O documento resume o I Treinamento em Metodologia de Pesquisa em Sexualidades, Gênero e Direitos Humanos, que contou com a participação de diversas pesquisadoras discutindo temas como sexualidade, gênero, raça e direitos humanos no Brasil. As palestrantes abordaram suas experiências e pesquisas sobre esses temas, bem como a importância de se falar sobre grupos marginalizados e a luta contra a heteronormatividade e o machismo. O texto celebra a diversidade de vozes e perspectivas apresentadas no evento.
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
Sobre o Treinamento
1. Pessoas Lindas,
O I Treinamento em Metodologia de Pesquisa em Sexualidades, Gênero e Direitos
Humanos, que se tornou também Seminário, foi construído por uma história de um
ser no mundo, não sendo nunca verdadeiramente de um ser, mas sim de uma
ancestralidade, lembrando Eduardo Oliveira. Uma ancestralidade que se fez pelo
ontem, que se faz pelo hoje e se fará pelo amanhã envolto num movimento múltiplo
que se desloca em mitos fundadores, cujos conteúdos se repetem, se modificam
nas fissuras, nas cumplicidades, nas rupturas, no entrelugar, no quase sem lugar, ora
na zona dos ininteligíveis, ora na zona dos inteligíveis.
Passado, presente e futuro se confundiam no devir de um tempo... Imaginava
situando-me numa matrix, e daí ancorava-me na voz de Maria Luiza Heilborn que
ressoava sua maestria de um lugar inesperado para uma mulher. E é esta mulher que
se constitui e é constituída pelo escracho e o gozo das estruturas. Nada psicanalítico
lacaniano e nem tampouco levistraussiano. É vontade de potência transmutada. É a
mulher empoderada.
O presente agora, se apresenta naquele espaço austero, simbólico, que se insurge em
Defesa dos Direitos Humanos, mas que teima em meter medo e receios naquelas
vítimas que se viram violadas em suas dignidades. Nele, uma mulher, Márcia Teixeira,
se firma e afirma ser e estar em um lugar encapsulado, dele deslocando-se sem dele
sair, num movimento vital para o deslocamento possível dessa expressão tão
tradicional, sob olhares reprovadores, receosos, mas inevitavelmente rendidos ao
supostamente novo. Ela claramente revela que tudo que é sólido se desmancha no ar
via o gênero e as sexualidades. Mas ainda tudo é tão conservador, é tão machista, é
tão petulante, é tão arrogante, é a encarnação forte da heteronormatividade.
Visivelmente incomodada com a dinâmica desta perversa estrutura que nega o/a
outro/a, Rosa Oliveira, visceralmente escarafuncha este mundo, e, corajosamente se
lança nas possíveis fissuras da heterossexualidade compulsória dos magistrados.
Caminhos lineares tão negociáveis? O que se leva? O que se desencontra?
É no lugar público que se fala de e sobre mulheres, e são elas, as mulheres, que falam.
É na voz de Eliane Maio que ressoam as sexualidades, descortinando a sagrada família,
podendo esta também ser vista como um espaço possível de violência concreta e
simbólica. E o nome da coisa se faz presente em números e as práticas sexuais são
desveladas por uma taxonomia própria de nós, brasileiros/as. Irina Bacci se afirma
como lésbica brasileira e fala sobre suas experiências e aprende com suas experiências
e nos faz rir com seu escracho e nos conta da sua ida à Genebra, onde foi porta voz
LGBT do Brasil. É o lugar de Nádia de Nogueira, o público, que aponta um casal lésbico
cravado no tempo, que se situa e é situada a partir da perspectiva biológica do sexo.
2. As metanarrativas: Quem canta esta nação? Pois bem, falar de nação, miscigenação,
dos/as subalternos e da elite em sua branquitade é nos repensarmos, enquanto lugar
de antropólogos/as, enquanto voz silenciada, enquanto voz sem silêncios, enquanto
colonizados/as, enquanto completamente imersos no fazer sob suspeita. Então,
Suzana Maia nos fala do seu lugar, numa intenção clara de falar daquilo que é sagrado,
sem o desejo da cumplicidade deste seu lugar, difícil jornada... contamos sempre com
o seu deslocamento tão necessário, e, inevitavelmente esquivado por muitos/as, então
a encorajamos. E Laura Moutinho... sempre desejada por nós, nordestinos/as, cuja fala
nos reporta criticamente aos vacilos gilbertianos... leitura e re-leitura necessária para
encarar a metanarrativa de um ser brasileiro. E aí, miscigenação à vista??? Ou
miscigenação subalterna?
E Brasil à fora? Somos Pagus indignadas no palanque... Somos um eu suely messeder,
somos um eu lícia maria barbosa, somos um eu isabele sanches, somos um eu isaura
da cruz, somos um eu nazaré lima , somos um eu joselina silva, somos um eu ana
cristina, somos um eu marta rodrigues, somos um eu bell hooks, somos que somos as
piriguetes anunciadas por clebemilton nascimento, somos as mulheres masculinizadas
no terreiro de murilo arruda... Somos que somos em nossas ancestralidades
construídas em corpos, carne, sangue e fragmentos.... Seremos possíveis sexualidades
com fernanda bezerra? Sem corpo? Sem gênero? Sem os sexos: vagina ou pênis?
Somos hipersexualizados/as. Temos o maior pênis ou a maior bunda da vênus negra?
Então, como nos agenciamos? Nos contextos? E nas intersubjetividades? Quais são as
nossas possibilidades nos interstícios? Quais são as nossas possibilidades estruturais?
E as oficinas? Um mundo à parte das possibilidades e impossibilidades. Serão
certamente narradas em outro momento. E então, rosangela ribeiro, rebeca
benevides, ana lúcia nunes , eloide leite, natalícia barbosa, amanaiara miranda,
domingos souza, graciela fernandez, elizete frança, barbara alves, rejane calixto,
ricardo andrade, natalino perovano, daniela romero, vanessa vila verde, camila ramos,
ione costa, victoria aquino, nildes sena e iris alves serão todas as vozes não mais
silenciadas, ou, se silenciadas, que seja por hiato de tempo completamente
mensurável. Falar de Walter Rozadillas, de Ana Lúcia Castro, de Nildes Sena com a
ideia de performance para daí entendermos a performatividade ou um habitus que se
constrói no self encarnado ou corpomente ou mentecorpo, para daí, então, falar
fortemente sério em demografia e sexualidades, mas com uma leveza tocante via
Alessandra Chacham.
Somos todas/os pessoas com potência construindo pontes imaginárias que são
fortalecidas de dentro pra fora e de fora pra dentro da UNEB, tida muitas vezes como
uma universidade periférica, e agora mais especificamente nesta fala com e sobre os
projetos que estão sendo desenvolvidos com a entrega absoluta da pesquisadora, cujo
3. desejo é alcançar utopia de um mundo, cujas resistências sejam pacíficas, e, a
mudança enseje um mundo mais justo e feliz.
Obrigada a tod@s,
Suely Messeder