2. As crianças merecem tudo, merecem
que as vistamos como se fossem anjos,
tesouros vivos nos nossos corações de pais,
figuras dos nossos sonhos...
Quase um século de carinhos, de
mimos, de laçarotes e lãs-metidas, a contar
uma história de avós, mães e netas, sempre
com um final feliz e com muitos sorrisos de
crianças.
Uma das minhas avós foi modista.
Uma modista à moda antiga. Uma casa cheia
de raparigas, soltas, com muitas gargalhadas,
a fazerem lembrar os filmes dos anos 30. Os
meus vestidos nasceram aí, por entre rolos de
linhas, agulhas e alfinetes. A minha mãe,
inspirada no que via, criava os modelos e a
minha
avó
“cortava”.
O
resto,
eram
discussões entre a rapidez, ainda jovem, da
minha mãe e o perfecionismo da minha avó.
No final, eu trazia para a rua a vaidade
daquelas duas mulheres.
A outra minha avó misturava as lãs
como se pintasse. Depois das camisolas de
lãs-metidas que fez para o meu pai, com
cavalinhos, galos e galinhas de todas as cores,
fê-las também para mim e para os meus
irmãos. Eram, no fundo, réplicas do que fizera
antes. As camisolas quentes e coloridas que
3. nos aqueciam de inverno tinham sido já
modelos na criança que fora o meu pai.
A minha mãe e eu fizemos com os
meus filhos e com os meus sobrinhos o
mesmo que estas mulheres fizeram comigo e
com os meus irmãos.
Agora sou eu que tenho pressa e a
minha mãe que procura a perfeição. Agora
são os meus filhos e os meus sobrinhos que se
vestem com as mesmas coisas recreadas e
que nós, eu e os meus irmãos, então,
vestimos. E os batismos e as festas de
aniversário
e
as
calendário
vieram
datas
marcantes
pejadas
de
do
delícias
repetidas de outros tempos, de recriações
autênticas de sonhos de uma outra época,
como se quiséssemos que a nossa família não
acabasse nunca. Pelo menos na imagem dos
anjos que fomos um dia aos olhos dos nossos
pais.
Queremos
mostrar-vos
o
que
vestimos, recriando para todos vós os
modelos que um dia usámos e usaram, agora,
os nossos filhos.
Que a doçura do amor com que nos vestimos
chegue até vós!