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O novo espaço industrial
A desconcentração industrial é um fenômeno mundial, que vem ocorrendo em escala
global, nacional e regional. Trata-se de um processo que tende à nova lógica da
organização industrial mundial. A primeira grande linha de pensamento industrial
surgida no século XIX, o Fordismo, prezava pela concentração espacial de todos os
processos produtivos (verticalização) além da proximidade dos estabelecimentos
industriais das fontes de matéria-prima e do mercado consumidor, a nova tendência
organizacional, surgida no século XX, privilegia a desconcentração espacial das
diferentes etapas de produção e a não necessidade da proximidade dos recursos de
matéria-prima ou do mercado consumidor, caracterizando assim um novo espaço
industrial.
Esse espaço caracteriza-se pela capacidade organizacional e tecnológica de separar o
processo produtivo em diferentes localizações ao mesmo tempo em que reintegra sua
unidade por meio de conexões de telecomunicações. (CASTELLS, 2000, p.412).
a) AS TEORIAS DE LOCALIZAÇÃO
A geografia econômica tem como um de seus principais objetos o estudo dos
mecanismos que determinam a localização das atividades econômicas. Com isso as
primeiras tentativas de explicar tal fenômeno se iniciaram nos fatores de localização. E
para saber em que lugar se instala uma fabrica se levou em consideração fatores e
características como: estruturas do estabelecimento, características tecnológicas e
econômicas do processo de industrialização, especificidades históricas e o dinamismo
das empresas e das indústrias.
Com a crise de 1970, tais concepções conduziram a novas abordagens e no
enfoqueda reestruturação e da divisão do trabalho varias questões foram levantadas.
Abordagens tinham objetivos semelhantes à abordagem baseadas nos fatores de
localização, mas se diferenciava, já que os integrava numa perspectiva técnica mais
ampla que as generaliza da seguinte forma: o desenvolvimento é apenas quantitativo,
mas depende da configuração social dos lugares; considera que os fatores são
interdependentes e não dependentes uns dos outros; não se privilegia os fatores de
localização ou a localização das atividades industriais ou terciarias, mas sim as
características dos lugares, dos meios inovadores, assim como as características dos
complexos territoriais de inovação, considerando combinações complexas e
interdependentes de variáveis e os fatores em virtude dos quais certos lugares são mais
inovadores do que outros.
B) A geografia dos novos espaços industriais
A partir dos anos 70 ocorreram verdadeiras alterações estruturais no plano
internacional, dando origem a uma situação nova. Aparecem novas forças de integração
e desagregação, que manifestam fortes tendências tanto para globalização quanto para
regionalização. Nos anos 80 marcam uma divisão entre dois períodos que se
diferenciam quanto relacionamento econômico entre países e no tipo de indústria. E nos
anos 90, as condições da competição capitalista se tornam amplamente diferentes das
que existiam duas décadas antes.
O novo padrão tecnológico-industrial se firma em quatro grupos de indústrias:
eletrônica, informática, biotecnologia, novos materiais. E as relações entre as empresas
são marcadas pela flexibilidade da produção, que é obtida pela fragmentação
organizacional do processo de produção, criando-se uma profunda divisão social do
trabalho entre as empresas, sendo a subcontratação a principal forma assumida por essa
divisão do trabalho, transformando a unidade de produção em cadeia de produção.
Com esse novo regime de produção, abriu-se uma janela de oportunidades
locacionais. Este fator contribuiu para que muitos produtores se afastassem dos velhos
centros e das relações de emprego e produção fordista. E uma fase de urbanização dava
lugar a uma fase de contra urbanização, as antigas regiões e cidades estavam em
declínio e novos espaços industriais surgiram.
Com a emergência de novos setores de crescimento e a maior competitividade
de algumas novas zonas industriais, podem-se diferenciar regiões baseadas em
atividades artesanais revitalizadas, complexos de indústrias de ponta e metrópoles que
oferecem importantes concentrações em serviços as empresas. Algumas atividades
apresentaram fortes tendências à aglomeração, e foi nessas zonas que se registraram
algumas das mais elevadas taxas de crescimento econômico.
As grandes metrópoles, principais redes físicas e informáticas e das redes de
telecomunicações, continuam a ser as sedes e os núcleos das organizações financeiras,
comerciais e industriais.
http://www.fev.edu.br/graduacao/desconcentracao_industrial_o_processo_seus_m
otivos_e_um_estudo_de_caso-24-artigo.html
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O novo espaço industrial

  • 1. O novo espaço industrial A desconcentração industrial é um fenômeno mundial, que vem ocorrendo em escala global, nacional e regional. Trata-se de um processo que tende à nova lógica da organização industrial mundial. A primeira grande linha de pensamento industrial surgida no século XIX, o Fordismo, prezava pela concentração espacial de todos os processos produtivos (verticalização) além da proximidade dos estabelecimentos industriais das fontes de matéria-prima e do mercado consumidor, a nova tendência organizacional, surgida no século XX, privilegia a desconcentração espacial das diferentes etapas de produção e a não necessidade da proximidade dos recursos de matéria-prima ou do mercado consumidor, caracterizando assim um novo espaço industrial. Esse espaço caracteriza-se pela capacidade organizacional e tecnológica de separar o processo produtivo em diferentes localizações ao mesmo tempo em que reintegra sua unidade por meio de conexões de telecomunicações. (CASTELLS, 2000, p.412). a) AS TEORIAS DE LOCALIZAÇÃO A geografia econômica tem como um de seus principais objetos o estudo dos mecanismos que determinam a localização das atividades econômicas. Com isso as primeiras tentativas de explicar tal fenômeno se iniciaram nos fatores de localização. E para saber em que lugar se instala uma fabrica se levou em consideração fatores e características como: estruturas do estabelecimento, características tecnológicas e econômicas do processo de industrialização, especificidades históricas e o dinamismo das empresas e das indústrias. Com a crise de 1970, tais concepções conduziram a novas abordagens e no enfoqueda reestruturação e da divisão do trabalho varias questões foram levantadas. Abordagens tinham objetivos semelhantes à abordagem baseadas nos fatores de localização, mas se diferenciava, já que os integrava numa perspectiva técnica mais ampla que as generaliza da seguinte forma: o desenvolvimento é apenas quantitativo, mas depende da configuração social dos lugares; considera que os fatores são interdependentes e não dependentes uns dos outros; não se privilegia os fatores de localização ou a localização das atividades industriais ou terciarias, mas sim as características dos lugares, dos meios inovadores, assim como as características dos complexos territoriais de inovação, considerando combinações complexas e interdependentes de variáveis e os fatores em virtude dos quais certos lugares são mais inovadores do que outros. B) A geografia dos novos espaços industriais A partir dos anos 70 ocorreram verdadeiras alterações estruturais no plano internacional, dando origem a uma situação nova. Aparecem novas forças de integração e desagregação, que manifestam fortes tendências tanto para globalização quanto para
  • 2. regionalização. Nos anos 80 marcam uma divisão entre dois períodos que se diferenciam quanto relacionamento econômico entre países e no tipo de indústria. E nos anos 90, as condições da competição capitalista se tornam amplamente diferentes das que existiam duas décadas antes. O novo padrão tecnológico-industrial se firma em quatro grupos de indústrias: eletrônica, informática, biotecnologia, novos materiais. E as relações entre as empresas são marcadas pela flexibilidade da produção, que é obtida pela fragmentação organizacional do processo de produção, criando-se uma profunda divisão social do trabalho entre as empresas, sendo a subcontratação a principal forma assumida por essa divisão do trabalho, transformando a unidade de produção em cadeia de produção. Com esse novo regime de produção, abriu-se uma janela de oportunidades locacionais. Este fator contribuiu para que muitos produtores se afastassem dos velhos centros e das relações de emprego e produção fordista. E uma fase de urbanização dava lugar a uma fase de contra urbanização, as antigas regiões e cidades estavam em declínio e novos espaços industriais surgiram. Com a emergência de novos setores de crescimento e a maior competitividade de algumas novas zonas industriais, podem-se diferenciar regiões baseadas em atividades artesanais revitalizadas, complexos de indústrias de ponta e metrópoles que oferecem importantes concentrações em serviços as empresas. Algumas atividades apresentaram fortes tendências à aglomeração, e foi nessas zonas que se registraram algumas das mais elevadas taxas de crescimento econômico. As grandes metrópoles, principais redes físicas e informáticas e das redes de telecomunicações, continuam a ser as sedes e os núcleos das organizações financeiras, comerciais e industriais. http://www.fev.edu.br/graduacao/desconcentracao_industrial_o_processo_seus_m otivos_e_um_estudo_de_caso-24-artigo.html BENKO, Georges-ECONOMIA, ESPAÇO E GLOBALIZAÇÃO na aurora do século XXL