oferta, aos depoentes, de um CD com pesquisadas tenham feito da música
mos recursos que a informática ofe- a entrevista a partir do qual é dado o um importante espaço formativo e os
rece. Podem-se ampliar ou reduzir sua consentimento de uso da mesma. conjuntos musicais tenham sido uma
luminosidade, suas dimensões, A consulta à documentação de forma de articulação e de reconheci-
pode-se recortar parte do mesmo, colégios no bojo das pesquisas que mento do trabalho da instituição na
fazendo destaques. temos realizado sobre a história das comunidade, a inexistência de recur-
Assim, se a digitalização de docu- instituições escolares tem incorpora- sos tecnológicos na época impossi-
mentos pode torná-los acessíveis a um do a intenção de oferecer às escolas e bilitou a preservação desta forma de
grande número de pessoas, oferecen- suas mantenedoras os próprios do- manifestação da vida institucional.
do condições para revisitação, novas cumentos que foram disponibilizados Foram poucos os documentos so-
análises e reescritas da história insti- para consulta, agora como objeto vir- noros encontrados (Tabela 2).
tucional, potencializando recursos da tual, em suporte de CD-ROM. Tais A forma como os documentos
própria instituição no incremento do CDs constituem um tipo de banco de estão organizados em cada CD sim-
projeto formativo, também é preciso dados, ou seja, um “conjunto de re- boliza e atribui um significado à his-
levar em conta as limitações e caracte- gistros, não redundantes, homogêne- tória institucional e decorre da dis-
rísticas decorrentes desta tecnologia. os, ordenados de determinada forma, ponibilidade de documentos. A arti-
De qualquer forma, a digitalização é armazenados em suporte magnético culação feita com os documentos
uma estratégia disponível de preser- ou óptico, e acessíveis por um com- digitalizados e gravados num CD-
vação e ampliação das possibilidades putador, que constitui um arquivo ROM é uma forma de teorização, pois
de consulta documental que, ressalta- para fornecer informação sobre deter- apresenta uma visão da instituição,
mos, não substitui a guarda e arquiva- minado assunto” (Recorder et al., uma interpretação datada no tempo
mento de originais. 1995, p. 177). Assim, os CDs tornam- e no espaço. O processo de constru-
se um novo suporte de documenta- ção do CD com documentos escola-
CD-ROM como subsídio ção institucional, e, por seu intermé- res digitalizados está prenhe de ten-
para a reescrita da histó- dio, os documentos ganham nova ar- sões que o pesquisador precisa ir
ria institucional ticulação e hierarquia. A literatura re- enfrentando entre segmentação e
gistra o esforço de classificação dos englobamento, entre como articular
Vários projetos de organização de documentos encontrados em institui- documentos de diferentes tempos,
bancos de dados têm sido ensaia- ções escolares o qual é expresso, de natureza diferenciada, de varia-
dos, envolvendo a transposição de muitas vezes, na forma de inventários dos autores e propósitos. O CD-
documentos que tradicionalmente (Magalhães, 2001) e tabelas3 classifi- ROM contém uma proposição, com
são fontes escritas e imagéticas em catórias (Mogarro, 2005). certo nível de sistematização, acerca
suporte papel para a forma de obje- Embora a documentação que con- da história institucional tomada como
tos virtuais (Valente, 2005; Nunes, sultamos nas escolas pesquisadas processo sempre renovável, não ho-
117
3
Artigo de Mogarro (2005, p. 84- 85) não apenas classifica os documentos que podem ser encontrados em arquivos escolares, mas sugere possíveis temáticas
para investigação que a eles poderão estar associadas. A obra de Justino Magalhães (2001) também apresenta classificação de documentos escolares,
demonstrando, ademais, como estabelecimentos de ensino em Portugal preservam rica e diversificada documentação, algumas datadas do século XIX.
volume 11, número 2, maio • agosto 2007
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8. mogêneo, nem final. Se professores, compusemos CDs com os materiais nibilidade e valor informativo frente à
funcionários, gestores e a comuni- preservados e, dentre estes, os dispo- possibilidade de (re)compor a história
dade escolar tomarem contato com o nibilizados ao trabalho de pesquisa. institucional. Entre estas peças há
conteúdo do CD, podem utilizá-lo São materiais de diferentes tipos que “Documentos”, materiais assim desig-
como contraponto e inspiração para passaram por um processo de digitali- nados por serem portadores de infor-
propostas pedagógicas e administra- zação, reapresentados como imagem mações orgânicas, originais, elabora-
tivas atuais da instituição escolar. ou como texto digitado, havendo pe- dos na escola por seus responsáveis
Trabalhando com diferentes esta- ças documentais selecionadas no acer- e administradores diretos ou, a seu
belecimentos de ensino, portanto, vo da escola em função de sua dispo- pedido, por membros da comunidade
Tabela 1. Tipos de documentos encontrados no acervo dos colégios analisados.
PROCEDÊNCIA FINALIDADES – CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS DE DOCUMENTOS ENCONTRADOS
Documentos da insti- Produzidos pela estrutura formal da instituição • Planos
tuição para estruturar práticas, registrar elementos da • Projetos
A instituição gera o do- vida institucional, encaminhar os objetivos e o • Cronogramas
cumento no exercício de trabalho ou como manifestação da ação autô- • Memorandos
sua atividade noma do estabelecimento. • Instrução de processos
• Atas
• Bases curriculares
• Relatórios
• Fichas de diferente natureza
• Crônicas acerca da história institucional
• Resumos com principais fatos da vida escolar
Produzidos pela estrutura formal da instituição • Resposta a cartas e ofícios
com a finalidade de comunicação com o ambien- • Convites
te externo. • Editais
• Certidões
• Atestados
Documentação de Elaborados pela instituição para regular seu fun- • Normas internas
fora da instituição cionamento. • Critérios de decisão
Documentação com in- • Critérios de avaliação
formações relevantes • Regimento
para a vida institucional,
originária de institui- Normas gerais, resultado de avaliações exter- • Legislação federal ou estadual
ções, grupos ou indiví- nas, contratos do sistema de ensino ou de auto- • Pareceres do Conselho Nacional de Edu-
duos externos à escola. ridades governamentais que produzem efeitos cação, Conselho Estadual de Educação
e delimitam a ação institucional. • Convênios e contratos
• Relatórios de inspeção
Correspondência variada procedente de outros • Requerimentos
estabelecimentos de ensino, grupos, empresas, • Cartas
governo ou pessoas. • Material de divulgação
• Telegramas
• Ofícios
• Atestados
• Pedido de informação
Registros pessoais Comunicação escrita de caráter pessoal mes- • Bilhetes
mo que seu autor tenha ocupado algum cargo • Cartas
ou vínculo com a instituição, em geral manuscri- • anotações variadas acerca de fatos da
ta. Em alguns casos esses registros não têm vida institucional
destinatário específico, são apenas textos apre-
ciativos ou descritivos de situações ocorridas
no estabelecimento ou a ele relacionadas.
Impressos Notícias de jornais com informações acerca da • noticias de jornais em forma de recortes
Impressos produzidos escola, seus dirigentes, alunos, professores, • informações da escola publicada em re-
fora da instituição, mas referências acerca de eventos promovidos pelo vistas locais
referindo-a em seu con- estabelecimento.
teúdo.
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9. Tabela 2. Natureza dos documentos analisados.
TIPOLOGIA – NATUREZA FINALIDADES – CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS
Documentos textuais A maior parte dos documentos das instituições • Manuscritos
escolares é textual. • Impressos
• Datilografados
• Digitados
• Originais
• Xerocopiados
Documentos iconográfi- Neles as imagens apresentam a informação • Desenhos
cos e audiovisuais acerca da instituição. • Mapas
• Fotografias
• Fitas de vídeo
• Plantas
• Croquis
• Filmes
• Fitas de áudio
• Discos
escolar, com a finalidade de gestão modelos de comunicação e expres- detalhamento dos dados. A preten-
administrativa, pedagógica, financeira são verbal” (Paulo, 1998), entretan- são colocada no inicio da pesquisa
na instituição. São documentos dire- to, além de sua digitalização para in- visando construir a identidade insti-
tamente vinculados à vida institu- serção no CD, foram necessários al- tucional e preservar a memória soci-
cional, quer na forma de informações guns procedimentos de “tradução” al, na nossa percepção, foi plenamen-
escritas, imagéticas ou sonoras. em palavras, procurando facilitar sua te concretizada na sistematização dos
dados. A história do Colégio está res-
Compõe também os CDs “Docu- indexação e localização. Melhor di-
gatada e registrada, contemplando, ao
mentação” entendida no sentido atri- zendo, a multiplicidade de imagens longo do CD, vivências, contextos,
buído por Lopes (1996, p. 31), textos referentes à base material, ritos e encaminhamentos que foram realiza-
e materiais de apoio a atividades ad- eventos das instituições exigiu uma dos... A forma como foram registra-
ministrativas realizadas pela institui- contextualização narrativa das mes- dos os dados da pesquisa, permite
ção, mas não elaborados na ou pela mas; por isso, foram elaborados “co- que qualquer pessoa, independente-
mesma. Legislação de âmbito esta- mentários-síntese” com a finalidade mente de seus conhecimentos de in-
dual referente a cursos oferecidos, de articular as informações em cada formática, interaja com o material,
através dos recursos de hipertexto,
cópias de documentos vindos de CD objetivando a apresentação mi-
enriquecendo sua leitura com fotos,
outros órgãos – federais, estaduais nimamente contextualizada dos do-
documentos e esclarecimentos sobre
– constituem o que é referido como cumentos, documentação e imagens as fontes de pesquisa. [...] Salienta-
documentação. São instruções, nor- das escolas e seus atores. mos também como muito significati-
mas, leis, pareceres, cujo conteúdo A seguir apresentamos a transcri- va a apresentação do CD-ROM feita
traz indícios acerca das relações da ção de alguns trechos da apreciação durante a Jornada de Estudos, possi-
instituição com o seu entorno. que uma das escolas da pesquisa fez bilitando aos professores da Escola
Há ainda materiais de biblioteca tais sobre o CD com documentos de sua momentos de encantamento e satis-
como impressos, recortes de jornais que história o qual lhe foi oferecido pela fação em fazer parte de uma institui-
ção com uma história tão rica. Agra-
tematizam a história do colégio em seus equipe da pesquisa por ocasião do fe-
decemos a indicação e a inclusão da
momentos marcantes de formatura, fes- chamento do trabalho na instituição.
nossa Escola no estudo de caso, opor-
tividades, aniversários, comemorações, Formulada pela equipe de direção da tunizando que retomássemos a traje-
marcam visitas ilustres e participação escola, esta apreciação refere o impac- tória histórica vivenciada, de forma
da administração do estabelecimento to do trabalho na escola e a apresenta- intensa e peculiar, ao longo dos anos
em eventos da localidade. ção que dele foi feita em encontro pre- de existência do Colégio.
Imagens foram um outro tipo de paratório do início de ano letivo onde
documento fartamente encontrado estiveram presentes todos os profes- Reiteramos que a digitalização de
nas escolas pesquisadas. Sabemos sores do estabelecimento. documentos, mesmo que, sem som-
que a interpretação de imagens “sus- bra de dúvidas, não substitua nem
cita o problema de sua interligação Na apreciação do CD-ROM com da- se sobreponha aos arquivos e mu-
com a linguagem e, por outro lado, dos da pesquisa nos impressionamos seus escolares, é um recurso que
da sua eventual irredutibilidade aos com a densidade, a organização e o pode ser adotado para a preserva-
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10. Flávia Obino Corrêa Werle
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Embora simulando a aparência do MOGARRO, M.J. 2005. Arquivos e educa- atos e regulamentos sobre educação
documento, a digitalização o conge- ção: a construção da memória educati- no período imperial na província de
la, desfigura, além de apresentá-lo, va. Revista Brasileira de História da São Pedro do Rio Grande do Sul. Bra-
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