1. Análise ética e moral de Eichmann em “Hannah Arendt”
Hannah Arendt nasceu em 1906, na Alemanha, de uma família judia. Desde
cedo focou seus estudos para a filosofia, passando a se dedicar à ciência política. Hanna
foi vítima de perseguição nazista na Alemanha, fugindo em 1933 para Paris e em 1940
para Nova York, onde se naturalizou americana em 1951. Foi uma das principais
pensadoras políticas do século 20 e se destacou com obras como “Eichmann em
Jerusalém” (1963) que relata sobre as condições da prisão e dos julgamentos de Adolf
Eichmann, tenente coronel da SS.
Em 2012, dirigido por Margarethe von Trotta, foi lançado um filme com seu
nome. O filme causa impacto. Trata-se, tema central do pensamento de Hannah Arendt,
de refletir sobre a natureza do mal. O pano de fundo é o nazismo, e o julgamento de um
dos grandes mal-feitores da época, Adolf Eichmann.
Hannah, ao decidir ir ao julgamento esperava ver um monstro. Mas o que ela
viu, e o que só ela viu, foi a banalidade do mal. Viu um burocrata preocupado em
cumprir as ordens, para quem as ordens substituíam a reflexão de qualquer pensamento
que não fosse o de bem cumprir as ordens. Ela identificou em Eichmann, alguém
habituado a não pensar. Para Hannah, a banalidade que tanto facilita a vida, era
descasada dá ética. Ou seja, para Hannah, Eichmann era um homem comum, inclusive
medíocre, que não inspirava medo ou terror em ninguém.
Eichmann, não era só um homem normal, segundo Hannah, era um bom pai de
família, um filho exemplar e um irmão dedicado e surpreendentemente não era estúpido,
insano, criminosamente motivado, ou ideologicamente antissemita. Por isso Hannah diz
que o comportamento de Adolf é “vagamente consciente”, ou seja, é banal, não tem
explicação convincente, não tem motivação alguma, nem ideológica e nem patológica.
Eichmann era então, apenas uma engrenagem do sistema todo nazista, o qual
poderia ser facilmente substituído por qualquer outro que desempenhasse o mesmo
papel, visto que não se tratava de uma maldade específica, mas do cumprimento de
funções do estado. O que não tira a culpa de Eichmann, que deveria ser julgado por seus
crimes normalmente. Hannah insistia na liberdade que caracteriza fundamentalmente a
ação humana, que funda e exige toda e qualquer formação moral.
O ponto que Hannah levantava, era de que Eichmann não poderia ouvir “a voz
da consciência”, visto que esta voz não é algo dado naturalmente e sim construído
coletivamente. Ou seja, para ela, Eichmann não tinha acesso a um conjunto de valores
morais que lhe informasse sobre o horror do qual ele fazia parte.
Em suma, Eichmann teve um comportamento “normal” se comparado a moral
alemã da época, onde os pensamentos nazistas prevaleciam. Adolf, não
voluntariamente, ignorou toda moral e ética e não se questionou sobre a própria moral
onde estava inserido, onde assassinar era uma de suas funções. Aos olhos de Hannah,
ele era apenas uma marionete, um robô, que executava ordens sem questionar e sem a
capacidade de julgar se era certo ou errado. Ordem era ordem e ponto final.