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DATAS MAGNAS DE MANHUAÇU

I - Elevação a distrito pela Lei Provincial número 2.042 de 1º de
Fevereiro de 1873.

II - Elevação a Paróquia, pela Lei número 2.165 de 20 de
Novembro de 1875.

III - Elevação à denominação de Município, com sede em São
Simão, pela Lei número 2.407, de 5 de novembro de 1877.

IV - Elevação à condição de Vila, com conseqüente qualidade de
sede do Município de Manhuaçu, pela Lei número 2.557 de 3 de
janeiro de 1880.

V - Elevação à categoria de Comarca, pela Lei número 2.665, de 4
de novembro de 1880.

VI - Elevação à cidade, pela Lei número 2.766, de 13 de setembro
de 1881.

MANHUAÇU - FATOS E NOTAS DE SEUS PRIMÓRDIOS                          José
Fernandes Rodrigues

      Como é fácil de ser visto no Vale do Rio Doce, em cujos contornos
estamos marcadamente compreendidos, os reflexos de sua composição
geológica mostram-se perfeitamente na paisagem, pelas formas do
relevo; ora a hidrografia se adapta à estrutura, subordina aos efeitos da
torrente, de maneira absoluta e inconfundível. Em franco e agudo
contraste com as formas de relevo tabular de leste surge, mais para
oeste, crescente explosão de cristais pontões. Mais a distante do litoral,
na parte central do vale, a erosão dissecou um planalto a bem dizer
regular, onde os rios são extensos e profundos.

          No que nos toca particularmente, os desgastes efetuados pelas
águas deram origem a uma série de grandes unidades nitidamente
diversificadas em seus relevos, como sejam a planície litorânea, as serras
do litoral e seus pontões, a zona dos maciços elevados próprios das
bacias dos rios Manhuaçu e Caratinga.

OS PRIMEIROS COLONIZADORES VIERAM DO LITORAL

      Acima de tudo, o homem é subordinado a virtualidades econômicas
do lugar em que vive. Foi total e pungente o malogro da colonização da



                                    1
Capitania do Espírito Santo, cujo donatário, VASCO FERNANDES
COUTINHO, depois de perder todos os seus cabedais, aí morreu em
extrema penúria.

         Em nada mais benéfica ao desenvolvimento da zona litorânea
capixaba, única então povoada nestas paragens, foram sob qualquer
aspecto, às gestões dos Governadores Gerais e as administrações que os
sucederam até meados do século XIX.

       Numa fria repetição da calamidade milenar e irreprimível, também
na planície litorânea onde o Doce e as águas de seus tributários ganham
o estágio oceânico de seus cursos, toda a ação do homem sobre a terra
cinguise, única e atormente, à exaustão predatória de suas riquezas
naturais.

        Exaurida a terra, mudava-se o homem, sempre no sentido das
nascentes dos rios mais caudalosos, atingindo por seus leitos, as bordas
das matas situadas às suas margens. Eram, já sesta fase, tais imigrantes
em seu maior número, faiscadores e poaieiros.

       Nada tranqüilas nem muito proveitosas foram às incursões desses
nômades pelas águas plácidas e grossas do Rio Doce. Na margem
esquerda do rio penetrado, a nação dos Aimorés, então maiúscula, cruel e
belicosa, mantinha as terras de seu uso e moradia sempre defendidas,
com sistemática violência, da presença dos brancos ou da de outros
gentios.

       Os nomes Tupis têm, como sabido, peculiaridade de exprimirem em
poucas sílabas os atributos principais do objeto. Os elementos estruturais
dos vocábulos Originam-se de onomatopéias e estas traduzem com
inteira precisão as reações subjetivas do contacto com o mundo objetivo.

         Tangidos pelas duras condições de sobrevivência resultantes da
escassez de meios para tanto e das agressões de indígenas ciosos da
intangibilidade de seu território, subiram os viandantes do Doce sempre
na direção de suas nascentes, até a embocadura do Rio Manhuaçu, tido
como o maior de seus afluentes a alcance de seus esforços.

       Ambas as margens do Manhuaçu eram habitadas de tronco Tupi,
estirpe que na descrição de CAMINHA, se constituía de quot;pardos, à
maneira de avermelhados, de bons narizes bem feitosquot;, tendo índole
bondosa e simples.




                                    2
Conseguido o Manhuaçu, rapidamente fraternizados com os seus
índios, nossos primeiros colonizadores entraram a subi-lo, ocupados,
principalmente, busca de ouro e de poaia.

        Foi uma subida tarda e espaçada, cheia de intervalos mais ou
menos    demorados.     Nos     baixos   pantanosos      do    Manhuaçu,
correspondentes ao seu curso pela planície litorânea, foi curta e breve a
estada desses virtuais colonizadores, daí impelidos pelas febres e pela
péssima qualidade das águas de servir.

       Embora chegassem a realizar umas poucas abertas nos alagadiços
então generalizados nesse lance do rio sob conquista, não chegaram tais
pioneiros a fixar nelas moradas de maior tomo. Só quando vindos aos
maciços mais elevados da bacia do Manhuaçu, faiscadores e poaieiros
deram início à colonização das terras alcançadas.

           À medida que quebravam a virgindade milenar das terras
ocupadas com ânimo definitivo de possuí-las, os primeiros desbravadores
dos sertões do Manhuaçu mudarem gradativamente a meta de seus
desígnios, a natureza de suas principais ocupações. Ampliam-se as
derrubadas. Alargam-se as clareiras. Desafrontam-se os horizontes.
Seguem-se as queimadas. Na manhã seguinte, toda a terra se cobre com
o manto branco das cinzas. A terra aguarda o milagre das chuvas. E as
chuvas caem pesadas, gorgolejantes, varrendo as encostas, gritando nos
valados, engrossando os riachos e transbordando o rio. Começa, então a
faina do amanho, o vibrar das enxadas ao choro dos mutirões. É a canção
nupcial do homem com a terra domada. Cidades nascerão como filhas
exuberantes desse casamento cósmico e eterno.

           De início, vêm os plantios de milho, feijão, arroz e árvores
frutíferas. Depois, já na última metade do século XIX, surgem as
primeiras lavouras cafeeiras, como fontes de fortuna e de trabalho,
aumentando índices demográficos e vias precaríssimas de comunicação.
São os alvores de uma nova era de largo e constante desenvolvimento.

           A fazenda generaliza-se no sertão submetido ao homem. As
populações acomodam-se na agricultura. A riqueza pede conforto. A
política exige prestígio. As antigas arranchações de telhas e chão de terra
pisado cedem lugar a vastas construções altas e dignas, com largos
alpendres floridos, Com cadeiras de encosto para as sestas nos grandes
meios-dias ensolarados. Varandas amplas. Quartos para a família e para
os hóspedes. Despensa variada e provida em nível de desperdício.
Cozinha com fogão enorme e fogo nunca apagado.




                                    3
O transporte dos produtos da terra até o mercado mais propício
faz-se por tropas de mulas e por carros de bois. Essas tropas e esses
carros, além de seus préstimos específicos, constituem-se,  como em
todo Brasil em eficazes agentes da unidade regional.

          Ao longo do caminho, situam-se os ranchos, onde pernoitam
tropeiros e carreiros. Esses ranchos foram origem de cidades. Perto
deles, alguém se lembrou de abrir uma venda quase sempre o próprio
dono do pasto e do rancho. Como as tropas são muitas, um concorrente
levanta outro rancho e abre outra venda. Lavradores têm suas casas ali
perto. Resolvem erigir uma capelinha. Um dos casais possui uma
imagem. É, por exemplo, a de Santa Bárbara. A capelinha irá se chamar
de Santa Bárbara. Mas o povoado vai aumentando, ao longo da estrada.
Um dia, o casal que doou a imagem aceita doar um patrimônio à santa,
alguns hectares de terra. Um sacerdote vem ali celebrar de vez em
quando. O povoado aumenta, tem agora um fogueteiro, um boticário,
pedreiros, carpinteiros, ferreiros. Já se fazem necessário à loja do
barbeiro e o armazém de secos e molhados. E,como há meninos, vem
logo o mestre-escola. Correm dois três anos: os habitantes não mais se
contentam com a capelinha humilde; deitam subscrição, fazem-se festas,
lançam-se alicerces de um novo templo. E a cidade nasceu.

       Assim, seguramente assim, surgiu o arraial de São Simão, primeiro
de nossos núcleos urbanos de população permanente, obra dos primeiros
desbravadores dos sertões do Manhuaçu, vindos pelo leito do rio, o
eterno caminho dos pioneiros, da planície litorânea, rumo a oeste, à
procura de ouro e de poaia, para encontrarem, no planalto central do vale
de sua andanças, os milagres do café, causa de profundas transformações
jamais imaginadas na paisagem, nos costumes, nas ambições e nas
realidades da nova terra e do novo homem, ambos ainda nascentes para
os deslumbramentos do novo ciclo econômico que, ao acaso, instalava-se
nestas paragens do leste da primitiva Minas Gerais.




O ÊXODO NAS TERRAS DO OURO

         Na fabulosa Ouro Preto, na vetusta Mariana, em todas áreas de
influência dessas poderosas metrópoles da era colonial, findara-se, desde
os últimos anos do século XVIII, o ciclo aurífero.




                                    4
Não só pela quase extinção de suas reservas simplesmente
faiscáveis, como também pelas radicais mutações impostas pelos
resultados do Congresso de Viena à economia universal, o ouro deixou de
ser aquele esplêndido fator de tantos faustos, de muitas fortunas a bem
dizer espontâneas. A batalha de Waterloo foi sem dúvida o último
episódio da organização dos povos segundo os padrões anteriores ao
surgimento do século burguês, democrático, mercantil.

       Começou, assim, nas primeiras décadas do século XIX, o êxodo de
mineradores e garimpeiros para leste, para os campos de criar e para as
terras agricultáveis do alto rio Doce, onde, na quase totalidade de sua
vasta amplitude, lançaram fazendas, povoações, cidades, um novo
mundo de um mundo novo.

      Os antigos visionários das incertezas do ouro aquietavam-se de vez
nas atividades do campo.Não mais evoluíam ao léu da sorte à procura de
novas catas, lançando-se a homéricos empenhos tantas vezes
malogrados. Iam para diante sempre para diante, derrubando matas,
galgando serras, vadeando rios, seguros, plenamente seguros, dos
magníficos resultados dessas iniciativas igualmente heróicas.

          Era ver Ouro Preto, era ver Ponte Nova, para sentir na
esplendorosa progressividade do confronto, toda a realidade da
substancial revolução a cada dia mais abrangente e mais acelerada.

     As espessas matas do médio Rio Doce, repletas de lagoas, charcos e
alagadiços, faziam-no terra proibida, pela só fama das febres que por lá
passavam.

       O caminhar dos desbravadores pela região montanhosa em que
plantaram Abre Campo, Garimpo e Santa Margarida, fez pelos cimos do
percurso, pelo só pavor de febres palustres.

        Santa Margarida foi, no surto colonizador vindo de oeste, o
penúltimo estágio de seus vanguardeiros, antes que chegassem ao arraial
de São Lourenço do Manhuaçu, já com várias moradias e suas
adjacências em boa parte desmatadas.

       A pequena distância de Santa Margarida, entre os contrafortes das
serras de Alto Carangola, Quatorze Voltas, Seritinga e São Félix, de um
lado, e de São Luiz, Pontões e Taquara Preta, do outro, o rio Manhuaçu
nasce e dá os passos de seu percurso dilatado e vário. Pelo grande e fértil
vale do nascimento do seu rio, num fluxo igualmente vivificante, nossa
terra recebeu a magna presença dos pioneiros vindo do oeste, trazendo-


                                    5
lhe não só a soberba bravura comprovada em tantos e múltiplos embates,
mas, principalmente, os fatores de uma civilização solidamente
sedimentada em séculos de saber e experiência.

OS SUÍÇOS E OUTROS ESTRANGEIROS

          Provenientes da Alemanha, França e Suíça, três grupos de
imigrantes europeus fixaram morada no Vale do Canaã, na Província do
Espírito Santo, quase na divisa com a de Minas Gerais. Passaram a
dedicar-se à agricultura, sob condições a principio verdadeiramente
dramáticas. GRAÇA ARANHA, um dos maiores expoentes do movimento
modernista, fundando-se em excelente material de pesquisa, toma por
tema de seu magnífico romance CANAÃ precisamente os conflitos, as
vicissitudes, o quase martírio desses alienígenas, nos seus primeiros
tempos de aceitação das condições do meio e dos percalços de suas
novas atividades.

       Caminharam os suíços, como eram vulgarmente conhecidos, do
Vale do Canaã até virem ter ao arraial de Jequitibá e, daí, estendendo-se
pelas montanhas vizinhas, às serras do Ouro, Boa Vista e Pedra Dourada.

      Espanhóis, libaneses, italianos e portugueses incluíram-se por igual
na composição da paisagem humana do Manhuaçu ainda menino.

GENTE DO QUARTEL DO SACRAMENTO E DE OUTRAS PARAGENS.

      Não mais existiam por aqui indígenas que catequizar. Reunidos em
acampamentos, sob curatela, conduzidos ao cristianismo, só gentios
contemporâneos de nossos primeiros colonizadores eram designados pelo
nome comum de Puris, cujos ramos mais expressivos eram o dos Laias,
na Ponte da Aldeia, e o dos Parobás, na Barra do Gameleira.

       Os limites que assinalaram o torrão manhuaçuense faziam-se, pelo
sul, com aqueles da província do Espírito Santo, seguindo-se as vertentes
da serra do Caparaó e os seus prolongamentos num e noutro sentido;
por oeste, com as primitivas comunas de Carangola e Ponte Nova; pelo
norte e pelo leste, com o rio São Mateus e a Serra dos Aimorés, até se
entroncarem finalmente nas divisas com a antiga Província do Espírito
Santo.

      É, assim, bem de ver que as ações de DUTRÃO, como também as
que são devidas a numerosos desbravadores provindos do quartel do
Sacramento, nada mais foram que migrações intestinas.




                                    6
Estava, desde então, delineado, em termos, promissores e
duradouros, o contingente populacional do futuro Município de São
Lourenço do Manhuaçu, cujas notícias remontam aos idos imemoriais do
Brasil Colônia, embora tão-só no primeiro terço do século XVIII entrasse,
nesse sentido, a mostrar os primeiros sinais de sua fase embrionária.

A ESTRADA DE FERRO E OUTRAS CONQUISTAS EXUBERANTES DO
CAFÉ.

      Outro acontecimento basilar de nossa afirmação como comunidade
autônoma e futuros a situa-se na chegada dos trilhos da Estrada de Ferro
Leopoldina à nossa cidade, até aí emperrada e dormitantes.

          Seguiu-se lhe um formidável espocar de novidades. Baixada,
Estação, Coqueiro, Peixoto, Rua Nova, São José, Praia Formosa são de
pronto incorporados aos novos domínios da cidade vigorosamente
despertada.

       Nossos altos índices de produção, que haviam motivado o advento
da ferrovia, subiram de tal sorte que, em 1922, merecíamos o galardão
de sermos a Capital do Café no Estado de Minas Gerais.

         Passáramos a ter realmente seduções de eldorado. O comércio
repleteava-se de variedades e de comerciantes. Artífices de todas as
habilidades vinham de todas as distâncias. Não era tudo. A noite
emendara-se ao dia, pelas maravilhas da eletricidade. Música, danças,
alegria marcavam todos os sábados, no comedimento dos salões e na
balbúrdia dos cabarés.

       Era, em suma, o pleno apogeu de um mosaico de raças e culturas
cainhadas pelo ardor dos bons fados, de modo a amalgamarem-se nesta
nova terra da promissão, nisto que somos, com redobrado orgulho - o clã
manhuaçuense.

         Venceram-se, assim, já nos princípios do século XX, os pródomos
de nossa formação, quando, depois da emancipação política,
solidificaram-se, com nitidez e constância, os alicerces de nossa
estruturação econômica.

DÍVIDA A SER PAGA

      Somos todos devedores relapsos. Ao correr de mais de um século,
neste Manhuaçu de nosso desmedido afeto, homens e mulheres, vivendo
um cotidiano de agruras imensuráveis, viveram sagas, dramas, tragédias,


                                   7
epopéias e fracassos simplesmente memoráveis. São igualmente
soberbos os fastos da ação política entre nossos maiores. A só lembrança
das ferrenhas competições entre serafinistas e dolabetistas, alcinistas e
cordovilistas dá justa medida de sua inestimável significação, quando
menos, como fiel retrato de uma época. Urge minuciar na crônica, na
estória, no romance todo o estupendo conteúdo humano do ciclo do café
no pólo central de sua implantação e desenvolvimento na Zona da Mata
de Minas Gerais. O material é farto e excelente, do mesmo quilate
daquele com que GRACILIANO RAMOS, JORGE AMADO, JOSÉ LINS DO
REGO e outros tantos deram foros de universalidade a símbolos e valores
da tradição nordestina.

        É preciso fazê-lo já e bem, antes que o cosmopolitismo que nos
está à porta, dilua na insensibilidade de seus hábitos, todo esse magnífico
patrimônio de nosso passado, tão portentoso e tão caro.

          A dívida estejamos tranqüilos, será totalmente resgatada. O
manhuaçuense é, de corpo e alma, um jacobinista irredutível. Nem a
ausência, nem as conveniências arrefecem-lhe a devoção pela terra de
seu nascimento. Há nessas contingências, no último lance da informação
plena de nostalgia, unção de voto - MORO AQUI, MAS SOU DE
MANHUAÇU. Eis tudo. Noutras terras, a gente mora. Em Manhuaçu a
gente vive.


A REVOLTA DE SERAFIM TIBÚRCIO

       O Município de Manhuaçu, à época em que se deu sua emancipação
política, tinha ainda no antigo arraial de São Simão seu centro urbano de
maior destaque. Nisto, sem dúvida, estava a razão determinante do fato
de ter sido conferida a São Simão a qualidade de sede da nova unidade
municipal criada pela Lei número 2.047, de 5 de novembro de 1877.

        Outorgavam-se, assim ao São Simão dos primitivos faiscadores e
poaieiros advindos, pelo rio de nossa unidade, da planície litorânea do Rio
Doce, às serranias do alto Manhuaçu, os primados de cidade, de primeira
das cidades aqui nascidas.

       Entraram, entretanto, a preliar com a São Simão feita cidade, em
acirrado empenho por vê-la substituída nesse privilégio os mineradores e
garimpeiros provindos de Catas Altas, Ouro Preto, Mariana, de todas as
terras do ouro, para constituírem, como constituíam, a maior parcela da
população da vila já estuante de São Lourenço do Manhuaçu.




                                     8
Fatalmente, do mesmo modo que em todas as disputas, vitoriou-se
o competidor melhor provido de aptidões para o embate. Sobre a secura
espartana dos manhuaçuenses provenientes do litoral, prevaleceu a
helência versatilidade de nossos conterrâneos vindos das plagas que, por
séculos, haviam vivido os esplendores da mineração. Corridos apenas
cerca de quatro anos São Lourenço do Manhuaçu, segundo a Lei número
2.766, de 13 de setembro de 1881, passou a substituir São Simão,
quanto a todas as regalias de sede do Município de Manhuaçu, ali
inicialmente instalado.

Burgueses versus Populistas

       Natural de Jequeri, freguesia de Ponte Nova, radicado na Manhuaçu
recém conduzida à condição de cidade, SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA,
bravo e amável, senhor de extraordinária capacidade para convencer,
pioneiro de empreendimentos progressistas, entrou a despontar como
líder popular inconteste, como legítimo comandante de nossa terra e de
nossa gente, nos primeiros passos de sua verdadeira emancipação, só
muito depois efetivamente conquistada.

            Andava acesa em todo o país a pregação republicana.As
excepcionais virtudes de seus arautos o assoberbaste ardor da campanha,
os crescentes sucessos da pregação abolicionista tornavam os seios do
advento da República verdadeira obsessão nacional.

Pouco, quase nada importavam em contrário a figura e a conduta do
sereníssimo Imperador Pedro II, sem favor o maior de todos os
democratas brasileiros.

            SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA, pelas poderosas influências
recebidas desde os seus verdes anos nas suas andanças como
proprietário de animais de carga, por todas tendências reveladas no seu
relacionamento com os menos favorecidos de fortuna, por sua
personalidade de homem simples, despretensioso, extremamente sensível
ao justo e ao eqüitativo, engajaram-se na causa republicana com
dedicações      de    apóstolo     e     fidelidades   de     templário.

       Animado dessas convicções, recebendo a consagração de seus altos
méritos, por escolha de esmagadora maioria dos manhuaçuenses, em
pleito livre e democrático, SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA foi eleito
presidente da Câmara e agente do executivo do Município de Manhuaçu,
no período de 1893 a 1896, como segundo de seus governantes na fase
republicana.




                                   9
Vencida menos da metade de seu período de governo, SERAFIM
TIBÚRCIO DA COSTA já se mostrava candidato à reeleição.

        Passados os albores da experiência republicana, já entre 1892 e
1894, todos os brasileiros puderam sentir que quase nada mudara no
terreno social, político e administrativo. Os excessos, arbitrariedades e
desregramentos da nobreza foram sempre apontados por todos como
causas   preponderantes      na   queda     da  monarquia     no    Brasil.

      Logo nos primeiros anos do regime republicano, entrou a afirmar-se
no País uma nova espécie de fidalguia, a burguesa, composta de ricos e
potentados, notadamente dos de linhagem feudal, dos chamados barões
do café.

       Para que não lhes faltassem títulos, multiplicaram-se os coronéis,
majores, capitães, tenentes e alferes da guarda Nacional, garbosa de
ricos   uniformes,    mas     nem     um     soldado     pra    remédio.

        Exatamente boa parcela da burguesia manhuaçuense, comandada
pelo padre ODORICO DOLABELA, e tendo por candidato FREDERICO
ANTÔNIO DOLABELA, irmão do clérigo, farmacêutico prático e médico por
extensão, passou a opor-se à candidatura de SERAFIM TIBÚRCIO,
alicerçada na burguesia menos enfatuada, e, principalmente, no apoio dos
pobres e dos humildes.

       Os astutos DOLABELAS tinham, ainda, por nome o tenente coronel
COSTA MATOS, velho político cuja tradição de chefe remontava ao tempo
da monarquia. A disputa eleitoral feriu-se em cima de extrema violência,
sem clima de extrema violência, sem peias nem limites.

         SERAFIM TIBÚRCIO, apesar da alta respeitabilidade conquistada,
sofreu terríveis acusações. Era pejorativamente conceituado como sendo
simples tropeiro analfabeto, saído de Ponte Nova ou de Jequeri, tangendo
uns magros burricos, em busca de meios para sobreviver. Apontavam-no
como peculatário, quando coletor de rendas em Manhuaçu.
Qualificavam os boros de sua autoria como moeda espúria. Diziam-no
patrão de um passador de notas falsas fabricadas em São Paulo do
Muriaé. Taxavam-no, finalmente, como frio assassino de fanático, em
plena rua, um dia de eleições.

         PADRE ODORICO, por sua vez, ganhava imagem de ganancioso
insaciável, diabolicamente divorciado de sua missão sacerdotal, cercado
de jagunços, chegando mesmo a manter um deles, o mais temido como
sacristão, FREDERICO DOLABELA, o pleiteante oposicionista, era


                                    10
qualificado como pobre homem, desleixado e pachorrento, cuja eleição
viria fazer de nossa cidade o retrato completo de sua chácara, tomada por
vasto e viçoso matagal, pomar e extinguir-se moradia em escombros,
onde abundavam bêbados, os quais iam ao extremo de refestelarem-se
na própria cama do candidato.

         Eleito segundo presidente do estado de Minas, com exercício a
partir de 1895, CRISPIM JAQUES BIAS FORTES passou a dar apoio
governamental aos irmãos DOLABELA, pondo francamente a serviço da
eleição de FREDERICO, polícia, fisco, recursos financeiros e outros
tremendos fatores de coação ao eleitorado.

            Mesmo assim, foi pública e notória a reeleição de SERAFIM
TIBÚRCIO.

     Restava, então, aos bafejados pelo governo, o último dos recursos:
Fazer inverter integralmente, por meio de atas falsas, o resultado das
urnas, para que aparecesse, como apareceu eleito o coronel FREDERICO
ANTÔNIO DOLABELA.

A REVOLTA E SEUS MOTIVOS

        Cidadão íntima e sinceramente convencido de que as ações dos
governantes eleitos sob os auspícios do regime republicano cingir-se-iam
fatalmente à retidão teórica de seus princípios, SERAFIM TIBÚRCIO,
munido de completa e abundante comprovação de todas as fraudes de
que fora vítima dirige-se a Ouro Preto para, de viva voz, levar ao
presidente do estado farto conhecimento de todos os sucessos, certo,
seguramente certo de que, depois disto, tudo seria reposto em termos de
verdade, correção e justiça.

Ao fim do relato fiel e vigoroso de tudo quanto sucedido, ao invés de
ouvir, como seria natural, veemente condenação de tantas felonias,
SERAFIM TIBÚRCIO nada mais teve do governante de Minas, que dura e
áspera reprovação ao seu comportamento, seguida de toda sorte de
arrogâncias, facciosidades e ameaças.

      A resposta digna, altiva, destemida de SERAFIM TIBÚRCIO não se
fez esperar: VOSSA EXCELÊNCIA NÃO PASSA DE UM SIMPLES
PREPOTENTE.

        Não apenas sinal de um tempo, mas a eterna afirmação de uma
constante: Vencido pouco mais de um lustro da proclamação da
República, seus mais lídimos ideais eram frontalmente negados por um de



                                   11
seus corifeus, na mesma Ouro Preto de seu dramático nascimento.



       O regresso de SERAFIM TIBÚRCIO foi imediato.Em manhuaçu, de
onde FREDERICO DOLABELA houvera sido expulso, cuidou de reunir
prontamente seus partidários, entre os quais se incluía o legendário JOÃO
DO CALHAU, e com eles, organizou forças coesas e imbatíveis, de modo
tornar todas fronteiras do município inteiramente resguardadas a
qualquer invasão.

         Organizada a resistência, SERAFIM TIBÚRCIO entrou a aguardar
que se cumprissem contra nossa terra as atrabiliárias ameaças
governamentais. Não aguardou por muito tempo. Pouco depois, logo no
inicio de 1897, o governo do Estado expediu uma força policial composta
de 50 homens contra SERAFIM TIBÚRCIO e seus guerreiros. O minguado
contingente de soldados da polícia estadual, vindo de Ouro Preto, nem
chegou a penetrar no teatro da luta. Em seu primeiro contato com os
bravos e hábeis comandados de SERAFIM TIBÚRCIO, caiu pronta e
definitivamente derrotado, sendo posto em fuga total e desabalada.

        Novo corpo de tropa, este integrado por 120 militares também da
polícia, partiu de Ouro Preto, animado do mesmo intuito de extinguir em
Manhuaçu a já famosa revolta de SERAFIM TIBÚRCIO.

         Outra e fragorosa derrota foi imposta por SERAFIM TIBÚRCIO e
seus combatentes as tropas governamentais, que, como as primeiras,
desertaram logo o campo de combate. A revolta de SERAFIM TIBÚRCIO
tomara largas e imprevisíveis proporções. Não mais era possível prever-
lhe os resultados. 4O governo de Minas, confessando-se incapaz de
reprimi-la, recorrera ao auxílio de forças federais.Tudo estava assentado
no sentido de que viessem contra SERAFIM TIBÚRCIO tropas da União,
quantas fossem necessárias.O comandante indômito, mas também arguto
e prudente, sentiu o momento de mudar a tática para que, nas ruas de
Manhuaçu de seus cuidados, não fosse repetido o drama cruento
Canudos. Colheu ponderações e conselhos, entre estes, os do estadista e
amigo Cesário Alvim.Estava pronto para decidir.

      No amplo casarão de sua residência, onde, depois, por significativa
sucessão, passou a funcionar o Fórum da Comarca, houve o grande
encontro dos revoltosos.Tudo foi posto, considerado, discutido. Ao fim,
todos aqueles homens afeitos a todas as disputas, plenos de brio e de
bravura, cheios da fama de tantos feitos insuperáveis, chegaram,
unânimes, a mais heróica de todas vitórias. Não mais combateriam. Vidas


                                   12
e bens dos manhuaçuenses, agora sob riscos positivamente enormes,
importavam mais que todas as glórias vindas ou a vir de todos os
triunfos.

A GRANDIOSA RETIRADA

        No dia seguinte teve inicio a épica caminhada da renúncia excelsa.
Pelas ruas poentas de Manhuaçu atônita e lacrimosa, Serafim Tibúrcio a
seus bravos cumpriram o primeiro lance da retirada magnânima, rumo as
terras fraternas e acolhedoras do Espírito Santo.            A marcha foi
sempre serena, tranqüila, sem temores, marcada, em cada pouso, por
um de sistemática cortesia: Os perseguidos, nunca vistos, nunca
buscados, jamais detidos, deixavam, a cada partida, completamente
satisfeitas todas despesas subseqüente estadia de seus perseguidores.

O EXPURGO DITATORIAL DO LÍDER.

        FREDERICO DOLABELA voltou logo a Manhuaçu e ao seu governo.
Cumpria-se, assim, o último capítulo do tenaz combate à pessoa e às
idéias do líder SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA, cujo primeiro ato pode ser
nitidamente identificado na instauração do processo criminal em que o
chefe a ser expurgado passaria a figurar premeditadamente como
responsável por homicídio sem causa contra o processo JOAQUIM
GERALDO, nas eleições de 15 de setembro de 1890. A vinte ou mais de
vinte simplórios residentes nas cercanias de Jequitibá, foi dada, com
demoníacas intenções, a notícia de que, no dia do pleito, uma horda de
seus participantes iria destruir o novo templo da igreja Católica de
Manhuaçu, e atirar na rua os santos de seus altares. Munida de foices e
armas de fogo, aquela vintena de fanatizados organizou-se, no dia das
eleições, para impedir que essas fossem realizadas. Postaram-se, com
esse intento, frente ao edifício publico onde tinha lugar à votação.O
Doutor LUÍS CRISTIANO DE CASTRO, então Juiz Municipal, FRANCISCO
DE PAULA SANTOS, destacado serventuário da Justiça, e outras pessoas
entraram logo em contato com os sediciosos, buscando dissuadi-los de
seus propósitos. SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA, na ocasião delegado de
polícia, foi imediatamente convocado ao local dos acontecimentos.Ao
tentar desarmar os revoltosos, estes entraram a usar suas armas,
generalizando-se o conflito, com vários feridos e um morto, JOAQUIM
GERALDO, que antes de cair, havia ferido a foice três ou quatro pessoas.

       O inquérito dormiu por quatro longos anos. Em dezembro de 1894,
quando já definido o quadro sucessório, o Dr.ANTÔNIO WELERSON,
promotor de Justiça, ofereceu, em plena efervescência da campanha
eleitoral, denúncia tida como contrária à verdade dos fatos, indiciando


                                   13
SERAFIM TIBÚRCIO como autor de brutal homicídio contra JOAQUIM
GERALDO. Toda máquina governamental passou a pesar sobre o
denunciado.Nada menos que três pedidos de desaforamento lhe foram
negados. O processo, eriçado de incidentes, chegou a 13 de março de
1986. Nessa data, SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA foi julgado pelo tribunal
do Júri da Comarca de Manhuaçu. Logo ao início da sessão, quando era
feita a leitura do libelo, o promotor de Justiça, Dr. ANTÔNIO WELERSON,
recebeu de SERAFIM TIBÚRCIO, que participava de sua própria defesa,
incisivo aparte, ruidosamente aplaudido pela compacta multidão presente
ao julgamento. O incidente fez com que o Dr. ANTÔNIO WELERSON
abandonasse a acusação, sendo nela substituído pelo Dr. LUCIANO ALVES
DE BRITO, nomeado promotor adhoc. SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA foi
absolvido por absoluta unanimidade de votos.

A REPÚBLICA QUE NÃO HOUVE E O CONTEÚDO UNIVERSAL DE
SEUS                                    PROPÓSITOS.

       Ao longo de seu exílio, SERAFIM TIBÚRCIO visitou Manhuaçu por
muito poucas vezes. Só depois de morto, aqui está, em eternidade, na
cova de seu desejo, junto aos manhuaçuenses menos dotados de fortuna,
que nele sempre tiveram um interprete, o expoente, o paladino de todos
seus anseios.

          A revolta de SERAFIM TIBÚRCIO não foi jamais animadas de
propósitos separatistas, no sentido material do vocábulo. A República de
seus cometimentos não deveria fixar-se no espaço, mas prevalecer na
infinidade do tempo,como sublime conquista da humanidade, como bem
inalienável do homem de todas as épocas.

          A emissão de vales ou boros não foi particularidade do lapso
revolucionário. Vales, boros, ficas eram, de há muito, tipos de meio
circulante de uso rotineiro.Com os vales ou boros, eram pagos salários.
Com o fica era garantida a entrega ao comprador de gêneros e café
vendidos antes da colheita.

        O obscuro tropeiro de Jequeri fez entre nós maravilhas.Empregou
sabiamente os seus talentos.Buscou em campo fértil a sua messe. Deu e
recebeu, amou e foi amado pelo povo desta terra de seus feitos. Fez-se
líder de muitas vitórias e mártir de muitas derrotas. Viveu e fez viver
magnos ideais de liberdade.Teve a grandeza dos eleitos e a humildade
dos puros.Quis e recebeu cova rasa, como os santos varões. Não morreu
na distância do tempo, nem o tempo lhe esmaeceu a imagem
esplendorosa. Ganhou,     por todos os méritos, fulgência de estrela no
brasão heráldico de nossa terra, como sumo condutor de seus destinos.


                                   14
O homem surgiu ilimitadamente livre. Só séculos e séculos de
favores culturais levaram-no a admitir umas tantas contenções quanto ao
exercício dessa liberdade ingênita, em favor da ordem social. Consente,
porém, só nas restrições essenciais a manutenção da ordem fundamental.
Repudia, assim, por tudo e em tudo, o arbítrio, a opressão, a tirania. Há,
portanto, na revolta de SERAFIM TIBÚRCIO e seus matutos, um tudo de
todos os homens, um mínimo de todas as consciências.

SAGA DE SERAFIM TIBÚRCIO                      Octávio Luís Reis

         Em 1894, os governos de Minas e da União uniram-se para
combater o coronel Serafim Tibúrcio da Costa, que fundou a República de
Manhuaçu.

       A história da penetração e povoamento dos mais remotos trechos
da Zona da Mata ainda está por ser escrita. O Vale do Manhuaçu, o
grande afluente do Rio Doce, foi outrora domínio dos Aimorés. Sangue de
tapuia era o que corria nas veias dos bugres e puris que com o branco e o
preto deram nascimento à miscigenação regional.

        Não muito distante das cabeceiras, à margem daquele rio, ainda
guardado em quase todo o seu curso pela mata virgem, talvez
descendentes dos já esquecidos bandeirantes que serviram sob as ordens
de um Miguel Garcia, vindo dos quot;descobertos” de Antônio Rodrigues
Arzão, ali tenham fixado morada. O antigo arraial, hoje cidade, guardou
sempre o nome sugerido ao aborígine pelo mais acentuado fenômeno
daquela natureza: Manhuaçu – terra de grandes tempestades.

          De lá, até que o agrupamento de tijupares se fizesse distrito,
freguesia, vila e afinal cidade, a vida foi rude e semibárbara. Raros foram
os farejadores de minas que, ao atingirem aquelas nascentes,
esquadrinharam os flancos das serras dos Aimorés; outros homens vindos
das minas exauridas, os que ambicionavam o domínio pela ocupação de
grandes glebas, ali assentaram morada e iniciaram a prática da
agricultura à base do devastamento pelo fogo, sobrepondo a sua audácia
incomparável de bandeirantes às cartas régias de donatários que nunca
arredaram o pé das cidades.




CORONEL SERAFIM



                                    15
Quando o coronel Serafim Tibúrcio da Costa chegou a São Lourenço
do Manhuaçu, fazia pouco tempo que a vila foi elevada à cidade.

       Já em 1889, aquele marianense entusiasta e enérgico destacava-se
entre os habitantes daquela comuna como o autêntico chefe republicano e
defensor intransigente das reivindicações daquele povo, que nascera forte
pela luta travada com a natureza virgem, autônomo e altivo antes mesmo
de conquistados os foros de citadinos, mas obscuro, que faz lembrar um
grande manhuaçuense, José Féres, que dizia: quot;desadorado dos cronistas
que o ignoraram, e de todo esquecido dos governadores provinciaisquot;.

       Este povo viu em Tibúrcio o seu condutor. Com a eleição de Afonso
Pena para a presidência do Estado, alguns dolabelas, recém-vindos de
Santa Luzia do Rio das Velhas, um deles clérigo e outro farmacêutico
prático exercendo a medicina, revelaram seus pendores para a vida
pública, desde logo bafejados pelo Conselheiro do Império, agora na raia
presidencial, que deles guardava boa lembrança, como correligionários
ainda em Santa Luzia.

         Em franca oposição ao coronel Serafim Tibúrcio, os Dolabelas,
tendo à frente o coronel Frederico Antônio Dolabela, antes mesmo de
findar o mandato de Afonso Pena(1894), arrebataram as rédeas do
governo municipal, em pleito tumultuado e ilegal.

      O coronel não se conformou com a derrota que lhe infligira aquele
seu opositor, eleito não pela maioria do eleitorado livre, mas à custa das
armas decisivas fornecidas pelo governo estadual: polícia, fisco e justiça
nas mãos de amigos do coronel Frederico.

          Ao findar o período de Afonso Pena e ao iniciar o de Crispim
Jacques Bias Fortes, a exaltação política chegava ao auge e, para não
desmentir o nome da terra, o ambiente cobria-se de nuvens ameaçadoras
e tudo pressagiava o desencadear da tempestade.

        O coronel Serafim Tibúrcio, arrolando queixas contra desmandos
impunes, fazendo sérias acusações contra os órgãos e agentes do
Executivo e do Judiciário locais e, contando com algumas boas amizades
em Ouro Preto, para estas apelou. Durante algum tempo aguardou que o
Senador Virgílio de Melo Franco e, possivelmente, algum elemento da grei
do ex-presidente Cesário Alvim, conseguissem uma mudança de parte do
Governo de Bias Fortes e, talvez, querendo e já não podendo conter por
mais tempo a revolta de seus correligionários, entre os quais se incluía
João dos Santos Coimbra, vulgo João do Calhau – filho de Araçuaí, e
então chefe serafinista da freguesia de Rio José Pedro, hoje a sede do


                                    16
município de Ipanema. Tibúrcio, homem legião, apaixonado pelos ideais
republicanos, aqueles mesmos que ouvira pregados por Silva Jardim, na
cidade de Carangola, convicto de que à vontade da maioria do povo, livre
e soberano, devia prevalecer a qualquer preço e que, a sua defesa era
uma imposição de honra para o cidadão, amargurado, mas não desiludido
como Silva Jardim, às carreiras cuidou de arregimentar e armar seus
adeptos. Enquanto o situacionismo compunha-se de homens bem
aquinhoados da fortuna e contava com o apoio do governo instalado em
Ouro Preto, o coronel Serafim era o ídolo do povo; este, na sua quase
totalidade, formado pela gente humilde, ansiosa pela liberdade que
custava. Bem se pode imaginar o efeito produzido naquelas almas simples
a palavra de um líder, nunca antes ouvida e que lhes dava a conhecer o
grau de injustiça, realçada pela prepotência dos que podiam.

      Ao tempo de Cesário Alvim, o coronel Serafim Tibúrcio revelara-se
administrador dos mais capazes e político democrata. Apeado ilegalmente
do poder, sua popularidade cresceu assustadoramente a ponto de tornar-
se um grave problema para seu sucessor, aristocrata displicente.

         O irmão do presidente da Câmara, padre Odorico, político por
vocação, deixou-se enredar nos desmandos, cedo perdeu a auréola de
missionário e era mal visto pelo povo. Esse sacerdote, feito fazendeiro,
exercia de fato o comando da situação, cercado de um pequeno grupo de
valentões, uns trazidos de Santa Luzia, cujo pistoleiro-chefe lhe guardava
às costas até aos pés do altar, porque era seu sacristão.

O MOVIMENTO

       Saturado o ambiente e formado um verdadeiro exército de civis, foi
lançado à população de todo aquele vale o brado da rebelião, através de
um manifesto redigido e assinado pelo coronel Serafim Tibúrcio e por
mais elementos da cúpula dos distritos, sem faltar à presença do coronel
João do Calhau, foi oficializada a deposição de todas as autoridades
locais, e postos em fuga o Juiz de Direito, Dr. Joaquim Manoel de Lemos
(avô do bancário Afrânio, vítima do crime do Sacopã), o presidente da
Câmara e agente do Executivo Municipal, coronel Frederico Antônio
Dolabela, o delegado de Polícia, Costa Matos, fazendeiro e afamado pelas
suas aventuras, o vigário Padre Odorico Dolabela e outros próceres e
ocupantes de cargos públicos e ainda o odontólogo ouropretano Dr.
Antônio Welerson, provisionado para o foro, dotado de grandes recursos
intelectuais, mentor da facção dominante para as questões mais sutis e
de alta indagação e que, mais tarde, se faria deputado à Assembléia
Legislativa do Estado, casado com uma Nogueira da Gama e contando




                                   17
com a proteção de duas figuras de destaque na vida política de Minas,
Costa Sena e Pandiá Calógeras.

       O motim abalou até os alicerces a tranqüilidade dos que tinham a
seu cargo a ordem política no Estado, e as providências não tardaram,
tendo sido enviado a Manhuaçu um contingente de 50 praças sob o
comando de um oficial. Essa tropa, bem antes de atingir aos arredores da
cidade, foi posta em debandada por alguns guardas avançados dos
revoltosos, já mestres na tática de guerrilhas que viria, mais tarde, em
Canudos da Bahia, a imortalizar o guerrilheiro João Abade, fixado na
epopéia de Euclides da Cunha e explorado no romance de Felício dos
Santos.

         A notícia da derrota da polícia, levou o Governo de Ouro Preto a
despachar para aquele campo de guerrilhas, maior e mais reforçado corpo
de tropa, num total de 120 homens. Mas foi inútil. Nova e vergonhosa
debandada da polícia, postos a correr pelos homens de Serafim Tibúrcio,
repercutiu com grande intensidade dentro e fora do Estado, forçando o
presidente de Minas à confissão de impotência e a solicitar o auxílio do
governo federal. As condições topográficas da região, propícias à prática
de guerrilhas, dificultavam a chegada àquela região de um forte
contingente reforçado por uma bateria Krupp, cuja pesada peça ficou
estacionada na cidade de Santa Luzia do Carangola, então ponto terminal
da linha férrea. A rebelião tornava-se de grandes proporções e o coronel
Serafim prudentemente enviou mensageiros à capital do Estado, de onde
recebeu conselhos de seus amigos, entre os quais Cesário Alvim, decidiu
abandonar a luta embrenhando-se com seus homens nas matas,
descendo o vale do Manhuaçu. Registre-se que entre aqueles
guerrilheiros contavam-se dezenas de fazendeiros e sitiantes, pessoas
conceituadas e economicamente independentes. Movia-os a paixão
política, exacerbada pela prepotência governamental e que aquele
ardoroso líder sabia por em relevo e estigmatizar.

OCUPAÇÃO

       Ocupada a cidade pelos soldados da quot;legalidadequot;, com a presença
do próprio chefe da Polícia, e restabelecidas as autoridades antes
depostas, instaurou-se o processo criminal contra o chefe da rebelião.
Processado e pronunciado, não pelo levante, mas por lhe terem atribuído
a autoria mais que duvidosa de um homicídio, o coronel Serafim Tibúrcio,
sem perder a fé em seus ideais republicanos e democráticos,
corajosamente compareceu espontaneamente para ser julgado pelo
Tribunal do Júri, mas ao ser atingido em sua dignidade pela palavra da
promotoria, protestou com energia, pois estava sendo julgado pelos seus


                                   18
inimigos, sem serenidade e ainda dominados pelo espírito de revanche.
Aquele seu protesto ecoou dentro e fora do Tribunal e este, em poucos
minutos, esvaziou-se, ali permanecendo no banco de réu, o acusado. O
juiz que abandonara precipitadamente a sua cadeira, viu-se forçado a
reocupar a presidência do Tribunal, pois o réu ali permanecia para ser
julgado, mas o promotor e os jurados desapareceram, o que levou ao
adiamento do julgamento. Mais tarde, o coronel Serafim foi julgado e
absolvido sob aclamação popular, naquele dia engrossada por grande
parte de seus correligionários, já residentes em outras localidades.

REPÚBLICA

         Durante a rebelião, o coronel Serafim viu-se obrigado a tomar
medidas perigosas, a fim de evitar uma maior calamidade. Para custeio
de guerra, emitiu títulos de crédito com os seguintes dizeres: quot;Fábrica de
Pilação de Café Um e meio serviços quot; e nas bordas 1000 que
representava o valor em mil réis. Com o dinheiro adiantado pelos amigos
que o possuíam, obrigava-se pagar com pil.ação de café, indústria que foi
pioneira na região, ao instalar naquela cidade, no tempo do Império, a
primeira máquina de beneficiar café.

          Observa-se que ao emitir tais títulos de crédito, não usou a
expressão quot;mil réisquot;, para não ser acusado de fraude contra o curso
forçado da moeda da República. Contudo, significava quot;mil réisquot;.

REPOUSO

      Em 1920, ao sentir chegado ao termo de sua agitada e empolgante
vida de desbravador de terras e libertador de escravos brancos,
consciente de sua obra benfazeja ao povo que o quis sempre como líder e
o acompanhou na luta e com ele permaneceu no ostracismo, constituindo
no primeiro fermento de oposição e crítica aos desmandos dos
governantes, deixou em escrito sua última vontade: a de ser sepultado na
cidade de São Lourenço do Manhuaçu. Lá, portanto, repousam seus
restos mortais, em cova rasa, como a desafiar as gerações, hoje tão
omissas, esquecidas e ignorantes dos feitos de seus maiores.

(Extraído do artigo MANHUAÇU TEM 70 ANOS DE TRADIÇÃO GUERREIRA,
publicado no jornal Correio da Manhã, de 14 de abril de 1967).

 A LENDA DO BANDEIRANTE SEBASTIÃO FERNANDES

      Na história da colonização de Manhuaçu um nome surge nos mais
remotos registros Domingos Fernandes Lana, que comandou uma



                                    19
expedição pelo vele do rio Manhuaçu, indo até Aimorés onde faleceu, por
volta de 1820 e figura nos anais históricos como o fundador do primeiro
povoado da região.

          A tradição oral dá a sua origem como vindo das cercanias de
Diamantina, passando por Ponte Nova. A certeza é que se tratava de um
membro da expedição de Borba Gato, que partiu de São Paulo até
Diamantina. Outra versão diz que Domingos Fernandes Lana veio do
Estado do Rio de Janeiro, integrando a tropa do Guarda-mor Manoel
Esteves de Lima, desbravador do Caparaó, cumprindo um roteiro que
passa por Lage do Muriaé, Tombos, Carangola, Espera Feliz, Caparaó,
Pirapetinga (Manhumirim) e, finalmente, chegando a Manhuaçu e que não
era faiscador de minérios e sim tropeiro.

         Em Manhuaçu, Domingos Fernandes Lana manteve uma relação
amistosa com os índios puris (botocudos) que habitavam a região e
passou a explorar a floresta através do comércio de especiarias como a
Ipecacuanha e madeiras de lei. Com a descoberta de ouro no leito do rio
Manhuaçu, na região atual de Santana, Fernandes Lana abandonou a
atividade extrativista e iniciou uma marcha descendo o rio, em busca do
rico cascalho, chegando até Aimorés, onde faleceu.

        Os índios puris que habitavam Manhuaçu, ao lado da caça e da
pesca, praticavam o cultivo rudimentar o solo, pois há muito tempo
haviam abandonado a vida nômade. A cultura básica era a mandioca.
Também se plantava milho sob o sistema de coivara. Foi à expedição do
bandeirante Fernandes Lana que trouxe pra a região a cultura da batata-
doce, que permitia ser comida como raiz cozida na brasa, dando menos
trabalho no preparo da alimentação dos silvícolas. Os índios alimentavam-
se também de carne de caça e pesca, de inhame branco, de taioba,
serralha e capiçoba e outras plantas comestíveis nativas da região.

          Com uma estrutura social do tipo amorfo e difuso, a aldeia dos
puris era caracterizada por ser um aglomerado compacto, com malocas
de estacas cobertas de sapé ou folhas de palmeiras, protegida por troncos
em paliçada. Com a colonização, rapidamente os puris absorveram
costumes do homem branco e passaram a plantar suas roças pelo
sistema de coivara, isto é, queima do mato para abrir clareiras e o
preparo do terreno para a semeadura. Os colonizadores brancos,
entretanto, consideravam os puris preguiçosos, pois ocupavam quase
todo o seu tempo com caça e pesca e catando sementes oleaginosas na
floresta.




                                   20
Por isso, foram dizimados pelos colonizadores, quer através de
doenças ou pelo aniquilamento.

         Conta à lenda que Fernandes Lana fez amizade com o cacique dos
puris, que mais tarde foi batizado com o nome de Benedito. Benedito,
como todos os índios que sobreviveram à colonização, foi obrigado a
aceitar a catequese e com isso obteve, juntamente com sua aldeia, a
proteção dos missionários contra a sanha dos aventureiros,
desbravadores e imigrantes estrangeiros, que dizimavam os índios
expulsando-os de suas terras, beneficiados pela Carta Régia expedida por
Dom João VI, em 1808, determinando aos colonizadores como
quot;principiada a guerra contra esses bárbaros índiosquot;. Numa terra hostil, de
difícil acesso, apenas agricultável e extrativista, o sonho verde-amarelo
de Domingos Fernandes Lana, de esmeraldas e ouro, se perdeu no espaço
e no tempo. Investido no cargo de comandar a defesa das terras de May-
o-açu, o bandeirante, ao invés de hostilizar, empreendeu uma ação de
aproximação com os indígenas, reservando-lhe uma área onde quot;o ribeirão
do córrego dos suíços se encontra com o grande rioquot;, hoje conhecida
como Ponte da Aldeia. Ensinou os silvícolas a atirar com bacamarte e a
construir paliçadas para proteção de sua aldeia. Com isso, seu exército
particular aumentou em número e força. Do lado dos indígenas, estes
supriam os colonizadores com remédios que o pajé extraía de plantas,
raízes e casca de árvores. O comércio de Ipecacuanha floresceu as
margens do grande rio, dando origem ao povoado de São Lourenço do
Manhuaçu.

AS CABECEIRAS HISTÓRICAS DE MANHUAÇU

MONS. José Paulo Araújo

        Do atual município de Manhuaçu, a zona que primeiro começou a
ser povoada foi à região de São Sebastião do Sacramento. O povoamento
se processou, em parte, com as levas de foragidos da revolução de santa
Luzia, em 1842, a qual havia começado em Barbacena. Os implicados ou
medrosos procuravam defender a pele, buscando as matas virgens,
habitadas só então, pelos aborígines. Assim começou a formar-se o
povoamento de Sacramento. O povoado mais antigo e mais próximo era
Abre Campo, aonde os moradores de Sacramento iam prover-se do
necessário à subsistência. Alguns indivíduos, levados pelo desejo de
apossar-se de muita terra, organizavam em pequenos ribeiros, até o
encontro de outra água maior. Carregavam sempre na bagagem um
almanaque no qual buscavam os nomes dos santos, de acordo com os
dias, para quot; batizaremquot; os lugares ou rios.




                                    21
Um dia, em 1855, um grupo formado por Luciano Galo, Manoel
Antônio Vieira - o único que sabia ler o que carregava o almanaque -
Domingos Roque e outros companheiros, partiu de Sacramento, abrindo
picadas, sempre acompanhando o curso d'água, até que chegaram a um
lugar que denominarem o nome de Palmeiras, em razão da muita
abundância dessa planta na região. Depois de uma Folga que
aproveitaram para cuidar de plantações e outros trabalhos do campo,
resolveram a prosseguir a exploração de novas terras e, assim,
continuaram descendo, agora, o bem volumoso ribeirão de Palmeiras,
abrindo picadas na mata virgem... até que encontraram, no dia 28 de
outubro de 1855, um rio maior que foi denominado com o santo do dia-a-
dia de São Simão e S. Judas - Rio de São Simão. Luciano Galo apossou-se
de todo o terreno aberto e logo doou oito alqueires para patrimônio do
santo e formação do povoado de São Simão as primeiras e pequenas
habitações construídas de pau a pique e cobertas de palmito. Dominava o
povoado pequena capela, no lugar ocupado hoje pelo jardim, na Praça
Getúlio Vargas. Com o volver do tempo, os moradores foram aumentando
e, como conseqüência começaram a brotar novos problemas para a já
bem grande comunidade. O problema mais premente dizia respeito as
vitualhas que eram adquiridas em Abre Campo; por isso começaram a
pensar em encontrar um caminho mais curto para chegar a Abre Campo e
concluíram que deviam descer o rio São Simão até encontrarem algum rio
maior. De fato, começada a entrada da abertura das picadas, seguindo de
perto o curso do rio, alguns oito ou nove quilômetros, abaixo, depararam
com o grande rio que os nativos chamavam de Manna-açu. Agora o
problema era subir o Manna-açu para encontrarem a quot;estradaquot; que ligaria
Sacramento a Abre Campo. E eles conseguiram, após muito trabalho e
muito tempo, a ligação São Simão-Abre Campo. Agora que encontraram
um respiradouro, trataram de tornar as jornadas mais curtas, criando quot;
pousosquot; dentro da mata virgem. O quot;pousoquot; que sobreviveu aos demais foi
o São Lourenço, criado no dia 10 de agosto de 1857. O povoado de São
Simão já se desenvolvera bastante, a ponto de muitas famílias se
transladarem para o novo povoado de São Lourenço que, por essa
preferência, com poucos anos, deixou para trás o povoado de São
Simão... mais tarde, quando o Governo julgou azado o momento de criar
o município de São Simão, aqueles que respondiam pelos destinos da
comunidade, declinaram da honra que lhe fazia. O Governo, então voltou
às vistas para o povoado de São Lourenço e, assim, o novo município de
São Lourenço de Manhuaçu foi instalado, há cem anos passados,
integrado com o distrito de São Simão, até 1944, data da sua
emancipação política.

      Graças à uberdade de suas terras e ao espírito laborioso de seu
povo, o distrito de São Simão veio a ser mais importante e o mais


                                   22
próspero de quantos compunham o município de Manhuaçu. Sempre deu
as cartas, como o povo costuma dizer. Em política, sobretudo. Enquanto
integrou o município de Manhuaçu, São Simão comandou sempre a
política municipal, constituindo-se árbitro em todas as questões que
envolvessem problemas políticos. Candidato que fosse amparado pelas
forças políticas do distrito era candidato vitorioso, como aconteceu
quando o capitão José Pedro disputou com o Dr. Alcino Salazar, me luta
gigantesca, a preferência do eleitorado, em 1936, conseguindo sair
vitorioso... É bom recordar aqui que, quando começou a apuração da
cidade, os partidários do Dr. Alcino estavam eufóricos com uma relativa
maioria que desapareceu quando foram abertas as urnas de São Simão...
Mas uma vez o eleitorado maciço de São Simão pesou na balança...

       Estas notas foram aqui alinhadas para recordar a quem já sabia ou,
então, para ensinar a quem o ignore as origens históricas de Manhuaçu,
que, agora,     comemora sua emancipação política e que, apesar de
centenário e das muitas glórias colhidas, ao longo do tempo, não deve
sentir-se constrangido em proclamar no seu dia festivo, para todos os
quadrantes do município -: Alô! Alô! São Simão! Sua Benção para as
minhas FESTAS JUBILARES!




Bibliografia:

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HistóRia De ManhuaçU

  • 1. DATAS MAGNAS DE MANHUAÇU I - Elevação a distrito pela Lei Provincial número 2.042 de 1º de Fevereiro de 1873. II - Elevação a Paróquia, pela Lei número 2.165 de 20 de Novembro de 1875. III - Elevação à denominação de Município, com sede em São Simão, pela Lei número 2.407, de 5 de novembro de 1877. IV - Elevação à condição de Vila, com conseqüente qualidade de sede do Município de Manhuaçu, pela Lei número 2.557 de 3 de janeiro de 1880. V - Elevação à categoria de Comarca, pela Lei número 2.665, de 4 de novembro de 1880. VI - Elevação à cidade, pela Lei número 2.766, de 13 de setembro de 1881. MANHUAÇU - FATOS E NOTAS DE SEUS PRIMÓRDIOS José Fernandes Rodrigues Como é fácil de ser visto no Vale do Rio Doce, em cujos contornos estamos marcadamente compreendidos, os reflexos de sua composição geológica mostram-se perfeitamente na paisagem, pelas formas do relevo; ora a hidrografia se adapta à estrutura, subordina aos efeitos da torrente, de maneira absoluta e inconfundível. Em franco e agudo contraste com as formas de relevo tabular de leste surge, mais para oeste, crescente explosão de cristais pontões. Mais a distante do litoral, na parte central do vale, a erosão dissecou um planalto a bem dizer regular, onde os rios são extensos e profundos. No que nos toca particularmente, os desgastes efetuados pelas águas deram origem a uma série de grandes unidades nitidamente diversificadas em seus relevos, como sejam a planície litorânea, as serras do litoral e seus pontões, a zona dos maciços elevados próprios das bacias dos rios Manhuaçu e Caratinga. OS PRIMEIROS COLONIZADORES VIERAM DO LITORAL Acima de tudo, o homem é subordinado a virtualidades econômicas do lugar em que vive. Foi total e pungente o malogro da colonização da 1
  • 2. Capitania do Espírito Santo, cujo donatário, VASCO FERNANDES COUTINHO, depois de perder todos os seus cabedais, aí morreu em extrema penúria. Em nada mais benéfica ao desenvolvimento da zona litorânea capixaba, única então povoada nestas paragens, foram sob qualquer aspecto, às gestões dos Governadores Gerais e as administrações que os sucederam até meados do século XIX. Numa fria repetição da calamidade milenar e irreprimível, também na planície litorânea onde o Doce e as águas de seus tributários ganham o estágio oceânico de seus cursos, toda a ação do homem sobre a terra cinguise, única e atormente, à exaustão predatória de suas riquezas naturais. Exaurida a terra, mudava-se o homem, sempre no sentido das nascentes dos rios mais caudalosos, atingindo por seus leitos, as bordas das matas situadas às suas margens. Eram, já sesta fase, tais imigrantes em seu maior número, faiscadores e poaieiros. Nada tranqüilas nem muito proveitosas foram às incursões desses nômades pelas águas plácidas e grossas do Rio Doce. Na margem esquerda do rio penetrado, a nação dos Aimorés, então maiúscula, cruel e belicosa, mantinha as terras de seu uso e moradia sempre defendidas, com sistemática violência, da presença dos brancos ou da de outros gentios. Os nomes Tupis têm, como sabido, peculiaridade de exprimirem em poucas sílabas os atributos principais do objeto. Os elementos estruturais dos vocábulos Originam-se de onomatopéias e estas traduzem com inteira precisão as reações subjetivas do contacto com o mundo objetivo. Tangidos pelas duras condições de sobrevivência resultantes da escassez de meios para tanto e das agressões de indígenas ciosos da intangibilidade de seu território, subiram os viandantes do Doce sempre na direção de suas nascentes, até a embocadura do Rio Manhuaçu, tido como o maior de seus afluentes a alcance de seus esforços. Ambas as margens do Manhuaçu eram habitadas de tronco Tupi, estirpe que na descrição de CAMINHA, se constituía de quot;pardos, à maneira de avermelhados, de bons narizes bem feitosquot;, tendo índole bondosa e simples. 2
  • 3. Conseguido o Manhuaçu, rapidamente fraternizados com os seus índios, nossos primeiros colonizadores entraram a subi-lo, ocupados, principalmente, busca de ouro e de poaia. Foi uma subida tarda e espaçada, cheia de intervalos mais ou menos demorados. Nos baixos pantanosos do Manhuaçu, correspondentes ao seu curso pela planície litorânea, foi curta e breve a estada desses virtuais colonizadores, daí impelidos pelas febres e pela péssima qualidade das águas de servir. Embora chegassem a realizar umas poucas abertas nos alagadiços então generalizados nesse lance do rio sob conquista, não chegaram tais pioneiros a fixar nelas moradas de maior tomo. Só quando vindos aos maciços mais elevados da bacia do Manhuaçu, faiscadores e poaieiros deram início à colonização das terras alcançadas. À medida que quebravam a virgindade milenar das terras ocupadas com ânimo definitivo de possuí-las, os primeiros desbravadores dos sertões do Manhuaçu mudarem gradativamente a meta de seus desígnios, a natureza de suas principais ocupações. Ampliam-se as derrubadas. Alargam-se as clareiras. Desafrontam-se os horizontes. Seguem-se as queimadas. Na manhã seguinte, toda a terra se cobre com o manto branco das cinzas. A terra aguarda o milagre das chuvas. E as chuvas caem pesadas, gorgolejantes, varrendo as encostas, gritando nos valados, engrossando os riachos e transbordando o rio. Começa, então a faina do amanho, o vibrar das enxadas ao choro dos mutirões. É a canção nupcial do homem com a terra domada. Cidades nascerão como filhas exuberantes desse casamento cósmico e eterno. De início, vêm os plantios de milho, feijão, arroz e árvores frutíferas. Depois, já na última metade do século XIX, surgem as primeiras lavouras cafeeiras, como fontes de fortuna e de trabalho, aumentando índices demográficos e vias precaríssimas de comunicação. São os alvores de uma nova era de largo e constante desenvolvimento. A fazenda generaliza-se no sertão submetido ao homem. As populações acomodam-se na agricultura. A riqueza pede conforto. A política exige prestígio. As antigas arranchações de telhas e chão de terra pisado cedem lugar a vastas construções altas e dignas, com largos alpendres floridos, Com cadeiras de encosto para as sestas nos grandes meios-dias ensolarados. Varandas amplas. Quartos para a família e para os hóspedes. Despensa variada e provida em nível de desperdício. Cozinha com fogão enorme e fogo nunca apagado. 3
  • 4. O transporte dos produtos da terra até o mercado mais propício faz-se por tropas de mulas e por carros de bois. Essas tropas e esses carros, além de seus préstimos específicos, constituem-se, como em todo Brasil em eficazes agentes da unidade regional. Ao longo do caminho, situam-se os ranchos, onde pernoitam tropeiros e carreiros. Esses ranchos foram origem de cidades. Perto deles, alguém se lembrou de abrir uma venda quase sempre o próprio dono do pasto e do rancho. Como as tropas são muitas, um concorrente levanta outro rancho e abre outra venda. Lavradores têm suas casas ali perto. Resolvem erigir uma capelinha. Um dos casais possui uma imagem. É, por exemplo, a de Santa Bárbara. A capelinha irá se chamar de Santa Bárbara. Mas o povoado vai aumentando, ao longo da estrada. Um dia, o casal que doou a imagem aceita doar um patrimônio à santa, alguns hectares de terra. Um sacerdote vem ali celebrar de vez em quando. O povoado aumenta, tem agora um fogueteiro, um boticário, pedreiros, carpinteiros, ferreiros. Já se fazem necessário à loja do barbeiro e o armazém de secos e molhados. E,como há meninos, vem logo o mestre-escola. Correm dois três anos: os habitantes não mais se contentam com a capelinha humilde; deitam subscrição, fazem-se festas, lançam-se alicerces de um novo templo. E a cidade nasceu. Assim, seguramente assim, surgiu o arraial de São Simão, primeiro de nossos núcleos urbanos de população permanente, obra dos primeiros desbravadores dos sertões do Manhuaçu, vindos pelo leito do rio, o eterno caminho dos pioneiros, da planície litorânea, rumo a oeste, à procura de ouro e de poaia, para encontrarem, no planalto central do vale de sua andanças, os milagres do café, causa de profundas transformações jamais imaginadas na paisagem, nos costumes, nas ambições e nas realidades da nova terra e do novo homem, ambos ainda nascentes para os deslumbramentos do novo ciclo econômico que, ao acaso, instalava-se nestas paragens do leste da primitiva Minas Gerais. O ÊXODO NAS TERRAS DO OURO Na fabulosa Ouro Preto, na vetusta Mariana, em todas áreas de influência dessas poderosas metrópoles da era colonial, findara-se, desde os últimos anos do século XVIII, o ciclo aurífero. 4
  • 5. Não só pela quase extinção de suas reservas simplesmente faiscáveis, como também pelas radicais mutações impostas pelos resultados do Congresso de Viena à economia universal, o ouro deixou de ser aquele esplêndido fator de tantos faustos, de muitas fortunas a bem dizer espontâneas. A batalha de Waterloo foi sem dúvida o último episódio da organização dos povos segundo os padrões anteriores ao surgimento do século burguês, democrático, mercantil. Começou, assim, nas primeiras décadas do século XIX, o êxodo de mineradores e garimpeiros para leste, para os campos de criar e para as terras agricultáveis do alto rio Doce, onde, na quase totalidade de sua vasta amplitude, lançaram fazendas, povoações, cidades, um novo mundo de um mundo novo. Os antigos visionários das incertezas do ouro aquietavam-se de vez nas atividades do campo.Não mais evoluíam ao léu da sorte à procura de novas catas, lançando-se a homéricos empenhos tantas vezes malogrados. Iam para diante sempre para diante, derrubando matas, galgando serras, vadeando rios, seguros, plenamente seguros, dos magníficos resultados dessas iniciativas igualmente heróicas. Era ver Ouro Preto, era ver Ponte Nova, para sentir na esplendorosa progressividade do confronto, toda a realidade da substancial revolução a cada dia mais abrangente e mais acelerada. As espessas matas do médio Rio Doce, repletas de lagoas, charcos e alagadiços, faziam-no terra proibida, pela só fama das febres que por lá passavam. O caminhar dos desbravadores pela região montanhosa em que plantaram Abre Campo, Garimpo e Santa Margarida, fez pelos cimos do percurso, pelo só pavor de febres palustres. Santa Margarida foi, no surto colonizador vindo de oeste, o penúltimo estágio de seus vanguardeiros, antes que chegassem ao arraial de São Lourenço do Manhuaçu, já com várias moradias e suas adjacências em boa parte desmatadas. A pequena distância de Santa Margarida, entre os contrafortes das serras de Alto Carangola, Quatorze Voltas, Seritinga e São Félix, de um lado, e de São Luiz, Pontões e Taquara Preta, do outro, o rio Manhuaçu nasce e dá os passos de seu percurso dilatado e vário. Pelo grande e fértil vale do nascimento do seu rio, num fluxo igualmente vivificante, nossa terra recebeu a magna presença dos pioneiros vindo do oeste, trazendo- 5
  • 6. lhe não só a soberba bravura comprovada em tantos e múltiplos embates, mas, principalmente, os fatores de uma civilização solidamente sedimentada em séculos de saber e experiência. OS SUÍÇOS E OUTROS ESTRANGEIROS Provenientes da Alemanha, França e Suíça, três grupos de imigrantes europeus fixaram morada no Vale do Canaã, na Província do Espírito Santo, quase na divisa com a de Minas Gerais. Passaram a dedicar-se à agricultura, sob condições a principio verdadeiramente dramáticas. GRAÇA ARANHA, um dos maiores expoentes do movimento modernista, fundando-se em excelente material de pesquisa, toma por tema de seu magnífico romance CANAÃ precisamente os conflitos, as vicissitudes, o quase martírio desses alienígenas, nos seus primeiros tempos de aceitação das condições do meio e dos percalços de suas novas atividades. Caminharam os suíços, como eram vulgarmente conhecidos, do Vale do Canaã até virem ter ao arraial de Jequitibá e, daí, estendendo-se pelas montanhas vizinhas, às serras do Ouro, Boa Vista e Pedra Dourada. Espanhóis, libaneses, italianos e portugueses incluíram-se por igual na composição da paisagem humana do Manhuaçu ainda menino. GENTE DO QUARTEL DO SACRAMENTO E DE OUTRAS PARAGENS. Não mais existiam por aqui indígenas que catequizar. Reunidos em acampamentos, sob curatela, conduzidos ao cristianismo, só gentios contemporâneos de nossos primeiros colonizadores eram designados pelo nome comum de Puris, cujos ramos mais expressivos eram o dos Laias, na Ponte da Aldeia, e o dos Parobás, na Barra do Gameleira. Os limites que assinalaram o torrão manhuaçuense faziam-se, pelo sul, com aqueles da província do Espírito Santo, seguindo-se as vertentes da serra do Caparaó e os seus prolongamentos num e noutro sentido; por oeste, com as primitivas comunas de Carangola e Ponte Nova; pelo norte e pelo leste, com o rio São Mateus e a Serra dos Aimorés, até se entroncarem finalmente nas divisas com a antiga Província do Espírito Santo. É, assim, bem de ver que as ações de DUTRÃO, como também as que são devidas a numerosos desbravadores provindos do quartel do Sacramento, nada mais foram que migrações intestinas. 6
  • 7. Estava, desde então, delineado, em termos, promissores e duradouros, o contingente populacional do futuro Município de São Lourenço do Manhuaçu, cujas notícias remontam aos idos imemoriais do Brasil Colônia, embora tão-só no primeiro terço do século XVIII entrasse, nesse sentido, a mostrar os primeiros sinais de sua fase embrionária. A ESTRADA DE FERRO E OUTRAS CONQUISTAS EXUBERANTES DO CAFÉ. Outro acontecimento basilar de nossa afirmação como comunidade autônoma e futuros a situa-se na chegada dos trilhos da Estrada de Ferro Leopoldina à nossa cidade, até aí emperrada e dormitantes. Seguiu-se lhe um formidável espocar de novidades. Baixada, Estação, Coqueiro, Peixoto, Rua Nova, São José, Praia Formosa são de pronto incorporados aos novos domínios da cidade vigorosamente despertada. Nossos altos índices de produção, que haviam motivado o advento da ferrovia, subiram de tal sorte que, em 1922, merecíamos o galardão de sermos a Capital do Café no Estado de Minas Gerais. Passáramos a ter realmente seduções de eldorado. O comércio repleteava-se de variedades e de comerciantes. Artífices de todas as habilidades vinham de todas as distâncias. Não era tudo. A noite emendara-se ao dia, pelas maravilhas da eletricidade. Música, danças, alegria marcavam todos os sábados, no comedimento dos salões e na balbúrdia dos cabarés. Era, em suma, o pleno apogeu de um mosaico de raças e culturas cainhadas pelo ardor dos bons fados, de modo a amalgamarem-se nesta nova terra da promissão, nisto que somos, com redobrado orgulho - o clã manhuaçuense. Venceram-se, assim, já nos princípios do século XX, os pródomos de nossa formação, quando, depois da emancipação política, solidificaram-se, com nitidez e constância, os alicerces de nossa estruturação econômica. DÍVIDA A SER PAGA Somos todos devedores relapsos. Ao correr de mais de um século, neste Manhuaçu de nosso desmedido afeto, homens e mulheres, vivendo um cotidiano de agruras imensuráveis, viveram sagas, dramas, tragédias, 7
  • 8. epopéias e fracassos simplesmente memoráveis. São igualmente soberbos os fastos da ação política entre nossos maiores. A só lembrança das ferrenhas competições entre serafinistas e dolabetistas, alcinistas e cordovilistas dá justa medida de sua inestimável significação, quando menos, como fiel retrato de uma época. Urge minuciar na crônica, na estória, no romance todo o estupendo conteúdo humano do ciclo do café no pólo central de sua implantação e desenvolvimento na Zona da Mata de Minas Gerais. O material é farto e excelente, do mesmo quilate daquele com que GRACILIANO RAMOS, JORGE AMADO, JOSÉ LINS DO REGO e outros tantos deram foros de universalidade a símbolos e valores da tradição nordestina. É preciso fazê-lo já e bem, antes que o cosmopolitismo que nos está à porta, dilua na insensibilidade de seus hábitos, todo esse magnífico patrimônio de nosso passado, tão portentoso e tão caro. A dívida estejamos tranqüilos, será totalmente resgatada. O manhuaçuense é, de corpo e alma, um jacobinista irredutível. Nem a ausência, nem as conveniências arrefecem-lhe a devoção pela terra de seu nascimento. Há nessas contingências, no último lance da informação plena de nostalgia, unção de voto - MORO AQUI, MAS SOU DE MANHUAÇU. Eis tudo. Noutras terras, a gente mora. Em Manhuaçu a gente vive. A REVOLTA DE SERAFIM TIBÚRCIO O Município de Manhuaçu, à época em que se deu sua emancipação política, tinha ainda no antigo arraial de São Simão seu centro urbano de maior destaque. Nisto, sem dúvida, estava a razão determinante do fato de ter sido conferida a São Simão a qualidade de sede da nova unidade municipal criada pela Lei número 2.047, de 5 de novembro de 1877. Outorgavam-se, assim ao São Simão dos primitivos faiscadores e poaieiros advindos, pelo rio de nossa unidade, da planície litorânea do Rio Doce, às serranias do alto Manhuaçu, os primados de cidade, de primeira das cidades aqui nascidas. Entraram, entretanto, a preliar com a São Simão feita cidade, em acirrado empenho por vê-la substituída nesse privilégio os mineradores e garimpeiros provindos de Catas Altas, Ouro Preto, Mariana, de todas as terras do ouro, para constituírem, como constituíam, a maior parcela da população da vila já estuante de São Lourenço do Manhuaçu. 8
  • 9. Fatalmente, do mesmo modo que em todas as disputas, vitoriou-se o competidor melhor provido de aptidões para o embate. Sobre a secura espartana dos manhuaçuenses provenientes do litoral, prevaleceu a helência versatilidade de nossos conterrâneos vindos das plagas que, por séculos, haviam vivido os esplendores da mineração. Corridos apenas cerca de quatro anos São Lourenço do Manhuaçu, segundo a Lei número 2.766, de 13 de setembro de 1881, passou a substituir São Simão, quanto a todas as regalias de sede do Município de Manhuaçu, ali inicialmente instalado. Burgueses versus Populistas Natural de Jequeri, freguesia de Ponte Nova, radicado na Manhuaçu recém conduzida à condição de cidade, SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA, bravo e amável, senhor de extraordinária capacidade para convencer, pioneiro de empreendimentos progressistas, entrou a despontar como líder popular inconteste, como legítimo comandante de nossa terra e de nossa gente, nos primeiros passos de sua verdadeira emancipação, só muito depois efetivamente conquistada. Andava acesa em todo o país a pregação republicana.As excepcionais virtudes de seus arautos o assoberbaste ardor da campanha, os crescentes sucessos da pregação abolicionista tornavam os seios do advento da República verdadeira obsessão nacional. Pouco, quase nada importavam em contrário a figura e a conduta do sereníssimo Imperador Pedro II, sem favor o maior de todos os democratas brasileiros. SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA, pelas poderosas influências recebidas desde os seus verdes anos nas suas andanças como proprietário de animais de carga, por todas tendências reveladas no seu relacionamento com os menos favorecidos de fortuna, por sua personalidade de homem simples, despretensioso, extremamente sensível ao justo e ao eqüitativo, engajaram-se na causa republicana com dedicações de apóstolo e fidelidades de templário. Animado dessas convicções, recebendo a consagração de seus altos méritos, por escolha de esmagadora maioria dos manhuaçuenses, em pleito livre e democrático, SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA foi eleito presidente da Câmara e agente do executivo do Município de Manhuaçu, no período de 1893 a 1896, como segundo de seus governantes na fase republicana. 9
  • 10. Vencida menos da metade de seu período de governo, SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA já se mostrava candidato à reeleição. Passados os albores da experiência republicana, já entre 1892 e 1894, todos os brasileiros puderam sentir que quase nada mudara no terreno social, político e administrativo. Os excessos, arbitrariedades e desregramentos da nobreza foram sempre apontados por todos como causas preponderantes na queda da monarquia no Brasil. Logo nos primeiros anos do regime republicano, entrou a afirmar-se no País uma nova espécie de fidalguia, a burguesa, composta de ricos e potentados, notadamente dos de linhagem feudal, dos chamados barões do café. Para que não lhes faltassem títulos, multiplicaram-se os coronéis, majores, capitães, tenentes e alferes da guarda Nacional, garbosa de ricos uniformes, mas nem um soldado pra remédio. Exatamente boa parcela da burguesia manhuaçuense, comandada pelo padre ODORICO DOLABELA, e tendo por candidato FREDERICO ANTÔNIO DOLABELA, irmão do clérigo, farmacêutico prático e médico por extensão, passou a opor-se à candidatura de SERAFIM TIBÚRCIO, alicerçada na burguesia menos enfatuada, e, principalmente, no apoio dos pobres e dos humildes. Os astutos DOLABELAS tinham, ainda, por nome o tenente coronel COSTA MATOS, velho político cuja tradição de chefe remontava ao tempo da monarquia. A disputa eleitoral feriu-se em cima de extrema violência, sem clima de extrema violência, sem peias nem limites. SERAFIM TIBÚRCIO, apesar da alta respeitabilidade conquistada, sofreu terríveis acusações. Era pejorativamente conceituado como sendo simples tropeiro analfabeto, saído de Ponte Nova ou de Jequeri, tangendo uns magros burricos, em busca de meios para sobreviver. Apontavam-no como peculatário, quando coletor de rendas em Manhuaçu. Qualificavam os boros de sua autoria como moeda espúria. Diziam-no patrão de um passador de notas falsas fabricadas em São Paulo do Muriaé. Taxavam-no, finalmente, como frio assassino de fanático, em plena rua, um dia de eleições. PADRE ODORICO, por sua vez, ganhava imagem de ganancioso insaciável, diabolicamente divorciado de sua missão sacerdotal, cercado de jagunços, chegando mesmo a manter um deles, o mais temido como sacristão, FREDERICO DOLABELA, o pleiteante oposicionista, era 10
  • 11. qualificado como pobre homem, desleixado e pachorrento, cuja eleição viria fazer de nossa cidade o retrato completo de sua chácara, tomada por vasto e viçoso matagal, pomar e extinguir-se moradia em escombros, onde abundavam bêbados, os quais iam ao extremo de refestelarem-se na própria cama do candidato. Eleito segundo presidente do estado de Minas, com exercício a partir de 1895, CRISPIM JAQUES BIAS FORTES passou a dar apoio governamental aos irmãos DOLABELA, pondo francamente a serviço da eleição de FREDERICO, polícia, fisco, recursos financeiros e outros tremendos fatores de coação ao eleitorado. Mesmo assim, foi pública e notória a reeleição de SERAFIM TIBÚRCIO. Restava, então, aos bafejados pelo governo, o último dos recursos: Fazer inverter integralmente, por meio de atas falsas, o resultado das urnas, para que aparecesse, como apareceu eleito o coronel FREDERICO ANTÔNIO DOLABELA. A REVOLTA E SEUS MOTIVOS Cidadão íntima e sinceramente convencido de que as ações dos governantes eleitos sob os auspícios do regime republicano cingir-se-iam fatalmente à retidão teórica de seus princípios, SERAFIM TIBÚRCIO, munido de completa e abundante comprovação de todas as fraudes de que fora vítima dirige-se a Ouro Preto para, de viva voz, levar ao presidente do estado farto conhecimento de todos os sucessos, certo, seguramente certo de que, depois disto, tudo seria reposto em termos de verdade, correção e justiça. Ao fim do relato fiel e vigoroso de tudo quanto sucedido, ao invés de ouvir, como seria natural, veemente condenação de tantas felonias, SERAFIM TIBÚRCIO nada mais teve do governante de Minas, que dura e áspera reprovação ao seu comportamento, seguida de toda sorte de arrogâncias, facciosidades e ameaças. A resposta digna, altiva, destemida de SERAFIM TIBÚRCIO não se fez esperar: VOSSA EXCELÊNCIA NÃO PASSA DE UM SIMPLES PREPOTENTE. Não apenas sinal de um tempo, mas a eterna afirmação de uma constante: Vencido pouco mais de um lustro da proclamação da República, seus mais lídimos ideais eram frontalmente negados por um de 11
  • 12. seus corifeus, na mesma Ouro Preto de seu dramático nascimento. O regresso de SERAFIM TIBÚRCIO foi imediato.Em manhuaçu, de onde FREDERICO DOLABELA houvera sido expulso, cuidou de reunir prontamente seus partidários, entre os quais se incluía o legendário JOÃO DO CALHAU, e com eles, organizou forças coesas e imbatíveis, de modo tornar todas fronteiras do município inteiramente resguardadas a qualquer invasão. Organizada a resistência, SERAFIM TIBÚRCIO entrou a aguardar que se cumprissem contra nossa terra as atrabiliárias ameaças governamentais. Não aguardou por muito tempo. Pouco depois, logo no inicio de 1897, o governo do Estado expediu uma força policial composta de 50 homens contra SERAFIM TIBÚRCIO e seus guerreiros. O minguado contingente de soldados da polícia estadual, vindo de Ouro Preto, nem chegou a penetrar no teatro da luta. Em seu primeiro contato com os bravos e hábeis comandados de SERAFIM TIBÚRCIO, caiu pronta e definitivamente derrotado, sendo posto em fuga total e desabalada. Novo corpo de tropa, este integrado por 120 militares também da polícia, partiu de Ouro Preto, animado do mesmo intuito de extinguir em Manhuaçu a já famosa revolta de SERAFIM TIBÚRCIO. Outra e fragorosa derrota foi imposta por SERAFIM TIBÚRCIO e seus combatentes as tropas governamentais, que, como as primeiras, desertaram logo o campo de combate. A revolta de SERAFIM TIBÚRCIO tomara largas e imprevisíveis proporções. Não mais era possível prever- lhe os resultados. 4O governo de Minas, confessando-se incapaz de reprimi-la, recorrera ao auxílio de forças federais.Tudo estava assentado no sentido de que viessem contra SERAFIM TIBÚRCIO tropas da União, quantas fossem necessárias.O comandante indômito, mas também arguto e prudente, sentiu o momento de mudar a tática para que, nas ruas de Manhuaçu de seus cuidados, não fosse repetido o drama cruento Canudos. Colheu ponderações e conselhos, entre estes, os do estadista e amigo Cesário Alvim.Estava pronto para decidir. No amplo casarão de sua residência, onde, depois, por significativa sucessão, passou a funcionar o Fórum da Comarca, houve o grande encontro dos revoltosos.Tudo foi posto, considerado, discutido. Ao fim, todos aqueles homens afeitos a todas as disputas, plenos de brio e de bravura, cheios da fama de tantos feitos insuperáveis, chegaram, unânimes, a mais heróica de todas vitórias. Não mais combateriam. Vidas 12
  • 13. e bens dos manhuaçuenses, agora sob riscos positivamente enormes, importavam mais que todas as glórias vindas ou a vir de todos os triunfos. A GRANDIOSA RETIRADA No dia seguinte teve inicio a épica caminhada da renúncia excelsa. Pelas ruas poentas de Manhuaçu atônita e lacrimosa, Serafim Tibúrcio a seus bravos cumpriram o primeiro lance da retirada magnânima, rumo as terras fraternas e acolhedoras do Espírito Santo. A marcha foi sempre serena, tranqüila, sem temores, marcada, em cada pouso, por um de sistemática cortesia: Os perseguidos, nunca vistos, nunca buscados, jamais detidos, deixavam, a cada partida, completamente satisfeitas todas despesas subseqüente estadia de seus perseguidores. O EXPURGO DITATORIAL DO LÍDER. FREDERICO DOLABELA voltou logo a Manhuaçu e ao seu governo. Cumpria-se, assim, o último capítulo do tenaz combate à pessoa e às idéias do líder SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA, cujo primeiro ato pode ser nitidamente identificado na instauração do processo criminal em que o chefe a ser expurgado passaria a figurar premeditadamente como responsável por homicídio sem causa contra o processo JOAQUIM GERALDO, nas eleições de 15 de setembro de 1890. A vinte ou mais de vinte simplórios residentes nas cercanias de Jequitibá, foi dada, com demoníacas intenções, a notícia de que, no dia do pleito, uma horda de seus participantes iria destruir o novo templo da igreja Católica de Manhuaçu, e atirar na rua os santos de seus altares. Munida de foices e armas de fogo, aquela vintena de fanatizados organizou-se, no dia das eleições, para impedir que essas fossem realizadas. Postaram-se, com esse intento, frente ao edifício publico onde tinha lugar à votação.O Doutor LUÍS CRISTIANO DE CASTRO, então Juiz Municipal, FRANCISCO DE PAULA SANTOS, destacado serventuário da Justiça, e outras pessoas entraram logo em contato com os sediciosos, buscando dissuadi-los de seus propósitos. SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA, na ocasião delegado de polícia, foi imediatamente convocado ao local dos acontecimentos.Ao tentar desarmar os revoltosos, estes entraram a usar suas armas, generalizando-se o conflito, com vários feridos e um morto, JOAQUIM GERALDO, que antes de cair, havia ferido a foice três ou quatro pessoas. O inquérito dormiu por quatro longos anos. Em dezembro de 1894, quando já definido o quadro sucessório, o Dr.ANTÔNIO WELERSON, promotor de Justiça, ofereceu, em plena efervescência da campanha eleitoral, denúncia tida como contrária à verdade dos fatos, indiciando 13
  • 14. SERAFIM TIBÚRCIO como autor de brutal homicídio contra JOAQUIM GERALDO. Toda máquina governamental passou a pesar sobre o denunciado.Nada menos que três pedidos de desaforamento lhe foram negados. O processo, eriçado de incidentes, chegou a 13 de março de 1986. Nessa data, SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA foi julgado pelo tribunal do Júri da Comarca de Manhuaçu. Logo ao início da sessão, quando era feita a leitura do libelo, o promotor de Justiça, Dr. ANTÔNIO WELERSON, recebeu de SERAFIM TIBÚRCIO, que participava de sua própria defesa, incisivo aparte, ruidosamente aplaudido pela compacta multidão presente ao julgamento. O incidente fez com que o Dr. ANTÔNIO WELERSON abandonasse a acusação, sendo nela substituído pelo Dr. LUCIANO ALVES DE BRITO, nomeado promotor adhoc. SERAFIM TIBÚRCIO DA COSTA foi absolvido por absoluta unanimidade de votos. A REPÚBLICA QUE NÃO HOUVE E O CONTEÚDO UNIVERSAL DE SEUS PROPÓSITOS. Ao longo de seu exílio, SERAFIM TIBÚRCIO visitou Manhuaçu por muito poucas vezes. Só depois de morto, aqui está, em eternidade, na cova de seu desejo, junto aos manhuaçuenses menos dotados de fortuna, que nele sempre tiveram um interprete, o expoente, o paladino de todos seus anseios. A revolta de SERAFIM TIBÚRCIO não foi jamais animadas de propósitos separatistas, no sentido material do vocábulo. A República de seus cometimentos não deveria fixar-se no espaço, mas prevalecer na infinidade do tempo,como sublime conquista da humanidade, como bem inalienável do homem de todas as épocas. A emissão de vales ou boros não foi particularidade do lapso revolucionário. Vales, boros, ficas eram, de há muito, tipos de meio circulante de uso rotineiro.Com os vales ou boros, eram pagos salários. Com o fica era garantida a entrega ao comprador de gêneros e café vendidos antes da colheita. O obscuro tropeiro de Jequeri fez entre nós maravilhas.Empregou sabiamente os seus talentos.Buscou em campo fértil a sua messe. Deu e recebeu, amou e foi amado pelo povo desta terra de seus feitos. Fez-se líder de muitas vitórias e mártir de muitas derrotas. Viveu e fez viver magnos ideais de liberdade.Teve a grandeza dos eleitos e a humildade dos puros.Quis e recebeu cova rasa, como os santos varões. Não morreu na distância do tempo, nem o tempo lhe esmaeceu a imagem esplendorosa. Ganhou, por todos os méritos, fulgência de estrela no brasão heráldico de nossa terra, como sumo condutor de seus destinos. 14
  • 15. O homem surgiu ilimitadamente livre. Só séculos e séculos de favores culturais levaram-no a admitir umas tantas contenções quanto ao exercício dessa liberdade ingênita, em favor da ordem social. Consente, porém, só nas restrições essenciais a manutenção da ordem fundamental. Repudia, assim, por tudo e em tudo, o arbítrio, a opressão, a tirania. Há, portanto, na revolta de SERAFIM TIBÚRCIO e seus matutos, um tudo de todos os homens, um mínimo de todas as consciências. SAGA DE SERAFIM TIBÚRCIO Octávio Luís Reis Em 1894, os governos de Minas e da União uniram-se para combater o coronel Serafim Tibúrcio da Costa, que fundou a República de Manhuaçu. A história da penetração e povoamento dos mais remotos trechos da Zona da Mata ainda está por ser escrita. O Vale do Manhuaçu, o grande afluente do Rio Doce, foi outrora domínio dos Aimorés. Sangue de tapuia era o que corria nas veias dos bugres e puris que com o branco e o preto deram nascimento à miscigenação regional. Não muito distante das cabeceiras, à margem daquele rio, ainda guardado em quase todo o seu curso pela mata virgem, talvez descendentes dos já esquecidos bandeirantes que serviram sob as ordens de um Miguel Garcia, vindo dos quot;descobertos” de Antônio Rodrigues Arzão, ali tenham fixado morada. O antigo arraial, hoje cidade, guardou sempre o nome sugerido ao aborígine pelo mais acentuado fenômeno daquela natureza: Manhuaçu – terra de grandes tempestades. De lá, até que o agrupamento de tijupares se fizesse distrito, freguesia, vila e afinal cidade, a vida foi rude e semibárbara. Raros foram os farejadores de minas que, ao atingirem aquelas nascentes, esquadrinharam os flancos das serras dos Aimorés; outros homens vindos das minas exauridas, os que ambicionavam o domínio pela ocupação de grandes glebas, ali assentaram morada e iniciaram a prática da agricultura à base do devastamento pelo fogo, sobrepondo a sua audácia incomparável de bandeirantes às cartas régias de donatários que nunca arredaram o pé das cidades. CORONEL SERAFIM 15
  • 16. Quando o coronel Serafim Tibúrcio da Costa chegou a São Lourenço do Manhuaçu, fazia pouco tempo que a vila foi elevada à cidade. Já em 1889, aquele marianense entusiasta e enérgico destacava-se entre os habitantes daquela comuna como o autêntico chefe republicano e defensor intransigente das reivindicações daquele povo, que nascera forte pela luta travada com a natureza virgem, autônomo e altivo antes mesmo de conquistados os foros de citadinos, mas obscuro, que faz lembrar um grande manhuaçuense, José Féres, que dizia: quot;desadorado dos cronistas que o ignoraram, e de todo esquecido dos governadores provinciaisquot;. Este povo viu em Tibúrcio o seu condutor. Com a eleição de Afonso Pena para a presidência do Estado, alguns dolabelas, recém-vindos de Santa Luzia do Rio das Velhas, um deles clérigo e outro farmacêutico prático exercendo a medicina, revelaram seus pendores para a vida pública, desde logo bafejados pelo Conselheiro do Império, agora na raia presidencial, que deles guardava boa lembrança, como correligionários ainda em Santa Luzia. Em franca oposição ao coronel Serafim Tibúrcio, os Dolabelas, tendo à frente o coronel Frederico Antônio Dolabela, antes mesmo de findar o mandato de Afonso Pena(1894), arrebataram as rédeas do governo municipal, em pleito tumultuado e ilegal. O coronel não se conformou com a derrota que lhe infligira aquele seu opositor, eleito não pela maioria do eleitorado livre, mas à custa das armas decisivas fornecidas pelo governo estadual: polícia, fisco e justiça nas mãos de amigos do coronel Frederico. Ao findar o período de Afonso Pena e ao iniciar o de Crispim Jacques Bias Fortes, a exaltação política chegava ao auge e, para não desmentir o nome da terra, o ambiente cobria-se de nuvens ameaçadoras e tudo pressagiava o desencadear da tempestade. O coronel Serafim Tibúrcio, arrolando queixas contra desmandos impunes, fazendo sérias acusações contra os órgãos e agentes do Executivo e do Judiciário locais e, contando com algumas boas amizades em Ouro Preto, para estas apelou. Durante algum tempo aguardou que o Senador Virgílio de Melo Franco e, possivelmente, algum elemento da grei do ex-presidente Cesário Alvim, conseguissem uma mudança de parte do Governo de Bias Fortes e, talvez, querendo e já não podendo conter por mais tempo a revolta de seus correligionários, entre os quais se incluía João dos Santos Coimbra, vulgo João do Calhau – filho de Araçuaí, e então chefe serafinista da freguesia de Rio José Pedro, hoje a sede do 16
  • 17. município de Ipanema. Tibúrcio, homem legião, apaixonado pelos ideais republicanos, aqueles mesmos que ouvira pregados por Silva Jardim, na cidade de Carangola, convicto de que à vontade da maioria do povo, livre e soberano, devia prevalecer a qualquer preço e que, a sua defesa era uma imposição de honra para o cidadão, amargurado, mas não desiludido como Silva Jardim, às carreiras cuidou de arregimentar e armar seus adeptos. Enquanto o situacionismo compunha-se de homens bem aquinhoados da fortuna e contava com o apoio do governo instalado em Ouro Preto, o coronel Serafim era o ídolo do povo; este, na sua quase totalidade, formado pela gente humilde, ansiosa pela liberdade que custava. Bem se pode imaginar o efeito produzido naquelas almas simples a palavra de um líder, nunca antes ouvida e que lhes dava a conhecer o grau de injustiça, realçada pela prepotência dos que podiam. Ao tempo de Cesário Alvim, o coronel Serafim Tibúrcio revelara-se administrador dos mais capazes e político democrata. Apeado ilegalmente do poder, sua popularidade cresceu assustadoramente a ponto de tornar- se um grave problema para seu sucessor, aristocrata displicente. O irmão do presidente da Câmara, padre Odorico, político por vocação, deixou-se enredar nos desmandos, cedo perdeu a auréola de missionário e era mal visto pelo povo. Esse sacerdote, feito fazendeiro, exercia de fato o comando da situação, cercado de um pequeno grupo de valentões, uns trazidos de Santa Luzia, cujo pistoleiro-chefe lhe guardava às costas até aos pés do altar, porque era seu sacristão. O MOVIMENTO Saturado o ambiente e formado um verdadeiro exército de civis, foi lançado à população de todo aquele vale o brado da rebelião, através de um manifesto redigido e assinado pelo coronel Serafim Tibúrcio e por mais elementos da cúpula dos distritos, sem faltar à presença do coronel João do Calhau, foi oficializada a deposição de todas as autoridades locais, e postos em fuga o Juiz de Direito, Dr. Joaquim Manoel de Lemos (avô do bancário Afrânio, vítima do crime do Sacopã), o presidente da Câmara e agente do Executivo Municipal, coronel Frederico Antônio Dolabela, o delegado de Polícia, Costa Matos, fazendeiro e afamado pelas suas aventuras, o vigário Padre Odorico Dolabela e outros próceres e ocupantes de cargos públicos e ainda o odontólogo ouropretano Dr. Antônio Welerson, provisionado para o foro, dotado de grandes recursos intelectuais, mentor da facção dominante para as questões mais sutis e de alta indagação e que, mais tarde, se faria deputado à Assembléia Legislativa do Estado, casado com uma Nogueira da Gama e contando 17
  • 18. com a proteção de duas figuras de destaque na vida política de Minas, Costa Sena e Pandiá Calógeras. O motim abalou até os alicerces a tranqüilidade dos que tinham a seu cargo a ordem política no Estado, e as providências não tardaram, tendo sido enviado a Manhuaçu um contingente de 50 praças sob o comando de um oficial. Essa tropa, bem antes de atingir aos arredores da cidade, foi posta em debandada por alguns guardas avançados dos revoltosos, já mestres na tática de guerrilhas que viria, mais tarde, em Canudos da Bahia, a imortalizar o guerrilheiro João Abade, fixado na epopéia de Euclides da Cunha e explorado no romance de Felício dos Santos. A notícia da derrota da polícia, levou o Governo de Ouro Preto a despachar para aquele campo de guerrilhas, maior e mais reforçado corpo de tropa, num total de 120 homens. Mas foi inútil. Nova e vergonhosa debandada da polícia, postos a correr pelos homens de Serafim Tibúrcio, repercutiu com grande intensidade dentro e fora do Estado, forçando o presidente de Minas à confissão de impotência e a solicitar o auxílio do governo federal. As condições topográficas da região, propícias à prática de guerrilhas, dificultavam a chegada àquela região de um forte contingente reforçado por uma bateria Krupp, cuja pesada peça ficou estacionada na cidade de Santa Luzia do Carangola, então ponto terminal da linha férrea. A rebelião tornava-se de grandes proporções e o coronel Serafim prudentemente enviou mensageiros à capital do Estado, de onde recebeu conselhos de seus amigos, entre os quais Cesário Alvim, decidiu abandonar a luta embrenhando-se com seus homens nas matas, descendo o vale do Manhuaçu. Registre-se que entre aqueles guerrilheiros contavam-se dezenas de fazendeiros e sitiantes, pessoas conceituadas e economicamente independentes. Movia-os a paixão política, exacerbada pela prepotência governamental e que aquele ardoroso líder sabia por em relevo e estigmatizar. OCUPAÇÃO Ocupada a cidade pelos soldados da quot;legalidadequot;, com a presença do próprio chefe da Polícia, e restabelecidas as autoridades antes depostas, instaurou-se o processo criminal contra o chefe da rebelião. Processado e pronunciado, não pelo levante, mas por lhe terem atribuído a autoria mais que duvidosa de um homicídio, o coronel Serafim Tibúrcio, sem perder a fé em seus ideais republicanos e democráticos, corajosamente compareceu espontaneamente para ser julgado pelo Tribunal do Júri, mas ao ser atingido em sua dignidade pela palavra da promotoria, protestou com energia, pois estava sendo julgado pelos seus 18
  • 19. inimigos, sem serenidade e ainda dominados pelo espírito de revanche. Aquele seu protesto ecoou dentro e fora do Tribunal e este, em poucos minutos, esvaziou-se, ali permanecendo no banco de réu, o acusado. O juiz que abandonara precipitadamente a sua cadeira, viu-se forçado a reocupar a presidência do Tribunal, pois o réu ali permanecia para ser julgado, mas o promotor e os jurados desapareceram, o que levou ao adiamento do julgamento. Mais tarde, o coronel Serafim foi julgado e absolvido sob aclamação popular, naquele dia engrossada por grande parte de seus correligionários, já residentes em outras localidades. REPÚBLICA Durante a rebelião, o coronel Serafim viu-se obrigado a tomar medidas perigosas, a fim de evitar uma maior calamidade. Para custeio de guerra, emitiu títulos de crédito com os seguintes dizeres: quot;Fábrica de Pilação de Café Um e meio serviços quot; e nas bordas 1000 que representava o valor em mil réis. Com o dinheiro adiantado pelos amigos que o possuíam, obrigava-se pagar com pil.ação de café, indústria que foi pioneira na região, ao instalar naquela cidade, no tempo do Império, a primeira máquina de beneficiar café. Observa-se que ao emitir tais títulos de crédito, não usou a expressão quot;mil réisquot;, para não ser acusado de fraude contra o curso forçado da moeda da República. Contudo, significava quot;mil réisquot;. REPOUSO Em 1920, ao sentir chegado ao termo de sua agitada e empolgante vida de desbravador de terras e libertador de escravos brancos, consciente de sua obra benfazeja ao povo que o quis sempre como líder e o acompanhou na luta e com ele permaneceu no ostracismo, constituindo no primeiro fermento de oposição e crítica aos desmandos dos governantes, deixou em escrito sua última vontade: a de ser sepultado na cidade de São Lourenço do Manhuaçu. Lá, portanto, repousam seus restos mortais, em cova rasa, como a desafiar as gerações, hoje tão omissas, esquecidas e ignorantes dos feitos de seus maiores. (Extraído do artigo MANHUAÇU TEM 70 ANOS DE TRADIÇÃO GUERREIRA, publicado no jornal Correio da Manhã, de 14 de abril de 1967). A LENDA DO BANDEIRANTE SEBASTIÃO FERNANDES Na história da colonização de Manhuaçu um nome surge nos mais remotos registros Domingos Fernandes Lana, que comandou uma 19
  • 20. expedição pelo vele do rio Manhuaçu, indo até Aimorés onde faleceu, por volta de 1820 e figura nos anais históricos como o fundador do primeiro povoado da região. A tradição oral dá a sua origem como vindo das cercanias de Diamantina, passando por Ponte Nova. A certeza é que se tratava de um membro da expedição de Borba Gato, que partiu de São Paulo até Diamantina. Outra versão diz que Domingos Fernandes Lana veio do Estado do Rio de Janeiro, integrando a tropa do Guarda-mor Manoel Esteves de Lima, desbravador do Caparaó, cumprindo um roteiro que passa por Lage do Muriaé, Tombos, Carangola, Espera Feliz, Caparaó, Pirapetinga (Manhumirim) e, finalmente, chegando a Manhuaçu e que não era faiscador de minérios e sim tropeiro. Em Manhuaçu, Domingos Fernandes Lana manteve uma relação amistosa com os índios puris (botocudos) que habitavam a região e passou a explorar a floresta através do comércio de especiarias como a Ipecacuanha e madeiras de lei. Com a descoberta de ouro no leito do rio Manhuaçu, na região atual de Santana, Fernandes Lana abandonou a atividade extrativista e iniciou uma marcha descendo o rio, em busca do rico cascalho, chegando até Aimorés, onde faleceu. Os índios puris que habitavam Manhuaçu, ao lado da caça e da pesca, praticavam o cultivo rudimentar o solo, pois há muito tempo haviam abandonado a vida nômade. A cultura básica era a mandioca. Também se plantava milho sob o sistema de coivara. Foi à expedição do bandeirante Fernandes Lana que trouxe pra a região a cultura da batata- doce, que permitia ser comida como raiz cozida na brasa, dando menos trabalho no preparo da alimentação dos silvícolas. Os índios alimentavam- se também de carne de caça e pesca, de inhame branco, de taioba, serralha e capiçoba e outras plantas comestíveis nativas da região. Com uma estrutura social do tipo amorfo e difuso, a aldeia dos puris era caracterizada por ser um aglomerado compacto, com malocas de estacas cobertas de sapé ou folhas de palmeiras, protegida por troncos em paliçada. Com a colonização, rapidamente os puris absorveram costumes do homem branco e passaram a plantar suas roças pelo sistema de coivara, isto é, queima do mato para abrir clareiras e o preparo do terreno para a semeadura. Os colonizadores brancos, entretanto, consideravam os puris preguiçosos, pois ocupavam quase todo o seu tempo com caça e pesca e catando sementes oleaginosas na floresta. 20
  • 21. Por isso, foram dizimados pelos colonizadores, quer através de doenças ou pelo aniquilamento. Conta à lenda que Fernandes Lana fez amizade com o cacique dos puris, que mais tarde foi batizado com o nome de Benedito. Benedito, como todos os índios que sobreviveram à colonização, foi obrigado a aceitar a catequese e com isso obteve, juntamente com sua aldeia, a proteção dos missionários contra a sanha dos aventureiros, desbravadores e imigrantes estrangeiros, que dizimavam os índios expulsando-os de suas terras, beneficiados pela Carta Régia expedida por Dom João VI, em 1808, determinando aos colonizadores como quot;principiada a guerra contra esses bárbaros índiosquot;. Numa terra hostil, de difícil acesso, apenas agricultável e extrativista, o sonho verde-amarelo de Domingos Fernandes Lana, de esmeraldas e ouro, se perdeu no espaço e no tempo. Investido no cargo de comandar a defesa das terras de May- o-açu, o bandeirante, ao invés de hostilizar, empreendeu uma ação de aproximação com os indígenas, reservando-lhe uma área onde quot;o ribeirão do córrego dos suíços se encontra com o grande rioquot;, hoje conhecida como Ponte da Aldeia. Ensinou os silvícolas a atirar com bacamarte e a construir paliçadas para proteção de sua aldeia. Com isso, seu exército particular aumentou em número e força. Do lado dos indígenas, estes supriam os colonizadores com remédios que o pajé extraía de plantas, raízes e casca de árvores. O comércio de Ipecacuanha floresceu as margens do grande rio, dando origem ao povoado de São Lourenço do Manhuaçu. AS CABECEIRAS HISTÓRICAS DE MANHUAÇU MONS. José Paulo Araújo Do atual município de Manhuaçu, a zona que primeiro começou a ser povoada foi à região de São Sebastião do Sacramento. O povoamento se processou, em parte, com as levas de foragidos da revolução de santa Luzia, em 1842, a qual havia começado em Barbacena. Os implicados ou medrosos procuravam defender a pele, buscando as matas virgens, habitadas só então, pelos aborígines. Assim começou a formar-se o povoamento de Sacramento. O povoado mais antigo e mais próximo era Abre Campo, aonde os moradores de Sacramento iam prover-se do necessário à subsistência. Alguns indivíduos, levados pelo desejo de apossar-se de muita terra, organizavam em pequenos ribeiros, até o encontro de outra água maior. Carregavam sempre na bagagem um almanaque no qual buscavam os nomes dos santos, de acordo com os dias, para quot; batizaremquot; os lugares ou rios. 21
  • 22. Um dia, em 1855, um grupo formado por Luciano Galo, Manoel Antônio Vieira - o único que sabia ler o que carregava o almanaque - Domingos Roque e outros companheiros, partiu de Sacramento, abrindo picadas, sempre acompanhando o curso d'água, até que chegaram a um lugar que denominarem o nome de Palmeiras, em razão da muita abundância dessa planta na região. Depois de uma Folga que aproveitaram para cuidar de plantações e outros trabalhos do campo, resolveram a prosseguir a exploração de novas terras e, assim, continuaram descendo, agora, o bem volumoso ribeirão de Palmeiras, abrindo picadas na mata virgem... até que encontraram, no dia 28 de outubro de 1855, um rio maior que foi denominado com o santo do dia-a- dia de São Simão e S. Judas - Rio de São Simão. Luciano Galo apossou-se de todo o terreno aberto e logo doou oito alqueires para patrimônio do santo e formação do povoado de São Simão as primeiras e pequenas habitações construídas de pau a pique e cobertas de palmito. Dominava o povoado pequena capela, no lugar ocupado hoje pelo jardim, na Praça Getúlio Vargas. Com o volver do tempo, os moradores foram aumentando e, como conseqüência começaram a brotar novos problemas para a já bem grande comunidade. O problema mais premente dizia respeito as vitualhas que eram adquiridas em Abre Campo; por isso começaram a pensar em encontrar um caminho mais curto para chegar a Abre Campo e concluíram que deviam descer o rio São Simão até encontrarem algum rio maior. De fato, começada a entrada da abertura das picadas, seguindo de perto o curso do rio, alguns oito ou nove quilômetros, abaixo, depararam com o grande rio que os nativos chamavam de Manna-açu. Agora o problema era subir o Manna-açu para encontrarem a quot;estradaquot; que ligaria Sacramento a Abre Campo. E eles conseguiram, após muito trabalho e muito tempo, a ligação São Simão-Abre Campo. Agora que encontraram um respiradouro, trataram de tornar as jornadas mais curtas, criando quot; pousosquot; dentro da mata virgem. O quot;pousoquot; que sobreviveu aos demais foi o São Lourenço, criado no dia 10 de agosto de 1857. O povoado de São Simão já se desenvolvera bastante, a ponto de muitas famílias se transladarem para o novo povoado de São Lourenço que, por essa preferência, com poucos anos, deixou para trás o povoado de São Simão... mais tarde, quando o Governo julgou azado o momento de criar o município de São Simão, aqueles que respondiam pelos destinos da comunidade, declinaram da honra que lhe fazia. O Governo, então voltou às vistas para o povoado de São Lourenço e, assim, o novo município de São Lourenço de Manhuaçu foi instalado, há cem anos passados, integrado com o distrito de São Simão, até 1944, data da sua emancipação política. Graças à uberdade de suas terras e ao espírito laborioso de seu povo, o distrito de São Simão veio a ser mais importante e o mais 22
  • 23. próspero de quantos compunham o município de Manhuaçu. Sempre deu as cartas, como o povo costuma dizer. Em política, sobretudo. Enquanto integrou o município de Manhuaçu, São Simão comandou sempre a política municipal, constituindo-se árbitro em todas as questões que envolvessem problemas políticos. Candidato que fosse amparado pelas forças políticas do distrito era candidato vitorioso, como aconteceu quando o capitão José Pedro disputou com o Dr. Alcino Salazar, me luta gigantesca, a preferência do eleitorado, em 1936, conseguindo sair vitorioso... É bom recordar aqui que, quando começou a apuração da cidade, os partidários do Dr. Alcino estavam eufóricos com uma relativa maioria que desapareceu quando foram abertas as urnas de São Simão... Mas uma vez o eleitorado maciço de São Simão pesou na balança... Estas notas foram aqui alinhadas para recordar a quem já sabia ou, então, para ensinar a quem o ignore as origens históricas de Manhuaçu, que, agora, comemora sua emancipação política e que, apesar de centenário e das muitas glórias colhidas, ao longo do tempo, não deve sentir-se constrangido em proclamar no seu dia festivo, para todos os quadrantes do município -: Alô! Alô! São Simão! Sua Benção para as minhas FESTAS JUBILARES! Bibliografia: http://indoafundo.com 23