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BOLÍVIA:
CONFLITOS E MUDANÇAS NA HISTÓRIA RECENTE
PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS




                            Disciplina: América Latina




                   Professor: Igor Fuser




           Alunos: Leandro Fernandes, Rafael Luchini e Thaís Virga
Bolívia: Conflitos e Mudanças na História Recente
Estado Plurinacional de Bolívia




      Independência                            Fronteiras
      ● 06 de agosto de 1825                   ● Argentina, Brasil, Chile,
                                                 Paraguai e Peru


       Capital                                 População
       ● Administrativa - La Paz /             ● 10,4 milhões de habitantes
         Constitucional e Judicial – Sucre           (2010)


       Línguas Oficiais                        PIB
       ● Espanhol, Quíchua, Aimará e Guarani   ● US$ 19,09 bilhões (2010
                                                  Preços Correntes/Banco Mundial)


       Governo                                 Principais produtos de exportação
       ● República Presidencialista Unitária   ● Gás natural, petróleo cru,
                                                  soja e derivados, minérios, coca
Antecedentes


 ♦ Ciclos de Crescimento: quinina (planta utilizada como remédio) – 1830/50; guano
 (fertilizante Orgânico) e salitre - 1868/78, látex - 1895/1915 e estanho a partir de 1880;

 ♦ Obs: A economia do estanho era controlada por praticamente 3 grupos privados que
 atuavam influentemente na política do país - territorialismo e oligarquia;

 ♦ A partir de 1929: crise econômica internacional - queda do preço do estanho;
 ♦ 1932 a 1935: Derrota da Bolívia para o Paraguai na Guerra do Chaco (disputa boliviana por
 uma saída ao Atlântico através do Rio Paraguai);
Antecedentes




 ♦ Consequências: Crises econômica, social e política;
 ♦ Aumento da insatisfação popular e burguesa ao modelo minério-exportador, oligarca,
 concentrador de poder: os chamados “Roscas”;

 ♦ O Exército também perde prestígio e surgem grupos militares nacionalistas (contra os setores
 dominantes);

 ♦ 1952: Insurreição popular coloca no poder o “Movimiento Nacionalista Revolucionario” –
 MNR – episódio conhecido como “Revolução Nacional”;

 ♦ Mudanças no período: nacionalização das minas (cria-se a Corporación Minera de Bolívia
 (Comibol), reforma agrária, educação universal e gratuita, voto universal, desmantelamento do
 militarismo das oligarquias, fortalecimento do operariado mineiro, política de substituição de
 importações.
Anos 80




 ♦ 1980: Golpe militar encabeçado pelo general Luis García Mesa;
 ♦  1981: Gárcia Mesa renuncia (após denúncias de violação dos direitos humanos e
 vínculos com a criminalidade);

 ♦  1983: Hernán Siles Suazo (dirigente do MNR na déc. 50) – governo provisório para
 o início de um processo de redemocratização (volta de um gov. democrático);

 ♦   A transição política perpassa um período de grave crise econômica no país:
 esgotamento do modelo exportador de minérios, retração da atividade agropecuária,
 alto endividamento externo, expansão da coca → a capacidade de ação do Estado vai
 perdendo prestígio;

 ♦  O gás natural substitui o estanho como principal componente da pauta
 exportadora e ocorre uma reorientação do comércio exterior, agora voltado para os
 países da Região (principalmente Argentina e Brasil);
Anos 80




 ♦ Período marcado por um forte crescimento da inflação e redução no PIB
Anos 80




 ♦  1985: Victor Paz Estenssoro assume a presidência – aliança entre partidos
 conservadores e programa de reformas econômicas inspirado na experiência de
 Pinochet – Início de uma Agenda Neoliberal – “Nova Agenda Econômica – NPE”;

 ♦  Ministro do Planejamento de Estenssoro: Gonzalo Sánches de Lozada (“Goni”) -
 liberalização dos preços, taxa de juros, câmbio e salários; abertura comercial e
 financeira externa; privatização de empresas públicas; fim do monopólio estatal no
 transporte aéreo e terrestre ; fim da estabilidade no emprego e forte apelo para atrair
 capital estrangeiro;

 ♦Objetivo de Lozada: “acabar” com o Estado desenvolvimentista;
 ♦  Resultados: a partir de 1986 ocorre um controle da inflação e em 1987 o PIB volta
 a uma estabilidade até o fim da década. Também, aumenta a reação dos
 trabalhadores – greves gerais por 48 horas;

 ♦   Aprofundamento das reformas (NPE) e início das crises decorrentes dessas.
Anos 90


 ♦ 1989-93: em 3 lugar na disputa, mas escolhido pelo Congresso (já que nenhum
 candidato obteve maioria absoluta e este obtinha prestígio popular), Jaime Paz
 Zamora, do Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR) assume a presidência –
 maior proximidade com os indígenas e a favor do reconhecimento da propriedade
 de terras;

 ♦  1993/97: Presidência de Gonzalo Sánches de Lozada – Ápice da implementação
 do modelo neoliberal na Bolívia com reformas que passam da esfera econômica a
 política;

 ♦  Objetivos de Lozada: capitalização de empresas estatais; privatização das minas,
 descentralização administrativa, ampliação da capilaridade do Estado através da Lei
 de Participação Popular (descentralização política e administrativa) e, por fim, a
 Reforma Educativa;

 ♦  1994: Reforma Constitucional (dentre outros aspectos estabeleceu a eleição
 direta para prefeitos e inclui o reconhecimento do caráter multiétnico e
 pluricultural do país e da propriedade comunitária indígena, através da criação das
 “Terras Comunitárias de Origem”);
Anos 90


 ♦   Entretanto, todavia, contudo...
 1) O modelo neoliberal utilizado por Lozada (iniciado no governo de
 Estenssoro), para estabilizar a hiperinflação de 1985 passava pela Reforma do
 Estado e por uma forte Austeridade Fiscal;
 2) O perfil exportador, com destaque para a soja e o gás favoreciam apenas
 algumas regiões, como a de Santa Cruz de La Sierra;
 3) A partir de 1997, crises financeiras atingem seus vizinhos dos quais o comércio
 exterior boliviano é fortemente dependente (principalmente Brasil e Argentina).
 ♦ Assim, o PIB no final dos anos 90 diminui e conjuntamente as desigualdades
 sociais aumentam (em um país cujo 2/3 da população já vivia abaixo da linha de
 pobreza);

 ♦ 1997: Hugo Banzer Suárez (militar e golpista) retoma a presidência (após presidir de
 1971-78):
 • Forte mobilização popular, crescentes reações contra os efeitos sociais regressivos
 das reformas econômicas de liberalização;
 • Banzer decreta Estado de Sítio em 8 de abril de 2000 – para deter a onda crescente
 de protestos sociais e de trabalhadores, mas sem sucesso;
 • Manifestações se radicalizam.
Anos 2000


 ♦ 2000: A Guerra da Água – movimento contra o direito exclusivo da comercialização
 e distribuição do sistema de água de Cochabamba pela empresa americana Bechtel. A
 “privatização” até da água da chuva durou 5 meses e Banzer teve de cancelar a
 concessão frente tamanha revolta popular;

 ♦    2001: Banzer falece de câncer e seu vice assume - Jorge Quiroga Ramírez até 2003;

 ♦2003:   Gonzalo Sánches de Lozada inicia seu segundo mandato, vencendo com
 pouca diferença Evo Morales. Propõe a exportação de gás para o México e EUA
 através do Chile;

 ♦ Desencadeamento de levantes populares, greves, paralisações de estradas e
 aumenta a voz das organizações camponesas com forte identidade indígena – A
 Guerra do Gás (2003);

 ♦    Duas importantes características que marcam os anos recentes:
 I.    falência das políticas econômicas de cunho neoliberais aplicadas a partir de 1985;

 II. importante mudança no perfil dos movimentos sociais.
Anos 2000



 ♦ 2003: Lozada renuncia e é substituído por seu vice Carlos Mesa, que renuncia em
 junho de 2005, frente as constantes pressões populares pedindo um maior
 nacionalismo com relação as empresas estrangeiras;

 ♦  Dezembro de 2005: Evo Morales é eleito presidente com ampla maioria de votos,
 tornando-se o primeiro presidente de origem indígena.


                                     Evo Morales:


 ♦   Evo: Líder Sindical dos “Cocaleros” e do MAS – Movimiento al Socialismo;

 ♦ Torna-se    bastante notável na imprensa latina e internacional ao resistir as
 tentativas dos EUA de substituir as plantações de coca por bananas (originárias do
 Brasil), na província de Chapare;
Anos 2000



 ♦   Principais Propostas de Evo e do MAS:

 1) Convocação de uma Assembléia Constituinte (2006);
 2) Nacionalização dos hidrocarbonetos – torna o governo boliviano sócio majoritário
    da maioria das empresas ligadas aopetróleo e o gás (1 de maio de 2006);
 3) Defesa do cultivo e industrialização da coca;


 ♦   Objetivos de Evo Morales:

 “As medidas implementadas por Morales buscam gerar benefícios tangíveis e não
 conjunturais para os setores mais pobres da população, como forma de dar
 sustentabilidade à nova correlação de forças e reduzir os espaços para opções
 conservadoras que busquem retomar as trajetórias do pas-sado.” (Ayerbe, L.F.)
Indicadores




              Fonte : Instituto Nacional de Estatística (obs: Média Anual) http://www.ine.gob.bo/
Indicadores




                                                                  Fonte : Energy Information Administration
                                                                  http://www.eia.gov/countries/data.cfm#undefined




      Fonte : Fundo Monetário Internacional http://www.imf.org/
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição




         Propostas e Objetivos:


     ♦  Viabilizar mudanças concretas no plano institucional nos âmbitos
     nacional, estadual, regional, municipal e comunal ;

     ♦  Redefinir o papel dos principais órgãos e dispositivos estatais (judiciário,
     parlamento, polícia, forças armadas, etc.);

     ♦  Impor a democracia participativa permanente (referendo) sobre os
     principais assuntos do país;

     ♦  Propor uma nova concepção de país ao definir o Estado como
     plurinacional, comunitário, multiétnico, multicultural e multilinguístico.

     ♦ Instituir
               em seus aspectos socioeconômicos o redistributivismo e
     neodesenvolvimentismo com forte papel do Estado na economia nacional.
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição




     ♦ Os 4 pilares das propostas de Evo Morales e do MAS para o
     processo de democratização do país:


     1. Nacionalização dos recursos naturais;
     2. Redistribuição de terras;
     3. Inclusão das Sociedades Indígenas
     4. Melhoria das condições de vida das populações mais pobres.
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição




    ♦ Aprovação da Nova Constituição em 24 de novembro de 2007, mesmo
    com o boicote realizado feito pela oposição (Poder Democrático Social –
    PODEMOS) no dia da votação, os oposicionistas alegavam que a nova Carta
    Magna aumentaria significativamente os poderes do presidente;


    ♦  Em 9 de dezembro de 2007, é submetido o texto completo sem
    destaques;


    ♦  Em 3 de fevereiro de 2008, os artigos foram votados separadamente,
    recebendo maioria favorável de dois terços dos constituintes presentes na
    votação, o PODEMOS que tinha a maioria no senado não participou;
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição




    ♦ Os temas da agenda de negociação foram:
    a) A unidade nacional, a democracia e a legalidade;
    b) A estatização da economia e as autonomias departamentais;
    c) O bônus Renda Dignidad¹;
    d) O respeito à propriedade privada;
    e) A iniciativa do Executivo de realizar um referendo revocatório que
          inclua, além do mandato presidencial, o dos nove governadores.

    ♦  Esta última proposta é anunciada pelo governo como saída democrática
    capaz de reiniciar, com nova legitimidade, as relações entre as partes em
    conflito;

    ♦  Evo Morales rejeita a reivindicação dos governadores da oposição por
    “autonomia plena”;
  1- (outubro de 2007): assinação vita-lícia de US$ 26 mensais para todas as pessoas de mais de sessenta anos (financiamento
  realizado via 30% da ren-da petroleira dos departamentos produtores).
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição




     ♦  Agrava o conflito entre o governo e a oposição, dando início ao
     movimento separatista promovido pelos governos da “meia lua”, Santa Cruz
     (organização separatista de Santa Cruz, Unión Juvenil Cruceñista), Pando,
     Beni e Tarija;
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição




     ♦  Os EUA intervieram nos assuntos internos da Bolívia apoiando a oposição,
     a atitude dos norteamericanos compromete a relação entre os dois países
     levando a expulsão do embaixador estadunidense Philip Goldberg em
     setembro de 2008;

     ♦  Declaração de Estado de Sítio devido a escalada de confrontos violentos
     em setembro, com crescente número de vítimas fatais no Departamento de
     Pando;

     ♦ A presidente chilena Michelle Bachelet convoca reunião de emergência da
     União das Nações Sul-americanas (Unasul), em que os chefes de Estado
     manifestam seu apoio a Evo Morales e pedindo o fim das hostilidades contra
     um presidente democraticamente eleito;
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição




    ♦  Em outubro começa o processo de negociação entre o governo e a
    oposição: participação, como testemunhas, de representantes da OEA, da
    Igreja Católica, da Unasul, da ONU e da União Europeia. Com o aval do
    Congresso nacional, chega-se a um acordo para a realização do referendo em
    25 de janeiro de 2009 e Evo Morales sai vitorioso;


    ♦  O presidente Evo Morales ganha legitimidade, com manifestações
    favoráveis que incluem o governo de Barack Obama;


    ♦ Em 25 de janeiro de 2009, a Carta Constitucional passou entrar em vigor
    após o acordo entre e o governo e a oposição (AYERBE; MOURA e CASTRO);
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição




    ♦  O texto aprovado no referendo entre o acordo do governo e a trouxe
    algumas pequenas alterações do texto original, podemos verificar as
    modificações em alguns artigos selecionados no quadro abaixo:




              Fonte: http://www.repac.org.bo/documentos/comparativo%20NCPE.pdf>. Acesso em: 15/10/2009   .
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição



      A Nova Constituição do Estado Plurinacional da Bolívia

                                  Preâmbulo
 “En tiempos inmemoriales se erigieron montañas, se
 desplazaron ríos, se formaron
 lagos. Nuestra amazonia, nuestro chaco, nuestro
 altiplano y nuestros llanos y valles se
 cubrieron de verdores y flores. Poblamos esta
 sagrada Madre Tierra con rostros
 diferentes, y comprendimos desde entonces la
 pluralidad vigente de todas las cosas y
 nuestra diversidad como seres y culturas. Así
 conformamos nuestros pueblos, y jamás
 comprendimos el racismo hasta que lo sufrimos
 desde los funestos tiempos de la
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição



         Estado Pluricultural x Estado Monocultural.

                                                                 ♦  A Constituição de 2009 reconhece a Bolívia
                                                                 como um Estado Plurinacional, são reconhecidos além
                                                                 do espanhol, outras 37 línguas oficiais de nações
                                                                 indígenas nativas:

                                                                 ♦Espanhol: o mais falado   em todo o país, por 88,4%
                                                                 dos habitantes;

                                                                 ♦ Quechua: 28% da população, era a língua oficial do
                                                                 império Inca. É falada principalmente em Cochabamba,
                                                                 Chuquisaca e Potosí;

                                                                 ♦ Aymara:    18% da população, língua de origem
                                                                 anterior ao império Inca. É falada principalmente em La
                                                                 paz e Oruro;
                                                                 ♦ Guaraní: 1% da população. É encontrada em Santa
                                                                 Cruz e região do Chaco;

                                                                 ♦ Outros: 4% da população. Tem o Muxeño (em Beni),
                                                                 outras línguas indígenas e também línguas estrangeiras
                                                                 como o português e o inglês.
     Fonte: http://www.debolivia.info/Idiomas-debolivia-6.html
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição



        A Nova Constituição do Estado Plurinacional da Bolívia

   ♦  Uma nova forma de concepção de Estado (“comunidade imaginada”) é
   instituída na Constituição boliviana, o qual objetiva abranger a multiplicidade
   sóciocultural:

   ♦ Artigo 1:
   “Bolívia se constitui num Estado Unitário Social de Direito Plurinacional
   Comunitário, livre, independente, soberano, democrático, intercultural,
   descentralizado e com autonomias. Bolívia funda-se na pluralidade e o
   pluralismo político, econômico, jurídico, cultural e linguístico, dentro do
   processo integrador do país”.

    ♦ No que diz respeito à organização territorial, é instituída uma divisão entre
    departamentos, províncias, municípios e territórios indígenas originários
    camponeses, com autonomias de escolha de autoridades e administração.
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição



   ♦  A nova Constituição garante direitos específicos de controle sobre a
   própria jurisdição à populações de origem indígena e campesina:

   ♦ Artigo 200
   “La jurisdicción indígena originario campesina conocerá todo tipo de
   relaciones jurídicas, así como actos y hechos que vulneren bienes jurídicos
   realizados por cualquier persona dentro del ámbito territorial indígena
   originario campesino. La jurisdicción indígena originario campesina decidirá
   en forma definitiva, sus decisiones no podrán serán revisadas por la
   jurisdicción ordinaria, y ejecutará sus resoluciones en forma directa”.


    ♦  Um dos maiores conflitos resultante da reforma constitucional gira em
    torno da autonomia dos camponeses e indígenas e da autonomia
    departamental dos “Comitês Cívicos”, organizado pelas “oligarquias”
    regionais, principalmente em Santa Cruz (GIL, 2008);
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição



    ♦  De acordo com Ayerbe (2011), “a categoria povo passa a ser subordinada à
    de nação e a referência explícita a classes sociais é eliminada”.
    ♦  Os recursos naturais são estatizados, fator que limitará o poder político da
    oposição que se localizam nas regiões do leste. Ex: O primeiro passo da
    estatização foi a ocupação militar de uma das instalações da Petrobras na
    Bolívia;
    ♦ Outro ponto polêmico da nova Constituição para os opositores e entre a
    comunidade internacional é a reeleição ilimitada do presidente;
    ♦ Em  síntese, este processo trouxe à tona duas concepções de país
    completamente discrepantes:

    I)   A primeira busca incorporar a maioria social no sistema político,
         econômico e cultural, outorgar direitos e ampliar a cidadania;
    II) A segunda acredita que a autonomia departamental é a única possível para
        desenvolver o país social e economicamente com a proteção da
        propriedade privada e investimento do capital estrangeiro.
Assembléia Constituinte e a Nova Constituição
A Guerra do Gás



       Contexto:


♦ Nome popular utilizado para designar os conflitos    de Outubro de 2003 ocorridos
na Bolívia relacionados à exploração das reservas de gás natural.


♦  Decisão do governo de exportar gás natural aos EUA e ao México gera uma
insurreição popular. (preço de exportação seria de menos de 1 dólar por milhar de
BTU. População considera que seu gás estava sendo entregue de presente).


♦ Confrontos da população entre a polícia e as forças armadas terminam com uma
estimativa de 80 mortos e 400 feridos e com a renúncia do presidente Gonzalo
Sánchez de Lozada.


♦Cenário de crise econômica na Bolívia. Sentimento de abandono da sociedade pelo
Estado que buscava melhorar as condições financeiras do país sem atentar paras os
rigorosos problemas sociais.
A Guerra do Gás



        Motivações:


♦   Fatores objetivos, materiais (gás), fatores sociais e fatores ideológicos.

♦   Gás. Catalisador perfeito para uma mobilização popular.

♦  Social: Miséria, desolação e sentimento de abandono pela população boliviana.
Insatisfação geral incita adesão às manifestações. Gás nacional visto como última
esperança de melhoras.

♦ Ideológicos: Difusão das tendências anticapitalistas mormente pelas lideranças dos
movimentos sociais. “Derrubada de um Estado capitalista dependente do Império
norte-americano e do FMI.”

♦ Materiais: Reivindicações da utilização do gás para abastecer o mercado interno.
Até então grande parte das famílias boliviana ainda cozinhavam à lenha.

♦   Reação violenta da polícia e exército une de vez a população. Solidariedade mútua.
A Guerra do Gás



        Características importantes:


♦  Revolução articulada por uma quantidade de movimentos sociais de características
bastante diferentes.

♦ Ideais anticapitalistas e antiglobalização é ponto de convergência entre os
movimentos assim como insatisfação geral contra o governo.

♦  População pobre do alto de La Paz inicia a insurgência e consegue provocar eco em
toda sociedade boliviana.

♦   Articulação autônoma da população. Presença das redes sindicais e comunitárias.

♦   Papel importante da anterior “Guerra da Água” (2000 – Cochabamba)

♦  Ausência coordenação ou liderança de qualquer partido político nas
manifestações. Sociólogos locais: Desnecessidade dos partidos políticos como veículo
de expressão dos direitos das populações?
Dilemas e cenário atual



         Meio Ambiente x Desenvolvimento:


 ♦ Questão recorrente no cenário político boliviano desde a chegada ao poder de Evo
 Morales em 2006.

 ♦   Caso Tipnis. Construção de rodovia que atravessaria reserva indígena.

 ♦ Evo Morales: Opções da construção da rodovia se limitariam ao “sim ou sim”.
 Marcha popular fez o presidente ceder à pressão e não realizar construção.

 ♦ Região de difícil acesso. Objetivo da rodovia seria integrá-la ao resto da Bolívia,
 possibilitando o real acesso do Estado (infraestrutura, serviços públicos, etc.).

 ♦  Dilema enfrentando na maioria dos países sul-americanos. Brasil (Belo Monte);
 Argentina e Equador (projetos de mineração).

 ♦  Evo Morales e o MAS. “Refundação” do país. Desenvolvimento industrial e
 autoafirmação e pleno reconhecimento dos direitos da maioria indígena.
Dilemas e cenário atual



        Meio Ambiente x Desenvolvimento:



 ♦  Como conciliar as promessas etno-ambientalistas com a necessidade em elevar as
 condições materiais do país em curto prazo?

 ♦ Eleição e reeleição de Evo Morales tiveram como plataforma um governo
 desenvolvimentista, mas que defenderia a “Pacha Mama”.

 ♦  Vice-presidente Álvaro García Linera é o principal defensor da opção
 industrializante. Urgência do governo proporcionar benefícios palpáveis para a
 maioria desfavorecida, base de eleitores do MAS. Linera: “ O tempo conspira contra os
 processos revolucionários”.

 ♦  Linera defende a exploração das reservas de hidrocarbonetos e de minérios como
 essenciais para industrializar o país, melhorar os indicadores sociais e redistrubuir a
 riqueza.
Dilemas e cenário atual



         Meio Ambiente x Desenvolvimento:


 ♦   Dados do governo MAS (Evo) entre 2005 – 2010:

         - Participação estatal no PIB passou de 17% para 34%.
         - Investimentos públicos passam de U$ 600 milhões para U$ 3,2 bilhões.

 ♦  Esses números são creditados ao decreto de nacionalização dos hidrocarbonetos
 de 2006. Participação estatal nas receitas do gás natural saltam de 30% para 70%.
 Redução drástica dos lucros das transnacionais (crise diplomática com o Brasil –
 Petrobrás).

 ♦  Dilema imediato do governo: Confronto com as ONGs ambientalistas e parcela das
 entidades indígenas. Aliadas do MAS na recente luta contra a privatização e uso
 predatório dos recursos naturais.

 ♦  Críticos do governo apontam crise profunda no processo de mudanças.
 Distanciamento das autoridades e movimentos sociais, violação dos princípios
 democráticos, e falta de aplicação efetiva do texto constitucional.
Dilemas e cenário atual



        Meio Ambiente x Desenvolvimento:


 ♦  O vice-presidente Linera enumera quatro pontos onde se manifestam as
 contradições dentro do bloco de apoio do governo:

     - Relação entre o Estado e os movimentos sociais.
     - Garantia da liderança do processo político pelos indígenas, camponeses e
 operários e incorporação de outros segmentos da sociedade.
     - Embate entre os interesses gerais e os interesses setoriais ou particulares.
     - Tensão entre o uso sustentável da natureza e a necessidade estatal de gerar
 excedentes econômicos e industrializar o país.

 ♦  Apesar de dizer que não há uma receita para equilibrar as duas demandas, Linera
 reafirma o compromisso do governo em “dialogar com a natureza”.

 ♦  No entanto, sempre destacar a necessidade da primazia do interesse coletivo sobre
 reivindicações de grupos específicos e a exploração de “pequenos trechos de
 natureza” para tornar viável e estabilizar o governo de camponeses, indígenas e
 trabalhadores etabelecido.
Dilemas e cenário atual



          Referências:
 ♦ AYERBE, L. F. (org.) Novas lideranças e alternativas de governo na América do Sul. São Paulo, Unesp, 2008.
 ♦ _________. Crise de hegemonia e emergência de novos atores na Bolívia: o governo de Evo Morales. In:
 Lua Nova, São Paulo, 83: 179-216, 2011.
 ♦ CANO, W. “Soberania e Política Econômica na América Latina”.
 ♦ CORO, Victor H. Q. “La nueva institucionalidad de uma nueva concepción de desarollo”.
 ♦ CRABTREE, J.; MOLINA, G.G.; WHITHEREAD, L. “Tensiones Irresueltas: Bolivia, pasado y presente”.
 ♦ FUSER, Igor. “Bolívia na encruzilhada”.
 ♦ GIL, A. D. “Bolívia e Equador no contexto atual” In: AYERBE, L. F. (org.) Novas lideranças e alternativas de
 governo na América do Sul. São Paulo, Unesp, 2008.
 ♦ MESA, C. “Bolívia” In: LAFER, C. (org.) Presidentes da América Latina. São Paulo, Fundação Memorial da A.
 Latina & Imprensa Oficial, 2006.
 ♦ STEFANONI, Pablo. “Adónde nos leva el pachamamismo”
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  • 1. BOLÍVIA: CONFLITOS E MUDANÇAS NA HISTÓRIA RECENTE
  • 2. PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS Disciplina: América Latina Professor: Igor Fuser Alunos: Leandro Fernandes, Rafael Luchini e Thaís Virga
  • 3. Bolívia: Conflitos e Mudanças na História Recente
  • 4. Estado Plurinacional de Bolívia Independência Fronteiras ● 06 de agosto de 1825 ● Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Peru Capital População ● Administrativa - La Paz / ● 10,4 milhões de habitantes Constitucional e Judicial – Sucre (2010) Línguas Oficiais PIB ● Espanhol, Quíchua, Aimará e Guarani ● US$ 19,09 bilhões (2010 Preços Correntes/Banco Mundial) Governo Principais produtos de exportação ● República Presidencialista Unitária ● Gás natural, petróleo cru, soja e derivados, minérios, coca
  • 5. Antecedentes ♦ Ciclos de Crescimento: quinina (planta utilizada como remédio) – 1830/50; guano (fertilizante Orgânico) e salitre - 1868/78, látex - 1895/1915 e estanho a partir de 1880; ♦ Obs: A economia do estanho era controlada por praticamente 3 grupos privados que atuavam influentemente na política do país - territorialismo e oligarquia; ♦ A partir de 1929: crise econômica internacional - queda do preço do estanho; ♦ 1932 a 1935: Derrota da Bolívia para o Paraguai na Guerra do Chaco (disputa boliviana por uma saída ao Atlântico através do Rio Paraguai);
  • 6. Antecedentes ♦ Consequências: Crises econômica, social e política; ♦ Aumento da insatisfação popular e burguesa ao modelo minério-exportador, oligarca, concentrador de poder: os chamados “Roscas”; ♦ O Exército também perde prestígio e surgem grupos militares nacionalistas (contra os setores dominantes); ♦ 1952: Insurreição popular coloca no poder o “Movimiento Nacionalista Revolucionario” – MNR – episódio conhecido como “Revolução Nacional”; ♦ Mudanças no período: nacionalização das minas (cria-se a Corporación Minera de Bolívia (Comibol), reforma agrária, educação universal e gratuita, voto universal, desmantelamento do militarismo das oligarquias, fortalecimento do operariado mineiro, política de substituição de importações.
  • 7. Anos 80 ♦ 1980: Golpe militar encabeçado pelo general Luis García Mesa; ♦ 1981: Gárcia Mesa renuncia (após denúncias de violação dos direitos humanos e vínculos com a criminalidade); ♦ 1983: Hernán Siles Suazo (dirigente do MNR na déc. 50) – governo provisório para o início de um processo de redemocratização (volta de um gov. democrático); ♦ A transição política perpassa um período de grave crise econômica no país: esgotamento do modelo exportador de minérios, retração da atividade agropecuária, alto endividamento externo, expansão da coca → a capacidade de ação do Estado vai perdendo prestígio; ♦ O gás natural substitui o estanho como principal componente da pauta exportadora e ocorre uma reorientação do comércio exterior, agora voltado para os países da Região (principalmente Argentina e Brasil);
  • 8. Anos 80 ♦ Período marcado por um forte crescimento da inflação e redução no PIB
  • 9. Anos 80 ♦ 1985: Victor Paz Estenssoro assume a presidência – aliança entre partidos conservadores e programa de reformas econômicas inspirado na experiência de Pinochet – Início de uma Agenda Neoliberal – “Nova Agenda Econômica – NPE”; ♦ Ministro do Planejamento de Estenssoro: Gonzalo Sánches de Lozada (“Goni”) - liberalização dos preços, taxa de juros, câmbio e salários; abertura comercial e financeira externa; privatização de empresas públicas; fim do monopólio estatal no transporte aéreo e terrestre ; fim da estabilidade no emprego e forte apelo para atrair capital estrangeiro; ♦Objetivo de Lozada: “acabar” com o Estado desenvolvimentista; ♦ Resultados: a partir de 1986 ocorre um controle da inflação e em 1987 o PIB volta a uma estabilidade até o fim da década. Também, aumenta a reação dos trabalhadores – greves gerais por 48 horas; ♦ Aprofundamento das reformas (NPE) e início das crises decorrentes dessas.
  • 10. Anos 90 ♦ 1989-93: em 3 lugar na disputa, mas escolhido pelo Congresso (já que nenhum candidato obteve maioria absoluta e este obtinha prestígio popular), Jaime Paz Zamora, do Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR) assume a presidência – maior proximidade com os indígenas e a favor do reconhecimento da propriedade de terras; ♦ 1993/97: Presidência de Gonzalo Sánches de Lozada – Ápice da implementação do modelo neoliberal na Bolívia com reformas que passam da esfera econômica a política; ♦ Objetivos de Lozada: capitalização de empresas estatais; privatização das minas, descentralização administrativa, ampliação da capilaridade do Estado através da Lei de Participação Popular (descentralização política e administrativa) e, por fim, a Reforma Educativa; ♦ 1994: Reforma Constitucional (dentre outros aspectos estabeleceu a eleição direta para prefeitos e inclui o reconhecimento do caráter multiétnico e pluricultural do país e da propriedade comunitária indígena, através da criação das “Terras Comunitárias de Origem”);
  • 11. Anos 90 ♦ Entretanto, todavia, contudo... 1) O modelo neoliberal utilizado por Lozada (iniciado no governo de Estenssoro), para estabilizar a hiperinflação de 1985 passava pela Reforma do Estado e por uma forte Austeridade Fiscal; 2) O perfil exportador, com destaque para a soja e o gás favoreciam apenas algumas regiões, como a de Santa Cruz de La Sierra; 3) A partir de 1997, crises financeiras atingem seus vizinhos dos quais o comércio exterior boliviano é fortemente dependente (principalmente Brasil e Argentina). ♦ Assim, o PIB no final dos anos 90 diminui e conjuntamente as desigualdades sociais aumentam (em um país cujo 2/3 da população já vivia abaixo da linha de pobreza); ♦ 1997: Hugo Banzer Suárez (militar e golpista) retoma a presidência (após presidir de 1971-78): • Forte mobilização popular, crescentes reações contra os efeitos sociais regressivos das reformas econômicas de liberalização; • Banzer decreta Estado de Sítio em 8 de abril de 2000 – para deter a onda crescente de protestos sociais e de trabalhadores, mas sem sucesso; • Manifestações se radicalizam.
  • 12. Anos 2000 ♦ 2000: A Guerra da Água – movimento contra o direito exclusivo da comercialização e distribuição do sistema de água de Cochabamba pela empresa americana Bechtel. A “privatização” até da água da chuva durou 5 meses e Banzer teve de cancelar a concessão frente tamanha revolta popular; ♦ 2001: Banzer falece de câncer e seu vice assume - Jorge Quiroga Ramírez até 2003; ♦2003: Gonzalo Sánches de Lozada inicia seu segundo mandato, vencendo com pouca diferença Evo Morales. Propõe a exportação de gás para o México e EUA através do Chile; ♦ Desencadeamento de levantes populares, greves, paralisações de estradas e aumenta a voz das organizações camponesas com forte identidade indígena – A Guerra do Gás (2003); ♦ Duas importantes características que marcam os anos recentes: I. falência das políticas econômicas de cunho neoliberais aplicadas a partir de 1985; II. importante mudança no perfil dos movimentos sociais.
  • 13. Anos 2000 ♦ 2003: Lozada renuncia e é substituído por seu vice Carlos Mesa, que renuncia em junho de 2005, frente as constantes pressões populares pedindo um maior nacionalismo com relação as empresas estrangeiras; ♦ Dezembro de 2005: Evo Morales é eleito presidente com ampla maioria de votos, tornando-se o primeiro presidente de origem indígena. Evo Morales: ♦ Evo: Líder Sindical dos “Cocaleros” e do MAS – Movimiento al Socialismo; ♦ Torna-se bastante notável na imprensa latina e internacional ao resistir as tentativas dos EUA de substituir as plantações de coca por bananas (originárias do Brasil), na província de Chapare;
  • 14. Anos 2000 ♦ Principais Propostas de Evo e do MAS: 1) Convocação de uma Assembléia Constituinte (2006); 2) Nacionalização dos hidrocarbonetos – torna o governo boliviano sócio majoritário da maioria das empresas ligadas aopetróleo e o gás (1 de maio de 2006); 3) Defesa do cultivo e industrialização da coca; ♦ Objetivos de Evo Morales: “As medidas implementadas por Morales buscam gerar benefícios tangíveis e não conjunturais para os setores mais pobres da população, como forma de dar sustentabilidade à nova correlação de forças e reduzir os espaços para opções conservadoras que busquem retomar as trajetórias do pas-sado.” (Ayerbe, L.F.)
  • 15. Indicadores Fonte : Instituto Nacional de Estatística (obs: Média Anual) http://www.ine.gob.bo/
  • 16. Indicadores Fonte : Energy Information Administration http://www.eia.gov/countries/data.cfm#undefined Fonte : Fundo Monetário Internacional http://www.imf.org/
  • 17. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição Propostas e Objetivos: ♦ Viabilizar mudanças concretas no plano institucional nos âmbitos nacional, estadual, regional, municipal e comunal ; ♦ Redefinir o papel dos principais órgãos e dispositivos estatais (judiciário, parlamento, polícia, forças armadas, etc.); ♦ Impor a democracia participativa permanente (referendo) sobre os principais assuntos do país; ♦ Propor uma nova concepção de país ao definir o Estado como plurinacional, comunitário, multiétnico, multicultural e multilinguístico. ♦ Instituir em seus aspectos socioeconômicos o redistributivismo e neodesenvolvimentismo com forte papel do Estado na economia nacional.
  • 18. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição ♦ Os 4 pilares das propostas de Evo Morales e do MAS para o processo de democratização do país: 1. Nacionalização dos recursos naturais; 2. Redistribuição de terras; 3. Inclusão das Sociedades Indígenas 4. Melhoria das condições de vida das populações mais pobres.
  • 19. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição ♦ Aprovação da Nova Constituição em 24 de novembro de 2007, mesmo com o boicote realizado feito pela oposição (Poder Democrático Social – PODEMOS) no dia da votação, os oposicionistas alegavam que a nova Carta Magna aumentaria significativamente os poderes do presidente; ♦ Em 9 de dezembro de 2007, é submetido o texto completo sem destaques; ♦ Em 3 de fevereiro de 2008, os artigos foram votados separadamente, recebendo maioria favorável de dois terços dos constituintes presentes na votação, o PODEMOS que tinha a maioria no senado não participou;
  • 20. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição ♦ Os temas da agenda de negociação foram: a) A unidade nacional, a democracia e a legalidade; b) A estatização da economia e as autonomias departamentais; c) O bônus Renda Dignidad¹; d) O respeito à propriedade privada; e) A iniciativa do Executivo de realizar um referendo revocatório que inclua, além do mandato presidencial, o dos nove governadores. ♦ Esta última proposta é anunciada pelo governo como saída democrática capaz de reiniciar, com nova legitimidade, as relações entre as partes em conflito; ♦ Evo Morales rejeita a reivindicação dos governadores da oposição por “autonomia plena”; 1- (outubro de 2007): assinação vita-lícia de US$ 26 mensais para todas as pessoas de mais de sessenta anos (financiamento realizado via 30% da ren-da petroleira dos departamentos produtores).
  • 21. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição ♦ Agrava o conflito entre o governo e a oposição, dando início ao movimento separatista promovido pelos governos da “meia lua”, Santa Cruz (organização separatista de Santa Cruz, Unión Juvenil Cruceñista), Pando, Beni e Tarija;
  • 22. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição ♦ Os EUA intervieram nos assuntos internos da Bolívia apoiando a oposição, a atitude dos norteamericanos compromete a relação entre os dois países levando a expulsão do embaixador estadunidense Philip Goldberg em setembro de 2008; ♦ Declaração de Estado de Sítio devido a escalada de confrontos violentos em setembro, com crescente número de vítimas fatais no Departamento de Pando; ♦ A presidente chilena Michelle Bachelet convoca reunião de emergência da União das Nações Sul-americanas (Unasul), em que os chefes de Estado manifestam seu apoio a Evo Morales e pedindo o fim das hostilidades contra um presidente democraticamente eleito;
  • 23. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição ♦ Em outubro começa o processo de negociação entre o governo e a oposição: participação, como testemunhas, de representantes da OEA, da Igreja Católica, da Unasul, da ONU e da União Europeia. Com o aval do Congresso nacional, chega-se a um acordo para a realização do referendo em 25 de janeiro de 2009 e Evo Morales sai vitorioso; ♦ O presidente Evo Morales ganha legitimidade, com manifestações favoráveis que incluem o governo de Barack Obama; ♦ Em 25 de janeiro de 2009, a Carta Constitucional passou entrar em vigor após o acordo entre e o governo e a oposição (AYERBE; MOURA e CASTRO);
  • 24. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição ♦ O texto aprovado no referendo entre o acordo do governo e a trouxe algumas pequenas alterações do texto original, podemos verificar as modificações em alguns artigos selecionados no quadro abaixo: Fonte: http://www.repac.org.bo/documentos/comparativo%20NCPE.pdf>. Acesso em: 15/10/2009 .
  • 25. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição A Nova Constituição do Estado Plurinacional da Bolívia Preâmbulo “En tiempos inmemoriales se erigieron montañas, se desplazaron ríos, se formaron lagos. Nuestra amazonia, nuestro chaco, nuestro altiplano y nuestros llanos y valles se cubrieron de verdores y flores. Poblamos esta sagrada Madre Tierra con rostros diferentes, y comprendimos desde entonces la pluralidad vigente de todas las cosas y nuestra diversidad como seres y culturas. Así conformamos nuestros pueblos, y jamás comprendimos el racismo hasta que lo sufrimos desde los funestos tiempos de la
  • 26. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição Estado Pluricultural x Estado Monocultural. ♦ A Constituição de 2009 reconhece a Bolívia como um Estado Plurinacional, são reconhecidos além do espanhol, outras 37 línguas oficiais de nações indígenas nativas: ♦Espanhol: o mais falado em todo o país, por 88,4% dos habitantes; ♦ Quechua: 28% da população, era a língua oficial do império Inca. É falada principalmente em Cochabamba, Chuquisaca e Potosí; ♦ Aymara: 18% da população, língua de origem anterior ao império Inca. É falada principalmente em La paz e Oruro; ♦ Guaraní: 1% da população. É encontrada em Santa Cruz e região do Chaco; ♦ Outros: 4% da população. Tem o Muxeño (em Beni), outras línguas indígenas e também línguas estrangeiras como o português e o inglês. Fonte: http://www.debolivia.info/Idiomas-debolivia-6.html
  • 27. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição A Nova Constituição do Estado Plurinacional da Bolívia ♦ Uma nova forma de concepção de Estado (“comunidade imaginada”) é instituída na Constituição boliviana, o qual objetiva abranger a multiplicidade sóciocultural: ♦ Artigo 1: “Bolívia se constitui num Estado Unitário Social de Direito Plurinacional Comunitário, livre, independente, soberano, democrático, intercultural, descentralizado e com autonomias. Bolívia funda-se na pluralidade e o pluralismo político, econômico, jurídico, cultural e linguístico, dentro do processo integrador do país”. ♦ No que diz respeito à organização territorial, é instituída uma divisão entre departamentos, províncias, municípios e territórios indígenas originários camponeses, com autonomias de escolha de autoridades e administração.
  • 28. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição ♦ A nova Constituição garante direitos específicos de controle sobre a própria jurisdição à populações de origem indígena e campesina: ♦ Artigo 200 “La jurisdicción indígena originario campesina conocerá todo tipo de relaciones jurídicas, así como actos y hechos que vulneren bienes jurídicos realizados por cualquier persona dentro del ámbito territorial indígena originario campesino. La jurisdicción indígena originario campesina decidirá en forma definitiva, sus decisiones no podrán serán revisadas por la jurisdicción ordinaria, y ejecutará sus resoluciones en forma directa”. ♦ Um dos maiores conflitos resultante da reforma constitucional gira em torno da autonomia dos camponeses e indígenas e da autonomia departamental dos “Comitês Cívicos”, organizado pelas “oligarquias” regionais, principalmente em Santa Cruz (GIL, 2008);
  • 29. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição ♦ De acordo com Ayerbe (2011), “a categoria povo passa a ser subordinada à de nação e a referência explícita a classes sociais é eliminada”. ♦ Os recursos naturais são estatizados, fator que limitará o poder político da oposição que se localizam nas regiões do leste. Ex: O primeiro passo da estatização foi a ocupação militar de uma das instalações da Petrobras na Bolívia; ♦ Outro ponto polêmico da nova Constituição para os opositores e entre a comunidade internacional é a reeleição ilimitada do presidente; ♦ Em síntese, este processo trouxe à tona duas concepções de país completamente discrepantes: I) A primeira busca incorporar a maioria social no sistema político, econômico e cultural, outorgar direitos e ampliar a cidadania; II) A segunda acredita que a autonomia departamental é a única possível para desenvolver o país social e economicamente com a proteção da propriedade privada e investimento do capital estrangeiro.
  • 30. Assembléia Constituinte e a Nova Constituição
  • 31. A Guerra do Gás Contexto: ♦ Nome popular utilizado para designar os conflitos de Outubro de 2003 ocorridos na Bolívia relacionados à exploração das reservas de gás natural. ♦ Decisão do governo de exportar gás natural aos EUA e ao México gera uma insurreição popular. (preço de exportação seria de menos de 1 dólar por milhar de BTU. População considera que seu gás estava sendo entregue de presente). ♦ Confrontos da população entre a polícia e as forças armadas terminam com uma estimativa de 80 mortos e 400 feridos e com a renúncia do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada. ♦Cenário de crise econômica na Bolívia. Sentimento de abandono da sociedade pelo Estado que buscava melhorar as condições financeiras do país sem atentar paras os rigorosos problemas sociais.
  • 32. A Guerra do Gás Motivações: ♦ Fatores objetivos, materiais (gás), fatores sociais e fatores ideológicos. ♦ Gás. Catalisador perfeito para uma mobilização popular. ♦ Social: Miséria, desolação e sentimento de abandono pela população boliviana. Insatisfação geral incita adesão às manifestações. Gás nacional visto como última esperança de melhoras. ♦ Ideológicos: Difusão das tendências anticapitalistas mormente pelas lideranças dos movimentos sociais. “Derrubada de um Estado capitalista dependente do Império norte-americano e do FMI.” ♦ Materiais: Reivindicações da utilização do gás para abastecer o mercado interno. Até então grande parte das famílias boliviana ainda cozinhavam à lenha. ♦ Reação violenta da polícia e exército une de vez a população. Solidariedade mútua.
  • 33. A Guerra do Gás Características importantes: ♦ Revolução articulada por uma quantidade de movimentos sociais de características bastante diferentes. ♦ Ideais anticapitalistas e antiglobalização é ponto de convergência entre os movimentos assim como insatisfação geral contra o governo. ♦ População pobre do alto de La Paz inicia a insurgência e consegue provocar eco em toda sociedade boliviana. ♦ Articulação autônoma da população. Presença das redes sindicais e comunitárias. ♦ Papel importante da anterior “Guerra da Água” (2000 – Cochabamba) ♦ Ausência coordenação ou liderança de qualquer partido político nas manifestações. Sociólogos locais: Desnecessidade dos partidos políticos como veículo de expressão dos direitos das populações?
  • 34. Dilemas e cenário atual Meio Ambiente x Desenvolvimento: ♦ Questão recorrente no cenário político boliviano desde a chegada ao poder de Evo Morales em 2006. ♦ Caso Tipnis. Construção de rodovia que atravessaria reserva indígena. ♦ Evo Morales: Opções da construção da rodovia se limitariam ao “sim ou sim”. Marcha popular fez o presidente ceder à pressão e não realizar construção. ♦ Região de difícil acesso. Objetivo da rodovia seria integrá-la ao resto da Bolívia, possibilitando o real acesso do Estado (infraestrutura, serviços públicos, etc.). ♦ Dilema enfrentando na maioria dos países sul-americanos. Brasil (Belo Monte); Argentina e Equador (projetos de mineração). ♦ Evo Morales e o MAS. “Refundação” do país. Desenvolvimento industrial e autoafirmação e pleno reconhecimento dos direitos da maioria indígena.
  • 35. Dilemas e cenário atual Meio Ambiente x Desenvolvimento: ♦ Como conciliar as promessas etno-ambientalistas com a necessidade em elevar as condições materiais do país em curto prazo? ♦ Eleição e reeleição de Evo Morales tiveram como plataforma um governo desenvolvimentista, mas que defenderia a “Pacha Mama”. ♦ Vice-presidente Álvaro García Linera é o principal defensor da opção industrializante. Urgência do governo proporcionar benefícios palpáveis para a maioria desfavorecida, base de eleitores do MAS. Linera: “ O tempo conspira contra os processos revolucionários”. ♦ Linera defende a exploração das reservas de hidrocarbonetos e de minérios como essenciais para industrializar o país, melhorar os indicadores sociais e redistrubuir a riqueza.
  • 36. Dilemas e cenário atual Meio Ambiente x Desenvolvimento: ♦ Dados do governo MAS (Evo) entre 2005 – 2010: - Participação estatal no PIB passou de 17% para 34%. - Investimentos públicos passam de U$ 600 milhões para U$ 3,2 bilhões. ♦ Esses números são creditados ao decreto de nacionalização dos hidrocarbonetos de 2006. Participação estatal nas receitas do gás natural saltam de 30% para 70%. Redução drástica dos lucros das transnacionais (crise diplomática com o Brasil – Petrobrás). ♦ Dilema imediato do governo: Confronto com as ONGs ambientalistas e parcela das entidades indígenas. Aliadas do MAS na recente luta contra a privatização e uso predatório dos recursos naturais. ♦ Críticos do governo apontam crise profunda no processo de mudanças. Distanciamento das autoridades e movimentos sociais, violação dos princípios democráticos, e falta de aplicação efetiva do texto constitucional.
  • 37. Dilemas e cenário atual Meio Ambiente x Desenvolvimento: ♦ O vice-presidente Linera enumera quatro pontos onde se manifestam as contradições dentro do bloco de apoio do governo: - Relação entre o Estado e os movimentos sociais. - Garantia da liderança do processo político pelos indígenas, camponeses e operários e incorporação de outros segmentos da sociedade. - Embate entre os interesses gerais e os interesses setoriais ou particulares. - Tensão entre o uso sustentável da natureza e a necessidade estatal de gerar excedentes econômicos e industrializar o país. ♦ Apesar de dizer que não há uma receita para equilibrar as duas demandas, Linera reafirma o compromisso do governo em “dialogar com a natureza”. ♦ No entanto, sempre destacar a necessidade da primazia do interesse coletivo sobre reivindicações de grupos específicos e a exploração de “pequenos trechos de natureza” para tornar viável e estabilizar o governo de camponeses, indígenas e trabalhadores etabelecido.
  • 38. Dilemas e cenário atual Referências: ♦ AYERBE, L. F. (org.) Novas lideranças e alternativas de governo na América do Sul. São Paulo, Unesp, 2008. ♦ _________. Crise de hegemonia e emergência de novos atores na Bolívia: o governo de Evo Morales. In: Lua Nova, São Paulo, 83: 179-216, 2011. ♦ CANO, W. “Soberania e Política Econômica na América Latina”. ♦ CORO, Victor H. Q. “La nueva institucionalidad de uma nueva concepción de desarollo”. ♦ CRABTREE, J.; MOLINA, G.G.; WHITHEREAD, L. “Tensiones Irresueltas: Bolivia, pasado y presente”. ♦ FUSER, Igor. “Bolívia na encruzilhada”. ♦ GIL, A. D. “Bolívia e Equador no contexto atual” In: AYERBE, L. F. (org.) Novas lideranças e alternativas de governo na América do Sul. São Paulo, Unesp, 2008. ♦ MESA, C. “Bolívia” In: LAFER, C. (org.) Presidentes da América Latina. São Paulo, Fundação Memorial da A. Latina & Imprensa Oficial, 2006. ♦ STEFANONI, Pablo. “Adónde nos leva el pachamamismo”