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O impacto das redes sociais virtuais na construção da identidade e na autoestima dos
usuários
The impact of virtual social networks on identity building and users' self-esteem
El impacto de las redes sociales virtuales en la construcción de la identidad y la
autoestima de los usuarios
RESUMO
As redes sociais virtuais são uma forma de interação social contemporânea que ampliou as
possibilidades de comunicação e interação humana. No campo teórico alguns pesquisadores
enfatizam os benefícios do uso destas ferramentas enquanto outros a criticam. Esta pesquisa
teve por objetivo investigar os possíveis impactos do uso das redes sociais na construção da
identidade e da autoestima dos usuários. O método de pesquisa pode ser descrito como de
natureza exploratória, descritiva e qualitativa. A pesquisa contou com a participação de 20
adolescentes e jovens adultos de 16 a 21 anos de idade, acadêmicos matriculados em cursos do
ensino superior de uma universidade localizada no Vale do Itajaí. Os dados foram coletados a
partir de um questionário sócio demográfico, de entrevista semiestruturada e submetidos à
análise de conteúdo visando interpretar os conteúdos emergentes e seus significados. Os
resultados indicam que as redes sociais estão presentes diariamente na vida das pessoas e
configuram-se como um ambiente onde se estabelecem relações interpessoais e culturais, dessa
forma, impacta na construção da identidade e da autoestima dos usuários. Pode-se perceber que
a diferença entre “tirar proveito da rede” e “ser prejudicado por ela”, depende da capacidade de
controle do usuário na utilização destas ferramentas. Nota-se que existe a exposição do “eu
ideal” na rede, além de uma manipulação da identidade virtual através da vinculação e do
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ocultamento com o intuito de conseguir reconhecimento e aceitação. Como consequência disso,
tem-se uma forma de reconhecimento quantitativo que altera a forma tradicional da construção
da identidade e a autoestima.
Palavras chaves: Redes sociais virtuais, identidade, autoestima.
ABSTRACT
Virtual social networks are a form of contemporary social interaction that expanded the
possibilities of communication and human interaction. In theory some researchers emphasize
the benefits of using these tools while others criticize. This research aims to investigate the
possible impact of the use of social networks in the construction of identity and self-esteem of
users. The research method can be described as a exploratory and descriptive study of
qualitative nature. The research involved the participation of 20 adolescents and young adults,
age 18-21 year, these students are enrolled in higher education courses at a university located
in the Itajaí Valley. Data were collected from a demographic questionnaire, semi-structured
interviews and submitted to content analysis aiming to interpret the emerging content and their
meanings. The results indicate that social networks are present every day in the lives of people
and configure itself as an environment where they establish interpersonal and cultural relations,
thus, impact the construction of identity and self-esteem of users. It can be seen that the
difference between taking advantage of the network and be harmed by it, depends on the user's
ability to control the use of these tools. Note that there is the exposure of the "ideal" in the
network, and a manipulation of virtual identity by linking and concealment in order to achieve
recognition and acceptance. As a result, there is a form of quantitative recognition altering the
traditional way of construction of identity and self-esteem.
Keywords: Virtual social networks, Identity, Self-esteem.
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RESUMEN
Las redes sociales virtuales son una forma de interacción social contemporánea que ha
ampliado las posibilidades de comunicación e interacción humana. En el campo teórico
algunos investigadores enfatizan los beneficios del uso de estas herramientas mientras otros la
critican. Esta investigación tuvo por objetivo investigar los posibles impactos del uso de las
redes sociales en la construcción de la identidad y de la autoestima de los usuarios. El método
de investigación puede ser descrito como de naturaleza exploratoria, descriptiva y cualitativa.
La encuesta contó con la participación de 20 adolescentes y jóvenes adultos de 16 a 21 años
de edad, académicos matriculados en cursos de enseñanza superior de una universidad
ubicada en el Valle del Itajaí. Los datos fueron recolectados a partir de un cuestionario socio
demográfico y de entrevista semiestructurada y sometidos al análisis de contenido para
interpretar los contenidos emergentes y sus significados. Los resultados indican que las redes
sociales están presentes diariamente en la vida de las personas y se configuran como un
ambiente donde se establecen relaciones interpersonales y culturales, de esa forma, impacta
en la construcción de la identidad y de la autoestima de los usuarios. Se puede percibir que la
diferencia entre "sacar provecho de la red" y "ser perjudicada por ella", depende de la
capacidad de control del usuario en la utilización de estas herramientas. Se observa que existe
la exposición del "yo ideal" en la red, además de una manipulación de la identidad virtual a
través de la vinculación y del ocultamiento con el propósito de lograr reconocimiento y
aceptación. Como consecuencia de ello, se tiene una forma de reconocimiento cuantitativo
que altera la forma tradicional de la construcción de la identidad y la autoestima.
Palabras claves: Redes sociales virtuales, identidad, autoestima.
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Introdução
As redes sociais virtuais tem se constituído como uma extensão da vida real e como
espaços onde muitos jovens e adolescentes se relacionam, substituindo em certa medida o
relacionamento face a face, considerando que a comunicação virtual dispõe de recursos que
“facilitam” a interação entre usuários (KUJATH, 2011). Uma pesquisa aponta que 57% dos
adolescentes já fez um amigo on-line, porém, a maioria dessas amizades fica no espaço digital,
sendo que apenas 20% conheceram esses amigos pessoalmente (LENHART, 2015).
Os resultados da interação nos relacionamentos interpessoais e na saúde psíquica dos
usuários das redes sociais são fonte de importante discussão teórica. Alguns autores
argumentam sobre a utilidade destas ferramentas enquanto outros a consideram um problema.
Segundo Bauman (2004), o termo “rede” substitui os termos “comunidade”, “relação”
e “parceria”. O contrário do sentido da “rede” estaria oculto, mas seria o equivalente a facilidade
de conectar-se e desconectar-se, fazer amigos e desfazer-se deles, diferente do acontece nas
“relações reais” que estariam vinculadas a compromissos morais e éticos, as relações virtuais
seriam “líquidas”. Umberto Eco afirma que as redes sociais dão o direito à palavra a uma "legião
de imbecis" e por isso prejudicam a coletividade (ECO, 2016). Além disto, alguns estudos
descrevem o uso abusivo das redes sociais resultando em problemas de ordem social, familiar
e profissional. Vale destacar como exemplo dos danos, a diminuição da produtividade no
trabalho e o isolamento social do usuário (GUEDES, 2016).
Por outro lado, para alguns autores, a interação virtual é positiva e pode trazer
benefícios, sendo apenas um complemento das interações reais, assim como ocorreu com o
telefone. Para estes autores, há uma ampliação na possibilidade de compartilhamento de
informações e a possibilidade de pessoas mais tímidas se expressarem em um ambiente
“confortável” o que poderia aumentar a confiança para as relações reais. Outra justificativa é
5
de que relacionamentos iniciados pela rede por vezes são mais duradouros do que alguns que
começam de forma não virtual (NICOLACI-DA-COSTA, 2005; PURO, 2002).
Diante desta contraposição teórica, surge a necessidade de discutir efeitos da interação
nas redes sociais virtuais. Quais os limites entre o normal e o patológico, entre o recomendável
e o excessivo. Estes questionamentos nos remetem a problematizar este fenômeno visando
explorar, como este tipo de interação pode interferir na construção da identidade e na autoestima
dos usuários.
Para entender como a rede social virtual e suas ferramentas de interação se configuram
como um espaço passível de interferir na constituição do sujeito é essencial abordar os conceitos
de subjetividade, alteridade e self, considerando que estes estão estreitamente relacionados aos
conceitos de identidade e de autoestima.
A subjetividade designa aquilo que pertence à consciência individual, corresponde à
existência de uma essência subjacente a experiência, uma consciência de si. Pela subjetividade,
se recebe, se produz e se modifica o sentido das experiências. A subjetividade constitui a
identidade (EWALD; SOARES, 2007). Neste sentido, o outro é fundamentalmente parte de
mim mesmo, portanto a subjetividade é atravessada pela alteridade (Sartre 1943 apud EWALD;
SOARES, 2007).
Alteridade pode ser definida como o conceito de diferenciação do outro que o indivíduo
desenvolve. Para MOLAR (2009) a alteridade diz respeito a constituição do sujeito a partir das
relações que estabelece. A alteridade aproxima-se da teoria da identidade social que
corresponde à consciência individual de pertencimento a um grupo (PAIVA, 2007).
Assim como a alteridade, o self é construído interpessoalmente em termos de significado
pessoal ou coletivo, ambos em certa medida mediados pela cultura. A construção do self
depende da história social e pessoal. A história cultural é o pano de fundo onde se desenrola a
trama da construção autobiográfica do self (VIEIRA; HENRIQUES, 2014). O self é o fluxo de
6
identidade resultante da interação com os outros no espaço transicional (PASSOS-FERREIRA,
2014).
A identidade é um processo de construção mediado pelas relações estabelecidas pelo
sujeito, sendo fruto da sociedade e da ação do próprio sujeito. Ao se referir à construção
identidade, deve-se considerar as zonas de compartilhamento intersubjetivo com determinados
grupos, por exemplo, um time de futebol, grupo ou ideologia. Porém, apesar das identificações
haverá sempre espaço para a singularidade (EWALD; SOARES, 2007).
A construção da identidade possibilita ao sujeito perceber-se através da história, situar-
se em algum nicho psicossocial e dar propósito e sentido a sua vida (VIEIRA; HENRIQUES,
2014). A construção da identidade é mediada pelas influências de fatores intrapessoais
(capacidades inatas e adquiridas da personalidade), fatores interpessoais (identificação com os
outros) e por fatores culturais (ex: valores sociais) (AMANTE et al., 2014). A discussão do
conceito de identidade, ao mesmo tempo em que remete a identificação com o outro, também
revela a auto avaliação do sujeito em relação a seus próprios valores, este movimento de auto
valoração e auto percepção é o que constitui a autoestima.
A autoestima pode ser definida como uma gama de sentimentos e pensamentos
resultantes da autoavaliação que o indivíduo faz acerca de si. O resultado desta avaliação resulta
em atitudes positivas ou negativas (HUTZ; ZANON, 2011). Segundo Hewitt (2009), a
autoestima elevada é produto do reconhecimento positivo de pessoas significativas para o
sujeito. A baixa autoestima resulta em sentimentos de incapacidade e inutilidade e a autoestima
elevada gera sentimentos de motivação e confiança (AVANCI et al., 2007).
A partir da discussão, pode-se inferir que apesar de suas peculiaridades como a ausência
de interação física, a interação virtual é um “ambiente” que media a constituição do indivíduo
por se tratar de um campo onde ocorrem inter-relações em diversos níveis, permeando assim a
construção da identidade e da autoestima dos usuários.
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Partindo destes pressupostos, esta pesquisa investigou o perfil sóciodemográfico e os
impactos das redes sociais na construção da identidade e autoestima de adolescentes e adultos
jovens, acadêmicos de uma universidade localizada no Vale do Itajaí.
Método
Esta pesquisa é de caráter exploratório, descritivo de natureza qualitativa. A pesquisa
exploratória proporciona maior familiaridade com o problema, contribuindo para á construção
de hipóteses e possibilitando a investigação de variados aspectos relativos ao fenômeno
investigado. O método descritivo tem por objetivo mostrar as características de populações ou
fenômenos utilizando-se de técnicas padronizadas de coleta de dados (GIL, 2002). A pesquisa
qualitativa responde a questões particulares preocupando-se nas ciências sociais, com um nível
de realidade singular. Ela trabalha com crenças, valores e atitudes que correspondem a um
espaço profundo das relações, dos processos e dos fenômenos (MINAYO, 2001).
A coleta de dados foi iniciada em abril de 2016 após autorização e aprovação do Comitê
de Ética em Pesquisa (Parecer 1.355.942) e finalizada em maio do mesmo ano. Participaram da
pesquisa, 20 acadêmicos de dois cursos de graduação com idade entre 18 e 21 anos selecionados
aleatoriamente. As entrevistas foram agendadas conforme a disponibilidade dos participantes e
realizadas na própria instituição após a assinatura do TCLE.
O questionário foi composto por 20 questões que levantaram informações referentes ao
uso da rede social pelos usuários como: informações de perfil, opinião sobre a rede,
pensamentos e sentimentos relacionados à sua utilização. As entrevistas foram gravadas e a
identidade dos participantes foi preservada a fim de garantir sigilo e privacidade.
Com vistas a analisar os dados foi utilizada a análise de conteúdo, método que consiste
em extrair sentido dos dados (CRESWELL, 2007). Este método abrange as seguintes fases:
pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Na
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primeira fase, organiza-se o material a ser analisado e posteriormente, os conteúdos emergentes
são categorizados e interpretados a luz de uma teoria (MINAYO, 2001).
Resultados
Treze participantes eram do sexo feminino e 7 do sexo masculino com idade entre 18 a
21 anos.
O Facebook seguido do Whatsapp foi apontado como a rede social mais utilizada,
corroborando, fato já descrito pela literatura (Assunção; Matos (2014). A maioria dos
participantes usam as redes sociais diariamente por mais de três horas, alguns de forma
intermitente, chegando a 20 horas, por vezes sem conseguir distinguir os momentos que não
estão online, dada a frequência da utilização. A média de postagens foi de uma postagem por
semana. Os entrevistados referem fazer uso excessivo das redes sociais, o que pode ser
percebido em suas falas
E5: “Toma muito meu tempo com coisas desnecessárias. é meio que uma relação
doentia, eu preciso ver a notificação por mais que não vá diferenciar em nada, quando tem
notificação eu preciso apertar nela pelo menos pra ela sair dali”.
E13: “O tempo todo, tipo quando estou em casa fazendo alguma coisa, ou quando estou
na rua eu boto o 3g. Meu deus eu acho que 20 horas”.
E11: “Não vou mentir, é o dia todo, [...] o tempo passa a gente não vê”.
Estudos apontam que de 20% a 30% dos usuários fazem uso intensivo das redes sociais,
em geral observando as postagens dos outros usuários sem interagir (HAMPTON et al., 2012).
Os dados levantados aqui corroboram esta pesquisa, uma vez que a maioria dos usuários faz
em média uma postagem por semana. No entanto, consideramos que o termo “intensivo”
utilizado pelos autores, não possa ser relacionado somente ao fato do usuário não interagir na
rede, devendo a passividade também ser considerada como parte da interação.
9
A construção da identidade se dá na interação com o outro como aponta AMANTE et
al. (2014), por isso, o uso passivo da rede é também causa de interferência na constituição do
sujeito, já que ao “assistir” ao conteúdo o usuário também está sendo impactado. Além disso, o
uso abusivo não está vinculado a interação, mas sim a frequência da utilização.
A frequência pode ser relacionada a dimensão que as redes sociais têm na vida dos
usuários. Pode-se inferir que quanto maior a frequência no uso da rede, ou seja, quanto mais
tempo “vivendo online”, maior o impacto na constituição do sujeito.
A seguir serão descritas as principais categorias e subcategorias emergentes da análise
de conteúdo. Após a categorização foi possível observar algumas características da população
pesquisada e discutir a partir da literatura.
Categoria 1. Identificação e adesão a rede
1ª subcategoria: Percepção da rede
A percepção de pontos positivos e negativos no uso das redes sociais foi unânime entre
os entrevistados. Os relatos mostram que os usuários consideram a rede útil em três situações:
para manter contato com a família e amigos; ter acesso a informações; ter contato com novas
culturas e pessoas. As características negativas advindas do uso da rede são: perda de tempo;
distração; troca de contato real pelo virtual; causa de dependência; riscos oriundos da exposição
da vida pessoal. Algumas destas evidencias podem ser observados a seguir:
E4: “As redes sociais são ferramentas muito importantes atualmente, tem a questão da
acessibilidade, é muito fácil acessar o e-mail, falar com alguém no trabalho falar com alguém
que está em outro país, [...] o problema é quando ela acaba tomando muito tempo. Algumas
pessoas acabam meio que deixando de viver por estar na rede social”.
E8: “Elas são muito úteis, porém, estão sendo utilizadas de uma maneira muito
errada [...] a questão de ficar viciado na rede social”.
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E1: “Eu não consigo me ver não usando, eu sei que tem gente consegue, mas eu não
consigo, faz parte da minha vida”.
Segundo Ewald; Soares (2007), a partir da subjetividade é dado sentido as experiências.
Ou seja, a forma que o usuário é afetado pela rede social, varia de acordo com o sentido e
importância atribui à mesma, além é claro, da frequência de uso.
Apesar da evidência de problemas advindos do uso da rede como o sentimento de perda
de tempo, não se percebe um movimento de abandono ou estratégias de controle para evitar
estes problemas. Este dado leva a crer que esta realidade é como um “caminho sem volta” no
século XXI.
2ª subcategoria: Ganhos/Perdas mediante o uso da rede
Os dados levantados sobre as possibilidades de desenvolvimento de habilidades
mediante o uso da rede social apontaram positivamente para a aquisição de novas habilidades
tais como: música, línguas e ampliação do conhecimento geral, conforme descrito a seguir.
E1: “Eu aprendi inglês basicamente através da internet e tô tentando aprender coreano
também, é mais por blog. Já consegui aprender algumas coisas assim, então eu acho que pra
compartilhar informações importantes, aprendendor a fazer coisas por si próprio”.
E2: “Tem pessoas que não se expressam bem falando, mas escrevendo é mais fácil”.
As pesquisas apontam para os ganhos advindos do uso das redes sociais tais como:
ampliação na possibilidade de comunicação entre as pessoas; ampliação no acesso a
informações e conhecimento; incremento na participação cívica e política; conhecimento de si
e do outro pela exposição das identidades virtuais (NICOLACI-DA-COSTA (2005).
Os relatos trazidos pelos entrevistados corroboram os dados levantados pela autora. As
vantagens sociais são evidentes, a possibilidade de manter maior contato com familiares e
amigos é uma nova condição que de outra forma poderia ser inviável devido a distância ou
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custo com ligações interurbanas. Além disto, a informação que é compartilhada nas redes pode
permite obter conhecimentos sobre alguma área específica ou apreender um novo idioma, a
partir do contato com um estrangeiro em outro país.
Na rede virtual a legitimidade não é rígida, qualquer pessoa tem espaço para expor e
discutir ideias, independentemente da classe social ou instrução. Além da legitimidade, a
ausência de barreiras interpessoais proporciona ao usuário maior espontaneidade nas relações.
Esta ampliação representa a democratização do conhecimento e compartilhamento de ideias.
Algumas desvantagens também foram trazidas nos relatos destacando-se: a
possibilidade de estar fazendo coisas mais interessantes; a troca das interações reais pelas
virtuais; a redução das habilidades de comunicação interpessoais.
E8: “Numa roda de amigos, assim, eles ficam muito na rede social o tempo todo eles
não querem conversar, eles querem postar, é status”.
E10: “Quanto mais tempo ela vai passar no Facebook, menos tempo ela fica
interagindo com as pessoas, até porque às vezes tu tá no ambiente e a pessoa está ali, aí tu não
está interagindo com a pessoa na tua frente aí tu vai ficando atrofiado [...] eu vou só pegar o
número dela pra falar com ela eu não vou lá falar com ela realmente”.
Pode-se perceber que o tempo na rede vem tomando o tempo real, se por um lado a
interação entre os seres humanos aumentou, por outro, tem ocorrido de outras formas. A
interação através da rede social substitui em certa medida o relacionamento face a face,
levando-se em conta as facilidades da comunicação virtual (KUJATH (2011).
Nas narrativas, percebe-se que existe de fato uma substituição das relações face a face
que não é apoiada pelos usuários, que percebem a importância das relações interpessoais físicas.
A sensação de perder tempo também é recorrente nos entrevistados sendo percebida como
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prejudicial. Pode-se inferir que este tipo de pensamento está relacionado à ideia de
produtividade e certa aversão ao ócio na contemporaneidade.
3ª subcategoria: Impacto/migração/ampliação
Dentre os motivos que levaram os usuários a aderirem as redes sociais virtuais,
destacaram-se: a migração da rede social Orkut; pressão social; possibilidade de ampliação do
contato com familiares e amigos; acesso rápido e fácil a informações e noticias atuais.
E10: “Criei foi pela proximidade com meus colegas a gente queria mais aquele
contato o tempo todo, saber o que os meus amigos estavam fazendo”.
E4: “Começou a vários anos com uma amiga, ela disse todo mundo usa, faz um pra
ti, aí eu fiz para eu me enturmar”.
E19: “Para falar bem a verdade, para se adequar a todo mundo, é uma cadeia né? Todo
mundo acaba tendo e acaba utilizando com mais frequência”.
E20: “Estava todo mundo usando e porque tinha acabado o Orkut [...] pra conversar
com as pessoas, pra ler publicação de outras pessoas, pra conhecer pessoas”.
Para Amante et al., (2014), além de outros fatores, a cultura e seus valores participam
na constituição do sujeito e de sua identidade. Segundo Figueiredo (2010), os “nativos da
geração 2.0” incorporam as tecnologias a sua vida, sendo a harmonia entre estas duas realidades
uma nova e indispensável competência da era digital.
A adesão a uma rede social por conta da migração de outra rede ou por pressão social
aponta para uma adequação a um movimento de cultura virtual. A partir do uso do termo
“mudança indispensável” por Figueiredo (2010), deve-se refletir sobre as características dessa
migração em massa. Percebe-se que não há conhecimento nos entrevistados sobre os motivos
que levaram a mudança, quem decidiu e deu início a este movimento que afetou a milhões de
pessoas no mundo todo. A partir disto, pode-se pensar sobre a fragilidade na reflexão e a
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vulnerabilidade dos sujeitos na rede. Portando, as relações e mudanças no ciberespaço se
configuram como um contínuo da totalidade da vida do usuário.
Categoria 2. Identidade na rede
1ª subcategoria: Controle da imagem
Evidências sobre o cuidado do usuário com sua imagem na rede são recorrentes nos
relatos, os entrevistados referem selecionar cuidadosamente suas postagens; cuidar com o perfil
profissional na rede e manter perfis anônimos, conforme pode ser percebido abaixo.
E7: “Tu vai pegar minhas fotos de perfil, eu não vou ta descabelada igual eu vou tá às
seis da noite na faculdade é totalmente outra vida nas redes. Ninguém bota lá eu tô triste, eu
tô ruim, tô isso ou aquilo, só bota momento de festa, geralmente é assim”.
E13: “São fotos que eu mostro o que eu quero, assim como as pessoas também só
mostram o que elas querem”.
E11: “Eu escolho a dedo tudo que eu vou postar”.
Alguns entrevistados afirmam ter perfis anônimos na rede social Twitter, para poderem
manifestar posições que não gostariam que fossem associadas a sua imagem pública na rede.
Estes relatos ilustram tal afirmação:
E4: “No meu Twitter o meu nome tá diferente do real, minha foto tá
diferente [...] coloco coisas ali que certamente não colocaria em um lugar onde as pessoas
sabem quem eu sou, então o Twitter é meio que um personagem meu”.
E5: “No Twitter falo a besteira que quiser que não tem conhecidos ali, o Twitter é a
rede do desabafo, [...] é pra se brincar, postar o que quiser, sem brigar como no Facebook”.
Amante et al., (2014) afirmam que os adolescentes procuram mostrar o seu verdadeiro
“eu” virtual, não sendo o mundo real e o mundo virtual como separados para os jovens. Segundo
Larsen (2008), os adolescentes têm utilizado as redes sociais virtuais como um prolongamento
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do mundo real, onde a sinceridade do discurso e a rejeição dos falsos perfis demonstram uma
procura de afirmação da sua identidade.
As redes sociais possibilitam o controle da identidade virtual, nela o usuário tem
autonomia para mostrar e ocultar o que as pessoas verão a seu respeito. Sendo assim, ainda que
haja algo de real naquilo que é mostrado através da rede, ou seja, um “eu”, o controle favorece
a extrapolação da vida e do perfil idealizados pelo usuário, ou seja, o “eu” ideal. Junto a isto, a
criação de contas anônimas com a finalidade de expressar opiniões que usuário não gostaria
que se tornassem publicas, indica e reforça que o perfil na rede social não corresponde
exatamente ao “eu” real do usuário. É preciso considerar que o fato do usuário mostrar na rede
apenas coisas interessantes a seu respeito, caracteriza de certa forma uma seleção da sua
realidade, ou seja, na rede o usuário mostra somente o que lhe convém.
Pode-se inferir que as relações virtuais acabam sendo entre as idealidades dos usuários.
Neste sentido, ao se deparar na rede com uma realidade perfeita do outro em comparação com
a sua própria realidade, o resultado é o sentimento de ter uma vida vazia.
2ª subcategoria: Vinculação/Ocultação
Na discussão sobre as opções seguir, ocultar e a utilização da ferramenta check-in, os
entrevistados descrevem algumas características destas ferramentas. Estas opções foram
consideradas por muitos entrevistados, como uma forma de criar publicamente vinculações
desejáveis, enquanto que a ocultação, uma forma de esconder vínculos indesejáveis.
E2: “As vezes as pessoas seguem páginas pela visibilidade, só pra dizer que curtiu tal
página pra que as pessoas vejam que eu estou curtindo aquela página”.
E11: Eu comecei mais a surfar foi por influência das amizades [...] a pessoal tá falando
a todo momento “to surfando, ou indo surfar” [...], então eu sei que alguns amigos não curtem
tanto o esporte em si o surf, mais eles postam mais por status”.
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Outra forma de vinculação se dá através da ferramenta check-in, que registrar e divulga
a localização do usuário. A exposição da localização, muitas vezes é seguida de frases e
imagens, que revelam características dos lugares. Os relatos abaixo ilustram isto.
E15: “A pessoa está lá no restaurante 5 estrelas, o mais caro da cidade, mas porque
que ela precisa fazer o check-in? Futilidade, só para mostrar aos outros, entendeu? Status.”
E17: “Eu não sou assim, acho que eu nunca usei, mentira, já utilizei! Uma vez fui num
restaurante muito chique e precisava falar que tava lá! Então eu sou rica maravilhosa”.
A vinculação a partir das ferramentas “seguir” e check-in, possibilita ao usuário
construir uma identidade virtual através da vinculação com pessoas, espaços e atividades,
levando em conta o seu valor socialmente estabelecido. Ao buscar associar-se e atualizar-se
através da rede virtual, o usuário constrói sua identidade virtual e consequentemente sua
identidade. Segundo Amante et al., (2014), é o olhar do outro que devolve a identidade para o
sujeito. Este processo pode ser observado também nos espaços virtuais.
A opção de ocultar do perfil vínculos indesejáveis permite a manipulação da identidade
virtual. Ao ocultar o usuário esconde possíveis associações negativas com, pessoas, páginas,
espaços e atividades fazendo com que sua identidade virtual se aproxime mais do que deseja
parecer publicamente. Esta relação reforça ainda mais a disparidade entre a realidade e a
“identidade virtual” como visto na discussão sobre o controle da imagem.
A multiplicidade de relações que o usuário estabelece e sua interação na rede, faz com
que ele receba feedback de um número significativo pessoas, que muitas vezes são
“desconhecidos” e que de alguma forma, terão interferência na constituição deste sujeito. Além
disso, existe uma ampliação na ampliação daquilo que era privado e passa a ser público.
3ª subcategoria: Estereótipos
As discussões sobre a percepção do outro a partir do perfil na rede, apontaram para
questões ligadas a estereótipos. As relações interpessoais através da rede podem gerar
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afastamento quando identificadas diferenças entre os usuários e aproximação quando
identificada afinidades. As “indiretas” também estão ligadas ao estereótipo quando atingem
pessoas a quem não estavam sendo direcionadas.
E19: “A partir do momento que você acaba vendo o perfil da pessoa na rede social,
você acaba descobrindo algumas coisas daquela pessoa, algumas peculiaridades, e depois
conversando pessoalmente você vê que é realmente bate algumas coisas, eu faço isso as vezes,
de ver a rede social da pessoa para ver como ela se porta né? Algum tipo de comportamento;
o que ela gosta de ler, o que ela gosta de ouvir”.
E5: “Às vezes a pessoa posta um Bolsonaro aí já crio uma imagem meio negativa
dela, pessoalmente eu não sinto vontade de discutir isto n a faculdade com aquela pessoa”.
E5: “Tem uma conhecida do meu namorado, que vive postando coisas sobre o filho
dela, tipo, [...] se nunca quis saber da minha gravidez e de meu filho”.
Segundo Ellison et al., (2007) a partir do contato virtual que antecede o contato face a
face e pela veracidade das informações expressas no perfil do usuários, há a possibilidade dos
usuários se conectarem novamente. Desta forma o Facebook pode ser um complemento online
e auxiliador da relação face a face (Nicolaci-da-costa, 2005).
Ao mesmo tempo em que se evidencia a aproximação entre os usuários devido à
descoberta de similaridades, existe também o afastamento devido à identificação de
divergências como visto no segundo relato. As indiretas, que são postagens que buscam
“atingir” de forma não explícita (sem mencionar nomes) a alguém, poderiam estar relacionadas
as duas possibilidades, considerando que o usuário desinformado pode afastar-se de alguém por
acreditar que uma indireta negativa seja direcionada para si, ou pode aproximar-se pelo mesmo
motivo em uma situação em que a indireta é positiva.
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É possível inferir, que a rede virtual ao mesmo tempo em que aproxima os usuários,
pode também afastá-los. Em relação à identidade esta dinâmica é fundamental, já que como
afirma Amante et al., (2014), a identidade se constrói apenas na interação com o outro.
Categoria 3. Autoestima
1ª subcategoria: Intenção
Nos relatos abaixo, pode se identificar alguns dos motivos que levam as pessoas a
fazerem postagens, os dados encontrados apontam para a busca de reconhecimento, visibilidade
ou aceitação.
E17: “Tem algumas garotas que gostam muito de postar fotos para chamar a atenção
e inflar o ego, para todo mundo curtir, pra dizer “meu deus como você é linda maravilhosa”,
[...] tu posta um pensamento pra ver quantas pessoas concordam contigo, para as pessoas
ficarem lá dizendo o quanto você é maravilhoso, quanto teu prato de comida é saudável”.
E6: “Eu acho que às vezes é uma coisa mais pra mostrar o que está fazendo, mas às
vezes também é paro o ego delas, assim quantas curtidas minha foto vai ganhar”.
Segundo Hewitt (2009), a autoestima elevada é produto do reconhecimento positivo de
pessoas que o sujeito considera significativos para si. Para Fortes et al. (2014), a autoestima
elevada está relacionada a sentimentos de valorização e satisfação, gerando em si mesmo um
estado de motivação e na baixa autoestima um sentimento de inutilidade e fracasso.
O feedback nas redes sociais é dado através da utilização das opções “curtir”,
“comentar” ou “compartilhar”, variando de acordo com a rede social. Nestes recursos
“reforçadores”, tanto a resposta quanto à ausência dela impactam o usuário. Pode-se considerar
cada “curtida” como um micro “reconhecimento”. Percebe-se nos discursos um correlato
afetivo entre a postagem e o resultado alcançado por esta. O resultado pode assim gerar
sentimentos que afetam a autoestima do usuário. Para Hewitt (2009) é inegável a importância
do reconhecimento do outro para na autoestima. Quando o usuário recebe a quantidade de
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curtidas ou “reconhecimentos” que esperava ou ultrapassa esse número, ocorre um sentimento
de motivação e ânimo e quando a expectativa não é alcançada surgem sentimentos de tristeza
frustração.
Pode-se inferir que os sentimentos positivos conseguidos através do número de curtidas,
podem reforçar a construção de uma identidade “ideal” vinculada a opinião alheia. Deve-se
pensar que fundamentalmente a autoestima está relacionada ao reconhecimento de pessoas
significativas para o sujeito, no entanto, na rede social o número de curtidas tem grande
importância. Ao dar-se importância ao número de pessoas e não as pessoas em si, pode-se
perceber uma hibris tanto na construção da autoestima quanto da identidade. Esta reflexão
aponta para a complexidade das relações do sujeito com “muitos outros” na sua constituição,
em que o usuário pode vir a guiar suas atividades e seu cotidiano a partir do objetivo de receber
o maior número de “reconhecimentos” na rede.
2ª subcategoria: Expectativa
No tocante à intensão da postagem, percebe-se a criação da expectativa com relação ao
resultado desta atividade. É interessante observar a subjetividade neste processo.
E5: “Quanto mais popular a pessoa, as pessoas sabem que ela não vai compartilhar
coisas suas, ela tem aquela popularidade e não precisa das suas coisas”.
E11: “100 curtidas que é o básico hoje, tudo bem, vamos supor ali no Facebook a média
é de 80 a 100 curtidas, que é mais ou menos normal”.
E10: “Eu acredito que a maior expectativa delas é ter o maior número de curtidas o
que elas querem alcançar o maior número de pessoas para se sentirem bem”.
Segundo Ewald; Soares (2007), a subjetividade corresponde à existência de uma
essência subjacente a experiência. No caso das redes sociais, esta essência a expectativa do
usuário em relação a interação e a forma como irá assimilar esta experiência. Para Boyd (2008),
19
o feedback que recebe quanto a suas postagens na rede, impacta não só na forma como o usuário
se relaciona na rede virtual mas se expande também para as relações reais. A expectativa
enquanto experiência subjetiva está relacionada a identidade. O resultado que um usuário espera
obter com uma postagem, terá haver com a expectativa de outro usuário quando este de alguma
maneira servir de parâmetro para comparação.
3ª subcategoria: Sentimento/Intenção de retribuição
Os questionamentos relacionados a sentimentos de reciprocidade nas interações virtuais
e o motivo que leva as pessoas a seguirem perfis ou páginas, apontaram para a existência de
sentimentos de retribuição e a intencionalidade nestas interações.
E2: “Acho que o Facebook tem muito essa troca, vou curtir a tua foto pra ganhar uma
curtida de volta”.
E5: “Eu tenho uma prima adolescente que fala pra mim: eu curti a tua foto naquele dia,
porque tu não curtiu a minha ainda? Aí eu tenho curtir pra ela não ficar brava. [...] Uma vez
ela pegou o meu perfil do Instagram e curtiu todas as fotos pra depois cobrar de mim pra ir lá
curtir o perfil todo dela”.
Dado os modos de vida da modernidade e a sua pluralidade, as identidades passaram a
ser orientadas pela necessidade do sujeito na sociedade (MONTE, 2012). Pode-se pensar a
necessidade neste caso a partir da retribuição de um “favor” ou a busca de uma identidade
virtual que publicamente esteja relacionada a muitas amizades e “reconhecimentos”.
Por vezes o usuário não interage com a publicação de outro por aprovar ou achar
significativa sua publicação, mas sim porque o outro interagiu anteriormente com sua
publicação, caracterizando uma reciprocidade nesta dinâmica, que não leva em conta a
identificação com a publicação, mas somente o ato de retribuir. Na rede existe a interação com
a intenção de criar um vínculo, o usuário curte, comenta ou segue outro com o objetivo de que
20
este faça o mesmo. O intuito é fazer com que o número de “curtidas” e “seguidores” aumente
dando a entender publicamente que este usuário tem muitos seguidores e amigos.
Novamente, tem-se uma relação que evidencia a preocupação com a identidade virtual
e que acaba gerando expectativa na interação que tem impactos emocionais para o usuário, ,
estes sentimentos interferem na autoestima e na identidade do usuário. É importante salientar
que este movimento que acontece na rede social também existe fora do ciberespaço.
4ª subcategoria: Sentimento de perda/inconsciência
Um dos questionamentos levantados relacionava-se ao sentimento gerado no usuário
após visualizar a atividade dos amigos através das redes sociais enquanto está sozinho no
computador. Os resultados apontaram para sentimentos negativos neste tipo de interação.
E1: “Eu já me senti mal [...] porque tu pensa, eu tô aqui na faculdade, tenho que
atender, fazer trabalho, fazer um monte de coisa e o cara tá lá na praia se divertindo”.
E8: “As pessoas postam na rede social só coisas felizes da vida delas, a pessoa fica
olhando e acha avida da pessoa perfeita, então as pessoas ficam tristes,
meio frustradas, porque acham que a vida delas é miserável, é só trabalho e estudo”.
O termo FOMO (Fear Of Missing Out) ou medo de perder algo, ilustra este fenômeno.
Este fenômeno é descrito como momentos em que o usuário através da internet vê seus amigos
se divertindo enquanto está só, sentindo como se estivesse perdendo estes momentos (Fortes et
al., 2014; KROSS et al., 2013). Nossos achados corroboram e evidenciam um movimento de
interação na rede que impacta negativamente à autoestima dos usuários.
Discussão
O conteúdo coletado e analisado permite constatar que dentre a população de
adolescentes e adultos jovens, o tempo médio de interação nas redes sociais é de três horas
21
diárias podendo chegar a 20 horas. A passividade é uma característica da utilização, sendo que
as postagens acontecem em média uma vez por semana. Considerando-se o tempo médio do
uso da rede, ainda que constatada a passividade, evidencia-se a relevância do seu impacto na
constituição da identidade e da autoestima dos usuários. Além da frequência da utilização é
preciso considerar também a subjetividade na forma e intensidade que o usuário será impactado
através do uso rede.
A partir da percepção dos entrevistados sobre a utilização das redes sociais, foram
apontados alguns benefícios, entre eles estão: à ampliação nas possibilidades de comunicação;
a facilidade e democratização do acesso à informação; espaço público para exposição de ideias;
espaço para espontaneidade; desenvolvimento de habilidades como música e línguas;
aproximação entre os usuários.
A identidade é um processo de construção que indica as relações na qual o sujeito está
inserido, ela é fruto da sociedade e da ação do próprio sujeito (EWALD; SOARES, 2007). A
partir disto, pode-se inferir que a identidade do usuário está vinculada as informações e relações
que ele estabelece e tem acesso na rede. Ao filtrar os conteúdos relevantes com referências
adequadas, o usuário tem na rede uma grande fonte de informação. Além disso, ao estabelecer
relações virtuais consistentes, o usuário encontra nelas um complemento das suas relações
sociais. Portanto, os benefícios da rede são atrelados à disciplina e bom senso na utilização.
Por outro lado, foram evidenciadas características negativas advindas do uso das redes,
tais como: perda de tempo; distração; troca de contato real pelo virtual; possível causa de
dependência; riscos oriundos da exposição da vida pessoal; banalização da informação;
afastamento dos usuários.
Neste sentido, pode-se perceber que grande parte dos problemas estão relacionados à
falta de controle no acesso. Desde a migração e adesão as redes sociais, elas passaram a ser uma
22
realidade incontestável para os usuários. Encontrou-se nelas, uma falsa sensação de satisfação
(GUEDES, 2016) que culminou em um aumento do tempo despendido na sua utilização.
Subestimar suas consequências, a falta de disciplina diante das distrações e a proporção social
que tomaram as redes sociais, fez com que se tornassem causa de problemas.
Além disso, apesar da possibilidade na democratização da palavra, a usual falta de
profundidade das informações que circulam na rede junto às intenções “egóicas” das postagens,
permite a autores como Umberto Eco, considerar que a democratização da palavra tem efeitos
negativos para a coletividade, por difundir tolices e futilidades (ECO, 2016).
Segundo Ewald; Soares (2007), a globalização tornou as identidades fragmentadas em
detrimento das identidades sólidas que apoiavam a existência das pessoas. Pode-se inferir a
partir desta constatação, que a ampliação ao acesso a informações e relações de todo tipo na
rede, esteja relacionada a esta fragmentação nas identidades “pós-modernas”. Deve-se
considerar que a multiplicidade de informações permite ao usuário se identificar
superficialmente com “tudo” e profundamente com nada, devido a recorrente falta de
consistência e transitoriedade das informações na rede.
A construção da identidade possibilita ao sujeito perceber-se através da história, situar-
se em algum nicho psicossocial e dar propósito e sentido a sua vida (VIEIRA; HENRIQUES,
2014). Ao faltar na formação do sujeito, consistência de valores e vínculos psicossociais, os
vínculos estabelecidos na rede passarão a fazer parte da estrutura da sua identidade e irão
impacta-lo mais intensamente. A partir da relação e vinculação aos valores e ideais da rede, o
usuário perde em estabilidade psicossocial, como já visto, as redes caracterizam-se por suas
estruturas e relações dinâmicas e transitórias.
Segundo Hampton et al., (2012), os usuários se esforçam para ressaltar suas qualidades
e associar-se a valores que consideram bem vistos socialmente. Os jovens tem consciência das
suas postagens e sabem que com elas estão criando uma imagem social. Constatou-se que
23
através da seleção das informações mostradas em seu perfil, o usuário se afasta da totalidade da
sua existência em detrimento da sua representação social, ou seja, seu “eu” ideal. Além do
controle, o usuário pode “aperfeiçoar” sua imagem ocultando vinculações indesejáveis e
vinculando-se a páginas, pessoas ou atividades desejáveis, levando em conta o valor social
destes vínculos. Por isso, pode-se afirma que na rede social a identidade se constitui a partir das
relações entre os “ideais” dos usuários.
Como a realidade do usuário vai além da sua identidade virtual, ao mesmo tempo em
que ele encara a vida ideal dos outros usuários, precisa encarar também a sua própria realidade
sem filtros. Ao não perceber, por não estar evidente, que a vida dos outros usuários também
tem percalços e na maior parte do tempo não é tão interessante quanto mostrada na rede social,
é comum que o usuário tenha sentimentos negativos que afetam sua autoestima. Estes
sentimentos são apontados pela pesquisa de Kross et al., (2013).
A falta de vínculos e valores sólidos pode fazer com que o usuário recorra à rede social
para tentar reafirmar sua identidade a partir do reforçamento na rede. Evidenciou-se que através
das postagens os usuários geralmente buscam reconhecimento e aceitação, este reconhecimento
se dá principalmente através da opção “curtir”, que representa um tipo de “reforçamento”.
Considerando que os ideias na rede que mais recebem reconhecimento são usualmente
estéticos, torna-se comum a busca por vínculos que supram esta demanda, como “boas” coisas,
“bons” lugares e “bons” amigos.
Estar a mercê do feedback na rede social pode ser perigoso. Percebe-se uma “mutação”
na forma de reconhecimento instituído na rede, em que o número de pessoas que “curtem”
passou a contar mais do que as pessoas em si. Na rede existe também a interação com a intenção
de reciprocidade. O intuito é ter um aumento no número de “curtidas” e “seguidores”, que
publicamente representaria a “popularidade” do usuário. Nota-se que nas redes sociais a
popularidade é um valor importante.
24
Principalmente na adolescência e juventude, pode-se pensar na “patologia” quando o
usuário passa a guiar sua identidade e ocupar grande parte do seu tempo, em busca da satisfação
gerada pela sensação de “popularidade”, que por sinal é breve e precisa ser reabastecida
recorrentemente. Suprir estas expectativas, por vezes, faz o usuário passar por cima dos próprios
desejos e abandonar valores.
Pode-se intuir que valores sólidos sejam mais independentes dos impactos das
interações virtuais, enquanto que valores menos instituídos pelo sujeito estariam mais passíveis
dos impactos das redes. É interessante reafirmar que na rede social usualmente os ideais mais
populares são estéticos, sendo as coisas mais “bonitas” mais populares do que as “úteis”.
Dados os possíveis impactos do uso da rede na vida dos usuários é válido frisar que
dificilmente se encontrará uma situação em que o usuário tenha sua identidade completamente
vinculada a rede social e da mesma forma o contrário, alguém com uma identidade tão rígida
que esteja à mercê de influências externas. No entanto, esta variação entre “solidez” e “liquidez”
na identidade é importante para compreender a maneira e intensidade com que o sujeito será
impactado pela rede.
O sujeito comum possui valores que não explicita na rede devido a sua impopularidade
na mesma, no entanto, estes valores continuam sendo compartilhados em determinados nichos
psicossociais fora da rede. Por outro lado, alguns valores mais ligados à estética são
explicitados, permitindo que o usuário receba as “benesses” egocêntricas advindas do
reconhecimento da sua popularidade e imagem na rede.
Por fim, compreendemos que as redes sociais virtuais são ferramentas úteis, porém suas
consequências estruturais foram subestimadas em detrimento das vantagens práticas que elas
oferecem. Atualmente percebe-se que elas continuam se expandindo e tomando cada vez mais
tempo e dimensão na vida dos usuários, por isso, é preciso cautela na sua utilização devido aos
problemas que ainda não são tão esclarecidos, mas que apontam para transformações
25
importantes na dinâmica das relações sociais interferindo na identidade e da autoestima das
pessoas do século XXI.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se que na rede social virtual, grande parte dos benefícios se dão pelas
possibilidades de acesso à informação e estabelecimento de relações com parentes e amigos.
Constatou-se que na rede social existe a manipulação da identidade virtual em prol do
“eu ideal”. É prática comum entre os usuários, ocultar imperfeições e vínculos indesejáveis e
fazer associações a partir do valor social das coisas, lugares, pessoas e atividades. Com isto
transmite-se na rede aquilo que se deseja parecer publicamente. Portanto, a interação entre os
perfis na rede pode ser considerada uma relação entre “ideais” explicitados pelos usuários.
O mecanismo que reforça o aperfeiçoamento da identidade ideal e causa a sensação de
satisfação é o número de curtidas. Pode-se intuir que este tipo de reforçamento faz com que a
construção da identidade e da autoestima seja baseada nos valores que circulam na rede, que
são geralmente transitórios, portanto, destituídos de solidez, tornando a identidade virtual
efêmera.
É necessário ponderar que a identificação dos impactos das redes sociais na identidade
e na autoestima não ocorrem à totalidade dos usuários, devendo-se levar em conta a
subjetividade de cada sujeito. Algumas interferências provavelmente só poderão ser vistas em
casos de uso abusivo da rede. Além disso, é provável que nem todas as formas de interferência
tenham sido identificadas.
Ao longo da pesquisa optamos por não comparar o perfil de utilização e a interferência
entre os cursos devido ao número restrito de entrevistados, a grande variedade de respostas e a
impossibilidade de generalizar os achados.
26
As características das redes sociais virtuais mostram que elas são de fato um ambiente
complexo em que acontecem impactos na dinâmica da construção da identidade e da autoestima
dos usuários. Novas pesquisas devem investigar as consequências do uso das redes sociais na
identidade e autoestima dada a magnitude do uso das redes sociais e e escassez de conhecimento
e evidências sobre o tema. Outra temática emergente é a do desenvolvimento de estratégias de
controle no uso das redes.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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O impacto das redes sociais na identidade e autoestima

  • 1. 1 O impacto das redes sociais virtuais na construção da identidade e na autoestima dos usuários The impact of virtual social networks on identity building and users' self-esteem El impacto de las redes sociales virtuales en la construcción de la identidad y la autoestima de los usuarios RESUMO As redes sociais virtuais são uma forma de interação social contemporânea que ampliou as possibilidades de comunicação e interação humana. No campo teórico alguns pesquisadores enfatizam os benefícios do uso destas ferramentas enquanto outros a criticam. Esta pesquisa teve por objetivo investigar os possíveis impactos do uso das redes sociais na construção da identidade e da autoestima dos usuários. O método de pesquisa pode ser descrito como de natureza exploratória, descritiva e qualitativa. A pesquisa contou com a participação de 20 adolescentes e jovens adultos de 16 a 21 anos de idade, acadêmicos matriculados em cursos do ensino superior de uma universidade localizada no Vale do Itajaí. Os dados foram coletados a partir de um questionário sócio demográfico, de entrevista semiestruturada e submetidos à análise de conteúdo visando interpretar os conteúdos emergentes e seus significados. Os resultados indicam que as redes sociais estão presentes diariamente na vida das pessoas e configuram-se como um ambiente onde se estabelecem relações interpessoais e culturais, dessa forma, impacta na construção da identidade e da autoestima dos usuários. Pode-se perceber que a diferença entre “tirar proveito da rede” e “ser prejudicado por ela”, depende da capacidade de controle do usuário na utilização destas ferramentas. Nota-se que existe a exposição do “eu ideal” na rede, além de uma manipulação da identidade virtual através da vinculação e do
  • 2. 2 ocultamento com o intuito de conseguir reconhecimento e aceitação. Como consequência disso, tem-se uma forma de reconhecimento quantitativo que altera a forma tradicional da construção da identidade e a autoestima. Palavras chaves: Redes sociais virtuais, identidade, autoestima. ABSTRACT Virtual social networks are a form of contemporary social interaction that expanded the possibilities of communication and human interaction. In theory some researchers emphasize the benefits of using these tools while others criticize. This research aims to investigate the possible impact of the use of social networks in the construction of identity and self-esteem of users. The research method can be described as a exploratory and descriptive study of qualitative nature. The research involved the participation of 20 adolescents and young adults, age 18-21 year, these students are enrolled in higher education courses at a university located in the Itajaí Valley. Data were collected from a demographic questionnaire, semi-structured interviews and submitted to content analysis aiming to interpret the emerging content and their meanings. The results indicate that social networks are present every day in the lives of people and configure itself as an environment where they establish interpersonal and cultural relations, thus, impact the construction of identity and self-esteem of users. It can be seen that the difference between taking advantage of the network and be harmed by it, depends on the user's ability to control the use of these tools. Note that there is the exposure of the "ideal" in the network, and a manipulation of virtual identity by linking and concealment in order to achieve recognition and acceptance. As a result, there is a form of quantitative recognition altering the traditional way of construction of identity and self-esteem. Keywords: Virtual social networks, Identity, Self-esteem.
  • 3. 3 RESUMEN Las redes sociales virtuales son una forma de interacción social contemporánea que ha ampliado las posibilidades de comunicación e interacción humana. En el campo teórico algunos investigadores enfatizan los beneficios del uso de estas herramientas mientras otros la critican. Esta investigación tuvo por objetivo investigar los posibles impactos del uso de las redes sociales en la construcción de la identidad y de la autoestima de los usuarios. El método de investigación puede ser descrito como de naturaleza exploratoria, descriptiva y cualitativa. La encuesta contó con la participación de 20 adolescentes y jóvenes adultos de 16 a 21 años de edad, académicos matriculados en cursos de enseñanza superior de una universidad ubicada en el Valle del Itajaí. Los datos fueron recolectados a partir de un cuestionario socio demográfico y de entrevista semiestructurada y sometidos al análisis de contenido para interpretar los contenidos emergentes y sus significados. Los resultados indican que las redes sociales están presentes diariamente en la vida de las personas y se configuran como un ambiente donde se establecen relaciones interpersonales y culturales, de esa forma, impacta en la construcción de la identidad y de la autoestima de los usuarios. Se puede percibir que la diferencia entre "sacar provecho de la red" y "ser perjudicada por ella", depende de la capacidad de control del usuario en la utilización de estas herramientas. Se observa que existe la exposición del "yo ideal" en la red, además de una manipulación de la identidad virtual a través de la vinculación y del ocultamiento con el propósito de lograr reconocimiento y aceptación. Como consecuencia de ello, se tiene una forma de reconocimiento cuantitativo que altera la forma tradicional de la construcción de la identidad y la autoestima. Palabras claves: Redes sociales virtuales, identidad, autoestima.
  • 4. 4 Introdução As redes sociais virtuais tem se constituído como uma extensão da vida real e como espaços onde muitos jovens e adolescentes se relacionam, substituindo em certa medida o relacionamento face a face, considerando que a comunicação virtual dispõe de recursos que “facilitam” a interação entre usuários (KUJATH, 2011). Uma pesquisa aponta que 57% dos adolescentes já fez um amigo on-line, porém, a maioria dessas amizades fica no espaço digital, sendo que apenas 20% conheceram esses amigos pessoalmente (LENHART, 2015). Os resultados da interação nos relacionamentos interpessoais e na saúde psíquica dos usuários das redes sociais são fonte de importante discussão teórica. Alguns autores argumentam sobre a utilidade destas ferramentas enquanto outros a consideram um problema. Segundo Bauman (2004), o termo “rede” substitui os termos “comunidade”, “relação” e “parceria”. O contrário do sentido da “rede” estaria oculto, mas seria o equivalente a facilidade de conectar-se e desconectar-se, fazer amigos e desfazer-se deles, diferente do acontece nas “relações reais” que estariam vinculadas a compromissos morais e éticos, as relações virtuais seriam “líquidas”. Umberto Eco afirma que as redes sociais dão o direito à palavra a uma "legião de imbecis" e por isso prejudicam a coletividade (ECO, 2016). Além disto, alguns estudos descrevem o uso abusivo das redes sociais resultando em problemas de ordem social, familiar e profissional. Vale destacar como exemplo dos danos, a diminuição da produtividade no trabalho e o isolamento social do usuário (GUEDES, 2016). Por outro lado, para alguns autores, a interação virtual é positiva e pode trazer benefícios, sendo apenas um complemento das interações reais, assim como ocorreu com o telefone. Para estes autores, há uma ampliação na possibilidade de compartilhamento de informações e a possibilidade de pessoas mais tímidas se expressarem em um ambiente “confortável” o que poderia aumentar a confiança para as relações reais. Outra justificativa é
  • 5. 5 de que relacionamentos iniciados pela rede por vezes são mais duradouros do que alguns que começam de forma não virtual (NICOLACI-DA-COSTA, 2005; PURO, 2002). Diante desta contraposição teórica, surge a necessidade de discutir efeitos da interação nas redes sociais virtuais. Quais os limites entre o normal e o patológico, entre o recomendável e o excessivo. Estes questionamentos nos remetem a problematizar este fenômeno visando explorar, como este tipo de interação pode interferir na construção da identidade e na autoestima dos usuários. Para entender como a rede social virtual e suas ferramentas de interação se configuram como um espaço passível de interferir na constituição do sujeito é essencial abordar os conceitos de subjetividade, alteridade e self, considerando que estes estão estreitamente relacionados aos conceitos de identidade e de autoestima. A subjetividade designa aquilo que pertence à consciência individual, corresponde à existência de uma essência subjacente a experiência, uma consciência de si. Pela subjetividade, se recebe, se produz e se modifica o sentido das experiências. A subjetividade constitui a identidade (EWALD; SOARES, 2007). Neste sentido, o outro é fundamentalmente parte de mim mesmo, portanto a subjetividade é atravessada pela alteridade (Sartre 1943 apud EWALD; SOARES, 2007). Alteridade pode ser definida como o conceito de diferenciação do outro que o indivíduo desenvolve. Para MOLAR (2009) a alteridade diz respeito a constituição do sujeito a partir das relações que estabelece. A alteridade aproxima-se da teoria da identidade social que corresponde à consciência individual de pertencimento a um grupo (PAIVA, 2007). Assim como a alteridade, o self é construído interpessoalmente em termos de significado pessoal ou coletivo, ambos em certa medida mediados pela cultura. A construção do self depende da história social e pessoal. A história cultural é o pano de fundo onde se desenrola a trama da construção autobiográfica do self (VIEIRA; HENRIQUES, 2014). O self é o fluxo de
  • 6. 6 identidade resultante da interação com os outros no espaço transicional (PASSOS-FERREIRA, 2014). A identidade é um processo de construção mediado pelas relações estabelecidas pelo sujeito, sendo fruto da sociedade e da ação do próprio sujeito. Ao se referir à construção identidade, deve-se considerar as zonas de compartilhamento intersubjetivo com determinados grupos, por exemplo, um time de futebol, grupo ou ideologia. Porém, apesar das identificações haverá sempre espaço para a singularidade (EWALD; SOARES, 2007). A construção da identidade possibilita ao sujeito perceber-se através da história, situar- se em algum nicho psicossocial e dar propósito e sentido a sua vida (VIEIRA; HENRIQUES, 2014). A construção da identidade é mediada pelas influências de fatores intrapessoais (capacidades inatas e adquiridas da personalidade), fatores interpessoais (identificação com os outros) e por fatores culturais (ex: valores sociais) (AMANTE et al., 2014). A discussão do conceito de identidade, ao mesmo tempo em que remete a identificação com o outro, também revela a auto avaliação do sujeito em relação a seus próprios valores, este movimento de auto valoração e auto percepção é o que constitui a autoestima. A autoestima pode ser definida como uma gama de sentimentos e pensamentos resultantes da autoavaliação que o indivíduo faz acerca de si. O resultado desta avaliação resulta em atitudes positivas ou negativas (HUTZ; ZANON, 2011). Segundo Hewitt (2009), a autoestima elevada é produto do reconhecimento positivo de pessoas significativas para o sujeito. A baixa autoestima resulta em sentimentos de incapacidade e inutilidade e a autoestima elevada gera sentimentos de motivação e confiança (AVANCI et al., 2007). A partir da discussão, pode-se inferir que apesar de suas peculiaridades como a ausência de interação física, a interação virtual é um “ambiente” que media a constituição do indivíduo por se tratar de um campo onde ocorrem inter-relações em diversos níveis, permeando assim a construção da identidade e da autoestima dos usuários.
  • 7. 7 Partindo destes pressupostos, esta pesquisa investigou o perfil sóciodemográfico e os impactos das redes sociais na construção da identidade e autoestima de adolescentes e adultos jovens, acadêmicos de uma universidade localizada no Vale do Itajaí. Método Esta pesquisa é de caráter exploratório, descritivo de natureza qualitativa. A pesquisa exploratória proporciona maior familiaridade com o problema, contribuindo para á construção de hipóteses e possibilitando a investigação de variados aspectos relativos ao fenômeno investigado. O método descritivo tem por objetivo mostrar as características de populações ou fenômenos utilizando-se de técnicas padronizadas de coleta de dados (GIL, 2002). A pesquisa qualitativa responde a questões particulares preocupando-se nas ciências sociais, com um nível de realidade singular. Ela trabalha com crenças, valores e atitudes que correspondem a um espaço profundo das relações, dos processos e dos fenômenos (MINAYO, 2001). A coleta de dados foi iniciada em abril de 2016 após autorização e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (Parecer 1.355.942) e finalizada em maio do mesmo ano. Participaram da pesquisa, 20 acadêmicos de dois cursos de graduação com idade entre 18 e 21 anos selecionados aleatoriamente. As entrevistas foram agendadas conforme a disponibilidade dos participantes e realizadas na própria instituição após a assinatura do TCLE. O questionário foi composto por 20 questões que levantaram informações referentes ao uso da rede social pelos usuários como: informações de perfil, opinião sobre a rede, pensamentos e sentimentos relacionados à sua utilização. As entrevistas foram gravadas e a identidade dos participantes foi preservada a fim de garantir sigilo e privacidade. Com vistas a analisar os dados foi utilizada a análise de conteúdo, método que consiste em extrair sentido dos dados (CRESWELL, 2007). Este método abrange as seguintes fases: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Na
  • 8. 8 primeira fase, organiza-se o material a ser analisado e posteriormente, os conteúdos emergentes são categorizados e interpretados a luz de uma teoria (MINAYO, 2001). Resultados Treze participantes eram do sexo feminino e 7 do sexo masculino com idade entre 18 a 21 anos. O Facebook seguido do Whatsapp foi apontado como a rede social mais utilizada, corroborando, fato já descrito pela literatura (Assunção; Matos (2014). A maioria dos participantes usam as redes sociais diariamente por mais de três horas, alguns de forma intermitente, chegando a 20 horas, por vezes sem conseguir distinguir os momentos que não estão online, dada a frequência da utilização. A média de postagens foi de uma postagem por semana. Os entrevistados referem fazer uso excessivo das redes sociais, o que pode ser percebido em suas falas E5: “Toma muito meu tempo com coisas desnecessárias. é meio que uma relação doentia, eu preciso ver a notificação por mais que não vá diferenciar em nada, quando tem notificação eu preciso apertar nela pelo menos pra ela sair dali”. E13: “O tempo todo, tipo quando estou em casa fazendo alguma coisa, ou quando estou na rua eu boto o 3g. Meu deus eu acho que 20 horas”. E11: “Não vou mentir, é o dia todo, [...] o tempo passa a gente não vê”. Estudos apontam que de 20% a 30% dos usuários fazem uso intensivo das redes sociais, em geral observando as postagens dos outros usuários sem interagir (HAMPTON et al., 2012). Os dados levantados aqui corroboram esta pesquisa, uma vez que a maioria dos usuários faz em média uma postagem por semana. No entanto, consideramos que o termo “intensivo” utilizado pelos autores, não possa ser relacionado somente ao fato do usuário não interagir na rede, devendo a passividade também ser considerada como parte da interação.
  • 9. 9 A construção da identidade se dá na interação com o outro como aponta AMANTE et al. (2014), por isso, o uso passivo da rede é também causa de interferência na constituição do sujeito, já que ao “assistir” ao conteúdo o usuário também está sendo impactado. Além disso, o uso abusivo não está vinculado a interação, mas sim a frequência da utilização. A frequência pode ser relacionada a dimensão que as redes sociais têm na vida dos usuários. Pode-se inferir que quanto maior a frequência no uso da rede, ou seja, quanto mais tempo “vivendo online”, maior o impacto na constituição do sujeito. A seguir serão descritas as principais categorias e subcategorias emergentes da análise de conteúdo. Após a categorização foi possível observar algumas características da população pesquisada e discutir a partir da literatura. Categoria 1. Identificação e adesão a rede 1ª subcategoria: Percepção da rede A percepção de pontos positivos e negativos no uso das redes sociais foi unânime entre os entrevistados. Os relatos mostram que os usuários consideram a rede útil em três situações: para manter contato com a família e amigos; ter acesso a informações; ter contato com novas culturas e pessoas. As características negativas advindas do uso da rede são: perda de tempo; distração; troca de contato real pelo virtual; causa de dependência; riscos oriundos da exposição da vida pessoal. Algumas destas evidencias podem ser observados a seguir: E4: “As redes sociais são ferramentas muito importantes atualmente, tem a questão da acessibilidade, é muito fácil acessar o e-mail, falar com alguém no trabalho falar com alguém que está em outro país, [...] o problema é quando ela acaba tomando muito tempo. Algumas pessoas acabam meio que deixando de viver por estar na rede social”. E8: “Elas são muito úteis, porém, estão sendo utilizadas de uma maneira muito errada [...] a questão de ficar viciado na rede social”.
  • 10. 10 E1: “Eu não consigo me ver não usando, eu sei que tem gente consegue, mas eu não consigo, faz parte da minha vida”. Segundo Ewald; Soares (2007), a partir da subjetividade é dado sentido as experiências. Ou seja, a forma que o usuário é afetado pela rede social, varia de acordo com o sentido e importância atribui à mesma, além é claro, da frequência de uso. Apesar da evidência de problemas advindos do uso da rede como o sentimento de perda de tempo, não se percebe um movimento de abandono ou estratégias de controle para evitar estes problemas. Este dado leva a crer que esta realidade é como um “caminho sem volta” no século XXI. 2ª subcategoria: Ganhos/Perdas mediante o uso da rede Os dados levantados sobre as possibilidades de desenvolvimento de habilidades mediante o uso da rede social apontaram positivamente para a aquisição de novas habilidades tais como: música, línguas e ampliação do conhecimento geral, conforme descrito a seguir. E1: “Eu aprendi inglês basicamente através da internet e tô tentando aprender coreano também, é mais por blog. Já consegui aprender algumas coisas assim, então eu acho que pra compartilhar informações importantes, aprendendor a fazer coisas por si próprio”. E2: “Tem pessoas que não se expressam bem falando, mas escrevendo é mais fácil”. As pesquisas apontam para os ganhos advindos do uso das redes sociais tais como: ampliação na possibilidade de comunicação entre as pessoas; ampliação no acesso a informações e conhecimento; incremento na participação cívica e política; conhecimento de si e do outro pela exposição das identidades virtuais (NICOLACI-DA-COSTA (2005). Os relatos trazidos pelos entrevistados corroboram os dados levantados pela autora. As vantagens sociais são evidentes, a possibilidade de manter maior contato com familiares e amigos é uma nova condição que de outra forma poderia ser inviável devido a distância ou
  • 11. 11 custo com ligações interurbanas. Além disto, a informação que é compartilhada nas redes pode permite obter conhecimentos sobre alguma área específica ou apreender um novo idioma, a partir do contato com um estrangeiro em outro país. Na rede virtual a legitimidade não é rígida, qualquer pessoa tem espaço para expor e discutir ideias, independentemente da classe social ou instrução. Além da legitimidade, a ausência de barreiras interpessoais proporciona ao usuário maior espontaneidade nas relações. Esta ampliação representa a democratização do conhecimento e compartilhamento de ideias. Algumas desvantagens também foram trazidas nos relatos destacando-se: a possibilidade de estar fazendo coisas mais interessantes; a troca das interações reais pelas virtuais; a redução das habilidades de comunicação interpessoais. E8: “Numa roda de amigos, assim, eles ficam muito na rede social o tempo todo eles não querem conversar, eles querem postar, é status”. E10: “Quanto mais tempo ela vai passar no Facebook, menos tempo ela fica interagindo com as pessoas, até porque às vezes tu tá no ambiente e a pessoa está ali, aí tu não está interagindo com a pessoa na tua frente aí tu vai ficando atrofiado [...] eu vou só pegar o número dela pra falar com ela eu não vou lá falar com ela realmente”. Pode-se perceber que o tempo na rede vem tomando o tempo real, se por um lado a interação entre os seres humanos aumentou, por outro, tem ocorrido de outras formas. A interação através da rede social substitui em certa medida o relacionamento face a face, levando-se em conta as facilidades da comunicação virtual (KUJATH (2011). Nas narrativas, percebe-se que existe de fato uma substituição das relações face a face que não é apoiada pelos usuários, que percebem a importância das relações interpessoais físicas. A sensação de perder tempo também é recorrente nos entrevistados sendo percebida como
  • 12. 12 prejudicial. Pode-se inferir que este tipo de pensamento está relacionado à ideia de produtividade e certa aversão ao ócio na contemporaneidade. 3ª subcategoria: Impacto/migração/ampliação Dentre os motivos que levaram os usuários a aderirem as redes sociais virtuais, destacaram-se: a migração da rede social Orkut; pressão social; possibilidade de ampliação do contato com familiares e amigos; acesso rápido e fácil a informações e noticias atuais. E10: “Criei foi pela proximidade com meus colegas a gente queria mais aquele contato o tempo todo, saber o que os meus amigos estavam fazendo”. E4: “Começou a vários anos com uma amiga, ela disse todo mundo usa, faz um pra ti, aí eu fiz para eu me enturmar”. E19: “Para falar bem a verdade, para se adequar a todo mundo, é uma cadeia né? Todo mundo acaba tendo e acaba utilizando com mais frequência”. E20: “Estava todo mundo usando e porque tinha acabado o Orkut [...] pra conversar com as pessoas, pra ler publicação de outras pessoas, pra conhecer pessoas”. Para Amante et al., (2014), além de outros fatores, a cultura e seus valores participam na constituição do sujeito e de sua identidade. Segundo Figueiredo (2010), os “nativos da geração 2.0” incorporam as tecnologias a sua vida, sendo a harmonia entre estas duas realidades uma nova e indispensável competência da era digital. A adesão a uma rede social por conta da migração de outra rede ou por pressão social aponta para uma adequação a um movimento de cultura virtual. A partir do uso do termo “mudança indispensável” por Figueiredo (2010), deve-se refletir sobre as características dessa migração em massa. Percebe-se que não há conhecimento nos entrevistados sobre os motivos que levaram a mudança, quem decidiu e deu início a este movimento que afetou a milhões de pessoas no mundo todo. A partir disto, pode-se pensar sobre a fragilidade na reflexão e a
  • 13. 13 vulnerabilidade dos sujeitos na rede. Portando, as relações e mudanças no ciberespaço se configuram como um contínuo da totalidade da vida do usuário. Categoria 2. Identidade na rede 1ª subcategoria: Controle da imagem Evidências sobre o cuidado do usuário com sua imagem na rede são recorrentes nos relatos, os entrevistados referem selecionar cuidadosamente suas postagens; cuidar com o perfil profissional na rede e manter perfis anônimos, conforme pode ser percebido abaixo. E7: “Tu vai pegar minhas fotos de perfil, eu não vou ta descabelada igual eu vou tá às seis da noite na faculdade é totalmente outra vida nas redes. Ninguém bota lá eu tô triste, eu tô ruim, tô isso ou aquilo, só bota momento de festa, geralmente é assim”. E13: “São fotos que eu mostro o que eu quero, assim como as pessoas também só mostram o que elas querem”. E11: “Eu escolho a dedo tudo que eu vou postar”. Alguns entrevistados afirmam ter perfis anônimos na rede social Twitter, para poderem manifestar posições que não gostariam que fossem associadas a sua imagem pública na rede. Estes relatos ilustram tal afirmação: E4: “No meu Twitter o meu nome tá diferente do real, minha foto tá diferente [...] coloco coisas ali que certamente não colocaria em um lugar onde as pessoas sabem quem eu sou, então o Twitter é meio que um personagem meu”. E5: “No Twitter falo a besteira que quiser que não tem conhecidos ali, o Twitter é a rede do desabafo, [...] é pra se brincar, postar o que quiser, sem brigar como no Facebook”. Amante et al., (2014) afirmam que os adolescentes procuram mostrar o seu verdadeiro “eu” virtual, não sendo o mundo real e o mundo virtual como separados para os jovens. Segundo Larsen (2008), os adolescentes têm utilizado as redes sociais virtuais como um prolongamento
  • 14. 14 do mundo real, onde a sinceridade do discurso e a rejeição dos falsos perfis demonstram uma procura de afirmação da sua identidade. As redes sociais possibilitam o controle da identidade virtual, nela o usuário tem autonomia para mostrar e ocultar o que as pessoas verão a seu respeito. Sendo assim, ainda que haja algo de real naquilo que é mostrado através da rede, ou seja, um “eu”, o controle favorece a extrapolação da vida e do perfil idealizados pelo usuário, ou seja, o “eu” ideal. Junto a isto, a criação de contas anônimas com a finalidade de expressar opiniões que usuário não gostaria que se tornassem publicas, indica e reforça que o perfil na rede social não corresponde exatamente ao “eu” real do usuário. É preciso considerar que o fato do usuário mostrar na rede apenas coisas interessantes a seu respeito, caracteriza de certa forma uma seleção da sua realidade, ou seja, na rede o usuário mostra somente o que lhe convém. Pode-se inferir que as relações virtuais acabam sendo entre as idealidades dos usuários. Neste sentido, ao se deparar na rede com uma realidade perfeita do outro em comparação com a sua própria realidade, o resultado é o sentimento de ter uma vida vazia. 2ª subcategoria: Vinculação/Ocultação Na discussão sobre as opções seguir, ocultar e a utilização da ferramenta check-in, os entrevistados descrevem algumas características destas ferramentas. Estas opções foram consideradas por muitos entrevistados, como uma forma de criar publicamente vinculações desejáveis, enquanto que a ocultação, uma forma de esconder vínculos indesejáveis. E2: “As vezes as pessoas seguem páginas pela visibilidade, só pra dizer que curtiu tal página pra que as pessoas vejam que eu estou curtindo aquela página”. E11: Eu comecei mais a surfar foi por influência das amizades [...] a pessoal tá falando a todo momento “to surfando, ou indo surfar” [...], então eu sei que alguns amigos não curtem tanto o esporte em si o surf, mais eles postam mais por status”.
  • 15. 15 Outra forma de vinculação se dá através da ferramenta check-in, que registrar e divulga a localização do usuário. A exposição da localização, muitas vezes é seguida de frases e imagens, que revelam características dos lugares. Os relatos abaixo ilustram isto. E15: “A pessoa está lá no restaurante 5 estrelas, o mais caro da cidade, mas porque que ela precisa fazer o check-in? Futilidade, só para mostrar aos outros, entendeu? Status.” E17: “Eu não sou assim, acho que eu nunca usei, mentira, já utilizei! Uma vez fui num restaurante muito chique e precisava falar que tava lá! Então eu sou rica maravilhosa”. A vinculação a partir das ferramentas “seguir” e check-in, possibilita ao usuário construir uma identidade virtual através da vinculação com pessoas, espaços e atividades, levando em conta o seu valor socialmente estabelecido. Ao buscar associar-se e atualizar-se através da rede virtual, o usuário constrói sua identidade virtual e consequentemente sua identidade. Segundo Amante et al., (2014), é o olhar do outro que devolve a identidade para o sujeito. Este processo pode ser observado também nos espaços virtuais. A opção de ocultar do perfil vínculos indesejáveis permite a manipulação da identidade virtual. Ao ocultar o usuário esconde possíveis associações negativas com, pessoas, páginas, espaços e atividades fazendo com que sua identidade virtual se aproxime mais do que deseja parecer publicamente. Esta relação reforça ainda mais a disparidade entre a realidade e a “identidade virtual” como visto na discussão sobre o controle da imagem. A multiplicidade de relações que o usuário estabelece e sua interação na rede, faz com que ele receba feedback de um número significativo pessoas, que muitas vezes são “desconhecidos” e que de alguma forma, terão interferência na constituição deste sujeito. Além disso, existe uma ampliação na ampliação daquilo que era privado e passa a ser público. 3ª subcategoria: Estereótipos As discussões sobre a percepção do outro a partir do perfil na rede, apontaram para questões ligadas a estereótipos. As relações interpessoais através da rede podem gerar
  • 16. 16 afastamento quando identificadas diferenças entre os usuários e aproximação quando identificada afinidades. As “indiretas” também estão ligadas ao estereótipo quando atingem pessoas a quem não estavam sendo direcionadas. E19: “A partir do momento que você acaba vendo o perfil da pessoa na rede social, você acaba descobrindo algumas coisas daquela pessoa, algumas peculiaridades, e depois conversando pessoalmente você vê que é realmente bate algumas coisas, eu faço isso as vezes, de ver a rede social da pessoa para ver como ela se porta né? Algum tipo de comportamento; o que ela gosta de ler, o que ela gosta de ouvir”. E5: “Às vezes a pessoa posta um Bolsonaro aí já crio uma imagem meio negativa dela, pessoalmente eu não sinto vontade de discutir isto n a faculdade com aquela pessoa”. E5: “Tem uma conhecida do meu namorado, que vive postando coisas sobre o filho dela, tipo, [...] se nunca quis saber da minha gravidez e de meu filho”. Segundo Ellison et al., (2007) a partir do contato virtual que antecede o contato face a face e pela veracidade das informações expressas no perfil do usuários, há a possibilidade dos usuários se conectarem novamente. Desta forma o Facebook pode ser um complemento online e auxiliador da relação face a face (Nicolaci-da-costa, 2005). Ao mesmo tempo em que se evidencia a aproximação entre os usuários devido à descoberta de similaridades, existe também o afastamento devido à identificação de divergências como visto no segundo relato. As indiretas, que são postagens que buscam “atingir” de forma não explícita (sem mencionar nomes) a alguém, poderiam estar relacionadas as duas possibilidades, considerando que o usuário desinformado pode afastar-se de alguém por acreditar que uma indireta negativa seja direcionada para si, ou pode aproximar-se pelo mesmo motivo em uma situação em que a indireta é positiva.
  • 17. 17 É possível inferir, que a rede virtual ao mesmo tempo em que aproxima os usuários, pode também afastá-los. Em relação à identidade esta dinâmica é fundamental, já que como afirma Amante et al., (2014), a identidade se constrói apenas na interação com o outro. Categoria 3. Autoestima 1ª subcategoria: Intenção Nos relatos abaixo, pode se identificar alguns dos motivos que levam as pessoas a fazerem postagens, os dados encontrados apontam para a busca de reconhecimento, visibilidade ou aceitação. E17: “Tem algumas garotas que gostam muito de postar fotos para chamar a atenção e inflar o ego, para todo mundo curtir, pra dizer “meu deus como você é linda maravilhosa”, [...] tu posta um pensamento pra ver quantas pessoas concordam contigo, para as pessoas ficarem lá dizendo o quanto você é maravilhoso, quanto teu prato de comida é saudável”. E6: “Eu acho que às vezes é uma coisa mais pra mostrar o que está fazendo, mas às vezes também é paro o ego delas, assim quantas curtidas minha foto vai ganhar”. Segundo Hewitt (2009), a autoestima elevada é produto do reconhecimento positivo de pessoas que o sujeito considera significativos para si. Para Fortes et al. (2014), a autoestima elevada está relacionada a sentimentos de valorização e satisfação, gerando em si mesmo um estado de motivação e na baixa autoestima um sentimento de inutilidade e fracasso. O feedback nas redes sociais é dado através da utilização das opções “curtir”, “comentar” ou “compartilhar”, variando de acordo com a rede social. Nestes recursos “reforçadores”, tanto a resposta quanto à ausência dela impactam o usuário. Pode-se considerar cada “curtida” como um micro “reconhecimento”. Percebe-se nos discursos um correlato afetivo entre a postagem e o resultado alcançado por esta. O resultado pode assim gerar sentimentos que afetam a autoestima do usuário. Para Hewitt (2009) é inegável a importância do reconhecimento do outro para na autoestima. Quando o usuário recebe a quantidade de
  • 18. 18 curtidas ou “reconhecimentos” que esperava ou ultrapassa esse número, ocorre um sentimento de motivação e ânimo e quando a expectativa não é alcançada surgem sentimentos de tristeza frustração. Pode-se inferir que os sentimentos positivos conseguidos através do número de curtidas, podem reforçar a construção de uma identidade “ideal” vinculada a opinião alheia. Deve-se pensar que fundamentalmente a autoestima está relacionada ao reconhecimento de pessoas significativas para o sujeito, no entanto, na rede social o número de curtidas tem grande importância. Ao dar-se importância ao número de pessoas e não as pessoas em si, pode-se perceber uma hibris tanto na construção da autoestima quanto da identidade. Esta reflexão aponta para a complexidade das relações do sujeito com “muitos outros” na sua constituição, em que o usuário pode vir a guiar suas atividades e seu cotidiano a partir do objetivo de receber o maior número de “reconhecimentos” na rede. 2ª subcategoria: Expectativa No tocante à intensão da postagem, percebe-se a criação da expectativa com relação ao resultado desta atividade. É interessante observar a subjetividade neste processo. E5: “Quanto mais popular a pessoa, as pessoas sabem que ela não vai compartilhar coisas suas, ela tem aquela popularidade e não precisa das suas coisas”. E11: “100 curtidas que é o básico hoje, tudo bem, vamos supor ali no Facebook a média é de 80 a 100 curtidas, que é mais ou menos normal”. E10: “Eu acredito que a maior expectativa delas é ter o maior número de curtidas o que elas querem alcançar o maior número de pessoas para se sentirem bem”. Segundo Ewald; Soares (2007), a subjetividade corresponde à existência de uma essência subjacente a experiência. No caso das redes sociais, esta essência a expectativa do usuário em relação a interação e a forma como irá assimilar esta experiência. Para Boyd (2008),
  • 19. 19 o feedback que recebe quanto a suas postagens na rede, impacta não só na forma como o usuário se relaciona na rede virtual mas se expande também para as relações reais. A expectativa enquanto experiência subjetiva está relacionada a identidade. O resultado que um usuário espera obter com uma postagem, terá haver com a expectativa de outro usuário quando este de alguma maneira servir de parâmetro para comparação. 3ª subcategoria: Sentimento/Intenção de retribuição Os questionamentos relacionados a sentimentos de reciprocidade nas interações virtuais e o motivo que leva as pessoas a seguirem perfis ou páginas, apontaram para a existência de sentimentos de retribuição e a intencionalidade nestas interações. E2: “Acho que o Facebook tem muito essa troca, vou curtir a tua foto pra ganhar uma curtida de volta”. E5: “Eu tenho uma prima adolescente que fala pra mim: eu curti a tua foto naquele dia, porque tu não curtiu a minha ainda? Aí eu tenho curtir pra ela não ficar brava. [...] Uma vez ela pegou o meu perfil do Instagram e curtiu todas as fotos pra depois cobrar de mim pra ir lá curtir o perfil todo dela”. Dado os modos de vida da modernidade e a sua pluralidade, as identidades passaram a ser orientadas pela necessidade do sujeito na sociedade (MONTE, 2012). Pode-se pensar a necessidade neste caso a partir da retribuição de um “favor” ou a busca de uma identidade virtual que publicamente esteja relacionada a muitas amizades e “reconhecimentos”. Por vezes o usuário não interage com a publicação de outro por aprovar ou achar significativa sua publicação, mas sim porque o outro interagiu anteriormente com sua publicação, caracterizando uma reciprocidade nesta dinâmica, que não leva em conta a identificação com a publicação, mas somente o ato de retribuir. Na rede existe a interação com a intenção de criar um vínculo, o usuário curte, comenta ou segue outro com o objetivo de que
  • 20. 20 este faça o mesmo. O intuito é fazer com que o número de “curtidas” e “seguidores” aumente dando a entender publicamente que este usuário tem muitos seguidores e amigos. Novamente, tem-se uma relação que evidencia a preocupação com a identidade virtual e que acaba gerando expectativa na interação que tem impactos emocionais para o usuário, , estes sentimentos interferem na autoestima e na identidade do usuário. É importante salientar que este movimento que acontece na rede social também existe fora do ciberespaço. 4ª subcategoria: Sentimento de perda/inconsciência Um dos questionamentos levantados relacionava-se ao sentimento gerado no usuário após visualizar a atividade dos amigos através das redes sociais enquanto está sozinho no computador. Os resultados apontaram para sentimentos negativos neste tipo de interação. E1: “Eu já me senti mal [...] porque tu pensa, eu tô aqui na faculdade, tenho que atender, fazer trabalho, fazer um monte de coisa e o cara tá lá na praia se divertindo”. E8: “As pessoas postam na rede social só coisas felizes da vida delas, a pessoa fica olhando e acha avida da pessoa perfeita, então as pessoas ficam tristes, meio frustradas, porque acham que a vida delas é miserável, é só trabalho e estudo”. O termo FOMO (Fear Of Missing Out) ou medo de perder algo, ilustra este fenômeno. Este fenômeno é descrito como momentos em que o usuário através da internet vê seus amigos se divertindo enquanto está só, sentindo como se estivesse perdendo estes momentos (Fortes et al., 2014; KROSS et al., 2013). Nossos achados corroboram e evidenciam um movimento de interação na rede que impacta negativamente à autoestima dos usuários. Discussão O conteúdo coletado e analisado permite constatar que dentre a população de adolescentes e adultos jovens, o tempo médio de interação nas redes sociais é de três horas
  • 21. 21 diárias podendo chegar a 20 horas. A passividade é uma característica da utilização, sendo que as postagens acontecem em média uma vez por semana. Considerando-se o tempo médio do uso da rede, ainda que constatada a passividade, evidencia-se a relevância do seu impacto na constituição da identidade e da autoestima dos usuários. Além da frequência da utilização é preciso considerar também a subjetividade na forma e intensidade que o usuário será impactado através do uso rede. A partir da percepção dos entrevistados sobre a utilização das redes sociais, foram apontados alguns benefícios, entre eles estão: à ampliação nas possibilidades de comunicação; a facilidade e democratização do acesso à informação; espaço público para exposição de ideias; espaço para espontaneidade; desenvolvimento de habilidades como música e línguas; aproximação entre os usuários. A identidade é um processo de construção que indica as relações na qual o sujeito está inserido, ela é fruto da sociedade e da ação do próprio sujeito (EWALD; SOARES, 2007). A partir disto, pode-se inferir que a identidade do usuário está vinculada as informações e relações que ele estabelece e tem acesso na rede. Ao filtrar os conteúdos relevantes com referências adequadas, o usuário tem na rede uma grande fonte de informação. Além disso, ao estabelecer relações virtuais consistentes, o usuário encontra nelas um complemento das suas relações sociais. Portanto, os benefícios da rede são atrelados à disciplina e bom senso na utilização. Por outro lado, foram evidenciadas características negativas advindas do uso das redes, tais como: perda de tempo; distração; troca de contato real pelo virtual; possível causa de dependência; riscos oriundos da exposição da vida pessoal; banalização da informação; afastamento dos usuários. Neste sentido, pode-se perceber que grande parte dos problemas estão relacionados à falta de controle no acesso. Desde a migração e adesão as redes sociais, elas passaram a ser uma
  • 22. 22 realidade incontestável para os usuários. Encontrou-se nelas, uma falsa sensação de satisfação (GUEDES, 2016) que culminou em um aumento do tempo despendido na sua utilização. Subestimar suas consequências, a falta de disciplina diante das distrações e a proporção social que tomaram as redes sociais, fez com que se tornassem causa de problemas. Além disso, apesar da possibilidade na democratização da palavra, a usual falta de profundidade das informações que circulam na rede junto às intenções “egóicas” das postagens, permite a autores como Umberto Eco, considerar que a democratização da palavra tem efeitos negativos para a coletividade, por difundir tolices e futilidades (ECO, 2016). Segundo Ewald; Soares (2007), a globalização tornou as identidades fragmentadas em detrimento das identidades sólidas que apoiavam a existência das pessoas. Pode-se inferir a partir desta constatação, que a ampliação ao acesso a informações e relações de todo tipo na rede, esteja relacionada a esta fragmentação nas identidades “pós-modernas”. Deve-se considerar que a multiplicidade de informações permite ao usuário se identificar superficialmente com “tudo” e profundamente com nada, devido a recorrente falta de consistência e transitoriedade das informações na rede. A construção da identidade possibilita ao sujeito perceber-se através da história, situar- se em algum nicho psicossocial e dar propósito e sentido a sua vida (VIEIRA; HENRIQUES, 2014). Ao faltar na formação do sujeito, consistência de valores e vínculos psicossociais, os vínculos estabelecidos na rede passarão a fazer parte da estrutura da sua identidade e irão impacta-lo mais intensamente. A partir da relação e vinculação aos valores e ideais da rede, o usuário perde em estabilidade psicossocial, como já visto, as redes caracterizam-se por suas estruturas e relações dinâmicas e transitórias. Segundo Hampton et al., (2012), os usuários se esforçam para ressaltar suas qualidades e associar-se a valores que consideram bem vistos socialmente. Os jovens tem consciência das suas postagens e sabem que com elas estão criando uma imagem social. Constatou-se que
  • 23. 23 através da seleção das informações mostradas em seu perfil, o usuário se afasta da totalidade da sua existência em detrimento da sua representação social, ou seja, seu “eu” ideal. Além do controle, o usuário pode “aperfeiçoar” sua imagem ocultando vinculações indesejáveis e vinculando-se a páginas, pessoas ou atividades desejáveis, levando em conta o valor social destes vínculos. Por isso, pode-se afirma que na rede social a identidade se constitui a partir das relações entre os “ideais” dos usuários. Como a realidade do usuário vai além da sua identidade virtual, ao mesmo tempo em que ele encara a vida ideal dos outros usuários, precisa encarar também a sua própria realidade sem filtros. Ao não perceber, por não estar evidente, que a vida dos outros usuários também tem percalços e na maior parte do tempo não é tão interessante quanto mostrada na rede social, é comum que o usuário tenha sentimentos negativos que afetam sua autoestima. Estes sentimentos são apontados pela pesquisa de Kross et al., (2013). A falta de vínculos e valores sólidos pode fazer com que o usuário recorra à rede social para tentar reafirmar sua identidade a partir do reforçamento na rede. Evidenciou-se que através das postagens os usuários geralmente buscam reconhecimento e aceitação, este reconhecimento se dá principalmente através da opção “curtir”, que representa um tipo de “reforçamento”. Considerando que os ideias na rede que mais recebem reconhecimento são usualmente estéticos, torna-se comum a busca por vínculos que supram esta demanda, como “boas” coisas, “bons” lugares e “bons” amigos. Estar a mercê do feedback na rede social pode ser perigoso. Percebe-se uma “mutação” na forma de reconhecimento instituído na rede, em que o número de pessoas que “curtem” passou a contar mais do que as pessoas em si. Na rede existe também a interação com a intenção de reciprocidade. O intuito é ter um aumento no número de “curtidas” e “seguidores”, que publicamente representaria a “popularidade” do usuário. Nota-se que nas redes sociais a popularidade é um valor importante.
  • 24. 24 Principalmente na adolescência e juventude, pode-se pensar na “patologia” quando o usuário passa a guiar sua identidade e ocupar grande parte do seu tempo, em busca da satisfação gerada pela sensação de “popularidade”, que por sinal é breve e precisa ser reabastecida recorrentemente. Suprir estas expectativas, por vezes, faz o usuário passar por cima dos próprios desejos e abandonar valores. Pode-se intuir que valores sólidos sejam mais independentes dos impactos das interações virtuais, enquanto que valores menos instituídos pelo sujeito estariam mais passíveis dos impactos das redes. É interessante reafirmar que na rede social usualmente os ideais mais populares são estéticos, sendo as coisas mais “bonitas” mais populares do que as “úteis”. Dados os possíveis impactos do uso da rede na vida dos usuários é válido frisar que dificilmente se encontrará uma situação em que o usuário tenha sua identidade completamente vinculada a rede social e da mesma forma o contrário, alguém com uma identidade tão rígida que esteja à mercê de influências externas. No entanto, esta variação entre “solidez” e “liquidez” na identidade é importante para compreender a maneira e intensidade com que o sujeito será impactado pela rede. O sujeito comum possui valores que não explicita na rede devido a sua impopularidade na mesma, no entanto, estes valores continuam sendo compartilhados em determinados nichos psicossociais fora da rede. Por outro lado, alguns valores mais ligados à estética são explicitados, permitindo que o usuário receba as “benesses” egocêntricas advindas do reconhecimento da sua popularidade e imagem na rede. Por fim, compreendemos que as redes sociais virtuais são ferramentas úteis, porém suas consequências estruturais foram subestimadas em detrimento das vantagens práticas que elas oferecem. Atualmente percebe-se que elas continuam se expandindo e tomando cada vez mais tempo e dimensão na vida dos usuários, por isso, é preciso cautela na sua utilização devido aos problemas que ainda não são tão esclarecidos, mas que apontam para transformações
  • 25. 25 importantes na dinâmica das relações sociais interferindo na identidade e da autoestima das pessoas do século XXI. CONSIDERAÇÕES FINAIS Constatou-se que na rede social virtual, grande parte dos benefícios se dão pelas possibilidades de acesso à informação e estabelecimento de relações com parentes e amigos. Constatou-se que na rede social existe a manipulação da identidade virtual em prol do “eu ideal”. É prática comum entre os usuários, ocultar imperfeições e vínculos indesejáveis e fazer associações a partir do valor social das coisas, lugares, pessoas e atividades. Com isto transmite-se na rede aquilo que se deseja parecer publicamente. Portanto, a interação entre os perfis na rede pode ser considerada uma relação entre “ideais” explicitados pelos usuários. O mecanismo que reforça o aperfeiçoamento da identidade ideal e causa a sensação de satisfação é o número de curtidas. Pode-se intuir que este tipo de reforçamento faz com que a construção da identidade e da autoestima seja baseada nos valores que circulam na rede, que são geralmente transitórios, portanto, destituídos de solidez, tornando a identidade virtual efêmera. É necessário ponderar que a identificação dos impactos das redes sociais na identidade e na autoestima não ocorrem à totalidade dos usuários, devendo-se levar em conta a subjetividade de cada sujeito. Algumas interferências provavelmente só poderão ser vistas em casos de uso abusivo da rede. Além disso, é provável que nem todas as formas de interferência tenham sido identificadas. Ao longo da pesquisa optamos por não comparar o perfil de utilização e a interferência entre os cursos devido ao número restrito de entrevistados, a grande variedade de respostas e a impossibilidade de generalizar os achados.
  • 26. 26 As características das redes sociais virtuais mostram que elas são de fato um ambiente complexo em que acontecem impactos na dinâmica da construção da identidade e da autoestima dos usuários. Novas pesquisas devem investigar as consequências do uso das redes sociais na identidade e autoestima dada a magnitude do uso das redes sociais e e escassez de conhecimento e evidências sobre o tema. Outra temática emergente é a do desenvolvimento de estratégias de controle no uso das redes. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMANTE, L.; MARQUES, H.; CRISTOVÃO, M. R.; OLIVEIRA, P.; MENDES. S. Jovens e processos de construção de identidade na rede: O caso do Facebook. Educação. Formação & Tecnologias, v. 7, n. 2, p. 26-38, jul/dez, 2014. ASSUNÇÃO, R. S.; MATOS, P. M. Perspectivas dos adolescentes sobre o uso do Facebook: um estudo qualitativo. Psicologia em estudo, v.19, n.3, p. 539-547, 2014. AVANCI, J. Q.; ASSIS, S. G.; SANTOS, N. C.; OLIVEIRA, R. V. C. Adaptação transcultural de escala de auto-estima para adolescentes. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 20, n. 3, p. 397-405, 2007. BAUMAN, Z. Amor líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
  • 27. 27 BOYD, D. Why Youth Social Network Sites: The Role of Networked Publics in Teenage Social Life. In Youth, Identity, and Digital Media, p. 119-142, 2007. Disponível em: < http://www.danah.org/papers/WhyYouthHeart.pdf >. Acesso em: 12 nov. 2015. CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto - Tradução: Luciana de Oliveira da Rocha. 2 ed, 248 p. Porto Alegre. Artmed, 2007. DORIN, Lannoy. Dicionário Ilustrado de Psicologia. 5. ed. São Paulo: Itamaraty, 1972. 356 p. ECO, U. Redes sociais deram voz a legião de imbecis. Disponível em: < http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2015/06/11/redes-sociais-deram-voz-a-legiao- de-imbecis-diz-umberto-eco.jhtm >. Acesso em: 12 jun. 2016 ELLISON, N. B.; STEINFIELD, C.; LAMPE, C. The benefits of Facebook ‘‘Friends’’: Social capital and college student social network sites. Journal of Computer-Meditated Communication, v. 12, n. 4, p. 1143-1492, 2007. EWALD, A. P.; SOARES, J. C. Identidade e Subjetividade numa era de incerteza. Estudos de psicologia, Natal, v. 12, n. 1, p. 23-30, abr. 2007 FIGUEIREDO, A. D. A Geração 2.0 e os Novos Saberes: Seminário ‘Papel dos Media’ das Jornadas “Cá Fora Também se Aprende. Conselho Nacional de Educação, 2010. Disponível em: <https://www.academia.edu/237337/A_Geracao_2.0_e_os_Novos_Sab_eres>. Acesso em: 12 nov. 2015.
  • 28. 28 FORTES, L. S.; CIPRIANI. F. M.; COELHO. F. D.; PAES, S. T.; FERREIRA. M. E.; C. A autoestima afeta a insatisfação corporal em adolescentes do sexo feminino?. Revista Paulista de Pediatria, v. 32, n. 3, p. 236-240, set. 2014. GIL, A.C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4.ed. São Paulo: Editora: Atlas, 2002. GUEDES, E.; NARDI, A. E.; GUIMARÃES, F. M. C. L.; MACHADO, S.; KING, A. L. S. Social networking, a new online addiction: a review of Facebook and other addiction disorders. MedicalExpress, São Paulo, v. 3, n. 1, fev. 2016. HAMPTON, K.; GOULET, L. S.; MARLOW, C.; RAINIE, L. Why most Facebook users get more than they give. 2012. Pew Research Center. Disponível em: <http://www.pewinternet.org/2012/02/03/why-most-facebook-users-get-more-than-they- give/>. Acesso em: 12 jun. 2016. HEWITT, J. P. Self-Esteem. Encyclopedia of positive psychology, v. 2, p. 880-886, 2009. HUTZ, C. S.; ZANON, C. Revisão da adaptação, validação e normatização da escala de autoestima de Rosenberg. Popsic, Porto Alegre, v. 10, n. 1, p. 41-49, abr. 2011. KATZ, J. E.; AAKHUS, M. A. Perpetual Contact: Mobile Communication, Private Talk, Public Performance. 1 ed. England: Cambridge University Press, 2002.
  • 29. 29 KROSS, E.; VERDUYN, P.; DEMIRALP, E.; PARK, J.; LEE, D. S.; LIN, N.; SHABLACK, H.; JONIDES, J.; YBARRA, O. Facebook Use Predicts Declines in Subjective Well-Being in Young Adults. Plos One, 14 aug. 2013. KUJATH, C. L. Facebook and MySpace: Complement or substitute for face-to- face interaction? Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking. v.14, n. 1-2, p. 75- 78, 2011. LARSEN, M. C. Understanding Social Networking: On YoungPeople’s Construction and Co- construction of Identity Online. Online Networking - Connecting People, 2008. Disponível em: < http://vbn.aau.dk/files/17515750/Understanding_social__networ king._Bidrag_til_bog.pdf >. Acesso em: 12 nov. 2015. LENHART, A. Teen, Technology and Friendships. Pew Research Center, 2015. Disponível em: <http://www.pewinternet.org/2015/08/06/teens-technology-and-friendships./>. Acesso em: 12 jun. 2016. MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001. MOLAR, Jonathan da Oliveira. Alteridade: uma noção em construção. In: Anais da V Semana de História. História: Espaços Simbólicos. – Seminário de estudos étnico-raciais. Irati – PR. UNICENTRO – 16 a 20 de novembro de 2009.
  • 30. 30 MONTE, S. S. A Identidade do sujeito pós-moderno: algumas reflexões. Revista Fórum Identidades, ano 6, v. 12, p. 162-167, jul-dez 2012. NICOLACI-DA-COSTA, A.M. Sociabilidade virtual: separando o joio do trigo. Psicologia & Sociedade, v. 17, n. 2, p. 50-57, maio/ago, 2005. PAIVA, G. J. Identidade psicossocial e pessoal como questão Contemporanea. Psico, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 77-84, jan/abr. 2007 PASSOS-FERREIRA, C. O self como centro de ação em James e Winnicott. Ágora, v. 17, n. 1, p. 27-42, jun. 2014. VIEIRA, A. G.; HENRIQUES, M. R. A Construção Narrativa da Identidade. Psicologia: Reflexão e Crítica. Portugal, v. 27, n. 1, p. 163-170, 2014.