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Novas Tecnologias Aplicadas ao Ensino Superior
                                Prof. Gilberto Tessari Jr.


                       A estrutura dos caracteres
O sucesso de uma peça impressa é resultado de ousadia, mas sempre com
conhecimento de causa, pois o profissionalismo não pode estar aliado à sorte.
Podemos ter um sistema de composição altamente sofisticado, fotolitos de primeira
geração, com alta definição, suporte de qualidade, porém todos esses componentes
estarão sendo desperdiçados se os impressos não forem projetados com equilíbrio e
proporção. A escolha tipológica é fator preponderante no aspecto visual do
trabalho.




                   Ápice – extremidade superior da letra
                   Haste – parte que compõe a letra propriamente
                   Trave – características que atravessam as letras
                   Base ou Pé – extremidade inferior da letra
                   Serifas – aparas nas extremidades da letras
Para entender tipologia é necessário conhecer a essência, ou melhor, a estrutura de uma
letra, suas variantes e as funções que determinam sua utilização.
A evolução vem provar que a tendência tipológica é, sem dúvida, a simplificação, buscando
sempre maior legibilidade. Após o domínio da estrutura elementar das letras, passaremos
a uma análise comportamental, visto que as letras não são lidas individualmente, mas em
grupos, perfazendo uma imagem formal que deve ser vista como um todo.
Partindo desse ponto de vista, a primeira coisa a ser notada é que, na formação das
palavras, as massas visuais tendem a formar grises (mistura do negro com os brancos dos
impressos, que dão a sensação de vermos manchas acinzentadas) com dois tipos de
comportamento.
O comportamento retangular é proporcionado quando as palavras são montadas com
letras maiúsculas (caixa alta), formando faixas com pouca ou nenhuma variação na sua
forma.


                                  GHIKOP
O comportamento ondulado é proporcionado quando as palavras são formadas por letras
minúsculas (caixa baixa). Devido à variação dos desenhos, com hastes ascendentes e
descendentes, produzem uma sensação agradável para os olhos de quem as lê.


                                   ghikop
Analisando a caixa baixa, temos, estruturalmente, o núcleo da letra, que forma a faixa
tonal propriamente dita, e as hastes ascendentes e descendentes, que proporcionam uma
graduação de grises, dando às frases uma forma agradável à leitura.
As Famílias


Romana antiga

Criada pelos franceses no século XVIII, inspirada na escrita monumental romana,
que era gravada a cinzel triangular em pedra ou bronze, produzindo contraste
entre as hastes e as suas serifas triangulares. Proporciona ao leitor um
inconsciente descanso visual, decorrente do contraste harmonioso aliado à leveza
do desenho de suas serifas ao ornamentar as aparas da extremidade de suas
letras. Apesar de desenhadas há séculos, são imbatíveis na área editorial para
grandes volumes de textos, alcançando o maior grau de legibilidade de todas as
famílias.
Romana moderna

Este grupo caracteriza-se por ser uma evolução dos romanos clássicos, em que
os desenhistas acentuaram o contraste entre as hastes e substituíram as serifas
de forma triangular por aparas retilíneas nas extremidades, característica essa
herdada do alfabeto grego. Criados pelos italianos, no século XVIII, os romanos
modernos trouxeram sensível melhora na legibilidade das letras, tornando-as
mais leves e belas.
Esteticamente agradáveis, apesar de frágeis, porque o desenho de suas hastes
tem espessuras muito finas (tanto quanto as serifas), que comprometem a
reprodução dos textos, principalmente em sistemas de impressão em que o texto
necessita passar por um processo de reticulagem.
Egípcia

A família egípcia foi criada com o advento da revolução industrial, no século
XVIII, e tem como característica estrutural uma certa uniformidade nas hastes e
serifas retangulares.
Esses caracteres têm em suas hastes a força que os habilita a serem usados
onde é necessário transmitir uma dose de vitalidade, principalmente em títulos;
contudo, suas serifas de formato retangular desaconselham seu uso em textos
longos, por torná-los pesados demais.
Lapidária (Sem Serifas)

Criada na Alemanha no século XIX, sua estrutura foi baseada nas inscrições
fenícias, que perpetuavam suas mensagens usando bastões de argila
pressionados sobre as lápides, proporcionando caracteres com poucas variações
em suas hastes, cujos arremates não possuíam serifas.

Os desenhos modernos, com hastes, sem serifas e uniformes, tornam esta
família a mais visual, a mais legível de todas, sendo indicada na confecção da
maioria dos textos publicitários e de embalagens. Não são recomendados para
textos longos, pois a falta de contraste entre as hastes torna-os cansativos.
Cursiva / Fantasia

Afora os grupos de letras já vistos, classificamos como família cursiva os
caracteres que não se encaixam em nenhuma das estruturas anteriores.
Portanto, é no grupo cursivo que encontramos as letras sem parâmetros de
classificação, com hastes e serifas livres. É o caso dos caracteres góticos, que
imitam a escrita alemã do século XV, dos que imitam a escrita manual, buscando
dar um clima de intimidade, e as letras que, mesmo tendo sua estrutura de uma
das famílias anteriores, têm sua legibilidade alterada por sombreamentos ou
ornamentos, que desfiguram sua característica básica. Essas qualificações
tornam a família cursiva a mais ilegível de todas, ficando seu uso limitado a
destaques, com número limitado, de toques.

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A estrutura dos caracteres

  • 1. Novas Tecnologias Aplicadas ao Ensino Superior Prof. Gilberto Tessari Jr. A estrutura dos caracteres O sucesso de uma peça impressa é resultado de ousadia, mas sempre com conhecimento de causa, pois o profissionalismo não pode estar aliado à sorte. Podemos ter um sistema de composição altamente sofisticado, fotolitos de primeira geração, com alta definição, suporte de qualidade, porém todos esses componentes estarão sendo desperdiçados se os impressos não forem projetados com equilíbrio e proporção. A escolha tipológica é fator preponderante no aspecto visual do trabalho. Ápice – extremidade superior da letra Haste – parte que compõe a letra propriamente Trave – características que atravessam as letras Base ou Pé – extremidade inferior da letra Serifas – aparas nas extremidades da letras
  • 2. Para entender tipologia é necessário conhecer a essência, ou melhor, a estrutura de uma letra, suas variantes e as funções que determinam sua utilização. A evolução vem provar que a tendência tipológica é, sem dúvida, a simplificação, buscando sempre maior legibilidade. Após o domínio da estrutura elementar das letras, passaremos a uma análise comportamental, visto que as letras não são lidas individualmente, mas em grupos, perfazendo uma imagem formal que deve ser vista como um todo. Partindo desse ponto de vista, a primeira coisa a ser notada é que, na formação das palavras, as massas visuais tendem a formar grises (mistura do negro com os brancos dos impressos, que dão a sensação de vermos manchas acinzentadas) com dois tipos de comportamento. O comportamento retangular é proporcionado quando as palavras são montadas com letras maiúsculas (caixa alta), formando faixas com pouca ou nenhuma variação na sua forma. GHIKOP O comportamento ondulado é proporcionado quando as palavras são formadas por letras minúsculas (caixa baixa). Devido à variação dos desenhos, com hastes ascendentes e descendentes, produzem uma sensação agradável para os olhos de quem as lê. ghikop Analisando a caixa baixa, temos, estruturalmente, o núcleo da letra, que forma a faixa tonal propriamente dita, e as hastes ascendentes e descendentes, que proporcionam uma graduação de grises, dando às frases uma forma agradável à leitura.
  • 3. As Famílias Romana antiga Criada pelos franceses no século XVIII, inspirada na escrita monumental romana, que era gravada a cinzel triangular em pedra ou bronze, produzindo contraste entre as hastes e as suas serifas triangulares. Proporciona ao leitor um inconsciente descanso visual, decorrente do contraste harmonioso aliado à leveza do desenho de suas serifas ao ornamentar as aparas da extremidade de suas letras. Apesar de desenhadas há séculos, são imbatíveis na área editorial para grandes volumes de textos, alcançando o maior grau de legibilidade de todas as famílias.
  • 4. Romana moderna Este grupo caracteriza-se por ser uma evolução dos romanos clássicos, em que os desenhistas acentuaram o contraste entre as hastes e substituíram as serifas de forma triangular por aparas retilíneas nas extremidades, característica essa herdada do alfabeto grego. Criados pelos italianos, no século XVIII, os romanos modernos trouxeram sensível melhora na legibilidade das letras, tornando-as mais leves e belas. Esteticamente agradáveis, apesar de frágeis, porque o desenho de suas hastes tem espessuras muito finas (tanto quanto as serifas), que comprometem a reprodução dos textos, principalmente em sistemas de impressão em que o texto necessita passar por um processo de reticulagem.
  • 5. Egípcia A família egípcia foi criada com o advento da revolução industrial, no século XVIII, e tem como característica estrutural uma certa uniformidade nas hastes e serifas retangulares. Esses caracteres têm em suas hastes a força que os habilita a serem usados onde é necessário transmitir uma dose de vitalidade, principalmente em títulos; contudo, suas serifas de formato retangular desaconselham seu uso em textos longos, por torná-los pesados demais.
  • 6. Lapidária (Sem Serifas) Criada na Alemanha no século XIX, sua estrutura foi baseada nas inscrições fenícias, que perpetuavam suas mensagens usando bastões de argila pressionados sobre as lápides, proporcionando caracteres com poucas variações em suas hastes, cujos arremates não possuíam serifas. Os desenhos modernos, com hastes, sem serifas e uniformes, tornam esta família a mais visual, a mais legível de todas, sendo indicada na confecção da maioria dos textos publicitários e de embalagens. Não são recomendados para textos longos, pois a falta de contraste entre as hastes torna-os cansativos.
  • 7. Cursiva / Fantasia Afora os grupos de letras já vistos, classificamos como família cursiva os caracteres que não se encaixam em nenhuma das estruturas anteriores. Portanto, é no grupo cursivo que encontramos as letras sem parâmetros de classificação, com hastes e serifas livres. É o caso dos caracteres góticos, que imitam a escrita alemã do século XV, dos que imitam a escrita manual, buscando dar um clima de intimidade, e as letras que, mesmo tendo sua estrutura de uma das famílias anteriores, têm sua legibilidade alterada por sombreamentos ou ornamentos, que desfiguram sua característica básica. Essas qualificações tornam a família cursiva a mais ilegível de todas, ficando seu uso limitado a destaques, com número limitado, de toques.