- A pesquisa educacional tem enfrentado uma "crise de confiança" devido à distância entre pesquisa, política e prática.
- A pesquisa participatória tem sido promovida para reforçar esta interface, envolvendo professores, alunos e outros atores na pesquisa.
- Métodos mistos que combinam abordagens quantitativas e qualitativas podem contribuir para interpretações imparciais dos resultados da pesquisa.
1. Tendências na Pesquisa
Educacional na Europa e America
do Norte
Dra Marina-Stefania Giannakaki
(Athens Institute for Education and Research, Grécia)
2. Crise de Confiança
Durante os últimos 15 anos, a pesquisa educacional tem
sido influenciada por uma ‘crise de confiança’ - uma perda
de fé no seu impacto na política e prática – e por uma
preocupação com o ritmo lento e (às vezes) o fracasso da
reforma educacional (Kerns, 2004).
3. Origem da Crise
Distância entre atividade na educação superior e a
prática na escola, que não encorajava
comunicações entre acadêmicos e profissionais da
educação.
Pesquisa e prática eram consideradas atividades
distintas e separadas.
4. Tradicionalmente, os professores escolares raramente
usavam a pesquisa para sustentar suas práticas. O
conhecimento usado tinha as seguintes características
(Wise 2005; Hiebert et al., 2002):
• profundamente pessoal, baseado em reflexões do
professor sobre as práticas pedagógicas do dia-a-dia.
• relacionado a um contexto especifico e não generalizável.
• isolado e disperso.
´Conhecimento tácito’ dos professores.
5. Questão:
Como reforçar a interface entre pesquisa,
política e prática - isto é, uma mudança para
‘políticas e práticas baseadas em
evidências’?
6. Recursos são investidos em projetos
colaborativos entre professores
universitários, professores escolares e
outros atores, levando à:
Pesquisa Participatória
7. Aplicação de pesquisa em política e prática
(Modelo Linear)
Interesses políticos
(politics)
Formulação Implementação Avaliação através
de políticas em prática de pesquisa
Pesquisa
(OECD, 2002 em Edwards, 2004)
8. Aplicação de pesquisa em política e prática
(Modelo Interativo)
Pesquisa
Prática Política
(Edwards, 2004)
9. Pesquisa Participatória
• Participação ativa dos seus sujeitos (e de outros
beneficiários) como co-pesquisadores em uma ou mais
etapas do processo da pesquisa.
• A participação e influência destes grupos devem ser
iguais às dos especialistas.
• Participação de grupos ‘vulneráveis’, como minorias
étnicas ou crianças com necessidades especiais - e.g.
‘pesquisa com crianças’ ao invés de ‘pesquisa sobre ou
em crianças’.
10. A pesquisa participatória requer a contribuição tanto
dos pesquisadores quanto de profissionais e usuários
de serviços educacionais.
Pesquisadores: conhecimento de pesquisas conduzidas no
passado, dos métodos da pesquisa educacional e de
conceitos científicos relevantes ao tema da pesquisa.
Profissionais e usuários: conhecimento das particularidades
do contexto da pesquisa e de mudanças/alterações
introduzidas neste contexto.
Porque?
11. - ‘Grupos de Trabalho’ (Steering Groups) responsáveis por
decisões em várias etapas da pesquisa, compostos de
acadêmicos, professores, empregadores, funcionários do
governo, alunos, pais, etc.
Formas usadas para tornar a
pesquisa mais participativa
- Treinamento de membros dos grupos mencionados
acima para contribuir na execução da pesquisa, como
co-pesquisadores.
12. Pesquisa-Ação Participatória
• Considerada sub-categoria da pesquisa participatória.
• Pertence ao paradigma da pesquisa qualitativa.
• É radical no sentido que dá ênfase no lado político da
produção do conhecimento.
• Os sujeitos de pesquisa têm papel dominante. Os
especialistas-pesquisadores têm papel facilitário.
– e.g. o trabalho de crianças em vários países indica
‘exploração/perda da infância’ ou ‘vontade conscientede
ajudar as famílias’? (Nieuwenhuys, 2004)
• O objetivo é dar poder aos sujeitos para produzir conhecimento
útil a eles, interpretar os resultados usando os seus próprios
valores/pontos de vista e participar de decisões políticas que
transformam o seu ambiente.
13. Questões relacionadas à pesquisa
participatória
• Relações de poder entre membros do grupo de pesquisa.
• Não-acadêmicos podem faltar conhecimento técnico para
engajar-se na pesquisa no mesmo nível de especialistas.
• A pesquisa participatória tem sido criticada por ser aplicada
de modo simbólico (tokenistic).
• A pesquisa participatória tem sido associada à falta de rigor
e confiabilidade.
• No caso de crianças: riscos de segurança e restrições legais
(e.g. viagens para coleta de dados requerem aprovação dos
pais).
15. Pesquisa do Professor/Profissional
• Conduzida por professores (ou outros profissionais) com o
objetivo de explorar uma situação e melhorar a prática
pedagógica.
• É mais individual do que colaborativa.
• Pode ter (ou não) contribuição de especialistas
pesquisadores.
• Usa-se, também, como método de treinamento de
professores.
16. • Ausência de dialogo entre profissionais.
Críticas da pesquisa do
professor/profissional
• Falta de contribuição de pesquisadores-especialistas
• Restrito uso de metodologias.
• Interpretação e aplicação de evidências de modo simplístico.
• Aplicação da teoria na prática sem elaboração crítica.
• Caráter apolítico, faltando objetivos (e poder) transformativos
em relação ao status quo.
• Dominância dos profissionais e silêncio (ignorância) dos
alunos e outros usuários de serviços educacionais.
17. Pesquisa-Ação
Em relação à ‘pesquisa do professor’, tem as seguintes
diferenças:
• Mais colaborativa do que individual.
• O foco da pesquisa é a organização (e.g. escola) e suas
práticas ao invés do professor.
Críticas:
- Ênfase nos interesses da organização (escola) ao
invés dos interesses dos alunos.
- Relativamente conservativa: Não desafia de modo
radical as práticas estabelecidas nas escolas.
18. Divulgação ao longo da pesquisa
Divulgação a partir do início de um projeto de pesquisa
19. • Dar feedback crítico sobre as questões e os métodos da
pesquisa (retroalimentação crítica).
• Refletir criticamente nos dados gerados através da pesquisa.
• Contribuir na interpretação dos resultados.
• Oferecer idéias sobre modos de aplicar o conhecimento
produzido.
• Oferecer feedback sobre os resultados destas aplicações
(e.g. como a prática se transformou?).
• Identificar novas questões para futuras pesquisas.
• Começar a refletir em suas práticas usando os instrumentos
intelectuais da pesquisa.
Profissionais e usuários da educação tem a
oportunidade de:
20. Múltiplos modos de divulgação
• Relatórios de pesquisa, artigos em revistas, manuais para
estudantes, online resumos, etc.
• British Educational Research Association (BERA): produção
de resumos de pesquisa para profissionais da educação.
• Profissionais servindo de ´leitores críticos´ antes da
publicação de resumos.
• Uso da TIC – e.g. conferências online, chatrooms para
receber feedback.
• Profissionais ou usuários servindo de ´difusores´ dos
resultados.
21. ‘Divulgação’ não significa a distribuição de uma lista de dicas
no final da pesquisa que são uniformemente aplicadas em
todos os contextos.
Porque?
O conhecimento produzido através da pesquisa é
transformado pelos usuários e aplicado de modos diferentes.
Exemplo: Alarme de mão para pacientes hospitalizados
(Hyysalo, 2002 em Edwards, 2004).
(a) Foi usado em modos não antecipados pelos designers.
(b) O feeback dos usuários possibilitou aos designers adaptar
o alarme para servir, de modo melhor, estes usos não
antecipados.
23. Ênfase em colaborações internacionais
• Seventh Research Framework Programme (FP7)
– Pesquisa entre países europeus ou entre Europa e países fora da
Europa (ênfase em grandes países como Brasil, China, Índia e
Estados Unidos).
– Mínimo requisito: três diferentes países.
(http://cordis.europa.eu/fp7/home_en.html)
• European Social Fund (A2), Forward Looks (Olhar para a frente)
- Workshops entre países europeus ao longo de 4 anos para definir
futuras agendas e prioridades em pesquisa. (www.esf.org)
• Bolsas Schuman-Fulbright
- Bolsas para pesquisa no outro lado do Atlântico em áreas relacionadas
às relações entre Europa e Estados Unidos.
(http://ec.europa.eu//education/programmes/eu-usa/index_en.html)
24. Interdisciplinaridade
+
Centros de pesquisa dedicados em áreas
estratégicas
Exemplos na Inglaterra
• Centre for Research on the Wider Benefits of Learning,
Universidade de Londres (www.learningbenefits.net)
- Área: os benefícios da aprendizagem ao longo da vida
- Disciplinas: medicina, psicologia, economia, etc
• Research Centre on the Economics of Education, Universidade de
Londres (www.cee.lse.ac.uk)
- Área: economia da educação
- Disciplinas: economia, estudos fiscais, sociologia, etc.
26. Ênfase em programas de desenvolvimento
(development programmes)
• Programas interventivos (programas-pilotos) baseados em
pesquisa.
• Pesquisa avaliativa: avaliação de programas interventivos ou
de reformas educacionais de grande escala.
Exemplo
• National Research and Development Centre for Adult Literacy
and Numeracy (Universidade de Londres, RU)
(http://www.nrdc.org.uk/)
- Pesquisa avaliativa em ‘literacia e numeracia dos adultos’.
- Sub-contrata, também, instituições de ‘educação adicional’ para
executar pesquisa-ação liderada por professores/profissionais.
27. A pesquisa avaliativa financiada pelo governo tem
sofrido o controle (a censura) dos resultados por
representantes do governo que participam destes
projetos.
Questão da influência dos financiadores na
agenda da pesquisa educacional.
29. Ética na pesquisa educacional
(BERA, 2004)
– Eliminar possíveis danos aos participantes
(durante e depois da pesquisa).
– Consentimento informado.
Questões:
*Crianças pequenas
*Minorias étnicas
*Consentimento em caso de entrevista e de observação
*Exigências éticas vistas como empecilho para uma boa
pesquisa.
30. – Interpretar e publicar os resultados sem
necessidade de ser aprovados por financiadores,
supervisores, etc.
– Evitar influência excessiva pelos financiadores.
– Comunicar o resultados amplamente e em formatos
acessíveis.
31. (Maniam et al., 2004)
– Adaptar os métodos da pesquisa para evitar a exclusão
de sub-grupos na população-alvo.
e.g. tradução de questionários
uso de desenhos em caso de crianças pequenas.
Questões:
*Testes usados para avaliar o desempenho de alunos favorecem
a classe média. e.g. ´matemática da rua´ e ´matemática da sala
de aula´.
*Preconceitos racistas influenciam a interpretação de dados
quantitativos. e.g. como interpretar o maior número de atos violentes
por alunos negros?
33. Métodos Mistos
• Métodos de pesquisa que incluem dados quantitativos
e qualitativos para o melhor entendimento da prática
educacional.
• Aumento da popularidade do paradigma ‘pragmático’
ao invés do uso absoluto dos paradigmas positivista
ou interpretativo.
• Paradigma pragmático: A melhor metodologia é
aquela que funciona nas circunstâncias.
34. Métodos Mistos – Exemplos
1. Desenho exploratório seqüencial (Creswell, 2003)
QUAL QUAN Interpretação
Coleta/análise de dados Coleta/análise de dados de toda análise
Objetivos:
• Construção de instrumentos para coleta de dados quantitativos.
• Uso de dados quantitativos para:
(a) interpretar ou generalizar os resultados qualitativos,
(b) explorar a distribuição de um fenômeno na população -alvo,
(c) examinar empiricamente uma teoria baseada nos dados
qualitativos.
35. 2. Desenho concomitante (simultâneo) de triangulação
QUAN + QUAN
Coleta/analise de dados Coleta/analise de dados
Comparação dos resultados
Objetivo:
Uso paralelo de diferentes métodos para examinar um
fenômeno e comparar os resultados com o objetivo de confirmar
a sua validade e confiabilidade.
36. Sumario dos Pontos Principais
• Pesquisa participatória: Reforço da interface entre pesquisa-
política-prática.
promovendo:
• Reflexões críticas em política e prática educacional
• Transformações da política e prática educacional
Para que a pesquisa tenha impacto em prática, é necessário
criar escolas abertas para inovações e transformações das
suas práticas...
...ísto é, ´escolas em constante aprendizagem´ (learning
organisations).
37. Referências
• British Educational Research Association (2004) Revised Ethical Guidelines for
Educational Research. Slough: BERA. Disponível no site:
http://www.bera.ac.uk/publications/pdfs/ETHICA1.PDF
• Creswell, J. W. (2003) Research Design: Qualitative, Quantitative and Mixed
Methods Approaches (second edition). London: SAGE Publications.
• Edwards, A. (2004) Education, in Doing Research with Children and Young People
(pp. 255-269). London: SAGE Publications.
• Hiebert, J., Gallimore, R. & Stigler, J. W. (2002) A knowledge base for the teaching
profession: What would it look like and how can we get one? Educational
Researcher, 31(5), 3-15.
• Kerns, P. (2004) Education Research in the Knowledge Society: Key Trends in
Europe and North America. SA Adelaide: National Centre for Vocational Education
Research.
• Lüdke, M. (2001) O professor, seu saber e sua pesquisa. Educação e Sociedade,
22(74), 77-96.
• Maniam, M., Patel, V., Singh, S. & Robinson, C. (2004) Race and ethnicity, in Doing
Research with Children and Young People (pp. 222-236). London: SAGE
Publications.
• National Children’s Bureau (2006) Guidelines for Research. London: NCB .
Disponível no site: http://www.ncb.org.uk/dotpdf/open%20access%20-
%20phase%201%20only/research_guidelines_200604.pdf
• Nieuwenhuys, O. (2004) Participatory action research in the majority world, in Doing
Research with Children and Young People (pp. 206-221). London: SAGE
Publications.
• Wise,A. E. (2005) Establishing teaching as a profession: The essential role of
professional accreditation. Journal of Teacher Education, 56(4), 318-331.