O documento discute sistemas de governança para promover o desenvolvimento resiliente. Apresenta características da boa governança como participativa, responsiva e transparente. Descreve exemplos de liderança e coordenação em situações de recuperação após desastres naturais em Moçambique, Indonésia e Paquistão que enfatizaram a participação das comunidades locais. Também discute a importância da comunicação e responsabilização em processos de recuperação.
2. Características da boa governança
Orientado por
consenso
Participativo
Segue as
regras da lei
Efetivo e
eficiente
Equitativo e
inclusivo
Responsivo
Transparente
Responsável
BOA
GOVERNANÇA
4. Liderança da recuperação após as inundações em Moçambique
1. Recuperação é vista pelo governo como uma oportunidade para partes
do país seguirem em frente
2. Longo histórico de coordenação de doadores e de suporte mútuo
3. Cada setor tem um doador ou um grupo focal do governo
4. Institucionalização de arranjos colaborativos mesmo em estruturas
governamentais locais
• O aumento da capacidade dos setores indica que o Estado alcançou seu direito
de liderança
• O Governo precisa estar preparado para negociar objetivos, modalidades, e
condições de colaboração com atores externos (pela propriedade da
recuperação do país)
• O papel de liderança pode se fortalecer por meio de uma visão objetiva, plano
detalhado, e conhecimento de capacidades e limitações existentes
4
5. Agência Nacional em Aceh
1. O Painel de Planejamento de Desenvolvimento Nacional (do inglês The National
Planning Development Board, ou BAPPENAS) formulou um Plano Mestre para a
recuperação de Aceh e Nias, envolvendo uma ampla gama de partes interessadas
no processo (por exemplo, ministérios setoriais e governos locais)
2. O Plano Mestre previa o estabelecimento da Agência de Reabilitação e
Reconstrução (BRR) para coordenar e implementar.
3. Como parte de sua estratégia inicial, o BRR focou no desenvolvimento da
capacidade de governos locais de gerenciar seus afazeres e de proporcionar
serviços efetivos.
4. BRR também focou no aumento da efetividade do relacionamento entre as
agências do governo central e os governos locais
Ao estabelecer a BRR fisicamente em Aceh e Nias, e proporcionando-lhe
autoridade suficiente, a agência foi exposta a realidades “em primeira mão”
e pôde tomar decisões apropriadas sem o fardo da burocracia excessiva que
pode impedir missões de recuperação de iniciativa nacional
O engajamento do governo local no processo enquanto progressivamente
se trabalha em sua capacidade é crítico onde governos locais são
responsáveis pelo planejamento do desenvolvimento
5
7. DRR conduzida pela comunidade e apoiada pelo
Governo no Paquistão
1. ERRA desenvolveu um programa de subsistência conduzido
pela comunidade
2. A distribuição de fundos é determinada com base nos Planos
de Reabilitação da Subsistência da Comunidade (CLRP)
3. Organizações Baseadas na Comunidade desenvolvem e
implementam CLRPs
4. Agências setoriais, governos locais, e ONGs provêm apoio às
CBOs
Abordagem em larga escala e de baixo para cima pode ser mais efetiva
Abordagens conduzidas pela comunidade requerem comprometimento
e confiança
7
8. Parcerias facilitando a participação
Em Bangladesh, o governo se associou à uma ONG local chamada BRAC para facilitar uma
DRR de subsistência conduzida pela comunidade. A BRAC havia estabelecido relações
duradouras com comunidades locais desde os anos 1970 por meio de uma ampla gama de
serviços.
Após o terremoto de Gujarat de 2001, o Governo da Índia associou-se com à SEWA,
Associação de Mulheres Autônomas (Self Employed Women’s Association em inglês) para
implementar um projeto conduzido pela comunidade para segurança de subsistência com
sete anos de duração, para famílias rurais. A SEWA, um sindicato comercial que provê
serviços para trabalhadoras do setor informal, foi escolhida devido à sua presença na área
do projeto, por sua reputação de construção de capacidades comunitárias e por sua
amplamente difundida base de associados na forma de federações femininas ou de grupos
de ajuda mútua
Na capital da Nicarágua, uma iniciativa de melhorias e de proteção de infraestruturas
públicas contra danos de enchente, em colaboração com os Comitês de Defesa Sandinista –
grupos da vizinhança formados durante a Revolução da Nicarágua. Devido à sua estrutura,
motivação, e a coesão de seus membros, eles provaram-se extremamente efetivos em
alcançar e envolver a população local.
Após sofrer com uma série de tufões nas Filipinas, o departamento de educação
desenvolveu um programa para a reconstrução de escolas em padrões resistentes a
desastres, em que o(a) diretor(a) ou as lideranças escolares, juntamente com as
Associações da Comunidade e de Pais e Mestres, encarregaram-se de implementar e
gerenciar a reconstrução e as atividades DRR.
8
10. Frustrações do inadequado compartilhamento de informações
Ilhas Salomão
“O conhecimento sobre ajuda internacional deve ser igualmente compartilhado por
toda a população rural. Por exemplo, ouve-se sobre fundos para um projeto sobre
rebanhos apenas após o uso de todo o fundo.” Oficial de educação, Auki, Malaita
“As ONGs e o governo fizeram promessas demais, e que nunca se concretizaram.
Houve muitas entrevistas nas comunidades, mas nada foi feito. Foi-nos dada muita
esperança de chegada de auxílio. Dias, meses, anos se passaram, e ainda nenhuma
aprovação. No moa trust lo olketa nao [Agora, não confiamos mais neles].” Líder
feminina em Visale, Guadalcanal Ocidental
Aceh, Indonésia
Um grande número de pessoas expressou seu espanto por não possuírem informação
suficiente sobre auxílio e seus processos. “Não quero culpar ninguém; eu apenas
quero informação”, disse um homem ao comentar os problemas com distribuição de
auxílio. Outro disse, “Se as pessoas recebem auxílios diferentes, devem ser informadas
do porquê”. Outros disseram: “Se entendermos, então podemos ser pacientes”.
Por não se sentirem informadas, a população com frequência cita rumores que têm
ouvido. “Ouvimos isso, mas não temos certeza.”
10
11. Coordenação e gestão da informação pela ONG
1. Duas ONGs iniciaram o “Centro ONG de Coordenação e
Pesquisas“ – NCRC (NGO Coordination and Resource Centre)
2. Governos Estaduais aliaram-se à NCRC
3. Estrutura organizacional NCRC: escritório avançado, centro de
informações do povoado, e times setoriais
Auditorias sociais das atividades DRR podem ser efetivamente
realizadas por uma organização separada e não executiva, como a
NCRC
Os centros de informação em povoados ajudam na manutenção da
presença em comunidades afetadas
A presença NCRC auxilia comunidades a se tornarem mais
resilientes aos efeitos de mudanças climáticas e aos de outros
perigos naturais
11
12. Facilitando a coordenação em Aceh por sistemas de informação aprimorados
1. Para coletar e analisar dados dos projetos de reconstrução implementados por parceiros
de execução, o Banco de dados de Recuperação de Aceh e Nias (RAN), um sistema ICT
robusto e de relativa baixa tecnologia, foi desenvolvido. O banco de dados RAN
pretendia auxiliar o BRR a coordenar mais efetivamente, apontando brechas e
redundâncias, e trabalhar para solucionar gargalos. O sistema online também permite
organizações parceiras a entrar e acessar dados.
2. A entrada de dados iniciou-se pela nota conceito de projeto (PCN), para a qual cada
parceiro de implementação era obrigado a se submeter à aprovação antes de iniciar um
projeto de recuperação.
3. O sistema de Banco de Dados RAN capturava automaticamente todos os dados
fornecidos pelas PCNs.
É preciso levar em consideração a infraestrutura de tecnologia da informação
necessária para viabilizar ferramentas online como essa. Já houve diversos casos,
incluindo o de Aceh, nos quais governos locais e distritais não puderam acessar o
banco de dados devido à conectividade internet pobre ou inexistente.
12
14. Papéis e responsabilidades obscuros impedem atividades nas
Maldivas
1. Falta de clareza
As respectivas responsabilidades de planejamento, execução e gestão de projetos
de infraestrutura de larga escala não ficaram claras. A tradição de excesso de
confiança em comitês de usuários torna difícil para os novos e sobrecarregados
Comitês de Recuperação assumirem importantes atividades de reconstrução.
Os Chefes da Ilha e suas administrações têm sido indicados como pontos focais
para a recuperação. Mas devido a papéis indefinidos e pela falta do apoio
necessário, muitos foram deixados para decidir sozinhos quais tarefas devem
executar.
2.A falta de um plano formal de papéis para os governos locais que tipicamente
fornecem os serviços da ilha traz confusão adicional entre os governos locais e
as ONGs
Representantes de ONGs dizem que “o governo nos deu essas ilhas para
desenvolver”
Sem papéis pré-definidos a desempenhar, muitos dos governos locais sentiram
que as contribuições das ONGs eram mal coordenadas
14
15. • Na China, membros do Departamento de Vigilância
compareciam a cada reunião preocupados com a
reconstrução após o terremoto Sichuan.
• Isso ajuda a verificar aqueles que, ao final,
controlarão os fundos.
• BRR Indonésia realizou um esforço especial para
garantir a demonstração de um processo decisório
livre de corrupção
O Controle da Corrupção na DRR
16. Sistema de rastreamento financeiro para aprimorar a
prestação de contas no Haiti
1. Banco de dados chamado de “A Plataforma Haitiana para Investimento
Público” pretendia auxiliar o governo haitiano a rastrear os fundos
arrecadados de mais de 60 doadores, cobrar de doadores suas promessas, e a
assegurar transparência e prestação de contas.
2. Um portal Online foi desenvolvido pelos mesmos autores responsáveis pelo
Banco de Dados de Assistência ao Desenvolvimento.
3. O sistema rastreia o dinheiro da promessa ao impacto, mostrando como se
planeja e se realiza o gasto dos fundos, por quem e para o quê.
4. Acessível publicamente, o portal permite que o povo do Haiti, assim como a
mídia nacional e internacional, monitore o uso dos fundos, se informe do
progresso, e recebam prestações de contas de seus representantes eleitos
sobre como os fundos são gastos.
16
Esclareça os elementos da boa governança. (Peça aos especialistas em governança pertencentes ao grupo que se manifestem apenas se o grupo tiver esquecido algo.)
Use as animações do slide – assim que uma característica de boa governança aparecer, esclareça como aquele elemento se relaciona com o DRR (Disaster Risk Reduction, ou Redução de Risco de Desastres). (Por exemplo ‘como o DRR pode ajudar na responsabilidade?’ ‘Como pode a responsabilidade auxiliar o DRR?’ Uma possível resposta poderia ser ‘há menor possibilidade de falta de alimentos em uma democracia, já que o governo seria responsabilizado pelos cidadãos afetados pela fome e deveria, portanto, ter priorizado a resolução do problema potencial mais cedo’.)
Navegue por cada uma das 8 características dessa forma. Faça uso de perguntas de esclarecimento, pergunte sobre como essas características se desempenham no país/região de onde os participantes vêm. (Por exemplo ‘como o DRR pode auxiliar no fomento da participação?’ ‘E sobre CBDRR (Community Based DRR, ou DRR baseada na comunidade) – as comunidades se envolvem em DRR em seu país?’ etc.)
Uma vez que todas as características tenham sido explicadas, e como essas características se refletem na DRR do país/região em discussão, faça a pergunta genérica ‘Como esses elementos podem contribuir ou dificultar a DRR?’. Resposta: a capacidade de boa governança tem impacto direto seja a DRR efetiva e eficiente ou não. Se sistemas de governança forem fracos e as capacidades, baixas, é menos provável que um risco de desastre seja tratado de forma justa e com consideração.
Antes de examinar governança como descrito pelo HFA, solicite aos grupos (por exemplo, painéis de 5 a 6 participantes) para acordarem sobre um exemplo de boa governança DRR que reflita cada uma daquelas 8 características, e que as escreva em um flip chart (um flip chart por grupo). Obtenha um exemplo de como governar uma DRR de forma a refletir responsabilidade, e depois transparência, responsividade, equidade/inclusão, efetividade/eficiência, legalidade, participação e, finalmente, consenso.
(Uma atividade alternativa, na forma de um exercício opcional, está incluída no final das notas de orientação de facilitação para Governança, Capacitação & bloqueio de Riscos.)
Participação
A participação tanto de homens como mulheres é peça chave da boa governança.
A participação deve ser tanto direta como por meio de representantes ou de instituições intermediárias legítimas. É importante salientar que democracias representativas não implicam necessariamente que as aflições dos mais vulneráveis na sociedade sejam consideradas no processo de tomada de decisão.
A participação deve ser informada (ter recebido informações) e organizada. Isso por um lado implica em liberdade de associação e de expressão e, por outro lado, em uma sociedade civil organizada.
A regra da lei
Boa governança requer marcos legais justos aplicados de maneira imparcial. E também requer total proteção aos direitos humanos, particularmente aqueles das minorias. A aplicação imparcial das leis requer um judiciário independente e uma força policial imparcial e incorruptível.
Transparência
Transparência significa que decisões, e sua respectiva aplicação, são feitas de forma a seguir regras e regulamentos. Também implica que a informação está livremente disponível e diretamente acessível a aqueles diretamente afetados por tais decisões e sua aplicação. Além disso, implica no fornecimento de informação suficiente em formatos de mídia facilmente compreensíveis.
Responsividade
Boa governança requer que processos e instituições tentem satisfazer todas as partes interessadas dentro de prazos razoáveis.
Orientado por consenso
Há muitos atores, e um número equivalente de pontos de vista, em uma dada sociedade. Boa governança requer mediação dos diferentes interesses da sociedade para atingir um consenso amplo em sociedade sobre o que é o melhor interesse de toda a comunidade e sobre como tal interesse pode ser alcançado. Isso requer uma perspectiva ampla e de longo prazo sobre quais são as necessidades para o desenvolvimento humano sustentável e sobre como alcançar os objetivos de tal desenvolvimento. Isso pode somente resultar da compreensão dos contextos histórico, cultural e social de uma dada sociedade ou comunidade.
Igualdade e inclusão
O bem-estar de uma sociedade depende de se assegurar que todos os seus membros sintam-se parte dela, e que não se sintam excluídos do corpo principal da sociedade. Isso requer que todos os grupos, mas particularmente os mais vulneráveis, tenham oportunidades de aprimorar ou manter seu bem-estar.
Efetividade e eficiência
Boa governança implica em processos e instituições que produzam resultados que venham de encontro às necessidades da sociedade enquanto utilizam os recursos à sua disposição da melhor forma possível. O conceito de eficiência no contexto da boa governança cobre também o uso sustentável de recursos naturais e a proteção do meio-ambiente.
Responsabilidade
Responsabilidade é requisito básico da boa governança. Não apenas instituições governamentais, mas também o setor privado e a sociedade civil organizada devem responder ao público e a seus interessados institucionais. A quem se reportar varia dependendo de se as decisões ou ações são internas ou externas a uma organização ou instituição. Geralmente uma organização ou instituição deve responder aos afetados por suas decisões ou ações. A responsabilidade não pode ser aplicada sem transparência e sem a regra da lei.
Vejamos estudos de caso relacionados à questão da propriedade.
Políticas de desenvolvimento e institucionalização de arranjos colaborativos. [Adicionando alguns sistemas]
BRR em Aceh e governos locais se comprometem.
Vejamos agora a questão da participação.
Fundos do governo nacional e planos das comunidades.
Falta de transparência.
Boatos e rumores!
Inspirado no SETU em Gujarat.
A informação mantida nos bancos de dados RAN pretende auxiliar o BRR a coordenar de forma mais efetiva, identificar brechas e redundâncias no processo de recuperação, e trabalhar para solucionar gargalos e questões que estejam atrasando as agências.