A HISTÓRIA DE UMA JORNALISTA QUE NUNCA SE DEIXOU LIMITAR PELA DEFICIÊNCIA
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JORNALISMO
SOBRE DUAS RODAS
“
Só não escalo uma montanha porque não te-
nho vontade, mas se um dia tiver vou arru-
mar um jeito de chegar lá em cima”, essa é
a maneira como a jornalista Thais Altomar costuma
encarar a vida.
Casada e mãe de dois filhos, Thais é formada em
trabalho e profissões
Comunicação Social pela antiga Faculdade da Cida-
de, atual UniverCidade, do Rio de Janeiro (RJ). Aos
49 anos, ela preside a Somar Brasil – Associação de
Apoio às Pessoas com Deficiência – e é dona de um
currículo impressionante.
Thais foi diagnosticada com poliomielite aos qua-
A HISTÓRIA DE UMA JORNALISTA QUE USOU DO BOM HUMOR E OTIMISMO PARA
SE TORNAR UMA PROFISSIONAL REALIZADA
Por: Adilson Randi | Fotos: Arquivo pessoal
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tro meses de vida. A disseminação da infecção atin-
giu o sistema nervoso e atacou os neurônios respon-
sáveis pelas funções motoras, causando a paralisia
dos membros inferiores.
Desde muito pequena, Thais não teve dificulda-
des em lidar com sua deficiência no ambiente es-
colar. Apesar dos prédios raramente apresentarem
algum tipo de acessibilidade, qualquer obstáculo fí-
sico era superado com alegria e ajuda dos amigos.
“Eu era muito comunicativa e isso facilitava a inte-
gração com colegas e professores. Eu mostrava que
lidar com uma pessoa em uma cadeira de rodas era
simples, bastava uma boa comunicação”, conta a
jornalista.
Na faculdade não foi diferente. Sempre bem hu-
morada e muito comunicativa, Thais tentou apro-
veitar ao máximo as oportunidades que a universi-
dade proporcionava. Em pouco tempo se apaixonou
por Rádio e TV, e estagiou em grandes empresas
como Petrobras, PetroRio e na extinta Fundação
Roquette Pinto, hoje TV Brasil. Aos 27 anos, foi con-
tratada pela Rede Tropical de Comunicação, do Rio
Grande do Norte (RN). Em Natal (RN), trabalhou
como redatora, repórter, editora, chefe de redação e
apresentadora do Tropical Esporte.
A jornalista nunca enxergou sua deficiência como
um empecilho para atingir seus objetivos. A falta de
acessibilidade e o preconceito das pessoas eram fa-
tores que dificultavam essa tarefa, mas não a impe-
diam de seguir em frente. “Claro que a gente percebe
a expectativa das pessoas quanto à capacidade, por-
que deficiência ainda está muito ligada a limitações,
mas os estágios me deixaram muito segura para o
trabalho e foi fácil passar confiança aos chefes e co-
legas”, explica Thais.
O bom humor sempre foi uma característica forte
na vida da jornalista. As experiências profissionais
e pessoais proporcionaram uma coleção de histórias
engraçadas e curiosas. “Por causa da deficiência,
minha altura não ajudava muito para a postura de
apresentadora. Então, eu sentava num livro enorme
e grosso. Acho que era um dicionário. Por isso, meus
colegas de trabalho brincavam dizendo que meu tra-
seiro era inteligentíssimo”, brinca.
Três anos depois se mudou para Juiz de Fora
(MG), onde trabalhou na TV Tiradentes, no jornal
Diário Regional e na Rádio Solar. Em 2005, passou
a chefiar o Departamento de Apoio à Pessoa com De-
ficiência, ligado à Política Social, na Prefeitura de
Juiz de Fora. “Foi a primeira vez que lidei com ou-
tras deficiências diferentes da minha e conheci um
universo interessantíssimo. Percebi que era preciso
ir além”, relata a jornalista. A partir dessas novas
experiências e do lidar com outras pessoas com de-
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ficiência, Thais decidiu, junto a outros entusiastas,
formar uma associação de apoio para pessoas com
deficiência.
Profissional realizada
A ajuda familiar foi motivadora na trajetória da
jornalista, que ressalta: “a presença forte de meus
pais e irmãos foram fundamentais para o meu suces-
so. Minha família foi um porto seguro para todas as
minhas dificuldades”.
Sobre a carreira, ela afirma ser uma profissional
realizada. “Fiz de tudo na minha profissão: televi-
são, rádio, jornal impresso, revista, revista eletrôni-
ca e hoje consigo unir na associação tudo que mais
gosto de fazer, que é apoiar, discutir e divulgar o dia
a dia das pessoas com deficiência, fazendo valer nos-
sos direitos.”
Ainda sobre o trabalho, Thais tem artigos e ma-
térias publicadas na Revista Capoeira Brasil e no
jornal O Recifense, além de comandar o blog da as-
sociação. “Minha meta é transformar a Somar Brasil
numa única voz, onde estão aqueles que conhecem
os seus direitos, que lutam por eles, mas que não
esquecem seus deveres como cidadãos”, finaliza.
Somar Brasil
Fundada em julho de 2010, a associação tem como
principal meta realizar ações de inclusão com incen-
tivo à educação, ao trabalho, ao esporte, à cultura e
ao lazer. A Somar Brasil não tem o objetivo de ser
assistencialista, mas sim promover o contato direto
com as pessoas e discutir temas como: defesa de di-
reitos, mercado de trabalho, motivação, equiparação
de oportunidades e acessibilidade entre outros.
Atualmente, Thais ocupa a presidência da asso-
ciação, que coleciona importantes parcerias em Juiz
de Fora, com órgãos como a Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB/MG), a ASTRAMSP, a Polícia Mili-
tar, a TV Integração (filiada da Rede Globo na cida-
de), a Secretaria de Trânsito e o Conselho Municipal
de Segurança e Educação para o Trânsito.
Atualmente, Thais está na Chefia do Departa-
mento de Políticas para pessoas com Deficiência e
Direitos Humanos, da Secretaria de Desenvolvimen-
to Social.
SOMAR BRASIL
somarbrasil.blogspot.com.br/